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Princípios de

Microbiologia
e Imunologia
Imunidade Adaptativa e Imunização

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Everton Carlos Gomes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Imunidade Adaptativa e Imunização

• Resposta Imunológica Adaptativa;


• Reconhecimento do Antígeno;
• Ativação dos Linfócitos;
• Memória Imunológica;
• Doenças do Sistema Imune;
• Vacina;
• Tipos de Imunizações;
• Anexo I.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar um aprofundamento da resposta imune adaptativa, descrevendo os principais
mecanismos com ela envolvidos, tais como anticorpos, reconhecimento do antígeno, res-
posta imune celular, ativação dos linfócitos, resposta imune humoral, memória imunológica
e doenças do sistema imunológico;
• Explicar como são confeccionadas as vacinas e quais são os seus tipos;
• Mostrar como funciona o sistema imunológico ao agir contra um antígeno;
• Diferenciar os tipos de imunizações passiva/ativa e natural/artificial.
UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

Resposta Imunológica Adaptativa


A resposta imune adaptativa refere-se à especificidade de moléculas e à capa-
cidade de lembrar e responder com mais intensidade em exposições repetidas em
relação a um mesmo microrganismo.
Ela pode, também, diferenciar uma gama de substâncias microbianas, não microbia-
nas e microrganismos e, devido a isso, é denominada imunidade específica ou imunidade
adquirida, porque muitas das respostas apresentadas são “adquiridas” por experiência.
Suas principais células são linfócitos e seus produtos secretados, como os anti-
corpos. As substâncias estranhas que induzem às respostas imunológicas específicas
reconhecidas pelos linfócitos ou os anticorpos são os antígenos.

A resposta imune adaptativa apresenta duas respostas distintas: a imunidade humoral


e a imunidade celular. Essas respostas são mediadas por componentes distintos do siste-
ma imunológico. A função delas consiste na eliminação de microrganismos patogênicos.

Especificando uma pouco mais, a imunidade humoral é basicamente mediada


por moléculas do sangue e pelas secreções das mucosas, que são denominadas
anticorpos e são capazes de reconhecer os antígenos microbianos, neutralizar sua
capacidade de infecção e, por fim, eliminá-los.

Os anticorpos, que são agentes vitais para a resposta imunológica adaptativa,


são sintetizados nos linfócitos B (também podem ser chamados de células B). A imu-
nidade humoral é o principal mecanismo de defesa contra microrganismos e suas
toxinas, já que ela é capaz de ativar diversas vias de sinalização de defesa, como os
diferentes tipos celulares de anticorpos que promovem a ingestão de microrganismo
pelas células do hospedeiro (fagocitose).

A outra imunidade mencionada é a imunidade celular, também chamada de imu-


nidade adquirida. Essa resposta é realizada por células, provindas dos linfócitos T
(também denominadas células T). Ela é importante porque alguns vírus e bactérias
sobrevivem e proliferam no interior das células que a fagocitam e outras células do
hospedeiro, então a defesa é realizada dentro da célula promovendo a destruição de
microrganismos que residem nos macrófagos e neutrófilos ou em células infectadas.

Reconhecimento do Antígeno
Para iniciarmos esse tópico, vamos relembrar o que são os anticorpos. São prote-
ínas, presentes em todos os vertebrados, de enorme variedade e com alta especifici-
dade no reconhecimento à exposição aos antígenos, que também são os mediadores
primários da resposta humoral.
Os anticorpos apresentam três tipos de ligação com os antígenos, sendo eles
imunoglobulina, receptor de linfócitos T e molécula do complexo principal de histo-
compatibilidade (MHC).

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A diferenciação dessas três classes de moléculas está no sítio de ligação com o an-
tígeno, natureza do sítio a que pode ser ligado, natureza dos determinados antígenos
reconhecidos, afinidade de ligação ao antígeno e on-rate e off-rate (Tabela 1).

Após essa breve apresentação, começaremos a discutir como esses anticorpos


reconhecem os antígenos por meio da sua estrutura e das propriedades de ligação
dos anticorpos aos antígenos.

Os anticorpos podem existir de duas formas: ou ligados na membrana dos linfó-


citos B virgem (atuando como receptor de antígenos), ativam essas células e também
iniciam a resposta humoral, ou como anticorpos secretados localizados nos tecidos,
sangue ou mucosa.

Para esses anticorpos secretados durante a fase efetora da resposta humoral, há a


ligação dos anticorpos aos antígenos e a eliminação deles por meio de diversos mecanis-
mos efetores, o que ocorre, geralmente, com a interação com outras células do sistema
imunológico, como proteínas do complemento e células, incluindo fagócitos e eosinófilos.

Tabela 1 – Caracterização e diferenciação dos três tipos de anticorpos presentes nos vertebrados
Característica Molécula de Ligação ao Antígeno
Imunoglobulina (lg) Receptor de linfócitos Y (TCR) Moléculas de MHC

Sítio de ligação
ao antígeno
Formado por três CDR nos do- Formado por três CDR nos do- Fenda de ligação peptídica
mínios VR e três CDR nos domí- mínios Vα e três CDR nos domí- formada por domínios α1 e β2
nios VL nios Vβ (classe I) e α1 e β1 (classe II)
Característica Molécula de Ligação ao Antígeno
Natureza do antígeno Macromoléculas (proteínas, lipí-
deos, polissacarídeos) e peque- Complexo peptídeo-MHC Peptídeos
que pode ser ligado nas substâncias químicas.
Natureza dos Determinantes lineares de pep-
Determinantes conformais e Determinantes lineares de pep-
tídeos; apenas 2 ou 3 resíduos
determinantes lineares de diversas macromo-
de aminoácidos do peptídeo
tídeos; apenas alguns resíduos
antigênicos reconhecidos léculas e substâncias químicas. são ligados à molécula de MHC
de aminoácidos de um peptídeo.

Afinidade de Kd 10–7 – 10–11 M; a afinidade


Kd 10–7 – 10–11 M; ligação ex-
média das Ig aumenta durante Kd 10–5 – 10–7 M
ligação ao antígeno tremamente estável.
a resposta imunológica
On-rate e off-rate On-rate rápida, off-rate variável. On-rate lenta, off-rate lenta. On-rate lenta, off-rate lenta.
CDR, região determinante de complementariedade; Kd, constante de dissociação; MHC, complexo principal de histocompatibili-
dade (apenas a molécula de classe II é mostrada); VH, domínio cariável da cadeia pesada da Ig; VL, domínio da cadeia leve da Ig.
Fonte: Adaptado de ABBAS, 2012

Outra importante função dos linfócitos B nesse contexto é que eles são as únicas
células que produzem moléculas de anticorpos, já que são eles que expressam a for-
ma de membrana dos anticorpos que atuam como receptores de antígenos, que são
liberados da membrana do linfócito B após a exposição a um antígeno, indo para a
corrente sanguínea. Após a coagulação, esses anticorpos permanecem em um fluido
denominado soro que, por sua vez, contém todas as proteínas presentes no plasma,
com exceção dos fatores de coagulação.

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UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

Os anticorpos apresentam características gerais importantes para diferenciá-los.


A maioria dos anticorpos é denominada gamglobulina devido à sua semelhança com
a letra do alfabeto grego gama e também de imunoglobulina (a partir de agora, os
anticorpos serão chamados de imunoglobulina), que é a estrutura da molécula res-
ponsável pela imunização.
Mesmo com essas semelhanças em relação à estrutura das moléculas, as imu-
noglobulinas apresentam diferenças quanto à sua estrutura, que está diretamente
relacionada à ligação dela com o antígeno específico (acredita-se que existem mais
de um milhão de moléculas).

Atualmente, as imunoglobulinas são divididas em classes e subclasses de acordo com


as características da região C da cadeia pesada, que apresenta funções específicas.
As classes de cada imunoglobulina são chamadas de isótipos e são divididas em
cinco, em suas regiões constantes: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, além dessa divisão, as
IgA e IgG são subdividas em IgA1 e IgA2 e a IgG1,IgG2, IgG3 e IgG4.
Os diferentes tipos se diferenciam por suas propriedades biológicas, localizações fun-
cionais e habilidade para lidar com diferentes antígenos, como se mostra na Tabela 2.

Tabela 2 – Tipos de isótipos de humanos e suas funções


Isótipo do Subtipos Concentração Meia-vida
Forma Secretada Funções
Anticorpo (Cadeia H) Sérica (mg/mL) Sérica (dias)
IgA
(Dímero)
IgA 1,2 Imunidade
IgA (α1, α2 ou α3)
3,5 6 Monômero,
de mucosa.
Dímero,
Trímero
Receptor de
IgD Nenhum (δ) Traço 3 Nenhuma antígeno do
linfócito B virgem.

Defesa contra parasitas


IgE
IgE Nenhum (ε) 0,05 2
Monômero
helmintos, hipersensibili-
dades imediata.

Opsonização, ativação do
sistema complemento,
IgG1-4 IgG1 citoxicidade mediada por
IgG (γ1, γ2, γ3 ou γ4)
13,5 23
Monômero células dependentes de anti-
corpo, imunidade neonatal,
autoinibição do linfócito B.

Receptor de antígeno do
IgM
IgM Nenhum (µ) 1,5 5
Pentâmero
linfócito B virgem, ativação
do sistema complemento.

Fonte: Adaptado de ABBAS, 2012

A estrutura similar entre as imunoglobulinas refere-se à parte estrutural que não se liga
aos antígenos, apresentando duas porções (leves e pesadas), sendo que cada porção é
composta por duas cadeias idênticas (Figura 1). Essas duas porções são chamadas de Ig.

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As cadeias pesadas e leves são compostas por regiões denominadas aminoterminais va-
riadas (V), que participam do reconhecimento dos antígenos, uma região carbaxiterminal
constante (C), a qual, nas cadeias pesadas, media as funções efetoras da molécula.

De forma geral, a imunoglobulina apresenta um sítio de ligação ao antígeno, que


é formado pela justaposição dos domínios VL e VH. A cadeia pesada termina em
caudas C e a ligação de proteína do sistema de complemento e do receptor de Fc
nas regiões da cadeia pesada de aproximação na cadeia pesada, como pode ser ob-
servado na Figura 2. Nessa Figura, é possível, notar que a IgM apresenta mais um
domínio (CH) em relação a IgA secretada, uma visão um pouco mais detalhada de
como são as estruturas dessas moléculas.

Figura 1 – Esquematização da IgG e IGM (A e B) e estrutura cristalina de raios-X da IgG (C)


Fonte: Adaptado de ABBAS, 2012

Diante do que foi abordado sobre a estrutura das imunoglobulinas, discutiremos com
mais detalhes as regiões variáveis dos anticorpos, em que a maioria das diferenças é
definida por três curtos segmentos localizados na região V da cadeia pesada e três da
mesma região, mas da cadeia leve, que são conhecidos como hipervariáveis; é nesses
locais que os antígenos se ligam às moléculas das imunoglobulinas, nas regiões VH VL.

Anticorpos, disponível em: https://bit.ly/3e1YpEX

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Ativação dos Linfócitos


Para que as imunoglobulinas sejam ativadas e para que elas possam desempenhar
seu papel com eficiência, é necessário que os linfócitos sejam ativados, e é isso que
abordaremos agora.

Os linfócitos T são de extrema importância nesse processo, pois são eles que
erradicam as infecções por microrganismos intracelulares e ativos e outras células
como os macrófagos e linfócitos B. Para que a resposta seja eficiente, esses linfócitos
devem superar alguns desafios, tais como os mencionados a seguir.

Baixo número de células T imaturas – para que o antígeno seja apresentado às


células T rapidamente, existem células especializadas, denominadas células apresen-
tadoras de antígenos (APC) e entre elas estão as células dendríticas.

Os linfócitos devem identificar a presença de antígenos em todos os locais do


corpo e por isso as células T circulam também em órgãos linfoides secundários. Para
auxiliar nesse contexto, as células dendríticas, que são encontradas em todos os teci-
dos, capturam os anticorpos e levam para a região linfoide, na qual estão localizadas
as células T circulantes.

Por interagir com diversas células, como os linfócitos B, os macrófagos e as cé-


lulas dendríticas e, para que essas células somente interajam com as células do hos-
pedeiro, os receptores dos linfócitos T reconhecem antígenos apresentados pelas
células do hospedeiro.
Os receptores que desempenham esse papel de reconhecimento são as moléculas
do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Isso difere com os linfócitos B
em que tanto os receptores de imunoglobulina quanto as imunoglobulinas secretadas
reconhecem antígenos solúveis ou associados às células.
Os linfócitos T respondem a diferentes agentes infecciosos microbianos em dife-
rentes compartimentos celulares. Isso ocorre porque os APC combatem de forma
distinta, dependendo se o antígeno é intra ou extracelular e, assim, apresentam as
diferentes classe de células T, assim como o MHC também captura os antígenos de
diversos locais e apresenta às células T. Exemplo é a defesa contra vírus na circula-
ção, que é mediada pelas imunoglobulinas e, para que a produção das Ig seja efetiva,
há participação dos linfócitos T CD4 auxiliares. Entretanto, se esse mesmo vírus
afetar um tecido, a participação dos linfócitos T CD8 é muito importante.
Entre esse reconhecimento, a maioria dos linfócitos T reconhece apenas pep-
tídeos curtos e, por consequência, eles só reconhecem sequência de aminoácidos
específicos, enquanto as células B podem reconhecer moléculas maiores como pep-
tídeos, proteínas e ácidos nucleicos, entre outros e, diante disso, as células T, normal-
mente antígenos ou substâncias de origem proteica.
O que decorre desse reconhecimento mais específico das células T é que os re-
ceptores das células T CD4 e CD8 são específicos para antígenos apresentados por
moléculas do MHC e elas só se ligam a peptídeos (Figura 2).

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Figura 2 – Esquema do reconhecimento de um complexo
de peptídeo como MHC pela célula T
Fonte: Adaptado de ABBAS, 2012

Os receptores MHC apresentam dois tipos: o MHC classe I e o MHC classe II,
diferindo tanto na expressão nos tecidos quanto na sua composição espacial, mais
especificamente na composição de suas subunidades.

Ambas as moléculas se assemelham aos domínios das imunoglobulinas, mas a


MHC classe I apresenta duas cadeias polipeptídicas, a cadeia a, que atravessa a
membrana, é associada a uma cadeia menor, a b2-microglobulina (Figura 3).

Já o receptor MHC apresenta duas que atravessam a membrana e, além disso, a


diferença entre os dois receptores, a fenda de ligação dos MHC, classe II, é formada
por dois domínios: α1 e β1.

Figura 3 – Diferenças entre os receptores MHC classe I e classe II


Fonte: Acervo do Conteudista

O reconhecimento dos antígenos pelas células que não são células T ocorre com
células que atuam como células apresentadoras de antígenos (APC) para ativar as
células T virgens e as células T efetoras previamente diferenciadas, como as célu-
las dendríticas, que são as mais importantes, mas os macrófagos e os linfócitos B

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também fazem esse trabalho, principalmente via células T CD4 auxiliares previa-
mente ativadas (não virgens) (Figura 4), ativando os receptores MHC.

As APC apresentam complexos peptídeos-MHC (Figura 3) para o reconheci-


mento das células T, além de estímulos adicionais chamados segundos sinais, para
a maturação das células T virgens. As APC que maturam as células T virgens são
chamadas de coestimuladores.

Outro fator importante é a intensificação do sinal pelos APC devido à exposição


dos produtos microbianos, como a ativação de receptores Toll pelos macrófagos e
células dendríticas. Essa intensificação do sinal pelas APC que apresentam antígenos
pode intensificar sua função de apresentação de antígenos, sobretudo as células T
CD4 que, com a presença de antígenos, promovem a expressão de uma molécula
denominada ligante do CD40, que se liga às células dendríticas e aos macrófagos.

Figura 4 – Principais APC e seus mecanismos de ativação das células T


Fonte: Adaptado de ABBAS, 2012

Pesquise sobre a Ativação dos linfócitos B.

Memória Imunológica
As respostas da memória imunológica são chamadas de respostas imunes secun-
dárias, respostas imunes terciárias e assim sucessivamente, dependendo de quantas
vezes o organismo seja infectado pelo patógeno.

Talvez seja um dos fatores mais importantes para um indivíduo, pois previne do-
enças. Essas respostas diferem da resposta imune primária, já que não houve ainda
a produção do anticorpo, o que pode ser corroborado com as células T e B de me-
mórias que não apresentam a mesma resposta das células T e B virgens. Entretanto,

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experimentalmente, não foi possível ainda comprovar cientificamente se a memória
imunológica é diretamente relacionada às células de memória especializadas, mas é
possível estabelecer de forma experimental que os indivíduos que já foram infectados
já apresentam células de memória.

Em relação à diferença das respostas dessas células de memória e as virgens, já


havia sido identificado experimentalmente que as células B com memória respon-
dem ao antígeno com uma eficiência 100 vezes maior que as células virgens. A expli-
cação para isso é que a resposta primária gera rápida produção de IgM, seguida de
resposta de IgG; já a resposta secundária gera baixa síntese de IgM e grandes quan-
tidades de IgG e uma pequena porção de IgA e IgE. Na realidade, quando começa
a resposta secundária, a base das imunoglobulinas está nas células B de memória,
formando isotipos maduros, desviando a produção de IgM para a de IgG, IgA e IgE.

Em relação à afinidade do IgG, aumenta a sua na resposta primária e também nas


respostas subsequentes. Essa resposta gera células B com afinidade cada vez maior,
de acordo com a quantidade de exposição ao antígeno, o que eleva a expressão de
MHC de classe II, que facilita a interação de poucas células B com os linfócitos T
auxiliares, gerando produção de imunoglobulinas e diferenciação das células B e
ocorre o início da resposta (Figura 5).

Figura 5 – Maturação da afinidade em uma resposta de anticorpos. De acordo com a resposta,


o número de imunoglobulina aumenta e a variedade de afinidades (KA) eleva-se também
Fonte: Adaptado de MURPHY, 2010

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Ainda na resposta imune secundária, as imunoglobulinas disponíveis se ligam di-


retamente ao patógeno, desviando-se para os fagócitos para degradação e a elimina-
ção e, se houver grande quantidade de imunoglobulinas pré-existentes para eliminar
ou inativar o patógeno, é possível que não ocorra reposta imune secundária.

Na resposta primária e também no início da resposta secundária, as imunoglobu-


linas sintetizadas apresentam função vital no direcionamento da maturação da afini-
dade na resposta secundária, porque só os receptores das células B é que vão se ligar
aos patógenos rapidamente para encontrar o antígeno ainda não complexado, assim
há a possibilidade de processá-lo em pequenos fragmentos e auxiliar as células T.

Acredita-se que as células B circulam nos compartimentos linfoides secundários,


principalmente nos folículos do baço, dos linfonodos e das placas de Peyer da mu-
cosa intestinal.

Memória imunológica, disponível em: https://bit.ly/2yzM8HD

Doenças do Sistema Imune


Até o presente momento, nós debatemos como o sistema imunológico responde
aos desafios que os patógenos proporcionam. Agora, iremos abordar as falhas e as
doenças que podem ocorrer com o sistema imune.

Essas falhas podem ser por deficiência hereditária graças a falhas genéticas e à
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que ocorre quando o hospedeiro
não consegue eliminar o invasor que, nesse caso, é o vírus que ataca o sistema imu-
ne humano, conhecido como Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).

Na evolução do seu sistema imunológico, os vertebrados tiveram a permanência


de mecanismos sofisticados de proteção contra os agentes infecciosos. No entanto,
esses agentes também evoluíram, selecionando mecanismos que os fizessem escapar
dos mecanismos de proteção, o que nos permite observar que nosso sistema conse-
gue responder bem a muitos patógenos, mas não a todos.

Um modo de o agente conseguir se livrar da resposta imune é por meio da variação


antigênica, que é alterar seus antígenos. Existem três modos de variação antigênica:

1. Agentes infecciosos apresentam ampla variedade de tipos antigênicos;

2. Ocorre com o vírus influenza, que apresenta duas formas para executar a va-
riação antigênica: a deriva dinâmica, causada por mutações pontuais nos genes, e
o desvio antigênico, que se deve a grandes mudanças na hemaglutinina dos vírus;

3. Rearranjos programados, que ocorrem em tripanossomos africanos, que são


revestidos por um tipo único de glicoproteína, a Glicoproteína Variante-Específica
(VSG) que, dentro do genoma desse protozoário, é expressa em um dado momento

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e pode ser alterada por rearranjo genético, que coloca um novo gene VSG no sítio
de expressão.

Esses são exemplos de como muitos dos agentes infecciosos podem causar do-
enças recorrentes ou persistentes, evitando os mecanismos de defesa do hospedeiro
normal ou subvertendo-os, a fim de promover sua própria replicação.

Além da variação antigênica, existe a latência, a resistência aos mecanismos efe-


tores e a supressão do sistema imune. E o problema pode vir, também, da própria
resposta imune, já que alguns patógenos utilizam a ativação imune para disseminar
a infecção, e outros não causariam doença se não fosse pela resposta imune.

Outro problema são as imunodeficiências, que é quando um ou mais componentes


do sistema imunológico é deficiente, sendo classificadas como primárias e secundárias.

As primárias são causadas por mutações que afetam um dos diversos genes que
controlam a expressão e as atividades das respostas imunes, e as secundárias são
adquiridas como consequência de outras doenças, ou fatores ambientais, ou mesmo
devido a uma consequência adversa de intervenção médica.

Existem muitas doenças imunodeficientes como mostra a Tabela/Quadro a seguir.

Tabela 3 – Síndromes de imunodeficiência humana


Tipo de distúrbio Condições
Disturbios circulatórios Anemia falcicorme, diabetes melito, nefrose, veias variçosas, defeitos
e sistêmicos cardíacos congênitos.
Estenose uretral, asma brônquica, bronquiectasia, rinite alérgica, tuba
Distúrbios obstrutivos de Eustáquio bloqueada, fibrose cistica.
Eczema, queimaduras, fraturas do crânio, trato sinusal de linha média,
Defeitos integumentares anomalidades ciliares.

Imunodeficiências Desnutrição, prematuridade, linfoma. esplectomia, uremia, terapia


imunossupressora, enteropatia com perda de proteínas, doenças
secundárias virais crônicas.
Imunodeficiências Agamaglobulinemia ligada ao cromossomo X, síndromo de DiGeorge,
primárias doença granulomatosa crônica, deficiência de C3.

Fatores microbiológicos Supercrescimento antibiótico, infecções crônicas com microrganismos


resistentes, reinfecção contínua (suprimento de água contaminada,
incomuns contato infeccioso, equipamento de terapia de inalação contaminado).
“Shunts” ventriculares, cateter venoso central, válvulas cardíacas arti-
Copos estranhos ficiais, cateter urinário, corpos estranhos aspirados.

Vacina
Edward Jenner observou no século XVIII que ordenhadores de vacas com
smallpox, um tipo de varíola bovina com sintomas mais brandos, adoeciam, sobrevi-
viam e tornavam-se imunes à varíola humana, cuja taxa de letalidade era muito mais
alta. Fez então uma experiência inoculando secreção de uma pessoa com varíola
bovina em uma pessoa saudável, a qual desenvolveu sintomas muito mais brandos

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UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

e tornou-se imune à patologia em si, ou seja, ficou protegida (imunizada). A palavra


vacina significa “de vaca”, em latim, e hoje é usada para denominar todo o inóculo
que nos estimula à produção de anticorpos.

Lembre-se que a vacina é uma substância preparada com o objetivo de estimular a


nossa memória imunológica, ou seja, deixar o sistema imune alerta para ataques de
anticorpos contra os agentes invasores, sejam eles vírus, bactérias, fungos ou parasitas.

A vacina atua de forma preventiva, melhorando os efeitos do organismo a uma


futura infecção ou impedindo completamente que a infecção ocorra. Ainda em estu-
dos, temos as vacinas terapêuticas para o câncer.

Estudaremos as vacinas preventivas, aquelas cujas substâncias utilizadas são de-


nominadas de antígenos, os quais estimulam a produção de anticorpos e células
de memória imunológica. Os antígenos virais também podem causar uma resposta
imunológica celular, a exemplo do linfócito T citotóxico (ou CD8).

A relação antígeno-anticorpo (Ag/Ac) é altamente específica, do tipo chave-fecha-


dura (Figura 6A). Anticorpos produzidos para um determinado antígeno não reagem
com outro tipo de antígeno – e quando reagem o fazem de maneira muito fraca e
ineficaz (Figura 6B).

Figura 6A e 6B
Fonte: Adaptado de Getty Images

Esquema mostrando o modelo chave-fechadura do anticorpo pelo antígeno,


em que se explica a alta especificidade Ag/Ac. Em 6B, podemos ver que,
dos três anticorpos presentes no esquema, apenas um deles é capaz de se
ligar e fixar ao epítopo do antígeno viral.

Os antígenos estão presentes nas superfícies de vírus, bactérias, fungos e parasi-


tas. Na maioria das vezes, são proteínas, mas também podem ser lipídios e carboi-
dratos, como os encontrados em cápsulas bacterianas. Substâncias nocivas produ-
zidas pelos microrganismos, tais como as toxinas, também são antígenos. O local
do antígeno atacado pelo anticorpo é denominado de determinante antigênico ou
epítopo, ou ainda epítope (Figuras 6B, 7 e 8).

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Figura 7 – Esquema mostrando as cadeias pesadas e leves e as regiões variáveis e
constantes um anticorpo. No detalhe o epítopo, região do antígeno que se une ao anticorpo
Fonte: Adaptado de AMABIS e MARTHO, 2006

Figura 8 – Esquema mostrando uma bactéria com diferentes epítopos em


sua superfície e diferentes anticorpos aderindo-se a esses epítopos
Fonte: AMABIS e MARTHO, 2006

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Tipos e Composição das Vacinas


As vacinas podem ser substâncias derivadas dos microrganismos, de partes deles,
substâncias quimicamente semelhantes a eles ou até mesmo o próprio microrganismo
atenuado em uma forma tão enfraquecida que se torna incapaz de causar a doença.

Vacina Atenuada
Por conter o microrganismo enfraquecido, essa vacina pode produzir sintomas
semelhantes à doença que previne, mas isso depende da competência do sistema
imunológico do indivíduo que recebe a vacina, que pode ter sintomas brandos por
um breve período ou ser assintomático. Gestantes e pessoas imunodeprimidas por
doença ou medicamentos, ou ainda de nascença, não podem tomar esse tipo de va-
cina. Embora se tenham essas restrições, são mais eficazes que as vacinas inativadas.

Não precisam de reforços, possuem imunidade duradora e são capazes de induzir forte
imunidade celular que corresponde à produção de linfócitos T CD8 (citotóxico). Geral-
mente são produzidas para os vírus como a febre amarela, varicela (ou catapora), dengue,
herpes zoster, rubéola, caxumba, poliomielite (via oral), rotavírus e sarampo; contudo,
também foi desenvolvida a BCG para a tuberculose, que é causada por uma bactéria.

A vacina da febre amarela é obtida de uma cepa americana denominada 17 D. Ela


é atenuada, sendo cultivada por diversas gerações em embriões de galinha, ou seja,
fora de seu hospedeiro natural. A vacina para a rubéola é atenuada sendo cultivada
por gerações em células embrionárias de pato e a vacina Sabin, para a poliomielite,
em células de macaco. Após gerações cultivadas em outro ser vivo, os microrganis-
mos patogênicos sofrem mutações e perdem a capacidade de causar doença ao ser
humano, no entanto, não pedem a antigenicidade e a imunogenicidade.

Vacina inativada
Nesse tipo de vacina, os microrganismos são inativados por formaldeídos, outros agen-
tes químicos ou agentes físicos como o calor e a radiação. Por esse motivo, as vacinas
inativadas são vacinas seguras e não apresentam a possibilidade de causar a doença con-
tra a qual protegem. No entanto, requerem doses de reforço para induzir uma resposta
imunitária adequada e ainda podem causar reações de hipersensibilidade e inflamação.

Podem ser compostas por microrganismos inteiros e intactos, no entanto, sem


a capacidade de se reproduzir e com total capacidade de estimular a produção de
anticorpos e células de memória imunológica. Um exemplo é a bactéria Bordetella
pertussis, que é um dos componentes da vacina tríplice contra difteria-tétano-coque-
luche. A vacina contra HPV também é produzida dessa maneira.

Outras vacinas inativadas são compostas de subunidades ou frações do agente in-


fectante, são denominadas vacinas de subunidades. Um exemplo é a vacina para he-
patite B, que é produzida com o antígeno HBsAG, derivado do plasma de portadores.

A vacina de subunidade polissacarídica é produzida com essa substância da cáp-


sula dos agentes infecciosos. Não tem eficácia em menores de dois anos, pois não

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induzem memória imunológica duradoura. Isso se deve ao fato de que a maioria dos
antígenos que depende dos linfócitos T para desencadear a produção de anticorpos
é do tipo proteico. Os antígenos T-independentes, ou seja, aqueles que estimulam
diretamente os linfócitos B a produzirem anticorpos são compostos de muitas subu-
nidades repetidas, como os da cápsula polissacarídica das bactérias Haemophilus
influenzae tipo b, Neisseria meningitidis e Streptococos do grupo B.

Para aperfeiçoar essa situação, temos a vacina de subunidade polissacarídica-con-


jugada, à qual adicionamos uma proteína para torná-la T-dependente e torná-la efi-
caz em menores de dois anos com indução de memória imunológica mais duradora.
A vacina para Haemophilus influenzae tipo b é produzida com polissacarídeo da
cápsula bacteriana conjugada com um toxoide diftérico, toxoide tetânico (Figura 9)
ou outra proteína carreadora que seja T-dependente.

Figura 9 – Desintoxicação de toxina tetânica em toxoide


tetânico inofensivo com perda das propriedades antigênicas
Fonte: Adaptado de MOURA FILHO, 1996

Alguns sintomas de doenças infecciosas são causados pelas toxinas proteicas produ-
zidas pelos microrganismos, a exemplo da coqueluche, da difteria e do tétano. A vacina
para essas enfermidades é o toxoide, que é a toxina inativada por agentes físicos como
calor ou raios-ultravioleta, ou ainda agentes químicos, como o formaldeído ou o álco-
ol. Por serem imunógenos fracos, recebem a adição de adjuvantes que nos toxoides
tetânicos e diftéricos é o hidróxido de alumínio. A bactéria Bordetella pertussis inteira
morta é utilizada como adjuvante nas vacinas toxoides para tétano, difteria e coquelu-
che. Os adjuvantes aumentam consideravelmente o poder imunogênico dos antígenos.

Também temos vacinas combinadas, como a DTP, que é a tríplice bacteriana que
combate a difteria, o tétano e a coqueluche; e a tríplice viral, que protege contra
caxumba, rubéola e sarampo.

Além dos adjuvantes que potencializam os antígenos e melhoram a eficácia das


vacinas, elas podem conter quantidades muito pequenas de outros produtos biológi-
cos ou químicos, como: conservantes e estabilizantes (por exemplo, albumina, fenóis
e glicina), água estéril, soro fisiológico ou fluidos contendo proteínas – e também
podem conter quantidades muito pequenas do material empregado para fazer cres-
cer o vírus ou a bactéria, como a proteína do ovo de galinha. Algumas vacinas apre-
sentam ainda traços de antibiótico na composição, que são utilizados para evitar o
crescimento de microrganismos durante a produção e o armazenamento do produto.

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UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

Pessoas com histórico de reações alérgicas devem consultar o médico antes de se


vacinar. É comum o uso de timerosal, que é conservante à base de mercúrio e tem
a finalidade de evitar a contaminação e o crescimento de bactérias potencialmente
prejudiciais. Ele é utilizado em frascos de vacinas com mais de uma dose. Embora
seja adicionado em quantidades muito pequenas, pode causar reações indesejadas
em pessoas sensíveis.

Vacina de DNA
Também conhecida como vacina genética ou vacina recombinante, é muito pro-
missora, pois as vacinas convencionais não têm sido eficientes na imunização de uma
variedade de patógenos e tumores. É capaz tanto de induzir imunidade humoral com
a produção de anticorpos como a imunidade celular, ativando os linfócitos T CD8
(citotóxico), assim como fazem as vacinas com microrganismos vivos atenuados.

Pesquisas mostram a indução da imunidade protetora em cobaias pela imunização


genética contra uma variedade de microrganismos, contra o câncer e algumas doenças
autoimunes. Em humanos, a maioria das pesquisas estão direcionadas para o HIV e a
vacina terapêutica contra o câncer. A utilização da vacinação por DNA na terapia contra
tumores tem gerado resultados satisfatórios no controle decrescimento de melanoma.

Estudos dessa vacina para hepatite B e C, malária, HPV, tuberculose e raiva estão
em andamento e têm tido bons resultados.

Essa vacina é produzida por recombinação gênica, utilizando a tecnologia do


DNA recombinante. Insere-se o DNA que produz o antígeno imunoestimulador em
um plasmídeo. O vetor plasmidial (Figura 10) adentra a célula humana no interior
de um lipossoma ou de partículas virais inócuas. Uma vez no interior da célula, se
une ao genoma e começa a ser expresso em forma de proteína, que é o antígeno
imunoestimulador. Uma grande vantagem é que cada célula que se reproduz contém
o gene para produção do antígeno e a duração da vacina se torna muito longa.

Figura 10 – Representação esquemática das principais características


genéticas de um vetor plasmidial utilizado na vacina de DNA
Fonte: VIDOTTO, 2007

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Resposta Imunológica das Vacinas
Agora vamos analisar as respostas imunológicas que ocorrem em um indivíduo
no momento da vacinação e as que ocorrem após a imunização, tais respostas tam-
bém são chamadas, respectivamente, de Resposta Imune Primária e Resposta Imu-
ne Secundária (Gráfico 1).

Observando o Gráfico 1, notamos que, logo após a vacinação, há uma pequena


e demorada produção de anticorpos (imunoglobulinas), que é ineficaz para impedir
a infecção e o desenvolvimento da doença. Isso reforça o caráter preventivo da vaci-
nação, ela garante uma imunização futura.

Essa demora na resposta imunológica ocorre porque não conhecemos o antígeno


do microrganismo, e o mecanismo de reconhecimento e apresentação de antígeno às
células do sistema imunológico que produzem anticorpos pode levar alguns dias, ou até
semanas, dependendo do tipo de vacina e da resposta imune própria de cada indivíduo.

A resposta imune primária inicia com a fagocitose e apresentação de antígenos


com potencial patogênico aos linfócitos T CD4 (auxiliadores). Os fagócitos podem
ser macrófagos ou células dendríticas possuem proteínas receptoras, na membra-
na plasmática, responsáveis pela apresentação do antígeno, as proteínas MHC de
classe II. Os fagócitos que apresentam antígenos aos linfócitos T CD4 são chamados
de células APC (Figura 11).

Figura 11
Fonte: Adaptado de AMABIS e MARTHO, 2006

Esquema mostrando o macrófago fagocitando o antígeno de um patógeno


e expressando-o em sua membrana plasmática com auxílio das proteínas
MHC de classe II, para a ativação do Linfócito T CD4.

O Linfócito T CD4 ativado pelo antígeno começa a produzir interleucinas


(Figura 12), substâncias que estimulam outras células do sistema imune, culminando
na expansão clonal e ativação dos linfócitos B, que aumentam consideravelmente de
tamanho e começam, enfim, a produzir imunoglobulinas específicas para o antígeno
com potencial patogênico, fagocitado dias atrás.

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UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

Figura 12
Fonte: Adaptado de AMABIS e MARTHO, 2006

Esquema mostrando o Linfócito T CD4, que, depois de ativado pela presen-


ça do antígeno, produz interleucina que promove multiplicação e desenvol-
vimento dos Linfócitos B.

Após a expansão clonal, a maioria dos linfócitos B sofre maturação e passa a


se chamar plasmócito, a grande célula produtora de anticorpos. No entanto, al-
guns linfócitos b ativados não se diferenciam em plasmócitos e, portanto, ficam
circulando por anos na corrente sanguínea. A esses linfócitos b damos o nome
de células de memória imunológica (Figura 12). Essas e outras células ativadas
pelo antígeno com potencial patogênico constituem o que chamamos de memó-
ria imunológica.

Esquema mostrando o linfócito B sendo ativado pelo antígeno, entrando em seleção clonal
para produção de plasmócitos produtores e anticorpos e células de memória imunológica,
disponível em: https://bit.ly/2XfoFWM

A imunização contra a infecção de algumas doenças ocorre após a vacinação


ou mesmo pela primeira infecção dessa doença, pois a vacina simula a primeira
infecção. O que garante a imunização são as células de memória imunológica, que
circulam pelo corpo em número bem maior após o primeiro contato com o antígeno.
Qualquer célula de memória imunológica que entre em contato com o antígeno com
potencial patogênico conhecido imediatamente estimula o organismo a produzir an-
ticorpos, dando início à resposta imune secundária.

Observe o Figura 13 e note que a resposta imune secundária, a qual ocorre após
a imunização, é bem mais rápida e a quantidade de anticorpos produzidos é bem
maior, aumentando muito as chances de se impedir a doença infecciosa.

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Figura 13
Fonte: Adaptado de AMABIS e MARTHO, 2006

Demonstração da quantidade de anticorpo em relação ao tempo em duas


situações. Resposta imune primária antes da imunização, que nesse caso se
deu pela vacinação, e resposta imune secundária após a imunização, que
nesse caso se deu pela infecção.

Tipos de Imunizações
Lembre-se de que o sistema imunológico conta com um “arsenal” de substâncias,
células, tecidos e órgãos que protegem nosso corpo contra a infecção de micror-
ganismos, a ação de toxinas e outras substâncias nocivas produzidas por agentes
infecciosos, substâncias alergênicas encontradas no ar, na água e nos alimentos e até
mesmo de venenos de alguns animais peçonhentos.

Nascemos com uma primeira linha de defesa de combate aos microrganismos in-
vasores, tais como a pele e as mucosas que são barreiras físicas e impedem a invasão
de agentes infecciosos em nosso meio interno. Também temos barreiras químicas,
como a lisozima da lágrima e o baixo pH estomacal, que atrapalham o crescimen-
to microbiano. Existem uma série de fagócitos e o linfócito Natural Killer (matador
natural), que atacam todo e qualquer tipo de células e substâncias que não são pró-
prias do organismo, e ainda os mediadores solúveis no plasma sanguíneo (sistema
complemento, linfocinas e interferon), que atuam na potencialização do sistema imu-
nológico, destruição de microrganismos e neutralização de toxinas. Esses recursos
são denominados de imunidade inata, pois nascemos com ele, também chamados
de resposta imune inespecífica, pois ataca qualquer agente invasor que encontrar.

Quando os recursos da imunidade inata não conseguem impedir o avanço do


agente infeccioso, entra em ação uma “arma mais poderosa”, a imunidade adquirida,
também conhecida como resposta imune específica, ou seja, inicia-se a produção
de anticorpos que atacam diretamente o agente infeccioso e as substâncias nocivas

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UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

por ele produzidas aumentando muito as chances de cura. Não nascemos com essa
imunidade, ela só começa a ser produzida após um prévio contato com o agente
invasor, daí o nome adquirida; o nome específico se deve ao fato de os anticorpos
serem altamente específicos para os antígenos que atacam.
Se um indivíduo passa a produzir anticorpos, ou seja, suas células de memória
imunológica foram ativadas, ele recebeu imunidade ativa. No entanto, se o indivíduo
apenas recebeu anticorpos, mas não tem a capacidade de produzi-los, ele recebeu
imunidade passiva.
A imunidade ativa ou imunização ativa é obtida de forma natural após uma doen-
ça infecciosa. No entanto, ela pode ocorrer de maneira artificial, como no caso das
vacinações. Seja imunização ativa natural ou artificial, elas têm em comum a produ-
ção de anticorpos que conferem proteção contra os agentes infecciosos ou contra
seus produtos tóxicos. Também estimulam a memória imunológica, que é a geração
de linfócitos T e B de memória, que podem perdurar por muitos anos.
Já a imunidade passiva ocorre de maneira temporária, tem caráter curativo ou
preventivo, porém, não cria memória imunológica. Também pode ocorrer de manei-
ra natural ou artificial. A primeira imunização passiva natural ocorre no útero com
a passagem transplacentária de anticorpos (ou imunoglobulinas) da mãe para o feto,
que previne o neonato temporariamente contra os antígenos que a mãe foi exposta.
As imunoglobulinas do feto consistem quase que totalmente de IgG da mãe transfe-
rida via placentária. As imunoglobulinas circulam no sangue do bebê por semanas
a meses após o nascimento, neutralizando os microrganismos ou marcando-os para
serem destruídos por fagócitos.

A imunização passiva natural também ocorre com os recém-nascidos lactentes,


principalmente para os que ingerem o colostro e recebem uma quantidade alta de
imunoglobulinas, e continuam recebendo imunoglobulinas enquanto amamentados
com leite materno. Lembrando que tanto o colostro quanto o leite materno madu-
ro, além das imunoglobulinas, possuem em sua constituição substâncias químicas
como a lactoferrina, lisozima, muscina e outras. A lactoferrina se liga ao íon ferro
intestinais indisponibilizando-os, muitas bactérias patogênicas dependem desse íon
para a sobrevivência e têm seu crescimento frustrado. A lisozima elimina bactérias
rompendo suas paredes celulares. A muscina adere-se a vírus e bactérias, impedindo
tais microrganismos de se ligarem a superfícies mucosas. O leite humano também
contém células do sistema imunológico, principalmente fagócitos que atacam direta-
mente os microrganismos.

Lembre-se de que as imunoglobulinas apresentam cinco formas básicas, designa-


das como IgG, IgA, IgM, IgD e IgE. Todas são encontradas no leite humano, mas,
de longe, a mais abundante é a IgA, especificamente a forma conhecida como IgA
secretora, a qual é encontrada em grandes quantidades ao longo dos sistemas respi-
ratório e gastrointestinal dos adultos.

Leite materno é injeção de imunidade para a vida toda: https://glo.bo/2XimGRl

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Imunização passiva artificial foi desenvolvida com intuito curativo, para ser utiliza-
da quando o sistema imunológico não consegue produzir imunoglobulinas em tempo
hábil para combater o antígeno, que podem ser toxinas microbianas, infecções virais
ou venenos de animais peçonhentos. Esse tipo de imunização também é utilizado
para pacientes com defeito na formação de anticorpos ou imunodeprimidos. A trans-
fusão sanguínea também é considerada imunização passiva artificial, pois, junto com
os eritrócitos, o transfundido recebe, embora em pequena quantidade, os leucócitos,
que são as células do sistema imune, e recebe as proteínas plasmática, dentre as
quais estão os anticorpos.

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UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

Anexo I
Glossário
• Antigenicidade: capacidade de provocar a formação de um anticorpo;
• Células APC: significa “célula apresentadora de antígeno”, do inglês “antigen
presenting cell”;
• Citotóxico: tóxico à célula;
• Colostro: líquido amarelado secretado pelas glândulas mamárias, alguns dias
antes e depois do parto, rico em anticorpos. Também corresponde à primeira
mamada de recém-nascido;
• Expansão clonal: refere-se a um aumento rápido no número de células que
expressam receptores idênticos para o antígeno e assim pertencem a um clone;
• Fagócito: células que têm a capacidade de realizar a fagocitose;
• Imunogenicidade: capacidade de uma substância ou microrganismo em induzir
uma resposta imune;
• Imunoglobulina: anticorpo;
• Interferon: cada uma das várias glicoproteínas imunologicamente ativas, libera-
das por células vivas infectadas por vírus e que agem reduzindo a atividade viral
e ativando células de defesa do organismo;
• Lipossoma: o mais comum dos vetores de transporte não viral de genes. Pe-
quenas vesículas esféricas formadas por bicamadas concêntricas de fosfolipídios
que se organizam espontaneamente ou por ultrassom em meio aquoso;
• Lonomia: taturanas do gênero Lonomia;
• MHC: significa “complexo principal de histocompatibilidade”, do inglês “major
histocompatibility complex”;
• Patogênico: que provoca ou pode provocar, direta ou indiretamente, uma doença;
• Proteína heteróloga: proteína de outro ser vive;
• Timo: glândula localizada no pescoço que realiza a maturação dos Linfócitos T.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Ativação dos linfócitos B
https://youtu.be/w4pkVoFOFg4
Alergias
https://youtu.be/wAB1gBzcdFM
Hipersensibilidade
https://youtu.be/2I0K_Asm_Rw
Aula: Imunologia - Antígenos e Anticorpos | Imunologia #7
https://youtu.be/2WCn-bkaogU
Aula: Imunologia - MHC (HLA) | Imunologia #6
https://youtu.be/89RHIuSma0U
Aula: Imunologia - Imunidade Adaptativa (Específica ou Adquirida) | Imunologia #3
https://youtu.be/5_vU_GWYhWM
Aula: Imunologia - Introdução e Imunidade Inata (Inespecífica) | Imunologia #1
https://youtu.be/EDN5qPl9GPE

Leitura
Imunoglobulina
https://bit.ly/34ezgCw
Memória Imunológica
https://bit.ly/2V6dehk
Biotecnologia aplicada ao desenvolvimento de vacinas
https://bit.ly/3dTqxKu
Efeito protetor da lactoferrina humana no trato gastrintestinal
https://bit.ly/2RicKU5
Avaliação dos efeitos de vacinas: mudanças na suscetibilidade, infectividade,
contatos e efeitos diretos e indiretos
https://bit.ly/2x7LCQV

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UNIDADE Imunidade Adaptativa e Imunização

Referências
ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular.
7. edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. (Edição Digital).

AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. 4. ed. São


Paulo: Moderna, 2006.

BALLALAI, I.; BRAVO, F. Imunização: tudo o que você sempre quis saber. Socie-
dade Brasileira de Imunizações. Rio de Janeiro: RMCOM, 2017. (Edição Digital).

CANTER, H. M. C.; PEREZ JUNIOR, J. A.; HIGASHI, H. G.; GUIDOLIN, R. R. So-


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J. R. D.; ARAÚJO, J. A. P.; ATELAN, T. T. T.; SOUZA, A. W. S.; CRUVINEL, W.


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KANO, F. S.; VIDOTTO, O.; VIDOTTO, M. C. Vacina de DNA: aspectos gerais e sua
aplicação na medicina humana e veterinária. Semina: Ciências Agrárias, Londrina,
v. 28, n. 4, p. 709-726, out./dez. 2007.

MESQUITA, J. R. D.; ARAÚJO, J. A. P.; ATELAN, T. T. T.; SOUZA, A. W. S.;


CRUVINEL, W. M.; ANDRADE, L. E. C.; SILVA, N. P. Sistema Imunitário – Parte
II Fundamentos da resposta imunológica mediada por linfócitos T e B. Rev Bras
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MOURA FILHO, E. A. Imunologia Geral. 1996. (Edição Digital). <http://www.


who.ch/programmes/pgv/gEnglish/avail/gpvcatalog/catlog1.htm>. Acesso em: 14
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MURPHY, K.; TRAVERS, P.; WALPORT, M. Imunologia de Janeway. 7. edição.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

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PARSLOW, T. G.; STITES, D. P.; TERR, A. I.; IMBODEN, J. B. Imunologia Médi-


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caso orientado à sustentabilidade através da avaliação do ciclo de vida. 2012. Disser-
tação (Mestrado) – CEFET/RJ, Rio de Janeiro: Cefet-RJ, 2012.

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