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Março/Abril de 1993

INOVAÇÃO PELA ESSÊNCIA:


UMA JORNADA ATRAVÉS DO
RIO DA CONSCIÊNCIA
Na medida em que as megamudanças em processo
parecem inexoráveis para mais e mais pessoas,
o discurso pró-inovação é agora mais comum
nas organizações. Em termos de management,
o desafio maior está na profundidade do processo;
em como evitar que as “inovações” fiquem restritas
tão-somente a aspectos superficiais e periféricos.
EVITANDO INOVAÇÕES SUPERFICIAIS

Assumindo Riscos
de Forma Incondicional
novações profundas podem depender de Inovações profundas só são possíveis em ambien-

I
muitos outros fatores. Que tal caminhar- tes onde todos estão buscando aprender e evoluir
mos um pouco mais além, nesta reflexão, coletivamente.
usando uma metáfora como fonte de ins-
piração? (Veja a história do “Rio da Cons- 3. INTENÇÃO MOBILIZADORA
ciência” na coluna esquerda das páginas Inovações profundas não exigiriam igualmente
4 a 10. Na coluna da direita preparamos comentá- motivações profundas?
rios e questões para reflexão.) Para que inovar? Onde queremos chegar? Qual o
“É preciso inovar mas…” propósito maior da busca por inovação?
Quantas vezes executivos na cúpula de gran- Enquanto questões como essas não forem traba-
des empresas – e até de líderes de mercado – co- lhadas, a empresa não tem condições de obter alto
mentam sobre a necessidade de inovar fazendo envolvimento na busca por inovações pra valer.
restrições e impondo condições? Até que ponto Nesse sentido, é fundamental que a intenção
são essas “condicionantes” as principais respon- maior da empresa seja poderosa e clara o sufici-
sáveis pela timidez e superficialidade dos “proces- ente para mobilizar a todos na direção das inova-
sos de inovação” hoje em curso em grande núme- ções necessárias.
ro de empresas no país?
Quais os fatores que definem as inovações mais 4. DIÁLOGOS SOBRE CENÁRIOS
profundas, com maior potencial de impacto nos Diálogos freqüentes e profundos sobre cenários
resultados da empresa? (de 5, 10, 20 anos) que transcendam o meramente
A profundidade dos processos de inovação nas econômico fazem a empresa questionar continua-
organizações depende fundamentalmente de fato- mente as premissas do status quo, levando a ino-
res não-técnicos, mais sutis, como os que ilustra- vações profundas (pessoas se tornam mais sensí-
mos no quadro ao lado e comentamos a seguir: veis à necessidade de inovar mais fortemente e
mais capazes de enxergar os “sinais” das
1. INTERESSE GENUÍNO DA CÚPULA megamudanças em início de processo.
Muitas organizações estão “no meio-termo” em sua
busca por inovação. Parecem querer inovar, sen- 5. QUESTIONANDO O PRÓPRIO NEGÓCIO
tem que isso seria necessário, mas – ao mesmo tem- Inovações profundas muitas vezes implicam o re-
po – parecem querer deixar as coisas como estão. nascer da empresa. Ou seja, implicam o questio-
O interesse em inovar não é autêntico. A mensa- namento da própria concepção de negócio da or-
gem que se passa às pessoas da empresa é algo ganização. Isso não só é fundamental para asse-
como “…É para inovar, mas não é para ir fundo…”. gurar profundidade, como ajuda a evitar desperdí-
Para gerar inovações profundas é preciso que o cios de energia na busca de “inovações” periféri-
interesse em mudar por parte de seus principais cas/incrementais em negócios obsoletos/em de-
executivos (o presidente, principalmente) seja “in- cadência.
condicional” e genuíno. Isso é fundamental para
que os colaboradores se soltem sem restrições na 6. TRANSCENDENDO O IMEDIATISMO
busca contínua por inovação. Se a empresa busca inovação só pensando em
auferir resultados no curto prazo, ela poderá se
2. TRANSCENDENDO O INDIVIDUALISMO enredar num círculo vicioso que a impedirá de
Excesso de individualismo associado a uma men- realizar inovações profundas, de grande impac-
talidade fragmentária funciona como freio e cen- to. O equilíbrio entre curto e longo prazo é aqui
sor do processo de inovação profunda da empresa também fundamental, mas é preciso destacar
como um todo. que inovação é, por princípio, algo associado
Será que uma inovação muito radical afetaria o ao futuro.
status de minha área? Quem ganha e quem perde Trazê-la à arena da “luta pela sobrevivência” pode-
com a inovação? Questões como essas impedem rá turvar a visão do executivo sobre as oportuni-
que as pessoas sejam imparciais em relação às idé- dades de maior impacto conectadas com o pro-
ias de inovação. cesso de “construir o futuro”.
EVITANDO INOVAÇÕES SUPERFICIAIS

7. “RISCO DE PONTA” A “incondicionalidade” aqui é representada pela


Inovações profundas exigem uma disposição in- postura de “ir até onde for necessário” sem frei-
condicional a riscos de ponta, ou seja, a ris- os predeterminados. O controle do risco, fun-
cos ligados ao inédito, ao desconhecido, típicos damental para a saúde do todo, é representado
do “pioneirismo expedicionário” (em contrapo- pelo equilíbrio do conjunto (negócios seguros,
sição a simples riscos de mudança para esta- bem mantidos, combinados com experimentos
dos que só são inéditos para a própria empresa, ousados que são sementes para inovações pro-
mas não para o mercado). fundas).

1.
Interesse forte e genuíno
da cúpula em inovar
para valer
7. 2.
Disposição incondicional a O valor de transcender o
riscos de ponta individualismo
fragmentário

INOVAÇÕES 3.
6.
O valor de transcender a
PROFUNDAS Intenção maior gerando
cultura do imediatismo alta motivação para
inovação

5. 4.
Diálogos contínuos e Diálogos contínuos e
profundos sobre a própria profundos sobre
concepção do negócio cenários futuros
REFLEXÕES SOBRE A BUSCA DO IDEAL

O Rio da Consciência:
Uma Metáfora
ra uma vez, há muito, muito tempo, Que tal começarmos a fazer analogias com o

E
um pequeno grupo de pioneiros que mundo empresarial já desde os primeiros mo-
encontrou um lago de águas cristali- mentos da metáfora?
nas junto a uma densa floresta. Notem que os valores dos pioneiros que vi-
Achando o lugar acolhedor e hospita- vem na Terra do Eu são bastantes direcionados
leiro, o grupo decidiu estabelecer-se em para a sobrevivência. Sobreviver é mais impor-
suas margens. tante do que viver. Força física, demarcação e
Nos anos que se seguiram, esses bravos pio- defesa de território, “bravura”, agressividade e
neiros, robustos em corpo e agressivos em espíri- espírito competitivo são alguns dos valores mais
to, lá formaram suas famílias e geraram seu sus- em evidência. Atitudinalmente, os habitantes da
tento. Com o tempo, esse território passou a ser Terra do Eu são decididos, unidirecionados, in-
conhecido como Terra do Eu. dividualistas e orgulhosos de sua capacidade de
Ainda que relutantemente reconhecessem a dominar e controlar as forças da natureza. Eles
necessidade de uma comunidade para mútuo acreditam que a Natureza existe para ser domi-
apoio e proteção, as pessoas da Terra do Eu nada e que seus recursos podem ser explora-
eram especialmente orgulhosas de sua forte indi- dos indefinidamente.
vidualidade. Alguma semelhança com valores, atitudes e
O nome de Independência foi dado ao lago posturas que prevalecem em organizações que
em torno do qual construíram seu vilarejo. A conhecemos?
cidade assim desenvolvida ao redor do lago pas-
sou a ser conhecida como Status Quo.

Na verdade, o Lago da Independência era O Rio da Consciência está o tempo todo lá,
um ponto do Rio da Consciência. Durante os fluindo e fluindo, seguindo seu próprio ritmo,
muitos anos de existência de Status Quo, prati- seguindo sua natureza. Mas os habitantes de
camente ninguém tinha se aventurado no rio. Status Quo – na verdade – não o vêem. Estão de
Somente algumas poucas almas corajosas ti- certa forma adormecidos, envolvidos que es-
nham descido o rio em canoas no passado, mas tão no dia-a-dia de Status Quo. O espírito de aven-
muito poucos tinham conseguido ir além da trai- tura, de inovação, de descoberta, de inventivi-
çoeira passagem de rochas, corredeiras e quedas dade ainda está latente.
d’água que podia ser avistada a partir do topo do Eles temem o desconhecido e tudo o que
desfiladeiro que demarcava os limites da cidade. ameaça sua estabilidade. A esta altura, até a sim-
Os poucos que tinham conseguido ultrapassar ples menção de um lago longínquo, com quali-
essas barreiras naturais, retornaram à cidade dades especiais, pode parecer delírio de pesso-
após muitos anos, velhos e alquebrados, contan- as irresponsáveis ou “malucas”.
do histórias sem nexo sobre um lago longínquo, Como as empresas tratam os “superpioneiros”
rio abaixo, que possuía qualidades especiais, que não só buscam inovações por iniciativa pró-
muito especiais. pria mas ousam buscar algo muito diferente do
Os habitantes da cidade ouviam as histórias que existe em Status Quo? Piscando uns para os
dessas pessoas estranhas sem dar muita atenção, outros e rotulando-os de “estratosféricos”, “sonha-
sorriam e piscavam uns para os outros e rapida- dores”, “teóricos”? Tratando-os como “diferentes”
mente as esqueciam. e “marginais”? Como os “errados” da história?
As empresas de maior sucesso hoje não seri-
am aquelas que mais rapidamente dão ouvidos
aos “superpioneiros” e começam a agir na dire-
ção do inédito?
Na medida em que a cidade de Status Quo Quantas empresas ainda hoje atuam num
crescia ao redor do Lago da Independência, esquema “explorativo” e predatório, geran-
a área foi ficando poluída. Logo, as pessoas co- do desgaste e degeneração do que está à sua
meçaram a perceber que o lago já não era mais volta? A causa básica não seria a premissa
tão acolhedor e hospitaleiro. As águas estavam de que esse “em torno” é algo fora da em-
ficando cada vez mais turvas, os peixes já não presa e que ela nada tem a ver com isso? Não
eram tão abundantes e os gamos e faisões nos seria o “individualismo” e o “não estar cons-
bosques próximos começavam a rarear. Os cam- ciente” do todo no qual a empresa está
pos, por sua vez, estavam tornando-se estéreis inserida? É a “não consciência” de que se o
pelo uso excessivo. todo ruir, as suas partes – inclusive a em-
presa – desabam juntas?

Com o passar dos anos, algumas poucas pes- A deterioração de Status Quo para mui-
soas, entre as mais perspicazes, começaram a tos ainda é um problema passageiro, algo
perceber que a vida em Status Quo não iria conjuntural, uma “pequena crise de curto
melhorar. Começaram então a imaginar se não prazo”. Algo que logo será superado. Para
seria tempo de procurar um novo território. Lem- outros, a visão é clara de que a “crise” de
braram-se das histórias contadas por aquelas Status Quo é algo muito maior, algo gerado
pessoas que retornavam de tempos em tempos, e pelo estado de consciência (e as premissas
começaram a pensar se um mundo melhor não e valores) que lá prevalece. E que somente
poderia realmente existir bem mais abaixo no uma mudança de patamar nesse estado de
Rio da Consciência. consciência será capaz de fazer as coisas re-
almente melhorarem.

Lembraram de ter ouvido histórias sobre um Não é verdade que em todas as empresas
certo Lago da Interdependência, na verda- as pessoas sonham com algo melhor? Até
de um conjunto de muitos pequenos lagos inter- mesmo os mais céticos, os que são os primei-
conectados, onde as pessoas podiam viver em ros a “bombardear” as idéias dos “superpio-
harmonia, ajudando-se umas às outras. E se neiros”, vão sendo sensibilizados pelo que
lembraram de algo sobre “ser igual e único ouvem. Talvez porque são idéias que tocam
ao mesmo tempo”, numa notável espécie de em algo em seus interiores e os fazem relem-
“unidade”. brar de coisas que estão num nível mais pro-
fundo de suas consciências. Coisas que sem-
Entretanto, como não tinham um contexto pre estiveram lá. Sonhos que sempre tiveram:
maior para entender essas idéias, tudo foi se pessoas vivendo em harmonia, todos como
transformando em algo distante, um belo conto, amigos, uns ajudando aos outros...
um sonho, uma fantasia. Na medida em que sabemos que todos es-
ses sonhos estão latentes em todos nós, su-
perar as resistências a mudanças não parece
algo mais factível, mais viável, algo que só
depende de paciência, persistência, autenti-
cidade e formas adequadas de comunicação?
Qual o contexto maior que nos permitiria
entender melhor o que sentimos dentro de
nós, nossos sonhos de uma vida melhor? Se-
riam os paradigmas emergentes? Seria o sair
do meramente racional (a predominância do
hemisfério esquerdo do cérebro) que ainda
prevalece nas empresas e melhor compreen-
der a realidade sem depender tão-somente
dos cinco sentidos? Seria a naturalidade em
lidar com o intuitivo?
Num maravilhoso dia de primavera, uma du- Em termos de busca de mudanças e trans-
pla de jovens decidiu impetuosamente, como os formação nas empresas, o que representa a im-
jovens freqüentemente o fazem, descer o rio e ver petuosa incursão dos jovens no rio? A força da
o que realmente poderia existir mais adiante. “jovialidade” do espírito a ser levada em conta
Não chegaram a ir muito longe. Não tinham como fator-chave para os primeiros passos
levado muitos suprimentos. Um furo apareceu no “rumo ao desconhecido”? A importância do agir
bote. Bastante assustados, decidiram parar por aí ao explorar novos territórios (ao invés de ficar
e foram para as margens do rio. Depois de uma “teorizando” sobre o que poderia estar mais
noite acampados no local, retornaram à cidade adiante)? Representa o fato de que muitos im-
escalando os altos desfiladeiros que a demarcavam. portantes passos em direção às mudanças ne-
De volta à cidade, contaram a todos, excita- cessárias já estão sendo dados por pessoas em
dos, histórias sobre luxuriantes campos verdes, diferentes pontos (e não necessariamente na
onde gamos comiam em suas mãos e peixes salta- cúpula) da empresa?
vam em piscinas naturais.

Era o que faltava. A partir dos relatos dos jo- Por que muitas iniciativas-chave não são ge-
vens exploradores, o Comitê Executivo da cidade radas pela própria cúpula das empresas? Por que
de Status Quo fez um desenho da região, prepa- estão muito comprometidas com Status Quo?
rou diversos barcos com provisões e equipamen- Por que precisam de mais dados, para mudar
tos e enviou um grupo de pessoas rio abaixo para com segurança? Muitos medos?
estabelecer um novo posto, porém não muito dis- Nesse sentido, é o relato dos jovens explora-
tante. Depois de pouco tempo, esse “posto avan- dores que dá a necessária segurança ao Comitê
çado” tornou-se uma nova comunidade que pas- Executivo?
sou a ser conhecida como Administração da Mesmo assim, por que a preocupação de não
Qualidade Total. Logo após, um novo posto foi ir muito longe rio abaixo? Os medos, novamen-
iniciado um pouco mais abaixo. A ele foi dado o te? A premissa que têm de que mudanças mui-
nome de Administração Participativa. Um to radicais causarão disrupções? A premissa de
pouco mais tarde ainda, do outro lado do rio, es- que “o pessoal” não vai agüentar mudanças mais
tabeleceu-se uma nova comunidade, logo deno- fortes? É o “pessoal” que não vai agüentar ou é
minada de Foco no Cliente. a insegurança na cúpula?
Essas novas comunidades estavam longe o su- Quantas empresas trabalham com esses
ficiente de casa para criar uma atmosfera de ino- “postos avançados” achando que chegaram ao
vação estimulante e nutriente, mas também pró- Lago da Interdependência?
ximas, na dose certa, para fazer com que as pes-
soas se sentissem confortáveis e razoavelmente se-
guras. As pessoas dessas comunidades, orgulho-
sas de sua coragem, passaram a se sentir muito
satisfeitas com seu sucesso.

Mas, isso tudo não durou muito. Tendo expe- Embora tímidos, todos os processos de mu-
rimentado o sabor da aventura da inovação, as dança têm seus méritos. Criam estímulos para
pessoas logo se tornaram inquietas. Elas sabiam outras mudanças e fazem surgir mais “agentes
que poderiam ir além desses lugares, e estavam de transformação”. Desperta-se a consciência de
intrigadas com o que ainda poderia existir mais que velhas regras não resolvem os novos pro-
além, rio abaixo. Algumas pessoas eloqüentes fi- blemas que continuam a emergir, nem conse-
zeram discursos sobre quão compensador seria co- guem lidar com a crescente complexidade dos
meçar uma nova comunidade em uma nova ter- novos desafios. Trazem à tona as insatisfações
ra e recrutaram um grupo de pessoas especial- interiores e a consciência da falta de significado
mente ousadas para fazer uma nova expedição em permanecer inerte.
ao longo do rio. Desta vez, para encontrar o Amplia-se a consciência diante do inexorável:
legendário Lago da Interdependência. onde estamos não pode ser o único lugar nesse
imenso Rio da Consciência… O Lago da Inter-
dependência deve ser uma realidade!…
Ao iniciar a viagem, o grupo quase não se Que analogias podemos fazer entre este iní-
continha. Era grande a excitação pela aventura cio de viagem e os processos de mudança que
em si e pelo perigo que corriam juntos ao enfren- são desencadeados nas empresas?
tar o desafio das correntezas e das rochas. Na O espírito de aventura não seria algo fantásti-
medida em que desciam o rio, a água calma e co como gerador de motivação, quebrador de
cristalina transformou-se em ondas enormes, as inércia e apatia e formador de espírito de grupo?
correntes tornaram-se altas quedas d’água e as Não seria importante aliar, a essa motivação,
rochas transformaram-se em seixos traiçoeiros. O a preparação adequada em relação aos perigos
entusiasmo foi substituído pelo medo. Ao ficarem da jornada? Preparação inclusive para “perma-
com medo, passaram a focar energia somente nas necer em curso” mesmo face a barreiras e obs-
barreiras e perigos e perderam a capacidade de táculos? Preparação para ter tranqüilidade inte-
enxergar o próprio fluxo das águas. Não deu ou- rior, principalmente em momentos de maior tur-
tra. Acabaram batendo nas rochas. Os barcos vi- bulência?
raram e todos tiveram que chegar até as margens Não é comum hoje em dia ver empresas que
do rio nadando. estão tão ocupadas com barreiras e perigos que
não conseguem conduzir a empresa através do
fluxo das oportunidades, na direção de objeti-
vos maiores?

A partir daí, coisas interessantes começaram Quantas pessoas (inclusive executivos da pró-
a acontecer. Alguns indivíduos viram a coisa pria cúpula da empresa) embarcam nos proces-
como um revés normal. Retomaram seus barcos sos de mudança com “entusiasmo superficial”,
e voltaram ao rio. Outros, porém, com frio, fome acreditando no âmago dos seus seres que “a
e medo, sentiram-se amargurados com o fracasso coisa não vai dar certo…”? Quantas embarcam
e começaram a mudar de idéia. com pensamentos que estão contribuindo para
“Fomos enganados”, eles diziam uns aos ou- o processo não dar certo? Quantas, na verda-
tros. “Sabíamos o tempo todo que não ia dar cer- de, estão entrando no barco exclusivamente pelo
to. Fomos seduzidos por uma idéia estúpida. Se racional (“os novos paradigmas dizem que pre-
apenas tivéssemos escutado a nossa razão e não o cisamos apoiar inovações”) e não pelo intuitivo
nosso coração, jamais teríamos embarcado nessa (convicções fortes, de dentro do ser)? Não são
viagem maluca. Nossas famílias nos advertiram, os que entraram pelo coração que desviram o
mas não escutamos. Agora estamos presos aqui.” barco e prosseguem a jornada sem titubear? Não
Sentindo-se desiludidos e miseráveis e não vendo são exatamente os que entraram pelo “racional
alternativas, começaram a pensar em como se superficial” que logo recuam…(“… eu sabia que
instalar no lugar. não ia dar certo…”) e interrompem o processo?

Entretanto, antes mesmo de a mata ser des- Que analogias podemos fazer com as pesso-
bravada e construídas as cabanas, um novo des- as que, logo depois das primeiras turbulências
dobramento ocorreu. Alguns indivíduos, dos geradas pelo processo de mudança, abandonam
mais descontentes, decidiram voltar para casa e tudo e procuram voltar a Status Quo?
iniciaram uma longa jornada por terra, esca- São, nas empresas, os “antiagentes de trans-
lando desfiladeiros e abrindo caminhos através formação”, na medida em que – pelos corredo-
de densas florestas. Uma longa e árdua viagem, res dos canais informais – potencializam o
cheia de tensão, inclusive pelo medo dos animais medo na organização como um todo? São os
selvagens. que consideram cada erro como um fracasso?
Ao chegarem em casa, contaram em sua amar- Uma massa crítica de “anti agentes” não acaba
gura apenas histórias sobre os imensos perigos, imobilizando a empresa e provocando deterio-
sobre a agonia da jornada e a loucura da tentati- rações fa tais?
va. Essas histórias reforçaram o pensamento dos
que os haviam alertado quanto aos riscos do pro-
jeto original e fizeram aumentar as pressões das
famílias e dos amigos para que ninguém mais
tentasse fazer algo tão estúpido novamente.
Enquanto isso, as pessoas que tinham decidi- A Vila do Arrependimento é uma espécie de
do ficar para instalar uma nova vila continua- “ponto de não-retorno” (point of no return).
ram a limpar o mato e a construir cabanas. En- Diferentemente dos que movidos por medo
contraram caça selvagem e iniciaram algumas e sensação de fracasso voltam a Status Quo, os
plantações. A essa nova comunidade deram o que permanecem na Vila do Arrependimento,
nome de Vila do Arrependimento. embora estejam dispostos a ir além, ainda não
Vez por outra, alguns dos moradores dessa estão em contato direto com o seu próprio po-
nova vila davam longas caminhadas pelas mar- tencial criativo interno. Eles esperam um “Sal-
gens do rio, onde os desfiladeiros assomavam vador”, um “agente externo” (ou, nas empre-
sobre a terra, e subiam a lugares de onde podi- sas, algo como uma nova “metodologia”) que
am observar o curso do rio, em direção ao Lago possa resgatá-los daquela situação.
da Interdependência. Nesses momentos, era Que analogias podemos entre isso e o que
forte o sentimento de que havia algo de muito acontece nas empresas?
especial lá… Vinham as fantasias sobre um lu-
gar de fantástico crescimento, harmonia e
união. De volta às suas casas, sentavam ao re-
dor de fogueiras e contavam histórias e mais
histórias…

Na medida em que essas histórias iam sen- Não seria o exemplo vivo dos pioneiros que
do contadas, as pessoas iam mudando gradu- seguiram adiante no Rio da Consciência que
almente o que tinham sentido na aventura ori- dá força e estimula os que ficaram na Vila do
ginal. As histórias passaram a ser sobre heróis Arrependimento a manterem o sonho de che-
e heroínas que haviam decidido fazer a jorna- gar um dia ao Lago da Interdependência?
da rio abaixo com forte senso de aventura e Na realidade, mesmo que a realidade da Vila
desafio. Histórias sobre a coragem deles e a fan- do Arrependimento seja desafiante (distância de
tástica energia que possuíam. Contavam como onde estão até o Lago da Interdependência), há
os botes haviam virado e como as pessoas ti- o estímulo da visão, do exemplo dos pioneiros
nham conseguido chegar até aquele ponto. Fa- que aceitaram o desafio de ir além.
lavam também sobre algumas pessoas muito es- Que analogias há com o que ocorre nas em-
peciais, que haviam retornado ao rio para con- presas? O que corresponde às histórias que ali-
tinuar a jornada e das quais nunca mais tive- mentam os sonhos das pessoas? Qual a gran-
ram notícia. de aventura na qual a empresa quer embarcar?
Essas histórias reacendiam nos indivíduos o Não seria nisto (criação de uma “visão mítica”,
desejo de voltar a explorar as regiões ao longo do já que ninguém ainda chegou lá) que os líde-
rio, mas eles estavam tão seguros e acomodados res precisam se empenhar?
no lugar em que se encontravam que ninguém Não seria só através de uma clara visão com-
sentia disposição para se arriscar e enfrentar os partilhada e um propósito mobilizador que le-
perigos do rio sozinho. Queriam ir em grupo, varão as pessoas a descobrir caminhos inova-
mas não tinham canoas nem energia para cons- dores de como chegar lá?
truí-las. Assim, ficaram à espera de outros pio-
neiros. Talvez junto com eles…

Mas, e as pessoas que tinham desvirado seus O processo de mudança decididamente não
barcos e decidido prosseguir?… é isento de obstáculos, barreiras, resistências.
Os indivíduos que haviam retornado ao rio e As pessoas que desistem ao primeiro obstácu-
continuado a jornada encontraram ainda mui- lo seriam aquelas que têm expectativa de que
tas rochas e cachoeiras pela frente. Seus barcos o processo seja “cor-de-rosa”? As que prosse-
viraram muitas outras vezes. Mas, perseveran- guem e persistem são as mais realistas e estão
tes, continuaram sempre em frente, até atingi- preparadas para “o que der e vier”?
rem o Lago da Interdependência.
E todos eles logo descobriram que o lago era A que corresponde o Lago da Interdependên-
realmente maravilhoso. Tanto quanto nas histó- cia no mundo empresarial? Organizações que
rias que tinham ouvido. são lideradas com base na consciência de que o
Em linha com o mito, o Lago da Interde- todo é algo totalmente interconectado, como um
pendência era, na verdade, um conjunto de la- organismo vivo e não como uma máquina com-
gos menores, conectados de tal forma por canais posta de fragmentos independentes? Empresas
que nenhum deles ficava completamente isolado. nas quais o senso de grupo/equipe é total? Em-
No entanto, cada um tinha sua identidade e ca- presas nas quais cada pessoa consegue ser ela
racterísticas muito peculiares. mesma e, ainda assim, o conjunto é algo coeso,
Esses novos pioneiros logo começaram a cons- uno? Organizações nas quais todos trabalham
truir cabanas e cultivar plantas nativas. Cada para otimizar os resultados do conjunto? Orga-
pessoa, escolhendo um dos lagos com o qual tinha nizações nas quais há equilíbrio dinâmico (em
se identificado melhor, criava um lugar muito contínuo processo) no relacionamento entre as
sintonizado com seu jeito de ser. Embora cada partes do todo?
local assim criado fosse único e separado, todos Ou o Lago da Interdependência representa a
reconheciam que o conjunto estava conectado sociedade como um todo, onde cada lago cons-
pelos canais e que isso os tornava um. Eles sabi- titui as pessoas, as organizações etc.?
am que tudo que alguém fizesse em um lago afe- O preocupar-se com o bem-estar dos demais
taria os demais. E gostavam dessa conexão. Um e não com o seu próprio não é o valor central do
sentimento de unidade e harmonia foi sendo com- senso de cidadania? O conceito de cidadania não
partilhado por todos, na medida em que cada poderia ser aplicado tanto para a empresa como
pessoa passou a se preocupar com o bem-estar dos para a sociedade?
demais e não só com o seu. E assim descobriram
que aí estava a chave para a sua própria sobrevi-
vência e bem-estar. A essa nova comunidade eles
chamaram de Terra do Nós.

O senso de bem-estar na Terra do Nós era O que impulsionou as pessoas que já estão
tamanho que esses pioneiros muito especiais sen- no Lago da Interdependência a voltarem para
tiram necessidade de voltar a Status Quo para Status Quo? Seria o fato de sentirem-se também
contar às pessoas o que eles haviam encontrado. conectadas com os habitantes de Status Quo,
Como tinham sido bem rigorosos em manter um não só pelo fato de terem vindo de lá, mas pela
diário de viagem, eles tinham agora um mapa consciência de que afinal a Terra do Nós – num
preciso do rio e de seus perigos. Um verdadeiro sentido mais amplo – transcenderia a região do
guia para as pessoas de sua terra natal. Lago da Interdependência?
Assim, os exploradores mais corajosos e vigo- Qual a analogia que podemos fazer entre o
rosos do grupo empreenderam a difícil e árdua mapa da viagem e o que acontece nas empre-
jornada de volta a Status Quo. sas? A preocupação em “ensinar o caminho das
pedras” para todos na medida em que vamos
descobrindo novas soluções?

E conseguiram retornar sem muitos problemas. Qual a força das experiências de sucesso, no
Ao chegarem às suas áreas de origem em processo de transformação de uma organização?
Status Quo, passaram a falar a todos sobre o Uma coisa são as experiências feitas por outras
Lago da Interdependência. Em vez de serem empresas. Podem ser interessantes e até inspi-
alguns poucos homens, velhos e estranhos, voltan- rar idéias inovadoras em nossa própria empre-
do de uma jornada vinda do passado, os explora- sa… Mas a força do que é feito em nossa pró-
dores que retornavam agora eram jovens e fami- pria empresa, com nosso pessoal, dentro de
liares… Na medida em que escutavam as histó- nossa cultura, com as dificuldades que temos, é
rias dos jovens exploradores, as pessoas foram fi- extraordinariamente significativa. Não devería-
cando excitadas sobre esse tentador Lago da mos como líderes estar continuamente estimu-
Interdependência e com a vida que poderiam lando novas explorações rio abaixo para man-
lá criar… ter vivo o espírito da renovação, do contínuo
renascer, da evolução permanente?
Uma grande expedição foi organizada. Agora, Até que ponto nas empresas organizam-se
a jornada parecia bem menos perigosa. Eles ago- “grandes expedições de transformação”, com
ra sabiam quais os equipamentos de que iriam pessoas motivadas, planos de viagem detalha-
precisar, tinham uma idéia precisa de quanto tem- dos, prazos realistas, recursos bem dimen-
po a viagem iria durar e das barreiras que pode- sionados em relação à magnitude do objetivo?
riam encontrar no caminho. Além disso, tinham Até que ponto, na vida real, no mundo empresa-
mapas detalhados e a orientação daqueles que já rial, as pessoas precisam fazer viagens rumo ao
haviam feito a jornada. Desta vez, famílias intei- desconhecido por si só, sem ajuda, sem refe-
ras decidiram ir, confiantes de que iriam chegar renciais, mais ou menos como os pioneiros fazi-
ao Lago da Interdependência sãs e salvas e am no início da Terra do Eu?
que poderiam criar uma nova comunidade com
muito sucesso. Disseram adeus a seus amigos e
iniciaram a viagem.

A viagem foi um grande sucesso. Durante a jor- Na medida em que os processos de inova-
nada, alguns poucos botes se perderam ao longo ção/transformação adquirem contornos mais
do rio, mas seus ocupantes foram todos resgatados. claros e há um senso geral de confiança, as pes-
A expedição fluiu bem sem grandes problemas até soas que não teriam força de fazer a jornada
o Lago da Interdependência, parando somen- sozinhas não vão aderindo naturalmente? Como
te em alguns pontos do rio para apanhar supri- assegurar a massa crítica inicial de pioneiros
mentos e receber as pessoas que desejavam juntar- para fazer o processo começar?
se a eles. O grupo foi crescendo e crescendo na Jornadas desafiadoras trilhadas em conjun-
medida em que a viagem foi progredindo. Ao che- to, um ajudando ao outro, não formam uma “cul-
gar ao seu final, havia pessoas em número sufici- tura de interdependência” fundamental para o
ente para estabelecer-se ao redor de muitos dos pe- novo modo de vida na Terra do Nós?
quenos lagos do Lago da Interdependência.

A vida na Terra do Nós era tudo aquilo que O que se transforma dentro de uma organi-
esperavam. Nessa nova terra, as pessoas apren- zação quando a Terra do Eu dá lugar para a Ter-
diam a assumir a responsabilidade por si própri- ra do Nós? O que acontece quando cada pessoa
as, ao mesmo tempo em que cuidavam umas das do grupo fica consciente de que ela e os outros
outras. Elas aprenderam a cuidar bem dos recur- fazem parte de um mesmo um, de que ela está
sos da região de forma a possibilitar recomposi- em todos e todos estão nela num nós que trans-
ções naturais e evolução contínua. Aprenderam cende, em muito, o seu conceito comum?
a cooperar uns com os outros, em vez de compe- Na Terra do Nós, o objetivo não é mais so-
tir. E ninguém procurava dominar ou tirar van- breviver tão-somente. É viver.
tagens dos outros. A vida em conjunto era de Como seria uma organização que não está
muita paz e harmonia… só preocupada em sobreviver, mas em viver a
vida em sua plenitude?

Então, um dia… um jovem casal, que fazia Tendo chegado ao Lago da Interdependência
um piquenique na parte mais distante do lago e à Terra do Nós… O que pode existir melhor
mais afastado, descobriu um córrego que dele do que aí viver? Para onde o Rio da Consciência
fluía. Um córrego cuja existência ninguém tinha pode ainda nos levar?
percebido antes. Ele corria para um pequeno ri- Se já foi difícil desprender-se de Status Quo,
beirão que, por sua vez, fluía para bem longe do quão desafiante será deixar a Terra do Nós, na
Lago da Interdependência. qual todos sentem-se tão bem, para trás?
O Rio da Consciência, afinal, ia mais além… Que tipo de coragem vamos precisar para
“Humm”, um disse ao outro. “Para onde será continuar?
que essa saída leva…? Talvez exista um lugar Se o salto de patamar da Terra do Eu para a
melhor ainda, rio abaixo… Poderíamos conseguir Terra do Nós foi tão grande, o que poderá ser a
uma canoa e explorar esse novo caminho… O transformação gerada por uma nova jornada
que você vai fazer neste próximo sábado?…” através do Rio da Consciência…?
Copyright 1991 Herman B. Maynard Jr. e Maya M. Porter (Os autores encorajam os leitores a copiar e divulgar esta história livremente.)
SOBRE PENSAMENTO SISTÊMICO

Entrevista com Peter Senge,


autor de A Quinta Disciplina
Peter Senge do MIT – uando de sua primeira vinda ao Brasil a tomar as melhores decisões pois têm uma pers-

Q
Massachusetts Institute no ano passado, como convidado es- pectiva local e limitada. Tomam a ação que faz mais
of Technology – é pecial da Amana, Peter Senge, o cele- sentido para elas, mas que pode não fazer para
considerado hoje um dos brado autor de A Quinta Disciplina, outras. E podem gerar verdadeiros desastres.
novos “gurus” do concedeu a entrevista que aqui re- O segundo desafio, portanto, é desenvolver a
management moderno. produzimos. qualidade do pensar de uma forma tal que os
Seu livro sobre “atores locais” vejam cada vez melhor o sistema
pensamento sistêmico EM SUA OPINIÃO, QUAIS OS GRANDES DESAFIOS maior no qual eles estão operando.
aplicado à liderança QUE ESTES TEMPOS DE ACELERADA O terceiro desafio, que sob certos aspectos
em organizações é TRANSFORMAÇÃO TRAZEM ÀS ORGANIZAÇÕES? seria na minha opinião o primeiro, é como lidar
bestseller mundial e já é com o profundo cinismo que prevalece em muitas
considerado um clássico. Há provavelmente três desafios básicos que se de nossas organizações. Um cinismo que é pro-
Senge, que no MIT apresentam às nossas organizações em todo o duto das tradições autoritárias que tivemos no
dirige o Centro mundo, mais particularmente no Ocidente. passado.
de Aprendizagem O primeiro é representado pelo próprio sistema As pessoas ouvem coisas como estas que eu
Organizacional da Sloan tradicional de management, no qual toda a ativida- acabei de dizer e dizem: “Ah, um outro conjunto
School of Management, de de pensar é feita no topo (e não há virtualmente de boas idéias, mas será que alguém fará algu-
estará de volta ao Brasil nenhuma atividade de pensar na base). Nesse ma coisa com isso?” Isto ocorre por que, por
no início de agosto modelo, a idéia geral é que o topo pensa e a base muito tempo, temos administrado nossas orga-
próximo para uma executa. nizações com base na suposição de que as pes-
única apresentação. A estratégia é criada no topo. A visão é criada no soas são incapazes de fazer as coisas por elas
topo. As políticas, as novas estruturas etc. são mesmas.
todas criadas no topo. E o papel das pessoas na É um pouco irônico, mas eu falarei como ame-
base é apenas seguir ordens… ricano sobre os Estados Unidos. Temos nos EUA
O patriarca do conglomerado Matsushita fez valores extraordinários sobre a capacidade intrín-
recentemente uma palestra na Inglaterra e disse seca do indivíduo (“cada pessoa, em última instân-
que o Ocidente nunca alcançará o Japão. De acor- cia, é capaz de dirigir seu próprio destino”).
do com a sua percepção, a razão disto está no fato Nós lutamos numa revolução há duzentos anos
de que, na mente dos gerentes ocidentais, existe a para ter um governo baseado no poder de baixo
premissa de que o papel das gerências é o de para cima. O princípio essencial de nosso governo
colocar as idéias dos executivos da cúpula nas é que o poder deve vir de baixo para cima.
mãos das pessoas da base. Para os japoneses, o As corporações nunca participaram desta revo-
objetivo das gerências é conseguir o engajamento lução. Nós ainda administramos as nossas corpo-
de todas as pessoas da organização na liderança rações da maneira como a URSS se administrava.
intelectual da mesma. Nós nunca encaramos essa incoerência de fren-
O primeiro desafio, portanto, é como mudar as te… Como resultado, há um grande e profundo
premissas que estão na base do nosso sistema cinismo em nossas organizações. Temos que achar
tradicional de management. uma maneira de superar esse cinismo. Este é o
O segundo desafio é como desenvolver a capa- terceiro grande desafio.
cidade de pensar de todas as pessoas da organiza-
ção. Entendemos que há muito ainda a aprender Para reflexão: Como é o sistema de management
sobre como ajudar as pessoas a desenvolver essa em vigor em sua empresa? Quanto desse “sistema” é
capacidade. discurso e quanto é ação prá valer? O que uma
É relativamente fácil conseguir entusiasmar as análise profunda do que é feito pelos gerentes reve-
pessoas para ter maior responsabilidade. A maio- la? Sua empresa tem investido em habilidades durá-
ria das pessoas nas organizações gostaria de ter a veis (capacidade de pensar, aprender etc. ao desen-
capacidade de controlar seus destinos. O proble- volver executivos)? Ou continua a ser algo só técni-
ma é que ao assumirem maior responsabilidade, co? E o nível de cinismo em sua empresa? Isso
muito freqüentemente as pessoas não começarão preocupa ou ninguém acha isso prejudicial?
Aprender implica em lidar com a verdade
o tempo todo: as causas reais e não as aparentes,
o que a pessoa está realmente pensando e não o
que ela está disposta a dizer…

COMO SUPERAR ESSES DESAFIOS? COMO CHEGAR Para reflexão: Todos na sua empresa querem Sua empresa tem por
AO “IDEAL”, A PARTIR DE ONDE ESTAMOS? genuinamente criar um sistema não-autoritário de objetivo sobreviver
gerência? É algo profundo, verdadeiro, forte? Ou é ou viver? Se viver
Durante muitos anos tentamos compreender algo superficial, mais do tipo “tem que ser feito pressupõe a existência
melhor a noção de visão – o que significa ser uma porque é ser moderno…”? Quantos executivos estão de “sonhos”… qual o
companhia orientada por visão. Na realidade é a fim de abrir mão do poder que têm e compartilhá- sonho maior de sua
muito, muito simples: não chegaremos lá a partir de lo com a equipe? Não está muitas vezes na própria empresa?
onde estamos a menos que haja um número suficien- cúpula a resistência maior (é onde, no sistema Todos em sua empresa
te de pessoas que realmente dêem importância a isso. autoritário, há maior concentração de poder: quan- compartilham desse
Se a companhia tiver como visão tão-somente to mais tem, mais difícil de abrir mão…)? Chegar a sonho? Se sua empresa
sobreviver, as coisas ficarão um pouco melhor transformar os que no fundo não querem um tem uma visão do que
por algum tempo. Por pouco tempo, na verdade, sistema não-autoritário não seria um trabalho de está buscando construir,
porque as pessoas não se sentem comprometidas base de extraordinárias proporções? Temos nas o sonho maior está
com esse tipo de finalidade. empresas dado a devida atenção a isso?) contido nela? Ou é
A única maneira de se obter sucesso é com uma visão “mais
pessoas que, verdadeiramente, queiram criar um O QUE É A “LEARNING ORGANIZATION” QUE VOCÊ objetiva e cerebral”?
sistema de gerência não-autoritário, que realmente TRABALHA EM SEU LIVRO A QUINTA DISCIPLINA?
queiram criar uma companhia que seja orientada
por uma visão baseada em valores. A “learning organization”, a organização predo-
Uma das coisas que venho acreditando mais e minantemente orientada para a aprendizagem, é
mais nos últimos anos é no papel central da visão. aquela que se seguirá à organização tradicional,
As pessoas freqüentemente pensam que visão é predominantemente orientada para o controle.
apenas um plano ou um objetivo. Na medida em Uma forma simples de se pensar sobre isto é
que você realmente cria uma “realidade mental” comparar com uma escola, que é um conceito mais
de um futuro que você está tentando construir, universal para todos nós. Eu penso que não haverá
você está automaticamente detectando as lacu- corporações que aprendam em larga escala se não
nas entre esse futuro e a realidade. Acredito que, tivermos escolas que sejam organizações orienta-
na verdade, um dos maiores problemas que te- das para a aprendizagem. As crianças quando
mos é a ausência de visão. Quando a visão está entram na escola sabem o que é aprender. As
ausente, tudo que resta às pessoas é defender seu crianças são os melhores aprendizes pois apren-
status quo e, implicitamente, elas congelam seus dem a andar, aprendem a falar e a ter o controle
modelos mentais. Na presença de uma visão (o sobre uma quantidade incrível de coisas. Aprendem
que as pessoas desejam construir), acredito que porque são curiosas, porque elas desejam fazer
há potencial para uma abertura enorme para experiências e aceitam cometer erros.
melhor enxergar as coisas ao redor. Mas isso só A criança vai para a escola. Já na primeira se-
se a visão for compartilhada por todos. Isso não mana, aprende que a escola não é um lugar para
ocorre freqüentemente. O mais freqüente é ver aprender. Descobre que a escola é um lugar onde
pessoas ou grupos de “visionários” extremamen- se busca um desempenho para a aprovação de
te dogmáticos e fechados. E essa é uma das alguém (“Não é OK dar a resposta errada. Se o
razões, novamente, fechando o círculo, que justi- fizer, ela obterá uma nota ‘C’, em vez de uma ‘A’ ”).
ficam as disciplinas da “organização orientada Numa organização orientada para a aprendiza-
para a aprendizagem”. Algumas das disciplinas gem muda-se da preocupação predominante em
da “learning organization” dizem respeito a visão, evitar erros para um contínuo aprender a partir de
visões pessoais, visões compartilhadas. Outras erros que é a maneira pela qual as crianças apren-
dizem respeito a enxergar a realidade nua e crua: dem.
modelos mentais, aprendizagem e raciocínio Uma organização orientada para a aprendiza-
sistêmico. E é, na verdade, a harmonia entre gem, portanto, é aquela que aceita cometer erros
essas diferentes disciplinas que, acredito, gera a e aprender com esses erros.
grande diferença no dia-a-dia. Pode-se imaginar uma escola, onde todas as
Não adquirimos novas competências gerenciais
só querendo… É preciso praticar muito para
conseguir dominar cada competência com grande
maestria. Não basta querer ser um pianista…

As pessoas em pessoas (crianças, professores, administradores, tínua para nos tornarmos melhores em ver a tota-
sua empresa pessoal da limpeza) estão continuamente apren- lidade e não somente as partes. É encorajar o
trabalham tendo dendo. Não tentando controlar umas às outras; diálogo autêntico e não somente ter pessoas
em mente apenas criando um ambiente onde todos podem argumentando sobre seus pontos de vista; é cons-
construir o que aprender. Essa é a “learning organization”. truir visões compartilhadas e não se ter pessoas
exatamente? com visões individualizadas. Estas são todas as
Essa imagem é única Para reflexão: Como podemos potencializar a capa- disciplinas e gradualmente estamos entendendo
ou algo totalmente cidade de aprender de todos os colaboradores da cada vez mais como praticá-las.
difuso e heterogêneo? empresa? Até que ponto o excesso de controles e de Em resumo, para se mudar de uma organização
“avaliações de desempenho” tem limitado a evolução orientada para o controle para uma organização
dos colaboradores e da sua empresa como um todo? orientada para a aprendizagem, devemos come-
çar tomando uma decisão. A menos que haja algu-
ma coisa a que as pessoas realmente dêem impor-
COMO PODEMOS TRANSFORMAR UMA tância, nada acontecerá. Em seguida, uma vez que
“ORGANIZAÇÃO ORIENTADA PARA O CONTROLE” se tomou a decisão, a questão é como desenvolver
NUMA “ORGANIZAÇÃO ORIENTADA PARA A de fato as competências necessárias. As questões-
APRENDIZAGEM”? chave são:
Com que práticas temos que nos comprometer
Para mudar é preciso primeiro decidir realmen- para construir visões compartilhadas e não ape-
te querer ser uma “learning organization”. Sem nas visões individuais? É para termos nas organiza-
essa decisão, sem esse comprometimento pesso- ções pessoas que dialoguem levando em considera-
al, nada realmente acontecerá. Em segundo lugar, ção os pontos de vista de todos? Que competências
após essa decisão ter sido tomada, é preciso come- precisamos desenvolver para assegurar um enten-
çar por perguntar: “O que nós, como empresa, dimento integrado na organização?
precisamos fazer de uma maneira diferente?” O Quais são as competências que precisamos de-
que eu, como indivíduo, preciso começar a fazer senvolver para conseguir enxergar as conseqüênci-
de uma maneira diferente? O que é preciso apren- as de longo prazo (e não apenas as de curto prazo)
der para fazer as coisas de maneira diferente? de nossas ações? Um grande número de nossos
Como adquirir as competências principais, que problemas de curto prazo é que as pessoas não
são necessárias para mudar de organizações orien- conseguem literalmente ver quais serão as conse-
tadas para o controle para uma organização orien- qüências deles daqui a 5 ou 10 anos.
tada para a aprendizagem. Essas competências
não são adquiridas através de discurso. Não vão Para reflexão: Se sua empresa tem uma “visão” do
“acontecer” porque se disse que iriam acontecer. que se busca construir, ela está sempre muito presente
Há muitas coisas a fazer. no dia-a-dia? A cada coisa que se faz na empresa, as
É como se eu dissesse: “Eu tive uma brilhante pessoas estão pensando em como aquilo está contribu-
revelação de que serei um grande pianista. Serei indo para a construção da visão da organização? Ou
um grande artista.” Você poderá responder-me: a “visão” parece algo burocrático, frio, recheado de
“Oh Peter, isso é formidável, eu estou feliz por “chavões”, tornando-a muito semelhante à de outras
você, mas o que é que você vai fazer para se tornar empresas? Sua empresa tem claro qual o conjunto de
um grande pianista?” competências que ela precisa dominar “com maestria”
O que preciso fazer é praticar e desenvolver a (e não “amadoristicamente”) para chegar à visão, ao
disciplina de um músico. Há a prática e há a dis- sonho maior? O que sua empresa tem feito para
ciplina. Sem disciplina, eu nunca me tornarei um desenvolver essas competências com o grau de excelên-
grande músico. Sem disciplina, eu nunca me torna- cia necessária? Sua empresa considera a aprendiza-
rei um grande artista. gem coletiva uma “prática de RH” ou um tópico
Analogamente, o que nós estamos tentando estratégico da mais alta relevância? A cultura vigente
fazer nas organizações é entender quais são as hoje na sua empresa favorece o “aprender junto” ou,
disciplinas que precisamos praticar de forma con- pelo contrário, incentiva o individualismo em tudo? O
… a aprendizagem mais significativa
é aquela gerada a partir de nossas
ações; aprender, por conseguinte, pressupõe
assumir riscos…

individualismo é ainda agravado por imediatismo? verdade, a representação de um ciclo de aprendi- A empresa que está toda
Qual o primeiro passo para iniciar de vez as necessá- zagem. Como melhorar os esforços sistemáticos sintonizada numa mesma
rias mudanças culturais? de formular hipóteses, conduzir experimentos, ana- direção não pressupõe
lisar esses experimentos cuidadosamente e difun- sintonia de “modelos
dir o que foi aprendido é exatamente o ciclo de mentais” de todos os
MUITAS EMPRESAS HOJE EM DIA ESTÃO TENTANDO aprendizagem. colaboradores? Na sua
INTRODUZIR PROGRAMAS DE QUALIDADE, MAS OS Todos os seres humanos aprendem por meio empresa, todos conhecem
RESULTADOS TÊM SIDO MUITO LENTOS. NA SUA de processos interativos como esse, conduzindo o que está na mente do
OPINIÃO, QUAL A CAUSA DISSO? experimentos e observando as suas conseqüênci- principal líder? Ou só
as. Infelizmente, isso não está inserido em nosso conhecem o que está na
Acredito que a razão básica é que, pelo menos sistema educacional e acabamos por esquecer superfície?
no Ocidente, as pessoas têm dado ênfase exclusi- como as pessoas realmente aprendem. Acaba-
vamente às ferramentas e técnicas, tentando im- mos esquecendo que 98% do que você e eu apren-
plantar círculos de qualidade, controle estatístico demos foram por meio de experimentos, tentati-
de processo, algumas formas de diagnóstico de vas e erros. Esse é o ciclo de aprendizagem. Ainda
processo de produção etc. Mas as pessoas trazem que não façamos isso cuidadosamente com fre-
essas ferramentas/técnicas e tentam encaixá-las qüência, essa ainda é a principal idéia subjacente.
no sistema de management vigente esperando
produzir mudanças substanciais. O problema é Para reflexão: Até que ponto as empresas que
que o sistema de management como um todo buscam revolucionar a qualidade estão conscientes
precisa ser mudado. de que precisam, na verdade, revolucionar o próprio
Ishikawa, um dos pioneiros da qualidade no management global da organização? Quantas estão
Japão, referiu-se a essa mudança como “revolu- conscientes, querem qualidade mas não querem
ção no pensamento gerencial”. Deming também “mexer demais” na forma de o alto escalão traba-
tem dito que é no sistema de management que lhar? O que pode se esperar de um “meio-termo”
reside o maior problema, e que sua filosofia (à como esse?
qual ele nem se refere mais como “administração
da qualidade” porque isso tem levado a muitas
distorções) é sobre um novo sistema de MUDAR SIGNIFICA TAMBÉM “DESAPRENDER” O
management. Um sistema de management que é QUE NÃO ESTÁ MAIS FUNCIONANDO…
antes de mais nada baseado em motivação, em
pessoas intrinsecamente motivadas a aprender. Sim. Acho que essa é uma parte muito impor-
Nada em controle estatístico de processo irá ensi- tante. Pergunte a si próprio por que as pessoas,
nar você a olhar de forma diferente para você individualmente ou em instituições, são incapazes
mesmo e para mim. Esse é um problema de de enxergar o que não funciona. Esse é realmente
management, sobre as premissas básicas a um tipo de questão básica. Há muitas explanações
respeito das pessoas. diferentes, e todas são verdadeiras em circunstân-
Minha própria visão é de que a chamada “revo- cias diferentes.
lução da qualidade” e a revolução do management Em primeiro lugar, não somos capazes de ver
da qualidade é, na verdade, a primeira onda na o mundo objetivamente. Considere nossas per-
construção da “organização orientada para a apren- cepções de mundo: nossa percepção do mundo é
dizagem”. função de nossos modelos mentais. Nós enxer-
Acredito que, em essência, a questão-chave é: gamos aquilo que estamos preparados para enxer-
“como fazer uma organização aprender de gar. E, freqüentemente, conseguimos enxergar
forma integrada o tempo todo”. Que conexões apenas as coisas com as quais nos sentimos mais
existem entre a busca de qualidade e a busca de confortáveis. É extremamente difícil para qual-
aprendizagem? O ciclo “planejar, fazer, verificar, quer um de nós, seres humanos, enxergar ou
atuar”, que é a base de praticamente todos os escutar algo que não se adapte aos nossos “mode-
programas de aprimoramento da qualidade, é, na los mentais”.
… Numa abordagem integrativa, não
fragmentária, as empresas deveriam também
estar pensando em aprendizagem coletiva a
nível de país…

De que forma Uma das razões pelas quais processos como o VOCÊ PODERIA DAR UM EXEMPLO PARA
as empresas poderiam de construção de cenários (prospecção do futuro) ILUSTRAR A QUESTÃO DE COMO TRABALHAR
criar experimentos são tão importantes está no fato de que esse exer- OS MODELOS MENTAIS?
inovadores em cício pode literalmente alterar as percepções das
educação e repassar pessoas. Isto porque só de pensar em um cenário Um bom exemplo é o que pude observar na
os benefícios auferidos futuro (que pode ser muito diferente daquele que África do Sul, cerca de seis ou sete anos atrás.
às pessoas que prevalece hoje) estou mais preparado para en- Em 1983, a Shell Oil Company ajudou a formar
atuam na área de xergar eventuais sinais de mudança, mesmo que uma equipe dedicada a desenvolver cenários para
educação no país? eu não acredite totalmente nos cenários projetados. o futuro daquele país. A Shell foi a primeira empre-
sa ocidental, pelo que sei, a lidar seriamente com o
Para reflexão: Sua empresa faz prospecção de cená- gerenciamento de modelos mentais. Ela tem utili-
rios? É só pra efeito de planejamento quantitativo zado a técnica de construção de cenários nos
(situação econômica, inflação, câmbio etc.) ou é algo últimos quinze a dezoito anos para trazer à super-
que vai à essência (como será o dia-a-dia daqui a 10 fície os modelos mentais das pessoas.
anos? Nosso produto será necessário? Como será a A Shell , juntamente com outras empresas sul-
vida nas empresas?) Até que ponto as pessoas em sua africanas, desenvolveu uma análise de cenários e a
empresa estão presas a “formas antigas” de ver o apresentação desses cenários foi levada a todo o
mundo e as empresas? As prospecções de cenários país: a empresas, a grupos comunitários e a todos
futuros são feitas “para planejar” ou para renovar as os níveis de governo.
“formas de ver as coisas” de modo contínuo? O maior Basicamente, os cenários delineavam três pos-
benefício dos exercícios de cenários não seria o de síveis caminhos futuros para a África do Sul.
treinar a mente de modo a capacitá-la a enxergar as O primeiro, batizado “caminho inferior” (low
transformações em processo hoje? road), descrevia um cenário de crescente conflito,
crescente entrincheiramento do establishment bran-
co, crescentes reações e sanções internacionais e
VOCÊ PODERIA TRABALHAR UM POUCO MELHOR assim por diante.
A NOÇÃO DE “MODELO MENTAL”? O segundo, chamado “caminho superior” (high
road), movia-se em direção a uma sociedade
Modelo mental é praticamente a nossa concep- multirracial. O terceiro cenário, batizado “cami-
ção de mundo, de “como as coisas funcionam”. Se nho do meio” (middle road), descrevia uma espé-
não reconhecermos que nossos modelos mentais cie de avanço gradual.
são modelos, passaremos a acreditar que esse é O método de apresentações interativas, utiliza-
realmente o jeito como o mundo funciona. A partir do para os três cenários, deixou muito claro que na
do momento em que passamos a receber informa- realidade não havia nenhum “caminho do meio”.
ções que podem não corresponder à nossa concep- Na verdade, só seriam “prováveis” o “caminho
ção de mundo e às coisas com as quais nos senti- superior” e o “caminho inferior”. E quanto mais se
mos confortáveis, podemos ficar desorientados, discutia a respeito, mais se tornava claro que o
perturbados, ameaçados. Acho que é nesse ponto “caminho inferior” não era o tipo de mundo em que
que as pessoas podem ajudar umas às outras a as pessoas gostariam de viver.
lidar com coisas que não se encaixam em seus A discussão e apresentação de cenários foi feita
modelos mentais. durante dois anos, em todo o país. Foi um diálogo
real que envolveu milhares de pessoas de muitas
Para reflexão: Reuniões estratégicas não deveri- partes diferentes da sociedade e não apenas um
am na verdade ser momentos em que os colaborado- punhado de planejadores trancados em uma sala.
res-chave dialogassem profundamente sobre seus É impossível dizer o quanto essa atividade teve
“modelos mentais”? Não são as divergências em impacto sobre as mudanças subseqüentes na Áfri-
“modelos mentais” (normalmente nem se conversa ca do Sul. Mas quando lá estive pela primeira vez
sobre isso…) que bloqueiam ou tornam difícil/lento em 1988/1989, antes do famoso discurso do presi-
o processo decisório na empresa? dente Declercq em que a legalização de todos os
O futuro das organizações - e nações -
dependerá cada vez mais de sua capacidade
de aprender coletivamente.

partidos políticos foi anunciada, era evidente para detêm todo o poder político, para uma situação O que você pode
mim que pouquíssimas pessoas acreditavam que o em que 80% da população têm que passar a deter fazer, de onde
sistema tradicional fosse viável e que o país poderia algum tipo de poder. se encontra hoje,
evoluir gradualmente. Ninguém acredita que o país seja viável, a longo para contribuir para a
Acredito que o caso da África do Sul é um prazo, se as desigualdades em educação e conhe- potencialização da
excelente exemplo de utilização de um processo cimento forem mantidas pelos segmentos domi- aprendizagem coletiva
criado para trazer à tona os modelos mentais das nantes da sociedade. em sua empresa?
pessoas, visando descongelá-los. Muitas pessoas Na verdade, a África do Sul já está desenvol-
sustentam que o exercício de planejamento feito vendo um conjunto de centros de aprendizagem
na África do Sul realmente contribuiu de forma em todo o país. No futuro, eles poderão se multi-
decisiva para o desenvolvimento de grupos políti- plicar e se transformar num sistema educacional
cos entre os brancos de classe média em apoio ao alternativo.
presidente Declercq no rompimento dramático Reavivar um sistema educacional tradicional
com as “tradições” dos governos anteriores. que é, pelas suas premissas, um sistema deficien-
Acredito que a questão real aqui é a mesma que te, não será provavelmente suficiente para levar o
as empresas têm que enfrentar: não é apenas uma país ao ponto que se quer chegar. É preciso inovar
questão de reformular ou mudar os modelos men- pela raiz. Os sistemas alternativos poderão ser a
tais. Trata-se da questão de criar práticas que irão solução…
provocar mudanças nos modelos mentais das pes-
soas. Essa é a verdadeira essência do aprender. Para reflexão: Até que ponto, no Brasil, seria
factível desenvolver centros de aprendizagem nos
Para reflexão: Modelos mentais/construções de mais diferentes pontos do país, como processo alter-
cenários… não seriam conceitos para desenvolver nativo (em relação ao sistema formal de educação)
consensos amplos para fazer a sociedade como um para que, através de forte alavancagem de aprendi-
todo evoluir de forma equilibrada? Esse processo, zagem coletiva a nível de país, possamos também
depois de uma primeira rodada, a nível de empresa, alavancar o conjunto todo (inclusive o desempenho
não deveria ir sendo ampliado de modo a abarcar econômico)?
primeiro os clientes, fornecedores, funcionários, aci-
onistas e, em seguida, todos os segmentos da socieda-
de, inclusive o governo? Não deveria ser um processo EXISTE ENTÃO UM GRANDE POTENCIAL?
circular, na medida em que o processo recomeça
embutindo tudo que se descobrir no trajeto? Sim. O que torna essa situação promissora,
ainda que extraordinariamente desafiadora, é que
podemos melhorar muito os nossos sistemas de
A NOÇÃO DE “ORGANIZAÇÃO ORIENTADA PARA educação. E assim fazê-los produzir aprendizagem
A APRENDIZAGEM” PODE ENTÃO SER APLICADA real. Aprendizagem sempre deve estar conectada
A NÍVEL DE PAÍS? com o que a pessoa faz.
A educação tradicional não funciona em grande
Acredito que muitas pessoas já começaram a parte porque ela tem priorizado o que os professo-
pensar a esse respeito. Muitas delas têm expres- res querem ensinar, em vez de priorizar o que as
sado sua preocupação de que a aprendizagem pessoas querem aprender.
depende da nação, do nível de educação das Acredito que há uma grande margem para
pessoas do país. desenvolvimento. Conheço outros países que já
O exemplo da África do Sul é também interes- começaram a pensar nessa idéia de país “orientado
sante nesse sentido.O país tem vivenciado um para a aprendizagem”. Mas não sei se algum deles
desenvolvimento extremamente rápido de seus já fez qualquer progresso significativo.
recursos humanos. O que é peculiar a respeito da Recebi cartas de ministros da Austrália e da
África do Sul é o fato de que eles têm que evoluir Nova Zelândia, por exemplo, expressando seu
de uma situação em que 10 a 15% da população desejo de realmente desenvolver aprendizagem
O fundamental é assegurar que os
executivos da empresa, principalmente os da
cúpula, estejam genuinamente interessados
em preparar as pessoas para o futuro.

Potencializar a na sociedade como um todo e perguntando a vários tipos de iniciativas tem surgido nos últimos
capacidade de respeito de estratégias para uma sociedade ori- trinta ou quarenta anos. O problema é que muito
aprender coletivamente entada para a aprendizagem. Estou constante- pouco dessas inovações tem penetrado na essên-
não seria a prioridade mente recebendo informações a respeito de ou- cia de como as escolas realmente operam.
estratégica número tras iniciativas semelhantes, na Europa Oriental Os professores que tentam chegar à essência
um dos líderes de por exemplo. tendem a se destacar e ameaçam os demais. Ge-
empresas e nações? A essência da aprendizagem está em conse- ralmente, as pessoas pensam exclusivamente a
guirmos desenvolver a capacidade (individual e respeito da escola. Não pensam no sistema edu-
coletiva) das pessoas de compreender o mundo e cacional como um todo e em seu relacionamento
aprimorar a maneira como as coisas são feitas. com a comunidade. Ou seja, não pensam como
Este é o ponto-chave da aprendizagem: compreen- “learning organizations”. Para começar a ser uma
der e aprimorar. organização orientada para a aprendizagem, a
Concluindo, acredito que os conceitos subja- escola precisa ver como está organizada, como
centes à idéia de “learning organizations” podem treina as pessoas a trabalharem em equipe, como
ser aplicados em nível de país mas acho que, no realmente desenvolve as habilidades de apren-
momento, nenhum tenha avançado o suficiente der coletivamente.
nesse caminho. Contactamos uma escola no Arizona (Estados
Unidos) que tem sido bem-sucedida em acelerar e
Para reflexão: Se é “consenso nacional” que o enriquecer o processo de aprendizagem nas crian-
sistema educacional também em nosso país precisa ças. O foco desta escola tem sido a instituição como
melhorar muito, por que as melhorias demoram um todo, como uma organização orientada para a
tanto a vir? Será que é porque estamos esperando aprendizagem. Cada professor é parte da equipe;
que o próprio sistema que vem gerando os problemas cada pessoa na escola é parte da equipe. Todos os
se “auto-reformule”? Quão realista é essa expectati- funcionários, até mesmo os administrativos e o
va? O que precisaria ser feito para quebrar o círculo pessoal da manutenção, freqüentam as salas de
vicioso? A ação direta (iniciativas de processos aula para ver como as coisas estão indo. Todos
alternativos) de cidadãos envolvidos, numa aborda- estão pensando o tempo todo sobre como fazer
gem de “sociedade que toma conta de si mesma”? com que as crianças tenham uma experiência de
Que analogias podemos fazer entre isso e a questão aprendizagem completa.
de educação/desenvolvimento dentro das empre- Acredito que coisas muito interessantes estão
sas? Não teremos também uma lacuna enorme a começando a acontecer…
preencher se buscarmos os melhores padrões mun-
diais? O problema não está em deixar o processo de Para reflexão: Fazendo analogias com a vida nas
educação sujeito ao sistema vigente (status quo), o empresas: Quantos executivos da cúpula estão ge-
que leva à mera reprodução do sistema, ao invés de nuinamente interessados em educar todos na
conduzi-lo a reais inovações? empresa, de forma adequada, pensando no futuro?
Quantos se envolvem profundamente, alocando
energia e tempo pessoal ao processo de educar os
E QUANTO ÀS PRÓPRIAS ESCOLAS…? colaboradores da empresa? Assegurar que todos os
colaboradores estejam evoluindo coletivamente…
Uma das maiores surpresas para mim desde o não seria essa a função mais relevante do
lançamento do livro A Quinta Disciplina tem sido líder para os novos tempos…?
o interesse despertado em educadores.
Atualmente, existem escolas nos Estados Uni-
dos que estão seriamente empenhadas em se
transformarem em “learning organizations” . Há
uma quantidade enorme de tentativas de inovar o
processo de aprendizagem nas escolas. Novas
pedagogias, novos currículos, novas pesquisas e
PREMISSAS QUE REGEM O SISTÊMICO

Pensando
Sistemicamente
eja abaixo algumas premissas funda- ou negativo) de muitas decisões pode surgir só Quais as premissas que

V
mentais que estão na base do pensa- mais tarde, a médio e longo prazos”; “Antes de pi- estão na base do
mento sistêmico. Parte delas é traba- orar, as coisas melhoram: certas ‘soluções’ de cur- pensamento sistêmico?
lhada por Peter Senge em seu livro, to prazo dão a ilusão de melhorias que irão perdu- De que forma elas
sob o título de As Leis da Quinta Dis- rar…”; “As soluções mais fáceis/‘confortáveis’ diferem das premissas
ciplina. Para cada uma das premissas podem levar a retrocessos críticos…” que caracterizam a forma
aqui destacadas, elaboramos um bre- de pensar que prevalece
ve comentário que visa a estimular o leitor a refle- 5. “O MAIS RÁPIDO PODE GERAR O MAIS LENTO.” em sua empresa?
tir sobre o que é essencial mudar na forma de pen- O pensamento sistêmico nos faz ver que forçar o E em relação às que
sar, decidir e agir no mundo dos negócios, para sistema a se exceder (pressionando a velocidade caracterizam a sua
assegurar permanente evolução. para além da natureza) pode levar a problemas que forma de pensar?
acabam tornando tudo muito mais demorado no
1. “O TODO É MUITO MAIOR DO QUE seu final, ou mesmo gerar rupturas permanentes.
A SOMA DAS PARTES.” Como anda o clima de “pressa” em sua empresa?
O que prevalece ainda em grande número de em-
presas é a concepção de que “a soma das partes é 6. “QUANTO MAIS FORTE FOR A PRESSÃO,
igual ao todo”, numa abordagem fragmentária, não- MAIS FORTEMENTE O SISTEMA REAGE
integrativa. O fundamental é sair da concepção de EM SENTIDO CONTRÁRIO.”
“empresa como máquina” para a concepção de Ao pensar sistemicamente, descobrimos de forma
“empresa como organismo vivo em contínuo pro- natural que são inúmeras as alternativas que te-
cesso de transformação”. mos, além de pressão, para fazer com que as coi-
sas aconteçam: eliminar barreiras, criar estímulos
2. AS PARTES SÓ PODEM SER ENTENDIDAS PELA criativos, direcionar a energia do próprio sistema
COMPREENSÃO DA DINÂMICA DO TODO.” etc.
O pensamento sistêmico nos tira da abordagem
fragmentária que prevalece nas organizações tra- 7. “A ‘CURA’ PODE SER PIOR DO QUE A DOENÇA.”
dicionais, livrando-nos de inúmeras distorções que A solução mais óbvia pode não só ser ineficaz, mas
– no dia-a-dia – comprometem a saúde da empre- muito perigosa. A solução refinada – aquela que
sa. O aspecto-chave a considerar aqui é a humil- atua na essência, nas áreas de maior alavancagem
dade/ausência de arrogância que ajuda os execu- (e, portanto, gerando resultados de maior impac-
tivos a transcenderem os limites das áreas que to) – normalmente é menos óbvia, é de longo pra-
dirigem. zo e conta com a ajuda da natureza (mecanismo
de auto-ajustamento embutido no sistema).
3. “TUDO QUE SE FAZ AFETA O TODO
DE ALGUMA FORMA.”
Muitas empresas tomam decisões “setoriais” como
se fossem coisas isoladas e independentes.
“Interdependência” é hoje um conceito-chave para
nos ajudar a pensar sistemicamente, “sinergizar”
tudo que se faz na empresa e otimizar os resulta-
dos globais.

4. “O QUE SE FAZ HOJE GERA SEMPRE


CONSEQÜÊNCIAS DE CURTO, MÉDIO
E LONGO PRAZOS.”
O pensar sistemicamente nos faz considerar to-
dos os possíveis efeitos das alternativas e não o
que pode acontecer a curto prazo. Como diz Senge:
“Causa e efeito não têm uma relação óbvia no tem-
po e no espaço: o efeito mais impactante (positivo
Flash-Idéias Flash-Idéias Flash-Idéias Flash-Idéias
O SISTÊMICO NO TEMPO

Normalmente, quando as pessoas se referem a pensamento sistêmico, a primeira idéia que vem à
mente é a interconexão das partes e o funcionamento do todo em determinado “espaço”. Elabora-se
sobre o efeito de determinada decisão/ação no conjunto e não só na parte que é objeto direto da ação.
Menos freqüente é a idéia do sistêmico no tempo. É a noção do encadeamento de eventos e proces-
sos: o conjunto interconectado de conseqüências de determinada ação, por exemplo.
Esta é uma noção extremamente importante no mundo empresarial, principalmente se considerar-
mos que ainda predomina em muitas organizações uma cultura imediatista, na qual só se avalia o efeito
de curto prazo das alternativas de decisão.
Que tal começar a exercitar o sistêmico no dia-a-dia de seu trabalho também levando em conta o
tempo? Isso significa ter sempre em mente que o estado atual das coisas é conseqüência de uma rede
intrincada de causas e efeitos e que as coisas que fizermos hoje gerarão um conjunto complexo de
conseqüências de curto, médio e longo prazos.

O SISTÊMICO E O SER HUMANO

Nas empresas, tradicionalmente, as pessoas têm sido consideradas de forma fragmentada: o que
importa é o lado estritamente profissional e todo o resto é interpretado como periférico e como algo que
interfere no trabalho de forma negativa.
O pensamento sistêmico por princípio vê o ser humano no seu todo, sem separar o lado profissional
do pessoal. Afinal, um está afetando – tanto positiva como negativamente – o outro o tempo todo.
O pensamento sistêmico nos leva também a refletir sobre outras dimensões humanas no management:
o uso dos dois hemisférios do cérebro, a integração do lógico-racional com o intuitivo-afetivo, o clima
organizacional não só afetando a motivação das pessoas mas também condicionando o nível de saúde
das pessoas, os subterrâneos (as fofocas, as lutas surdas por poder, os feudos etc.), afetando o lado
formal das relações pessoais e organizacionais e muitas outras.
E quanto ao sistêmico maior no qual se busca entender o ser humano pela essência? O que muda na
empresa quando passam a lidar com as pessoas como um “conjunto interconectado” de corpo, mente e
espírito?

O SISTÊMICO E A SAÚDE

Em que grau a produtividade de uma empresa depende da qualidade de saúde de seus colaboradores?
Ao pensarmos sistemicamente sobre essa questão, a tendência é ficarmos extremamente surpresos
com o quadro que emerge: a conexão saúde e motivação, saúde e energia, saúde e criatividade afetando
os níveis de produtividade; a conexão entre o clima organizacional, o estilo de gerência e o nível de
pressão inerente ao negócio afetando os níveis de saúde; as políticas de RH, a adequação do tipo de
trabalho aos objetivos das pessoas, o nível de justiça percebida assegurando saúde e pique grupal ou
doenças e baixo astral etc.
Até que ponto trabalhamos a questão da saúde de forma sistêmica na empresa? Não estariam nossas
abordagens ainda calcadas em paradigmas fragmentários? Vemos saúde como algo periférico ou como
algo estratégico, diretamente vinculado aos resultados da organização? O sistema de management em
vigor em sua empresa tende a potencializar a qualidade de vida e saúde de todos ou é uma “fábrica” de
tensão e doenças?
Flash-Idéias Flash-Idéias Flash-Idéias Flash-Idéias
APRENDIZAGEM COLETIVA E DIÁLOGO

Em sua empresa predominam as discussões ou o diálogo?


As pessoas se vêem como adversárias e estão sempre tentando “vencer” durante as discussões ou se
consideram colegas e estão sempre buscando cooperar e crescer em conjunto, em equipe?
Vemos ainda hoje nas organizações a tendência de se buscar maximizar a aprendizagem individual
e não a coletiva. Some-se a isso uma cultura de “fragmentação organizacional” (na qual “cada macaco
deve ficar em seu galho…”) e temos o “fenômeno” do não-diálogo e do não-intercâmbio entre pessoas.
No diálogo, não existe a preocupação de vencer, mas sim a de alavancar a força do grupo, da equipe. O
clima não é adversarial pois não existe a noção do vencer individualmente. Busca-se o sucesso coletivo.
Como assegurar que predomine o diálogo nas empresas e não mais a discussão? O que é necessário
fazer para que em todas as reuniões o diálogo prevaleça?
Como capacitar todos os líderes da empresa (inclusive o executivo-chefe) a se tornarem facilitadores
de diálogo e “descapacitá-los” quanto ao papel de incentivadores de discussão e competição predatória?

APRENDIZAGEM COLETIVA ENTRE AMIGOS

Um grupo de amigos não tenderia a aprender coletivamente e evoluir junto de forma natural? Seria
possível gerar aprendizagem coletiva em organizações nas quais as pessoas se vêem como “inimigas”?
Ou mesmo em grupos nos quais as pessoas meramente se toleram?
Ao refletirmos sobre questões como as acima, vemos quão impossível é o que muitas empresas
estão tentando: a busca de aprendizagem coletiva sem questionar a base.
O questionamento da base (a qualidade intrínseca das relações entre as pessoas) nos conduz a al-
guns grandes desafios: como conseguir fazer da organização um grande grupo de amigos? Como fazer
as pessoas se conhecerem melhor? Como sair do superficialismo e da frieza das relações que predomi-
nam nas organizações?
Que tal usarmos soluções criativas para esses desafios investindo mais na criação de oportunidades
para catalisação de relacionamentos mais profundos entre os colaboradores da empresa? Investir no
social na empresa não passaria a ser uma ação estratégica e não mais algo periférico, quase um “mal
necessário”, um item de despesa?

TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO COLETIVO

Quantos dos programas de treinamento e desenvolvimento hoje em processo nas empresas privile-
giam a aprendizagem coletiva?
Uma análise rigorosa do que predomina no campo do treinamento/desenvolvimento possivelmente
trará à tona um quadro pouco motivador: estamos ainda nas empresas muito presos a esforços que
buscam aprendizagem individual.
O paradoxo é de que os programas tradicionais são implantados em grupo dando a impressão de
algo “coletivo”. No geral, o grupal é algo ilusório. Os programas ainda buscam economia de escala e
viabilizam atividades conjuntas como estratégia didática, quando muito. Dentro dos programas ainda se
vê muita discussão (em vez de diálogo), muita competição (em vez de cooperação) e o fenômeno do
“estar solitário em grupo”.
Como fazer a transição do desenvolvimento individual para o coletivo? Programas específicos para
desenvolver a competência de aprender coletivamente não seriam essenciais? Até que ponto seria pos-
sível “turbinar” os programas existentes para assegurar uma postura de aprender cooperativa e coleti-
vamente o tempo todo?
INVESTINDO NO ESSENCIAL

Alavancando Inovação
pela Educação
Inovação pressupõe novar é, em essência, um desafio modelos mentais, incentivando a busca de ajuda

I
educação. educacional. necessária, trabalhando positivamente os céticos
A nova liderança, Quando se diz que para inovar é preciso e motivando a todos no dia-a-dia. O líder deve
por outro lado, se sair da “crise de percepção” que vivemos assegurar-se – pelo seu interesse genuíno e por
fundamenta no arquétipo hoje, estamos nos referindo a “como edu- sua ação persistente – de que todos os outros
da educação e não car as pessoas para que elas tenham líderes da organização participem da tarefa de
mais no arquétipo condições de perceber o que está à volta através de orquestrar esse grande esforço educacional.
militar tradicional. novos filtros, mais compatíveis com os valores Aparentemente, não existe hoje nenhuma outra
Aparentemente, muito se emergentes”. prioridade (com exceção da definição da intenção
espera dos líderes nas Quando ficamos conscientes de que é preciso estratégica/do norte das empresas) maior do que
empresas nestes tempos trabalhar as premissas, os modelos mentais, as essa de reeducar todos os colaboradores da
em que inovação é algo “verdades” de cada pessoa da empresa para gerar empresa para sintonizá-los aos novos tempos.
fundamental. evolução de forma consistente e harmônica, A reeducação em grandes grupos envolve
Estão os líderes ficamos também conscientes da extrema impor- comunicação interna de alta eficácia. Se a empre-
preparados para catalisar tância do processo educacional necessário para sa tem um setor especializado em comunicação,
inovação não de cima transitar dos referenciais já superados para os haverá prioridade maior do que a de ajudar no
para baixo, mas novos paradigmas. processo de sintonia de referenciais da empresa
através da educação? Ao nos sensibilizarmos para a importância do como um todo? Como integrar os especialistas
diálogo (em contraposição à discussão adversarial em comunicação com os especialistas em RH e
que ainda prevalece na maior parte das treinamento/desenvolvimento e os próprios lí-
organizações) como habilidade coletiva que deres da empresa num grande esforço edu-
viabiliza o conceito de “organização orientada para cacional?
a aprendizagem”, a questão que vem à nossa mente Até que ponto as estratégias educacionais em
é “como educar a organização como um todo de uso em sua empresa têm sido modernizadas e
modo a desenvolver essa competência coletiva de alinhadas aos novos paradigmas? Não é aqui que
tamanha relevância estratégica”? o primeiro passo deveria ser dado?
Se a competência de pensar sistemicamente é Trabalhar paradigmas e modelos mentais é algo
pressuposto básico em organizações dirigidas extremamente desafiador e que exige alta “sen-
como um organismo vivo totalmente inter- sibilidade didática” e excepcional capacidade de
conectado, torna-se altamente estratégico assegu- abstração dos facilitadores. Estratégias de apren-
rar que todos na empresa sejam educados ou dizagem coletiva que consigam uma conexão di-
reeducados (evoluindo de um processo frag- reta com o que a pessoa vive no dia-a-dia parecem
mentário para outro, sistêmico). ser as mais eficazes. Como você tem usado o seu
A própria busca de desenvolvimento pelo trabalho diário para rever seus próprios
crescimento interior pressupõe orientação, acon- paradigmas e dialogar sobre os dos seus colegas?
selhamento, educação. Não estaria nesta área educacional não só a priori-
Se todas essas novas prioridades passam por dade maior como também aquela em que você
educação, é preciso que se levantem algumas poderá mais se realizar como líder e como ser
questões práticas de grande relevância: Quem deve humano…?
orquestrar esse processo de educação refinada?
Como viabilizar o alcance adequado desse pro-
cesso, buscando atingir todos na empresa? Que
estratégias educacionais inovadoras devem ser
criadas para fazer face a esse fantástico desafio de
fazer os “modelos mentais” das pessoas evoluírem?
Pela relevância estratégica do processo, o
executivo principal da empresa não pode estar
distante. Pelo contrário, cabe ao líder máximo da
empresa o papel de estar à frente desse processo,
dando o exemplo, questionando seus próprios

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