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22/11/2021 07:12 Problema da China não é no setor imobiliário, mas armadilha da renda média, diz Âmago Capital | Finanças

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Finanças
Problema da China não é no setor imobiliário, mas armadilha da renda
média, diz Âmago Capital
Por Olívia Bulla, Valor — São Paulo
21/11/2021 18h01 · Atualizado há 4 horas

A Evergrande e o setor imobiliário chinês têm causado nervosismo no mercado financeiro desde setembro, com os
investidores tentando decifrar o enigma e ajustar seus portfólios, temendo um colapso nos moldes de 2008. Para a Âmago
Capital, além de não se tratar de um novo evento “Lehman Brothers”, o problema da China não se restringe às incorporadoras
endividadas, mas refere-se às mudanças no desenvolvimento econômico do país, com reflexos nos ativos de risco,
especialmente commodities, e na economia global.

“São dois eventos completamente diferentes”, afirma o gerente de portfólio e cofundador da Âmago Capital, Rodrigo Barros,
referindo-se aos eventos Lehman Brothers e Evergrande. “O problema do setor imobiliário na China é conhecido ao menos
desde 1978”, emenda, lembrando que, à época, foi quando o país deu início ao processo de Reforma e Abertura, sob o
comando do líder supremo Deng Xiaoping.

Para Barros, ao contrário dos EUA, que vivia um longo período de desregulamentação financeira, o que fomentou a
especulação de ativos, a China tem um controle central, feito pelo Partido Comunista Chinês (PCCh), que usou o setor
imobiliário ao longo de décadas para estimular a economia, principalmente em períodos em que outras atividades não
estavam tão bem.

“O problema do setor imobiliário chinês não é diagnóstico, nem de visão de longo prazo”, avalia. Barros conta que quando
começou a analisar a questão da alavancagem das incorporadoras chinesas, acabou se deparando com grandes desafios
estruturais da China, relacionados à urbanização, à expectativa de vida da população e aos ganhos de produtividade.

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Rodrigo Barros, da Âmago Capital — Foto: Divulgação

“A China ainda tem um caminho gigantesco em termos de urbanização, que tem de continuar e há pressa por causa da
demografia”, afirma. O gestor cita estimativa de que a taxa de urbanização chinesa irá alcançar até 70% em 2025, caminhando
em direção ao nível de uma economia avançada, visando atingir 75% da população nas cidades em 2035, conforme meta de
médio prazo definida pelo governo chinês.

Ele explica que essa população migrante, dos campos para a cidade, precisa ampliar a renda de modo a elevar o consumo
interno na China para criar a maior classe média do mundo, com uma renda por habitante de US$ 25 mil por ano, o que
representa um crescimento de 5% a 6% ao ano até 2035. “É muito difícil. O desafio é aumentar a renda para as pessoas
comprarem imóveis e evitar a armadilha da renda média”, explica.

O gestor da Âmago Capital refere-se a uma situação do campo teórico da Economia, que trata das dificuldades que muitos
países têm de superar um certo nível de renda da população, quando alcançam um determinado estágio de desenvolvimento
econômico, e acabam ficando presos em uma certa faixa do Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, entre US$ 1 mil e US$
10 mil.

Para o governo chinês, o fato de a população do país ser mais que o quádruplo da dos Estados Unidos indica que os chineses
podem em breve ultrapassar os americanos como “consumidores de última instância” do mundo, tornando-se os maiores e
principal motor da economia mundial. “Então, os investidores vão querer naturalmente ir para a China, assim como querem ir
para os EUA”, prevê Barros.

Para ele, é preciso ajustar a atividade do setor imobiliário às províncias e à população de regiões mais pobres da China,
criando cidades com atividades econômicas específicas e evitando, assim, “cidades-dormitórios”. “São essas áreas que
precisam ter mais renda, mas para isso é preciso ter mais produtividade”, explica.

Segundo o gestor, com o esgotamento do bônus populacional e a saturação de endividamento estatal, a China precisará
atrair o capital privado para financiar o ganho de produtividade, com foco na inovação. “A única esperança é o
desenvolvimento de indústrias tecnológicas”, explica Barros.

Para ele, inovação e tecnologia vão caminhar juntas em direção ao novo estágio econômico chinês, aplicando recursos
técnico-científicos de ponta na atividade. “Não é que a China quer deixar de ser o ‘chão de fábrica’, mas tende a buscar
produção de maior valor adicionado, fabricando produtos mais sofisticados”, avalia.

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Com isso, o gestor afirma que o primeiro grande erro do investidor é achar que a China não vai querer capital privado. “Para
virar essa potência industrial, o jogo vai mudar para ‘prêmio por qualidade’ em direção a algo também ambientalmente
eficiente”, explica Barros, lembrando das ambiciosas metas climáticas do governo chinês.

Nesse sentido, ele lembra que o minério de ferro é uma commodity de “início de ciclo” de atividade econômica e, segundo ele,
a demanda pelo metal básico parece estar perto do pico, com um declínio natural nos próximos anos. “Não é um hard
landing, mas uma troca por uma commodity mais sustentável, como as pelotas”, avalia.

O gestor prevê que vai surgir demanda por outras commodities, como lítio, níquel, cobalto e nióbio. “Mas a tecnologia que
envolve essas entrantes ainda é muito crua, não está madura, então não se sabe qual vai ser a commodity vencedora”,
explica, citando, por exemplo, que há muita competição no desenvolvimento de baterias para carros elétricas, painéis solares
etc.

Já em relação ao petróleo ele é mais cético, mas ressalta que não deve haver uma “ânsia” em acelerar a substituição pelo
combustível fóssil por energias renováveis, de modo a não provocar impactos negativos significativos no crescimento
econômico. “É preciso ter cuidado para não destruir riquezas existentes rapidamente. Nada pode ser feito da noite para o
dia”, pondera.

Para Barros, algo semelhante tende a ser feito em relação à construção de moradias, cujo cenário para o que será feito
também já está traçado. “Não pode acabar com o setor imobiliário, indo a zero”, diz. Segundo o gestor, o que deve acontecer,
no médio e longo prazo, são movimentos compassados e previsíveis de ajustes econômicos, em que o tamanho do setor em
relação ao PIB vai diminuir e as incorporadoras terão de vender imóveis mais baratos para esses migrantes, cujo aumento de
renda será associado às indústrias novas. “Diria, então, que é uma bola de cristal quase sem risco”, conclui.

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