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Severiano Agostinho
Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2024
Severiano Agostinho
Universidade Rovuma
2024
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Que simultaneidade é essa? Que temporalidade é essa, que convém ao ser estético? Em
geral, denominamos essa simultaneidade e essa presencialidade do ser estético, sua
atemporalidade. A atemporalidade é, de início, nada mais do que uma determinação
dialéctica, que se eleva sobre o fundamento da temporalidade e sobre o antagonismo
com relação à temporalidade.
A cada vez que ocorre, a festa vai se modificando. Pois sempre algo diverso é
simultâneo com ela. Mesmo assim, sob esse aspecto histórico, continuará sendo uma e a
mesma festa, que vai sofrendo tais mudanças. Na sua origem, era assim e era festejada
de uma maneira, depois foi diferente, mais tarde novamente diferente.
A festividade só existe na medida em que é comemorada. Com isso não se quer dizer,
de maneira alguma, que seja de carácter subjectivo e que só tenha o seu ser na
subjectividade dos que a celebram. Antes, celebra-se a festa, porque chegou o seu dia,
ela está aí. Algo semelhante valia para o espectáculo teatral, que tem de se representar
para o espectador, e no entanto o seu ser não é, absolutamente, mero ponto de
intersecção de vivências que os espectadores têm.
No sentido mais genuíno da palavra, o theoros é, pois, o espectador que, através de seu
tomar-parte, participa do ato festivo, e através disso ganha sua distinção de direito
sagrado, p. ex., sua imunidade.
Nosso ponto de partida foi que o verdadeiro ser do espectador, que faz parte do jogo da
arte, do ângulo da subjectividade, não pode ser adequadamente compreendido como
uma forma de comportamento da consciência estética. Mas isso não deve significar que
também não se possa descrever a natureza do espectador a partir daquele tomar-parte
(Dabeisein), a que demos relevo.
Ao contrário disso, aquilo que é representado ao espectador como o jogo da arte, não se
esgota na mera enlevação do momento, mas inclui uma reivindicação de duração e a
duração de uma reivindicação.
Uma reivindicação é o fundamento legal para uma exigência indeterminada. Como lhe
corresponde o fato de que ela é compensada, se ela se tornar válida, tem de assumir,
então, primeiramente a forma de uma exigência. À sustentação de uma reivindicação
corresponde, portanto, que ela se concretize numa exigência.
Seja como for, a "simultaneidade" convém ao ser da obra de arte. Ela perfaz a natureza
do "tomar-parte". Não é a simultaneidade da consciência estética.
A "simultaneidade", ao contrário, significa aqui que algo individual, por mais remota
que seja sua origem, na sua representação, alcança plena actualidade. A simultaneidade
não é, pois, uma forma de acontecimento na consciência, mas uma tarefa para a
consciência e um desempenho que será exigido dela.
É constituída de maneira a se prender de tal forma à coisa em causa que esta se torna
"simultânea", o que significa, porém, que toda intermediação é subsumida em total
actualidade.
A teoria aristotélica da tragédia deverá nos servir, portanto, como exemplo para a
estrutura do ser estético. É conhecido que ela está em correlação com a poética e que
somente parece ter validade para escritos dramáticos.
Não obstante, o trágico é um fenómeno fundamental, uma figura de sentido, que não
ocorre somente na tragédia, a obra de arte trágica no sentido estrito da palavra, mas que
tem seu lugar também noutros géneros de arte, principalmente nas obras épicas.
Diz-se dessas afecções de que trata Aristóteles, que é através n delas que o espectáculo
teatral proporciona a purificação de paixões desse género. Como se sabe, essa tradução
é discutível e, sobretudo, o sentido do genitivo.
A questão pelo modo de ser do quadro, que colocamos aqui, indaga por algo que é
comum a toda diversidade de modos de apresentação do quadro. Com isso, ela dedica-
se a uma abstracção. Mas essa abstracção não é nenhuma arbitrariedade da reflexão
filosófica, mas algo que ela encontra realizado pela consciência estética, para a qual
tudo que se deixa subordinar à técnica de imagem da actualidade, no fundo, torna-se
quadro.
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O conceito do "quadro" pode ter realmente um sentido universal, que não se limita
apenas a uma determinada fase da história do quadro. Mesmo a miniatura atónica ou o
ícone bizantino é, num sentido mais amplo, um quadro, ainda que, nesses casos, a
configuração do quadro siga princípios bem diferentes, podendo ser caracterizada pelo
conceito de "signo pictorial" (Bildzeinchen'.
O conceito de quadro dos últimos séculos não certamente pode valer como um ponto de
partida evidente. A presente investigação quer, antes, libertar-se dessa pressuposição.
Ela gostaria de propor, para a maneira de ser do quadro, uma forma de concepção que o
libere da relação com a consciência estética e com o conceito de quadro, com os quais
nos acostumou a galeria moderna e que o congregue de novo com os conceitos do
"decorativo", desacreditados pela vivência-estética.
Se nisso vierem a coincidir com a mais recente pesquisa da história da arte, que deu um
fim aos ingénuos conceitos de quadro e de escultura, que dominavam na época da arte
vivencial, não somente a consciência não será, certamente, casual.
Se partirmos do fato de que a obra de arte não pode ser compreendida do ponto de vista
da consciência estética, muitos fenómenos, que assumem uma posição marginal para a
mais recente estética, perdem o seu carácter problemático, e até se deslocam para o
centro de um questionamento "estético", que não se reduz através de uma forma
artificial.
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O que aqui continua sendo decisivo é que essa ocasionalidade referida está incluída na
exigência da própria obra e que, por exemplo, não é imposta a ela, como necessidade,
primeiramente por seus intérpretes. É justamente por isso que tais formas de arte, como
o portrait, nas quais isso já está fixado, não encontram um lugar certo na estética
fundamentada sobre o conceito de vivência.
A diferença entre modelo e portrait torna evidente o que significa aqui a ocasionalidade.
A ocasionalidade, no sentido pensado aqui, reside inequivocamente na própria
reivindicação de sentido de uma obra, diferenciando-se com relação a tudo que pode ser
observado nela e pode ser concluído dela, contra a reivindicação da obra. Um portrait
quer ser entendido como portrait, mesmo quando a relação com o quadro original fica
quase sufocada pelo próprio conteúdo da imagem do quadro.
que elaboramos acima. Uma obra de arte pertence tão estreitamente àquilo com o qual
tem relação, que enriquece o ser daquele outro como que através de um novo
acontecimento do ser. No quadro, ser-fixado; na poesia, ser-tratado; ser meta de
uma alusão, do ponto de vista do palco, isso tudo não são efemeridades, que
permanecem distanciadas do ser, mas representações desse próprio ser.
O que dissemos de modo geral acima sobre a valência de ser do quadro inclui também
esse momento ocasional
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Aqui já não parece haver nenhuma representação que pudesse reivindicar uma valência
ôntica própria. A leitura é um processo da pura interioridade. Nela parece consumada a
liberação com respeito a toda ocasião e contingência, como se encontram na conferência
pública ou na encenação. A única condição, sob a qual se encontra a literatura, é a
transmissão linguística e seu cumprimento na leitura.
Todavia, o sentido normativo, que está contido no conceito da literatura universal, ainda
significa que as obras, que a ela pertencem, continuam falando, embora o mundo a que
falam seja completamente diferente.
Da mesma forma, a existência de uma literatura traduzida comprova que, em tais obras,
está sendo representado algo que sempre ainda possui verdade e validez para todos.
Do modo de ser da literatura participa toda tradição linguística, não somente os textos
religiosos, jurídicos, económicos, públicos e privados de toda classe, mas também os
escritos em que se elaboram e interpretam cientificamente esses textos transmitidos, e,
por consequência, todo o conjunto das ciências do espírito. E mais, a forma da literatura
convém em geral a toda investigação científica, na medida em que esta encontra-se
essencialmente vinculada ao carácter de ser da linguagem. É a capacidade de escrever,
de tudo que é linguístico, que delimita o mais amplo do sentido de literatura.