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Planejamento e

orçamento no setor
público brasileiro
[7]

2
Aspectos gerais
do orçamento

2.1. Complexidade do orçamento e suas razões


O orçamento público é frequentemente encarado como um instrumento de difícil compreensão,
a ponto de ser considerado, muitas vezes, como uma “caixa preta”, de entendimento restrito aos
especialistas da área.

Abstraindo o aspecto da importância do orçamento como instrumento de uma das etapas do


sistema de planejamento, uma avaliação superficial nos leva a considerar que, em princípio, não
deveria representar tarefa das mais complexas a análise de um documento que simplesmente
apresenta receitas de um lado e despesas de outro.

Por outro lado, uma análise mais acurada dos orçamentos públicos evidencia, efetivamente,
algumas dificuldades para a sua interpretação.

Diversas causas vêm, sucessivamente, ampliando a complexidade dos demonstrativos orçamen-


tários do setor público: a principal delas é a longevidade da Lei nº 4.320/64, reguladora dos
balanços e orçamentos públicos.

De fato, após 45 anos, várias alterações ocorreram na técnica de elaboração orçamentária,


na abrangência dos gastos públicos, na ampliação da administração indireta e no próprio
texto constitucional, sem que essa lei merecesse uma ampla reformulação para adequar-se
às novas situações.

2.2. O orçamento por programa


No final da década de 1970, começou a ser disseminada a ideia de elaboração do orçamento
por programas, contrapondo-se a um procedimento mais simplista que era apresentado e vota-
do pelo Poder Legislativo, apenas sob o enfoque das despesas segundo a natureza dos gastos,
como pessoal, material de consumo, serviços de terceiros, investimentos etc., acrescidas das
funções e subfunções de governo a que se destinavam.

Alocar os gastos públicos segundo uma visão por programas de governo representou, eviden-
temente, um procedimento mais adequado para estabelecer e analisar os objetivos e as metas
[8]

da administração pública, associados ao respectivo


custo-benefício.
O sistema de planejamento
Para estimular as administrações públicas a assimi- e orçamento da
larem a nova técnica de orçamento por programa,
o Governo Federal, baseado na competência legal
administração pública
estabelecida pelo art. 113 da Lei nº 4.320/64, in- ainda sofre com a falta
troduziu, no início dos anos 1970, uma nova clas-
sificação funcional programática (Portaria nº 9/74,
de modernização da
do então Ministério do Planejamento), tornando legislação reguladora
obrigatória a apresentação dos orçamentos públi-
cos discriminados por funções, programas, subpro-
gramas e projetos ou atividades.

As informações constantes dos orçamentos públi- o processo de elaboração pelo Poder Executivo e
cos, do ponto de vista programático, tornaram-se de análise pelo Poder Legislativo.
mais ricas, aumentando o nível de detalhamento2.
Todavia, do ponto de vista formal, aumentou a Na verdade, alguma coisa já foi feita nesse senti-
complexidade para interpretação, porque: do, primeiro pela edição da Portaria nº 42/99, do
Ministério do Planejamento, mudando e flexibili-
• a classificação funcional programática, que era re- zando a classificação funcional programática, e,
gida somente por dois dígitos, passou a ser iden- segundo, pela edição da Portaria Interministerial
tificada por 11 dígitos; nº 163/01, que reformulou a classificação da re-
ceita e a classificação econômica da despesa.
• as diversas acumulações de valores em níveis de
função, programa, subprograma e projeto/ativi- Saliente-se que o maior detalhamento implicou,
dade não eram facilmente visualizadas; também, aumento do grau de inflexibilidade para
utilização dos recursos na fase de execução orça-
• manteve-se a anterior classificação pela natureza mentária. Isso porque esse nível de detalhamento,
dos gastos, que representa os insumos dos pro- ao integrar o orçamento e ser aprovado pelo Poder
gramas de governo, na prática significando elabo- Legislativo, transforma-se em lei, cujas alterações
rar o orçamento sob duas visões diferentes. futuras demandam novas autorizações legislativas.

Na realidade, ampliou-se e melhorou-se o nível


de detalhamento programático, sem abrir mão da 2.3. Crescimento da
classificação pela natureza dos gastos. administração indireta
Em razão disso e também pela existência de outras Outro fator que representava enorme grau de difi-
classificações, a apresentação do orçamento aca- culdade na interpretação e análise dos orçamentos
bou se tornando mais complexa, particularmente públicos era a forma de apresentação das despe-
pelo excesso de codificação, o que dificulta a sua sas da administração indireta.
transparência. Isso tudo precisa ser repensado
com vistas a uma simplificação. O ideal seria de- Até a promulgação da Constituição de 1988, as
finir que o orçamento fosse elaborado de forma entidades da administração indireta estavam de-
mais agregada, podendo o detalhamento aconte- sobrigadas de aprovarem seus orçamentos por
cer apenas na fase de execução, o que facilitaria lei. Isso significava que as dotações destinadas a

2
O detalhamento das funções ampliou-se em cerca de 60%; os programas, anteriormente explicitados sob a forma de subfuncões, em 50%; e os subprogramas
em 80%, além de permitir um detalhamento praticamente infinito em nível de projetos e atividades, que eram os dois tipos de ações governamentais.
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cobrir os deficits dessas entidades constavam do Sem a observância desses requisitos, fica muito
orçamento da administração direta por valores difícil tornar efetivo o princípio de compatibilida-
globais, e o valor total das receitas e despesas de entre o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretri-
com recursos dessas entidades figurava apenas zes Orçamentárias (LDO) e o orçamento anual.
no texto da lei orçamentária, sem nenhum detalha-
mento, que ocorria posteriormente por decreto do Por fim, há de se considerar, ainda, que a partir
Poder Executivo. dos anos 1970, a atividade pública foi fortemen-
te desenvolvida por meio da propagação das em-
Esse procedimento deixava o orçamento um tanto presas estatais.5
obscuro em razão da ausência de detalhamento de
significativa parcela dos gastos públicos, já que era Com a obrigatoriedade de que o orçamento de in-
excepcional o crescimento do número de entida- vestimento dessas empresas passasse a integrar a
des da administração indireta a partir do final da lei orçamentária, acabou sendo criado um vácuo
década de 19503. Não seria um exagero dizer que institucional pela falta de regulamentação da for-
a multiplicação dessas entidades tinha por moti- ma de sua apresentação e incorporação.
vo principal escapar do crivo do Poder Legislativo,
fato esse muito lamentável. Pior ainda, no nível de execução orçamentária, não
foi criado nenhum instrumento de acompanha-
Com a nova Carta de 1988 estabelecendo obriga- mento que permitisse avaliar se efetivamente os
toriedade para que os orçamentos das autarquias investimentos realizados estavam contemplados
e fundações constassem da lei orçamentária, re- na lei orçamentária.
solveu-se o problema da abrangência dos gastos.
Por outro lado, não estava resolvida a questão Da mesma forma que ocorria até pouco tempo
da transparência, porque os orçamentos dessas atrás no caso das autarquias, para consolidação
entidades eram isoladamente incorporados à lei do orçamento global, simplesmente adicionar os
orçamentária sem nenhuma visão global dos gas- valores de investimento das empresas estatais
tos. Entretanto, houve uma evolução nesse sen- poderá significar dupla contagem se houver re-
tido. Para isso, colaborou de forma importante o cursos provenientes do orçamento da adminis-
fato de ter sido editada a Lei de Responsabilidade tração direta.
Fiscal (LRF), que considera o ente estatal sempre
pelo conjunto de seus órgãos autônomos. Atual- Para que haja uma adequada consolidação, deve-
mente, as autarquias e fundações instituídas e se considerar somente o investimento realizado
mantidas pelo poder público submetem-se, no com recursos próprios da empresa. Como asse-
que respeita ao orçamento, às mesmas regras da gurar que o orçamento da estatal evidencie a ori-
administração direta. gem dos recursos se nenhuma regulamentação
foi estabelecida para apresentação dos orçamen-
A unificação dos orçamentos de cada ente fe- tos das empresas?
derativo é fundamental, apesar de resistências
ainda hoje existentes,4 pois esse procedimento Logo, a maneira mais segura para identificar a
permite que se dê maior enfoque no detalha- transferência de recursos para essas entidades
mento por programas de governo para que os seria a realização de ampla pesquisa no orça-
novos princípios estabelecidos pela Constitui- mento da administração direta. Mas, para au-
ção sejam atingidos. mentar o grau de dificuldade, pode ocorrer a

3
Em 1948, existiam cerca de 70 autarquias federais, com suas despesas representando 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Ao final da década de 1960,
já eram mais de 80 entidades, com uma participação de 7,5%. Em 1968, as autarquias respondiam por cerca de 50% do total das despesas públicas e por mais
de 70% dos investimentos.
4
O orçamento da Prefeitura de São Paulo foi unificado apenas a partir do exercício de 2007.
5
No âmbito federal, as empresas evoluíram de cerca de 30, no início dos anos 1950, para 177 em 1982. Na esfera estadual, foram instituídas 49 empresas
durante os anos 1950, 175 na década de 1960 e 60 na década de 1970.
[10]

situação na qual os recursos destinados às empresas estatais tenham antes de transitar


pelo orçamento de uma autarquia, no caso de essa entidade ser acionista da empresa.

Como consequência, há necessidade de que a pesquisa para análise dos recursos destinados às
empresas estatais se estenda também aos orçamentos das entidades da administração indireta.

Outra inovação da Constituição de 1988 foi a obrigatoriedade de as receitas e despesas


das fundações instituídas e mantidas pelo poder público integrarem o orçamento nas mes-
mas condições da administração direta e das autarquias. A proliferação dessas fundações
deveu-se ao fato de que, até então, elas não tinham os seus orçamentos aprovados pelo
Poder Legislativo e não se sujeitavam às rígidas regras do setor público.

A Constituição federal, ao determinar (art. 165, § 5º, incisos I e III) que as fundações insti-
tuídas e mantidas pelo poder público devem integrar a lei orçamentária, acabou por gerar
uma dúvida, pois existem as que são instituídas por lei, mas que, entretanto, têm vida pró-
pria e não recebem recursos do Tesouro, ou seja, não são dependentes do poder público.
Neste caso, entende o autor, na mesma linha adotada pelo Tribunal de Contas do Estado
de São Paulo (TCE-SP), que essas fundações, mesmo sem receber recursos da instância
governamental, são caracterizadas como órgãos públicos, já que foram instituídas por lei,
devendo, assim, integrar a lei orçamentária e se sujeitar às demais regras vigentes para a
administração pública.

Ainda sobre a questão do orçamento das empresas, cabe o registro de que a LRF criou a figura
da empresa estatal dependente, aquela que recebe recursos do Tesouro para pagamento de
despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital. As empresas enquadradas nessa
situação devem figurar no orçamento pelo total de suas receitas e despesas, equiparando-se,
portanto, a uma autarquia.

2.4. Reflexos da Constituição de 1988


A nova Constituição brasileira trouxe para o orçamento algumas novidades, entre as quais se
destaca a consolidação do processo de planejamento, influenciado pela instituição de três ins-
trumentos, que interagem entre si: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA).

Se de um lado as novidades foram saudadas como um avanço no sentido de dar ao orça-


mento público maior importância dentro do processo de desenvolvimento do País, por outro,
algumas complexidades preexistentes e outras surgidas a partir da nova Carta não foram,
ainda, devidamente equacionadas, o que está, de certa forma, prejudicando a obtenção dos
resultados esperados.

Essas complexidades decorrem, em parte, de algumas imperfeições existentes no texto consti-


tucional, mas a maioria reside na falta da regulamentação prevista no art. 165, § 9º, a despeito
de permanecer em vigor a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964.

Como já foi mencionado, a referida lei possui 45 anos e está muito defasada em relação à reali-
dade atual. Apesar de terem decorridos quase 20 anos da promulgação da atual Constituição, a
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lei é o único texto regulamentador do processo or- A complexidade é tão flagrante que no próprio
çamentário brasileiro, a despeito das contribuições Governo Federal a implementação do orçamen-
trazidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. to da seguridade social jamais se efetivou, a não
ser pela apresentação de demonstrativos na lei
O mal maior que a ausência de regulamentação orçamentária e pela designação de cada dotação
vem causando ao processo reside justamente na como pertencente ao orçamento fiscal (F) ou ao
mudança mais importante do novo texto constitu- orçamento da seguridade social (S). Nas demais
cional, que foi a criação do Plano Plurianual e da esferas, particularmente nos municípios, a questão
Lei de Diretrizes Orçamentárias. é, em geral, ignorada. Tanto isso é verdade que as
instituições encarregadas da fiscalização da ges-
Não havia, até pouco tempo, por parte das unida- tão orçamentária praticamente não se preocupam,
des da Federação brasileira, um entendimento fir- com razão, com essa separação.
me quanto à obrigatoriedade de aplicação desses
dois instrumentos, pois algumas correntes defen- Esse aspecto tem muito a ver com a unidade do
diam, erroneamente, a ideia segundo a qual sem a orçamento, a ser abordada no capítulo seguin-
regulamentação, o texto constitucional não preci- te, em que se procurará demonstrar que a tão
sava ser cumprido. desejada unificação dos orçamentos ainda não
aconteceu, mas que ela é fundamental para o
Mesmo para a grande maioria que entendia serem processo de planejamento, já possibilitam a
obrigatórios tais instrumentos, restavam dificul- compatibilização prevista na Constituição entre
dades imensas para a aplicação de determinados Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentá-
conceitos que foram criados. rias e orçamento.

A título de exemplo, podem ser citadas as ex- Outra novidade trazida pela nova Carta é o orça-
pressões “delas decorrentes” e “programas de mento de investimento das empresas em que a
duração continuada” que aparecem no texto do União, direta ou indiretamente, detenha a maioria
art. 165, § 1º, da Constituição, que conceitua do capital social com direito a voto. O dispositivo
o Plano Plurianual, provocando muita confusão padece da mesma indefinição sobre a sua aplica-
entre os técnicos que tratam do assunto, geran- ção nas outras esferas de governo.
do interpretações as mais variadas possíveis,
em detrimento de um pensamento único sobre Sem a regulamentação solicitada pelo art. 165, §
os objetivos da instituição de um sistema de 9º, da Constituição, fica difícil sistematizar a exi-
planejamento orçamentário. gência em todas as esferas de governo. Para sua
adoção, será preciso definir bem a abrangência, o
Outra fonte de complexidade foi a criação do exato conceito de investimento e o funcionamento
chamado orçamento da seguridade social. A desse orçamento, ou seja, a sua operacionalização,
distinção feita pela Constituição foi infeliz por a fim de que os órgãos de controle e os de fiscali-
confundir a ideia expressada pelo princípio zação, particularmente o Poder Legislativo e cada
da unidade dos orçamentos por esfera de go- Tribunal de Contas, possam desempenhar a sua
verno. Se existe a figura do orçamento fiscal, função e atestar o cumprimento dos investimentos
que abrange todos os poderes da União, seus previamente aprovados.
fundos e órgãos da administração direta e in-
direta, como poderia ser elaborado um outro Ainda como novidade, a nova Constituição passou
orçamento abrangendo apenas a seguridade a exigir (art. 165, § 6º) que a lei orçamentária apre-
social? Como seria o relacionamento entre os sente demonstrativo regionalizado do efeito sobre
dois? Teria esse novo tipo de orçamento uma as receitas e despesas, decorrente de isenções,
execução independente ou seria integrante do anistias, remissões, subsídios e benefícios de natu-
orçamento fiscal? reza financeira, tributária e creditícia.
[12]

2.5. Unidade do orçamento


Apesar do desejo de
O princípio da unidade do orçamento, consagra-
do na Lei nº 4.320/64 logo em seu art. 2º, precisa muitos técnicos, a unidade
ser encarado como uma das características mais do orçamento ainda é um
importantes do orçamento público, especialmen-
te a partir do momento em que este deixou de ser objetivo a ser alcançado
tratado apenas como uma “lei de meios” para in-
tegrar uma sistemática de planejamento do setor
público, em que se inclui o Plano Plurianual e Lei
de Diretrizes Orçamentárias. presas estatais e para a seguridade social, mas
tudo isso ainda é muito vago. No caso das empre-
Unidade significa existir apenas um orçamento com- sas, nenhuma referência é feita em relação às
preendendo todas as ações do poder público, quer despesas de manutenção de suas atividades.
arrecadando os recursos, quer empregando-os em
programas próprios da atividade estatal. Sem entrar no mérito do orçamento de investi-
mento das empresas estatais, a existência de um
Entretanto, a história recente do orçamento públi- orçamento específico para a seguridade social6
co mostra que o princípio ainda é um objetivo a representa uma anomalia dentro do processo,
ser alcançado, pois embora defendido por técnicos pois as respectivas receitas e despesas já figu-
e legisladores, não é adotado integralmente pelas ram no orçamento fiscal. Foi um equívoco dos
unidades da Federação, em prejuízo das funções parlamentares constituintes a instituição desse
de planejamento, controle e avaliação, além de re- instrumento, sabendo-se que hoje o orçamento
duzir a transparência para a sociedade. é elaborado de forma programática, em que to-
das as ações da área são perfeitamente identifi-
Mesmo considerando a contribuição dada pela cáveis no orçamento geral, permitindo todo tipo
Lei de Responsabilidade Fiscal, o principal fator de análise e comparações para saber se o setor
responsável pela não aplicação integral do prin- foi devidamente contemplado com os recursos
cípio da unidade nos orçamentos tem sido a pro- de que necessita.
liferação das entidades da administração indireta,
como as autarquias, as fundações, os consórcios, A redação constitucional do art. 165, § 5º, estabe-
as empresas estatais e até mesmo algumas formas lece que a Lei Orçamentária Anual será composta
de fundos especiais, cujas receitas e despesas, de três tipos de orçamentos específicos: o fiscal,
muitas vezes, não são analiticamente demonstra- o da seguridade social e o de investimento das
das no orçamento geral. empresas estatais. Em relação aos dois primeiros,
evidencia-se, claramente, a unidade e universali-
Hoje, a Constituição federal, em seu art. 165, § 5º, dade dos poderes, órgãos, fundos e entidades da
determina que o orçamento fiscal deve compre- administração direta, inclusive as fundações.
ender todos os poderes da União, seus fundos,
órgãos e entidades da administração direta e in- Diferentemente do que ocorreu com o orçamento
direta, inclusive fundações instituídas e mantidas de investimento das empresas estatais, os consti-
pelo poder público, ou seja, a obediência ao prin- tuintes não estabeleceram que os orçamentos das
cípio da unidade. autarquias e fundações seriam apresentados na
lei orçamentária de forma independente. Portanto,
Por outro lado, o mesmo dispositivo prevê orça- evidencia-se, claramente, a unidade para os orça-
mentos distintos para os investimentos das em- mentos fiscal e da seguridade social.

6
A seguridade social compreende as áreas de saúde, assistência social e previdência, conforme estipula o art. 194 da Constituição.
[13]

Em decorrência da falta de regulamentação a mas o País precisa caminhar no sentido de que o


que se refere o art. 165, § 9º da Constituição, as planejamento seja de fato o instrumento para con-
disposições da Constituição de 1967, a regula- templar as verdadeiras prioridades nacionais, re-
mentação contida na Lei nº 4.320/64 e os usos gionais e locais, de modo que mecanismos como o
e costumes preponderaram por muito tempo, no da vinculação venham a se tornar desnecessários.
sentido de que os orçamentos da administração
indireta fossem erroneamente apresentados em Além disso, sempre há setores da administração,
separado, contrariando o princípio expresso no em todas as esferas de governo, que estão à pro-
atual texto constitucional. Aos poucos, essa cultu- cura de meios legais para fugir do cumprimento
ra vai ficando para trás. das normas que regem a utilização dos recursos
públicos, em nome da racionalidade, da objetivi-
Infelizmente, ainda existem entes federativos que dade e da agilidade, geralmente, no seu entender,
elaboram o orçamento no sistema antigo. Quando prejudicadas pela necessidade de se obedecer a
muito, os diversos orçamentos – o da administra- um orçamento previamente aprovado, à realização
ção direta e os da administração indireta – são reu- de empenho prévio das despesas, ao processo de
nidos na mesma lei, mas distintos entre si. licitação e ao concurso público para admissão de
servidores. O crescimento espantoso do número
Sem a unidade, o orçamento público brasileiro – de entidades da administração indireta, como au-
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos tarquias, fundações, empresas públicas e socie-
municípios – fica muito mais difícil de ser enten- dades de economia mista, teve muito a ver com
dido, no âmbito do próprio Poder Executivo e pelo essas afirmações.
Poder Legislativo,7 a quem compete apreciá-lo,
emendá-lo e aprová-lo, e pela sociedade em geral. Uma das formas utilizadas nas últimas décadas
para criar mecanismos especiais para fugir da ri-
gidez do sistema público de administração foi a
2.6. Vinculações instituição de fundos especiais, que passaram a
e fundos especiais funcionar com autonomia e recursos garantidos
pelas leis que os instituíam.
A questão das vinculações de receitas e da ins-
tituição de fundos especiais frequenta perma- Esse é, também, um fato extremamente prejudi-
nentemente os debates sobre o planejamento cial à sistemática de planejamento orçamentário
orçamentário. De um lado, uns sustentando que só instituída pela nova Constituição, particularmente
o planejamento é capaz de contemplar com os de- quando os fundos especiais:
vidos recursos as áreas de fato prioritárias; de ou-
tro, os que defendem a ideia de que setores vitais, • r eservam para si parte da receita pública, atra-
como educação e saúde, só podem ser atendidos vés de vinculações que em muitos casos ferem o
se houver, na Constituição, dispositivos que garan- princípio da não afetação das receitas, garantido
tam os recursos necessários. pelo art. 167, inciso IV, da Constituição;

Têm razão os planejadores, mas é preciso compre- • s eguem, segundo as leis que os instituem, proce-
ender que a posição dos “gastadores” é baseada dimentos especiais para o seu funcionamento.
num processo histórico de abandono das áreas
sociais, hoje beneficiárias das vinculações. Não é O que tem havido é a utilização indiscriminada de
o caso, agora, de se aprofundar nesse caloroso de- um instrumento nobre criado pela Lei nº 4.320/64,
bate, que é muito mais complexo do que parece, em seu art. 71, que conceitua o fundo como a vin-

7
Os graves problemas envolvendo a apreciação do orçamento federal pela comissão mista do Congresso Nacional, que redundaram na instalação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito e na cassação de vários congressistas, afora os aspectos éticos e morais, têm como uma de suas causas o fato de o orça-
mento ser dominado por um pequeno grupo de pessoas, dada a sua complexidade advinda, também, da falta de unicidade.
[14]

culação do produto de receitas especificadas para atender a determinados objetivos ou serviços. A utiliza-
ção do fundo nos estritos termos dessa lei permitiria auferir receitas extras, como doações, contribuições,
legados, mediante a garantia de que fossem destinadas ao atendimento de um objetivo predeterminado
ou à realização de um serviço previamente conhecido. Além disso, o fundo poderia ser utilizado por uni-
dades administrativas de características especiais que realizam serviços específicos, auferindo receitas
próprias para a sua manutenção.

O que se condena é o aproveitamento inadequado de um dispositivo da legislação para a criação indis-


criminada de fundos especiais, verdadeiros feudos de determinados setores instalados na administração
pública, muitas vezes vinculando recursos ordinários, como impostos, taxas, contribuições e outras recei-
tas públicas, em prejuízo da ação global de planejamento orçamentário.

No decorrer dos trabalhos constituintes de 1988, os parlamentares já haviam constatado que a prolife-
ração dos fundos especiais estava prejudicando a administração pública e o planejamento, a ponto de
terem determinado, no art. 36 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que todos
os fundos existentes na data da promulgação da Constituição, excetuados os resultantes de isenções
fiscais, passassem a integrar o patrimônio privado e os que interessassem à defesa nacional fossem
automaticamente extintos se não ratificados pelo Congresso Nacional no prazo de dois anos.

Na verdade, a ideia inicial dos constituintes, consubstanciada na Subcomissão de Orçamento e Fiscaliza-


ção Financeira e na Comissão do Sistema Tributário, Orçamento e Finanças, era a de proibir a instituição
dos fundos de qualquer natureza. Pressões nas demais fases do processo constituinte permitiram a manu-
tenção da situação anterior a 1988.

2.7. Orçamento das empresas estatais


Em princípio, a exigência de que os investimentos realizados pelas empresas estatais – empresas públicas
e sociedades de economia mista – sejam previamente submetidos à aprovação do Poder Legislativo, se-
paradamente, não se constitui em quebra do princípio da unidade, pois essas empresas são organizadas e
funcionam sob as regras do direito privado. O mérito de tal exigência é muito discutível, particularmente
pelo avanço das privatizações.

Mantida a norma, resta prever, na lei complementar reguladora das finanças públicas, como funcionará o
orçamento das estatais no decorrer do exercício e o exato conceito de investimento para fins de inclusão
na proposta orçamentária.

Essa conceituação se faz necessária porque determinadas operações realizadas numa empresa podem se
caracterizar como investimento, o mesmo não acontecendo em outra empresa, de natureza diferente. Por
exemplo, a aquisição de um terreno: se for um banco, o terreno certamente se incorporará ao seu ativo
e servirá, talvez, para construção de uma nova filial; se for uma empresa que atua na área de habitação,
provavelmente o terreno será utilizado para construir unidades residenciais para posterior revenda, dentro
dos seus objetivos estatutários.
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3
O SISTEMA DE
PLANEJAMENTO

3.1. Conceito de planejamento


Uma breve conceituação para mera avaliação do campo de ação da função planejamento
permite identificá-la como “uma metodologia mediante a qual se estabelecem e se decidem
os objetivos visando à solução de problemas identificados, especificando, com antecedência,
as ações e os recursos materiais, humanos e financeiros necessários”.

Desse breve conceito, alguns pontos podem ser anotados como referência:

a) é um processo decisório sistematicamente desenvolvido com antecedência para definir


os objetivos que devem ser atingidos, condicionando as decisões que, ao longo de um de-
terminado período, deverão ser adotadas para a sua consecução. Como tal, deve-se definir
claramente em que níveis hierárquicos ocorrerão as decisões futuras dos objetivos a serem
perseguidos pela administração pública.

b) é uma metodologia para uniformizar procedimentos básicos de ação, a fim de estabelecer a


interação necessária entre os diversos níveis hierárquicos da administração para um coerente pro-
cesso de decisão. Basicamente, busca-se disciplinar procedimentos que possibilitem que as
decisões tomadas nos níveis estratégicos superiores sobre diretrizes, estratégias e objetivos
globais possam fluir para que os escalões inferiores respondam com propostas que viabili-
zem o alcance das metas pretendidas.

Em suma, o planejamento é o processo mediante o qual se procura definir claramente o que


fazer e como fazer, visando à utilização racional dos recursos disponíveis para que, com efi-
ciência, eficácia, efetividade e humanização, os objetivos pretendidos possam ser atingidos,
pois “se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável” (Sêneca).

A falta de um processo decisório, claramente sentida no setor público, e de metodologia ade-


quada para a interação de todos os níveis hierárquicos constituem, sem dúvida, a grande
dificuldade para que os instrumentos derivados do planejamento atinjam o êxito desejado.

Toda organização deve ter objetivos a serem alcançados. Em uma organização de pequeno
porte, as informações podem manter-se apenas na cabeça dos administradores, o que faz,
por exemplo, que os planos e projetos sejam tacitamente conhecidos por todos. À medida
[16]

que a organização cresce e envolve um grande dicionado pelo intervalo de tempo e pelas restri-
número de pessoas, surge a necessidade de ex- ções financeiras, organizacionais e tecnológicas.
pressar, em termos bem detalhados, os objetivos
pretendidos, as estratégias a serem utilizadas, as c) O nível operacional, delimitado pelo que deve e
políticas administrativas e os padrões de com- pelo que pode ser feito, estabelecidos nos níveis
portamento desejáveis dos seus membros. anteriores, define o que será feito. Tem como prin-
cipal característica o detalhamento das decisões
Por outro lado, as administrações enfrentam vá- do nível tático com a preocupação de implemen-
rios estágios de desenvolvimento e situações de tação operacional do que efetivamente será rea-
realidades diferentes que exigem adequação dos lizado, estabelecendo as ações para que as metas
objetivos e da postura organizacional. possam ser atingidas.

Evidencia-se, cada vez mais, a impossibilidade de Relembrar esses conceitos é muito importante a
que uma administração simplista atenda às exigên- fim de que se passe da teoria à prática, delimita-
cias organizacionais, sendo primordial a adoção de da, é claro, pelas condições específicas do setor
um instrumento que garanta a unidade da Institui- público e condicionamentos legais estabelecidos
ção e propicie o controle de suas atividades. pela Constituição e legislação vigentes.

Pode-se efetivamente considerar que o processo


3.2. Níveis de planejamento decisório de estabelecimento de diretrizes, obje-
tivos e metas e a elaboração do Plano Plurianual
Para conveniente definição da estrutura organi- devem ser enquadrados no nível estratégico.
zacional da função planejamento, é fundamental
reconhecer os níveis normalmente percorridos Nesse nível, define-se o que deve ser feito duran-
pelo processo decisório. Basicamente, podem te o período governamental, sob a coordenação
ser identificados três níveis: estratégico, tático e do órgão central de planejamento. É fundamental
operacional. a participação da alta cúpula dos órgãos das ad-
ministrações central e setoriais para que as deci-
a) O nível estratégico caracteriza-se pelas de- sões sejam legitimadas e tornem-se viáveis nos
cisões mais abrangentes de filosofia, diretrizes demais níveis do planejamento.
básicas e objetivos globais da administração.
Ocorre nos escalões mais elevados do processo A elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias
de planejamento, assumindo conotação eminen- (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA) enqua-
temente política. É nesse nível que se indica o que dra-se no nível tático, porque, delimitado pelo que
deve ser feito, evidenciando o ideal da adminis- deve ser feito no período governamental, essas leis
tração a ser perseguido, baseado nas aspirações, definem o que pode ser feito diante das circunstân-
nos desejos e nos valores individuais e íntimos cias financeiras e conjunturais do exercício.
das pessoas e dos sistemas sociais envolvidos
e interessados. Neste nível de planejamento, O nível operacional é desempenhado pela exe-
normalmente, não há grande preocupação com cução orçamentária que define o que será reali-
a precisão do período em que os objetivos de- zado no exercício financeiro. O órgão central de
verão ser atingidos, servindo como indicativo do orçamento deverá efetuar o acompanhamento da
que se deve perseguir. execução orçamentária para adoção das medidas
corretivas que se fizerem necessárias ao cumpri-
b) O nível tático, o segundo da hierarquia do pro- mento das metas estabelecidas. Terá de realimen-
cesso decisório, tem como função estabelecer o tar o órgão de planejamento com as informações
que pode ser feito, delimitado pelo que deve ser necessárias à reavaliação e, se for o caso, altera-
realizado, estabelecido no nível estratégico, con- ção do Plano Plurianual (PPA).
[17]

3.3. Etapas do planejamento para que o objetivo global de redução do nível de


mortalidade infantil possa ser atingido.
Enquanto o nível de planejamento identifica
em qual instância o processo decisório ocorre, É importante essa distinção porque, normalmen-
as etapas indicam a metodologia que deve ser te, o objetivo global ocorre no nível estratégico, ou
adotada para uma coerente definição e detalha- seja, nos escalões superiores da administração,
mento dos objetivos da administração. Tradicio- enquanto o objetivo meio ocorre nos níveis tático
nalmente, identificam-se as seguintes etapas: e operacional, ou seja, em escalões inferiores.
diagnóstico, definição de objetivos, estratégias,
plano global de desenvolvimento e planos opera- c) As estratégias são os instrumentos a serem uti-
cionais. Como complemento do ciclo de plane- lizados para a execução mais racional das ativi-
jamento, o acompanhamento e a avaliação dos dades programadas. Devem ser formuladas pela
programas aprovados e a realimentação do pro- administração em todos os níveis, com base nas
cesso decisório devem ser considerados como políticas emanadas dos escalões superiores. As
etapas do planejamento. estratégias têm por finalidade a exploração das
potencialidades da organização e redução das
a) O diagnóstico é de fundamental importância suas vulnerabilidades.
no processo de planejamento porque propor-
ciona as informações imprescindíveis à formula- d) Os planos globais consistem no documento
ção dos objetivos e das estratégias. Nesta etapa, que consolida as diretrizes gerais que nortearão
identifica-se a realidade do campo de ação da a administração na especificação dos objetivos
administração, mediante análises retrospectivas globais, dos objetivos meio e das metas, que de-
e prospectivas da situação social, econômica, tec- verão ser alcançados a médio e a longo prazos.
nológica e organizacional.
e) Os planos operacionais são o seccionamento
b) Da eficiente definição de objetivos depende a periódico, normalmente anual, dos planos glo-
eficácia do processo de planejamento e, para tan- bais, por meio dos quais são priorizadas as metas
to, deve-se distinguir os objetivos globais dos ob- que deverão ser viabilizadas a curto prazo, como
jetivos meio. consequência da limitação econômica, de recur-
sos humanos e materiais. Os orçamentos anuais
Os objetivos globais são a manifestação dos ser- e o seu detalhamento constituem o instrumento
viços principais que a organização se propõe a mais usual de controle do processo de viabiliza-
prestar, ressaltando seus aspectos de natureza e ção e controle do processo de planejamento.
qualidade, devendo ser fixados em termos claros
e, principalmente, torná-los de amplo conhe- f) O acompanhamento verifica se as ações estão
cimento da administração, com o que se estará sendo realizadas, se os meios utilizados estão de
eliminando grande parte dos conflitos no proces- acordo com o esperado, se os insumos estão evo-
so decisório. Como exemplo de objetivo global luindo conforme o esperado, bem como adota as
pode ser citado o de reduzir o índice de mortali- medidas corretivas necessárias para que as metas
dade infantil. possam ser atingidas.

Os objetivos meio identificam detalhadamente g) A avaliação procura verificar se os objetivos


quais são as oportunidades de ação para que os estão sendo alcançados e se as ações realizadas
objetivos globais da administração possam ser estão surtindo os efeitos desejados, realimentan-
atingidos. Como exemplo, pode ser indicada a do o processo de planejamento para redefinição,
necessidade de construção de postos de saúde se for o caso, dos objetivos e das metas.
[18]

4
PLANEJAMENTO
DO SETOR PÚBLICO

P
ode-se dizer que no setor público o orçamento tem sido, na prática, a única etapa uti-
lizada do sistema de planejamento, porém encarado como mero instrumento legal, por
meio do qual o Poder Executivo obtém autorização legislativa para a realização dos gastos
públicos. Pouca ênfase tem sido dispensada à sua utilização como uma das etapas conceituais
do processo de planejamento para a alocação racional e gerenciamento dos recursos públicos,
visando à prestação de serviços que devem ser colocados à disposição da população.

Da ausência de um efetivo processo de planejamento do setor público decorre forte a predo-


minância do enfoque financeiro que, normalmente, é dispensado aos orçamentos públicos.
Nessas circunstâncias, a elaboração orçamentária, que somente deveria tornar viáveis e com-
patíveis as metas estabelecidas no processo decisório (Plano Plurianual) com os recursos dis-
poníveis, passa a exercer, simultaneamente, os dois papéis: orçamentação e planejamento.

Ocorre que, no escasso tempo que é destinado ao processo de elaboração orçamentária, aca-
bam por serem privilegiadas as informações financeiras, em detrimento dos dados físicos.

Passar para um processo de alocação de recursos em que sejam levadas em consideração, além
das informações financeiras, também as físicas, requer um adequado tratamento das informa-
ções e definição clara das atribuições dos órgãos envolvidos no processo de planejamento.

A concepção de planejamento é fundamental para que ele seja o processo decisório do que
deva ser contemplado nos respectivos orçamentos anuais, embasado principalmente em
dados físicos, ficando para o órgão orçamentário a função, que lhe é própria, de somente
tornar viável os recursos necessários para os programas previamente aprovados nas etapas
anteriores do processo.

4.1. O processo de planejamento na nova Constituição


Diferentemente das constituições anteriores, a Carta de 1988 estabeleceu a inter-relação
dos instrumentos legais que compõem o processo de planejamento do setor público: o Plano
Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). A
eficácia desse princípio constitucional está fortemente condicionada à adequada estrutura-
ção dos órgãos envolvidos no processo de planejamento das administrações públicas, a fim
de dar a necessária fluidez ao processo decisório.
[19]

Um moderno sistema de planejamento requer, orçamentária. Tal sua importância no novo arca-
inicialmente, o diagnóstico da situação existen- bouço estabelecido pela nova Carta, que é inad-
te e a identificação da realidade atual em termos missível conceber a falta de ação conjunta dos
de necessidade de bens e serviços, que possi- órgãos de planejamento e orçamento do Poder
bilitem a definição dos objetivos pretendidos e Executivo. É conveniente, portanto, que estejam
o estabelecimento das estratégias e diretrizes sob um único comando hierárquico para que,
gerais a serem adotadas. harmonicamente, possam negociar com o Poder
Legislativo quais as metas que deverão constar
O passo seguinte de definição dos programas, da proposta orçamentária.
assim como a quantificação das metas, represen-
ta o complemento indispensável para orientar a Após essas etapas – diagnóstico geral, estabele-
administração na organização dos meios neces- cimento de diretrizes, identificação dos objetivos,
sários para atingir aos objetivos determinados. quantificação das metas e custos, viabilização
Estes são os insumos necessários para a elabora- orçamentária –, o acompanhamento, o controle
ção do Plano Plurianual que deve ser submetido e a avaliação da execução orçamentária passam
à apreciação do Poder Legislativo. a representar papel preponderante dentro do
sistema de planejamento, no sentido de viabi-
Anualmente, as metas estabelecidas no Plano lizar operacionalmente as metas estabelecidas.
Plurianual deverão ser priorizadas, a fim de de- Da adequada avaliação dos resultados obtidos
finir quais as que, em face da disponibilidade de e da realimentação dos planos de longo prazo
recursos, deverão ser viabilizadas em cada exer- depende, em grande parte, o sucesso de um sis-
cício financeiro. Esta fase, de fundamental impor- tema de planejamento.
tância dentro do processo de planejamento, foi
contemplada na Carta constitucional com um novo Esse macro fluxo de planejamento, consagrado
instrumento legal: a LDO, como mecanismo, entre na Constituição federal, que prevê o Plano Pluria-
outros objetivos, para estabelecer a inter-relação nual como instrumento legal que deverá estabe-
entre plano e orçamento e possibilitar a necessá- lecer as diretrizes, os objetivos e as metas; a Lei
ria coerência entre planos de longo prazo e os de de Diretrizes Orçamentárias como mecanismo de
médio e curto prazos. priorizar as metas estabelecidas no plano; e a Lei
Orçamentária Anual como instrumento de viabili-
Esse novo instrumento legal de planejamento do zação dos recursos necessários para que as metas
setor público foi criado, também, com o objetivo previstas possam ser atingidas, pode ser visuali-
de permitir a participação prévia do Poder Le- zado no fluxograma da próxima página.
gislativo no processo de elaboração da proposta
Antes, porém, cabe mencionar a existência de
outro princípio consagrado na Constituição, o
que trata da regionalização dos planos e orça-

Um moderno sistema mentos públicos. A viabilização desse princípio


praticamente impõe aos órgãos do setor pú-
de planejamento requer blico uma estrutura administrativa que tenha

diagnóstico da realidade, como primeiro nível hierárquico a região e, pos-


teriormente, os setores da administração públi-
identificação das ca, como saúde, educação, transportes etc. No

necessidades de bens plano municipal, a questão da regionalização


praticamente não é aplicável, estando presen-
e serviços e estratégia te apenas nos instrumentos correspondentes à
União e aos Estados.
[20]

SISTEMA DE PLANEJAMENTO

Vulnerabilidades ESTRATÉGIAS
ENTIDADE
e potencialidades GOVERNAMENTAIS

nível estratégico
Demandas ELABORA Definição da realidade
COMUNIDADE
sociais DIAGNÓSTICO

DEFINE
Análise OBJETIVOS
ECONOMIA macroeconômica
Estratégias,
programas
e metas

INFRAESTRUTURA Carências de infraestrutura

ELABORA Revisão do plano AVALIA


PLANO PROGRAMAS E
PLURIANUAL Metas PROJETOS

Proposta do Plano Plurianual

Lei do Plano Plurianual


LEGISLATIVO
Proposta de priorização das metas (LDO)

nível tático
ELABORA LDO
Aprovação de priorização das metas (LDO)

Proposta orçamentária com a viabilização


e compatibilização das metas

Aprovação do orçamento

ELABORA
ORÇAMENTO
ENTIDADE Situação econômica e financeira
nível operacional

Recursos orçamentários
EXECUÇÃO
ORÇAMENTÁRIA Informações físicas

Informações
orçamentárias e financeiras
ACOMPANHAMENTO
DA EXECUÇÃO
Medidas corretivas de controle ORÇAMENTÁRIA
dos fatores de produção

Diagrama elaborado por Waldemar Giomi.


Acesse na íntegra

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