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Técnicas e Metodologias em Geografia Humana

Para caracterizar as dimensões econômica, política e cultural do estudo da


geografia humana:

Segundo Guitarrara (s.d), refere que a Geografia econômica estuda as


atividades econômicas e a sua relação com o espaço geográfico (onde se
localizam, como de distribuem e suas interações).

A dimensão econômica da geografia humana abrange a atividade


econômica humana e suas interações com o ambiente físico e social,
fornecendo insights importantes para entender os desafios e oportunidades
enfrentados pelas sociedades contemporâneas.

As dimensões do estudo da geografia humana

A dimensão econômica da Geografia Humana, conforme delineada por Harvey (1982) e


Massey (1994), vai além da mera análise dos processos econômicos para incorporar a
compreensão do espaço como uma variável crucial nesses processos. De acordo com
Harvey (1982), o espaço desempenha um papel fundamental na dinâmica do
capitalismo, onde diferentes regiões são integradas em uma rede global de produção,
distribuição e consumo. A distribuição geográfica das indústrias, fontes de energia e
infraestrutura de transporte é central para a compreensão das desigualdades econômicas
e da acumulação de capital em escala global. Massey (1994), por sua vez, destaca como
o gênero influencia e é influenciado por esses processos econômicos e espaciais. Ela
explora como as relações de gênero são moldadas pela divisão geográfica do trabalho e
como as disparidades econômicas se manifestam de forma diferenciada com base no
espaço e na identidade de gênero.

Além disso, a dimensão econômica da Geografia Humana, segundo esses autores,


desempenha um papel crucial na formulação de políticas públicas e no planejamento
territorial. Harvey (1982) argumenta que políticas econômicas, como investimentos em
infraestrutura e desenvolvimento industrial, têm efeitos espaciais significativos,
moldando as paisagens urbanas e rurais e influenciando a distribuição geográfica da
população e das atividades econômicas. Massey (1994) destaca a importância de
políticas que abordem as disparidades de gênero no acesso a recursos econômicos e
oportunidades de trabalho, reconhecendo que as intervenções econômicas podem ter
impactos diferenciados com base no gênero e na localização geográfica.

Dimensão Política:

A dimensão política da Geografia Humana, de acordo com Soja (1989) e Thrift (2006),
vai além da análise das estruturas políticas para incorporar uma compreensão do espaço
como uma arena fundamental para a política e a governança. Soja (1989) propõe uma
abordagem espacial da teoria social crítica, argumentando que o espaço é uma dimensão
central das relações políticas e sociais. Ele destaca como as configurações espaciais
influenciam as práticas políticas e as lutas pelo poder, fornecendo uma base conceitual
para entender as geografias políticas contemporâneas. Thrift (2006) complementa essa
perspectiva ao examinar as interações entre política e espaço, destacando como o espaço
não é apenas um cenário passivo, mas uma força ativa que molda e é moldada por
processos políticos.

Esses autores destacam que a dimensão política da Geografia Humana é essencial para
compreender as dinâmicas de poder e governança em diferentes regiões. As fronteiras
políticas, as relações entre Estados e as organizações internacionais são moldadas por
considerações geográficas, como localização, acesso a recursos naturais e configurações
territoriais. Além disso, os conflitos geopolíticos muitas vezes têm raízes espaciais,
refletindo disputas por território, controle de recursos e influência regional.

Dimensão Cultural:

A dimensão cultural da Geografia Humana, segundo Tuan (1977) e Cosgrove (1984),


explora as complexas interações entre sociedade, cultura e espaço. Tuan (1977) propõe
uma perspectiva fenomenológica do espaço, enfatizando como as experiências humanas
são moldadas e mediadas pelo ambiente espacial. Ele argumenta que a cultura
influencia profundamente o espaço geográfico, moldando paisagens, lugares e
identidades. Cosgrove (1984) complementa essa perspectiva ao investigar as dimensões
simbólicas do espaço, destacando como as representações culturais são inscritas no
ambiente construído.

Esses autores destacam que a dimensão cultural da Geografia Humana concentra-se nas
interações entre sociedade e cultura, explorando como as práticas sociais, crenças e
valores são organizados e expressos no espaço. A distribuição geográfica das
populações humanas, os padrões de assentamento e a configuração das paisagens
refletem e reproduzem significados culturais, políticos e sociais. A cultura influencia
não apenas a forma como os espaços são percebidos e utilizados, mas também as
relações sociais e as identidades individuais e coletivas que se desenvolvem dentro
desses espaços.

Em resumo, a Geografia Humana abrange uma variedade de áreas de estudo, incluindo


a geografia urbana, agrária, econômica, da população e política. Ao integrar
perspectivas econômicas, políticas e culturais, a Geografia Humana contribui para uma
compreensão holística das complexas relações entre os seres humanos e o mundo que os
rodeia.

Referências Bibliográficas

Cosgrove, D. (1984). Social Formation and Symbolic Landscape. University of


Wisconsin Press.

Guitarrara, P. (s.d) Geografia econômica, Brasil Escola.

Harvey, D. (1982). The Limits to Capital. Blackwell Publishing.

Massey, D. (1994). Space, Place, and Gender. University of Minnesota Press.

Soja, E. (1989). Postmodern Geographies: The Reassertion of Space in Critical Social


Theory. Verso.

Thrift, N. (2006). Space. Polity Press.

Tuan, Y. (1977). Space and Place: The Perspective of Experience. University of


Minnesota Press.
Observação Directa no Estudo da Geografia Humana:

O que é Observação Directa

Para Gomes (1996) A observação direta é uma técnica de coleta de dados utilizada no
estudo da geografia humana, que envolve a análise e registro de fenômenos e
comportamentos humanos em tempo real, no ambiente natural em que ocorrem. (P. 23).

Essa abordagem permite aos pesquisadores obter informações detalhadas sobre as


interações entre os seres humanos e o ambiente geográfico, sem a interferência de
questionários ou entrevistas.

A observação directa é uma técnica de colecta de dados na qual o pesquisador obtém


informações através da observação directa e pessoal de fenómenos, eventos ou
comportamentos no ambiente de estudo. Na geografia humana, essa técnica é utilizada
para estudar aspectos relacionados às actividades humanas, como o uso da terra, padrões
de assentamento, interacções sociais e culturais, entre outros.

Instrumentos Utilizados na Observação Directa

Segundo Santos (2004) Os instrumentos utilizados durante a observação direta no


estudo da geografia humana podem variar de acordo com o contexto da pesquisa, mas
geralmente incluem:

Anotações de Campo: O pesquisador faz anotações detalhadas sobre o que está sendo
observado, registando características físicas e sociais do ambiente, comportamentos
humanos, interacções e quaisquer outros elementos relevantes.

Fotografias e Vídeos: O uso de câmeras permite registar visualmente os aspectos


observados, proporcionando um Registro documental que pode ser analisado
posteriormente.

Entrevistas e Observação Participante: Além da observação passiva, o pesquisador pode


interagir com os participantes do ambiente estudado, realizando entrevistas estruturadas
ou participando activamente das actividades para obter uma compreensão mais profunda
dos fenómenos observados.
Vantagens da Observação Directa:

Validade e Credibilidade: A observação directa permite que o pesquisador obtenha


informações de primeira mão, reduzindo possíveis distorções ou viéses na interpretação
dos dados.

Detalhamento e Contextualização: Ao observar directamente o ambiente de estudo, o


pesquisador pode capturar detalhes significativos e entender o contexto em que os
fenómenos ocorrem, fornecendo uma compreensão mais completa e profunda do
objecto de estudo.

Flexibilidade: A observação directa permite uma abordagem flexível e adaptativa,


permitindo que o pesquisador ajuste sua metodologia de acordo com as condições e
eventos encontrados durante o processo de colecta de dados.

Interacção e Conexão: Ao participar activamente do ambiente de estudo, o pesquisador


pode estabelecer conexões mais próximas com os participantes, facilitando uma
compreensão mais rica e empática das experiências e realidades vivenciadas.

Referências:

Bernard, H. R. (2017). Research Methods in Anthropology: Qualitative and


Quantitative Approaches. Rowman & Littlefield.

Hammersley, M., & Atkinson, P. (2007). Ethnography: Principles in Practice.


Routledge.

Kitchin, R., & Tate, N. J. (2000). Conducting Research in Human Geography: Th

SANTOS, M. A. da S.(2004). "Instrumentos de projeção e de observação"; Brasil


Escola.

Conceito de Pólo de Desenvolvimento

Os pólos de desenvolvimento são conceituados como áreas geográficas que se destacam


pela concentração de actividades económicas, sociais e infra-estruturais que
impulsionam o crescimento regional e nacional.
Para Leandro (2012, p.24), os pólos de desenvolvimento são áreas geográficas ou
económicas onde se concentram actividades industriais e comerciais com o objectivo de
estimular o crescimento e o desenvolvimento da região

Pólo de desenvolvimento é uma área habitada de natureza predominantemente rural


onde a evolução social, económica e territorial ocorre no quadro de um plano de
desenvolvimento integrado e prospectivo. Um pólo rural não corresponde a uma única
aglomeração, mas sim a um território rural que pode incluir uma ou mais pequenas
cidades.

Conforme destaca Sachs (2001), esses pólos são caracterizados pela presença de
indústrias, serviços, instituições de ensino e pesquisa, bem como por uma infra-estrutura
de transporte e comunicação eficiente.

Essas características contribuem para a criação de empregos, a geração de riqueza e o


aumento do acesso a serviços básicos, promovendo, consequentemente, o bem-estar da
população.

Importância dos Pólos de Desenvolvimento

A importância dos pólos de desenvolvimento reside na capacidade de promover o


crescimento económico sustentável e reduzir as disparidades regionais. Conforme
aponta Todaro e Smith (2016), essas áreas funcionam como catalisadores para a atração
de investimentos, tanto públicos quanto privados, que dinamizam a economia local e
regional.

Além disso, os pólos de desenvolvimento podem atuar como centros de inovação e


disseminação de conhecimento, estimulando a criação de empregos qualificados e o
desenvolvimento de competências técnicas, o que contribui para a melhoria da
qualidade de vida da população.

Exemplos de Pólos de Desenvolvimento em Moçambique

Um exemplo emblemático de pólo de desenvolvimento em Moçambique é a Zona


Económica Especial de Nacala.

Segundo Oliveira et al. (2019), essa área tem se destacado como um importante centro
logístico e industrial, impulsionando o desenvolvimento da região norte do país. Com
investimentos em infra-estrutura portuária, ferroviária e rodoviária, além de incentivos
fiscais e facilidades para investidores, a Zona Económica Especial de Nacala tem
atraído empresas nacionais e estrangeiras, gerando empregos e estimulando a
diversificação da economia local.

Outro exemplo relevante é a cidade da Beira, considerada um pólo de desenvolvimento


económico e comercial em Moçambique.

Conforme ressaltado por Loforte et al. (2018), a Beira possui uma localização
estratégica, próxima aos principais corredores de comércio e transporte do país. Além
disso, a cidade conta com um porto movimentado e uma infra-estrutura urbana
relativamente desenvolvida, o que tem atraído investimentos em diversos sectores,
como logística, indústria e serviços. Esses investimentos têm contribuído para o
crescimento económico da região e para a melhoria das condições de vida da população
local.

Referências Bibliográficas

Sachs, J. (2001). "Pólos de Desenvolvimento". São Paulo em Perspectiva, 15(4), 70-77.

Todaro, M. P., & Smith, S. C. (2016). Desenvolvimento Econômico. Pearson.

Oliveira, F., et al. (2019). "Zonas Económicas Especiais em Moçambique: O Caso da


Zona Económica Especial de Nacala". Revista de Economia e Sociologia Rural, 57(2),
223-238.

Loforte, A. M., et al. (2018). "A Cidade da Beira, Moçambique, como Pólo de
Desenvolvimento Econômico e Territorial: Uma Análise a Partir das Transformações e
Desafios Recentes". Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 20(1), 185-202.

Leandro, D. F. (2012). Teorias do Desenvolvimento Regional e suas implicações de


Política econômica. São Paulo:BA.

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