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Em função do grande uso do estudo de produtividade pela indústria da


Construção Civil, e da grande diferença em métodos de mensuração, neste
trabalho será adotado o “Método dos Fatores” baseado no modelo proposto por
THOMAS; YIAKOUMIS (1987), adaptado e aperfeiçoado para a situação
brasileira em diversas dissertações e teses elaboradas no âmbito do Programa
de Pós-Graduação de Engenharia de Construção Civil e Urbana da USP.

O Método de Fatores tem como suas principais características


apresentadas por Araújo; Souza (1999):

• o foco na produtividade da mão-de-obra em nível de equipe


(medida em homens-hora por unidade de serviço);

• a possibilidade de consideração dos efeitos da curva de


aprendizagem;

• a detecção de correlação de vários fatores, que podem ser


mensurados, com a produtividade.

Portanto, levando em consideração a produtividade em nível de equipe,


a sua mensuração pode sofrer interferências em relação a vários fatores como,
detalhes de projeto, características físicas do trabalho, ambiente de trabalho,
disponibilidade de materiais, aspectos organizacionais e gerenciais e
condições atmosféricas.

O Modelo de Fatores pode ser representado graficamente de acordo


com a Figura 2.2 (SOUZA, 1996).

Figura 3: Representação gráfica do Modelo de Fatores (SOUZA, 1996)


8

O gráfico do Modelo de Fatores representado leva em consideração a


curva real e a de referência. Segundo THOMAS; YIAKOUMIS (1987), na curva
real é levada em conta as interferências na produtividade diária exprimindo a
realidade, através do cálculo da produtividade cumulativa que define um
traçado irregular de difícil entendimento. A curva de referência representa o
desempenho básico do serviço avaliado, que leva em conta a melhoria da
execução do serviço (aprendizagem) com o passar do tempo.

O desenvolvimento do Modelo de Fatores assume a existência de uma


condição padrão de trabalho, onde a produtividade diária será a de referência
(pode-se ou não assumir a existência de aprendizado). Fatores de interferência
fazem a produtividade real variar em relação à ideal. O modelo relaciona a
produtividade real diária às características diárias de trabalho. Se as condições
de trabalho se mantivessem constantemente iguais a um padrão definido
(situação de referência), a produtividade somente variaria caso houvesse
aprendizado (SOUZA, 1996).

2.2 INDICADORES DE MENSURAÇÃO

A produtividade da mão-de-obra será mensurada através do indicador


denominado Razão Unitária de Produção (RUP) que relaciona as medidas de
entrada (homens-hora utilizados) à saída (quantidade de serviço executada). A
RUP é um termo introduzido no país através de trabalhos sobre o assunto
realizados por SOUZA (1996) e é expressa matematicamente pela equação a
seguir:

Hh
RUP =
QS

Onde:

Hh = Homens-hora utilizados para execução do serviço

QS = Quantidade de serviço executados nesse período


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Em Araújo; Souza (1999) se relacionam dois tipos de RUP em função


do período de tempo ao qual se referem as medidas de entrada e saída. A
RUP diária e cumulativa, onde mostram respectivamente o efeito dos fatores
presentes no dia de trabalho sobre a produtividade e a tendência de
desempenho do serviço (útil para previsões em obra, ou para orçamentos de
futuras obras).

A RUP diária é calculada com os valores de homens-hora e


quantidade de serviço relativos ao dia de trabalho em análise. A RUP
cumulativa é calculada a partir dos valores de homens-hora e quantidade de
serviço, relativos ao período que vai do primeiro dia em que se estudou a
produtividade até o dia em questão.

Além dessas RUP´s calcula-se também a RUP Potencial que


corresponde a mediana dos valores da RUP Diária menores ou iguais à RUP
Cumulativa final. Segundo Souza (2001), a RUP Potencial é equivalente a “um
valor de RUP Diária associado à sensação de bom desempenho e que, ao
mesmo tempo, mostra-se factível em função dos valores de RUP Diária
detectados”.

Para a coleta de dados é evidenciada a necessidade de padronização


de medições tantos para entradas quanto para saídas.

Thomas (1991)1 faz algumas recomendações prescritas em um manual


elaborado na Pennsylvania State University, e que foram adotas por Souza
(1996), como sendo as principais regras de padronização para mensuração da
mão-de-obra:

PADRONIZAÇÃO PARA ENTRADAS

• deve-se calcular as horas de trabalho despendidas por uma


equipe, que consiste de um encarregado e os membros da
equipe sob seu comando;

• não são contadas horas dos trabalhadores por falta ou atraso;

• os ajudantes (trabalho de suporte) somente são considerados


quando seu trabalho é devotado exclusivamente à equipe em
estudo.

1
THOMAS, H.R., HORNER, R.M.W. & SMITH, G.R. Procedures manual for collecting productivity and
related data of labor-intensive activities on commercial construction projects: concrete formwork.
State College. PTI Report, 1991. 63p.
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PADRONIZAÇÃO PARA SAÍDAS

• não são considerados os vãos de aberturas;

• não são computados requadros dos caixilhos e portas;

• diferentes camadas do revestimento (ex: chapisco, emboço) são


quantificadas em separado.

2.3 CLASSIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA

Segundo Souza (2001), a mão-de-obra deve ser classificada de acordo


com sua abrangência ou tipo de mão-de-obra analisada. A figura 2.3 evidencia
esta classificação:

Figura 4: Classificação da mão-de-obra

Na RUP Oficial é considerada a mão-de-obra dos oficiais envolvidos


diretamente na produção.
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Na RUP Direta são considerados, além dos homem-hora


correspondentes aos oficiais, as horas correspondentes aos ajudantes
envolvidos diretamente com a produção.

A RUP Global envolve toda a mão-de-obra relacionada com o serviço


em análise (ex: ajudante do fornecimento de materiais, encarregado).

2.4 EXEMPLO DE CÁLCULO

Neste item é apresentado um exemplo de cálculo de produtividade de


revestimento de argamassa, mostrando as classificações introduzidas para
melhor entendimento.

Para efeito de exemplo, na Tabela 2.1 será calculada RUP Oficial, no


caso, aplicada somente a mão-de-obra dos oficiais envolvidos diretamente na
execução do revestimento, e na Tabela 2.2 a RUP Direta, incluindo-se as horas
correspondentes dos ajudantes envolvidos diretamente na produção.

Tabela 1: Exemplo de cálculo de produtividade dos Oficiais (RUP Oficial)


2
Eq. RUP (Hh/m )
RUP
Hh Hh QS QS
Dia Diária RUP
Of. Diária Cum. Diária Cum. Diária Cum.
RUP Pot.
Cum.
1 2 17 17 23 23 0,74 0,74
2 2 17 34 20 43 0,85 0,79
3 2 17 51 15 58 0,68 0,88 0,68 0,68
4 2 14 65 25 83 0,93 0,78
5 2 14 79 20 103 0,7 0,77 0,70
6 2 17 96 23 126 0,68 0,76 0,68

Tabela 2: Exemplo de cálculo de produtividade da Equipe Direta (RUP


Direta)
Eq. RUP (Hh/m2 )

Hh Hh QS QS RUP
Dia
Diária Cum. Diária Cum. Diária RUP
Of. Ajud. Diária Cum.
RUP Pot.
Cum.

1 2 1 26 26 23 23 1,13 1,13 1,13


2 2 1 26 52 20 43 1,30 1,21
3 2 1 26 78 25 68 1,04 1,15 1,04
1,09
4 2 1 23 101 15 83 1,53 1,22
5 2 1 23 124 20 103 1,15 1,20 1,15
6 2 1 26 150 25 128 1,04 1,17 1,04
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5.4 ORGANIZAÇÃO DAS EQUIPES DE PRODUÇÃO

Durante o período de execução do revestimento de argamassa no


Centro Comunitário, duas equipes foram responsáveis pelo desenvolvimento
das atividades.

Equipe direta 1:

• de 1 a 3 oficiais;

• de 1 a 3 ajudantes.

Equipe direta 2:

• de 1 a 2 oficiais;

• de 1 a 2 ajudantes.

Equipe de apoio:

• 2 ajudantes na Central de produção;

• 1 ajudante geral transportando o material para o andar.

A equipe direta 1 é constituída por funcionários da Construcap,


trabalhavam sob ordens do encarregado Mangabeira e ganhavam salário por
hora trabalhada. A Equipe direta 2 é composta executores subempreitados,
que eram pagos por tarefa, seus membros eram originados do Sergipe e eram
chamados por esse nome na obra.

Durante o período de execução do Térreo (participação da equipe 2), o


encarregado resolveu retirar a equipe do Sergipe, pois não estava feliz com o
resultado do trabalho deles, e foram realizar outras atividades no canteiro.

A argamassa era transportada por um equipamento chamado


Manipulador Telescópico, que transportava a argamassa da Central de
Produção até o Térreo, que por sua vez era içada por cordas até o pavimento
de execução.

No desenvolver dos serviços alguns oficiais foram remanejados para


outras atividades com necessidade maior, o encarregado enviava os oficiais
para assentamento de blocos em outros pavimentos, ou até mesmo para
atividades fora do Centro Comunitário.
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5.5 RESULTADOS

Serão apresentados nesse item os resultados obtidos da Razão Unitária


de Produção (RUP) Diária, Cumulativa e Potencial dos Oficiais responsáveis
pela execução do revestimento das paredes internas, referente à coleta de 36
dias no Centro Comunitário.

Como forma de avaliar o quanto a produtividade está diferente do valor


esperado, será calculado também o rendimento da produtividade diário, obtido
pela equação a seguir:

Re n dim ento
RUPcum − RUPpot
Pr odutividad e (%) = * 100
RUPpot

Os resultados foram divididos em 5 partes, onde a primeira é referente


ao chapisco em todas as paredes do empreendimento, enquanto que as outras
4 estão divididas entre as produtividades da execução da massa única nos
pavimentos:

• Equipe 1 – térreo, 1º pavimento e 2º pavimento.

• Equipe 2 – térreo.

Tabela 13: RUP Oficial Chapisco – Equipe 1

Eq. RUP (Hh/m2 )

RUP
Diária
Hh Hh QS QS RUP RUP Rend. da
Dia Of. Diária Cum. Diária Cum. Diária Cum. Cum. Pot. Produt.(%)
1 3 25,50 25,50 84,78 84,78 0,30 0,30 0,30 58,30
2 3 25,50 51,00 84,56 169,34 0,30 0,30 58,51
3 1 5,50 56,50 28,53 197,87 0,19 0,29 0,19 50,28
4 2 17,00 73,50 109,26 307,13 0,16 0,24 0,16 25,95
5 2 16,00 89,50 125,31 432,44 0,13 0,21 0,13 8,93
6 2 17,00 106,50 62,17 494,61 0,27 0,22 13,33
7 2 13,00 119,50 51,60 546,21 0,25 0,22 0,19 15,15
8 2 17,00 136,50 39,73 585,94 0,43 0,23 22,61
9 1 8,50 145,00 27,95 613,89 0,30 0,24 24,32
10 1 8,50 153,50 20,20 634,09 0,42 0,24 27,41
11 1 8,00 161,50 26,95 661,04 0,30 0,24 28,59
12 1 8,50 170,00 36,54 697,58 0,23 0,24 0,23 28,26
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RUP Oficial - Chapisco (Equipe 1)

0,45

0,40

0,35

0,30
Produtividade

0,25

0,20

0,15

0,10

0,05

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Dias

RUP Diária RUP Cumulativa RUP Potencial

Gráfico 18: RUP Oficial Chapisco (Equipe 1)

Tabela 14: RUP Oficial Massa Única Térreo – Equipe 2


Eq. RUP (Hh/m2 )

RUP Rend.
Diária da
Hh Hh QS QS RUP RUP Produt
Dia Of. Diária Cum. Diária Cum. Diária Cum Cum. Pot. (%)
1 2 17,00 17,00 19,66 19,66 0,86 0,86 0,86 5,48
2 2 13,00 30,00 14,74 34,40 0,88 0,87 6,37
3 1 8,50 38,50 7,31 41,71 1,16 0,92 12,58
0,82
4 2 17,00 55,50 21,78 63,49 0,78 0,87 0,78 6,61
5 2 17,00 72,50 17,99 81,47 0,95 0,89 8,52
6 2 16,00 88,50 16,06 97,53 1,00 0,91 10,66
40

RUP Oficial Térreo - Massa Única (Equipe 2)

1,40

1,20

1,00
Produtividade

0,80

0,60

0,40

0,20

0,00
1 2 3 4 5 6
Dias

RUP Diária RUP Cumulativa RUP Potencial

Gráfico 19: RUP Oficial Massa Única Térreo (Equipe 2)

Tabela 15: RUP Oficial Massa Única Térreo – Equipe 1


Eq. RUP (Hh/m2 )

RUP
Rend.
Diária da
Hh Hh QS QS RUP RUP Produt
Dia Of. Diária Cum. Diária Cum. Diária Cum. Cum. Pot. (%)
1 3 22,50 22,50 20,48 20,48 1,10 1,10 1,10 23,47
2 3 25,50 48,00 20,48 40,95 1,25 1,17 31,70
3 1 8,50 56,50 9,12 50,07 0,93 1,13 0,93 26,79
4 3 25,50 82,00 26,23 76,30 0,97 1,07 0,97 20,75
5 3 24,00 106,00 21,95 98,25 1,09 1,08 21,23
6 1 8,50 114,50 10,91 109,16 0,78 1,05 0,78 0,89 17,86
7 1 8,50 123,00 11,07 120,23 0,77 1,02 0,77 14,95
8 3 25,50 148,50 30,00 150,23 0,85 0,99 0,85 11,07
9 3 25,50 174,00 19,60 169,83 1,30 1,02 15,12
10 3 25,50 199,50 21,91 191,74 1,16 1,04 16,91
11 2 16,00 215,50 14,04 205,78 1,14 1,05 17,67
41

RUP Oficial Massa Única - Térreo(Equipe 1)

1,40

1,20

1,00
PRODUTIVIDADE

0,80

0,60

0,40

0,20

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
DIAS

RUP Diária RUP Cumulativa RUP Potencial

Gráfico 20: RUP Oficial Massa Única Térreo (Equipe 1)

Tabela 16: RUP Oficial Massa Única 1º Pavimento (Equipe 1)


Eq. RUP (Hh/m2 )

RUP
Diária
Hh Hh QS QS RUP RUP Rend. da
Dia Of. Diária Cum. Diária Cum. Diária Cum. Cum. Pot. Produt(%)
1 3 25,50 25,50 24,39 24,39 1,05 1,05 1,05 7,78
2 3 25,50 51,00 21,03 45,42 1,21 1,12 15,77
3 3 25,50 76,50 17,64 63,06 1,45 1,21 25,07
4 3 24,00 100,50 16,99 80,04 1,41 1,26 0,97 29,45
5 3 25,50 126,00 26,20 106,24 0,97 1,19 0,97 22,27
6 2 13,00 139,00 16,35 122,59 0,80 1,13 0,80 16,90
7 3 25,50 164,50 26,31 148,90 0,97 1,10 0,97 13,90
42

RUP Oficial Massa Única - 1º Pavimento (Equipe 1)

1,60

1,40

1,20

1,00
Produtividade

0,80

0,60

0,40

0,20

0,00
1 2 3 4 5 6 7
Dias
RUP Diária RUP Cumulativa RUP Portencial

Gráfico 21: RUP Oficial Massa Única 1º Pavimento (Equipe 1)

Tabela 17: RUP Oficial Massa Única 2º Pavimento (Equipe 1)


Eq. RUP (Hh/m2 )

RUP
Diária
Hh Hh QS QS RUP RUP Rend. da
Dia Of. Diária Cum. Diária Cum. Diária Cum. Cum. Pot. Produt.(%)
1 3 25,50 25,50 23,03 23,03 1,11 1,11 1,11 15,35
2 1 6,50 32,00 9,95 32,97 0,65 0,97 0,65 1,09
3 3 25,50 57,50 19,91 52,88 1,28 1,09 13,27
4 3 25,50 83,00 27,73 80,60 0,92 1,03 0,92 0,96 7,27
5 3 25,50 108,50 26,51 107,11 0,96 1,01 0,96 5,52
6 3 24,00 132,50 17,85 124,96 1,34 1,06 10,45
7 3 25,50 158,00 26,42 151,37 0,97 1,04 0,97 8,73

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