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Capa
Caderno de
CIÊNCIAS HUMANAS
Parceria Realização
CADERNO DE ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
PARA O TRABALHO EM SALA DE AULA À LUZ DO
DOCUMENTO CURRICULAR REFERENCIAL DA BAHIA
Ensino Fundamental: Anos Iniciais e Anos Finais
Caderno de
CIÊNCIAS HUMANAS
Parceria Realização
Dados internacionais de Catalogação na Publicação Ficha catalográfica elaborada pelo
Sistema de Bibliotecas/FGV Elaborada por FGV DGPE.
ISBN: 978-65-86289-29-9
CDD – 372.98142
Anos iniciais 24
2 NO VAGÃO: O
2.1 ensino fundamental - anos iniciais
27
3 DO VAGÃO: O
3.1 da formação integral
41
4 DESCANSO: O
4.1 situando a área em movimento
59
QUE DESENHO?
4.2 Temas integradores no DCRB 62
p. 58
Planejamento do processo de ensino-aprendizagem:
4.3 desafios, possibilidades e elementos essenciais
68
INTERAGINDO
5 ENTRE VAGÕES
5.1 Possibilidades na prática: do pensar ao agir 75
SEGUINDO VIAGEM:
6 A TRANSIÇÃO
6.1 Anos iniciais para os anos finais: nos trilhos da transição 89
PARA O 6º ANO
p. 88
Anos finais 92
ENTRANDO
2 NO VAGÃO: O
2.1 Textualizando e contextualizando 96
QUE HÁ?
2.2 Como me guiar neste vagão: conceitos chave 98
p. 94
3 DO VAGÃO: O
3.1 da formação integral
105
4 DESCANSO: O
4.1 situando a área em movimento
135
QUE DESENHO?
4.2 Temas integradores no DCRB 142
p. 134
Planejamento do processo de ensino-aprendizagem:
4.3 desafios, possibilidades e elementos essenciais
147
INTERAGINDO
5 ENTRE VAGÕES
5.1 Possibilidades na prática: do pensar ao agir 153
6 VIAGEM: A
6.1 um novo começo ou início do fim?
173
TRANSIÇÃO PARA
O ENSINO MÉDIO
p. 172
BIBLIOGRAFIA 178
1. PARA COMEÇAR A CONVERSA... 8
COM A FALA,
1 SEU ZÉ, O
MAQUINISTA
Anos iniciais e finais 9
É com muita alegria que nos dirigimos a você no início desta viagem para um con-
vite: vamos trilhar juntos as áreas de conhecimento que compõem o currículo do
ensino fundamental nos anos iniciais e finais?
Temos certeza que esta será uma bela viagem! Repleta de paisagens novas e de
outras, revisitadas, que nos encantem e transformem coletivamente, promovendo
encontros, aprendizagens e ressignificação de práticas educativas cotidianas na
intenção de promover o direito à aprendizagem de nossos estudantes.
Para iniciar a viagem, adentremos no primeiro vagão deste trem repleto de saberes e
desafios. Ele constituirá a trilha de aprendizagem que você percorrerá, e tem como
objetivo tratar dos fundamentos que orientam o Documento Curricular Referen-
cial da Bahia (DCRB). Mais especificamente, neste vagão, você terá contato com
temas relacionados aos marcos legais, teóricos e metodológicos que fundamentam
o DCRB articulados ao debate sobre a centralidade do projeto político-pedagógico
(PPP) em uma escola que assume as intencionalidades a partir desses marcos.
Para que este trecho da viagem, e os outros que se seguirão, sejam desafiadores e
mobilizadores para novas aprendizagens individuais e coletivas, provocamos você a
considerar os saberes de suas vivências pessoais e profissionais de forma articulada
aos novos conhecimentos que iremos estudar juntos, sempre numa perspectiva
reflexiva e problematizadora.
Para finalizar este primeiro contato, fica o convite para que possamos fazer uma
viagem inesquecível, rica de leituras, problematizações, desafios, novos saberes e
aprendizagens coletivas!
Sigamos!
1. PARA COMEÇAR A CONVERSA... 10
Saiba mais...
Território percebido a partir de autores contemporâneos, cujo conceito vai além do território
nacional ou mero espaço geográfico. (DCRB, 2018, p.21). Sugestão: SANTOS, Milton e BECKER,
Berta. Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. Editora Lamperina, 2006.
Tendo como premissa que toda ação humana é intencional e que a intencionalidade
de nossas ações é que dá sentido ao cotidiano, tanto numa perspectiva individual
quanto coletiva, podemos, então, afirmar que a intencionalidade pedagógica é toda
a intenção direcionada que vai além da mera transmissão de conteúdo. Envolve,
claramente, a atitude e a postura do professor/educador, além do embasamento
teórico e determinadas habilidades de ensino capazes de conduzir ao processo do
aprender. Portanto, essa intencionalidade não se realiza isoladamente, mas rela-
ciona, interage, reflete e exige a ressignificação das práticas cotidianas para quem
ensina e para quem aprende.
Com base nisso, o DCRB prevê para o ensino fundamental, em sua constituição,
abertura e flexibilidade para que as escolas e seus educadores possam conjugar
outras experiências curriculares pertinentes e relevantes, tendo, como critério,
modelos curriculares pautados em pedagogias ativas e emancipatórias que devem
permear os projetos político-pedagógicos (PPP) e as ações pedagógicas.
? Você já parou para pensar sobre o porquê e o para que a BNCC e o DCRB?
Saiba mais...
Sobre a relação entre os conceitos diferença cultural, interculturalismo e educação ver a referên-
cia a seguir: https://www.scielo.br/j/es/a/QL9nWPmwbhP8B4QdN8yt5xg/?lang=pt
Ah, professor, vale lembrar que “diversidade” e “diferença” e “desigualdade” precisam ser bem
demarcadas no espaço da educação.
Atenção!
O DCRB convida as instituições educacionais e seus educadores a tomá-lo como um conjunto de
proposições fundamentadas e justificadas, a serem pensadas com autonomia pedagógica, res-
ponsabilidade socioeducacional, atitude formacional criativa e protagonismo institucional, tanto
na perspectiva operacional como na vontade de qualificação da formação para a educação básica
do estado da Bahia.
Plano Nacional de Lei nº 13.559, de 11 de Estatuto da Criança e Estatuto da Juventude, Estatuto do Idoso, Lei
Educação – PNE maio de 2016 do Adolescente (ECA), Lei nº 12.852/13 nº 10.741/03
2014-2024 Lei nº 8.069/90
Anos iniciais e finais 13
COMPETÊNCIAS
“[...] saberes/atividades em uso, orientadas por valo-
res atitudinais, reflexões críticas e demandas forma-
tivas socialmente referenciadas, ou mesmo mobiliza-
ção de conhecimentos (conceitos e procedimentos),
atitudes e valores para resolver problemas concretos EDUCAÇÃO INTEGRAL
da vida, do exercício da cidadania e, destacadamente,
“[...] propósito a formação e
do mundo do trabalho (BAHIA, 2020, p. 32)
o desenvolvimento global dos
estudantes, compreendendo a
complexidade e a não lineari-
dade desse desenvolvimento,
rompendo com visões redu-
CURRÍCULO cionistas que privilegiam ou a
“[...] um produto das relações e das dinâmicas inte- dimensão intelectual (cognitiva)
rativas com o saber, vivendo e instituindo poderes. ou a dimensão afetiva” (BNCC,
Nesse movimento, cultiva perspectivas éticas e 2017, p. 14)
políticas ao realizar opções pedagógicas e optar por
determinados valores, os quais se revelam no cerne
das construções e orientações das escolas e devem
estar assumidos como fundamento de suas ações”
(BAHIA, 2020, p. 31)
? Quais pautas formativas compõem o PPP da sua escola? Como elas se articulam
no desdobramento das ações pedagógicas? No planejamento da escola?
Saiba mais...
Sugestão de leitura: RIBEIRO, Djamila. Lugar de Fala. São Paulo: Letramento, 2017.
Agora você pode estar se perguntando: considerando esse referencial teórico e le-
gal, como se materializa na sala de aula? Qual o caminho possível no chão da escola?
Na próxima seção, esse debate será tema central. Vamos seguir nossa viagem?
Com essas condições, alguns pilares se destacam, como integralidade, valorização da identidade, perten-
cimento e empoderamento das singularidades humanas e inovação, as quais envolvem tanto o contexto
do mundo digital quanto pessoal (BAHIA, 2020). Falando em ensino fundamental, algumas condições
destacam-se:
O DCRB sinaliza que essa materialização se dá com o atravessamento de reflexões e práticas que anun-
ciem o desenvolvimento educacional de valores como a solidariedade, a sensibilidade, a equidade, a
compaixão e a sustentabilidade ambiental nas pautas que são desenvolvidas.
Glossário
Intersetorialidade – Articulação entre sujeitos de setores diversos, com diferentes saberes e po-
deres, com vistas a enfrentar problemas complexos.
Integralidade – Uma formação que transcenda o campo do saber, se comprometa com outros
níveis e que leve em conta o contexto social, familiar e cultural.
Você pode estar se perguntando: como essas condições se articulam a esses prin-
cípios metodológicos orientadores de modo a se efetivarem práticas pedagógicas
adequadas ao ensino fundamental?
Relativo aos ritmos diferenciados, cabe salientar que um dos pontos a serem con-
siderados são as possíveis formas de se trabalhar com os erros, com o senso de
justiça e com pontos de vista divergentes. Quando esses aspectos são sensivelmen-
te observados na dinâmica da sala de aula e discutidos abertamente, a relação e o
respeito são qualificados nesse espaço escolar.
Para falar sobre possibilidades metodológicas, tendo como base os princípios nor-
teadores do currículo dotados pelo DCRB, vamos destacar a interdisciplinaridade
articulada ao planejamento.
São eles:
Para aprofundar:
http://www.rbep.inep.gov.br/ojs3/index.php/rbep/article/view/4362
Glossário
Sequência didática interdisciplinar – Ação intencional, guiada pela prática moral e política dos
humanos, organizada por atividades articuladas com foco em objetivos de dimensões conceituais,
procedimentais e atitudinais, cujo princípio e fim são conhecidos tanto por estudantes quanto
por professores (RAMOS e FERREIRA, 2021).
Esses elementos dão a base para a realização de planejamentos de sequências didá- Assista à live sobre
ticas interdisciplinares mobilizadas por uma práxis que tem, na tomada de decisão, planejamento de se-
a condição primeira. Desse modo, é importante viabilizar que sejam promovidas quências didáticas
interdisciplinares
[...] experiências didáticas voltadas para uma aprendizagem que vai além da
https://www.
soma das partes e em que se percebem as múltiplas possibilidades de diálogo youtube.com/
que podem ocorrer neste processo dinâmico de interação entre saberes/ watch?v=py1va5sjKfk
conhecimento (RAMOS e FERREIRA, 2019, p. 18-19).
Fonte: Elaborado
Criatividade Criticidade Problematização pelas autoras.
Diálogo Intencionalidade
1. PARA COMEÇAR A CONVERSA... 18
A seleção dos objetos de conhecimento deve estar relacionada a dois ou três com-
ponentes curriculares, no máximo, para que o diálogo possa se efetivar para além
das contribuições e colaborações.
Problematização
Na próxima etapa, por meio de perguntas desafiadoras, os estudantes são desafia-
dos com situações-problemas ou atividades similares que tenham, em seu bojo, o
questionamento relativo ao tema em estudo. Por meio do levantamento de ques-
tões sociais que incluam justificativas, explicitações em suas múltiplas dimensões:
sociais, econômicas, filosóficas, religiosas, éticas, linguísticas, entre outras. Essas
questões problematizadoras orientam as ações pedagógicas, ou seja, as estratégias
de ensino-aprendizagem que podem ser encaminhadas e resolvidas por meio de
conteúdo(s) específico(s).
Socialização
Momento de evidenciar o resultado do aprofundamento dos estudos. Nessa opor-
tunidade, à medida que os estudantes socializam, você poderá destacar anotações
relevantes e cuidadosas das contribuições para, mais adiante, entrelaçar as falas,
tecendo considerações, atento às concepções que acompanham as reflexões ad-
vindas de cada grupo.
Consolidação
Professor, nessa etapa, serão destacados os pontos relevantes sobre o tema em
estudo. Pode-se ressaltar, também, pontos que não foram discutidos até então, de
modo a contemplar os objetivos propostos na sequência didática.
Todo esse movimento pressupõe uma escola articulada numa mesma linguagem,
compreendendo o ato de ensinar e aprender numa mesma identidade. São as di-
mensões do projeto político-pedagógico (PPP) que garantem isso. Na próxima seção,
vamos discuti-lo, compreendendo-o como um ponto de partida para todas as ações
até aqui pensadas. Como dissemos, para que esses momentos se materializem na
sala de aula, é condição primeira que o PPP reflita e proponha os fundamentos que
sustentam intencionalmente esses atos.
Vamos lá!
Para começo de conversa, vamos retomar o que nos diz a Constituição Federal (CF)
de 1988. Segundo a CF, a educação é direito de todos e dever do Estado e da família.
Para promover esse direito, a escola, como uma instituição social, precisa garantir
um padrão de qualidade e realizar a gestão democrática do ensino público (CF, 1988,
Cap. III; Seção I, Incisos VI e VII).
Ao tratar de territorialidade:
Com base nos seus PPPs, as unidades escolares devem realizar o planejamen-
to de ações sociopedagógicas de forma transversal, sistemática, contínua
e integrada com as demais atividades/ações desenvolvidas pelas unidades
escolares, visando à promoção da saúde e prevenção dos agravos, envolvendo
toda a comunidade escolar e, principalmente, assegurando o lugar dos
estudantes como protagonistas, de forma a contribuir para a melhoria do
rendimento, na redução do abandono e na evasão escolar (BAHIA, 2020, p. 83).
Para aprofundar
Para ter uma compreensão mais ampliada e contextualizada da importância do lugar do PPP para
a ressignificação das orientações do DCRB no cotidiano da escola e da sala de aula, não deixe de
consultar o documento que está disponível no link: http://dcrb.educacao.ba.gov.br/wp-content/
uploads/2021/07/documentocurricularbahiaversaofinal.pdf
Como você deve ter percebido nos trechos indicados acima, o PPP tem lugar de
destaque no DCRB. Por outro lado, você também sabe e, com certeza, tem viven-
ciado isso na escola em que trabalha, o tema da gestão democrática é muito caro
para aqueles que avaliam que o envolvimento e a participação da comunidade es-
colar na elaboração do planejamento das ações pedagógicas e administrativas da
escola é um fundamento importante para a qualidade do trabalho que se realiza no
seu cotidiano. O que significa dizer que se torna uma necessidade para o alcance
da aprendizagem dos estudantes, intenção principal que mobiliza a escola para se
planejar e fazer sua gestão.
Saiba mais
Vamos lá!
Neste início de nossa viagem, contamos que as paisagens futuras sejam ressigni-
ficadas por uma atitude permanente de reflexão e problematização da realidade.
Vale chamar a atenção que o tema do PPP, como parte das primeiras palavras
orientadoras de nossa viagem, não ficará apenas nessas palavras iniciais, pois ele
fará parte de todo o caminho até nossa chegada à última estação. Esse tema irá
perpassar o conjunto do percurso como se fossem luzes, pontes, sinais, marcas na
paisagem, que servirão como um mapa orientando-nos a promover articulações
permanentes e necessárias para seguir nossa viagem rumo a uma formação que
visa valorizar, significar e ressignificar práticas que cotidianamente constroem a
escola baiana, à luz do DCRB.
Nesse contexto, devemos lembrar que, sendo uma construção coletiva, o PPP é
influenciado, de um lado, pelo conjunto das estruturas sociais dos territórios nos
quais as escolas se incrustam e daquelas estruturas mais amplas historicamente
constituídas e, de outro, por um conjunto de interações cotidianas vivenciadas no
interior da escola, mas também no seu entorno.
A partir do exposto até aqui, concluímos reafirmando a principal razão de para que,
coletivamente, precisamos refletir, propor, decidir, elaborar, monitorar e avaliar,
continuamente, o projeto político-pedagógico da escola. Ou seja, prioritariamente,
é por meio dele que as finalidades, princípios, objetivos e meios serão dispostos
pelos sujeitos do processo que dão vida às intencionalidades coletivas, fazendo com
que o PPP seja o mapa da viagem que cada rede e instituição de ensino da Bahia
pretende fazer no seu cotidiano.
E esse cotidiano deve ser orientado pela busca intransigente da garantia do direito
de aprender de cada estudante. Pois, como afirma o DCRB,
Devemos lembrar, também, que a educação, como nos diz Paulo Freire (1996), é
sempre uma forma de intervenção no mundo, para mudá-lo ou para mantê-lo
como está. Sendo assim, o PPP, quando construído numa perspectiva emancipató-
ria, poderá produzir proposições coletivas a serem desenvolvidas pela escola que
contribuirão para promover o respeito à diversidade como uma condição que nos
humaniza e enriquece individual e coletivamente.
Na sequência, avançamos em nossa viagem para que, a partir daqui, possamos tri-
lhar as áreas de conhecimento que compõem o currículo das escolas baianas à luz
do que anuncia o DCRB, reafirmando o PPP como a expressão de uma proposta
de escola como um lugar rico de significados para quem nela convive, aprende e
ensina ao mesmo tempo.
1. PARA COMEÇAR A CONVERSA... 24
Anos iniciais e finais 25
2. ENTRANDO NO VAGÃO: O QUE HÁ? 26
ENTRANDO
2 NO VAGÃO:
O QUE HÁ?
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 27
É uma grande alegria iniciar esta jornada no campo das Ciências Humanas com vo-
cês! Sejam muito bem-vindos nesta viagem que faremos juntos para ampliar nossas
aprendizagens.
Este caderno foi cuidadosamente estruturado para lhe permitir uma viagem con-
fortável e dinâmica nos conceitos fundamentais sobre o ensinar e aprender Ci-
ências Humanas no ensino fundamental, desenvolvendo um olhar cada vez mais
aprofundado sobre o Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB).
A intenção é que, a partir dos estudos que faremos neste caderno, vocês desenvol-
vam seus planejamentos e ação pedagógica cada vez mais conectados às diretrizes
trazidas pelo DCRB e, consequentemente, pela BNCC.
Este caderno se encontra dividido em dois grandes temas: ensinar e aprender Ciên-
cias Humanas no ensino fundamental – anos iniciais, no qual estudaremos o ato de
ensinar e aprender, com destaque na área, sem deixar de abordar a dura realidade
da relação dos estudantes com a aprendizagem. Na sequência, entraremos no tema
2: compreensões do ensino fundamental e conceitos importantes nas áreas de
conhecimento. Nesta travessia, percorreremos as especificidades da área de Ciên-
cias Humanas, dialogando um pouco sobre elas como categorias fundamentais no
processo de aprendizagem a partir de conceitos importantes nas áreas de conheci-
mento, a saber: competência e habilidade, a organização do DCRB, as competências
gerais, específicas e as habilidades.
Este caderno é todo seu para que leia, reflita, dialogue tanto quanto possa. Assim,
ele poderá ser apropriado e articulado à sua realidade de forma crítica e consciente,
tendo em vista as necessidades fundamentais da sua escola/cidade/região.
Sigamos lendo!
No ensino fundamental, por muitos anos, fez-se um recorte dessa área, trazendo
para o currículo escolar a geografia e a história ensinadas como campos de estudo
distintos, com pouca ou nenhuma relação entre si. Acreditava-se que estudar o
espaço geográfico era uma ação completamente distinta do estudo do tempo his-
tórico. Uma realidade vivida inclusive por nós, professores, enquanto estudantes.
Sendo assim, ficavam de fora desta equação de estudos, no currículo, os saberes
relativos à filosofia, à sociologia e à antropologia.
2. ENTRANDO NO VAGÃO: O QUE HÁ? 28
O tempo, ah! o tempo... este parece cada vez mais apressado e acelerado, como bem
anunciou o coelho no conto de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas:
– “É tarde! É tarde! É tarde até que arde! Ai, ai, meu Deus! Alô, adeus! É tarde, é tarde, é tarde!”.
Repete sem parar o Sr. Coelho, sempre apressado e atrasado (não se sabe bem para quê).
Por outro lado, as crianças parecem crescer e amadurecer mais rapidamente (será
que o Sr. Coelho estava certo?). Elas percebem o mundo ao seu redor e sua comple-
xa dinâmica cada vez mais cedo, atentas às imagens, aos artefatos sociais, culturais
e educativos, aos modos de vida e ao mundo social. Precoces (será?), compreendem
as diversas narrativas dos adultos e constroem novos modos bem mais complexos
de narrar o mundo e a si próprias. Os sonhos dos meninos e das meninas neste
tempo decerto que são distintos e mais sofisticados daqueles que sonhávamos. São
tantos estímulos que não possuíamos. Por meio dos celulares, computadores, redes
sociais, tablets etc., conectam-se com o mundo, percorrendo virtualmente lugares
que nunca imaginamos percorrer...
Mas o “preparo” não é para o futuro. É para o presente! Pois, ao contribuirmos com o
desenvolvimento de estudantes que possuam boa relação com o mundo em que vivem, no
momento presente, gradativamente terão contato com novos conhecimentos, suas habilidades
se desenvolverão e eles aprenderão a se inserir nos mais diversos ambientes, capazes
de fazer as melhores escolhas de forma consciente a partir de seus projetos de vida.
– Olha o desenho que fiz! É a minha casa. Esta é a minha mãe [etc.].
Aqui é a minha casa, a minha escola [etc.]. Pode ficar para você!
Atenção!
Na sociedade marcada pela informação rápida, por vezes instantânea, o ensino de história, ao
longo dos nove anos do ensino fundamental, é pensado de modo a, progressivamente, favorecer
a compreensão dos limites e ambiguidades da condição humana. E, para isso, durante os anos
iniciais, é pautado pela concepção do eu, do outro e do nós, pela valorização de outros modos
de viver, pela visão crítica da comunidade em que se está inserido. De modo que, nos anos finais,
seja possível comparar outras formas/organização de vida e social, para que a compreensão das
diferenças seja algo possível, respeitando a pluralidade cultural e autonomia dos povos. (DCRB,
2020, p. 425).
Cada uma dessas áreas possui competências específicas, bem como seus compo-
nentes, e todas essas competências estão ligadas às dez competências gerais da
BNCC. Para atingir as competências, os componentes curriculares apresentam um
conjunto de habilidades relacionadas aos diferentes objetos de conhecimento. Os
objetos e as habilidades estão organizados em unidades temáticas em todos os
componentes curriculares.
Ou seja, ensinar a pensar o espaço. E, para isso, é necessário aprender a ler o espa-
ço, que requer “criar condições para que a criança leia o espaço vivido” (CASTELAR,
2000, p. 30). Para isso, precisamos ultrapassar as práticas escolares tradicionais
utilizadas para o ensino da geografia, que trabalham a partir da noção de espaços
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 33
Ler a paisagem para fazer a leitura da realidade supõe o olhar espacial que
permite observar e analisar o território marcado pela história de vida das
pessoas que ali vivem e permite que não se fique apenas nas descrições do
aparente, daquilo que é visível e parece ser natural. Olhar e conseguir perceber
o que está por trás dessa aparência, reconhecer os interesses envolvidos,
as motivações, as lutas sociais, a capacidade de articulação das pessoas do
lugar significa ler para além da paisagem. (CALLAI, apud MEC, 2010, p. 38)
Professor, você concorda que se engana quem acredita que o objetivo da geografia
é fornecer informações, e não despertar o senso crítico das pessoas? O DCRB acre-
dita e define que o conhecimento geográfico se desenvolve a partir de três campos:
Quadro 1 - Descrição
dos princípios do Princípio Descrição
raciocínio geográfico
Fonte: Conceitos apre- Um fenômeno geográfico sempre é comparável a outros. A
sentados por Fernandes
(2016); Analogia identificação das semelhanças entre fenômenos geográfi-
cos é o início da compreensão da univdade terrestre.
*Moreira (1999);
Professor, você concorda que ler o mundo é ler a vida? Nós acreditamos também.
A leitura do mundo é leitura do mundo da vida, construído cotidianamente e que
expressa tanto as nossas utopias como os limites que nos são postos, sejam eles do
âmbito da natureza, sejam do âmbito da sociedade (culturais, políticos, econômicos).
Uma das formas de fazer a leitura do mundo é por meio da leitura do espaço, o
que traz, inevitavelmente, as marcas da vida das pessoas. Aprender a ler o mundo
é ir além da leitura cartográfica, ultrapassando as representações distorcidas das
realidades territoriais, por conta das projeções cartográficas adotadas.
Segundo Castelar (2000, p. 31), “além das letras, das palavras e dos números, existe
outra linguagem” que nos permite ler o espaço vivido: a linguagem cartográfica
(também denominada cartografia). Uma linguagem não verbal e não sequencial
possuidora de uma gramática própria, que é visual. Pode ser definida como um
conjunto de códigos e símbolos definidos, muitos deles internacionalmente, sendo
necessário conhecê-los para melhor ler e representar o espaço em que se vive. A
base da linguagem da cartografia é a linguagem gráfica.
À medida que aprende essa nova linguagem, a criança reconhece os lugares e con-
segue identificar as paisagens, iniciando-se o processo de alfabetização e letra-
mento cartográfico.
2. ENTRANDO NO VAGÃO: O QUE HÁ? 36
Saiba mais...
Vamos nos aprofundar um pouco mais sobre o ensino de geografia no ensino fundamental e a
alfabetização cartográfica?
Sugerimos a leitura do texto “Cartografia no Ensino Fundamental e Médio”, da Profa. Maria Elena
Ramos Simielli. Acesse aqui: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4287234/mod_resource/
content/1/SIMIELLI%2C%20Maria%20Elena%20Ramos.%20Cartografia%20no%20ensino%20
fundamental%20e%20médio.pdf
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 37
Atenção!
O componente de história não pode ser tratado apenas como matéria a ser ensinada e aprendida.
Isto impediria que ela dialogasse com outras disciplinas. A história é uma ciência viva, construída
pelos homens nos mais variados estágios da sociedade. O componente de história apresentado
neste documento apresenta-se como uma ciência que analisa o tempo, em suas várias idades
e períodos cronológicos. Sendo assim, o seu objeto de estudo é a relação do presente com o
passado no decorrer do tempo histórico das sociedades, buscando contribuir com a formação do
cidadão autônomo e integral.
Vamos verificar quais elementos mais o DCRB, ancorado pela BNCC, nos apresenta
para pensarmos e construirmos experiências de aprendizagem com os conheci-
mentos da história e da geografia que sejam diferenciadas? Vamos conversar um
pouco sobre esses conceitos centrais. Nesta seção, destacamos os seguintes con-
ceitos: aprendizagem por competências; competências; e habilidades.
2. ENTRANDO NO VAGÃO: O QUE HÁ? 38
Atenção!
O DCRB não é um documento fechado. Em atenção às orientações das Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2013), sua elaboração permite que as especificidades e as
características local e regional de cada escola do estado da Bahia sejam contempladas, incluindo-
-se aqui as diferentes modalidades de ensino (Educação Regular, Educação Especial, Educação de
Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola,
Educação a Distância).
PELAS JANELAS
3 DO VAGÃO: O
QUE TEM?
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 41
Convidamos vocês para participarem dos temas. É importante que se sintam parte
deste texto, uma vez que são quem o colocará em prática na sala de aula
Para isso, é importante relembrar, primeiro, que todos os dispositivos legais para a
educação básica, a saber, LDBEN, DCN, PNE, PEE, reafirmados na BNCC, reconhe-
cem “que a educação tem um compromisso com a formação e o desenvolvimento
humano global, em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e
simbólica” (BRASIL, 2018, p. 16), ou seja, numa perspectiva de formação integral e
integradora dos sujeitos.
Comungando com esta afirmação, mas a partir de uma visão ampliada do que seja
esta formação integral:
A criatividade é a capacidade de fazer ou trazer à existência algo novo, seja uma nova
solução para um problema, um novo método ou dispositivo, ou um novo objeto ou
forma artística. Todavia, compreendemos que ela não acontece a partir “do nada”,
ou seja, a criatividade emerge da capacidade de gerar novas ideias combinando,
alterando ou reaplicando as ideias existentes, a partir de uma ação mental árdua
(mas nem sempre percebida).
Saiba mais...
Os pesquisadores George Land e Beth Jarman foram convidados para mensurar o potencial criati-
vo dos engenheiros e cientistas da NASA com o objetivo de verificar a capacidade desse grupo de
pessoas de olhar para um problema e apresentar ideias novas, diferentes e inovadoras.
A avaliação foi tão eficaz que eles decidiram realizar um estudo longitudinal com 1.600 crianças. A
primeira avaliação foi realizada quando estavam com idade entre quatro e cinco anos. A avaliação
identificou que 98% das crianças utilizaram plenamente sua criatividade.
Cinco anos depois, fizeram nova testagem com o mesmo grupo, já com dez anos de idade. Os
dados revelaram que apenas 30% delas mantinham seu potencial criativo.
Em nova testagem realizada quando o grupo tinha 15 anos, os resultados revelaram que somente
12% dos jovens utilizavam plenamente o seu potencial criativo.
Na vida adulta, os testes realizados neste mesmo grupo revelaram um dado alarmante: menos de
2% delas permaneciam no grupo de elevada capacidade criativa
Que relação podemos fazer com o trabalho que tem sido desenvolvido na escola, professor?
O Teste de Criatividade de George Land é descrito em seu novo livro Breakpoint and Beyond.
Professor, você sabia que a capacidade criativa é muito mais determinada pela edu-
cação, interações e estímulos que recebemos dos ambientes diversos, associados
às crenças construídas por nós mesmos sobre a nossa própria capacidade criati-
va, do que por nossa própria genética? E que o potencial criativo se reduz com o
tempo, a depender das interações e estímulos que vivemos? De igual modo, que a
capacidade criativa pode ser desenvolvida em qualquer idade? Pois, sim! Conheça
um pouco o estudo de George Land e Beth Jarman, na seção Saiba Mais.
Saiba que
Não importa quão criativo você se sinta (ou não se sinta!) agora, você
pode realmente desenvolver/fortalecer sua criatividade. Do mesmo
modo, podemos fazer isso com nossos estudantes, a partir de concepções
e metodologias específicas utilizadas na prática pedagógica.
Construir argumentos, com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, para
negociar e defender ideias e opiniões que respeitem e promovam os direitos humanos e
a consciência socioambiental, exercitando a responsabilidade e o protagonismo voltados
para o bem comum e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Saiba mais...
Consulte a p. 61 do DCRB. Lá você encontrará a relação dos diversos dispositivos legais que nor-
teiam essa modalidade da educação.
Sugerimos, também, a leitura das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Qui-
lombola, disponível em:
https://etnicoracial.mec.gov.br/images/pdf/diretrizes_curric_educ_quilombola.pdf
Bom, uma das formas é incentivar os estudantes a perceberem o campo como seu espaço, o
lugar de sua vivência, a partir do qual são construídos o mundo e suas relações, atribuindo-
lhes sentido. A compreensão desse sentido se fortalece ao investigarem e conhecerem
de onde vêm, qual o seu papel nesse espaço, quais funções exercem no campo etc.
A educação do campo e, nela, o ensino de história devem dialogar com as novas pro-
postas político-pedagógicas emancipadoras, as sugestões éticas e o fazer histórico,
evitando metodologias que incentivem memorizações, conformismos e repetições.
Saiba mais...
É essencial
Todos têm direito a uma educação escolar que respeite e reconheça suas
histórias, memórias, tecnologias, territórios e conhecimentos – o que é
uma das reivindicações históricas das comunidades e das organizações
representantes das diversas modalidades de ensino aqui tratadas.
Agora, para ampliar esta reflexão, vamos dialogar sobre o organizador curricu-
lar, campos de atuação, unidades temáticas, competências gerais e específicas,
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 49
Baseado na BNCC (2018), o DCRB nos apresenta a área de Ciências Humanas orga-
nizada a partir de elementos e estrutura próprios que permitem a construção do
projeto político-pedagógico e do currículo escolar. Nos Capítulos 1 e 2, vimos quais
elementos essenciais para compor a estrutura do currículo, que, conforme seus
objetivos, podem ser agrupados em duas categorias, conforme Ramos (2022).
Figura 1 – Classificação
Aprendizagens a serem dos elementos que
Conhecimentos a serem estudados
desenvolvidas compõem o currículo
na BNCC e DCRB
Competências gerais Fonte: Ramos, 2022
Áreas do conhecimento
Competências específicas
da área de conhecimento Componentes curriculares
Como vimos no Capítulo 2, a área de Ciências Humanas nos anos iniciais do ensi-
no fundamental está subdividida em dois componentes curriculares: geografia e
história. Os objetos de conhecimento de cada um desses componentes, que serão
estudados no percurso escolar dos anos iniciais, são agrupados em unidades te-
máticas relacionadas, por sua vez, com as habilidades a serem desenvolvidas pelos
estudantes ao longo do ensino fundamental.
1º ano
Ano Geografia
2. Conexões e escalas
1º 3. Mundo do trabalho
Vamos tecer mais diálogos sobre as unidades temáticas e seus objetos de conheci-
mento? Venha comigo!
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 51
Questões como onde se localiza? Por que se localiza? Como se distribui? Quais são
as características socioespaciais? guiam a abordagem de fenômenos nas aulas de
geografia.
Trabalho no Trabalho no
Diferentes tipos campo e na cidade campo e na cidade
Tipos de trabalho
de trabalho Matéria-prima e
em lugares e
existentes no seu indústria
tempos diferentes Produção, Trabalho e
dia a dia
circulação e inovação
consumo tecnológica
Como você deve ter percebido, na unidade temática acima localizam-se as noções
de pertencimento e identidade dos sujeitos. Assim, para esta unidade temática,
Os estudos da cartografia devem acontecer desde o 1º até o 9º ano. Nos anos ini-
ciais, é importante a escola contribuir com o processo de alfabetização cartográfica
até a leitura, interpretação e construção de mapas, com a perspectiva de localizar
elementos no espaço dos estudantes.
Trabalho no
Diferentes tipos campo e na cidade
Tipos de trabalho Trabalho e
de trabalho Matéria-prima e
em lugares e inovação
existentes no seu indústria
tempos diferentes Produção, tecnológica
dia a dia
circulação e
consumo
Produção, Qualidade
circulação e ambiental
consum
Os usos dos
Condições de vida Conservação e
recursos naturais: Diferentes tipos
nos lugares de degradação da
solo e água no de poluição
vivênci natureza
campo e na cidade Impactos das
atividades
humanas Gestão pública da
qualidade de vida
1º ano História
3. A noção de espaço
Sabemos que todas estas unidades temáticas são do seu conhecimento. Entretanto,
aprofundar um pouco mais sobre elas é vital para um planejamento de aulas alinha-
das ao DCRB (BAHIA, 2020). Considerando que elas não se repetem, trabalharemos
com cada unidade por ano.
1º ano
Unidades temáticas do 1º ano contribuem, antes de mais nada, com a construção
do sujeito. E isto ocorre a partir do momento em que a criança toma consciência da
existência de um “eu” e de um “outro”.
2º ano
No segundo ano, temos as seguintes unidades temáticas:
3º ano
No terceiro ano, o DCRB adota as seguintes unidades temáticas:
A noção de espaço.
4º ano
No 4º ano, os estudos evidenciam as particularidades locais por meio da noção de
lugar em que se vive e das dinâmicas em torno da cidade e dos estados, diferen-
ciando aspectos da vida privada e da vida pública, urbana e rural.
5º ano
Neste ano, o destaque está na diversidade de povos e culturas e em suas formas
de organização, realizando uma breve introdução ao início da humanidade. Ele-
mentos como cidadania, direitos e deveres, e o reconhecimento da diversidade das
sociedades lançam mão de uma educação voltada ao convívio e ao respeito entre
os povos.
PARADA PARA
4 DESCANSO: O
QUE DESENHO?
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 59
Vamos, agora, adentrar o vagão das temáticas parte diversificada, temas integra-
dores e planejamento para a área de Ciências Humanas.
Um exercício desafiador, pois discute novos elementos trazidos pelo DCRB (2020)
para o currículo, a partir das determinações da BNCC (2018). Entretanto, é possível
e gratificante de ser realizado, pois nos dará autonomia para organizar nosso fazer
pedagógico com adequado alinhamento aos documentos oficiais e contemplando a
consolidação das aprendizagens que são essenciais às nossas crianças.
Esperamos que o desenvolvimento desta seção de estudo contribua para o seu de-
senvolvimento nesta formação.
Saudações!
Saiba mais...
Professor, conhecer as peculiaridades dos Territórios de Identidade pode contribuir com a diver-
sificação de suas aulas de Ciências Humanas. Quer saber mais?
Consulte:
http://www.cultura.ba.gov.br/arquivos/File/PERAFANMireyaEValenciaOLIVEIRAHumbertoTer-
ritorioeIdentidadeColecaoPoliticaseGestaoCulturaisSECULT2013
O documento sobre o Perfil dos Territórios de Identidade da Bahia, publicado pela SEI.
https://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2000&Itemid=284
São áreas de conhecimento Essa diversidade, que não é uma exclusividade de nosso estado, mas uma
da Base Comum: característica marcante de nosso Brasil, é mais um dos motivos (existem
outros) para a inclusão da parte diversificada no currículo.
Área de Linguagens
É conhecimento nosso que o advento da BNCC (2018) e do DCRB (2020)
Língua Portuguesa
trouxeram uma composição diferenciada aos nossos currículos escolares.
Educação Física A partir de agora, eles deverão ser compostos por:
Língua Estrangeira
Arte A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como divulgado largamente,
Área de Matemática:
Matemática UMA BASE UMA PARTE
NACIONAL COMUM DIVERSIFICADA DO
Área de Ciências da Natureza
CURRICULAR CURRÍCULO
Ciências
Área de Ciências Humanas é constituída por cinco áreas de conhecimento com seus respectivos
História
componentes curriculares e unidades temáticas, interconectados aos te-
mas contemporâneos transversais (como é chamado na BNCC). No DCRB,
Geografia
esses temas que transversalizam o currículo são denominados temas in-
tegradores. Na próxima seção, discutiremos mais sobre eles.
Área de Ensino Religioso
Ensino religioso Cada uma das áreas de conhecimento estabelece um conjunto de com-
petências (gerais e específicas), habilidades e aprendizagens essenciais a
todos os estudantes, independentemente de sua posição geográfica, cate-
goria, nível ou modalidade de ensino em todo o país. Veja as reflexões que
tecemos sobre o tema no caderno 4 de Matemática.
parceria são capazes de criar o novo. Por isso, escola autônoma não significa
escola isolada, mas em constante intercâmbio com a sociedade […] (GADOTTI,
2010, p. 46).
Elas devem conectar-se aos objetos de conhecimento constantes na proposta Resolução CEE
137 de 2019
curricular, contribuindo com o desenvolvimento das competências gerais e das
competências específicas das crianças, tanto na área de conhecimento quanto Leia o QR Code
no componente curricular. Veja um exemplo de articulação na área de Ciências e conheça
Humanas. as unidades
temáticas.
Saiba mais...
Remanso: https://www.remanso.ba.gov.br/abrir_arquivo.aspx/Texto_6?cdLocal=2&arqui-
vo=%7B8B3ADB2A-E6C7-1CD4-AAED-EEB103223DEC%7D.pdf
A partir desse estudo, podem emergir registros diversos, entre eles entrevistas,
capturas de imagens, textos que podem e devem ser divulgados à comunidade es-
colar na forma de exposições, saraus, encontros, cadernos, entre outras atividades
pertinentes aos anos iniciais.
Sobre isto, siga o nosso raciocínio. Quando entra em um supermercado para fazer
suas compras, você:
E você bem sabe, nossos meninos e meninas aprendem sobre o mundo de forma
distinta do adulto: por meio de muita interação e brincadeiras. Descobrem, vincu-
lam-se, interagem, brincam, desenvolvem e intensificam laços de afeto. Seu olhar
sobre o mundo não é fragmentado. A educação infantil favorece essas experiências.
Mas, quando chega ao ensino fundamental, os conhecimentos do mundo, muitas
vezes, lhes são apresentados de forma fragmentada.
Para eles, cada vez mais os projetos de estudos integrados diminuem. Começam
a aprender sobre o mundo de forma compartimentalizada nas caixinhas das dis-
ciplinas/componentes curriculares, como se pouca ou nenhuma ligação com a
vida tivesse! Não devemos cair na tentação da fragmentação dos conhecimentos.
Mas, sim, investir em ações interdisciplinares e transversais, sempre! Neste ponto,
os temas integradores têm função essencial. Conforme o DCRB (2020), os temas
integradores
Figura 3 – Temas Destacamos o tema integrador Educação para a Diversidade, que se desdobra nas
integradores temáticas Educação para as relações de gênero e sexualidade e Educação para as
propostos pelo relações étnico-raciais.
DCRB (2020)
Fonte: Elaborado pela
autora, 2022
4.2.1 As Ciências Humanas e os Temas Integradores
Uma das metodologias mais utilizadas para o trabalho com os temas integradores
é o ensino por projetos, pois permite o contato integrado sobre o mundo, algo
tão peculiar ao universo infantil. Dessa e de outras metodologias, trataremos no
Capítulo 5.
Exemplo 1
Tema integrador: Educar para a Diversidade: Educação para as relações étnico-raciais
Unidades Objetos de
Habilidades
temáticas conhecimento
GEOGRAFIA:
(EF01GE08*) Criar mapas mentais e desenhos
Formas de repre- Pontos de
com base em seus itinerários e vivências, contos
sentação e pensa- referência
literários, histórias inventadas e brincadeiras
mento espacial
Aqui poderiam ser integrados outros componentes curriculares ou expandir, incluindo mais habi-
lidades da área de Ciências Humanas.
As atividades devem ser pautadas em vivências concretas e lúdicas (não só pelo que
exige a habilidade EF01GE02, mas, sim, porque o lúdico é recurso fundamental de
aprendizagem da criança).
Saiba mais...
Acesse https://www.instagram.com/bnccnaescola/
Conheça o vídeo “Disque Quilombola”, no qual crianças do Espírito Santo conversam de um jeito
divertido sobre como é a vida em uma comunidade quilombola e em um morro na cidade de
Vitória.
https://www.youtube.com/watch?v=GStv-f_bcfU&t=88s
4. PARADA PARA DESCANSO: O QUE DESENHO? 66
Exemplo 2
Tema integrador: Educação Ambiental
Unidades Objetos de
Habilidades
temáticas conhecimento
HISTÓRIA: O
A sobrevivência e (EF02HI11) Identificar impactos no ambiente cau-
trabalho e a
a relação com a sados pelas diferentes formas de trabalho e ações
sustentabilidade
natureza do homem, existentes na comunidade em que vive
na comunidade
Aqui poderiam ser integrados outros componentes curriculares ou expandir, incluindo mais habi-
lidades da área de Ciências Humanas.
Exemplo 3
Tema integrador: Educação para o Trânsito
Unidades Objetos de
Habilidades
temáticas conhecimento
O que forma
HISTÓRIA: Povos
um povo: do (EF05HI01) Identificar os processos de formação
e culturas: meu
nomadismo aos das culturas e dos povos, relacionando-os com o
lugar no mundo e
primeiros povos espaço geográfico ocupado
meu grupo social
sedentarizados
Aqui poderiam ser integrados outros componentes curriculares ou expandir, incluindo mais habi-
lidades da área de Ciências Humanas.
Proposta de atividade: Trânsito tem a ver com transitar. E não pode ser reduzido
a carros e sinais. Tem a ver com deslocamentos no espaço das mais variadas for-
mas. E, para cada modo de deslocamento, a sociedade tem veículos e regras para
assegurar a segurança das pessoas. Temos dois pontos de partida para desenvolver
essas atividades:
avaliação
produção
aplicação
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 69
As respostas para as indagações acima nos fornecem dados avaliativos que devem
fazer parte do próximo ciclo de planejamento, independentemente do tempo, quer
semanal, mensal, anual etc.
Saiba mais...
Vamos conhecer um pouco mais sobre a estruturação das sequências didáticas por meio da
conferência
Unidades Temáticas:
Objetos de conhecimento:
Atividades Habilidades
Atividade 1
Programar algumas atividades em que as crianças reconheçam as diversas formas
de representação familiar, identifiquem semelhança e similaridade com sua família;
apresentar imagens com estruturas familiares diversificadas dos mais diversos gru-
pos sociais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos etc.; disponibilizar músicas
para cantar e refletir; comparar imagens de própria família com aquelas entregues
pelo professor etc. O convite aos anciãos, aos pais é bem interessante para percep-
ção e conhecimento das histórias, conforme habilidade (EF01HI02).
Atividade 2
A partir das imagens anteriores, analisar tipos de moradias que aparecem nas fotos,
pesquisar outras moradias, os locais de cada uma, buscando semelhanças e dife-
renças (por isso é importante disponibilizar imagens diversificadas de arranjos fa-
miliares nos diversos grupos sociais); produzir desenhos e esculturas das moradias
vistas (como palitos, argila, papéis, caixas etc.); importante esclarecer que, nesta
atividade, o foco é conhecer os diferentes tipos de moradia; indagar a existência de
comércio. É possível solicitar que visitem o entorno da própria casa, desenhem e
tragam para socializar com colegas.
Atividade 3
Tomando como referência as imagens dos diversos grupos sociais, refletir sobre as
características da natureza local, seus ritmos, o impacto no tipo de moradia cons-
truída. Relacionar aos ritmos da natureza (chuva, vento, calor etc.), pesquisando os
materiais usados nas construções e seus motivos; trazer partes dos materiais para
escola (tijolo, palha, madeira); investigar a diferença das texturas e propriedades etc.
Uma sequência didática também pode ser uma atividade permanente. É o caso
daquelas sequências de atividades realizadas com regularidade, cujo objetivo é de-
senvolver hábitos e atitudes. Por exemplo: consultar o relógio e registrar a hora das
atividades diárias; organizar as almofadas ou cadeiras no espaço para acomodar a
todos, na disposição indicada para o tipo de atividade (em roda, fila, formato de U
etc.) com ajuda docente ou não.
4.3.1.2 Os projetos
Os projetos são situações didáticas realizadas em contexto, voltados para
resolução de alguma situação-problema. Por meio dos projetos, as ativida-
des de ensino-aprendizagem adquirem mais sentido, direcionadas para a
realização de um propósito claro, no qual as crianças estão envolvidas.
Projeto didático
Exemplo de um projeto interdisciplinar (em síntese)
História do meu O Instituto Claro apresenta um interessante projeto intitulado História do meu
bairro, história bairro, história de mim. Clique no link ou no QR Code para conhecer:
de mim.
https://www.institutoclaro.org.br/educacao/para-ensinar/planos-de-aula/
projeto-historia-do-meu-bairro-historia-de-mim/.
As trilhas de aprendizagem
As trilhas de aprendizagem se constituem em “um conjunto integrado, sistemático
e contínuo de atividades destinadas a um grupo de estudantes ou pessoas em pro-
cesso de aprendizagem/desenvolvimento”.
Consistem em uma rota de estudos escolhida pelo estudante a partir de uma série
de atividades no ambiente digital, formada por uma sequência de materiais didá-
ticos interativos que permitem que ele experimente o conteúdo passo a passo e
construa conhecimento progressivamente.
Saiba mais...
Saiba mais...
Esse material, de grande riqueza pedagógica, foi elaborado por professoras da rede estadual
durante o período da pandemia da Covid-19, quando houve a suspensão das aulas presenciais.
http://www.educacao.ba.gov.br/cadernosdeapoio#label-ensino-fundamental
5. INTERAGINDO ENTRE VAGÕES 74
5 INTERAGINDO
ENTRE VAGÕES
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 75
Estamos quase na etapa final de nossa viagem! Após aprofundar nosso pensamento
sobre as diretrizes do DCRB (2020), em ressonância com a BNCC (2018), inicia-
remos as reflexões da última etapa dos temas específicos da área: o estudo das
metodologias ativas para o ensino de Ciências Humanas nos anos iniciais.
Por fim, é o momento do diálogo sobre a avaliação. Nesta seção, teremos como foco
as estratégias avaliativas diferenciadas a serem adotadas em nossas aulas, tendo
em vista as referências trazidas pela DCRB (2020) para a ação pedagógica da escola.
Para começar, é preciso estar atento para va correlação interna entre unidade te-
mática, objetos de conhecimento e habilidades. Vamos ao exemplo:
5. INTERAGINDO ENTRE VAGÕES 76
Unidade Objetos de
Habilidade
temática conhecimento
O contrário também é possível: crianças cujos saberes são muito aquém daque-
les previstos para sua faixa etária. Nesses casos, pode ser resultado de um am-
biente social com baixo nível de estímulos ou, até mesmo, algum transtorno de
aprendizagem.
A redação dos objetivos de aprendizagem tem uma estrutura parecida com a das
habilidades, porque expressam o que as crianças “aprenderão” em uma sequência
didática, um projeto ou trilha de aprendizagem.
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 77
Os verbos são palavras essenciais para sua construção. Por quê? Ora, eles indicam
qual processo cognitivo será mobilizado e desenvolvido. O foco não deve ser o con-
teúdo, mas, sim, os esquemas mentais pretendidos.
Agora, vamos fazer uma pausa nas reflexões sobre habilidades, unidades temáticas
e objetos de conhecimento para refletir sobre processos essenciais da aprendiza-
gem nas Ciências Humanas, que influenciam a escolha das metodologias.
O ensino de história tem uma fundamental importância nos anos iniciais, pois con-
tribui para que as crianças se situem no ambiente em que se inserem enquanto se-
res que fazem suas “histórias” desde o nascimento. Entretanto, é preciso “entender
que o conhecimento histórico não é adquirido como um dom, mas consegue-se
através de pesquisas e descobertas” (SCHMIDT, 2004, p. 54).
Por sua vez, a aprendizagem dos conhecimentos geográficos pelas crianças dos
anos iniciais envolve a alfabetização e o letramento geográfico e cartográfico, ini-
ciados antes mesmo de entrar na escola, a partir do grupo social em que vive: em
sua família e comunidade, em suas experiências de vida, em todos os âmbitos so-
ciais dos quais faz parte, do mesmo modo que ocorre no ensino de história.
Estas são atividades que as crianças aprendem em seu cotidiano nos anos iniciais
de escolarização. E nas experiências escolares precisamos desenvolver as “práticas
apoiadas em dados concretos e reais e não imaginando/fantasiando. Quer dizer,
tentar representar o que existe de fato”. (CALLAI, 2005, p. 244).
Para tal, é importante tornar as aulas mais interessantes. Como? Aderindo às ativi-
dades que despertam maior interesse na criança, tais como brincadeiras de viagens
no tempo, experiências com músicas, literatura, histórias em quadrinhos, jogos,
exploração do meio por meio de visitas breves ou excursões, desenhos e outras lin-
guagens artísticas etc. As ações lúdicas no ensino desses componentes são valiosas.
metodologias ativas
O que é o tempo e de que tempo estamos falando? Como será que as crianças concebem o tempo
e como percebem sua passagem? Seria possível construir noções de tempo descoladas de um
espaço de referência?
Conheça aqui a reportagem da revista Nova Escola sobre como fazer bons projetos
para geografia. http://bit.do/Como-fazer-bons-projetos-para-geografia
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos iniciais 81
Realização de experimentos;
As brincadeiras e jogos tradicionais corporais revelam muito das culturas. Uma boa
ideia é associar o brincar à pesquisa sobre as origens das brincadeiras escolhidas.
Convidar pais, avós e tios para narrar suas brincadeiras de infância contribuem
5. INTERAGINDO ENTRE VAGÕES 82
Dicas!
Silvia Ortof nos conta muitas histórias vividas por ela com seus bichos de estimação na obra: “Os
bichos que tive: memórias zoológicas” (Acervo Literário, FNDE, 2013).
Sugerimos uma adaptação para a questão “Os brinquedos que tive” junto com as crianças.
Tsoro - http://bit.do/Jogo-TSORO
Mancala - http://bit.do/Jogo-Mancala
Yoté - http://bit.do/Jogo-Yote.
Uma possibilidade é o uso de jogos digitais que oferecem uma boa oportunidade
para montagem de mapas on-line em vários sites educativos na sala de tecnologia.
Eles permitem construir mapas, fazer quebra-cabeça e colorir as regiões brasilei-
ras e seus estados e capitais etc.
Os sites:
http://www.sogeografia.com.br
http://www.geoensino.net/2011/06/teste.html
Coquinhos - http://bit.do/Coquinhos-Jogos-digitais
Wordwall - http://bit.do/Jogos-Wordwall
Os Jogos - http://bit.do/Os-Jogos
Estudo de caso: “Os alunos empregam conceitos já estudados para a análise e con-
clusões em relação ao caso. [...] é recomendado para possibilitar aos alunos um
contato com situações que podem ser encontradas na profissão e habituá-los a
analisá-las em seus diferentes ângulos antes de tomar uma decisão.” (BERBEL, 2011,
p. 31).
Debate: “Pode ser entendido como um tipo de discussão formal em que se contra-
põem duas ou mais opiniões sobre um tema polêmico.” Tem como objetivo “desen-
volver nos alunos a argumentação fundamentada, bem como a contra-argumenta-
ção, a agilidade mental, [...] a autoconfiança e o exercício de aprender a aceitar a
opinião mais consistente”. (MOURA; PEREIRA; SOUZA, 2018, p. 56-57).
Os filmes são possibilidades didáticas especiais para o ensino de história, pois fa-
vorecem a interação entre o mundo e a escola, o real e o imaginário, contribuindo
com a consolidação de aprendizagens significativas. Por meio deles, é possível
despertar o interesse pela análise, reflexão e crítica, estabelecendo relações com
os conteúdos, contextualizando-os com os processos. Eles podem “servir de base
para analisar a sociedade e fomentar a discussão de assuntos relevantes que visam
contribuir para a formação e socialização dos discentes na atualidade”. (COLAUTO
et al., 2018, p. 131).
Ano: 1º ano
Unidades temáticas:
Atividade 1 – Após ouvir e discutir a música “Ora Bolas”, do grupo Palavra Cantada,
iniciar seção de perguntas.
Explorar o espaço da sala de aula, sua função, localização, mobília (uso dela),
a mobilidade dentro desse espaço, a importância de mantê-la organizada.
Nas aulas, precisamos explorar largamente ações criativas e lúdicas, como ativida-
des diversificadas, jogos, brincadeiras, atividades corporais mais amplas e diversas,
trabalhos em grupo, atividades em comunidade, jogos, exploração do meio ambien-
te, desafios etc. Podemos inovar mudando os ambientes de trabalho, desenvolvendo
as seções de estudo no pátio, biblioteca, áreas verdes, diversificando e quebrando
a rotina constante da sala de aula.
A adoção de métodos ativos deve ser acompanhada com atenção para perceber
as possibilidades do grupo em trabalho. De nada adianta desenvolver atividades
mirabolantes que são inviabilizadas quando se chega à escola por falta de recursos
ou inadequação à faixa etária e desenvolvimento das crianças, bem como o domínio
didático de quem irá mediar.
SEGUINDO A
6 VIAGEM: A
TRANSIÇÃO
PARA O 6º ANO
Anos iniciais 65
Estamos chegando ao final de nossa viagem! Nem acreditamos que passou tão rápi-
do. Mas ainda temos uma surpresa no último trecho do nosso percurso.
Recarregue suas baterias e venha comigo atender ao último apito deste trem!
Agora, queremos olhar a bela paisagem que se descortina à nossa frente, pintada
pelas cores das mudanças e das transformações que são vivenciadas pelos estudan-
tes ao longo da sua formação nos anos iniciais transitando para os anos finais do
ensino fundamental
Vamos pensar um pouco sobre isso para fecharmos nossa viagem com chave de ouro?
Por que esse debate nos interessa? Interessa-nos por que ele contribui para me-
diar o processo ensino-aprendizagem em conformidade com a perspectiva do
Documento Curricular Referencial da Bahia (2020), ou seja, de acordo com uma
educação integral que não desconsidera o sujeito como um todo: suas habilidades,
preferências, modos de usar linguagens, mudanças físicas, frustrações, desaponta-
mentos, dificuldades e tantos outros aspectos de sua vida não estão dissociados do
aprender de cada criança em sala de aula.
As vivências para as quais apontamos no lugar dos anos iniciais do ensino fun-
damental são transformadas no caminhar do aprender de cada criança, e serão
básicas para a complexidade de conhecimentos que virão em sua passagem para os
anos finais do ensino fundamental. Elas nos convidam a pensar sobre o que pensa a
criança, o que sente na sua travessia de um lugar para outro no processo educativo.
Mas o que me importa, enquanto professor, atentar para como essa transição se dá
pelos olhares dos estudantes? Ao seguirmos nos trilhos, nas trilhas, na viagem do
conhecimento, confirmamos como cada professor tem indispensável colaboração
para a ação do sujeito no mundo.
6. SEGUINDO A VIAGEM... 66
A raiva sentida por Dan no trecho que inicia este nosso capítulo é uma entre as
várias emoções do personagem na narrativa em questão. Ele consegue atentar para
o comportamento inadequado de um coleguinha e gerencia uma possível forma de
manifestar o que estava dentro de si. Paremos para atentar: quantas reações consi-
deradas inadequadas cada criança pode apresentar? O que impulsiona determinada
atitude da criança em sala de aula e fora dela? Por que é importante – não é simples,
nem fácil – cada professor atentar para as diversas linguagens que a criança em-
prega em sala de aula? São muitas as respostas que podemos encontrar, contudo,
podemos dizer que uma alternativa é relacionar tais questionamentos à construção
de visão de mundo. Sim! Após a transição da primeira etapa da educação básica,
a criança segue nos anos iniciais do ensino fundamental a fortalecer, estabelecer
modos de interação consigo e com os outros, a construir sua autonomia e seu
conhecimento sobre a sociedade em que vive. É preciso demais respeitar tal mo-
mento: nem sempre a criança de primeiro ano do ensino fundamental apresenta a
leitura e a escrita mais próxima do convencional, nem sempre se mostra habituada
a perceber a forte presença da matemática no cotidiano, nem sempre demonstra
interesse em falar sobre os bichinhos na natureza e vai requerer atenção de acordo
com sua individualidade. No cenário de educar, é preciso descobrir estratégias para
incentivar cada estudante, articuladas às aprendizagens essenciais estabelecidas
conforme normatizam os referenciais curriculares da educação brasileira. Com a
ampliação de saberes propiciados pelos anos iniciais, vão se aproximando as mu-
danças, as expectativas, os saberes que se mostrarão ainda mais enriquecedores e
relacionados a uma outra fase da vida: a adolescência.
Dessa forma, faz-se necessário elaborar estratégias pedagógicas que tornem ex-
pressiva, na escola, a importância da transição entre a educação infantil para os
anos iniciais e dos anos iniciais para os anos finais do ensino fundamental. Pode-se,
nesse sentido, criar uma metalinguagem sobre o que se aprende e se ensina, ou seja,
Anos iniciais 67
O olhar pedagógico atento ao debate sobre a transição dos anos iniciais para os
anos finais do ensino fundamental é extremamente dialógico com o Documento
Curricular Referencial da Bahia (2020): diversidade, identidade, problematização,
contextualização, interdisciplinaridade, temas integradores, enfim, pressupostos
básicos para a educação formal de um estudante que estará diante de mudanças,
enfrentamentos, desafios, sempre a transitar, não somente dos anos iniciais para
os anos finais, mas estará a seguir, em passagem, em viagem pelo conhecimento,
sem cessar.
6. SEGUINDO A VIAGEM... 68
Anos iniciais 69
Ensino fundamental
A NO S FINAIS
2. ENTRANDO NO VAGÃO: O QUE HÁ? 94
ENTRANDO
2 NO VAGÃO:
O QUE HÁ?
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 95
Este é o vagão das Ciências Humanas! Entre, sinta-se à vontade para explorar a
bagagem que carregamos até aqui. Também é muito importante que você deixe o
que traz em sua bagagem conosco. A vida é dialógica. Esperamos que o comparti-
lhamento das ideias enriqueça as pessoas que estão neste trem. Que em cada esta-
ção a sua parada seja para reflexões sobre como construir uma educação pautada
nos princípios da equidade e da diversidade, respeitando os sujeitos como parte
primordial do processo educativo, compreendendo as suas especificidades cogni-
tivas e, sobretudo, contribuindo para a construção do exercício crítico da cidadania
consciente.
Precisamos, também, estar cientes do que vamos encontrar na rota. Neste capítu-
lo, abordaremos, destacadamente, os fundamentos da área do conhecimento das
Ciências Humanas a partir dos documentos norteadores Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) e Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB). Nesta
viagem, temos como missão fundante desenvolver estratégias pedagógicas para
implementação do DCRB; assim, esse texto estará sempre presente em todas as
nossas estações.
Por fim, e não menos importante, trataremos de algumas noções sobre ensinar e
aprender, considerando as especificidades das Ciências Humanas no contexto de
um mundo em constante transformação e de uma educação cada vez mais desa-
fiadora, por se propor como um meio de difusão e produção do conhecimento e,
principalmente, como um caminho viável para a transformação da sociedade.
Assim, esperamos que esta seja uma das viagens mais marcantes das nossas vidas.
Que seja inesquecível pelos momentos que proporcionará e pelas mudanças que
provocará em nossas práticas profissionais. E que sejamos a energia que move toda
essa engrenagem complexa e apaixonante que é a Maria Fumaça da Educação!
Esta viagem promete ser muito instigante! Posso contar com você?
2. ENTRANDO NO VAGÃO: O QUE HÁ? 96
Nos anos finais do ensino fundamental, esta área do conhecimento abarca dois
componentes curriculares: geografia e história. Estas ciências são consideradas
de fundamental importância para um aprofundamento da compreensão dos fenô-
menos sociais (economia, política, cultura) e ambientais, que envolvem múltiplas
temporalidades e escalas.
Para que tais objetivos sejam possíveis, o professor tem um papel chave. É esse pro-
fissional quem apresenta a ciência para o estudante, é ele quem tem as ferramentas
adequadas para explicar determinados fenômenos, é ele quem pode, em suas abor-
dagens, instigar a percepção de que aqueles conteúdos sumarizados – atualmente
chamados de objetos do conhecimento – não estão ali ao acaso; pelo contrário, são
meios de compreensão da realidade e, principalmente, de atuação social.
Saiba mais...
Professora, professor, você conhece os documentos citados? Mas, calma aí! Conhece mesmo ou
já ouviu falar, apenas deu aquela olhadinha e “lembrou de um compromisso” quando viu a quan-
tidade de páginas? Rs!
BNCC: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
DCRB: http://dcrb.educacao.ba.gov.br/
Ser parte de uma sociedade diversa é condição fundamental para a formação hu-
mana. Ter acesso a uma educação que respeita a diversidade é direito de todos e
essencial para a criança e para o adolescente, que estão formando o seu arcabouço
conceitual. É justamente o respeito à diversidade que permite que o estudante crie,
reformule, recrie e ressignifique a sua identidade.
A fim de desenvolver este senso crítico, as Ciências Humanas devem, durante todo
o ciclo da educação básica, estimular e promover explorações sociocognitivas,
afetivas e lúdicas (BNCC), que vão permitir ao estudantes experienciar saberes e
melhor analisar os espaços percebidos, concebidos e vividos. A análise espacial, que
depende fundamentalmente da capacidade de observação e de contextualização
histórica, é pressuposto para se posicionar socialmente, conhecer o mundo que
habita e que pode vir a transformar.
Glossário
Poder hegemônico –Poder dominante; poder exercido por um agente de forma destacada ou
superior em relação aos demais agentes sociais.
A noção de escala se torna mais palpável e descortina-se a ideia de que ela pertence
apenas ao universo matemático ou é um mero componente dos mapas. A percep-
ção escalar contribui com a assimilação das noções de espaço e tempo e corrobora
para que o estudante faça correlações do mundo e do país, com o bairro, a escola
e a casa. É um prato cheio para discutir vários objetos do conhecimento, desde as
causas e consequências de um terremoto até os impactos já sentidos da poluição
atmosférica nas mudanças climáticas. A leitura do mundo, seja esse mundo o seu
quarto ou o seu planeta, também passa a ser multiescalar.
Está bem, vamos ser mais diretos? Cada ciência, para chegar a ser reconhecida
como tal, precisou definir quais eram os seus principais conceitos, também chama-
dos de conceitos-chave. No item anterior, já conversamos sobre os fundamentos
das Ciências Humanas fazendo uso de vários desses conceitos, como espaço, tem-
po, temporalidade, identidade, diversidade, escala. Vamos, então, discutir alguns
deles sob a ótica de autores que se dedicaram a investigá-los e compreendê-los.
Atenção!
Professora, professor, é muito importante ficarmos atentos aos conceitos basilares da área de
conhecimento. A evolução desses conceitos denota mudanças de concepção das ciências e evi-
dencia as contribuições delas para o avanço da sociedade.
Segundo Raffestin (1993), o território é uma produção que envolve uma gama de re-
lações, um conjunto de tessituras, nós ou redes, e é resultado do jogo de múltiplos
atores. Para o autor, o território se inscreve, por isso, num campo de poder.
Neste momento, interessa-nos reafirmar que a questão territorial tem uma forte
simbologia nas Ciências Humanas. Trazendo para a mesa o debate sobre as rela-
ções de poder, instiga em professores e estudantes um processo investigativo que
busca compreender questões como:
Tendo como pano de fundo essa noção “híbrida” (e, portanto, múltipla, nunca
indiferenciada) de espaço geográfico, o território pode ser concebido a partir
da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material das rela-
ções econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais
estritamente cultural. (HAESBAERT, 2006, p. 79)
2. ENTRANDO NO VAGÃO: O QUE HÁ? 100
Para Milton Santos (1998), renomado professor e autor baiano que exerceu a do-
cência em diversas universidades do mundo:
Para esse autor, os objetos são fabricados pelo ser humano e, por isso, dotados de
intencionalidade presente também nas ações, o que explica a atuação de agentes
hegemônicos. Estes ditam normas cada vez mais estranhas aos indivíduos, aos lu-
gares e às populações locais, visto que são fruto de uma racionalidade externa.
Fica evidente, então, a forte relação entre os conceitos território e espaço, que são
importantes no processo de apreensão da realidade, bem como é primordial per-
ceber a inferência do tempo nas diferentes formas de atuação dos agentes sociais
e no ritmo de constituição e de transformações dos espaços e dos territórios ao
longo da história.
E aí, captou a ideia? As Ciências Humanas estudam o espaço que habitamos e que
transformamos cotidianamente. Esse estudo nos relata, nos descreve e nos sinteti-
za as transformações espaço-temporais que determinadas sociedades imprimiram
ao longo da história, das quais as paisagens são o seu relato visual e sensorial. É
por meio das paisagens capturadas em diversos tempos históricos que podemos
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 101
analisar, entre outras coisas, o tipo e o ritmo de mudanças a que foram submetidas
determinadas frações do espaço e quais agentes atuam ali na configuração do ter-
ritório. Citando o DCRB:
Os fenômenos espaciais não podem abstrair a apreensão das formas nas quais o
tempo histórico foi transcorrido, vindo a possibilitar outras configurações atuais
impregnadas em sua forma. Assim, faz-se imperativo resistir às imprecisões que
afetam a real importância dos conceitos na apreciação da construção dos lugares
pelas sociedades. É importante construir uma ciência humana que vá além da des-
crição tempo/espaço e que não se limite aos fundamentos políticos e econômicos
da realidade social, mas que alcance explicações que abranjam de modo mais arti-
culado os saberes de cada área do conhecimento. (BAHIA, 2020, p. 401).
Tais aparentes contradições fazem parte do que é o espaço geográfico e estão ali no
cotidiano do estudante, no caminho que ele/ela faz até a escola ou mesmo no seu
bairro. A compreensão das forças atuantes para esse cenário desperta nele e apro-
xima dele questões como direito à cidade, segregação socioespacial, preservação
do patrimônio material e imaterial.
Atenção!
Nunca é demais lembrar que a discussão sobre os conceitos-chave não se resume a estas linhas e,
portanto, não se encerra aqui. Fizemos um pequeno apanhado; vale a pena ir além e ler algumas
referências de sua área do conhecimento! Fica a dica!
É importante que você sempre retome essa reflexão, posto que a nossa formação
acadêmica se deu pautada nas ciências que atualmente, na educação, são os com-
ponentes curriculares. Assim, cada professor se tornou um especialista na ciência
à qual dedicou a sua graduação, pois não foi privilegiado um processo formativo
interdisciplinar.
Para que isso seja possível, é preciso, também, compreender os novos parâmetros
educacionais que permeiam o processo educativo no país. As últimas décadas fo-
ram marcadas por grandes acontecimentos e eventos que impactaram a história do
Brasil e se refletiram na mudança de uma ordem política e econômica, impactando,
também, no sistema educacional como um todo e, principalmente, no comporta-
mento de crianças e jovens, que chegam à escola com uma carga de informações e
vivências que décadas atrás seria inimaginável.
Mas, para Pontuschka et al. (2009), pouco sabemos sobre observar e interpretar as
imagens, e isso ocorre estranhamente nas escolas, justamente onde deveríamos ser
alfabetizados nesse sentido também.
Como você, caro professor, deve ter percebido, temos muito o que aprender e ensi-
nar na área das Ciências Humanas. Daqui para a frente, continuaremos juntos nesta
viagem, aprofundando as discussões sobre esses processos, com a certeza de que
nossa viagem será rica para todos nós.
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 104
PELAS JANELAS
3 DO VAGÃO: O
QUE TEM?
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 105
Olá, professor!
Estamos de volta ao nosso vagão das humanas, numa viagem sem precedentes nes-
ta Maria Fumaça denominada educação! Acredite, muitas surpresas ainda esperam
por você, e creio que, neste trecho da viagem, vai se encantar ainda mais com o que
estamos propondo debater! Venha comigo, vou dar uma pequena demonstração do
que irá encontrar a cada apito deste trem!
A proposta é olhar pela janela e se encantar com a paisagem! Mas, é claro, organiza-
mos alguns itens nessa paisagem porque, afinal, estamos aqui para aprender cada
vez mais sobre como construir a educação que desejamos! Por isso, nosso olhar
começa com uma discussão sobre criatividade e protagonismo como fundamentos
de uma formação integral. A ideia é trazer uma abordagem que enfatize o desenvol-
vimento de habilidades necessárias para a atual sociedade.
A paisagem fica cada vez mais exuberante e se revela encantadora quando passa-
mos para o item modalidades da educação básica, situando a área em movimento.
Aqui faremos uma exploração das belezas que as modalidades imprimem ao pro-
cesso educativo, visto que foram resultados de conquistas de movimentos sociais e
buscam atender públicos excluídos do ensino formal durante anos! Respire fundo,
será apaixonante!
Esta é a nossa Maria Fumaça da educação! Este é o nosso vagão da grande área de
Humanas! Estamos iniciando mais uma olhada pela janela. Venha com a gente!
Conhecimento é poder, mas não pela sua raridade e concentração, e, sim, pela
necessidade de saber usá-lo adequadamente. A informação e o conhecimento em
nossos dias, com os avanços e a consolidação dos meios de comunicação, estão
difusos, foram jogados aos quatro cantos e o acesso, facilitado. O mundo conheceu,
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 106
Dito isto, fica mais fácil compreender que muitas de nossas crianças e jovens, bom-
bardeados diariamente pelas notícias, imagens, sons, cores e movimentos nas telas
dos celulares e demais dispositivos portáteis, tendem a exigir uma escola diferente
daquela a que seus pais tiveram acesso.
Para pensar...
Professor, professora!
Há inúmeros motivos para que uma aula não tenha o rendimento esperado por vocês. Desde uma
expectativa supervalorizada, quando simplesmente vocês esperam que aquela seja a “grande aula”
porque, talvez, seja um dos objetos de conhecimento que mais têm domínio ou proximidade, até
uma avaliação equivocada, quando imaginam que nada foi aproveitado daquele momento, mas, na
verdade, a classe teve um bom desempenho e não expressou de forma transparente.
Entre esses extremos, há uma infinidade de questões: vocês estarem abalados por um problema
pessoal e não se darem conta disso; a turma enfrentar problemas no transporte até a escola;
ou aquele estudante estar ansioso para a hora do lanche, pois será a única ou uma das poucas
refeições que fará no dia.
Façam uma análise sistêmica, e não pontual. Assim, vocês terão mais possibilidades de conhecer
a fundo o todo e de mexer nas partes que exigem mudança.
Aquela aula preparada com tanto carinho, depois de tantas pesquisas e estratégias
para diversificar os recursos e alcançar a todos e todas, muitas vezes consumin-
do o final de semana, é, no momento da execução, considerada um desastre. Não
conseguiu a atenção da classe, não obteve o debate imaginado, não instigou, não
provocou a curiosidade e a “chuva” de perguntas. O que fazemos, na maioria das
vezes? Procuramos onde está o nosso erro! Ou resumimos tudo à falta de interesse
da turma!
No entanto, cabe-nos também refletir sobre tais afirmações! Será mesmo que
tantas crianças e tantos jovens simplesmente perderam todo e qualquer tipo de
interesse pela escola? Será que essas mentes, que estão em uma fase tão impor-
tante de seu desenvolvimento, de explosão de ideias, de curiosidade à flor da pele,
de sagacidade, decidem “pausar” suas atividades do portão da escola para dentro?
Como são elas em casa, na rua?
É no bojo dessa discussão que trazemos aqui o que defendem os nossos docu-
mentos basilares. Essa educação, que pretendemos integral e crítica, precisa ser
construída sobre novas concepções. E, de antemão, queremos ressaltar que isso
não significa desprezar tudo que foi construído até então. Propor uma nova escola
e uma nova educação não implica desconsiderar o processo histórico, até mesmo
porque poderíamos elencar vários avanços e exemplos de experiências exitosas
em propostas e em tempos diferentes. Em outras palavras, não é porque existem
modelos holográficos do corpo humano que permitem estudar em detalhes as suas
partes e órgãos que as aulas em Datashow devem simplesmente sumir das escolas,
ou porque todas as informações sobre o Oceano Atlântico estão em um documen-
tário que a aula expositiva deve ser extinta. Não se trata disso.
De volta ao nosso raciocínio, estas novas concepções significam nada mais que
considerar as mudanças pelas quais o mundo vem passando como indicativos de
releitura da função social da escola. O Brasil já conheceu momentos em sua história
em que a escola tinha como função preparar mão de obra para o mercado de tra-
balho. Assim, na contemporaneidade, caberia à escola essa função social? Vamos,
então, refletir sobre aquilo que nos cabe! S’imbora, professores e professoras! Olhar
pela janela do trem durante uma viagem é assim mesmo, traz imagens fascinantes,
mas também atiça a nossa curiosidade. Então, continuem olhando!
Pelo exposto até aqui, percebemos que precisamos rever a função social da escola e
da educação como um todo. Na esteira dessa discussão, a BNCC encara esse debate
e defende que a educação integral dos sujeitos no mundo contemporâneo precisa
valorizar e estimular a criatividade. Essa posição torna-se bem evidente quando,
logo nas competências gerais da educação básica, este documento afirma que o
exercício da imaginação e da criatividade contribui na resolução de problemas e na
criação de soluções. A segunda competência geral diz:
Quando criança, nossa criatividade se expressa de diversas formas, que são esti-
muladas pelos nossos sentidos. Ao tocar, cheirar, olhar, ouvir, levar à boca, mastigar,
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 108
os bebês interagem com o seu meio e descobrem o mundo. Só assim podem criar.
Muitas vezes, sem perceber, por instinto de proteção, impedimos essa importante
fase da criança, o que impacta o seu desenvolvimento, a sua curiosidade e, por
consequência, a sua criatividade.
Atenção!
É possível construir esta escola dos sonhos? Certamente, não é uma tarefa fácil! Nem mesmo
rápida!
Não estamos aqui para vender ilusão, professora, professor. E, sim, para dizer que já temos em
mente duas questões fundamentais e bem definidas: a primeira é que a escola precisa mudar; e a
segunda, que temos documentos oficiais que defendem isso!
Cabe, agora, uma conjugação de esforços para que as futuras gerações vejam e sintam isso
acontecendo!
Com certeza, ao decidir por fazer este curso, você já deu um enorme passo! Continue no trem,
desfrute deste vagão e replique a experiência de sua viagem com todos que encontrar!
Outro termo muito atual é o de cidade criativa, que, em poucas palavras, seria
também uma alternativa, neste caso, ao modelo de cidades atuais, onde proces-
sos como mobilidade urbana e descarte de resíduos vêm se configurando como
grandes problemas e até revertendo fluxos migratórios tradicionais, por meio da
ampliação de migrações de cidades maiores para cidades menores ou para o campo.
É muita coisa que a escola precisa fazer, concorda? Será que damos conta? Nós
também não sabemos, mas compreendemos como importante que esta seja a vi-
são atual da função social da escola. Cremos ser muito mais abrangente, humano,
integral e sistêmico do que formar futuros trabalhadores. Estar preparado para o
mercado de trabalho é fundamental, principalmente considerando a realidade bra-
sileira. Contudo, pode e deve ser uma consequência de algo maior: estar preparado
para a vida.
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 109
Saiba mais...
Conheça um pouco mais sobre o trabalho desenvolvido pelo Instituto Ayrton Senna e seus
colaboradores.
www.institutoayrtonsenna.org.br
Veja, colega, quantos obstáculos precisamos superar ou mesmo derrubar para en-
tender a importância da criatividade e podermos, nesse momento, considerá-la
essencial e defendermos o seu desenvolvimento para a formação plena do estudan-
te. Estamos cientes de que esses obstáculos não cairão todos, em nossas escolas e
em nossas práticas, ao mesmo tempo. Contudo, é preciso começar! Ou melhor, é
preciso perseverar, porque sabemos que você já vem fazendo isso!
Agora, uma pausa! Porém rápida, porque essa Maria Fumaça não para! E, se dermos
bobeira, vamos perder o que só se pode ver pela janela. Demos uma boa olhada na
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 110
O protagonismo mencionado aqui está também atrelado à ideia de ser o ator prin-
cipal do seu processo de aprendizagem. Ter autonomia para a tomada de decisões
que irão impactar em horas de estudos, formas de compreensão que permitam as
conexões entre os objetos do conhecimento e entre os componentes curriculares,
num esforço de interdisciplinaridade, e sobretudo, considerar questões relativas à
contextualização.
Agora, vamos pensar juntos? Nossa profissão não é mesmo fantástica? Somos agen-
tes mediadores do conhecimento, contribuímos para uma formação crítica e cidadã.
Agora, estamos em pleno século XXI e num contexto (pós)pandêmico e precisamos
ressignificar algumas práticas a partir da compreensão desse documento base, o
DCRB. E ele nos sugere, além dos papéis que já assumimos, uma preocupação em
desenvolver em nossos estudantes competências e habilidades que vão alicerçar a
sua vida, como essas que, por ora, discutimos: a criatividade e o protagonismo.
Atenção!
Professor, professora!
Você gostaria de alguns exemplos envolvendo objetos de conhecimento da sua área, criatividade
e protagonismo?
Vamos lá:
O trabalho com a criatividade pode ser muito bem desenvolvido quando abordamos:
Produção de minidocumentário.
E você, colega, pensou em mais algumas situações em que criatividade e protagonismo podem e
devem ser requisitados? Registra aí!
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 112
Além disso, é mister afirmar que uma postura protagonista exige não só a crítica,
mas a responsabilidade em inovar, em desenvolver alternativas, em indicar solu-
ções, em resumo, exige capacidade de síntese e criatividade.
O estudante do (não mais tão) novo século está encontrando um mundo com enor-
mes desafios: do 11 de setembro às guerras híbridas, dos alimentos transgênicos ao
sequenciamento genômico, do lockdown ao ensino remoto. Saber decidir será um
diferencial nos próximos anos, e essa decisão perpassa pelas categorias que esta-
mos discutindo: exige um perfil protagonista que vai em busca do conhecimento e
o administra; é criativo, permite reelaborar o conhecimento criando um novo, que
lhe permitirá, naquela situação, apresentar soluções.
Reflita sobre essa experiência ou, caso não tenha atuado, imagine quantos desafios cada um desses
públicos nos oferta!
Nesse sentido, deixa-nos extremamente felizes saber que você optou por um curso
que vai trazer um debate contextualizado e sugestões de abordagens de seus obje-
tos de conhecimento para estudantes com necessidades educacionais específicas,
do campo, da EJA, indígenas e quilombolas.
Saiba mais..
O termo correto, atualmente, é estudante com deficiência. Ele já foi substituído por portador de
necessidades especiais, mas foi retomado por especialistas que entendiam ser o primeiro o mais
adequado.
Imaginamos, professor, que você já se deparou com aquela confusão muito comum
que é a de ficar em dúvida e, às vezes, até constrangido por não saber qual termo
correto a ser utilizado – deficiente, portador de necessidade especial – e se o mais
adequado é mesmo esse estudante estar na sala de aula e na escola com os demais
estudantes, sem deficiências, ou se ele deveria estar em uma unidade escolar des-
tinada, preparada e adaptada para esse público?
Outra grande questão é a angústia que a maioria de nós sente por não nos consi-
derarmos preparados para lidar com esses estudantes, visto a diversidade de defi-
ciências até então identificadas e a nossa formação, incompatível com esse cenário
desafiador.
Mas, acalme-se, colega! Respire fundo! Compartilhamos das mesmas “dores”, pois
desejamos fazer um trabalho de excelência e, mais que tudo, oferecer o melhor
para esses estudantes, impactando suas vidas de forma positiva, permitindo a eles
exercer e desenvolver todas as suas potencialidades.
Para isso, algumas informações são essenciais. Sim, a maioria de nós, como também
os demais trabalhadores e trabalhadoras da educação (é importante que se diga),
não recebemos, ao longo de nossas carreiras, uma formação específica para lidar
com o público de estudantes com deficiência. Poderíamos elencar diversos fatores
para isso, mas vamos dispensar essa etapa e resumir na seguinte ideia: a educação
especial, aos olhos das políticas públicas de formação continuada, por parte dos
sistemas e das redes de ensino (e por parte de nossas escolhas profissionais, por
que não fazer uma autocrítica?), pouquíssimas vezes foi prioridade. Nesse sentido,
temos poucos profissionais devidamente formados para lidar com estudantes com
deficiências.
Sobre o espaço mais adequado para esse público, sim, a escola regular, as turmas
regulares e o ensino regular são considerados por especialistas os mais adequados
para o público designado para a modalidade educação especial. Por um período, no
Brasil, a legislação garantia a implantação de Centros de Atendimento Educacio-
nal Especializados aos estudantes com deficiência e era lá que eles tinham as suas
aulas. Contudo, a legislação foi revista e garantiu a integração do estudante com
deficiência nos espaços escolares não especializados, considerando a importância
do respeito à diversidade e da convivência com as diferenças como uma condição
para uma formação integral dos estudantes.
Muita coisa, professor? Pois bem, qual o papel das Ciências Humanas no contexto
da educação especial? Vamos nos ater a essas questões?
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 114
Pelo exposto, entendemos que a inclusão de estudantes com deficiência nos pro-
cessos educativos formais e regulares obedece ao princípio do respeito à diversi-
dade, um tema muito relevante para a nossa área de conhecimento. Dessa forma,
o tema da diversidade pode e deve ser debatido de forma transversal em diversos
momentos ao longo do ano letivo, pois são vários os objetos de conhecimento que
dialogam com ele.
Olha quanta riqueza! Trabalhando esses e outros tantos temas, as Ciências Huma-
nas contribuem para elucidar discussões que, mesmo que pareçam distantes, estão
muito próximas do debate da inclusão e podem, justamente por isso, contribuir
para a percepção dos estudantes e das estudantes quanto à importância do re-
conhecimento de uma sociedade diversa e de uma educação que reconheça essa
diversidade.
Bem, aí você, caro professor, cara professora, pode estar se perguntando: o que tem
a ver a criação de uma modalidade chamada educação do campo com a necessi-
dade de melhorar as escolas que existem no campo? Boa pergunta! Vamos buscar
compreender o contexto!
Pois bem, vamos partir desse pressuposto. Quando falamos de educação no campo,
estamos nos referindo a um ponto de referência, ao espaço propriamente dito. É
quase como dizer “onde ocorre a educação”. Nesse sentido, a educação no campo
é aquela onde as escolas, os estudantes e os profissionais da educação estão ali, no
campo, na zona rural, atendendo a determinadas localidades e comunidades.
Já a educação do campo é
Acho que agora conseguimos separar as coisas, não é mesmo? É necessário ter
esses pressupostos em mente para passarmos a discutir mais especificamente essa
modalidade, na perspectiva do DCRB e no viés da nossa área de conhecimento, as
Ciências Humanas.
O DCRB considera que a educação do campo deve ser produzida por muitas mãos e
que precisa atender às especificidades dos sujeitos do campo, desde a construção
do currículo à elaboração do material didático.
Se esse debate soa um tanto estranho aos sujeitos da cidade, ele tem forte res-
sonância nos sujeitos do campo. Muitos deles ouvem histórias, têm vizinhos ou
literalmente vivem na pele questões ligadas a especulação das terras e disputas
territoriais com grandes proprietários, posseiros e até grileiros. Muitos deles vivem
em acampamentos de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 116
Saiba mais..
Você conhece a legislação que versa sobre a educação do campo no Brasil? Vale a pena conferir!
Tenho certeza que sua mente está trabalhando a mil, tecendo várias ideias. É assim quando nos debruça-
mos sobre esses aprendizados e é por isso que defendemos a formação continuada!
Saiba mais..
Conhecer a legislação permite que você compreenda melhor os preceitos de cada modalidade.
É a vez da EJA!
http://forumeja.org.br/node/1183
Professor, professora! É fascinante debater este tema com vocês! Essa parada do
nosso trem na estação das modalidades está sendo muito especial.
É neste embalo, nesta viagem ritmada do vagão das Humanas, que pontuamos
alguns aspectos mais relevantes do trabalho que podemos desenvolver com o pú-
blico da educação do campo e avançamos, com o estalo do apito, para mais uma
modalidade de ensino, esta destinada a estudantes que, por um ou outro motivo,
precisaram se afastar da escola e retornaram, acompanhados de uma esperança
latente em conhecer o mundo pelos olhos da educação. Que venha a educação de
jovens e adultos!
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 117
Atenção!
Indicações de leitura!!!
A obra Educação de Jovens e Adultos: vivências e práticas interdisciplinares em Vera Cruz - BA,
de André de Oliveira Silva Ferreira, tem como proposta compreender a formação docente e
suas práticas pedagógicas, por meio da ação formativa na perspectiva da interdisciplinaridade,
com vista a proporcionar uma ressignificação no processo de ensino e aprendizagem na EJA, no
município de Vera Cruz.
Anos mais tarde, esse público consegue retornar à escola, fazendo um esforço in-
crível para conciliar os estudos com o seu trabalho e/ou família constituída, por
vezes objetivando recuperar conhecimentos, por vezes visando concluir os estudos
e conquistar a certificação que o habilite a atuar em algumas atividades laborais.
É, nossa missão não é nada fácil, pois precisamos refletir sobre como vamos seguir,
voltando nossa atenção, agora, para a nossa área de conhecimento.
Sendo a área das Ciências Humanas engajada em garantir uma formação crítica
e cidadã, seu trabalho com a EJA pressupõe considerar todos esses contextos,
adaptando a linguagem científica e formal para uma que se aproxime mais desse
público, não pela sua incapacidade de atingir outras linguagens, mas por ser função
da escola criar um ambiente de acolhimento e, não, de distanciamento. Cabe a nós,
professores, construirmos os caminhos pedagógicos que entrelacem os objetos
do conhecimento com a realidades desses educandos, contribuindo para que eles
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 118
sintam que o seu cotidiano pode e deve estar na escola, inclusive colaborando com
suas experiências de vida para o processo ensino e aprendizagem.
Saiba mais..
Um eixo temático de grande relevância pode ser, por exemplo, Formação e mundo
de trabalho. Adaptado para a realidade de cada Território de Identidade do estado
da Bahia e cada unidade escolar, o debate em pauta contempla uma das especifici-
dades da EJA, que é a composição de seu público, já que parte dele é formado por
sujeitos que já estão ou pretendem se inserir no mundo do trabalho.
Professor, professora, desejamos, por meio dessas abordagens, que vocês possam
lançar um novo olhar sobre essa modalidade de ensino. Encaramos a EJA como
uma oportunidade. Para o estudante e a estudante? Sim, com certeza. De retomar
os seus estudos, recuperar conhecimentos e adquirir a sua formação. Sobretudo,
encaramos a EJA como uma oportunidade para você, professor, para você, profes-
sora! Como assim? Como uma oportunidade para realizarmos um trabalho pautado
na contextualização, na interdisciplinaridade e na valorização dos conhecimentos
prévios dos estudantes.
Gostou desta parada? Sugerimos que leia outros materiais sobre EJA e busque mais
informações sobre o trabalho que vem acontecendo em várias escolas. Porque, por
melhor que seja estar aqui, o trem não pode parar, e a estação das modalidades
ainda nos reserva algumas preciosidades.
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 119
Uma educação construída por e para este público tem como premissa a valorização
da ancestralidade, vista como um fio condutor entre o legado dessas civilizações
historicamente subjugadas e um presente ainda em construção, pautada na luta
pela demarcação de suas terras e pela proibição, regularização e controle de ativi-
dades dentro delas.
Saiba mais..
Você sabe quantas línguas de origem indígena existiam no Brasil pré-colonial? Estima-se que
existiam 1.200. Isso mesmo, colega: 1.200 línguas indígenas no nosso país até a colonização pre-
datória europeia!
As línguas são, nas palavras do Museu do Índio, o repositório de tradições e conhecimentos co-
letivos e individuais, o seu veículo nos processos de transmissão de uma geração para outra.
Precisamos atentar a que a extraordinária diversidade cultural e linguística ainda existente no
Brasil, especialmente na região da Amazônia, está ameaçada e sua documentação exige um es-
forço imediato e coletivo. Hoje, calcula-se que o número de línguas indígenas faladas no Brasil
deve estar entre 150 e 180. Nestes cinco séculos de conquista e colonização, cerca de 85% dessas
línguas se perderam e, com elas, desapareceram inteiras configurações culturais e saberes de
valor incalculável.
Link: http://prodoclin.museudoindio.gov.br/
Outro elemento que atua com igual importância consiste na preservação da língua
e da cultura. Os idiomas indígenas, que são dezenas no país e, apesar de comprova-
da a importância de sua preservação, não são protegidos por legislação específica,
tornando-se a cada ano mais “rarefeitos” e mantidos apenas nos núcleos desses
grupamentos.
Vamos exercitar nossas mentes, caro professor? De que forma o trabalho da área de
conhecimento das Ciências Humanas pode atuar significativamente na formação
integral dos povos indígenas?
Saiba mais..
Link: http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-regulacao-e-supervisao-da-educacao-superior-
-seres/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/18692-educacao-indigena
Um passo importante nessa direção é justamente dar voz aos sujeitos e, antes
de ensinar, aprender com eles os seus costumes e tradições. Aliar os objetos de
conhecimento com o cotidiano das aldeias, apropriando-se das competências e
habilidades para promover debates a respeito, por exemplo, das lutas no Brasil por
direitos ao acesso a terras, incluindo aí a demarcação das terras indígenas, e do uso
sustentável da natureza, a partir das próprias práticas desses povos.
Por isso, insistimos: olhar por esta janela do vagão das Humanas sempre vai pro-
porcionar grandes surpresas e oportunidades de ressignificar a sua prática! E como
sabemos que isso é do seu interesse, que tal avançarmos para a última e não menos
importante modalidade?
Você sabia que a Bahia é o estado que apresenta o maior número de comunidades
remanescentes de quilombos? São um total de 718, segundo dados da Fundação
Palmares, publicados em 2016! Achamos interessante trazer esse dado logo no iní-
cio da discussão porque já nos dá uma ideia da importância da implementação e
normatização desta modalidade de ensino. Segundo Campos e Gallinari (2017):
Nesse sentido, foi por pressão do movimento negro, principalmente, que a neces-
sidade da educação escolar quilombola ganhou visibilidade e passou a ser debatida,
até ser transformada em lei e sancionada. A partir do momento em que se torna
uma modalidade, precisamos conhecê-la em seus princípios, a fim de não cometer
os mesmos erros históricos.
Atenção!
Existe um grande esforço dos movimentos sociais e de algumas instituições no sentido de mapear
as comunidades quilombolas no Brasil.
A Fundação Getulio Vargas produziu o Pequeno mapa dos quilombos, que identifica regiões de
quilombos e remanescentes atuais.
A Universidade Federal da Bahia, por meio do Grupo de Pesquisa GeografAR, elaborou o mapa
Comunidades negras rurais quilombolas por município, 2015, Estado da Bahia.
Link: https://atlas.fgv.br/marcos/trabalho-e-escravidao/mapas/pequeno-mapa-dos-quilombos
A Comunidade Rural Quilombola Remanso, na Bahia, usa a tradição oral e os saberes populares
na sala de aula
Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/1637/a-cultura-quilombola-na-escola
Paralela a essas questões e no bojo das discussões sobre a construção de uma edu-
cação libertadora, a educação escolar quilombola (EEQ) não deve, também, abrir
mão de chamar para o debate a questão da luta pela terra, políticas públicas de
acesso à terra e reforma agrária. Sendo a concentração da terra um dos fatores
essenciais para a compreensão dos quadros de desigualdade social no país, a luta
pela terra não se constitui apenas como uma bandeira, mas como um processo de
transformação social.
Além disso, são discussões inerentes à formação integral dos sujeitos e que preci-
sam ganhar coro em outros espaços, pois contribuirão, entre outras coisas, para o
aprendizado e o combate ao preconceito e ao racismo.
E você, professor da área de conhecimento das Ciências Humanas, como deve atuar
em sala de aula para promover uma educação lastreada nos princípios da EEQ?
Saiba mais..
Link: http://portal.mec.gov.br/pet/323-secretarias-112877938/
orgaos-vinculados-82187207/18693-educacao-quilombola
Aliás, por falar em África, quantas vezes, professor, professora, deixamos de traba-
lhar ou trabalhamos superficialmente os mapas do continente africano em nossas
aulas? Ou porque está no final do livro e não houve tempo suficiente para cumprir
o programa ou porque desconhecemos as suas minúcias e temos receio daquelas
perguntas que nos deixam sem respostas... Precisamos reposicionar o mapa da
África em nossa lista de prioridades, estudá-lo e apresentá-lo aos estudantes com
um vigor muito parecido ou igual ao que apresentamos os mapas do Brasil, com-
preendendo que tais mudanças de posturas contribuem para a formação de uma
perspectiva decolonial.
Professor, professora! Que ricas contribuições esse olhar pela janela nos trouxe,
hein? Estamos revigorados com esse debate, e vocês? Tenho plena certeza que sim!
Mais inspirador do que compreender a importância da educação é perceber que
as políticas públicas, por pressão dos movimentos sociais e dos grupos excluídos,
têm buscado promover essa educação para povos antes completamente excluídos.
Nada está resolvido e acabado, mas as ferramentas estão aí. Vamos nos apropriar
delas?
A educação básica abarca uma grande parte da nossa vida, especialmente aque-
las que chamamos de infância e adolescência. Nessas fases, em que dispomos de
grande potencial para desenvolver a cognição e a criatividade, a escola nos põe em
contato com outros sujeitos que vivenciam os mesmos sentimentos, os mesmos
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 123
Aqui nos dispomos, conforme o nosso público, que é o ensino fundamental – anos
finais, a discutir um pouco a adolescência e sua relação com a escola e o aprendi-
zado, pois, de acordo com o DCRB:
Atenção!
Fique atento, professor, professora!
Em nossa carreira, temos muitos desafios, e um deles é o de assumir uma posição de psicólogo
para nossos estudantes. É importante ouvi-los, pois muitos deles confiam totalmente em nós!
Contudo, em situações complexas e delicadas, busque, durante o diálogo, fazê-lo perceber que
é necessário procurar um atendimento especializado, com profissional devidamente preparado
para lidar com determinadas situações. Nossa boa vontade pode não ser suficiente e, ainda, pre-
judicar os adolescentes!
Como você pode observar, professor, nossos estudantes veem em nós algo que lhes
é peculiar, familiar. Transferem para nós o sentimento de carinho, mas também de
autoridade que enxergam em seus pais. Quantas vezes já vivenciamos situações
que atestam esse estudo? Quantos de nossos estudantes se aproximam, buscam
fazer amizade e, até mesmo, confidenciam situações delicadas a nós? É nesse sen-
tido que a escola e nós, professores e professoras, precisamos estar atentos para,
ao mesmo tempo em que acolhermos, sabermos delimitar o que cabe nessa relação.
Contudo, é importante frisar, também, que essa relação de transferência tem suas
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 124
Aí se configura um grande desafio para a escola e, claro, para nós! Como fazer uso
dessas próprias ferramentas, dispositivos e personagens para desenvolver o senso
crítico no adolescente, a ponto de que ele não entenda aquele processo como uma
negação aos elementos que o atraem, mas uma análise daquilo que vai ajudar a
construir a sua personalidade?
a) Organizador Curricular
1º ano
b) Unidades Temáticas
Cabe destacar aqui que o DCRB, a exemplo da BNCC, não é um documento fechado
e impositivo, por meio do qual o nosso currículo se torna engessado. Em verdade,
é o oposto disso. O documento indica caminhos, mas também ressalva que é im-
portante que cada professor analise o contexto de sua rede, sua escola e sua sala
de aula.
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 127
Saiba mais..
Professor, professora!
Fica a dica!
Vamos dar voz às nossas unidades temáticas? Devido ao grande número de unida-
des propostas pelo componente curricular história, não nos debruçaremos sobre
todas elas, sendo, então, esse texto um pequeno esforço de caracterização de algu-
mas unidades temáticas.
Esta unidade temática objetiva situar o estudante no espaço geográfico que ele ha-
bita. Trabalha, sobretudo, questões ligadas a orientação e localização e à constante
transformação nos processos e tecnologias que permitem a localização geográfica.
Cabe a esta unidade, também, evidenciar as territorialidades e especialidades que
o constituem enquanto cidadão do mundo, posto que as identidades territoriais
são múltiplas e multiescalares e afetadas por processos como a globalização, que
mundializa não somente a comunicação on-line, tão comumente utilizada na fase
da adolescência, mas também a guerra, a poluição e os problemas ambientais.
Conexões e escalas
Mundo do trabalho
c) Competências
Chegou a hora de compreendermos um pouco melhor o que são essas tais compe-
tências que os documentos BNCC e DCRB tanto mencionam e destacam. Sei que
você já leu sobre isso e tem algo em mente, mas será que podemos avançar nesse
entendimento? A compreensão correta deste item do organizador curricular fará
você ter uma visão mais ampla dos objetivos e das metas desses documentos. Então,
está pronto?
Segundo o DCRB, é preciso assumir uma política de currículo para a educação bá-
sica que se comprometa com a qualificação da formação para uma cidadania plena,
visando à confluência de saberes dos diversos campos para o desenvolvimento
integral dos estudantes.
Existem, portanto, as competências gerais, que são propostas pela BNCC e reafir-
madas pelo DCRB. Tais competências, como a própria nomenclatura indica, devem
ser consideradas e adotadas por todos e todas, independente da área de conheci-
mento e do componente curricular, pois tratam de mobilização de conhecimentos
para a formação cidadã e para a vida.
d) Habilidades
É nesse sentido que entendemos que a escola é um dos locais privilegiados para o
desenvolvimento de habilidades em crianças e adolescentes. É na escola que esses
sujeitos passam boa parte do seu dia e que criam laços afetivos, conexões, relações.
3. PELAS JANELAS DO VAGÃO: O QUE TEM? 132
Na escola, interagem com o outro e com o mundo e são estimulados a refletir sobre
essa interação.
Contudo, para isso, a escola precisa rever seu espaço físico, suas metodologias e
sua visão de mundo. Compreender que o estudante tem um grande potencial para
desenvolver habilidades requer atribuir a eles responsabilidades, comprometimen-
tos, mas também liberdade de expressão e de exercício da criatividade, da liderança
e do protagonismo.
e) Objetos de Conhecimento
O que propõe o DCRB, em comunhão com os preceitos da BNCC, é que essa centra-
lidade não seja mais adotada em termos de objetos de conhecimento; o documento
aponta para um deslocamento dessa centralidade, que passa a ser latente nos que-
sitos competências e habilidades.
A área de conhecimento das Ciências Humanas, pelo seu caráter crítico, transfor-
mador e ativo, pode se valer dessas prerrogativas para realizar um trabalho inova-
dor, discutindo a sociedade, suas atividades econômicas, formas de governo, seus
aspectos e suas contradições. Portanto, professores e professoras dessa área têm
um vasto campo para o desenvolvimento de habilidades e competências focadas na
leitura de mundo e na transformação social.
4. PARADA PARA DESCANSO: O QUE DESENHO? 134
PARADA PARA
4 DESCANSO: O
QUE DESENHO?
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 135
Palavras iniciais
Lembra desta cantiga, professora? Trouxe recordações, professor? Pois bem, a ideia
é essa, também! Somos sujeitos e, como sujeitos, somos além daquilo que os outros
podem ver! Assim são os nossos estudantes, são sujeitos além do que podemos ver,
além do que julgamos ser! E assim, são além da escola, são mais que estudantes,
mais que brincadeiras, mais que as notas! São sujeitos de direitos! E são sujeitos que
trazem consigo vivências que não podem ser ignoradas pela escola, conhecimentos
tecidos e construídos ao longo dessas experiências e que não podem ser silencia-
dos pelo professor!
E para o trem não descarrilhar, vamos seguir o nosso rumo e fazer um breve resu-
mo do que você encontrará nesta parada! Na primeira seção, discutiremos a neces-
sidade de as redes e unidades escolares implementarem a parte diversificada do
currículo, que é aquela que se diferencia da base comum por levar em consideração
as especificidades regionais e locais e, com isso, valorizar os conhecimentos produ-
zidos localmente e as experiências de vida dos estudantes.
Está pensando que parada é descanso? Parada não é descanso, não! Rs. Sim, é um
momento de fôlego, mas que tal aprender até enquanto você toma fôlego? Afinal,
aprender não precisa ser um ato doloroso. Aqui, propomos aprender como um ato
prazeroso! Piuí!!!!!
A aprovação do DCRB, bem como o esforço coletivo para estarmos aqui, discutindo
e aprendendo sobre esse documento, é parte integrante desse movimento que,
talvez, esteja ocorrendo em sua escola. Porém, se ainda não, em breve, você verá
que sua unidade escolar se mobilizará para discutir e reformular o próprio projeto
político-pedagógico.
Mas o que esta conversa tem a ver com parte diversificada do currículo? Falar em
parte diversificada é, sobretudo, retomar a LDB (9.394/1996) que, a despeito de
tantos outros documentos que foram produzidos posteriormente, ainda é a baliza
da educação brasileira. Em sua redação, no artigo 26, a LDB (9.394/1996) assegura:
Nesse sentido, como está devidamente garantido por lei, os aspectos regionais e
locais da sociedade, que incluem a cultura, a economia, o meio ambiente e outros,
precisam ser garantidos pela educação e pela escola.
Contudo, o que observamos, em alguns momentos da história humana, foi que esse
acesso ao conhecimento científico se fez dissociado do contexto dos estudantes,
como se a ciência fosse algo fechado e privilegiado e, por isso, sem conexão com o
cotidiano, dificultando a compreensão daqueles fenômenos tão distantes e aparen-
temente existentes apenas nas páginas dos livros.
Atenção!
Observe, professora! Fique atento a essa questão, professor!
Pense nisso!!!
Atualmente, a partir das reflexões de autores e profissionais com maior senso crí-
tico a respeito do fazer educação, conseguimos compreender a importância dos
conhecimentos regionais e locais tanto na vida desses e dessas estudantes, já que
refletem em seu comportamento, forma de pensar e até de ler o mundo, como no
seu processo educativo, pois o reconhecimento de seu cotidiano e de personalida-
des que estão inseridas em seu contexto por parte da escola favorecem a aproxima-
ção da criança do ambiente escolar e a compreensão da importância da educação.
Diante dessa nova realidade e desse novo olhar, os documentos oficiais passaram a
garantir, em sua redação, a existência concomitante de uma base nacional comum
e de uma parte diversificada, que deve ser definida por cada rede e até mesmo cada
unidade escolar. O DCRB (2020) traz essa preocupação, afirmando:
A BNCC está sendo complementada por uma parte diversificada que constitui
um todo integrado por meio do DCRB, e sua articulação deverá possibilitar
a sintonia dos interesses mais amplos de formação básica do cidadão com a
realidade local. As necessidades dos estudantes, as características regionais da
sociedade, da cultura e da economia perpassam todo o currículo. (BAHIA, 2020,
p. 148).
Fomos formados sob uma base cientificista, que preconizava a ciência como co-
nhecimento maior, como representante da verdade inquestionável. No bojo dessa
convicção, o livro didático emerge como a voz dessa grande verdade. É nele que se
encontram, traduzidas em palavras, todas as premissas científicas de cada área de
conhecimento e de cada componente curricular.
Atenção!
Professor!
É hora de abandonar o livro didático? Não é isso que estamos defendendo. O livro didático é de
suma importância para o trabalho pedagógico e vem adquirindo mais qualidade e atualização após
a criação do PNLD – Programa Nacional do Livro Didático. Estamos apenas afirmando que o livro
precisa ser encarado como mais uma, e não como única ferramenta conceitual de trabalho. Além
disso, o livro didático precisa, sim, ser analisado de forma crítica pelos professores que o ado-
tarão, sendo possível fazer correções e adaptações de suas abordagens e propostas de trabalho.
Com isso, trabalhar uma parte diversificada na escola que valorize, por exemplo,
a história local, mas que encontre dificuldades de catalogar produções escritas,
como livros, artigos, documentos antigos, deixam muitos professores inseguros,
sem saber por onde começar, visto que, em seu trabalho cotidiano e com o seu
componente curricular, nada era feito sem a orientação do livro didático.
Mas, neste momento, nos interessa aprofundar o debate sobre a relevância das
possíveis articulações entre as Ciências Humanas e a parte diversificada do cur-
rículo e, nesse sentido, acreditamos que a nossa área de conhecimento tem um
papel fundamental no trabalho com os saberes regionais e locais e as vivências dos
estudantes.
O que fica evidente para nós é que a garantia de uma parte diversificada no currícu-
lo da educação básica, destacadamente para os anos finais do ensino fundamental,
é um ganho qualitativo e uma forma de assegurar o papel da educação na manu-
tenção e preservação de conhecimentos e saberes regionais e locais, fortemente
ameaçados por ondas globalizantes e por falta de investimento em valorização
cultural em determinadas regiões e realidades.
4.1.3 Resolução CEE nº 137/2019: o que diz, onde nosso vagão se encaixa
Observe, professor, professora, que estas sugestões denotam, entre outros aspec-
tos, a importância da territorialidade para o currículo pensado e construído para e
pelo estado da Bahia. A noção de pertencimento e de identidade territorial devem
ser valorizadas no tratamento das questões que versam sobre a parte diversificada,
visto que estas concepções se vinculam, fortemente, à formação cidadã e humana
dos estudantes, fora e dentro da escola, em consonância com os espaços que habi-
tam e que reproduzem.
Saiba mais...
Professora, professor! Para conhecer um pouco mais a história por trás da história de alguns
eventos marcantes do estado da Bahia, que tiveram o seu conhecimento comprometido pelo dis-
curso hegemônico, recomendamos leituras sobre:
Sabinada (1837-1838)
Leitura indicada:
No momento, não nos cabe fazer esse debate teórico mais aprofundado, o que exi-
giria muitas e muitas páginas. Mas as ferramentas de busca na internet e nas atual-
mente quase abandonadas bibliotecas são importantes fontes de pesquisa para que
desempenhemos, conscientemente, a nossa tarefa enquanto educadores. Por isso,
professor, professora, não perca de vista que nossa profissão não se resume ao ato
de ministrar aulas! Aliás, sei que não precisamos dizer isso a você!
! Exercemos inúmeros papéis, até mesmo aqueles para os quais, muitas vezes, nem
estamos preparados, e já discutimos isso em outra oportunidade.
Pois bem, vamos lá! Mesmo que não caiba agora essa distinção conceitual mais ampla,
é fundamental para este momento dos seus estudos a compreensão de um desses
conceitos, e você perceberá o porquê. Tratemos do conceito de transversalidade.
e aos objetivos de cada área. Dessa maneira, o trabalho com os temas transversais
reafirma a necessidade de o estudante identificar a escola como um espaço de con-
vívio, em que os conflitos sociais e as questões que permeiam a sua vida também se
inserem, de uma forma ou de outra, no cotidiano escolar.
Para melhor definir o conceito de temas transversais, o PCN reitera que esses
temas pressupõem um tratamento integrado das áreas e uma coerência entre os
valores vividos no cotidiano e o que aprendemos sobre eles, por meio das ciências.
Vamos exemplificar? O tema transversal Orientação Sexual pode ter como subte-
mas, por exemplo, “relações de gênero” e “prevenção contra doenças sexualmente
transmissíveis (DST)”. Questões relacionadas às DST podem ser trabalhadas com
atividades direcionadas pelo professor de Ciências, ao passo que as relações de
gênero podem ser vistas sob o olhar da história, que abre possibilidade para uma
aula sobre os movimentos sociais no Brasil.
Trem “bão” é trem assim: até nas paradas o conhecimento se refaz! E lá vamos
nós para mais uma discussão essencial nesta viagem: de que forma os diversos
4. PARADA PARA DESCANSO: O QUE DESENHO? 144
Nesse sentido, a transversalidade proposta a partir dos temas Ética, Saúde, Meio
Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural e Trabalho e Consumo pressupõe
um compromisso das relações interpessoais e sociais escolares com as questões
abordadas e trabalhadas nos temas, exigindo de cada unidade escolar um trabalho
integrado com as diferentes áreas do conhecimento.
Esse trabalho integrado, vale destacar, se fará possível por meio do planejamento,
pois exige uma articulação da escola e do corpo docente para que sejam definidos:
quais temas terão prioridade, quais objetos de conhecimento são mais adequados
para serem trabalhados pela sua vinculação aos temas, quais atividades e avaliações
podem ser articuladas ao contexto. Esse momento exige, como se pode perceber,
um esforço para a realização de um trabalho interdisciplinar, pois favorece à com-
preensão de unicidade e não de fragmentação.
Acho que ficou bem detalhada a concepção de temas transversais nos PCN, hein,
professor? Pois é, mas eis que chega a BNCC! E agora, quais os caminhos tomados
pela transversalidade?
Atenção!
Por incluir na pauta, além da transversalidade, a interdisciplinaridade, a redação final da BNCC
considerou a terminologia Temas Contemporâneos.
Na BNCC há uma ampliação dos temas, que totalizam 15 , para atender às novas
demandas de uma sociedade em constante transformação. Esses temas estão agru-
pados em seis macroáreas. Veja o diagrama a seguir.
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 145
MEIO AMBIENTE
Educação ambiental
Educação para o consumo
O DCRB trata os temas que discutem questões de interesse social, como temas
integradores. No texto introdutório da seção referente a esses temas, o documento
afirma que eles buscam a construção da aprendizagem com sentido e significado, a
partir do estabelecimento de uma ligação entre os componentes curriculares e as
áreas de conhecimento. Assim,
V. Educação Ambiental
Esta discussão é enriquecedora, não é mesmo? Penso que está evidente que a pro-
posta gira sempre em torno de temas de interesse social, que aproximam a reali-
dade do país e do lugar ao cotidiano escolar e que mostram o sentido do aprender,
do ser cidadão em uma sociedade cheia de demandas e de questões pertinentes.
Em cada documento, os temas recebem nomes diferentes – temas transversais
nos PCN, temas contemporâneos na BNCC, temas integradores no DCRB –, mas
representam, sempre, as demandas que precisam ser compreendidas em sua com-
plexidade e que somente o serão quando passarem a fazer parte da vida de nossas
crianças, adolescentes e adultos, com abordagens e linguagens adequadas a cada
faixa etária e perfil de escola.
Para nós, está evidente, também, que não poderíamos falar de educação integral ou
educação emancipadora se os objetos de conhecimento, as aulas que ministramos,
não estiverem permeadas por esses temas. Sejam eles transversais, contemporâ-
neos ou integradores, os temas propõem essa aproximação com a realidade e, por
isso, enriquecem o fazer pedagógico, como também nos proporcionam formação
como profissionais e como pessoas, à medida que aprofundamos os conhecimentos
e aprendemos juntos.
Agora, sim! Acho que a abordagem feita na seção anterior ajudou a dar mais visi-
bilidade ao tema, estamos certos? Viu como foi importante fazer essa análise? Os
documentos, às vezes, trocam os nomes de alguns indicadores, alguns processos, e
nos deixam confusos. Por isso preferimos fazer essa diferenciação. Agora podemos
seguir com uma análise mais pontual do que precisamos compreender mais pro-
fundamente e trazer o debate para nossa área de conhecimento!
É essa a parte mais “saborosa” para nós, hein? Discutir a aplicabilidade do que dis-
cutimos, rs! Afinal, de que adianta compreender os conceitos de transversalidade e de
temas integradores se não for para preparar aquela aula incrível?
Pois bem, vamos juntos para mais um desafio! Vamos debater agora como o conhe-
cimento pode nos ajudar a tratar os objetos de conhecimento da nossa área das
Ciências Humanas e como podemos propor atividades possíveis e instigantes para
nossas turmas.
Os temas integradores, como vimos, não são novas áreas e nem mesmo novos
objetos de conhecimento. São discussões pertinentes ao cotidiano e à vida em
sociedade. Nós, professores de Ciências Humanas, conhecemos bem essa prática
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 147
de discutir o cotidiano, não é verdade? Então, para nós, o trabalho com os temas
integradores é mais um “ingrediente” para a construção das aulas, visto que pode
ampliar e enriquecer bastante os debates propostos em sala.
Então, não se preocupe se, por exemplo, ao trabalhar Saúde na Escola você não
consiga “encaixar” uma discussão sobre paisagem. É possível, mas, se você não
compreender como fundamental e pertinente, confie nas suas escolhas.
De acordo com o que já foi exposto, um bom planejamento inclui discussões com
funcionários da escola e estudantes, se não todos, alguns representantes. Afinal,
como levar em consideração e valorizar o conhecimento prévio sem fomentar o
protagonismo do estudante? Como desconsiderar a participação de funcionários
de escola se eles estão em constante contato com os estudantes, em espaços diver-
sos e diferentes da sala de aula?
Sem perder o rumo da nossa prosa e sem sair dos trilhos da Maria Fumaça, va-
mos enveredar na discussão de uma das grandes ferramentas do processo de
ensino-aprendizagem: o planejamento. A priori, queremos enfatizar neste ponto
do debate e, para contribuir, vamos em busca da visão de alguns autores sobre as
possibilidades e estratégias adotadas no ato de planejar e como cada uma delas
pode e deve ser explorada em sala de aula, visando contribuir com a aprendizagem
dos estudantes.
b) Sequência didática
Segundo Araújo (2013, p. 323), a sequência didática consiste em “[...] um modo de
o professor organizar as atividades de ensino em função de núcleos temáticos e
procedimentais”. Para a autora, o professor que opta por trabalhar com sequência
didática precisa estar atento ao seu planejamento, pois esse caminho exige que seja
aplicada uma produção diagnóstica, a partir da qual o professor avalia e ajusta as
atividades e os exercícios posteriores que compõem a sequência.
Saiba mais...
Professor,
para conhecer um pouco mais sobre elaboração de sequências didáticas, assista a palestra indi-
cada no link a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=py1va5sjKfk
c) Projeto
O trabalho com projetos ganhou força no Brasil nas últimas décadas. Guimarães
e Marin (1998) apontam uma concepção de projeto pedagógico sobre a qual vale a
pena refletir. Para as autoras:
d) Trilha de aprendizagem
A trilha de aprendizagem é um dos caminhos para a diversificação das atividades
em sala de aula. A utilização das trilhas facilita, por exemplo, o uso das metodolo-
gias ativas, visto que propõe um conjunto de atividades e, necessariamente, estas
precisam ser diversas, para não se tornarem enfadonhas para os estudantes.
A iniciativa, adotada também por outros estados, foi uma estratégia de acesso aos
estudos no contexto pandêmico.
Saiba mais...
Link: http://estudantes.educacao.ba.gov.br/cadernos-de-apoio
Quantas vezes você já parou e pensou ou verbalizou: “Por que planejar, se eu chego
em sala e acontece tudo diferente?”; “Não planejo mais; sempre que quero usar
o Datashow, perco meia hora da aula só para achar o cabo conector e conseguir
instalar”; “Não dá! Não consigo fazer tudo que planejei, isso é perda de tempo!”.
b) Objetos de conhecimento
c) Procedimentos metodológicos
d) Processos avaliativos
Nesse sentido, cabe entender que é nosso papel articular os elementos compo-
nentes com os elementos propostos pelos referenciais curriculares. É esse elo que
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 151
Esta é a chave que precisamos virar! Saber planejar! Aí, os atrasos em sua aula con-
tinuarão sendo irritantes, sempre são. Mas aquilo que às vezes era considerado
como atraso – um estudante que demorou em realizar uma atividade; outro que
perguntou várias vezes a mesma coisa – não será mais visto como atraso, mas como
parte do processo formativo.
Educação é isso: interação entre sujeitos, dedicação aos detalhes, tempo, parcimô-
nia. Esta é a educação que se pretende, esta é a educação que emancipa os sujeitos.
5. INTERAGINDO ENTRE VAGÕES 152
5 INTERAGINDO
ENTRE VAGÕES
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 153
Desafio grande! Mas achamos que é possível, sim. E para tentar esse contato, vamos
seguir alguns passos em nossa abordagem. Primeiramente, vamos exercitar as nos-
sas práticas pedagógicas! Vamos ver como é possível articular os pontos essenciais
dos aprendizados construídos ao longo da viagem e elaborar atividades e exercícios
que trabalhem, efetivamente, os elementos dos nossos documentos base, em des-
taque o DCRB.
Em seguida, faremos uma análise muito interessante das metodologias ativas, que
são formas de ensinar e aprender de uma maneira mais interativa, dialógica, di-
ferenciada e autônoma. As metodologias ativas já fazem parte do nosso cotidiano,
porém vamos discutir o uso mais adequado delas e nos familiarizar com outras.
Essas estratégias podem nos ajudar na tarefa de fortalecer a comunicação com os
outros vagões.
! Lembre-se, professor!
O DCRB é um documento aberto e orientador. Isso quer dizer que ele está
sempre em construção e que apenas indica as possibilidades de trabalho,
deixando você sempre livre para selecionar – dentro das especificidades do PPP
da sua unidade escolar, do seu trabalho e dos seus objetivos de aprendizagem –
aqueles elementos que melhor dão conta de suas intencionalidades pedagógicas.
5. INTERAGINDO ENTRE VAGÕES 154
7º ano
Compe-
Unidades Objetos de
tências Habilidades
temáticas conhecimento
específicas
Pense um pouco... Hum, será que essa aula pode ser mais divertida e interativa se
for planejada por meio de uma trilha de aprendizagem? Precisamos destacar que a
elaboração da trilha exige estudo acerca do tema pelo professor, problematização
sobre questões que envolvem o tema, cruzando conhecimentos com outros com-
ponentes, criatividade (lembra do conceito?), mediação e aprendizagem colabora-
tiva; sendo assim, nunca será um mero questionário.
Primeiramente, é preciso definir muito bem quais são os seus elementos estruturais,
aquilo que já está orientado pela BNCC e pelo DCRB. Assim, de acordo com a imagem
da tabela que mostra a disposição dos elementos no DCRB, a sua trilha já tem o
objeto de conhecimento e as habilidades a serem trabalhadas. Há um indicativo das
competências específicas, mas você pode “filtrar” isso e focar em algumas delas.
Você define que, diante do que já foi trabalhado em outras unidades temáticas, é
interessante selecionar as competências específicas números 2, 4 e 6.
Ah, mas... um minuto! Lembra-se de que uma trilha de aprendizagem fica muito
mais criativa se for realizada de forma interdisciplinar!
Agora sim: juntos, os dois professores da área do conhecimento das Ciências Huma-
nas vão elaborar uma bela atividade. Após o diálogo, vocês acertam alguns pontos,
fazem adaptações. Por exemplo, você abre mão de uma competência específica,
sai a número 4. Percebe, também, que os objetivos de aprendizagem precisam ser
revistos para incorporar as competências e habilidades propostas pelo professor
de história. Os resultados mais substanciais começam a aparecer.
Hum! Olha isso! Parabéns, professores! Mas isso é só o começo! Como assim? Bem,
vocês listaram os elementos essenciais de orientação para a realização da trilha!
Ficou bem grandinho, é verdade, mas ainda faltam as atividades, ora!
Atenção!
Professor, esta parte inicial de sua trilha se torna necessária, neste modelo, para que você perceba
como ele foi construído, e também é uma parte importante da trilha de aprendizagem, mesmo que
pareça um pouco enfadonho para crianças e adolescentes, sempre muito objetivos. O estudante
precisa saber o que está aprendendo e a partir de que elementos será avaliado. Contudo, o DCRB
deve se tornar um documento acessível, e com o avanço das mídias e do acesso em sala de aula, as
escolas podem, por exemplo, adotar a inclusão somente dos códigos numéricos e alfanuméricos,
cabendo ao aluno pesquisar e identificar quais são esses elementos.
Sugestões de atividades:
Ficou bacana, não é? Sim, dá trabalho mesmo! Exige um esforço de pesquisa, comu-
nicação, trabalho colaborativo, parceria, planejamento. Mas os resultados tendem
a ser gratificantes.
Poderíamos trazer mais exemplos. No entanto, é muito mais proveitoso que você
construa seus próprios modelos usando as propostas aqui apresentadas como ins-
piração. Assim, fica a dica: reserve um tempinho durante este curso e construa
algumas trilhas de aprendizagem, de sequências didáticas, de planos de aulas. Esse
é o seu momento, é a hora de encarar esse desafio. As ferramentas já estão aqui e a
sua dedicação e interesse em estar conosco faz toda a diferença!
Contudo, esse esforço não é possível se nós, professores, também não reformular-
mos as nossas práticas. É preciso rever as nossas formas de ensinar e aprender, o
que não implica deixar para trás tudo que aprendemos ao longo de nossa carreira,
mas, sim, refletir sobre as ações pedagógicas que realizamos à luz de um mundo
em constante transformação. Se o mundo muda, por que a educação seria estática,
não é mesmo?
Todavia, sentimos que as tecnologias chegaram até a escola sem que houvesse uma
preocupação com a formação continuada dos professores quanto ao seu bom uso.
Em decorrência disso, os recursos eram utilizados, porém não havia uma otimiza-
ção do tempo – em virtude da dificuldade de conectar os aparelhos –, uma difusão
por toda a escola – alguns professores não sabiam e tinham resistência em usar –,
e não havia uma diversificação dos processos avaliativos aliados a essas tecnologias.
Saiba mais...
Segundo notícia veiculada no site UOL, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco) contabilizou, já em março de 2020, ou seja, nos primeiros meses da
pandemia, que 80% dos estudantes do mundo não estavam frequentando as salas de aula, o que
representava um total de 1,37 bilhão de estudantes.
Aliado a este dado, mais de 60 milhões de professores estavam privados do seu direito de ensinar.
No ano de 2020, a pandemia surpreendeu a todos nós! No início, quando nada sa-
bíamos daquele vírus, a ordem era o distanciamento social e a adoção de medidas
sanitárias, que já conhecemos bem.
Figura
1 – Tendências
emergentes na
educação
Responsabilidade Pensamento Salas de aula Pedagogia Fonte: Caniggia Carneiro,
digital computacional colaborativas inovadora 2021.
Ensino híbrido
Os modelos de ensino híbrido podem ser divididos em quatro: modelos rotacionais,
modelo flex, modelo à la carte e modelo virtual aprimorado. São quatro os modelos
rotacionais. Vamos tentar entender qual é a proposta de cada um deles?
Fonte: Caniggia
Carneiro, 2021.
Rotação por estação, laboratório rotacional e sala de aula invertida são agrupados
nos chamados modelos sustentados, o que implica dizer que adotam característi-
cas que se aproximam do ensino tradicional.
Vamos de exemplos?
Leitura de material
Observação de mapas
Exibição de vídeo e apontamentos
Como ficou evidente, as metodologias citadas até aqui têm relação direta com o
ensino híbrido. No entanto, existem outras metodologias ativas, algumas que, na
verdade, já são trabalhadas em sala de aula há bastante tempo, outras mais recentes.
O importante é sempre ter em mente que não existe uma ou outra metodologia
melhor, e, sim, aquela que mais se adequa à situação e ao contexto.
Portanto, fique sempre atento a esses questionamentos: o que quero com a aula
de hoje? Quais habilidades pretendo desenvolver? Quais as condições que tenho
para desenvolver essas habilidades? Que metodologia me ajudará a desenvolver
essas habilidades? A partir dessas análises, você terá a possibilidade de selecionar
a metodologia mais pertinente.
Promoção de seminários
Como afirmamos, metodologia ativa nem sempre envolve uma “reinvenção da roda”
ou mesmo o uso de tecnologias informacionais, pois você busca inovar sempre e já
pratica muitas dessas ideias. Estamos ressaltando isso para que possamos elencar
as sugestões e para que você perceba a importância do seu trabalho. Às vezes, a
falta de tempo é um ponto que necessita ser ressignificado em nosso fazer pedagó-
gico para que, de fato, possamos colher os frutos plantados.
Exemplo:
Gamificação
Existe uma confusão na definição desta estratégia metodológica. A gamificação
permite que trabalhemos jogos em sala de aula. Na era da informática e dos smar-
tphones, os jogos fazem cada vez mais parte do cotidiano de crianças e adolescentes
e, por estarem na palma da mão, não é incomum que sejam o motivo da desatenção
em sala de aula. Mas que tal tirar a posição de vilão que os jogos assumiram e tra-
zê-los para o contexto educacional?
Jogos interativos podem favorecer o raciocínio lógico, a agilidade, a busca por de-
sempenho e a resolução de problemas. Permitem que o professor trabalhe o objeto
de conhecimento de forma lúdica e correlacionando-o com temas atuais e atrativos,
além de diversificar o momento da aula com o uso dos recursos gráficos do jogo.
Exemplo:
Objeto de conhecimento: biodiversidade brasileira
Por isso, é importante que haja uma preocupação em trabalhar situações cotidianas,
que envolvam a realidade do município, dos bairros daqueles estudantes, o que os
faz compreenderem melhor a proximidade existente entre escola e sociedade e
fortalece as concepções de cidadania e protagonismo.
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 163
Exemplo:
Exemplo:
Estudo de caso
Esta metodologia ativa também já é muito utilizada em sala de aula e envolve a
apreensão de habilidades voltadas para a resolução de um problema aliada à con-
fecção de um produto.
Neste caso, há um momento em que a teoria será trabalhada por meio dos objetos
de conhecimento, porém, o resultado final consiste na produção de algo que ma-
terialize o aprendizado, estimulando a reflexão, a associação e o protagonismo. Tal
produção se configura como o resultado final do processo ensino-aprendizagem
para aquele momento pedagógico.
É uma metodologia muito associada à cultura maker, que veremos logo adiante.
Exemplo:
Design thinking
É também uma metodologia voltada para a resolução de problemas, na qual o estu-
dante precisa compreender o processo em curso ou problema, colocar-se imerso
na situação e propor maneiras de resolvê-la por meio da elaboração de uma pro-
posta concreta, criativa e viável.
É mais fácil compreendermos essa estratégia a partir de suas etapas, que são:
a) Empatia
Mostrar-se capaz de abrir mão de pré-julgamentos e olhar a situação a partir do
outro, colocando-se em seu lugar e pensando o problema a partir desse olhar, o
que proporcionará a busca de uma solução adequada a quem vive a situação, e não
a quem analisa.
b) Definição
Nesse momento, é necessária a participação de todos, pois a variedade de perspec-
tivas irá enriquecer a discussão e contribuir com o processo criativo.
c) Ideação
Faz com que os possíveis erros e verdades que pareciam absolutos apareçam e seja
possível rever os critérios que levaram à adoção daquela proposta. O importante é
compreender que o erro é parte integrante da construção do conhecimento e que
a testagem permite que ele seja mitigado.
d) Prototipagem
Consiste na materialização simplificada da ideia, na construção de um modelo que
exponha a proposta de solução e como funcionaria.
e) Testagem
Permite avaliar os prós e os contras da adoção desta solução e se configura como
uma importante ferramenta de avaliação.
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 165
Exemplo:
Criação de um
modelo de campanha
de preservação dos
biomas em Nazaré
Elaboração para veiculação na
de propostas TV e na internet
empatizar idear testar
Cultura maker
O nome pode distanciar um pouco e dar uma ideia de algo muito sofisticado e de
difícil aplicação. Contudo, é exatamente o contrário. Esta metodologia se refere a
uma prática em que o estudante ou grupo de estudantes cria algo que será poste-
riormente montado por ferramentas da informática ou objetos físicos.
Uma boa aplicação da cultura maker precisa atentar para a idealização de três
etapas: criatividade, colaboração e sustentabilidade. O estudante maker precisa
estar atento ao seu entorno e propor inovações no ato de sua criação. Todavia, o
processo de criação precisa ser colaborativo, em que cada um contribui naquilo
que se destaca mais (design, cálculo, comunicação, liderança). Ao mesmo tempo,
projetos makers estão antenados com a necessidade de serem, também, sustentá-
veis, evitando o desperdício de materiais e reduzindo o quanto possível os impactos
de seus projetos no ambiente.
5. INTERAGINDO ENTRE VAGÕES 166
Exemplo:
E aí, gostou dos exemplos! Espero que... Calma aí! Faltou alguma coisa? Hum, faltou,
sim. Não conversamos com os vagões! Como poderíamos esquecer dessa parte tão
especial e que mencionamos lá no começo?
Vamos reservar, então, uma parte especial para esse debate, e é agora. Seguem
algumas propostas de como interagir com as demais áreas do conhecimento e
componentes curriculares.
Habilidades: (EF07MA36)
CIÊNCIAS HUMANAS | Anos finais 167
Habilidades: (EF67LP20)
Devemos ficar atentos para o fato de que essa teoria não desvaloriza a importância
de nenhum desses processos, como a leitura, por exemplo, colocada como a menos
eficaz. O que preconiza é que estamos diante de gerações diferentes que deman-
dam métodos diferentes de aprendizagem e que alguns desses processos, isolados,
não obtêm os resultados esperados, mas que somados, são fundamentais para o
processo como um todo.
Atenção!
Professor, revisite o Capítulo 2 e reveja o que defendemos como especificidades da área de Ciên-
cias Humanas!
essencial, mas cada município e cada unidade escolar vive uma realidade que não
pode ser sobreposta pelos documentos basilares. É por isso que o DCRB é apresen-
tado como um documento aberto, em construção.
Atenção!
Reveja o Capítulo 3 para compreender as especificidades das modalidades de ensino! Lembre-se
que as modalidades foram resultado de lutas sociais e conquistas por parte de movimentos que
reivindicam o direito de acesso à educação de qualidade.
Saiba mais...
A educação especial consegue ser ainda mais específica, pois, em uma mesma sala
de aula, podemos encontrar estudantes com diferentes deficiências, o que exige do
professor ainda mais atenção e responsabilidade, tanto na socialização do conhe-
cimento quanto nos processos metodológicos selecionados e nas formas de avaliar.
Mesmo que haja um auxiliar de sala especializado, que esteja atento ao seu trabalho
e dê todo o apoio, o professor precisa estar atento para compreender os processos
de aprendizagem desses estudantes e pensar formas de avaliar que lhe permita
garantir essas aprendizagens
Para o DCRB,
A avaliação ampla, integral, sistêmica contribui para que o estudante avance no cur-
so de seus estudos e processos formativos. Pautada em competências e habilidades,
a avaliação para a aprendizagem permite um melhor diagnóstico dos processos
cognitivos e uma verificação mais realista das dificuldades que as crianças e jovens
enfrentam no processo ensino e aprendizagem.
6. SEGUINDO A VIAGEM...
SEGUINDO A
6 VIAGEM: A
TRANSIÇÃO PARA
O ENSINO MÉDIO
Anos finais 179
Estamos chegando ao final de nossa viagem! Nem acreditamos que passou tão rápi-
do. Mas ainda temos uma surpresa no último trecho do nosso percurso
Recarregue suas baterias e venha comigo atender ao último apito deste trem!
Agora, queremos olhar a bela paisagem que se descortina à nossa frente pintada pe-
las cores das mudanças e das transformações que são vivenciadas pelos estudantes
ao longo da sua formação nos anos finais do ensino fundamental e experienciando
a transição dos anos finais para o ensino médio.
Vamos pensar um pouco sobre isso para fecharmos nossa viagem com chave de
ouro?
Vale ressaltar que, para cada competência específica que compõe as áreas de co-
nhecimento, a BNCC apresenta um conjunto de habilidades a serem alcançadas ao
longo dos três anos do ensino médio.
Saiba mais...
https://fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/construcao-projeto-de-vida-escola-apoiar-es-
tudante
Dito isso, vamos retomar a discussão sobre o ensino médio, que se organiza, na
atualidade, a partir de uma nova arquitetura curricular composta por duas partes
indissociáveis: Formação Geral Básica (FGB) e Itinerário Formativo. Quanto à carga
horária, serão destinadas até 1.800 horas para FGB e mínimo de 1.200 horas para os
itinerários formativos, podendo funcionar por até cinco anos e, a partir daí, chegar
a 4.200 horas. A orientação a respeito dessa carga horária é que a ampliação ocorra
gradativamente até que se alcance o perfil de escola integral e de tempo integral.
Isso requer gestores e professores atentos ao que pensam esses estudantes nesse
momento de vida. Será que existem diálogos sobre os seus projetos, expectativas,
sentimentos? Quais estratégias eles podem desenvolver para um maior enfrenta-
mento dos aspectos difíceis que emergem em sua transição nessa fase escolar?
Quais as demandas e expectativas que têm em relação à escola? Está, então, posto
o desafio.
Saiba mais...
http://estudantes.educacao.ba.gov.br/1ª-serie-ensino-medio-projeto-de-vida
Além dessas ações, sugerimos, ainda, encontros entre professores e gestão, tanto
dos anos finais do ensino fundamental quanto do ensino médio, para, juntos, de-
senvolverem outras práticas que sejam pertinentes às possibilidades institucionais
e à realidade e necessidades dos estudantes. E, também, intercâmbio entre escolas,
em que se trabalhe o protagonismo dos estudantes do segmento posterior, apre-
sentando suas experiências pessoais e acadêmicas aos estudantes em transição; e
visitas guiadas às escolas do segmento posterior (fundamental anos finais para os
Anos finais 183
anos iniciais; ensino médio para o fundamental anos finais) para que eles entendam
a estrutura e cultura desta nova etapa de ensino.
Não esqueçamos que essa transição se configura como um momento rico que a es-
cola pode utilizar para apresentar e socializar demandas da juventude em diversos
contextos, sendo essencial a participação dos estudantes a fim de desenvolverem
sua autonomia, percebendo-se aptos a escreverem a própria história, com uma
rede de apoio que os acolhe e incentiva.
BIBLIOGRAFIA 178
BIBLIOGRAFIA
CAPÍTULO 1
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