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Conceitos básicos

Reforma significa melhoramento, conserto, reparação. Deste modo, falamos de reforma


da administração pública porque não estamos satisfeitos com qualquer coisa na
organização e funcionamento deste universo de instituições do Estado.

Chichava (2005), refere o Reforma do sector público é como um conjunto de


acções de carácter transversal e horizontal e processo de mudança que devem ser
empreendidos para que os serviços públicos prestados nos diferentes sectores sejam
melhorados.

CIRESP (2001) afirma que, a reforma do sector público consiste em mudanças


deliberadas na estrutura e no processo das organizações públicas, com o objectivo de
fazer com que funcionem melhor.

A Reforma no Sector Público é uma mudança deliberada no desenho e na maneira de


providenciar os serviços públicos (Pereira, 2004).

Reforma Administrativa, segundo Amaral (2006), será o conjunto sistemático de


providências destinadas a melhorar a administração pública de um país, tornar mais
eficiente na prossecução dos seus fins e, por outros mais coerentes com os princípios
que a regem.

Deste modo, a reforma administrativa é, dum lado, um conjunto sistemático de


providências e, por outro lado, ela visa melhorar a Administração Pública de um país.
Quer isso dizer, que através da reforma administrativa, os defeitos da Administração
Pública do momento são corrigidos e novos métodos ou serviços são introduzidos
conforme o que for considerado mais conveniente.

Constitui, neste caso, objecto da reforma administrativa a administração de um dado


país, quer no seu sentido orgânico ou material.

Quanto à finalidade, a reforma administrativa visa procurar obter para a Administração


Pública maior eficiência (em relação aos fins que a administração tem de prosseguir) e
mais coerência (assegurar a harmonia da actividade administrativa com os princípios a
que a administração se acha submetida, observando rigorosamente os ditames da lei.
A reforma do sector público deve ser entendida como um movimento permanente e
contínuo de ajustamento do sector público às alterações do contexto global e às políticas
básicas do governo e não como um evento unitário, insolado e delimitado no tempo”.

Segundo Chichava (2007:1), a Estratégia Global da Reforma do Sector Público é um


programa do Governo integrando todas as reformas em curso nos Ministérios e
Governos Provinciais.

Problemas da Reforma da Administração Pública Moçambicana:

O Programa da Reforma do Sector Público (RSP), enquadra-se na estratégia mais ampla


do Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA). Um dos pilares
deste plano é promover a boa governação. Com efeito, a pobreza no quadro deste
instrumento é definida numa perspectiva ampla e inclui, para além das medidas
econometrias, fatores como o limitado acesso aos serviços, a exclusão no processo de
tomada de decisões, exposição à corrupção, a falta de participação entre outros. Os
desafios estabelecidos no pilar da boa Governação estão sumariados da seguinte forma:

1. Melhorar o modelo democrático, através do desenvolvimento de uma


democracia
1. participativa, abrindo o espaço para a participação e intervenção de grupos de
interesse da sociedade civil;
2. Fortalecer o funcionamento do Parlamento, órgãos locais do Estado e o
Desenvolvimento Municipal;
3. Fortalecer a capacidade do Governo de formular e gerir políticas públicas,
promover a descentralização, a transparência e a prestação de contas;
4. Fortalecer as instituições públicas e o seu respectivo pessoal por forma a
melhorar a prestação de serviços;
5. Fortalecer o Distrito como unidade de planificação;
6. Promover a legalidade, justiça e a sociedade civil;
7. Resolver as questões ligadas ao HIV-SIDA, género, segurança alimentar, meio
ambiente e tecnologias de informação.

O programa da Reforma Sector Público é uma estratégia que contribui de forma


significativa para a materialização dos objectivos da política nacional de redução da
pobreza absoluta. A RSP operacionaliza o PARPA, no sentido de orientar o conjunto
das organizações públicas a prestar serviços de qualidade, cada vez mais próximos do
cidadão; a promover uma cultura pública baseada na integridade, transparência e
prestação de contas;

Soluções da Reforma da Administração Pública Moçambicana:

Para enfrentar esses desafios, são necessárias soluções multifacetadas. Investimentos


contínuos em capacitação e desenvolvimento de recursos humanos, como proposto por
Silva (2020), podem fortalecer a administração pública e melhorar a eficiência dos
serviços.

Além disso, medidas enérgicas de combate à corrupção, como a implementação de


sistemas de prestação de contas e monitoramento, são cruciais para promover a
transparência e a integridade na gestão pública, conforme sugerido por Costa (2019).

Por fim, a promoção de processos participativos de tomada de decisão e a capacitação


das autoridades locais podem contribuir para uma descentralização eficaz e para a
prestação de serviços mais adaptados às necessidades das comunidades, conforme
defendido por Machado (2021).

Portanto, a Reforma da Administração Pública em Moçambique enfrenta desafios


complexos, mas soluções como investimento em capacitação, combate à corrupção e
descentralização podem contribuir para a construção de uma administração pública mais
eficiente, transparente e orientada para o serviço público.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

Amaral, D F. (2006). Curso de Direito Administrativo, Vol. I. 3 ª edição. Coimbra.


Almedina. Pág. 185-186.

Chichava, J. (2005). A Reforma do Sector Público em Moçambique. Maputo


Chichava, J. A. C. (2007). A Modernização da Administração Pública em Moçambique.
Maputo.

CIRESP (2001). Estratégia Global de Reforma do Sector Público 2001-


2011.Ciresp. Maputo

Pereira, J. M. (2004). Reforma do Estado, Transparência e Democracia no Brasil : Rio


de Janeir
Os poderes da Administração Pública em Moçambique

Os poderes da Administração Pública em Moçambique são fundamentais param a


governança do país e a implementação de políticas que afectam directamente o bem-
estar dos cidadãos. A estrutura da administração pública é organizada em diferentes
níveis, incluindo o governo central, governos provinciais e distritais.

A Administração Pública Moçambicana tem poderes de decisão e de execução. Por outras


palavras, o que caracteriza o Direito Administrativo Moçambicano na ordem das prerrogativas,
como, em regra geral, em qualquer outro sistema de administração executiva, é a faculdade que
lhe é conferida de tomar decisões juridicamente executórias (1) e de garantir a sua execução
material (2);
De acordo com WEIL (2005:22): “ para satisfazer às necessidades do serviço, a administração
deve dispôr dos meios de acção necessários. Daí a noção de prerrogativas de direito público ou
de meios exorbitantes do direito comum. Enquanto na vida privada os direitos e obrigações só
se criam por via contratual, a administração, no interesse do serviço público, deve poder impôr
obrigações aos particulares unilateralmente e sem primeiro passar pelo juiz; e a sua decisão
deve ser considerada juridicamente válida enquanto o interessado não a tenha feito anular pelo
juiz”.

Poderes do direito administrativo

De acordo com NOHARA (2014:52) são poderes administrativos:

 O discricionário;

 Os decorrentes da hierarquia;

 O disciplinar;

 O normativo; e

 O de polícia.

a. Poder discricionário é a prerrogativa que tem a Administração de optar, dentre duas ou


mais soluções, por aquela que, segundo critérios de conveniência e oportunidade,
melhor atenda ao interesse público no caso concreto.

b. Da hierarquia, decorrem os seguintes poderes: ordenar actividades, controlar ou


fiscalizar as actividades dos subordinados, rever as decisões, com a possibilidade de
anular actos ilegais ou de revogar os inconvenientes e inoportunos, com base na Súmula
do direito constitucional.

c. Poder disciplinar é o que compete à Administração para apurar supostas infracções


funcionais e, se for o caso, aplicar as sanções administrativas.
d. Poder normativo envolve a edição pela Administração Pública de actos com efeitos
gerais e abstractos, como decretos regulamentares, instruções normativas, regimentos,
resoluções e deliberações.

e. Poder de polícia consiste “na actividade de condicionar e restringir o exercício dos


direitos individuais, tais como propriedade e a liberdade, em benefício do interesse
público”.

O poder de decisão

Ao abrigo da Alínea b) do n.° 1 do Artigo 229 da Constituição Lato sensu a decisão é


um acto jurídico pelo qual uma autoridade administrativa modifica o ordenamento
jurídico. O termo é expressamente consagrado na Constituição da República no que
concerne à determinação do âmbito de conhecimento do Tribunal Administrativo.

Na lógica do regime administrativo ou sistema de administração executiva, a decisão


administrativa é concebida como uma técnica eficaz de governação com um conteúdo
abrangente.

O poder regulamentar é uma das características do poder de decisão da Administração.


A título de exemplo, de acordo com a alínea f) do n.° 1do Artigo 204 da Constituição,
“Compete, nomeadamente, ao Conselho de Ministros (...) regulamentar a actividade
económica e dos sectores sociais”. No fundamento desta disposição constitucional, o
Governo aprovou vários regulamentos.

Sistema do Tipo Britânico ou de Administração Judicial

O sistema de tipo britânico ou de administração judicial, continua Marcelo CAETANO,


caracteriza-se pela:

 Separação de poderes;
 Estado de Direito;
 Quanto a organização administrativa é descentralizado;
Quanto ao Direito regulador, a Administração Pública rege-se pelo Direito Comum,
portanto, os órgãos assim como os funcionários se regem pelo mesmo Direito que os
cidadãos anónimos. Aqui ninguém dispõe de privilégios ou de prerrogativas de
autoridade pública;

Quanto ao controle jurisdicional, a Administração Pública está sujeita ao Tribunal


Comum;

Quanto a execução das decisões administrativas, a administração não pode executar


as suas decisões por autoridade própria. A administração não pode aplicar meios
coersivos caso o cidadão não acate voluntariamente a uma sua decisão. Nesta situação
só a decisão do Tribunal é que deve prevalecer através de uma sentença. As decisões
unilaterais da Administração Pública não tem força executória;

Quanto as garantias jurídicas dos administrados, os particulares dispõem de um


sistema de garantias contra as ilegalidades e abusos da Administração Pública.

Bibliografia

Chichava, S., & Buur, L. (Eds.). (2013). Governing the coastal commons: Communities,
resilience and transformation. Uppsala University.

Chichava, S., & Hanlon, J. (2009). Mozambique and the construction of the new African
state: From negotiation of independence to Frelimo rule. Boydell & Brewer.

NOHARA, I. P. (2014). Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Atlas

A estruturação da Administração Pública varia em função do tempo e do espaço, tal


como acontece com os sistemas políticos e com os sistemas judiciais. Significa que os
modos jurídicos de organização, funcionamento e controle da Administração Pública
não são os mesmos em todas as épocas e países (CAETANO).

Há duas grandes distinções que se pode fazer em relação aos sistemas administrativos
ou de Administração Pública. Temos o sistema tradicional que vigorou na Europa até
aos séculos XVII e XVIII e os sistemas modernos que se implantaram à posterior.
Dentro dos sistemas modernos, há que fazer novas subdivisões na medida em que a
eforma como o sistema estava estruturado na Inglaterra é diferente da forma como
estava estruturado na França.
Os Sistemas da Administração Pública e seu enquadramento no contexto
Moçambicano.

Conceitos básicos

A administração pública é crucial para o funcionamento eficaz de um país, pois lida


com a implementação e gestão de políticas, serviços públicos e recursos governamentais
(Shabani, 2017).

No contexto moçambicano, os sistemas da administração pública refletem a história, os


desafios e as aspirações do país, influenciados por factores políticos, económicos e
sociais específicos.

Ferreira (2001) e Martins (2012), destacam a importância da administração pública na


construção e manutenção do Estado, enfatizando a necessidade de eficiência,
transparência e responsabilidade na prestação de serviços públicos. No entanto, a
realidade moçambicana apresenta desafios únicos, como a necessidade de superar o
legado colonial, promover o desenvolvimento económico e social e lidar com questões
de corrupção e burocracia.

Sistema do Tipo Francês ou de Administração Executiva

O sistema do tipo francês, considerado de administração executiva, pois, em princípio,


os órgão de administração podem executar as suas decisões, independentemente dela
estar a correr nos Tribunais. Neste sistema a administração tem prerrogativas de
executar decisões que o cidadão não concorda. A administração tem autoridade própria.

O sistema de tipo francês ou de administração executiva, continua Marcelo CAETANO,


caracteriza-se pela:

 Separação de poderes;
 Estado de Direito;
 Quanto a organização administrativa, era centralizado;

Quanto ao Direito regulador, a Administração Pública rege-se pelo Direito


Administrativo, portanto os órgão e agentes administrativos não estão na mesma
posição que os cidadãos, daí que a administração dispõe de poderes de autoridade que
lhes permite impor as suas vontades aos particulares, nascendo deste modo um conjunto
de normas jurídicas de Direito Público, que é o Direito Administrativo;
 Quanto ao controle jurisdicional, ela está sujeita ao Tribunal Comum;
 Ela goza do privilégio de execução prévia.

A administração possui um conjunto de poderes “exorbitantes” sobre os cidadãos.


Portanto a administração executa as suas decisões por autoridade própria,
contrariamente ao sistema britânico.

Quanto as garantias jurídicas dos administrados, assim como no sistema britânico,


no sistema francês, os administrados têm um conjunto de garantias jurídicas contra os
abusos e ilegalidades da Administração Pública. Essas garantias são efectivadas através
dos Tribunais Administrativos, que são os órgãos que fazem a fiscalização dos actos
administrativos neste sistema.

Sistemas Administrativos Modernos

Segundo Martins (2012), afirma os sistemas modernos quando surgiram apresentavam


grandes diferenças no que diz respeito ao funcionamento e organização da
Administração Pública. Estes sistemas, o do tipo britânico e o do tipo francês, não
pararam no tempo, pois, a evolução ocorrida no século XX veio a determinar uma certa
aproximação entre os dois sistemas em alguns aspectos.

Em relação `a organização administrativa a administração britânica tornou-se mais


centralizada, devido ao crescimento da burocracia central, a criação de vários serviços
locais do Estado e a transferência de serviços antes executados ao nível municipal para
os órgãos de nível regional (Ferreira, 2001).

 Quanto ao controle jurisdicional da administração, na Inglaterra surgiram `as


centenas os chamados tribunais administrativos mas não a semelhança dos
tribunais existentes na França, pois, o controle na Inglaterra ainda é feito pelo
tribunal comum. Os tribunais administrativos que surgiram na Inglaterra não
eram verdadeiros tribunais mas sim órgãos administrativos independentes,
criados juntos da administração central para decidir questões de direito
administrativo.
 Quanto à execução das decisões administrativas, surge na Inglaterra os
tribunais administrativos, que não são verdadeiros tribunais mas sim órgãos
administrativos independentes, criados juntos da administração central para
decidir questões do direito administrativo.
 Quanto às garantias jurídicas dos administrados, na França os tribunais
administrativos ganham mais poderes face à administração. Eles já podem ir
mais longe do que a mera anulação de actos ilegais. Na França, assim como na
Inglaterra, adoptaram da mais recente instituição de protecção dos particulares, o
Provedor de Justiça.

Bibliografia

CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, Editora Coímbra, Tomo I;

Ferreira, L. (2001). Administração pública: algumas reflexões. Publicação em formato


eletrônico.

Martins, H. (2012). Administração Pública: Dos Princípios à Gestão. Almedina.

Mungai, P. (2019). Reforma Administrativa em Moçambique: Perspectivas e Desafios.


Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.

Shabani, F. (2017). Desenvolvimento Sustentável e Governança em Moçambique: Uma


Abordagem Multidisciplinar. Maputo: Instituto de Estudos Sociais e Econômicos

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