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REVISÃO SISTEMÁTICA DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS SOBRE A ATUAÇÃO

DO PSICÓLOGO ESCOLAR NO AUXÍLIO DE CRIANÇAS DIAGNOSTICADAS


COM TEA.
RESUMO
Tendo como referencial teórico a psicologia histórico-cultural, foi realizado um recolhimento
de dados acadêmicos com temática da atuação do psicólogo escolar no meio educacional para
crianças com TEA. A partir disso, foi feita a relação entre o tema e os materiais coletados para
análise, com o objetivo de entender a atuação do psicólogo, pontuar faltas na temática, e
promover conhecimento para uma observação crítica e realista dentro da psicologia escolar.
Dessa forma, podemos obter uma mediação educacional de qualidade e desenvolvimento
escolar adequado para crianças diagnosticadas com TEA. Os resultados desta revisão
sistemática destacam as principais tendências e conclusões da investigação sobre este tema,
incluindo a diversidade de abordagens de tratamento e estratégias de intervenção utilizadas
por psicólogos escolares. Além disso, foram identificadas lacunas no conhecimento e em
áreas de investigação que merecem maior atenção, como a eficácia de disposições específicas
e a avaliação do impacto do apoio psicológico no desempenho académico e no bem-estar
emocional das crianças com autismo.

Palavras-chave: Psicologia Escolar, TEA (Transtorno do Espectro Autista), Psicologia


Histórico-Cultural.
ABSTRACT
Having the historical-cultural psychology as a theoretical reference, academic data was
collected on the theme of the school psychologist's role in the educational environment for
children with ASD. From this, a connection was made between the topic and the materials
collected for analysis, with the purpose of understanding the psychologist's role, identifying
gaps in the topic, and promoting knowledge for critical and realistic observation within school
psychology. That way, we can obtain quality educational mediation and adequate school
development for children diagnosed with ASD. The results of this systematic review highlight
the main themes and findings from research on this topic, including the diversity of treatment
approaches and intervention strategies used by school psychologists. Furthermore, gaps in
knowledge and areas of research that deserve greater attention were identified, such as the
effectiveness of specific provisions and the assessment of the impact of psychological support
on the academic performance and emotional well-being of children with autism.

Keywords: School Psychology, ASD (Autism Spectrum Disorder), Historical-Cultural


Psychology.
1 PSICOLOGIA HISTÓRICO- CULTURAL
No que diz respeito a abordagem teórica histórico-cultural que alicerça essa produção
científica, o método do materialismo histórico-dialético - e o conteúdo técnico científico
produzido a partir do mesmo - aborda temas como o desenvolvimento do psiquismo e da
consciência, a hominização e a psicologia no sistema educacional, de forma que fornece base
concreta para a prática e o posicionamento crítico do profissional da psicologia. Se mostra
necessário então, para o discorrer desta análise, definir conceitos utilizados por essa
abordagem e compreender como a tal explica o desenvolvimento humano.
Luria e Tuleski apresentam a organização da atividade consciente ou trabalho -
caracterizado pelo planejamento, conceitualização, e produção guiada pela auto conduta
(TULESKI, 2011, p. 182) - em um movimento que destaca a relação dialética entre corpo e
mente, biológico e social. Atribuem o desenvolvimento das funções psicológicas superiores às
condições objetivas de sua existência; sua formação social (LURIA, 1979b, p. 58 TULESKI,
2011, p. 196).
Este último ponto conversa com o conteúdo de outros autores, descrevendo esse
desenvolvimento: após o preparo biológico do homem - a hominização, inscrição das
condições e às necessidades da produção na estrutura anatômica do homem - o progresso da
história humana se liberta totalmente da sua dependência inicial para com as mudanças
biológicas e as leis sócio-históricas agora regem a evolução (LEONTIEV, 1978). Esta
evolução, depende necessariamente da transmissão, aquisição e transformação dos fenômenos
externos da cultura material e intelectual - chamados instrumentos de trabalho. A
apropriação destes, produzindo novas funções psíquicas, só é possibilitada na relação com os
fenômenos do mundo circundante através de outros homens, isto é, pela mediação/educação
(LEONTIEV apud TULESKI, 2008, p. 130-131) que por sua vez utiliza-se de signos,
linguagem - instrumentos psicológicos concretos construídos culturalmente - como ferramenta
de aquisição de instrumentos - como a fala e o pensamento (VIGOTSKI apud TULESKI,
2008, p. 142).
O autor Leontiev então evidencia a divisão desta cultura material intelectual produzida
historicamente:
“A divisão social do trabalho tem [...] como consequência que a
atividade material e intelectual, o prazer e o trabalho, a
produção e o consumo se separem e pertençam a homens
diferentes. Assim, enquanto globalmente a atividade do homem
se enriquece e se diversifica, a de cada indivíduo tomado à parte
estreita-se e empobrece.
[...]
A concentração das riquezas materiais nas mãos de uma classe
dominante é acompanhada de uma concentração da cultura
intelectual nas mesmas mãos” (LEONTIEV, 1978, p. 8-9).

Esta análise revela a divisão existente na cultura material intelectual, que é produzida
historicamente. Essa divisão é uma consequência da separação social do trabalho, na qual
diferentes indivíduos são responsáveis por atividades materiais e intelectuais distintas. Como
resultado, ocorre uma distinção entre atividade material e intelectual, entre prazer e trabalho,
entre produção e consumo, e essas esferas são atribuídas a diferentes grupos de pessoas - logo,
embora a atividade humana globalmente se enriqueça e diversifique, a atividade de cada
indivíduo em particular se torna mais estreita e empobrecida. Essa concentração das riquezas
materiais e culturais nas mãos de uma classe dominante é um fenômeno característico desse
contexto. Enquanto alguns indivíduos têm acesso privilegiado aos recursos e à cultura
intelectual, outros são excluídos e têm suas possibilidades de desenvolvimento limitadas
(LEONTIEV, 1978, p. 8-9).
A partir disso, podemos observar a crescente incidência de crianças diagnosticadas com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a relevância da atuação da Psicologia Escolar nesse
contexto, que impulsiona a necessidade de uma análise crítica das produções científicas
existentes. O presente trabalho justifica-se pela escassez de revisões sistemáticas sob a
perspectiva da psicologia histórico-cultural, que abordem a relação entre a Psicologia Escolar
e o diagnóstico de TEA.
A fim de entender melhor o papel do psicólogo escolar nessa circunstância, foi realizado o
seguinte estudo a partir de publicações científicas sobre o tema, que aponta as dificuldades
enfrentadas no sistema educacional, pelos pais, crianças e equipe pedagógica no diagnóstico
do Espectro Autista. Também salientando a forma em que questões sociais, culturais e
econômicas afetam suas vivências e desenvolvimento na escola, elencando qual a participação
do psicólogo nesse contexto.
O estudo busca assimilar que o diagnóstico de TEA, interpretado de maneira equivocada ou
leiga, pode afetar a conduta acadêmica das crianças com esta condição. Evidencia a
necessidade de apoio individualizado, competência, e flexibilidade, conforme o impacto que
o diagnóstico pode causar. Sendo um assunto de extrema pertinência, deve possibilitar o
desenvolvimento de um pensamento crítico e atuante na problemática exposta; a possibilidade
de novas metodologias educacionais e soluções para problemas frequentes no âmbito escolar.

1.1 O PAPEL DA EDUCAÇÃO E DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO

Visto esse cenário e compreendendo que, segundo Martín-Baró (1996), a consciência é um


processo de construção social e histórica provocados por sistemas desiguais e alienantes (apud
DIAS, 2020), observa-se então o processo de transformação que deve pelo promovido pelo
psicólogo latino-americano: posicionar o conceito de consciência em contraponto com a
alienação, bem como o conceito de saúde em contraponto com o de doença (DIAS, 2020) -
por meio da promoção da conscientização: um processo ativo que envolve a percepção e
aprendizagem crítica e reflexiva da realidade, o que permite aos indivíduos agir em direção à
mudança social. Paulo Freire utiliza do conceito de conscientização para explicar o
movimento de "transformação pessoal e social que experimentam os oprimidos latino
americanos quando se alfabetizam em dialética com seu mundo" (1970, 1971, 1973;
INODEP, 1973).
Podemos assim argumentar que, para os autores, que a consciência é mediada pela cultura e
pelas estruturas sociais em que vivemos, e que é através da conscientização crítica que
podemos compreender essas estruturas e mudá-las. Ao considerarmos estas questões podemos
dizer que a conscientização e buscar a desalienação é horizonte primordial do papel do
psicólogo; ao mesmo tempo que ser definido pela vida real da população que atende, pois tal
papel deveria, segundo Martin-Baró (1985 apud DIAS, 2020), se dar pela libertação do sujeito
a partir de uma maior compreensão e tomada de consciência sobre os determinismos sociais
que o impedem de agir. Somente um maior conhecimento de tais determinações abriria ao
sujeito a capacidade de uma ação mais consciente.
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo geral relatar a construção científica da dialética
da Psicologia escolar em relação às crianças diagnosticadas com TEA. Por conseguinte, tem-
se como objetivos específicos a realização de uma revisão sistemática das produções
científicas que abordam a relação entre a Psicologia Escolar e o diagnóstico de Transtorno do
Espectro Autista (TEA) no contexto educacional; Analisar criticamente as evidências
científicas disponíveis, buscando identificar as práticas e intervenções adotadas pela
Psicologia Escolar em relação às crianças com TEA e suas famílias, além de, investigar a
repercussão do diagnóstico de TEA na atuação dos psicólogos escolares e seu papel no
suporte às necessidades das crianças e famílias nesse contexto.
2 METODOLOGIA

Esse estudo caracteriza-se como uma revisão sistemática, estruturando-se em um


levantamento e análise crítica - nas lentes da abordagem da psicologia histórico-cultural - de
artigos, teses e dissertações sobre o tema, selecionados a partir de critérios e procedimentos
metódicos.

2.1 LEVANTAMENTO DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

No desenvolvimento desse levantamento e categorização de pesquisas utilizou-se como


campo de dados Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), bem como
Scientific Electronic Library (SCIELO) para a busca de artigos. As palavras chaves utilizadas
para selecionar os documentos foram Psicologia escolar, e a sigla TEA - de forma a alcançar
as produções que contemplam a relação dialética tema desta análise. Foram limitados para a
amostra, os documentos publicados no recorte de tempo de 2012 a 2022, de autoria brasileira.
Foram encontrados, sobre esses critérios, 77 dissertações e 32 teses na plataforma BDTD –
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, 4 artigos na base de dados SCIELO. A
partir deste recorte de material, é possível então a produção de uma análise dos resumos bem
como apresentar seus dados e interpretá-los.
Consta-se que algumas das produções científicas, tituladas “Construção e evidências de
validade de conteúdo da "Escala de Autoeficácia Parental para o Transtorno do Espectro
Autista - EAP-TEA”, de 2020; “Relações experienciadas na equoterapia nos caminhos do
quiasma educação/animalidade”, de 2019, se mostraram inacessíveis: seu endereços online
não se encontram operantes.

3 DISCUSSÃO

A partir da seleção de artigos, dissertações e teses as quais tiveram seus resumos lidos e
analisados, pode-se constatar prevalências temáticas: 33 não tratavam do assunto, tendo temas
diversos além da psicologia escolar e diagnóstico de TEA, outros falam especificamente sobre
a inclusão escolar e abordam a relação entre escola e família;

Os resultados desta revisão sistemática sugerem que os psicólogos escolares


desempenham um papel importante no apoio a crianças com transtorno do espectro do
autismo. Diferentes abordagens e estratégias destacam a adaptabilidade dos psicólogos
escolares em atender às necessidades individuais de cada criança. Além disso, as evidências
de eficácia sugerem que as intervenções realizadas por psicólogos escolares podem levar a
melhorias tangíveis nas competências e no bem-estar das crianças com TEA.

No entanto, é importante considerar os desafios e barreiras que os psicólogos escolares


enfrentam, especialmente a falta de recursos e de formação adequada. A colaboração
interdisciplinar surge como uma solução promissora para enfrentar estes desafios e fornecer
um apoio mais abrangente às crianças com autismo. Em suma, esta revisão destaca a
importância do papel dos psicólogos escolares no cuidado de crianças com autismo. O suporte
especializado, como o oferecido por psicólogos escolares, desempenha um papel fundamental
na promoção do desenvolvimento e na redução dos sintomas associados ao TEA; além de
fornecer informações importantes para a prática profissional, políticas educacionais e
pesquisas futuras.

4 CONCLUSÃO
Através desta revisão sistemática de publicações científicas sobre a atuação dos
psicólogos escolares no cuidado de crianças com TEA, foi possível destacar uma visão
abrangente e esclarecedora sobre um campo de pesquisa e prática que está evoluindo e
ganhando relevância nas escolas e na comunidade científica. Ademais, constatou-se uma
diversidade de abordagens e estratégias empregadas pelos psicólogos escolares para auxiliar
crianças com TEA durante seu desenvolvimento acadêmico e sócio emocional. Estas
intervenções podem variar desde programas de treinamento para professores e pais até
abordagens terapêuticas em grupo e individuais, sendo cada uma dessas, importante para a
promoção do bem-estar e sucesso acadêmico da criança.
Outrora, ao avaliar a eficácia dessas intervenções, identificamos uma tendência positiva
na literatura, indicando que o psicólogo escolar, em seu envolvimento, resulta em melhorias
significativas nas habilidades acadêmicas e sociais das crianças com TEA, reforçando a
importância de insistir no investimento na formação e presença destes nas instituições de
ensino, a fim de oferecer um suporte integral e inclusivo às crianças. Contudo, durante a
análise, destacamos algumas lacunas e desafios apresentados, como a heterogeneidade dos
estudos revisados, tanto em termos de metodologias quanto de resultados, destacando a
necessidade de mais pesquisas com abordagens padronizadas e profundidades consistentes.
Em tese, este trabalho contribuiu significativamente para a compreensão do papel do
psicólogo escolar no atendimento a crianças com TEA. Os resultados apresentam evidências
sólidas que apoiam a importância desse profissional na promoção de ambientes educacionais
inclusivos. Entretanto, é crucial que futuras pesquisas e práticas avancem, abordando as
lacunas e desafios identificados, garantindo assim que, todas as crianças tenham acesso a uma
educação de qualidade e apoio psicológico adequado, independentemente de suas
necessidades.

REFERÊNCIAS

GÊNESE da atividade consciente humana. In: TULESKI, Silvana Calvo. A relação entre
texto e contexto na obra de Luria: apontamentos para uma leitura marxista. Maringá:
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FIRBIDA, F. B. G.; VASCONCELOS, M. S. O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA


PSICOLOGIA ESCOLAR CRÍTICA NO BRASIL. Psicologia em Estudo, v. 23, 15 nov.
2018.
FORMAÇÃO da consciência: um salto da evolução à revolução no comportamento humano.
In: TULESKI, Silvana Calvo. Vigotski: A construção de uma psicologia marxista. 2. ed.
Maringá: EDUEM, 2008. p. 119-191. ISBN 978-85-7628-104-7.

LEONTIEV, Alexis. O Homem e a Cultura. In: O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa:


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AGOSTINI, Nilo. Conscientização e Educação: ação e reflexão que


transformam o mundo. Pro-Posições 29 (3), [s. l.], p. 187–206, set/dec 2018.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-6248-2015-0105. Acesso em: 13 abr.
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DIAS, Maria Sara de Lima. O legado de Martin-Baró: a questão da


consciencia latino americana. Psicol. Am. Lat., México , n. 33, p. 11-22, jul. 2020 .
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-
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MARTÍN-BARÓ, Ignácio. (1996). O papel do psicólogo. Estudos de
Psicologia, 2(1), 7-27.

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