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Universidade Federal de Viçosa

Disciplina: Sociologia

Aula 2 – Construção Histórica das Ciências


Sociais

Professor: Marcelo Ottoni Durante


Curso Sociologia Aula 2: Construção Histórica das Ciências Sociais

Bibliografia:

• Comissão Gulbekian - Para Abrir as Ciências Sociais,


São Paulo: Cortez, 1996 - Capítulos 1 e 2

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Curso Sociologia Aula 2: Construção Histórica das Ciências Sociais

Espaço para a Construção das Ciências Sociais


• A visão clássica de ciência foi definida como a busca por leis universais da natureza
assentada sob o dualismo cartesiano, ou seja, a existência de uma distinção entre
natureza e seres humanos e entre o mundo físico e o mundo espiritual/social.
Neste contexto, o progresso passou a ser a palavra de ordem, dotado de um
sentido de infinitude e reforçado pelas conquistas da tecnologia. (vazio moral)
• A Revolução Francesa criou pressões no sentido da efetivação de transformações
político-sociais que não podiam continuar a ser contidas através da mera
proclamação de teorias sobre uma suposta ordem natural da vida social.
• Surgiu um espaço para a construção das ciências sociais: Será que o mundo social é
regido por leis deterministas? Será que há lugar para a invenção e a imaginação do
homem? Estas questões tinham um viés político e as leis deterministas eram mais
úteis para o controle tecnocrático dos movimentos sociais.
• Primeiras regras de análise do mundo social visavam descobrir a realidade objetiva
por meio de métodos que nos permitia sair fora do controle da religião e da
tradição. A ciência positiva visava a libertação em relação à teologia e à metafísica
e permitia a superar a revolução pela criação de um novo poder espiritual. (Conte e
Mill)
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Estruturação das Ciências Sociais


• Criação das Disciplinas (após Revolução Francesa):
– Sociologia: cultivando um impulso positivista e uma disposição para o
estudo do presente, se enveredou no campo nomotético e distanciou-se
das iniciativas de reforma social. No entanto, sempre manteve a sua
preocupação com a gente comum e com as conseqüências sociais da
modernidade.
– Política: com o argumento de que o Estado e o mercado funcionavam com
lógicas distintas, a economia foi criada para o estudo do mercado e a
política teve como principal foco o Estado.
– Antropologia: A criação do mundo moderno implicou o encontro dos
europeus e dos povos do resto do mundo e o estudo desses povos passou a
ser domínio da antropologia. Dado a prioridade à necessidade de justificar
o estudo da diferença, bem como de defender a legitimidade moral de não
se ser europeu, os antropólogos sempre resistiram a exigência de formular
leis, dedicando-se a prática da epistemologia ideográfica.
• As guerras mundiais minaram o otimismo em que assentavam as teorias do
progresso das civilizações. Grande questionamento sobre os fundamentos das
ciências sociais.
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Contexto Histórico Evolução das Ciências Sociais (após 1945)


• A superioridade dos Estados Unidos durante os 15 a 25 anos que se seguiram a II
Guerra Mundial teve como conseqüência que a atividade desenvolvidas pelas
ciências sociais residisse principalmente dentro das instituições americanas e, em
todos os lugares onde a estruturação das ciências sociais foi incompleta, os Estados
Unidos encorajaram a que se seguisse o modelo estabelecido pelos americanos,
pondo uma ênfase grande nas tendências do tipo mais nomotético.
• A reafirmação dos povos não europeus fez com que muitos pressupostos teóricos
das ciências sociais fossem colocados em causa com o argumento de que refletiam
os preconceitos políticos de uma era que chegara ao fim
• A expansão econômica propiciou o surgimento de pólos especializados de
desenvolvimento científico, especialmente vocacionados para a concentração de
informação e de capacidade técnica específica, financiados pelos Estados de
primeiro plano, fundações e empresas transnacionais.
• A expansão do sistema universitário a nível mundial, levando ao aumento
significativo do número de cientistas sociais, facilitou a intromissão recíproca, por
parte dos cientistas sociais, nas áreas disciplinares que lhes estavam mais
próximas.
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Questionamentos quanto a Validade das Distinções


no Interior das Ciências Sociais
• Havia três linhas de clivagem entre as disciplinas das ciências sociais no século XIX:
– O estudo do moderno / civilizado (história e ciências nomotéticas) e do mundo
não moderno (antropologia e estudos orientais);
– No mundo moderno, o passado (história) e o presente (ciências nomotéticas);
– Nas ciências sociais nomotéticas, o mercado (economia), o Estado (política) e
da sociedade civil (sociologia).
• A inovação mais saliente após 1945 foram os estudos multidisciplinares por área ou
região, entendidas como uma vasta zona geográfica dotada de uma suposta
coerência cultural, histórica e lingüística.
• Teoria da Modernização: A diferença entre as regiões ocidentais e não ocidentais
foi explicada a partir da existência de uma via de modernização comum a todos os
povos / regiões, onde cada unidade se encontrava em um estágio distinto. Surgiu
uma preocupação mundial com o desenvolvimento e as disciplinas das ciências
sociais se aproximaram em torno de projetos comuns.
• Inicialmente, as ciências nomotéticas vincularam-se às técnicas quantitativas.
Quando a crítica social começou a alimentar os debates no interior das disciplinas,
iniciou-se um questionamento da coerência das disciplinas e da legitimidade das
suas premissas intelectuais e do uso das doutrinas positivistas. 06/09
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Aproximação entre a História e as Ciências Sociais Nomotéticas


Contexto da História:
• Paradigma historicista: os estudos históricos focaram os acontecimentos e as
motivações dos indivíduos e das instituições e sobrevalorizaram o consenso e o
funcionamento das instituições, subestimando o conflito, a privação e as
desigualdades de classe, étnicas e de sexo.
• Os historiadores começaram a utilizar as generalizações produzidas pelos
cientistas sociais nomotéticos para lhes ajudar na compreensão de dimensões
do passado (transformações econômicas, desigualdade e mobilidade social,
comportamento de massa, etc ) situadas na base dos eventos, idéias e
instituições.
Contexto das Ciências Sociais Nomotéticas:
• Grande parte dos cientistas sociais aumentaram suas fontes de informação a
partir das informações históricas, mas não encontraram nada diferente acerca
do passado, pois os dados do passado apenas corroboravam suas leis gerais.
Assim, os resultados apenas facilitaram a compreensão do passado.
• Criação da sociologia histórica para explicar as transformações sociais de grande
escala por meio do uso de normas gerais para explicar fenômenos complexos e
dinâmicos (Weber e Marx)
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Superação da Estreiteza das Abordagens das Ciências


Sociais por meio do Universalismo Pluralista
Argumentos que caracterizam a estreiteza:
• O que as ciências sociais apresentam como universal constituí o ponto de vista de
uma minoria, que domina o mundo do conhecimento devido ao seu domínio no
mundo exterior às universidades, levando a estreiteza cultural das ciências sociais.
• A maioria dos cientistas sociais não faz mais do que estudar a si mesmos e existe
uma variedade de grupos esquecidos pelas ciências sociais: as mulheres, o mundo
não ocidental e outros grupos definidos como política e socialmente marginais.
• Se as ciências sociais constituem um exercício em busca de um conhecimento
universal, então o “outro” não pode existir, uma vez que o outro é parte de nós. A
verdade científica ganha, por esta razão, um caráter histórico, pois aqueles que
detêm o poder social sempre vão considerar universal a situação vigente.
Como superar a estreiteza:
• Como o universal resulta da competição entre visões particularistas, é preciso
repensar a neutralidade: validade de asserções refletindo interesses conflitantes e
a valorização da racionalidade crítica.
• Necessidade de abrir as ciências sociais, permitindo a coexistência de diferentes
interpretações para um mundo que é incerto e complexo, pois só o universalismo
pluralista será capaz de captar a riqueza das realidades sociais.
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Valorização dos Estudos Culturais


• A visão da ciência clássica, que descreve o mundo como determinista e totalmente
passível de ser descrito sob a forma de leis causais, só pode ser aplicada a sistemas
estáveis e reversíveis no tempo que representam uma pequena parte da realidade.
• Nos sistemas fora de equilíbrio, que constituem a maior parte da realidade, o
conhecimento da sua situação atual não nos permite prever seus estados futuros.
Os sistemas sócio-históricos são essencialmente instáveis, pois agregam elementos
capazes, por força da experiência acumulada, de se adaptar, aprender e mudar seu
comportamento.
• Valorização dos Estudos Culturais:
– Justificativa: (1)as estruturas ou o universal são vistos como algo impessoal e
eterno, ou seja, fora do controle humano, tornando irrelevante a mobilização
social; (2)Confrontadas com a crise ecológica, as pretensões do universalismo
por parte da tecnologia viram-se postas em causa.
– Problemas: (1)ênfase posta na ação e no significado conduziu a um descurar
dos constrangimentos ao comportamento humano; (2)o ceticismo pós-
moderno conduziu a uma postura anti-teórica em sentido pleno e todos os
paradigmas teóricos existentes foram questionados.
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