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Universidade Federal de Viçosa

SOCIOLOGIA (CIS214)

AULA 01: História das Ciências Sociais

Professor: Marcelo Ottoni Durante


Disciplina Sociologia História das Ciências Sociais

Bibliografia:

• Comissão Gulbekian - Para Abrir as Ciências Sociais,


São Paulo: Cortez, 1996 - Capítulos 1 e 2

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Disciplina Sociologia História das Ciências Sociais

Antiguidade, Idade Média e Renascimento


• No começo, o comportamento dos seres humanos era orientado pelos mitos e
religiões. Quando o homem abandonou sua vida nômade ocorreu o início da
civilização e da ciência (relação entre homem e o seu mundo)
• Entre o final do século VII e o início do século VI a.c., na Grécia antiga, têm
início importantes processos na produção de conhecimento pelo homem: os
mitos e as religiões passam a ser abandonados em favor da filosofia e a
demonstração, por intermédio da razão, da experiência e da observação da
realidade adquire cada vez mais valor.
• O pensamento racional é facilitado a partir da criação da escrita e diminui a
importância da memória e da transmissão de conhecimento na forma oral.
• Na Idade Média, o teocentrismo colocou sérios obstáculos para o avanço da
ciência, mas a invenção da imprensa facilitou este processo.
• Na Renascença (sec XIV e XVI), a ciência era vista como um sistema de
proposições comprovadas, constantes e gerais que expressavam as relações
entre fatos concretos; o conhecimento científico era caracterizado como exato
e só era aceito como conhecimento científico o que foi comprovado.
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Disciplina Sociologia História das Ciências Sociais

Revolução Científica e Revolução Industrial


• Revolução Científica fortaleceu a crença num universo regido por leis
constantes e passível de ser conhecido em seus mínimos detalhes.
• Método Experimental (Galileo - 1564/1642) e Teoria Moderna do Método
Científico (Francis Bacon - 1561/1626): independência da ciência em
relação a religião, cresce a importância da experimentação, da necessidade
de comprovação empírica e do uso da lógica e diminui a importância da
autoridade na busca do conhecimento.
• Sobre a Origem das Espécies (Darwin) contribui muito para o avanço da
ciência ao substituir a visão do mundo como uma coisa estática pela visão
de mundo como algo em constante evolução, criação e aperfeiçoamento.
• Ciência ganha caráter institucional a partir da criação das academias e
ocorre estruturação das disciplinas com métodos próprios e distintos.
• Revolução Industrial: a ciência e a tecnologia constituem um ciclo de
sistemas interatuantes, levando uma seqüência inumerável de descobertas
e invenções e o uso cada vez mais prático do conhecimento científico. 04/13
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Revolução Industrial: progresso econômico e vazio moral


• Usando como ideal a luta pela liberdade, a Revolução Industrial promoveu uma
revolta contra os regulamentos, costumes, tradições e rotinas, a fim de submeter a
organização da sociedade aos imperativos da burguesia, especialmente dos
empresários industriais. Mais que a liberdade, a revolução estabeleceu o reino do
capital, dos seus possuidores e dos imperativos da acumulação de capital.
• A Revolução Industrial é o marco de uma nova era na humanidade, pois deu início a
uma etapa histórica de acumulação crescente de população, bens e serviços, em
caráter permanente e sistemático sem precedente, que trouxe transformações
profundas na estrutura institucional, cultural, política e social, culminando na
consolidação do regime capitalista moderno.
• O progresso passou a ser a palavra de ordem: por um lado, dotado de um sentido
de infinitude e reforçado pelas conquistas da tecnologia, e, por outro lado,
marcado fortemente por um vazio moral.
• O nascimento do capitalismo é marcado por graves crises sociais. As primeiras
crises colocaram o mundo agrícola inglês às voltas com o cercamento dos campos;
em seguida aparece a luta entre os artesãos e a indústria; e, por fim, surge a luta
entre os operários e capitalistas.
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Espaço para Criação das Ciências Sociais


• No contexto das graves crises sociais, a ciência adquiriu um sentido messiânico e as
ciências sociais foram criadas visando suprir a necessidade de um conhecimento
objetivo para remediar a patologia da situação social.
• As primeiras iniciativas de análise do mundo social visavam essencialmente
descobrir a realidade objetiva por meio de métodos que nos permitiria sair fora do
controle da religião, dos costumes e da tradição.
• Fisiologia Social – a ciência da vida coletiva (Saint-Simon):
– As bases positivas para estabelecer o sistema de organização social devem ser
os fatos materiais, derivados da observação direta da sociedade, e uma higiene,
contendo os preceitos aplicáveis a tais fatos.
– A positividade prática da ciência social supõe sua positividade metodológica:
“assim como a praxis médica supõe o conhecimento das leis que regem a
fisiologia humana, uma praxis política só é possível a partir da investigação das
leis científicas que regem a sociedade humana”. Para alcançá-las é preciso
adotar os mesmos métodos das ciências naturais: todos os raciocínios devem
ser fundamentados sobre fatos observados e discutidos.

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Disciplina Sociologia História das Ciências Sociais

Espaço para a Construção das Ciências Sociais


• A visão clássica de ciência foi definida como a busca por leis universais da natureza
assentada sob o dualismo cartesiano, ou seja, a existência de uma distinção entre
natureza e seres humanos e entre o mundo físico e o mundo espiritual/social.
Neste contexto, o progresso passou a ser a palavra de ordem, dotado de um
sentido de infinitude e reforçado pelas conquistas da tecnologia. (vazio moral)
• Primeiras regras de análise do mundo social visavam descobrir a realidade objetiva
por meio de métodos que nos permitia sair fora do controle da religião e da
tradição. A ciência positiva visava a libertação em relação à teologia e à metafísica
e permitia a superar a revolução pela criação de um novo poder espiritual. (Conte e
Mill)
• A Revolução Francesa criou pressões no sentido da efetivação de transformações
político-sociais que não podiam continuar a ser contidas através da mera
proclamação de teorias sobre uma suposta ordem natural da vida social.
• Surgiu um espaço para a construção das ciências sociais: Será que o mundo social é
regido por leis deterministas? Será que há lugar para a invenção e a imaginação do
homem? Estas questões tinham um viés político e as leis deterministas eram mais
úteis para o controle tecnocrático dos movimentos sociais.
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Estruturação das Ciências Sociais


• Criação das Disciplinas (após Revolução Francesa):
– Sociologia: cultivando um impulso positivista e uma disposição para o
estudo do presente, se enveredou no campo nomotético e distanciou-se
das iniciativas de reforma social. No entanto, sempre manteve a sua
preocupação com a gente comum e com as conseqüências sociais da
modernidade.
– Política: com o argumento de que o Estado e o mercado funcionavam com
lógicas distintas, a economia foi criada para o estudo do mercado e a
política teve como principal foco o Estado.
– Antropologia: A criação do mundo moderno implicou o encontro dos
europeus e dos povos do resto do mundo e o estudo desses povos passou a
ser domínio da antropologia. Dado a prioridade à necessidade de justificar
o estudo da diferença, bem como de defender a legitimidade moral de não
se ser europeu, os antropólogos sempre resistiram a exigência de formular
leis, dedicando-se a prática da epistemologia ideográfica.
• As guerras mundiais minaram o otimismo em que assentavam as teorias do
progresso das civilizações. Grande questionamento sobre os fundamentos das
ciências sociais.
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Contexto Histórico Evolução das Ciências Sociais (após 1945)


• A superioridade dos Estados Unidos durante os 15 a 25 anos que se seguiram a II
Guerra Mundial teve como conseqüência que a atividade desenvolvidas pelas
ciências sociais residisse principalmente dentro das instituições americanas e, em
todos os lugares onde a estruturação das ciências sociais foi incompleta, os Estados
Unidos encorajaram a que se seguisse o modelo estabelecido pelos americanos,
pondo uma ênfase grande nas tendências do tipo mais nomotético.
• A reafirmação dos povos não europeus fez com que muitos pressupostos teóricos
das ciências sociais fossem colocados em causa com o argumento de que refletiam
os preconceitos políticos de uma era que chegara ao fim
• A expansão econômica propiciou o surgimento de pólos especializados de
desenvolvimento científico, especialmente vocacionados para a concentração de
informação e de capacidade técnica específica, financiados pelos Estados de
primeiro plano, fundações e empresas transnacionais.
• A expansão do sistema universitário a nível mundial, levando ao aumento
significativo do número de cientistas sociais, facilitou a intromissão recíproca, por
parte dos cientistas sociais, nas áreas disciplinares que lhes estavam mais
próximas.
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Questionamentos quanto a Validade das Distinções


no Interior das Ciências Sociais
• Havia três linhas de clivagem entre as disciplinas das ciências sociais no século XIX:
– O estudo do moderno / civilizado (história e ciências nomotéticas) e do mundo
não moderno (antropologia e estudos orientais);
– No mundo moderno, o passado (história) e o presente (ciências nomotéticas);
– Nas ciências sociais nomotéticas, o mercado (economia), o Estado (política) e
da sociedade civil (sociologia).
• A inovação mais saliente após 1945 foram os estudos multidisciplinares por área ou
região, entendidas como uma vasta zona geográfica dotada de uma suposta
coerência cultural, histórica e lingüística.
• Teoria da Modernização: A diferença entre as regiões ocidentais e não ocidentais
foi explicada a partir da existência de uma via de modernização comum a todos os
povos / regiões, onde cada unidade se encontrava em um estágio distinto. Surgiu
uma preocupação mundial com o desenvolvimento e as disciplinas das ciências
sociais se aproximaram em torno de projetos comuns.
• Inicialmente, as ciências nomotéticas vincularam-se às técnicas quantitativas.
Quando a crítica social começou a alimentar os debates no interior das disciplinas,
iniciou-se um questionamento da coerência das disciplinas e da legitimidade das
suas premissas intelectuais e do uso das doutrinas positivistas. 10/13
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Século XX
• Desenvolvimento da ciência leva às seguintes conclusões sobre o processo
de produção do conhecimento científico:
– Enfraquecimento da crença do ser humano num universo regido por
leis e passível de ser conhecido em seus mínimos detalhes.
– A compreensão do mundo está necessariamente regida pelas leis da
probabilidade e se efetua por meio de aproximações passíveis de erro.
– O acaso passa a ser visto como algo primordial no universo e no
próprio comportamento do ser humano. A racionalidade e a
consciência representam apenas uma camada da psique humana, que
é também determinada por processos inconscientes sobre os quais o
ser humano não tem controle.
– A ciência deixa de ser vista como epistemologicamente neutra.

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Superação da Estreiteza das Abordagens das Ciências


Sociais por meio do Universalismo Pluralista
Argumentos que caracterizam a estreiteza:
• O que as ciências sociais apresentam como universal constituí o ponto de vista de
uma minoria, que domina o mundo do conhecimento devido ao seu domínio no
mundo exterior às universidades, levando a estreiteza cultural das ciências sociais.
• A maioria dos cientistas sociais não faz mais do que estudar a si mesmos e existe
uma variedade de grupos esquecidos pelas ciências sociais: as mulheres, o mundo
não ocidental e outros grupos definidos como política e socialmente marginais.
• Se as ciências sociais constituem um exercício em busca de um conhecimento
universal, então o “outro” não pode existir, uma vez que o outro é parte de nós.
• A verdade científica ganha, por esta razão, um caráter histórico, pois aqueles que
detêm o poder social sempre vão considerar universal a situação vigente.

Como superar a estreiteza:


• Como o universal resulta da competição entre visões particularistas, é preciso
repensar a neutralidade: validade de asserções refletindo interesses conflitantes e
a valorização da racionalidade crítica.
• Necessidade de abrir as ciências sociais, permitindo a coexistência de diferentes
interpretações para um mundo que é incerto e complexo, pois só o universalismo
pluralista será capaz de captar a riqueza das realidades sociais.
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Valorização dos Estudos Culturais


• A visão da ciência clássica, que descreve o mundo como determinista e totalmente
passível de ser descrito sob a forma de leis causais, só pode ser aplicada a sistemas
estáveis e reversíveis no tempo que representam uma pequena parte da realidade.
• Nos sistemas fora de equilíbrio, que constituem a maior parte da realidade, o
conhecimento da sua situação atual não nos permite prever seus estados futuros.
Os sistemas sócio-históricos são essencialmente instáveis, pois agregam elementos
capazes, por força da experiência acumulada, de se adaptar, aprender e mudar seu
comportamento.
• Valorização dos Estudos Culturais:
– Justificativa: (1)as estruturas ou o universal são vistos como algo impessoal e
eterno, ou seja, fora do controle humano, tornando irrelevante a mobilização
social; (2)Confrontadas com a crise ecológica, as pretensões do universalismo
por parte da tecnologia viram-se postas em causa.
– Problemas: (1)ênfase posta na ação e no significado conduziu a um descurar
dos constrangimentos ao comportamento humano; (2)o ceticismo pós-
moderno conduziu a uma postura anti-teórica em sentido pleno e todos os
paradigmas teóricos existentes foram questionados.
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