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Avaliação Formativa Corrigindo Rotas para Avançar Na Aprendizagem
Avaliação Formativa Corrigindo Rotas para Avançar Na Aprendizagem
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para-avancar-na-aprendizagem
Avaliação
A professora Elisa Vilalta, que utiliza avaliação formativa, na Escola Municipal Arnon Afonso
Farias de Mello, em Maceió (AL). Crédito: Itawi Albuquerque/NOVA ESCOLA
Todo final de bimestre, a professora Elisa Vilalta, que leciona História para os anos finais do Ensino
Fundamental na rede municipal de Maceió (AL), deparava-se com frustrações comuns a muitos
educadores: constatar ao término de um período que alguns estudantes não desenvolveram as
aprendizagens esperadas. Além disso, ela também observava que outros alunos, apesar de
demonstrarem o domínio do conhecimento, não o expressavam na prova e tiravam notas baixas, o
que os deixava desmotivados.
“Eu me dei conta de que fazia mais sentido verificar as dificuldades dos alunos no meio do caminho,
em diferentes momentos e de formas diversas, do que deixar para o final do bimestre, quando não dá
mais para voltar atrás ou mesmo oferecer outras ferramentas para eles mostrarem o que sabem”,
relata a educadora sobre o motivo que a levou a trabalhar com a avaliação formativa.
Nesse tipo de avaliação, o professor investiga durante todo o tempo, na sala de aula, se os alunos
estão ou não aprendendo e por quê. Essas informações servem para replanejar as atividades
seguintes, de modo a atender às necessidades da turma ou de grupos de estudantes. Também
permitem ao docente dar as orientações que os alunos precisam para se desenvolverem melhor,
estimulando o protagonismo deles.
A abordagem acompanha uma mudança de foco do ensino para a aprendizagem, reforçada sobretudo
pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e respeita o fato de que os estudantes possuem ritmos
e maneiras variadas de aprender. Desconstrói, ainda, a responsabilização única dos alunos pelas
lacunas em suas aprendizagens.
“Aprender faz parte do direito à educação. Se o aluno não desenvolveu uma habilidade prevista ao
final de um período e nada for feito em relação a isso, ele está sendo aviltado do seu direito”, ressalta
Rodrigo Fonseca, docente, mestrando em formação de professores, currículo, trabalho docente e
avaliação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e sócio-diretor do Núcleo Interdisciplinar
de Pesquisa, Ensino e Consultoria (Nipec).
No contexto da retomada das aulas presenciais, a avaliação formativa pode apoiar a progressão das
aprendizagens, uma vez que oferece possibilidades de trabalho com estudantes em diferentes níveis
de aprendizagem, e também proporcionar a utilização de metodologias ativas, que costumam engajar
mais os alunos nas atividades. Além disso, seu planejamento exige considerar os sujeitos e suas
realidades, levando em conta as experiências que tiveram durante a pandemia. “Dessa maneira, a
escola se torna um ambiente mais favorável para que as aprendizagens possam acontecer”, completa
Rodrigo.
Para iniciar o processo de avaliação formativa no começo de um ano letivo, por exemplo, o professor
pode partir de uma avaliação diagnóstica, que busca compreender o que os estudantes sabem sobre
determinado assunto ou objeto de conhecimento, quais as suas lacunas e, principalmente, quem são
esses alunos e em que contexto estão inseridos. Esses dados possibilitam personalizar o processo de
ensino e aprendizagem de forma contextualizada e significativa para os alunos.
Rodas de conversa, brincadeiras e atividades mão na massa costumam ser indicadas para levantar
essas informações, que vão embasar o planejamento pedagógico. Essa etapa dialoga bem com a
metodologia do planejamento reverso: primeiro o professor define os objetivos de aprendizagem que
deseja alcançar, bem como o que ele espera que os alunos façam para mostrar que atingiram essa
aprendizagem, e depois planeja como alcançá-los.
“Se tenho o objetivo de fazer com que os alunos usem informações científicas para produzir um
discurso sobre mudanças climáticas, por exemplo, preciso definir o que eles têm de realizar para
mostrar que esse objetivo foi atingido e como vou observar e registrar isso”, orienta Heloize Charret,
cofundadora da MAPA Metodologias Ativas, startup carioca voltada para a formação de educadores.
“O professor pode compartilhar com os alunos as devolutivas sobre suas progressões, mas a
classificação é exclusiva do professor, para não transformar diferenças em desigualdades”, alerta
Rodrigo Fonseca. Ele sugere propor trabalhos em grupos homogêneos perante determinada
aprendizagem e, depois, atividades em grupos heterogêneos.
Para finalizar o processo, pode haver uma avaliação somativa para verificar se os objetivos de
aprendizagem definidos foram atingidos. “Não tem problema se for uma prova tradicional, porque o
foco não está nos instrumentos que serão utilizados. O que faz algo ser formativo é responder a uma
pergunta: e daqui para frente, o que eu faço com esse resultado?”, aponta Katia Smole Stocco, diretora
do Instituto Reúna, organização que visa apoiar a implementação da BNCC, e fundadora do Grupo
Mathema, que trabalha com formações em Matemática.
1. Mapear
No começo de um programa ou uma unidade temática, aavaliação diagnóstica (também chamada
de prognóstica ou sondagem) permite identificar os conhecimentos prévios dos estudantes e
eventuais lacunas para traçar a progressão das propostas. Ela tem, portanto, a função de permitir
um ajuste no planejamento do professor. Além de instrumentos mais tradicionais, como provas, as
rodas de conversa e atividades mão na massa são ideais para esse tipo de mapeamento.
2. Planejar
Com o resultado da avaliação diagnóstica e os objetivos de aprendizagem definidos, é possível
desenhar o percurso pedagógico e as experiências didáticas que acontecerão em determinado
período de tempo.
3. Intervir e avaliar
Conforme as aulas acontecem, a avaliação formativa está sempre em cena para acompanhar o
desenvolvimento dos estudantes. Vale desde autoavaliação e avaliação por pares até andar pela
sala e anotar como vão as discussões em grupo. Para isso, é essencial que o professor tenha
intencionalidade pedagógica, ou seja, tenha claro para si as aprendizagens que está buscando
reconhecer naqueles alunos após o processo de estudo – com critérios e expectativas bem
desenhadas, por exemplo, por rubricas, isto é, descrição dos níveis de desempenho esperados na
realização de determinada atividade.
4. Analisar
As informações obtidas permitem uma análise do desenvolvimento da turma e de cada estudante
em relação aos objetivos de aprendizagem esperados. A avaliação formativa deve ser “informativa”
para o professor, do início ao fim, respondendo a perguntas como “o que meus alunos devem saber
sobre esse assunto?” e “que informações sobre o aprendizado dos meus estudantes consigo obter
aqui?”.
5. Replanejar e intervir
Com a análise feita, é hora de planejar novas intervenções, que sirvam para retomar ou reforçar
alguns pontos. Por exemplo, elaborar novas atividades inicialmente não planejadas ou, ainda,
organizar uma nova sequência de aulas.
6. Finalizar
Ao final, a avaliação somativa (também chamada de cumulativa, formal ou simplesmente “prova”)
verifica o que o aluno alcançou em relação ao que foi planejado. Por isso, ela é sempre terminal e
mais global. Vale considerar esses resultados como parte da avaliação diagnóstica da próxima
etapa.
Para cada um dos objetivos de aprendizagem definidos, o professor pode elaborar três ou quatro
gradações de nível de aprendizagem, que podem ser construídas e compartilhadas com os estudantes.
Elas indicam desde o conteúdo mínimo que o aluno precisa saber ou fazer para que se possa
considerar que aprendeu algo até o pleno domínio do objeto de conhecimento.
Foi assim que trabalhou a professora Elisa Vilalta em uma sequência didática de História para os 6º e 7º
anos da Escola Municipal Arnon Afonso Farias de Mello, em Maceió (AL). Para começar, definiu seus
objetivos: que os estudantes levantassem hipóteses sobre o surgimento dos seres humanos na Terra e
aprendessem a definir e diferenciar as teorias do criacionismo e do evolucionismo.
Os estudantes foram então divididos em quatro grupos. Dois deles estudaram documentos sobre
evolucionismo, e os outros dois, sobre criacionismo; depois, realizaram um debate. Cada grupo
explicou ao outro a teoria que havia pesquisado, enquanto elaborava um mapa mental com as
diferenças entre os conceitos.
“Compartilhei com eles os critérios de avaliação e fui circulando pela sala para ouvir as conversas,
observar os mapas mentais e fazer questionamentos para ajudá-los a chegar às respostas das dúvidas
que tinham. Também aproveitei para avaliar a maneira deles de trabalhar em grupo e expor as
opiniões aos colegas”, relata Elisa.
Ao mesmo tempo, ela registrava discretamente suas percepções em uma tabela com os objetivos de
aprendizagem desmembrados em rubricas. Como legenda, costumava usar sinais e desenhos, como
bolinhas e estrelas, que indicavam o nível de aprendizagem conquistado. “Visualmente, faz mais
sentido para mim do que nomear como ‘demonstrou’ ou ‘demonstrou parcialmente’, porque fica muito
fechado, rotula”, diz.
Depois, a turma fez junto com a professora uma grande sistematização na lousa para consolidar os
conhecimentos e arrematar eventuais dúvidas. Por fim, os estudantes também preencheram um
questionário de autoavaliação.
“O mais difícil, ao começar a trabalhar com a avaliação formativa, foi mudar o jeito de planejar e
acostumar os estudantes a essa nova forma de aprender. Mas depois de muito trabalho e diálogo, vi
que eles começaram a se sentir mais seguros, menos tímidos ao se expor. Estavam mais donos de
seus percursos de aprendizagem e percebendo melhor seus avanços e potências”, observa a
educadora.
Durante a pandemia, Elisa adaptou a avaliação formativa contando apenas com o uso do WhatsApp.
Pelo aplicativo, apresentava aos estudantes a proposta e o objetivo das atividades e depois as enviava
acompanhadas de autoavaliações. “Foi possível coletar bastante material com quizzes virtuais, fotos e
áudios dos alunos comentando o que estávamos fazendo”, afirma.
Ela cita como exemplo o estudo da mitologia grega. “Cada estudante pesquisou sobre um deus grego e
gravou um vídeo apresentando a figura mitológica escolhida. Para avaliar, usei esses registros, uma
autoavaliação e uma avaliação entre pares.”
A professora Elisa preparou fichas sobre evolucionismo e criacionismo para realizar uma
sequência didática com os alunos. Crédito: Itawi Albuquerque/NOVA ESCOLA
Como a avaliação formativa ocorre durante o próprio processo de ensino e aprendizagem, é indicado o
uso de metodologias ativas, que estimulam o protagonismo do aluno e permitem à turma aprender e
demonstrar seu desenvolvimento de formas variadas. “Tem estudante que se dá melhor desenhando;
outro, escrevendo. É importante oferecer vários instrumentos para que não se sintam desconfortáveis
em serem quem são”, diz Kátia Chiaradia, do time de formadores da NOVA ESCOLA.
O júri simulado é uma das metodologias ativas com as quais o professor de Geografia Anderson
Clayton Candido da Silva, da rede municipal de Volta Redonda (RJ), mais gosta de trabalhar com suas
turmas dos anos finais do Ensino Fundamental. Segundo ele, a metodologia motiva os estudantes e
oferece possibilidades ricas de observação.
Ele conta que costuma selecionar um tema polêmico e organizar os estudantes em equipes, que
devem estudar e preparar seus argumentos para defender um ponto de vista. Ele dá como exemplo a
discussão que realizou sobre os conflitos na Palestina. “Eu levantava a problematização, observava os
estudantes e fazia anotações ao lado do nome de cada um. Percebi que eles ainda não haviam
aprendido conceitos como Estado, nação, país e povo”, relata.
A atividade não valeu nota, mas serviu para o professor corrigir o percurso. Durante o bimestre, ele
abordou esses conceitos novamente, de diferentes formas, e, ao final do processo, aplicou uma
avaliação somativa.
“A primeira mudança que percebi foi ver os alunos mais engajados deixando de lado o ‘estudar para a
prova’. Mais do que isso, também consigo me avaliar, porque me indica os pontos que eu posso
ensinar de uma forma melhor”, conta o educador.
Na Escola da Serra, instituição particular em Belo Horizonte (MG), não há provas tradicionais nem
notas. Os estudantes são avaliados de maneira formativa constantemente. Enquanto eles desenvolvem
roteiros de estudo individualmente ou em grupo, os professores circulam pelo espaço mediando as
aprendizagens, observando os processos, conversando com eles e registrando as percepções que têm
do desenvolvimento dos estudantes. Assim, as correções de rota da aprendizagem acontecem em
tempo real e de maneira personalizada.
“Nesse contexto, o professor tem que estar aberto para o que os alunos trazem e usar isso a favor do
prazer em aprender”, afirma Sara Villas, professora de Ciências Humanas da escola.
No ano passado, por exemplo, um estudante que tinha facilidade em resolver um cubo mágico propôs
um campeonato entre os colegas do ciclo, que corresponde aos anos finais do Ensino Fundamental. A
escola não só incentivou a realização do evento como considerou o momento na avaliação dos
estudantes.
“Eles montaram uma comissão e organizaram tudo: os recados para as famílias, as regras do jogo e um
formulário para inscrição. Isso não estava previsto no planejamento, mas não há como ignorar a
aprendizagem que envolve. Por isso é importante ter espaço para a escuta verdadeira dos alunos.
Trabalhar com avaliação formativa é estar vivo e aberto ao replanejamento e, principalmente, aos
estudantes”, finaliza a professora Sara.
Compreensão do papel do erro na aprendizagem. “O erro não deveria ser algo negativo, porque
é o primeiro indicador do que eu não devo fazer e possibilita a construção de um caminho”, destaca
Kátia Chiaradia, integrante do time de formadores da NOVA ESCOLA. Isso vale para os estudantes,
mas também para os professores, que vão precisar rever maneiras de fazer perguntas, modos de
apresentar um assunto e, talvez, um planejamento inteiro – e há espaço de sobra para isso na
avaliação formativa.
A relação com os estudantes. A avaliação formativa pede muito diálogo: os estudantes precisam
ter oportunidades de mostrar o que sabem ou não, e o professor deve compartilhar com eles
informações sobre seu desenvolvimento. “Quando sou clara com o aluno sobre os objetivos de
aprendizagem que temos e o que se espera dele, e depois vou avaliando e dando devolutivas
constantemente, crio um vínculo calcado na parceria, e ele também se torna participante dessa
trajetória”, explica Heloize Charret, cofundadora da MAPA Metodologias Ativas.
Esta reportagem faz parte do projeto Avaliação Formativa, em parceria com a Fundação Lemann,
mantenedora de NOVA ESCOLA.