Você está na página 1de 6

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


CURSO DE FILOSOFIA

ALAN FELIPE DA SILVA; JULLIO CESAR MORO FERREIRA

TRABALHO DISCENTE EFETIVO DA DISCIPLINA DE HERMENÊUTICA

MARINGÁ
2023
2

ALAN FELIPE DA SILVA; JULLIO CESAR MORO FERREIRA

TRABALHO DISCENTE EFETIVO DA DISCIPLINA DE HERMENÊUTICA

Trabalho apresentado ao Curso de


Filosofia da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, como requisito parcial
à conclusão da disciplina de
Hermenêutica.

Orientador: Prof. Dr. Reginaldo Aliçandro


Bordin.

MARINGÁ
2023
3

INTRODUÇÃO
Paul Ricoeur (1913) é um importante pensador do século XX. Uma de suas
contribuições mais importantes é a que aborda a hermenêutica, sobretudo porque
não se limitou à interpretação dos textos religiosos, literários ou jurídicos, mas
alargou o escopo de sua pesquisa para outras áreas. Desta forma, Ricouer
esforçou-se por estabelecer a hermenêutica como uma ciência técnica cujo objetivo
fosse ultrapassar a área que se restringia aos textos bíblicos.
DESENVOLVIMENTO
A hermenêutica de Ricouer transparece como um guia metodológico de
orientação de leitura e escrita de textos. É uma abordagem filosófica cuja finalidade
é buscar compreender o sentido dos textos e das ações humanas. O autor indica,
especialmente, a hermenêutica como uma disciplina próxima da exegese, isso
mostra que ele não rompe com a tradição que o antecedeu, mas faz uma distinção
entre hermenêutica e exegese. Assim Ricouer não ignora a origem da hermenêutica:
“Não é inútil lembrar que o problema hermenêutico se colocou primeiro que
tudo nos limites da exegese, isto é, no quadro duma disciplina que se
propõe compreender um texto, de o compreender a partir da sua intenção,
sobre o fundamento daquilo que ele quer dizer.” (RICOEUR, 1978, p.5)

Para ele, a hermenêutica não é uma disciplina de primeiro grau, como a


exegese, e sim de segundo grau, já que aquela busca compreender apenas as
narrativas sagradas. A hermenêutica diz respeito ao aspecto geral da interpretação,
não somente dos escritos, mas também da existência do indivíduo no mundo. Ora,
não se trata de saber ler ou escrever, mas, para além disso, trata-se de situar o
indivíduo e de compreender suas ações. Sendo assim, a hermenêutica constitui-se
como uma disciplina independente, que não se limita aos textos religiosos, literários
ou jurídicos, mas estabelece regras interpretativas dos textos e avança para uma
interpretação das condições existenciais do sujeito.
“Por consequência, a hermenêutica não poderia permanecer uma técnica
de especialistas dos intérpretes de oráculos, de prodígios ela põe em jogo o
problema geral da compreensão. Tanto mais que nenhuma interpretação
notável pôde constituir-se sem pedir empréstimos aos modos de
compreensão disponíveis numa dada época: mito, alegoria, metáfora,
analogia, etc.” (RICOEUR, 1978, p.6)
4

A hermenêutica, como um guia metodológico, é uma orientação de leitura e


escrita de textos poéticos, por isso o autor considera a influência do imaginário
social nas ações sociais, ou seja, os discursos e ações não são revestidos de
aspectos lógicos e racionais, sendo, por conseguinte, necessário interpretá-los.
Há uma distinção fundamental entre explicar e compreender: o primeiro diz
respeito ao método das ciências naturais, que busca analisar os fenômenos
estudados de forma objetiva e casual; o segundo é o método das ciências humanas,
que busca interpretar os fenômenos humanos de forma subjetiva, levando em
consideração cada indivíduo em sua existência bem como a intencionalidade que
acompanha cada ação sua. Ora, todo texto e toda ação humana são mediados por
símbolos, signos ou imagens que colocam um distanciamento entre o autor e o leitor
e tal distanciamento gera uma pluralidade de sentidos e exige uma interpretação
mediada pela hermenêutica. Deste modo, a hermenêutica não deve estagnar-se à
leitura e interpretação dos textos em si, mas deve aprofundar-se no contexto em que
o objeto da interpretação foi escrito, isto é, a situação do indivíduo e do mundo no
qual ele vivia. De fato, uma palavra na atualidade pode não ser compreendida a
partir de seu sentido profundo e originário, devido à contingência humana, que não
pode garantir uma transmissão às gerações posteriores quanto aos símbolos,
cultura e os textos que seja integral e incorruptível. Portanto, o esforço do
hermeneuta não se baseia unicamente em buscar o sentido das palavras no
contexto em que ele vive, mas quando foi escrito o texto e porque foi aplicado
naquela circustância.
“Enfim, o próprio trabalho da interpretação revela um desígnio profundo, o
de vencer uma distância, um afastamento cultural, de tornar o, leitor igual a
um texto tornado estranho, e, assim, de incorporar o seu sentido à
compreensão presente que um homem pode ter de si mesmo.” (RICOEUR,
1978,p.6)

Ademias, Ricoeur amplia o conceito de texto para uma abordagem que inclua
obras não escritas, por exemplo, quadros, esculturas, e, como já citado, a própria
existência do homem no mundo. As obras que transparecem as instituições sociais e
as ações humanas são, segundo o autor, fenômenos passiveis de uma
interpretação, uma vez que toda ação social requer uma interpretação em relação à
intenção original que moveu o autor que a fez, e que, sem essa devida interpretação
5

crítica, podem ser interpretadas distintamente, de modo que não se alcance a


intencionalidade de quem agiu.
Em rigor, Ricoeur propõe a hermenêutica a partir de dois aspectos, crítico e
ontológico. O crítico se dirige à epistemologia no que tange à natureza do
compreender, de modo que, sob este aspecto, a hermenêutica se propõe como
filosofia crítica da história, ainda que não como capaz de compreendê-la em si, mas
como algo que pode aprofundá-la para haurir dela conteúdos que a possam
expressar. A hermenêutica crítica busca compreender o ser cujo ser consiste em
compreender – do que se infere que o homem é dotado de capacidade
hermenêutica, isto é, é um ser que está no mundo e não somente o pode interpretar,
mas cujo próprio ser consiste nisso. Deste modo, a capacidade hermenêutica está
no indivíduo como o mundo está ao seu redor, o que faz estabelecer-se entre o
indivíduo e o mundo uma relação cujo vínculo que os identifica é a hermenêutica.
CONCLUSÃO
Portanto, Ricoeur, reclama a necessidade de uma hermenêutica crítica, isto é,
defende que a interpretação não deve limitar-se meramente à reprodução do sentido
textual, deve, entretanto, contestar os pressupostos ideológicos, os interesses e as
implicações éticas do texto submetido à hermenêutica crítica. Dessa forma, a partir
de Paul Ricoeur, a hermenêutica se reveste de uma emancipação para o leitor, de
modo que este deve assumir uma postura crítica e reflexiva acerca do texto.
6

REFERÊNCIA
RICOUER, Paul; O Conflito das Interpretações: ENSAIOS DE
HERMENÊUTICA.Porto-PT: RÉS-Editora,Lda, 1978.PDF

Você também pode gostar