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Aula Teórica

6 março

2022/2023

Personalidade
As Contribuições da Perspetiva Psicodinâmica à Personalidade I:
e Diferenças
Individuais
A Perspetiva Psicanalítica Clássica de S. Freud

Joana Henriques Calado

1
Sumário
OS CONTRIBUTOS DA PSICANÁLISE
CLÁSSICA DE FREUD AO ESTUDO DA
PERSONALIDADE
• As principais premissas da Psicanálise
• Os oito principais contributos Freudianos
• Conceções psicodinâmicas da Personalidade

2
Médico vienense, fundador da Psicanálise.

Sigmund A sua obra, traduzida em cerca de trinta Línguas, é composta por


vinte e quatro livros e por cento e vinte e três artigos.
Freud
(1856-1939) Psicanálise – termo inventado por S. Freud, em 1896, para
nomear um método particular de psicoterapia (ou tratamento
pela fala) proveniente do processo catártico e baseado na
exploração do inconsciente, com a ajuda da associação livre,
por parte do paciente, e da interpretação, por parte do
psicanalista.

Por extensão, dá-se o nome de Psicanálise: 1) ao tratamento


conduzido de acordo com este método, 2) à disciplina fundada
por Freud, na medida em que abrange um método terapêutico,
uma organização clínica, uma técnica psicanalítica, um sistema
de pensamento e uma modalidade de transmissão do saber, 3)
ao movimento psicanalítico, i.e., a uma escola de pensamento
que engloba todas as correntes do freudismo.

In Dicionário de Psicanálise (2000)

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AS PRINCIPAIS PREMISSAS DA PSICANÁLISE:

1) O primado do Inconsciente

2) Causalidade psíquica

3) A importância crítica das experiências


precoces no desenvolvimento

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1) O primado do Inconsciente. Termo usado por vezes para exprimir o
conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da
Inconsciente consciência.

No sentido “tópico”, designa um sistema constituído por


conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao
sistema pré-consciente/consciente pela ação do
recalcamento.

Inconsciente enquanto sistema definido por: conteúdos que


são representantes das pulsões; processo primário; ausência
de negação/contraditório, da dúvida, do grau de certeza;
intemporalidade; indiferença perante a realidade e
regulação exclusivamente pelo princípio do desprazer-
prazer; substituição da realidade externa pela realidade
psíquica.

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1) O primado do O Inconsciente pode ser simultaneamente considerado
Inconsciente como a criação, ao longo de cada existência pessoal (de um
recetáculo do recalcamento), mas também como um
elemento primordial, ou seja:

▪ De um ponto de vista psicológico: tudo o que é


consciente começou por ser inconsciente;
▪ De um ponto de vista biológico: o Id é o grande
reservatório das pulsões;
▪ Por intermédio filogenético, um núcleo ancestral.

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2) Causalidade
psíquica (ou Na mente nada acontece ao acaso ou de modo
determinismo fortuito, sendo que cada acontecimento psíquico é
determinado por outros que o precederam, não
psíquico) havendo descontinuidade na vida mental.
Modelo da multicausalidade, várias causas podem
produzir um mesmo efeito – mesmo aquilo que possa
parecer uma “casualidade” está fortemente
determinado por uma múltipla “causalidade
psicológica”.

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3) A importância Enfatiza-se que a infância (os primeiros anos de
crítica das vida) desempenham um papel crucial no
experiências desenvolvimento e instituem-se como
precoces no determinantes do desenvolvimento da
desenvolvimento personalidade e do seu funcionamento.

As fases de desenvolvimento precoce representam


períodos críticos (são momentos de
desenvolvimento-chave), com repercussões diretas
e em continuidade com o desenvolvimento no
adulto.

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OS OITO PRINCIPAIS CONTRIBUTOS
FREUDIANOS:

• O aparelho psíquico/ Modelos da mente

• A pulsão

• A sexualidade infantil

• O narcisismo

• Angústia e mecanismos de defesa

• Os sonhos

• As neuroses

• Transferência e contratransferência

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1º O ponto de vista tópico: a primeira tópica -
modelo topográfico

Psicologia descritiva, metafórica, de uma representação espacial


• O aparelho do aparelho psíquico.
psíquico /
Modelos da ❑ O Inconsciente, constituído pelas recordações e respetivas
associações;
mente
❑ O Pré-consciente, situado na extremidade motora e sujeitando a
Metapsicologia atividade do sistema inconsciente à sua crítica (censura), tendo
por consequência a proibição do acesso dos traços mnésicos à
consciência. Mediador/instância intermédia entre Inconsciente e
Consciente; No sentido descritivo, o que é pré-consciente está
inconsciente mas é capaz de consciência;

❑ O Consciente, ao qual o sistema de perceção oferece toda a


multiplicidade das qualidades sensíveis e que aparece no lugar
dos rastos mnésicos que conseguiram transpor o pré-consciente.
A consciência possui de certa forma duas superfícies sensoriais:
uma virada para a perceção/motor, a outra, para os processos de
pensamento pré-conscientes.
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1º O ponto de vista tópico: a primeira tópica -
modelo topográfico

• O aparelho
psíquico /
Modelos da
mente

Metapsicologia

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1º O ponto de vista tópico: a segunda tópica -
modelo estrutural

• O aparelho A segunda tópica envolve três instâncias psíquicas: Id,


psíquico / Superego (Supereu), Ego (Eu). Sublinha-se o aspeto
Modelos da dinâmico e conflitual do aparelho psíquico.
mente

Metapsicologia

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1º O ponto de vista tópico: a segunda tópica -
modelo estrutural

❑ O Id
• O aparelho
psíquico / • Polo pulsional da personalidade.
Modelos da • Os conteúdos, experiências psíquicas das pulsões, são
mente inconscientes, em parte hereditários e inatos, por outro,
recalcados e adquiridos.
Metapsicologia • Reservatório fundamental da energia pulsional e portanto
da energia psíquica.
• Conflituante com o Ego e Superego.
• É inconsciente mas não é o inconsciente.
• Princípio do prazer, impulso energético. Processo primário.

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1º O ponto de vista tópico: a segunda tópica -
modelo estrutural

❑ O Ego (Eu)
• O aparelho
psíquico / • Constrói-se e desenvolve-se a a partir do nascimento.
Modelos da • Relação direta com a constituição da Identidade.
mente
• O Ego é uma parte do Id, modificado pela realidade
exterior, resultado da consciência-perceção.
Metapsicologia
• Princípio da realidade.
• A principal tarefa consiste em gerir as trocas entre as
instâncias psíquicas e a realidade exterior.
• É na sua capacidade em tolerar, aceitar e gerir os conflitos
e as oposições, que assenta a constituição da
personalidade.
• Dispõe de defesas que são pré-conscientes ou
inconscientes.

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1º O ponto de vista tópico: a segunda tópica -
modelo estrutural

❑ O Superego (Supereu)
• O aparelho
• Instância separada do Ego e que o domina, exercendo uma
psíquico / função crítica sobre aquele.
Modelos da • Situa-se no seguimento direto da censura visando proibir a
mente realização e a tomada de consciência dos
desejos/motivações.
• É o herdeiro do complexo de Édipo (a criança tem de
Metapsicologia renunciar aos desejos edipianos amorosos e hostis).
Renúncia instituída como lei por um tabu originário e
simbólico, o do incesto, complementada pelos contributos
pessoais, educativos e culturais – formação da instância
superegóica.
• Identificação à instância parental, superego
transgeracional.
• Em parte, coletivo, ligado às proibições sociais e
universais.
• Á função principal da censura moral, associam-se funções
de auto-observação, de introspeção, de juízo crítico.
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1º O ponto de vista tópico: a segunda tópica -
modelo estrutural

• O aparelho
psíquico /
Modelos da
mente

Metapsicologia

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2º O ponto de vista económico

• O aparelho Debruça-se sobre a energia que faz funcionar o aparelho


psíquico cuja finalidade é a procura da descarga das
psíquico / tensões/pulsões.
Modelos da - Princípio de inércia (energia livre) – processo primário
mente - Princípio de constância (energia ligada) – processo
secundário
Metapsicologia - - quantum de afeto

A ideia de uma quantidade de energia que circula no


aparelho psíquico – afeto - suscetível de se desligar de
uma representação que investia, para se deslocar
sobre outras representações.

O investimento significa tanto a ligação de um certo


valor afetivo/subjetivo a uma representação, como a
quantidade/intensidade de energia que lhe é atribuída
(cf. sobreinvestimento, desinvestimento
(recalcamento), contra-investimento).
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3º O ponto de vista dinâmico

• O aparelho Na vida psíquica existem forças internas que entram


psíquico / continuamente em oposição ou em conflito – o conflito
Modelos da psíquico é inerente ao psiquismo.
mente

Metapsicologia Freud é fundamentalmente dualista. Descreve


sistematicamente “dois polos” que se opõem: sistema
inconsciente / sistemas pré-consciente e consciente; energia
livre / energia ligada; processo primário / processo
secundário; pulsão de vida / pulsão de morte; princípio de
prazer / princípio de realidade.

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Pulsões sexuais
(1905), correspondem ao desejo e à procura do prazer,
relacionadas com a noção de bem-estar, de felicidade, de
gozo; líbido. Não se trata de viver ou de sobreviver mas de
tornar aprazível a existência; assentam na pulsão de
autoconservação.
• A pulsão
Pulsões de autoconservação
ou pulsões do Ego (1910), correspondem aos instintos na
medida em que impelem o sujeito a satisfazer as suas
necessidades vitais (alimentar-se, proteger-se, reproduzir-se).

Pulsão de morte (Thanatos)


(1920), representa a agressividade, a destrutividade, a
compulsão à repetição, a inércia - que Freud opõe na segunda
teoria das pulsões à
Pulsão de vida (Eros), a qual por sua vez, passa a abranger as
pulsões sexuais e de autoconservação.

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Instinto ≠ Pulsão

Freud define pulsão como conceito-limite entre o


psiquismo e o biologismo.
A pulsão é um impulso oriundo do corpo que se exprime como
• A pulsão exigência de trabalho imposta ao aparelho psíquico.
O instinto corresponde a um mecanismo biológico inato servindo
o prazer/saciação, a procriação e a conservação da espécie.

Do ponto de vista psicanalítico, o instinto deve ser


diferenciado da pulsão, que se define como um impulso
tendo a sua origem numa excitação corporal (estado de tensão),
tem um objetivo, que é o de suprimir esse estado de tensão e, um
objeto, no qual a pulsão pode atingir o seu objetivo.

A sexualidade corresponde a uma pulsão e não a


um instinto, tratando-se de uma
psicossexualidade.
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Quatro noções-chave

1. O realce da sexualidade infantil e, para além disso, da


importância da infância na estruturação mental, e desta
forma, o reconhecimento do papel fundamental que
• A sexualidade desempenham as experiências afetivas, psíquicas,
infantil somáticas e sensoriais ocorridas durante a infância, na
estruturação da personalidade.
2. A elaboração de uma organização da líbido (de uma
energia que permite avaliar os processos de
transformação no campo da excitação pré-genital e
genital com a formulação das fases correspondentes).
3. Uma extensão das fases psicossexuais à teoria dos
caracteres. A organização libidinal pré-genital ou genital
já não é considerada como pertencendo unicamente ao
mundo da infância, mas como podendo ser reativada no
adulto.
4. A sexualidade não pode ser separada do psiquismo.
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As fases do desenvolvimento libidinal/ fases psicossexuais:
fase oral, fase anal, fase fálica (complexo de Édipo), fase
genital propriamente dita (adolescência).
• A sexualidade (ver, imagem da representação do desenvolvimento psicogenético)
infantil

• complexo de Édipo

Pode definir-se como uma estrutura fundamental das


relações interpessoais adultas constituídas na história
infantil.

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A definição estrutural do narcisismo salienta as duas formas
de líbido: líbido do Ego e líbido de objeto.

• Narcisismo primário e auto-erotismo


Definido pela convergência das pulsões parciais sobre o Ego
(corporal) enquanto imagem unificada. Investimento
• O narcisismo libidinal primário do Ego.

• Narcisismo secundário e objetal


Relacionado com as instâncias ideias do Superego. O amor
que o indivíduo sente pela sua própria pessoa - o conceito de
Ideal do Ego - formação que se tornou relativamente
independente do Ego e inconsciente, reguladora dos
sentimentos de autoestima e de certas atividades do
indivíduo (auto-observação, consciência moral, censura).

O Ideal do Ego provém tanto do narcisismo originário como


da interiorização de contributos exteriores, pela via da
identificação com os pais ou substitutos; é o resquício de
antigas relações interpessoais.
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Desenvolvimento de angústia, expressão introduzida por
Freud, considerada num desenvolvimento temporal do
sujeito – conceção ontogenética. Descritiva no quadro de
• Angústia e uma teoria da angústia que distingue uma situação
mecanismos de traumática em que a angústia não pode ser dominada
defesa (angústia automática) e um sinal de angústia destinado a
evitar o aparecimento desta.

Os sintomas (clínicos/psicopatológicos) formam-se para


impedir o desenvolvimento da angústia, que sem eles,
surgiria inevitavelmente.

A propósito do recalcamento, a carga afetiva (quantum de


energia) que está associada a uma representação, sofre
uma transformação em angústia, quando a representação é
recalcada – o recalcamento cria a angústia.

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Mais tarde, na segunda teoria da angústia de Freud, a
angústia aparece como uma verdadeira função do Eu
(noção associada aos mecanismos de defesa).
Não só a angústia já não é uma produção automática,
• Angústia e ligada ao recalcamento, mas uma angústia específica
mecanismos de (e.g., castração) que produz o recalcamento - angústia
defesa enquanto elemento de defesa do Eu.

(Importância crucial que a génese, função e


significado da cada angústia específica têm na
compreensão da psicopatologia)

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Os mecanismos de defesa, designam todas as técnicas a
que o Ego recorre para se proteger contra as exigências
pulsionais, quando apreende uma situação de perigo.

• Angústia e A defesa e, portanto, as suas diferentes formas de


mecanismos de atuação (diferentes mecanismos de defesa), podem
conduzir a uma reação normal, a uma neurose ou a uma
defesa
psicose...

E.g. mecanismos de defesa diferenciados do ponto de


vista psicogenético:
recalcamento, sublimação, idealização, acting-out,
projeção, denegação/rejeição.

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“A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS” (1900)

Ideias inovadoras e revolucionárias para a época, Freud


defende a tese de que o sonho é uma atividade psíquica
organizada, diferente da atividade de vigília, e que tem
• Os sonhos as suas próprias leis, opondo-se tanto às conceções
populares como à opinião científica.

Têm significado psicológico e não somente fisiológico...

Sonhos: Trabalho do sonho - conjunto das


operações que transformam os materiais do
sonho (estímulos corporais, restos diurnos,
pensamentos do sonho) num produto: o
sonho manifesto. A deformação é o efeito
desse trabalho.

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“A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS” (1900)

• Conteúdo manifesto e conteúdo latente do sonho


• Os sonhos • “Trabalho do sonho”: o conjunto de operações
psíquicas que transforma o conteúdo latente em
conteúdo manifesto com o objetivo de o tornar
irreconhecível; “Trabalho de análise”: operação
inversa realizada pela análise do sonho que
decifra o sentido manifesto para descobrir o
latente.

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“A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS” (1900)

❑ O sentido dos sonhos é dado pelas associações livres


da pessoa que o sonha
• Os sonhos ❑ A interpretação dos sonhos é a via régia que conduz
ao conhecimento do inconsciente da vida psíquica

❑ O sonho é a realização de um desejo inconsciente

❑ Alguns dos principais mecanismos psíquicos na


formação do sonho (trabalho do sonho): o
deslocamento e a condensação …
Constituem mecanismos fundamentais do trabalho do
sonho, mas também tem o seu papel nos
sintomas/psicopatologia, nos atos falhados, lapsos …

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“A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS” (1900)
▪ O papel da censura

o O principal motivo da deformação do sonho provém da


censura.

• Os sonhos o Instância situada na fronteira entre consciente e


inconsciente, que deixa passar unicamente o que lhe é
agradável e retém o resto: o que é evitado pela censura
encontra-se assim em estado de repressão e constitui o
reprimido.

o Em certos estados, como o sono, a censura sofre um


relaxamento, de modo que o reprimido pode surgir na
consciência na forma de sonho.
Mas não sendo a censura totalmente suprimida, mesmo no
sonho, o reprimido deverá sofrer modificações para
conseguir passar a censura, o que conduz à formação de
compromisso. Tal não é exclusivo do sonho, mas ocorre em
várias situações psicopatológicas.
Sonho enquanto um guardião do sono...
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| Afeção psicogénica em que os sintomas são a expressão
simbólica de um conflito psíquico que tem as suas raízes na
história infantil do indivíduo e constitui compromissos entre o
desejo e a defesa.

❑ Para Freud, a etiologia das neuroses, resume-se a:


1) Ou os acontecimentos sexuais da infância provocaram
um traumatismo suficiente para travar a evolução
normal da libido e provocar mais tarde uma neurose;
• As neuroses
2) a origem da neurose deve ser procurada em conflitos
posteriores à infância.

São estes os dois perigos que ameaçam a evolução da


libido: por um lado, a paragem do desenvolvimento ou
“fixação”, e por outro, a “regressão”.

“Um neurótico é um indivíduo cujo psiquismo inconsciente


permaneceu ou regressou à época em que os seus desejos de
criança eram satisfeitos e que procura reproduzir por actos
sintomáticos de valor simbólico essa satisfação infantil”.

Toda a neurose é uma doença da libido, revelando uma rutura de


equilíbrio entre a libido e o Eu, um fracasso do recalcamento. 31
A transferência é definida pela repetição, na análise ou fora
dela, de atitudes emocionais inconscientes adquiridas nas
experiências precoces do desenvolvimento e nas relações com
as figuras parentais/cuidadoras.
• Transferência e
contratransferência Cada ato mental é um compromisso entre as forças que
impelem a mudança e as forças que se opõem a ela –
resistência e compulsão à repetição.

São as resistências ao Id que determinam a repetição; o sujeito


entrega-se à sua compulsão em repetir, que substitui o impulso
para recordar-se.

Na transferência, o paciente atua o seu passado em vez de o


rememorar. Trata-se aqui de uma repetição de protótipos
infantis, vivida como uma sensação de atualidade
acentuada.

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A contratransferência é o conjunto das reações inconscientes
do analista à pessoa do analisando e mais particularmente à
transferência deste.

Freud vê nela o resultado da influência do doente sobre os


• Transferência e sentimentos inconscientes do médico. Sublinha que nenhum
contratransferência analista vai mais longe do que os seus próprios complexos e
resistências internas lhe permitem. O que tem como corolário a
necessidade de o analista se submeter a uma análise pessoal.

Transferência (neurose de transferência) / contratransferência -


enquanto padrões de comunicação e que servem à função do
tratamento no trabalho terapêutico.

O efeito terapêutico da análise está ligado à


possibilidade de tornar consciente o que foi
reprimido e de se valer de interpretações e
da reconstrução para suprimir as
resistências. 33
❑ Uma tarefa análoga à do arqueólogo

Objetivo terapêutico da Análise: é preciso que o paciente


• Transferência e encontre lembranças de experiências afetivas precoces,
contratransferência e estas aparecem através das associações livres, dos
sonhos e, da repetição de relações afetivas na
transferência, e da elaboração das interpretações.

Se a tarefa do paciente/analisando consiste em


rememorar o que viveu e reprimiu, a do psicanalista
consiste em restituir, a partir dessas indicações, uma
imagem tão fiel quanto possível dos anos esquecidos do
paciente “É necessário que, a partir das indicações que
escaparam ao esquecimento, ele descubra ou, mais
exatamente, construa o que foi esquecido”.

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Conceções psicodinâmicas da Personalidade,
enquanto:

• processo de fixação e regressão

• predomínio do carácter de acordo com a fase do


desenvolvimento da sexualidade infantil

• organizações psíquicas de acordo com os


mecanismos de defesa predominantes

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• processo de fixação e de regressão
Baseada na teoria psicossexual, representa uma
tentativa de compreensão dos diversos tipos de
Conceções carácter ou de personalidade na base de uma fixação
psicodinâmicas ou de uma regressão a uma fase psicossexual do
da desenvolvimento.
Personalidade
 Processos transversais à patologia e ao
desenvolvimento normativo; desenvolvimento com
uma trajetória não linear.
 A fixação das pulsões libidinais define-se pela
persistência de um tipo de ligação anacrónica em
relação ao desenvolvimento geral.
 Distinção entre regressões permanentes, típicas de
quadros de personalidade patológica, daquelas,
transitórias, que acompanham o desenvolvimento
típico de qualquer sujeito humano.

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• predomínio do carácter de acordo com a fase
do desenvolvimento da sexualidade infantil
 As diversas fases da sexualidade do desenvolvimento
Conceções da criança, estabelecem uma ligação entre os traços
psicodinâmicas de carácter e a fixação/regressão a essas fases.
da  Organiza-se um carácter oral, anal, ou fálico
Personalidade (exemplos).

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• organizações psíquicas de acordo com os
mecanismos de defesa predominantes

Assenta na psicologia do Ego, de que Freud foi o


Conceções percursor. A personalidade é concebida como um
psicodinâmicas tipo de organização constituída a partir de um
da equilíbrio dinâmico entre o nível de angústia
(ansiedade) específica e os mecanismos de defesa
Personalidade usados pelo indivíduo para elaborar esta ansiedade.

Acrescenta ao ponto de vista anterior, um processo


respeitante aos funcionamentos adaptativos e
defensivos do sujeito; e, inclusive, da formação de
sintomas.

 Esta é uma matriz de compreensão à


psicopatologia: as organizações psíquicas
funcionam como e.g. uma neurose histérica, uma
neurose obsessiva, uma psicose, estados-
limite/borderline.

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Barber, J. P., & Solomonov, N. (2016). Psychodynamic theories. In J. C.
Norcross, G. R. VandenBos, D. K. Freedheim, & B. O. Olatunji, (Eds.), APA
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Weiner, H. Tennen, & J. Suls, (Eds.), Handbook of psychology: Personality
…bibliografia and social psychology, (2nd ed., p. 117–134). John Wiley & Sons.
https://doi.org/10.1002/9781118133880.hop205003

Wolitzky, D. L. (2016). Psychoanalytic theories. In J. C. Norcross, G. R.


VandenBos, D. K. Freedheim, & B. O. Olatunji, (Eds.), APA handbook of
clinical psychology: Theory and research (p. 19–52). American
Psychological Association. https://doi.org/10.1037/14773-002

(Nota. Nos capítulos estão sublinhados os títulos fundamentais para estudo)

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