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25/04/2024, 21:55 Para onde caminha a economia chinesa?

Para onde caminha a economia


chinesa?
– O pessimismo é uma doença senil, o otimismo é
uma doença infantil

Yi Da [*]

Alguns leitores maliciosos


chamaram a atenção para o
facto de Le Grand Soir
publicar frequentemente
artigos escritos por
americanos, mas raramente
artigos escritos por chineses. Eis um que nos chega
às mãos sem ter de ser traduzido. O autor, Yi Da, é
um especialista em relações internacionais que vive
em Pequim. Responde assim aos ocidentais que
continuam a dizer-nos que o crescimento chinês
está a chegar ao fim. LGS

Três pontos para descodificar as "Duas Sessões"

Para onde se dirige a economia chinesa? Esta questão


volta a estar no centro das atenções com a realização
simultânea, na China, das sessões plenárias do
Congresso Nacional do Povo (CNP) e do Comité
Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo
Chinês (CCPPC), conhecidas como as "Duas Sessões".
A reunião política mais importante do ano, constitui um
dos pontos de referência mais decisivos para
compreender as dinâmicas profundas que estão a ser
desenvolvidas no país.

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Mas é também importante compreender a linguagem


utilizada, que pode parecer obscura à primeira vista. O
que significa um crescimento de cerca de 5%? O que se
entende por "forças produtivas de nova qualidade"? O
que é o "novo trio" que faz furor nos meios de
comunicação social? Vale a pena responder a estas
perguntas para decifrar o estado real da economia
chinesa, sobretudo numa altura em que é objeto de todo
o tipo de especulações, desde o "teto de vidro" que
supostamente atingiu até ao "fim do milagre económico
chinês".

Cerca de 5%: um objetivo de crescimento ambicioso

Como é habitual, depois de ter afirmado, no relatório de


atividade do Governo apresentado a 5 de março, que a
economia chinesa havia crescido 5,2% em 2023, o
primeiro-ministro chinês, Li Qiang, anunciou que o seu
objetivo para este ano era um crescimento de cerca de
5%. Muitos economistas consideram que se trata de um
objetivo ambicioso, sobretudo tendo em conta "a
crescente complexidade e incerteza do ambiente
externo". Um objetivo que também poderia ser encarado
com ceticismo, a acreditar na lentidão da retoma pós-
Covid, no risco de uma "espiral deflacionista" e na
quebra de confiança que os economistas não hesitam
em mencionar.

Tudo aponta para o contrário. Hoje, na China, um


crescimento de 5,2% é capaz de criar uma riqueza de
mais de 6.000 mil milhões de yuan RMB, quando há 10
anos teria sido necessário um crescimento de mais de
10% para o conseguir. É um progresso que não pode ser
inventado.

Quanto à deflação que está a "minar o crescimento


chinês", foi desmentida pelo ING Group, que conclui
num relatório que o debate sobre este assunto foi
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exagerado, tal como o primeiro vice-presidente do FMI,


que não espera "uma tendência deflacionária global na
China".

Quanto ao potencial a médio e longo prazo da economia


chinesa, que parece preocupar mais as empresas
estrangeiras do que o crescimento a curto prazo, a
confiança continua a ser elevada. Um inquérito da
Câmara de Comércio Americana na China mostra que
metade das empresas inquiridas manterá o seu nível de
investimento na China em 2024 e que quase 40% delas
planeiam aumentar o seu compromisso.

"Novas forças produtivas de qualidade": a nova


palavra de ordem

Este conceito estratégico, que ocupará um lugar


importante na definição das políticas chinesas no futuro,
não pode ser compreendido sem o contextualizar. De
facto, segundo o Presidente Xi Jinping, o
desenvolvimento destas forças produtivas em que "a
inovação desempenhará um papel preponderante" é
"uma exigência intrínseca do desenvolvimento de
qualidade". Por outras palavras, é um requisito ditado
pelos desafios económicos que a China enfrenta, tanto
do lado da oferta como da procura, a nível interno e
externo, desafios consubstanciados no chamado "dilema
da sanduíche" das economias de rendimento médio.

Nunca nada está escrito em pedra. Se as "novas forças


produtivas de qualidade" conseguirem aumentar a
produtividade total dos factores através do aumento do
valor acrescentado do capital e do trabalho, a China
conseguirá resolver equações difíceis de cima para
baixo, como a demografia, os riscos de endividamento
imobiliário e local ou os desafios colocados pelas
restrições ocidentais ao comércio, ao investimento e à
tecnologia.
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É de notar, no entanto, que não se trata de reconstruir


um navio novo a partir do desmantelamento do original.
Pelo contrário, sugere mais investimento e apoio à
modernização de indústrias antigas, ao mesmo tempo
que se constroem novas indústrias, daí o significado da
estratégia "IA +". Entre elas, a indústria transformadora
avançada, o digital, a aviação comercial, a biotecnologia,
as ciências da vida, a computação quântica... todos os
sectores do futuro que estarão particularmente abertos
ao investimento estrangeiro. E é natural que o Governo
chinês envide esforços suplementares para continuar a
melhorar o clima empresarial e a proteger melhor os
direitos de propriedade intelectual.

"Desenvolvimento de qualidade": fazer as pessoas


felizes

O relatório de progresso do governo foi claro quanto ao


objetivo do "desenvolvimento de qualidade": fazer as
pessoas felizes, que é o "principal critério de avaliação
do desempenho do governo". Durante as "Duas
Sessões", este objetivo traduziu-se em novas medidas a
favor dos consumidores e das empresas, como forma de
assegurar a saúde da economia e os fundamentos do
emprego.

Na conferência ministerial conjunta consagrada à


economia, a primeira do género, foram explicados em
pormenor o "Ano do Consumo", a campanha "Consumir
sem preocupação" e o programa de incentivo à
modernização dos automóveis, dos aparelhos
eletrónicos e dos eletrodomésticos, à semelhança do
"prémio de abate" dos países ocidentais para a
conversão de automóveis poluentes. Foram igualmente
apresentadas medidas de apoio às empresas privadas
para as ajudar a ultrapassar as consequências da crise

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sanitária e a adaptarem-se às necessidades futuras da


concorrência.

O "desenvolvimento de qualidade" da China não é


apenas para seu próprio benefício. O "novo trio", que se
refere aos sectores dos automóveis eléctricos, das
baterias e dos painéis solares, cujas exportações
aumentaram 30% num ano, ilustra bem a determinação
da China em avançar para uma economia eco-
responsável. Pela primeira vez, a capacidade instalada
de produção de energias renováveis ultrapassou a das
centrais térmicas e representará mais de metade da
capacidade renovável instalada a nível mundial até
2023. Um facto que não deve ser ignorado.

O pessimismo é uma doença senil, o otimismo é uma


doença infantil. O que a China está a fazer é nada mais
nada menos do que enfrentar de frente os desafios
actuais, uma contrapartida dolorosa mas necessária a
curto prazo para ganhar uma economia mais segura e
autossuficiente a longo prazo. Nunca perderá a
confiança, porque a vitória adora corações ardentes.
14/Março/2024

[*] Investigador, chinês.

O original encontra-se em www.legrandsoir.info/ou-


va-l-economie-chinoise.html

Este artigo encontra-se em resistir.info

07/Abr/24

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