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A estrutura federativa dos Municípios na

perspectiva da Constituiçã o Federal de 1988


Elisangela Maria da Silva Helcias
Publicado em 07/2016. Elaborado em 12/2015.
https://jus.com.br/

O artigo visa compreender o novo papel do ente federativo municipal a partir do


advento da constituição federal de 1988, na atual conjuntura político administrativo do
Brasil.
RESUMO

Este artigo visa a compreender o novo papel do ente federativo


municipal a partir do advento da Constituição Federal de 1988 na atual
conjuntura político- administrativa do Brasil. Assim, o Município, ao assumir o
status de ente federativo, foi assegurado a sua independência, sua
competência e sua autonomia no atual ordenamento jurídico brasileiro. Nesse
sentido, a Constituição Federal de 88 proporcionou a repartição de
competência entre os entes federativos, assegurando aos entes municipais a
capacidade de se auto- organizarem e os muniram de poder local caracterizado
por autonomia, emancipando os municípios em relação ao Estado-membro e a
união. A metodologia adotada neste artigo foi a pesquisa bibliográfica,
utilizando-se dos seguintes autores Pereira (2014), Silva (2011), Ferrari (1993 e
2005), Meireles, (2003), Ferreira Filho (2009), Leal (2012), dentre outros,
adotou-se documentos oficias, como a Constituição Federal de 1988, que
subsidiaram teoricamente o presente estudo. Ao longo deste estudo, analisar-
se-ão a estrutura federativa e a organização administrativa dos municípios a
partir da Constituição Federal de 1988 e sua contribuição para a
implementação de um Estado Democrático de Direito. Portanto, pode-se inferir
a grande importância e contribuição da estrutura federativa do Município em
relação ao processo de descentralização político- administrativa alicerçado em
princípios constitucionais e preceitos positivados no ordenamento jurídico pós
88, que se propôs conceder a legitimidade do ente municipal no fenômeno da
sua auto-organização no atual contexto político estabelecido com a
promulgação da Constituição Federal de 88.

Palavras-Chave: Constituição Federal de 88. Entes Federativos.


Municípios.

ABSTRACT

This article aims to understand the new role of municipal federative


entity from the advent of the Constitution of 1988 in the current political and
administrative conditions in Brazil. Thus, the Municipality, by assuming the
status of federal entity, was assured its independence, competence and
autonomy in the current Brazilian law. In this sense, the Constitution of 88
provided the division
of powers between the federal entities, assuring loved city the ability to organize
themselves and muniram local government characterized by autonomy,
emancipating the municipalities in relation to the Member State and the unity.
The methodology used in this article was the literature, using the following
authors Pereira (2014), Silva (2011), Ferrari (1993 and 2005), Meireles (2003),
Ferreira Filho (2009), Leal (2012) among others, was adopted official
documents such as the Constitution of 1988 that theoretically subsidized the
present study. Throughout this study, we will analyze the federative structure
and administrative organization of municipalities from the Federal Constitution
of 1988 and its contribution to the implementation of a democratic state.
Therefore, one can infer the importance and contribution of the federal structure
of the municipality in relation to the process of political and administrative
decentralization grounded in constitutional principles and precepts positivized
post law 88, which proposed to grant the legitimacy of the municipal entity in the
phenomenon of self-organization in the current political context established with
the enactment of the Federal Constitution of 88.

Keywords: Federal Constitution of 88. federal entities. Counties.

1 INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 veio estabelecer como novidade o


fenômeno da emancipação dos Municípios, tornando-os entes autônomos e
componentes de uma estrutura federativa, a partir do artigo 1º, da CF/88, e,
logo em seguida, com o artigo 18, que estabeleceu a organização política e
administrativa da República Federativa brasileira. Nessa perspectiva, os
Municípios assumiram novas funções e competências na conjuntura político-
administrativa estabelecida pela Constituição Federal.

Com o surgimento das competências e atribuições, os Municípios


passaram a adquirir maiores obrigações e responsabilidades no âmbito
federativo. A partir desta perspectiva constitucional, configurou-se o processo
de descentralização administrativa, política e financeira entre os entes da
federação, gerando, consequentemente, gerando autonomia dos entes
municipais em diversos aspectos.

A reflexão partiu das seguintes indagações: Quais as competências do


Município na perspectiva da Constituição Federal de 1988? Quais as
consequências das atribuições e competências dos entes municipais na
organização político-administrativa da República Federativa brasileira? Qual a
concepção que a Constituição Federal de 1988 adotou para ampliar as
competências dos entes municipais na conjuntura política, econômica e social
da época? Assim, tais questionamentos nortearam as discussões acerca do
presente tema ao longo deste artigo.

O presente estudo se propõe refletir e elucidar, a luz dos fundamentos


constitucionais, legais e doutrinários, acerca do novo ente federativo de âmbito
municipal, advindo com a promulgação da Constituição Federal de 88, a partir
de transformações introduzidas pelo princípio da autonomia municipal,
proporcionando a inovação quanto ao fato de atribuir status de personalidade
política ao Município. Com o processo de descentralização, instituiu-se um
novo modelo federativo que consistiu na ampliação da competência material e
legislativa dos Municípios.

Este artigo se estrutura numa pesquisa bibliográfica, a qual tem como


fundamento principal os conhecimentos disponíveis em fontes bibliográficas,
como livros, artigos científicos, doutrinas e jurisprudências nacionais acerca da
estrutura administrativa e política dos Municípios na perspectiva da
Constituição Federal de 1988.

Portanto, pretende-se com o presente estudo ampliar o conhecimento


nesta linha de pesquisa a fim de compreender a competência e atribuições dos
Municípios com o advento da Carta Magna de 1988 e a sua repercussão na
organização administrativa, política e financeira da federação.

2 A CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA QUANTO AO PAPEL DOS


MUNICÍPIOS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS DE 1824 A 1988

A primeira constituição brasileira data do ano de 1824 instituiu, a partir


do seu artigo 168, as Câmaras Municipais nas cidades e nas vilas existentes
no Brasil. Nessas Câmaras se caracterizavam pelo seu caráter seletivo e eram
presididas por vereadores a partir da votação. No artigo 169, da Constituição
de 1824, determinou-se que as Câmaras Municipais eram regulamentadas por
Lei Ordinária, sendo esta lei que disciplinava o processo de escolha dos
vereadores, descriminando os direitos e deveres de cada membro, bem como
também estabelecia a subordinação desta Câmara ao Presidente de cada
Província (MEIRELLES, 2003).

Com a Lei nº 01/1828, especificamente em seu artigo 24, veio


estabelecer que a referida câmara tinha funções meramente administrativas,
não podendo exercer nenhuma jurisdição, ou seja, as Câmara municipais não
tinham autonomia em relação à gestão local e sem influência política
(CAMPANHOLE, 1976).

Segundo Meirelles (2003), na época do Império, os Municípios não


tinham nenhuma autonomia, com o promulgação da Lei de nº 16/1834,
implementou-se o processo de descentralização, a fim de conceder mais
poderes aos entes municipais e proporcionar mais autonomia na organização
administrativa-política. Em contrapartida, a lei em epígrafe “incorreu em igual
erro ao subordinar as Municipalidades às Assembleias Legislativas provinciais
em questões de exclusivo interesse local” (MEIRELLES, 2003, p. 563).

Segundo Pereira (2014, p. 18):

Com a Lei 105, de 12.05.1840, deu-se


interpretação mais ampla aos dispositivos da Lei 16/34,
tentando-se restituir algumas franquias ao Município.
Entretanto, essa nova disposição nada adiantou, uma vez
que a Lei Regulamentar de 1928, não previa órgãos
adequados aos Municípios para o exercício de suas
funções.

De acordo com o autor supramencionado, observa-se que se tentou


ampliar os poderes dos Municípios, mas não disponibilizou também a criação
de órgãos para que ocorresse o adequado funcionamento dos municípios,
possibilitando a execução de funções que propiciassem uma maior autonomia
administrativa, política e financeira a estas municipalidades. Na verdade, os
Municípios, por não deterem nenhuma função política e judicial, se tornavam
politicamente subordinados tanto ao Império como às províncias, exercendo a
função meramente de caráter administrativo, econômico e cunho político.

Nessa perspectiva, também se pode inferir que, na época do império,


as Câmaras Municipais se restringiam: a administrar a província, organizando o
seu funcionamento, com atos de cunho administrativo; a gerenciar a economia,
controlando e fazendo cumprir as regras para o comércio e para a economia; e
a gerenciar politicamente cada órgão municipal. Portanto, é perceptível que,
nesse momento da política brasileira, as Câmaras Municipais se
caracterizavam por ser um órgão da província meramente ligado à
administração a fim de controlar a execução de regras econômicas e políticas
impostas pelo Império e pela província.

Ainda de acordo com Meirelles (2003), com a Constituição de 1891,


época republicana, em seu artigo 68, estabeleceu que a organização estatal
deveria assegurar, principalmente, a autonomia dos Municípios em relação aos
interesses restritamente local, ou seja, os Municípios tinham autonomia em
tratar de assuntos relacionados de ordem e de caráter municipal. Dessa forma,
proporcionou que as Constituições Estaduais estruturassem o funcionamento
dos Municípios de acordo com os seus interesses, a fim de garantir uma maior
ou menor participação na administração local.

Na perspectiva de Leal (2012), os Municípios se transformaram um


instrumento de grande interesse dos coronéis, uma vez que estes se tornaram
instrumentos de manobras para as eleições, sempre com a finalidade de, com
os apoios dos coronéis, manterem os governadores estaduais no poder. Além
disso, ressalta que a problemática dos Municípios está relacionada à carência
de autonomia que foi constante em todas as épocas da História brasileira.

Ao estudarmos a autonomia municipal no Brasil,


verificamos, desde logo, que o problema verdadeiro não é
o de autonomia, mas o de falta de autonomia, tão
constante tem sido, em nossa história, salvo breves
reações de caráter municipalista, o amesquinhamento das
instituições municipais. A atrofia dos nossos municípios
tem resultado de processos vários: penúria orçamentária,
excesso de encargos, redução de suas atribuições
autônomas, limitações ao princípio da eletividade de sua
administração, intervenção da polícia nos pleitos locais
etc (LEAL, 2012, p. 68).
Embora a Constituição de 1981 tenha proposto a autonomia municipal
no Brasil, pode-se inferir que este fenômeno, na prática, não se concretizou, já
que tais entes não eram estruturados e muito menos dependentes, sendo certo
que muitos eram vistos como propriedade particular e curral eleitoral dos
coronéis, que manipulavam as eleições a fim de atender seus interesses
pessoais. Assim, os Municípios restringiam as suas funções a atender os
interesses de uma classe dominante (MEIRELLES, 2003).

Com a promulgação da terceira constituição datada de 1934, observou-


se que não bastava somente manter a autonomia dos Municípios, mas era
necessário provê-los de rendas a fim de que tais entes realizassem os seus
serviços públicos e, consequentemente, possibilitar o progresso do Município.
No artigo 13, desta Constituição, ficou determinado que os Municípios
deveriam ser organizados de forma a manter a sua autonomia no que se refere
ao seu interesse, exclusivamente, quanto às eleições para prefeitos e
vereadores; decretação dos impostos e arrecadação e; a organização
administrativa dos serviços de competência exclusiva do Município. Nessa
Carta Magna, criou-se um sistema de arrecadação pautado na divisão e/ou
partilha dos impostos entre os diversos entes federados.

Entretanto, observa-se que, na Constituição em epígrafe, a escolha dos


prefeitos para administrar os municípios não era de caráter democrático, mas
tal procedimento era de livre nomeação do Governador do Estado. Assim,
ainda tentava se manter, no âmbito dos Municípios, uma dominação do Estado
em relação aos Municípios, implementando medidas antidemocráticas, a partir
da escolha de seus representantes (PEREIRA,2014).

A Constituinte de 1946 também ressaltou a importância da autonomia


municipal, a partir dos aspectos de ordem política, administrativa e financeira.
Dessa forma, os constituintes da época vieram propor a criação de
mecanismos de distribuição de poderes, a fim de proceder ao processo de
descentralização, ou seja, na nova ordem constitucional, retirou-se o grande
poder concentrado pelo Poder Executivo. Assim, ocorreu uma distribuição de
poderes entre a União, Estados e Municípios. Meirelles (2003) ressalta que
esse fenômeno não chegou a comprometer a ordem federativa e muito menos
feriu as autonomias de âmbito estadual e municipal. No âmbito municipal,
ocorreu a integração do sistema eleitoral e ocorreu à disposição de seus
órgãos sempre em simetria com os poderes da nação.

A Constituinte de 1967 e a Emenda Constitucional nº 01 de 69


apresentaram e adotaram pensamentos retrógrados quanto às normas
constitucionais, pois se implementou normas caracterizadas pela centralização
e pautada no acúmulo de poderes no Executivo. Ao contrário das demais
Constituições, nesse período, os atos e as Emendas Constitucionais vieram
propor a limitação do poder dos Municípios nos âmbitos político, administrativo
e financeiro. Assim, pode-se concluir que, nesse período, os Municípios
novamente tiveram os seus poderes e sua autonomia reduzidos, uma vez que
o Estado brasileiro resolveu implementar medidas que resultaram na restrição
das funções dos Municípios.
Por fim, a Constituição Federal de 1988 ampliou a autonomia dos
Municípios nos aspectos político, econômico e político, outorgando-lhe a
capacidade e competência de elaborar a sua legislação local denominada de
Lei Orgânica. Assim, estabelece o artigo 29, da CF/88: “O município reger-se-á
por lei orgânica, votada em dois turnos, com interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a
promulgará” (BRASIL, 1988). Dessa forma Pereira (2014, p.24, apud Felisbino)
afirma o seguinte:

Esse artigo coloca o município, em relação a sua


autonomia, em uma posição privilegiada, uma vez que
não está mais subordinado a qualquer autoridade
estadual ou federal no desempenho de suas atribuições.
Os municípios, ainda, dentro de sua competência
privativa, podem “legislar sobre assuntos de interesse
local” (conforme o disposto art. 30, I), em substituição à
tradicional expressão “peculiar interesse”, que
acompanhava todas as Constituições anteriores.

Nesse âmbito, ressalta-se que, com a Constituição Cidadã de 1988, os


Municípios se apoderaram de mais atribuições, poderes e de uma autonomia
política, econômica e legislativa, uma vez que o Estado brasileiro estabeleceu
mecanismos capazes de reduzir a subordinação dos entes municipais a
qualquer outro ente de âmbito estatal ou federal, principalmente, com a
oportunidade de poder legislar sobre assuntos relacionados ao seu interesse
de ordem local.

3A REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DOS ENTES


FEDERATIVOS NA CONSITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Neste capítulo, busca-se, inicialmente, fazer uma análise acerca do


papel do Município na perspectiva da Constituição Federal de 1988,
procurando ressaltar as suas principais competências no atual contexto
constitucional relacionado à promulgação da Constituição de 1988. Assim, faz-
se necessário realizar uma análise acerca do avanço constitucional quanto à
elevação do Município ao status de ente federativo da República Federativa do
Brasil e a ampliação da autonomia dos entes municipais em relação aos
demais entes federativos.

3.1 O Município da Constituição Federal de 1988

De acordo com Lima (2014), com o advento da Constituição Federal de


1988, tronou-se perceptível a ampliação da autonomia do Município,
especialmente, referente à sua condição de ente federativo. Tal status ficou
evidenciado no artigo 1º, da Carta Magna de 1988, em que ficou estabelecido
que a República Federativa do Brasil é constituída pela união de caráter
indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal. Ademais, no artigo 18,
verifica-se que, quanto à organização político e administrativa, a República
brasileira é constituída de União, Estado, Distrito Federal e os Municípios,
ressalvando que todos são autônomos. Dessa forma, pode-se inferir que o
Município se apresenta equiparado formalmente aos Estados e à União,
surgindo como uma terceira dimensão do Federalismo brasileiro.

Na perspectiva de Silva (2011), esta ampliação fica visível nos artigos


29 e 30 da Constituição de 1988, estabelecendo que o Município se torne o
principal prestador de serviços de saúde e de educação fundamental, cabendo
aos Estados e à União apoio de ordem técnica e financeira.

A Constituição atual vem também conceder aos Municípios o poder de


auto-organização, bem como exterminou a possibilidade do governador
nomear prefeitos, ficando completa a capacidade de se autogovernar. Por outro
lado, manteve-se a intervenção federal nos Estados, devendo estes obediência
ao princípio constitucional da autonomia municipal. Ademais, também se
manteve a intervenção dos Estados nos Municípios, conforme previsão do
texto constitucional (SILVA, 2011).

De acordo com Silva (2011), a grande diferença entre as Constituições


anteriores e a atual quanto à autonomia municipal é que, nas anteriores, a
concessão era direcionada aos Estados, sendo que eram estes que
organizavam os Municípios, a fim de manter e assegurar a autonomia estatal.
Em síntese, alargou-se a autonomia municipal, resultando na condição de ente
federativo aos Municípios.

3.2 As Competências Constitucionais dos Municípios

Segundo Almeida (2000), a Constituição Federal de 1988, em seu


artigo 30, determinou que as competências legislativas e materiais são
consideradas privativas e concorrentes. No inciso I, em que se trata da
competência legislativa privativa, versa sobre as matérias de interesse local em
que os Municípios podem legislar. Já no inciso II, que trata da competência
concorrente, determinou que o Município tem competência para legislar de
forma suplementar a legislação federal e estadual, sempre sendo necessário
tratar-se de interesse local. Nos incisos III, IV, V e VIII, aborda a competência
material privativa, que são: arrecadar impostos e aplicá-los; criar, organizar e
suprimir distritos; organizar e prestar serviços públicos de interesse local; e
promover o ordenamento territorial. Por fim, os incisos VI, VII e IX, refere-se às
competências de ordem material comum, que são saúde e Educação Infantil e
Ensino Médio.

Ademais, a Constituição Federal de 1988, no campo das competências


exclusivas resolveu não especificá-las, tendo em vista que os entes municipais
tendem a legislar sobre assuntos relacionados ao interesse local, tendo sido
enumerada algumas competências denominadas de privativas. É importante
ressaltar que outra parte das competências dos Municípios está implícita,
sendo sempre estas pautadas no âmbito do interesse local (ALMEIDA, 2000).

Outro ponto considerado importante é a discussão entre a


jurisprudência e a doutrina acerca da substituição o termo peculiar interesse
por interesse local. Segundo Ferreira Silva (1990, apud Almeida, 2000), esta
substituição reduziu a autonomia do ente municipal, pois afastou de sua
competência, matérias relacionadas aos interesses de outros entes da
federação. Já na concepção de
Meirelles (2000), a adoção do termo interesse local não significa interesse que
seja meramente exclusivo do ente municipal, mas corresponde ao interesse
predominante do município em relação aos demais entes da federação. Nessa
concepção, o interesse local está relacionado aos assuntos que os Municípios
podem tratar que estão relacionados diretamente à realidade deste ente, sendo
necessário legislar e tomar as providências cabíveis.

Por fim, quanto à distribuição de competência, pode-se concluir que o


Município obteve grandes ganhos, não só pelo reconhecimento de ente federal,
mas pela concessão da autonomia de se auto-organizar. Entretanto, na prática,
Mohn (2006) esclarece que os dispositivos constitucionais ainda estão bastante
distantes da realidade, visto que ainda há o poder centralizador que impõe
políticas nacionais para serem executadas pelos Estados e pelos Municípios,
em razão destes estarem muito próximo das questões políticas, econômicas e
financeiras.

3.3 A Autonomia Municipal no Âmbito Político, Administrativo e


Financeiro

Na Constituição Federal de 1988, a autonomia dos Municípios ficou


estabelecida no artigo 18, sendo disciplinada nos arts. 29 e 30. Nesse aspecto,
determinou-se a capacidade dos entes municipais de se auto-organizarem,
autolegislarem, autoadministrarem e de autogovernarem, a fim de conceder a
autonomia municipal de que tanto necessitavam para se tornar um ente
federativo (FERRARI, 1993).

Segundo Ferreira (2005), a autonomia municipal se fundamenta em


cinco bases, que são as seguintes: 1. auto-organização, a partir de uma
Constituição Municipal denominada de Lei Orgânica; 2. Autogoverno, a partir
de eleições de Prefeito, Vice-prefeito e de Vereadores; 3. Legislativa própria,
mediante leis municipais, trata-se de competência de ordem exclusiva e
suplementar; 4. Autoadministração, concessão de poder para administrar a
prestação de serviços e a realização de serviços locais e; 5. Financeira, para
decretar os seus tributos e aplicação de suas rendas.

Segundo Ferrari (2005), a Constituição Federal de 1988 trouxe como


uma grande conquista a capacidade dos entes municipais de elaborarem suas
próprias leis, as quais vieram estabelecer a vida dos Municípios, devendo estes
observarem os limites estão previstos na Constituição Federal e Estadual.
Dessa forma, pode-se entender que a autonomia advinda da Constituição de
1988 se refere à capacidade de organização no âmbito político, administrativo
e financeiro.

Ferreira Filho (2009, p. 55) ressalta o seguinte:

A existência real da autonomia depende da


previsão de recursos, suficientes e não sujeitos a
condições, para que os Estados possam desempenhar
suas atribuições. Claro que tais recursos hão de ser
correlativos à extensão dessas atribuições. Se
insuficientes ou sujeitos a condições, a autonomia dos
Estados-Membros só existirá no papel em que estiver
escrita a Constituição. Daí o chamado problema de
repartição de rendas.

No plano político, Pereira (2014) destaca que esta autonomia se


fundamenta na capacidade de se estruturar os Poderes Executivo e Legislativo.
No texto Constitucional, estabeleceu-se que a Lei Federal não tem
predominância sobre a municipal, pois qualquer norma que venha invalidar a
competência do ente municipal é considerada inconstitucional. Quanto ao
aspecto da organização municipal, cabe a Lei Orgânica disciplinar, sempre
devendo esta respeitar as normas estabelecidas na Constituição Federal e
Estadual. Por fim, é no artigo 29, da Constituição Federal de 1988, que há uma
série de pressupostos dão margem a este tipo de autonomia, que são: eleições
de Prefeitos, Vice-prefeitos e Vereadores, no período de 04 anos;
disciplinamento do número de vereadores a partir do princípio da
proporcionalidade; subsídios do Poder Executivo e Legislativo Local, dentre
outros.

Na vertente administrativa, ressalta-se a capacidade dos Municípios de


se autogerirem, conforme o estabelecido no artigo 30, da Constituição Federal
de 1988, no qual se estabelece a competência de administrar o Município a fim
de garantir os serviços considerados essenciais para os munícipes.

Por fim, na área financeira, de acordo com o artigo 30, III, da CF/88,
compete ao município “instituir e arrecadar os tributos de sua competência,
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas
ou publicar balancetes nos prazos fixados em lei”. Nesse âmbito, o Município, a
partir da sua própria arrecadação, pode dispor de rendas para realizar as
despesas necessárias sem ser necessária a interferência dos demais entes
federativos (PEREIRA, 2014).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar este estudo, pode-se inferir, inicialmente, que o arcabouço


jurídico nacional disciplinou a autonomia dos Municípios quanto à sua
autonomia e competências a fim de criar condições no âmbito dos Municípios,
a partir de suas competências e na autonomia municipal com o propósito de
favorecer a implementação de ações galgadas no cumprimento de normas
estabelecidas pela atual Constituição Federal 1988.

Em razão das grandes transformações sociais, econômicas e políticas


que o Brasil vem passando,deve-se ressaltar o avanço no âmbito das
Constituições Federais quanto à elevação de ente federativos dos Municípios,
tendo em vista a ampliação deste ente em atuar em matérias referentes ao
interesse local. Diante da evolução no ordenamento jurídico brasileiro, os
Municípios incorporaram novas atribuições e competências no âmbito de sua
capacidade política, administrativa e financeira.
Dessa forma, a distribuição de competências com o advento da
Constituição Federal de 88 proporcionou grandes contribuições ao Município,
não somente pela sua integração como ente federativo, como também pelo
acréscimo quanto ao fato de se auto-organizarem. Em contrapartida, a
realidade, esta nova condição de ente federativo concedido aos Municípios se
refere apenas ao processo de descentralização somente no plano jurídico-
administrativo, deixando o aspecto político de lado, uma vez que impõe aos
Municípios a responsabilidade de simplesmente executar as políticas de cunho
nacional.

Ademais, a partir da égide da Constituição Federal de 1988, pode-se


afirmar que a realidade municipal sofreu profundas transformações. Tia
transformações favoreceram a implementação do fenômeno da
descentralização das políticas públicas, conferindo aos municípios novas
responsabilidades no âmbito político e administrativo a fim de que estes entes
exercitassem com autonomia os assuntos referentes ao interesse local devido
ao seu novo papel de organização adquirido com a promulgação da última
Constituição Federal.

Ainda há muitos obstáculos a ser superados para ocorrer a


implementação dos preceitos constitucionais quanto às competências do ente
municipal, uma vez que, na prática, é fundamental que o próprio Estado crie
condições para que realmente o Município coloque em prática sua autonomia
alcançada com a Constituição Federal de 88.

Portanto, é primordial que os demais entes federativos admitam e


reconheçam o Município como membro integrante da República Federativa do
Brasil, a fim de criar condições para os Municípios exercerem as suas
responsabilidades como agente responsável por implementar ações pautadas
no interesse peculiar e local de cada território municipal.

Espera-se que este trabalho científico contribua para uma reflexão


acerca do novo papel do Município com o advento da Constituição Federal de
1988, principalmente, quanto à sua autonomia e competência no âmbito dos
preceitos e de normas constitucionais.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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