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ESPECIALIZAÇÃO EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

PROVA DE RORSCHACH:

APOSTILA BÁSICA

(Andy Warhol, 1984)

Compilado por: Profª Maria Inês Falcão

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USO EXCLUSIVO PARA FINS DIDÁTICOS – REPRODUÇÃO PROIBIDA


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ÍNDICE PÁGINA

Parte I – INTRODUÇÃO SOBRE O RORSCHACH


- Breve Histórico do Rorschach 04
- A Prova de Rorschach 05
- Análise estrutural das manchas de Rorschach 06
- Projeção e Percepção no Rorschach 06
- Categorização e análise do Rorschach 07

Parte II – TEORIA DE PERSONALIDADE – ANIBAL SILVEIRA


- Esfera Afetiva 07
- Esfera Conativa 08
- Esfera Intelectual 10
- Funções de Ligação 11
- Personalidade 12
- Estrutura e Dinâmica de Personalidade 12

Parte III – APLICAÇÃO DA PROVA DE RORSCHACH


- Fases de Aplicação 13
- Fase de Associação 14
- Fase de Inquérito 15
- Repassagem 16

Parte IV – CLASSIFICAÇÃO DE RESPOSTAS 18


- MODALIDADES DE RESPOSTAS 18
- Modalidades Principais 18
- Modalidades Secundárias 20

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ÍNDICE PÁGINA

- DETERMINANTES DE RESPOSTAS 23
- Respostas de Forma (RF) 23
- Respostas de Cor (RC) 24
- Respostas de Movimento (RM) 25
- Respostas de Perspectiva (RPs) 27
- Respostas de Luminosidade (RL) 28
- Determinante Principal e Determinante Adicional 30
- CONTEÚDOS DAS RESPOSTAS 31
- RESPOSTA VULGAR 32
- ELABORAÇÃO DAS RESPOSTAS (Elab/Z2) 33

Parte V – CÁLCULOS NO RORSCHACH 34


- Tabelas Normativas (adultos) 34
- Sinais Psicodiagnósticos 37
- Choque à Cor (chC) 37
- Choque à Luminosidade (chL) 37
- Série de Molly Harrower 38
- Série de Piotrowski 38

Parte VI – INTERPRETAÇÃO DO RORSCHACH 39


- Orientação para a realização do Laudo 39
- Protocolo com grande número de respostas 40
- Tipo de Trabalho Mental 41
- Feitio da Personalidade 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 61

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• Herman Rorschach (nascido em Zurique, 1884 - 1922) foi o primeiro a utilizar manchas fortuitas
de tinta para investigação da personalidade, preocupando-se não somente com o que a pessoa
via, mas como via cada figura, relacionando tais observações às funções psíquicas. Antes dele,
muitos pesquisadores utilizaram essa técnica, porém para verificar imaginação e criatividade nas
associações às manchas.
• No curso secundário dedicava-se ao desenho, fazendo caricaturas, manipulando brincadeiras com
borrões de tinta, que lhe valeram o apelido de “Kleix” (do livro Klecksographien, de Justinus Kerner,
1890).
• Formou-se em Medicina em 1909. Iniciou seus estudos e pesquisas com manchas de tintas em
1911. Foi influenciado por Heins (1917), que desenvolveu um trabalho utilizando oito cartões
monocromáticos com os quais procurava investigar o conteúdo das respostas dadas por crianças,
adultos e psicóticos. Entretanto, não foram os resultados que lhe chamaram a atenção, mas a
formulação de algumas questões quanto à seleção da figura como um todo ou em partes, sobre a
influência do uso de cores nas respostas às pranchas e a utilidade do teste para o diagnóstico de
psicoses.
• Em 1918 cria 15 pranchas com dois elementos de estruturação: eixo e simetria, sendo algumas
em preto e branco, outras em preto e vermelho e ainda outras coloridas, as quais passa a
experimentar em seus pacientes no Hospital de Herisau, nas enfermeiras, e em estudantes de
medicina, crianças e outras pessoas, totalizando uma amostra de 288 doentes mentais e 117
indivíduos “normais”.
• Ao enviar suas pranchas para editora para serem impressas em série, as mesmas sofreram
algumas alterações. O número foi reduzido para 10 pranchas, o formato também foi reduzido, as
cores foram modificadas e algumas áreas sombreadas. Apesar do acaso, essas modificações
foram aproveitadas por Hermann Rorschach, que passou a pesquisar as reações ao sombreado,
atribuindo-lhe interpretações.
• Em junho de 1921 publicou seu livro “Psicodiagnóstico”, contendo as conclusões de seus estudos
e experimentos, e as pranchas por ele elaboradas.
• Em 1922 apresentou seu trabalho na Sociedade de Psicanálise de Zurique; através de uma análise
às cegas de um paciente de um outro médico, Dr. Oberholzer, Hermann obteve resultado
plenamente coincidente com o diagnóstico clínico.
• Morreu prematuramente em abril de 1922 de peritonite aguda, rompendo bruscamente as
pesquisas sobre sua técnica, retomadas por seus seguidores.
• No Brasil, consta que desde 1927, em Recife, Ulysses Pernambuco fazia uso desse método, bem
como Helena Antipoff, em 1929, em Belo Horizonte.
• Oficialmente, a primeira referência ao teste no Brasil data de 1932, através de comunicação
proferida pelo Dr. José Leme Lopes, cujo título era “O Psicodiagnóstico de Rorschach na consulta
médica psicológica”.
• Um dos primeiros nomes ligados ao Método de Rorschach no Brasil é o do psiquiatra Aníbal
Silveira (1902-1979), um dos fundadores da Sociedade Internacional de Rorschach e, no Brasil,
da Sociedade Rorschach de São Paulo.

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• Silveira iniciou seu aprendizado em 1927, em Nova York, com David Levy, um dos introdutores
deste método nos EUA. Passou a estudar e aplicar sistematicamente o teste, desenvolvendo um
sistema próprio de classificação e interpretação, o qual publica em 1943.
• Fundamenta seus estudos na teoria positivista de Augusto Comte (Positivismo: filosofia que
fornece elementos para compreensão e análise de fenômenos psicológicos normais, patológicos,
evolutivos e de integração do indivíduo na sociedade. Baseia-se essencialmente na consideração
do homem como ser social e, portanto, na sua interação dinâmica com o ambiente permitindo, ao
mesmo tempo, a correlação entre fenômenos psíquicos e o seu substrato anatômico), enquanto
teoria de personalidade para fornecer as diretrizes na elaboração de dados do psicodiagnóstico.
• Silveira conceitua personalidade como o “conjunto de funções subjetivas agrupadas
fundamentalmente em três setores: afetividade, conação e inteligência. Estas funções psíquicas
resultam do funcionamento cerebral, são peculiares à espécie humana e continuamente regem em
harmonia as disposições do indivíduo e as suas relações com o ambiente físico e social”.

• Binet e Henri (1895): prova de imaginação.


• Dearborn, Kierpatrick e Sharp (1898-1910): psicólogos americanos, usaram experimentalmente
a primeira série de manchas de tinta.
• Whipple (1910): usou outra série de 20 manchas para examinar diferenças individuais.
• Rybakoff (1910): psicólogo russo, publica atlas com oito manchas avaliando imaginação:
intensidade, precisão, riqueza e realidade.
• Bartlett (1916): psicólogo inglês, começou a trabalhar com manchas coloridas.
• Porém, aparentemente, Rorschach não parece ter entrado em contato com nenhum destes
trabalhos anteriores.
• Rorschach se preocupou com aspectos como: seleção da figura como um todo ou em partes,
influência do uso de cores nas respostas às pranchas e a utilidade do teste para o diagnóstico
de psicoses.
• Assim, Hermann Rorschach estabeleceu seu teste a partir do fato de que a visão é o sentido
mais aguçado no homem.
• O sentido da visão oferece de modo sintético e imediato o panorama do mundo externo.
• Através da visão pode-se encontrar ou buscar significados pessoais e da cultura nos cenários
do mundo.
• A percepção visual estimula atenção, memória, pensamento, emoção e linguagem, sem a qual
não se pode construir experiências e criar identidade subjetiva (processos superiores).
• Quanto menos padronizada e realista a situação, maior a mobilização dos recursos
subjetivos para interpretação.
• Ao olhar para os estímulos do Rorschach, mais do que projetar anseios e expectativas, o sujeito
constrói significados, uma realidade pautada em sua experiência cultural e em suas disposições
psicológicas, normais ou patológicas.

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• As manchas não são amorfas, pois não permitiria atribuição de significados. Possuem estruturas
específicas, porém abertas.
• Seus estímulos físicos correspondem ao material bruto do mundo captado pela visão. As suas
qualidades pictóricas facilitam associações de imagens:
✓ Simetria quase perfeita: percepção de seres vivos (simetria perfeita: objetos físicos;
totalmente assimétrica: meros borrões).
✓ Proporção das áreas e distribuição no espaço em branco: distinção entre figura e fundo
✓ Recortes mais ou menos nítidos: isolamento de áreas, cuja pregnância formal se impõe à
atenção.
✓ Eixo central com definição variável: facilita a atribuição de significados.
✓ Diferentes cores e variações de tons: experiência visual de relevos, superfícies concretas,
transparência.
✓ Proporção entre as áreas da mesma mancha associada aos diferentes tons de
luminosidade: sugere profundidade, difusão no espaço ou tridimensionalidade, na qual
as áreas maiores são percebidas como planos mais próximos.
✓ Ângulos entre suas linhas: percepção de movimento.

• Rorschach considerava a interpretação do teste como um ato perceptivo.


• Para Hermann Rorschach, percepção é:
• “Assimilação associativa de engramas disponíveis (imagens-recordações) a complexos de
sensações recentes
• “(...) a interpretação de formas fortuitas surge como uma percepção, na qual o trabalho de
assimilação entre o complexo de sensações e o engrama é tão grande que, por esta razão,
será percebido intrapsiquicamente como trabalho de assimilação.
• “Esta percepção intrapsíquica, da equivalente imperfeita entre o complexo de sensações e
o engrama, dá à percepção o caráter de interpretação”.
• Para Lucia Coelho, no processo de atribuição de uma resposta ao Rorschach, as propriedades
particulares da mancha são observadas através do movimento ocular e da seletividade da
atenção, o que ativa a memória afetiva.
• Este processo de definição do campo perceptual permite a associação de imagens alternativas
(hipóteses) e, com a reestruturação do percepto através de um trabalho de percepção, o sujeito
elabora um julgamento da imagem percebida.
• Contudo, este processo perceptivo é originado pela necessidade afetiva de sondar os indícios
para a orientação de uma atividade prática ou reflexiva, o que indica não apenas um ato
cognitivo, mas uma necessidade afetiva, o que leva o sujeito a projetar.

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• O Rorschach é um instrumento de investigação da personalidade relativamente pouco estruturado


que contém aspectos objetivos e subjetivos, constituindo uma tarefa cognitivo-perceptiva e
um estímulo à projeção.
• Estrutura de personalidade: estados da personalidade, com suas disposições mais
permanentes, que conduzem aos traços de personalidade, comuns à espécie:
✓ Estado: afetos e atitudes relativamente transitórios eliciados por circunstâncias situacionais.
✓ Traço: características e orientações bastante estáveis do indivíduo.
• Dinâmica da personalidade: interação dos estados e traços, dando uma característica
particular ao sujeito.

• Cada imagem ao Rorschach é analisada em função do modo com que processos psíquicos
dominantes deram origem a sua construção.
• No protocolo total, as relações específicas entre os fatores que representam cada resposta
permitem a elaboração de índices indicativos da natureza dinâmica dos sistemas psíquicos e
esferas (estrutura) de personalidade mobilizadas durante a prova.
• Na Escola de Silveira, analisamos separadamente os conjuntos monocromáticos e os coloridos,
uma vez que há mobilizações diversas de acordo com o tipo de estimulação que recebemos do
ambiente. Importante para verificar aparentes discrepâncias no modo de funcionar em situações
em que o apelo afetivo é apenas secundário e nas mais íntimas.
• Pranchas I, IV, V, VI e VII:
representam situações do sujeito diante de circunstâncias formais, de ordem mais impessoal,
quando a observação e o julgamento supõem discernimento e iniciativa.
• Pranchas II, III, VIII, IX e X:
frente a experiências que produzem impacto afetivo direto, revelam como o indivíduo as
enfrenta e expressa seus sentimentos e reações afetivas primárias.

• Aníbal Silveira (1985) - teoria sistêmico-cognitivista: modelo compreensivo para apresentar e


explicar o processo de construção das imagens, presente nas respostas aos cartões do
Rorschach.
• Estrutura de personalidade:
Constituída por um conjunto de funções subjetivas hierarquicamente organizadas, inatas e
coexistentes, ligadas ao funcionamento cerebral, o qual resulta da comunicação com o meio
externo e interno.
Estas funções regem continuamente e de modo harmônico as disposições genéticas do indivíduo
e as suas inter-relações com o ambiente físico e social.

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• As três esferas da personalidade:

• Básica / Móvel / Estimuladora


• Dependente dos demais setores para se expressar
• Dois grupos de funções psíquicas: instintos e sentimentos.
• Instintos: funções básicas que estimulam o contato com a realidade e ligam o indivíduo a si
próprio; mantêm a sobrevivência individual e da espécie e possuem um caráter regular e
quase mecânico, não orientado pelas funções intelectuais.
• Sentimentos: funções mais complexas pela natureza interpessoal; sempre estão a serviço da
sociabilidade, permitindo modificação, desenvolvimento e aperfeiçoamento do indivíduo para
relações interpessoais mais desenvolvidas e mais adequadas à integração no ambiente social
(com subordinação das funções afetivas básicas, quer seja, dos instintos).
• Emoção é diferente de Afeto, para Anibal Silveira: emoção é uma reação afetiva frente ao estímulo,
real ou idealizada; ela é intermediária entre afetividade e noção intelectual: noção intelectual
sobre a repercussão afetiva e sempre ocorre após Afetividade estimular Inteligência.
• Análise da Esfera Afetiva no Rorschach – Indicadores:
✓ Índice Af = grau de sensibilidade afetiva geral (básica/socializada)
✓ Índice Imp = grau de sensibilidade afetiva básica (impulsividade)
✓ Respostas de Cor (RC): expressão afetiva, levando em consideração o ambiente em grau
maior, menor ou nulo. FC,CF,C
✓ Esfera Extrínseca: relação entre esfera Afetiva e Intelectual. Respostas de Luminosidade (RL):
C’, L, l, l’.
✓ Eq e Eq’: tipo de vivência: intratensão/extratensão/coartação.
✓ Confronto da dinâmica emocional: (Ps+M):(L+C): latente e (m+m’):(l+l’+C’): manifesta.

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• Conatus (latim) = executo; isto é: realizo a partir da intenção, de um objetivo.


• Disposição subjetiva para a ação motora ou mental.
• No comportamento explícito observamos:
✓ Nível objetivo: influenciado pelos valores sociais, aprendizagem, habilidades de coordenação
e execução.
✓ Nível subjetivo: depende da estrutura básica da personalidade.
• Aspectos extrínsecos da Conação:
✓ Motivação afetiva (para decidir a agir) e
✓ Inteligência (funções para adaptação à realidade).
• Harmonia:
✓ Ocorre quando o estímulo e a inibição intervêm sob o ascendente da estabilidade.
✓ Assim, há continuidade da ação e a atividade não é mera agitação descoordenada e
incoerente.
• Três funções básicas:
✓ Iniciativa: permite iniciar o trabalho motor ou mental.
✓ Inibição: permite inibir a ação ou o trabalho mental ou inibir as demais esferas (afetividade -
intelectual) pelo refreamento dos impulsos inadequados.
✓ Manutenção: permite continuar o trabalho motor ou mental através da atenção.

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• No Método de Rorschach o estudo da Esfera Conativa é realizado pela análise minuciosa de:
✓ Respostas de Forma (RF): F+, F-, Fo
✓ Indicam o grau de maior ou menor objetividade na observação que o indivíduo faz da realidade.
✓ As respostas de Forma, de um modo geral indicam o quanto o indivíduo volta-se para o meio
para percebê-lo sem se envolver, ou seja, o quanto estabelece um contato mais impessoal
para compreender a realidade.

• Distingue o ser humano dos outros animais.


• Capacidade estabelecer nexos lógicos entre os dados do ambiente e a própria experiência. A
capacidade de simbolização abstrata é fundamental para integração à sociedade.
• Desenvolvimento e dinamismo das funções intelectuais resultam de processo neurofisiológico
comum à espécie; o resultado das atividades é influenciado pelas relações interpessoais e, a
partir destas experiências, o indivíduo é capaz de nortear as próprias ações e prever-lhes as
consequências.
• Comte: a sociabilidade de muitas espécies se torna estéril em decorrência apenas da
inferioridade mental. A inteligência torna-se indispensável para o desenvolvimento completo das
emoções sociais propriamente ditas.
• A adaptação ao meio envolve:

OBSERVAÇÃO OU CONTEMPLAÇÃO
Apreciação de eventos externos e assimilação de valores do meio

Concreta:
• Ligada ao mundo externo; revela o objeto real / completo.
• Imagens concretas (Fulano).

Abstrata:
• Observação mais diferenciada e ligada às propriedades do objeto (cor, forma, consistência);
apreensão dos fenômenos: observação analítica, abstraindo as propriedades.
• Imagens abstratas que se referem não a um objeto específico (Fulano), mas que adquire generalidade
suficiente para aplicação em uma variedade / tipos de seres (ser humano).

ELABORAÇÃO
Capacidade de reelaboração original e criativa dos dados (pensamento/ideia)

Indutiva:
• Através de relações estáticas, ocorre comparação que resulta em uma construção de princípios, ou
seja: generalização através da associação de imagens concretas (características sexuais).

Dedutiva:
• Através de relações dinâmicas por sucessão, coordeno diferentes aspectos obtidos através da
observação e extraio daí consequências.
• Sistematização através da análise dos aspectos quer constantes, quer variáveis, da imagem abstrata
(feliz).

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COMUNICAÇÃO OU EXPRESSÃO
Resultado das concepções e do estado subjetivo aos semelhantes (pensamento abstrato,
generalização e formulação de leis científicas)

Expressão mímica ou sinais executados:


• Expressão fisionômica: ligada à reação afetiva, traduz diretamente o comportamento vegetativo de
nossas emoções;
• Gesticulação: envolve amadurecimento das funções conativas; são comunicação quando são
significantes para o grupo.

Expressão verbal ou linguagem articulada:


• Comunicação mais diferenciada, com maior intervenção das funções conativas; primeiro palavra
relacionada à imagem primária (água) e, posteriormente, comunicação abstrata (eu estou com sede).

Expressão gráfica ou sinais traçados:


• Nível ainda maior de elaboração que permite interpretação mais geral e objetiva da realidade:
abstração dos dados do ambiente para formulação geral de leis relativas aos fenômenos (o mais
abstrato: ciências exatas).

• A Esfera Intelectual se apresenta como Intrínseca e Extrínseca ao sujeito, sendo:


✓ Esfera Intelectual Intrínseca: Respostas de Movimento (RM = M, m, m’): potencial
intelectual do examinando propriamente dito, que ele utiliza para resolver logicamente as
situações com as quais se depara.
✓ Esfera Intelectual Extrínseca: Respostas de Perspectiva (RPs = Ps, ps, ps’): uso do
potencial intelectual em relação ao meio.

• O arranjo das três esferas de personalidade indica como o sujeito interage consigo e como meio
circundante.
• Anibal Silveira as chamava de funções de ligação:

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• O que unifica a personalidade é o conjunto das funções afetivas e, principalmente, dos


sentimentos. Os instintos ligam o indivíduo a si próprio e devem se subordinar às funções da
sociabilidade para maturidade psicológica, que permitirá a inter-relação harmônica com o
ambiente.
• Instintos e sentimentos não são contraditórios, mas complementares e, assim, os dois se
manifestam no comportamento. Somente no adulto os instintos submetem-se aos sentimentos.
• As funções são expressas diferentemente de acordo com o nível maturacional do sujeito. O
desenvolvimento de formas de comportamento sofre influência do ambiente e as necessidades
subjetivas básicas dão origem a modos mais complexos de atividades.
• Correlação das funções subjetivas, posto que não são isoladas. Correlação não é absoluta
nem constante, mas está sujeita a variações internas e externas: equilíbrio psíquico dinâmico.
• Funções hierarquicamente mais elevadas: são as que presidem as relações interpessoais mais
desenvolvidas, mais adequadas à plena integração no ambiente social, com subordinação (e
não anulação) das funções afetivas básicas (sentimentos presidem afeto): amadurecimento.

• Traços de personalidade: arranjo dinâmico das funções psíquicas e das condições somáticas:
✓ Intelectual: capacidade mental
✓ Conação: maneira de agir
✓ Afeto: sentimentos predominantes na relação interpessoal (modalidade de caráter = afeto +
conação).
• Temperamento:
mistura dos diferentes traços de personalidade.
• Constituição individual:
✓ Biotipo: traços herdados.
✓ Temperamento: traços adquiridos; aspectos funcionais, psíquicos e fisiológicos.
• Indivíduo único: personalidade
biotipo
temperamento
constituição
• Comportamento:
✓ componentes somáticos
✓ elementos estruturais da personalidade
✓ interferência de valores culturais e sociais do ambiente (que define o que é próprio ou
impróprio)

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A aplicação da prova deve ser feita de modo consciencioso, pela complexidade do material e pela profundidade
esperada na análise. Assim, alguns cuidados devem ser tomados, para além daqueles esperados para qualquer
instrumento avaliativo.
• Deve respeitar as condições básicas de aplicação de uma prova psicológica, quanto ao ambiente
físico (sala despojada, tranquila e bem iluminada), estabelecimento de um “rapport”, privacidade etc.
• Recomenda-se que as aplicações sejam feitas durante o dia, sob luz natural, mas caso não seja possível,
que se disponha de boa iluminação, que não cause sombras ou altere a percepção de cores ou tonalidades
das manchas.
• Quanto à posição do examinador-examinando, recomenda-se que seja adequada às condições do
ambiente de aplicação, desde que possibilite ao examinador visão do examinando e de suas reações
corporais, bem como visão das pranchas e ainda, que o aplicador evite uma posição que acarrete maior
constrangimento por parte do examinando.
• Aplicação em duas sessões: nunca interromper a associação (pode-se iniciar o inquérito).
• Pranchas de Rorschach (organizadas em ordem de I a X), viradas sobre a mesa;
• 1 cronômetro;
• 2 folhas de localização;
• 2 canetas de cores diferentes (azul ou preta e vermelha);
• Folhas de aplicação ou folhas de resposta em branco;
• Este material deve ser organizado previamente pelo examinador.

• Duas fases obrigatórias:


✓ FASE DE ASSOCIAÇÃO
✓ FASE DE INQUÉRITO
• Uma fase acessória por condições especiais:
✓ REPASSAGEM
Esta deve ser aplicada EM SEGUIDA À FASE DE ASSOCIAÇÃO e ANTES DA FASE DE
INQUÉRITO (nesta última, em caso de repassagem, faremos inquérito da Associação e da
Repassagem juntas, prancha a prancha).
• Crianças e Idosos:
✓ Em função das características atencionais dessas fases da vida, a aplicação será feita com
associação e inquérito prancha a prancha.
Crianças: como o cérebro está em desenvolvimento, a concentração ainda não está plena.
Idosos: como norma, a concentração de idosos por longos períodos não é tão bem recrutada.
• Instruções:
Vou lhe mostrar algumas manchas de tinta e gostaria que você me dissesse o que você vê nelas, o que
essas manchas parecem para você. Não se preocupe em acertar ou errar, porque não existem respostas
certas ou erradas, as pessoas veem coisas completamente diferentes umas das outras e, portanto,
portanto não há certo nem errado; o importante é que você se sinta à vontade para falar tudo aquilo que
você vê nas manchas que vou lhe mostrar. As manchas podem ser vistas em qualquer posição e vou
anotar tudo o que você disser. Anotarei também o tempo, mas não se preocupe com o tempo pois é um
controle meu, você tem o tempo que achar necessário. Quando você terminar de ver, você me devolve a
prancha*.
* (...você coloca a prancha na mesa, virada para baixo)

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• Entregar a prancha
• Acionar o cronômetro
• Anotar a posição da prancha: ^ v < > @ (lembrar do “bonequinho” )
• Anotar expressões fisionômicas, expressão corporal, comentários e respostas - literalmente;
• Anotar o T.R.I. (tempo de reação inicial) para a primeira resposta da prancha (não parar o cronômetro);
• Anotar o T.T. (tempo total da prancha) quando o examinando devolve a prancha.
• Exemplo: PRANCHA I Tri = 18” TT = 60”
^ v > @ ^ Interessante... Vi duas coisas:
1) ^ Vi um morcego.
2) ^ Vi dois anjos juntos, nessa parte. Estendendo as mãos para os céus... esperando alguma coisa dos
céus; em busca de alguma coisa. Só.

TEMPO/RESPOSTAS POR PRANCHA:


• Tempo demasiadamente longo de posse da prancha: gentilmente, solicitar que passe para a prancha
seguinte. Isso pode ser feito quando o sujeito ficar de pose da prancha por volta de dez minutos (na prática,
cinco minutos são suficientes).
• Muitas respostas por prancha: quando o sujeito fornecer pelo menos dez respostas para a prancha (na
prática, cinco respostas são suficientes).
• Dizer: “Está ótimo. Podemos ver várias coisas na mancha, mas estas respostas já são suficientes.
Vamos ver a outra”.

TEMPO COM A PRANCHA:


• Muitas respostas por prancha, ou tempo demasiadamente longo de posse da prancha: gentilmente, solicitar
que passe para a prancha seguinte. Isso pode ser feito quando o sujeito der pelo menos dez respostas
(na prática, cinco respostas) na prancha ou fique de posse dela por volta de dez minutos (na prática, cinco
minutos).
• Caso o examinando não consiga "ver nada” em qualquer uma das pranchas ou em mais de uma delas,
passa-se para a prancha seguinte, sem insistir, pois houve uma INIBIÇÃO frente o estímulo (anotar na folha
de respostas).

ESTIMULAÇÃO
• Pode ocorrer de o sujeito, após a primeira resposta para a Pr. I, devolver a prancha, o aplicador deve
estimular mais respostas: "Você gostaria de tentar ver mais alguma coisa nessa mancha?”.
• Tal procedimento pode ser repetido até a Pr. III.
• Tem o objetivo de descartar a hipótese de que o examinando "imaginar” que era para “encontrar” um único
significado em cada mancha.

INIBIÇÃO
• Quando o examinando não consegue "ver nada” em qualquer uma ou em mais de uma das pranchas.
Passa-se para a prancha seguinte, sem insistir. Anotar na folha de respostas: “Inibição”.
Este é um dos critérios para REPASSAGEM.

REJEIÇÃO
• Quando o sujeito “não vê nada” também na Repassagem. Novamente não insistimos. Anotar na folha de
respostas: “Rejeição”.

ESTES MECANISMOS SERÃO INTERPRETADOS.

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• Reapresentação de todas as pranchas ao examinando (exceto aquelas que possivelmente ele tenha
rejeitado).
• Objetiva-se investigar as associações feitas, com o objetivo de compreender o processo de percepção
desenvolvido e a elaboração de cada resposta.
• Nesse momento da prova, não precisamos da utilização de cronômetro.

O INQUÉRITO SEMPRE SERÁ A ÚLTIMA FASE DE APLICAÇÃO DA PROVA DE RORSCHACH.

• Instruções:

"Vamos passar para uma nova etapa da prova. Agora eu vou mostrar-lhe novamente as manchas e vou
pedir que você me explique cada uma das imagens que você viu. Vou fazer algumas perguntas para que
eu possa entender como você foi construindo essas imagens em sua mente. Como que, através das
manchas, você foi tendo essas ideias que você disse".

• Devemos ter em mente três aspectos básicos a serem investigados, para posterior classificação das
respostas. Podem ser lembrados com as perguntas:
ONDE? MODALIDADE ELAB
QUAIS? DETERMINANTE(S)
O QUÊ? CONTEÚDO VULGAR

INQUÉRITO PARA MODALIDADES:


• Reapresentar a Prancha I e dizer:
• "Aqui você disse que viu um _______. Mostre-me, contornando com o dedo em volta da mancha,
onde você viu um ” _______.
• Essa é a pergunta mais eficaz para a correta classificação da Modalidade.
• Anotar na Folha de Localização a resposta do sujeito.
• Confirmar com o sujeito quando necessário.

INQUÉRITO PARA DETERMINANTES:


• FORMA: contorno das manchas;
• COR: sujeito leva em consideração as cores na resposta;
• MOVIMENTO: projeção de cinestesia na mancha, "sensação” do movimento da mancha;
• LUMINOSIDADE: diferenças de tons das manchas;
• PERSPECTIVA: projeção de profundidade, planos diferentes na mancha.
• Investigar adjetivos e outros.

INQUÉRITO PARA CONTEÚDOS:


• Clarear a resposta do sujeito, pois a comunicação pode não ter sido clara para compreensão da
observação e elaboração da imagem associada.
• Investigar respostas ambíguas (ex. monstro).
• Perguntar, caso não conheça o conteúdo verbalizado pelo sujeito. Inquirir sobre as propriedades do
conteúdo no que se refere ao formato e outras características que possam levantar alguma hipótese de
determinante.

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RESPOSTA ADICIONAL DE INQUÉRITO:


• Pode ocorrer de o sujeito, ao rever a prancha no momento do inquérito, associar uma nova resposta à
prancha.
• Nesse caso, efetuar o inquérito normalmente, de modo a efetuar a classificação correta.
• A classificação é anotada entre colchetes, pois não constituirá resposta para cálculo (exceto em
casos em que as adicionais de inquérito forem em quantidade exuberante, quando faremos duas fichas de
cálculo: uma com e outra sem as adicionais).

• Procedimento de reapresentação de uma ou mais pranchas ao examinando, a fim de propiciar uma


segunda oportunidade de associar frente ao(s) estímulo(s) apresentado(s), já associados ou não.
• A repassagem ocorre nestas condições:
baixa quantidade de associações (R < 15) ao teste,
protocolo com perseveração (resposta ou conteúdo), ou
inibição: quando o sujeito não conseguiu fornecer resposta a alguma prancha.

REPASSAGEM TOTAL: R < 15


“Vou lhe mostrar novamente as manchas, para que você as observe outra vez e, quem sabe, possa ver
outras coisas além daquelas que já viu”.
• Precisamos de quantidade suficiente de respostas para um tratamento estatístico fidedigno dos dados.
• Objetiva-se novas respostas às pranchas, respostas estas que serão somadas às iniciais e, assim,
possibilitar a interpretação dos dados à prova.
• Podem ser feitas duas fichas de cálculo: uma só com a associação e outra com associação mais
repassagem.
• 15 (quinze) respostas é o número mínimo aceitável para análise, já que baixa produção pode indicar
estados depressivos ou mesmo alterações orgânicas, por exemplo.
• Se o sujeito se mostrou pouco à vontade, retraído ou defendido frente à situação de testagem,
poderemos proceder à repassagem total das pranchas, ainda que sua produção esteja entre 15 e 20
respostas – ou outra quantidade qualquer, caso o aplicador considere favorável nova apresentação.

REPASSAGEM TOTAL: PERSEVERAÇÃO – DE RESPOSTA OU DE CONTEÚDO


“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as observe outra vez e, quem sabe, veja outras
coisas além de (resposta ou conteúdo perseverado)”.
• Repetição acentuada de mesma resposta (ex.: “carimbo”) ou de mesmo conteúdo (ex.: várias respostas
com conteúdo “sexo”, como: “ovário”, “útero”, “vagina”).
• O estado emocional ou cognitivo do sujeito pode estar alterado; a repassagem completa do teste pode
trazer novas informações.

REPASSAGEM TOTAL OU PARCIAL: INIBIÇÃO


• A inibição frente a uma ou mais pranchas de Rorschach pode decorrer de reação específica à
determinada prancha:
mobilização afetivo-emocional ou
dificuldade cognitiva.
• Estes processos requerem o procedimento de repassagem.

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INIBIÇÃO: REPASSAGEM TOTAL


“Vou lhe mostrar novamente as manchas para você as observe outra vez e, quem sabe, veja algo
naquelas que você não viu nada anteriormente, e outras coisas naquelas que já viu antes, caso queira”.
• Inibição de mais de três pranchas: A inibição de uma quantidade elevada de pranchas (ao menos 40%
do material apresentado, ou seja, 4 em 10 pranchas) requer o procedimento de repassagem total das
pranchas, posto não sabermos a qual fator – emocional ou cognitivo – se deve a inibição.
• Inibição frente às pranchas VIII, IX ou X: Caso o examinando não consiga associar frente ao último grupo
de pranchas apresentado, torna-se difícil uma reapresentação praticamente imediata dos estímulos.
Assim, deveremos proceder à repassagem total “com o propósito de se restabelecer o ritmo associativo
da série, o que irá facilitar a atenuação do bloqueio e a elaboração de respostas nos estímulos às pranchas
finais” (Coelho, 1980).

INIBIÇÃO: REPASSAGEM PARCIAL


“Vou lhe mostrar novamente a(s) mancha(s) em que você não viu nada e, quem sabe agora você vê algo
nela(s)”.
• Inibição frente às pranchas I a VII: Quando o examinando não consegue associar em até 3 (três) pranchas
– conquanto estas não estejam entre as de número VIII e X (pelos motivos citados anteriormente). Neste
caso, basta a simples reapresentação da(s) prancha(s) inibida(s), não sendo necessária a repassagem
total.

DALTONISMO / CEGUEIRA ÀS CORES


• Se, ao final do inquérito, o examinando não tiver dado nenhuma resposta de cor cromática, ou seja, não
tenha levado em conta nenhuma das cores (azul, verde, vermelho, amarelo, laranja, rosa e marrom) em
nenhum momento, podemos ter hipótese de daltonismo ou cegueira às cores.
• Nesse caso, ao final da aplicação, reapresentamos a prancha X e solicitamos que ele nomeie as cores.

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A criatividade de Hermann Rorschach foi além da investigação da personalidade através de material


ambíguo como manchas de tinta, mas também pelo fato de procurar mensurar os resultados obtidos. Por este
motivo, cria um sistema de notação das respostas, pela qual seria possível obter dados quantitativos e
estabelecer estimativas populacionais.
Segundo Silveira (1985): “não há separação nítida entre a tomada do protocolo, a apuração dos dados e
a interpretação do psicograma. Estes três aspectos pressupõem conhecimentos técnicos e preparo teórico,
sem os quais nenhuma das operações mencionadas seria exequível. Realmente, já no passo inicial, à medida
que anota as associações livres do probando, o examinador há de ter em mente todas as hipóteses que estas
vão sugerindo, quanto aos fatores psicológicos que possam estar em jogo”. Portanto, uma boa análise se inicia
com aplicação e classificação adequadas.
A cada resposta, podemos distinguir três elementos essenciais à todas as classificações: Modalidade,
Determinante e Conteúdo das respostas; algumas delas, ainda, poderão ser cotadas como uma resposta
Vulgar e podem receber um valor de Elaboração. Veremos como proceder para cada um destes itens de
classificação.

Cada imagem à prova de Rorschach é percebida em algum local na prancha: na mancha em si, global ou
parcialmente, ou nos espaços (também na sua totalidade ou em partes); pode, ainda, corresponder à
combinação entre mancha e espaço.
A modalidade (ou localização) da resposta corresponde ao “ONDE” o sujeito viu a resposta, ou seja, o
local no qual o sujeito observou algo que o fez atribuir um resultado. Averiguamos, assim, o processo de
definição do campo perceptual que expressa o modo particular de distribuição da atenção aos estímulos.
Pode-se aferir o modo de observação da realidade, sendo possível destacar processos usuais e inusuais
de reação e, por este motivo, as Modalidades são subdivididas em “Principais” e “Secundárias”, conforme
veremos a seguir:

Representam a maneira mais comum do indivíduo adulto organizar seu campo perceptual. Configurada
pelo grupo das modalidades principais codificado pelos fatores:
G P p

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• Neste tipo de resposta, a mancha é percebida como um todo, abrangendo o contorno externo
globalmente.
• Podem ser de dois tipos:

• GLOBAL IMEDIATA (Gi): • GLOBAL COMBINADA (Gc):


Resposta de apenas um percepto. Resposta de mais de um percepto.
Ex.: Pr I: Morcego. Ex.: Pr II: Duas pessoas batendo as mãos.

• Resposta em uma porção da mancha que é frequentemente selecionada pela população média.
• Não depende do tamanho da mancha.
• Exemplos:
Pr I (P1): Garras de caranguejo. Pr V (P10) Cabeça de jacaré. Pr IX (P11) Osso do quadril.

• Resposta em área de menor frequência em relação às outras modalidades principais. Não depende do
tamanho da mancha.
• Nem sempre consta no Atlas (Qualidade Formal).
• Exemplos:
Pr VI (p29) Praia Grande, em São Paulo. Pr I (p24) Sino. Pr II (p s/loc) Mancha de sangue.

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• Podem ser de dois tipos:


• Respostas que traduzem modos mais subjetivos de focalização da atenção:
GE E
• Respostas indicando distúrbios psíquicos graves, em que se constata um acentuado comprometimento da
observação da realidade:
p’ GP PG

• Resposta dada no espaço e não na mancha.


• Pode ser de qualquer tamanho ou frequência: sempre classificar E (maiúsculas).
• Exemplos:
Pr. VII v (E7) Um abajur. Pr II (E5) v Pião. Pr IX (E23) Olhos.

• Resposta que considera a mancha inteira MAIS o espaço (todo ou parte).


• Não importa se o enfoque central está na mancha ou no espaço, basta serem considerados integralmente.
Pr I: Borboleta preta com pintas brancas. Pr VII: v Cabeça do Napoleão Bonaparte.

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• Em algumas respostas, o sujeito não consegue integrar a mancha toda com algum espaço e, nesse
sentido, não é possível classificar GE. Nessas situações, lançamos mão de um tipo de classificação no
qual utilizamos parênteses.
• Resposta que considera a parte da mancha MAIS o espaço (todo ou parte).
• O pormenor pode ser P ou p.
• Notar qual a parte mais importante da imagem (mancha ou espaço) e qual completa a percepção
(mancha ou espaço):
✓ PORMENOR COM ESPAÇO:
Para correta classificação, devemos identificar se o pormenor é primário (P) ou secundário (p).
P(E) ou p(E)
Pr X: P1(Es/loc) Inseto com olho. Pr IX: > p26(Es/loc) Bota com botões.

✓ ESPAÇO COM PORMENOR:


Do mesmo modo, devemos identificar se o pormenor é primário (P) ou secundário (p).
E(P) ou E(p)
Pr X: E29(P3) Buda com flor na mão. Pr III: E23(ps/loc) Gavião com filhote de rato na boca.

• Respostas decorrentes de certa inibição do trabalho mental, levando o examinando a destacar apenas
uma parte de uma resposta considerada frequente (Vulgar) - como figura humana ou animal - porém,
não conseguindo perceber toda a imagem correspondente.
• Embora estas partes sejam pormenores primários ou secundários, devido a peculiariedade do
dinamismo psicológico ocorrido, são classificados como p’.
• Esta modalidade reflete um modo não habitual de trabalho mental, portanto, ocorre com pouca
frequência na população média.
• PORTANTO: só pA ou pH em V (mas perde a V na classificação).
• Exemplos: Pr.I: P2 ou P5 como asas. Pr.III: (P5) Pernas.

(borboleta e morcego em Gi é V)
(figura humana em P1 é V)

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• São respostas, resultantes da seleção de toda mancha (G), justificada como sendo uma parte de figura
humana ou animal, desde que tal associação não seja frequente na população média.
• Para sabermos se a associação é frequente ou não na população média, é necessário consultar a tabela
de Qualidade Formal. Caso a resposta não seja encontrada entre as respostas alistadas (em G), mesmo
quanto uma gestalt semelhante, será classificada como GP.
• Segundo Silveira, 1985... “Este tipo de resposta aponta seguramente para dinamismo anormal e por
isso raramente aparecerá em protocolos normais” (p. 139).
• Exemplos:
Pr.V: (G) Bigode. Pr.VII: (G) Chifres.

• São classificadas como PG, as respostas resultantes de uma generalização apressada feita pelo
examinando, levando-o a deduzir urna associação para a figura corno um todo, a partir da observação de
uma parte da mesma, um pormenor.
• Neste caso, quando inquerido, o examinando mostra a figura toda como sendo sua resposta, mas justifica
apenas a parte que reconheceu e desencadeou a “supergeneralização”, não conseguindo ver o todo.
• Exemplos:
Pr.IV: (G) Gigante. Pr.VI: (G) Um gato.
INQ.: Pés; somente pelos pés. INQ.: Pelos bigodes, só pode ser gato; não dá para ver
Não vejo mais nada dele. como ele está, mas é um gato, porque vejo os bigodes.

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Quando o sujeito elege uma área na busca de significados, a modalidade nos informa onde ele foca sua atenção
no ambiente. A interpretação da realidade dependerá dos aspectos que serão julgados como relevantes da
realidade.
Desse modo, os fatores que determinam a resposta são derivados das propriedades das manchas, no que se
refere às suas características estruturais, donde geram as séries de determinantes.
Como todo aspecto da prova, os determinantes nos informam como as esferas da personalidade são
mobilizadas na apreensão da realidade (vide tabela abaixo). Os níveis das categorias de conteúdo refletem a
participação da forma e, portanto, do amadurecimento da personalidade. Em adultos, espera-se que, para cada
série de determinantes, os de primeiro nível sejam maiores do que os do segundo e terceiro somados, ou seja,
1 > 2 + 3.

• Apenas o contorno da figura é levado em conta; nenhuma outra característica é considerada.


• É o determinante mais comum em um protocolo; apresenta faixa normal de variação entre 55% e 73% em
protocolos de adultos (aos 4 anos pode aparecer em no mínimo 45% das respostas).
• O inquérito é fundamental para constatar não haver outra característica presente.
• A resposta é classificada em F+, F- ou F°, conforme a frequência estatística da resposta dada; se a
resposta não é encontrada na tabela, consideraremos F°.
• Assim, temos:

RESPOSTAS F+:
Respostas mais frequentemente associadas a uma determinada área.
Ex.: Pr I (G): Borboleta.

RESPOSTAS F-:
Respostas menos frequentes em uma determinada área.
Ex.: Pr I (P1): Dentes.

RESPOSTAS F°:
Respostas que têm frequência tão rara que sequer puderam ser tratadas
estatisticamente. Ex.: Pr I (P9): Tesoura.

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CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAR A QUALIDADE FORMAL DAS RESPOSTAS DE FORMA


PASSO 1:
Consultar a Apostila de Qualidade Formal. Para cada prancha há uma folha de Pr I (G) Aranha = F-
localização demarcando as áreas associadas e uma lista de respostas frente à
elas, com indicação da qualidade formal da resposta de acordo com o ângulo
de posição da prancha na qual a resposta foi associada (uma vez que a mesma
pode variar, mudando, assim, a qualidade formal da resposta).
Se nada consta na tabela sobre a posição, esta foi vista em posição normal.
Localizando a resposta em si dada pelo sujeito na referida tabela, classificamos
conforme o encontrado: F+ ou F-. Exemplo: Pr I (G) Aranha = F-

PASSO 2:
Quando não encontramos a resposta específica do sujeito para a área associada,
devemos procurá-la, quando indicado, na(s) área(s) citada(s) à frente da
localização original do sujeito. Encontrando a resposta em uma área alternativa,
podemos classificá-la conforme a orientação da tabela, ou seja, como F+ ou F-.
Ex.: Pr IV (P6): Flórida.
Não consta esta resposta; assim, devemos ver também a área alternativa P8,
conforme consta na Qualidade Formal. Na área alternativa P8 encontramos:
Flórida = F-

PASSO 3:
Se, ainda assim, não conseguimos encontrar a resposta dada, devemos procurar
uma resposta que tenha uma gestalt semelhante.
Ex.: Pr V (P10): Cabeça de lagartixa.
Percepto não encontrado na área original e nem nas áreas alternativas (P1 e
p22). Procurar respostas que contenham uma gestalt semelhante: encontrada a
associação “cabeça de jacaré”, que preenche o critério de forma aproximada,
constando a classificação “F+”. Assim: Cabeça de lagartixa = F+

PASSO 4:
Ao final, se não encontrarmos a resposta do sujeito nos passos anteriores,
classificamos como F°. A classificação F° só deve ser atribuída para aquelas
respostas que não constam da Tabela de Localização, nem por aproximação.
Verificar a tendência do protocolo.
Ex.: Pr V (P9): Telefones.
Não encontrado, e nem na área alternativa P3 (P9 é constituído de ambos P3).
Não encontrada resposta com gestalt semelhante a telefone. Se a tendência do
protocolo: não obedece F+ : F- = 3 : 1.
Portanto: Telefones = Fº.

• Respostas em que as cores das manchas (vermelho, azul, verde, amarelo, rosa, laranja e marrom)
determinam ou colaboram na identificação da resposta, por meio da verbalização na associação de
respostas ou no inquérito.
• Os tons acromáticos (preto, branco e cinza) não entram na série cor e sim na série luminosidade.
• Para uma resposta ser classificada com determinante cor, não basta que o examinando apenas tenha
mencionando a cor para localizar o percepto, mas a cor deve estar integrada na definição da resposta.
• Dependendo do grau de participação da forma na determinação da resposta, classifica-se em:
FC, CF ou C.

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RESPOSTAS FC:
• Também chamadas de respostas forma-cor. A percepção da forma é precisa.
• Não importa a ordem que o examinando mencione a cor ou a forma: será FC desde que a forma seja
imprescindível para a construção do percepto.
Ex.: Pr. II (P2) "Rosto vermelho”. Ex.: Pr X (P2): "Canário amarelo, porque tem a cabeça,
INQ.: Rosto vermelho queimado de sol, tem a testa, o o bico e o corpo e é amarelo como canário mesmo”.
nariz e o queixo de perfil.

RESPOSTAS CF:
• Também chamadas de respostas cor-forma.
• Resposta determinada principalmente pela cor da mancha, considerando-se, secundariamente, a
forma.
• Normalmente a forma é difusa, ambígua, não sendo bem delimitada pelo examinando.

Ex: Pr II (P2) “Manchas de sangue. Ex.: Pr (IX) G: “Exposição de botânica, porque é bem
INQ: É vermelho como sangue e tem esse jeito colorido. Lembra um monte de flores, não sei quais são”.
quando cai no chão, meio escorrido”.

RESPOSTAS C:
• Também chamadas de respostas C-puro, em virtude da ausência da forma na construção da resposta.
• Total desconsideração pelo contorno da figura, atribuindo um significado à mancha exclusivamente por
sua cor.
Pr II (P3) "Sangue. INQ: Porque é vermelho, vermelho Pr X (G) “Alegria, euforia, carnaval.
me lembra sangue, só porque é vermelho mesmo”. INQ: Porque é colorido, daí é carnaval, só isso".

• Projeção de cinestesia nas figuras vistas. O movimento deve ser sentido e não apenas nomeado por
dedução pela forma.
• Essa “empatia cinestésica” é expressa, por vezes, na própria postura corporal do examinando. Em
muitos casos o examinando inicia o movimento descrito na resposta para exemplificá-lo, ou tem uma
nítida tensão muscular semelhante à descrita na sua associação.
• Há três tipos de classificações diferentes com relação às respostas de movimento:
– Movimento Humano: M
– Movimento Animal: m
– Movimento Subjetivo: m’

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• Classificamos, ainda (para M e m):


Qualidade Formal: Grau do movimento: Tipo de movimento:
– F+ – Grau 1: movimento agressivo – Extensor: voltado para o ambiente
– F- – Grau 2: movimento global do corpo – Flexor: volta para si
– Fº – Grau 3: movimento parcial – Misto: ambos
– Postural: postura que exige tensão

RESPOSTAS M:
• Forma humana em movimento, tipicamente de um ser humano, que tenha controle sobre esse movimento
(ex.: Mulheres dançando), ou de postura que envolva uma nítida tensão muscular (ex. Bailarina na ponta
dos pés). As figuras humanas podem ser reais ou fantásticas, mas devem estar inteiras: vistas em sua
totalidade (ex.: Um homem andando: cabeça, tronco e membros), ou depreendidas como inteiras (ex.: Um
nadador saindo debaixo de uma rocha).
Ex: Pr III Mulheres dançando. Ex.: Pr I (P4) Bailarina. Pr VII (P11) Um nadador.
INQ.: Parecem que estão arrebitando INQ.: Na ponta dos pés, INQ.: Saindo debaixo de uma rocha; por
o bumbum (gestos). com os braços erguidos (gestos). enquanto só aparece a cabeça e os
braços dele (gestos).

• Animais executando ações humanas, que não Ex.: Pr IV Uma formiga fazendo ginástica.
sejam passíveis de treinamento.

RESPOSTAS m:
• Animais em movimentos característicos do animal, ou que possa ter sido treinado para realizá-lo, desde
que o animal tenha controle sobre o movimento ou em postura que envolva nítida tensão muscular (ex.:
urso andando).
• As figuras animais podem ser reais ou fantásticas, mas devem estar inteiras: vistas em sua totalidade
(ex.: Monstro arrastando a cauda), ou depreendidas como inteiras (ex.: Um jacaré na lama).
Ex. Pr VIII Vejo um urso Ex. Pr IV Monstro arrastando a Ex.: Pr V Um jacaré na lama.
subindo uma montanha. cauda. Bicho feio! INQ.: Cabeça aqui, e o corpo está
Urso embaixo da água, lamacenta.

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RESPOSTAS m’:
• A classificação como m’ é chamada de movimento subjetivo pois o probando projeta sensações
cinestésicas que não se vinculam especificamente às formas percebidas.
• São intenções, referências à incapacidade de ação, ou à preparação subjetiva da execução
interpretada, são ainda atividades de elementos da natureza a agir sobre os seres ou os fenômenos
correspondentes.
• Dessa maneira, a evocação cinética pode aplicar-se indiferentemente a:

• Elementos inativos • Entidades abstratas • Seres “semoventes” quaisquer (H ou A).


(obj) (ab, nat) • Movimento contido, • Movimento sob
Pr II (E5): Nave espacial. Pr IV v (G): retido ou bloqueado força da natureza
INQ.: Decolando,
Movimento Uma árvore Pr. II (P6) Dois Pr III (P2): Um esquilo
subindo com impulso.
da energia balançando lutadores de sumô. caindo.
humana, com o vento INQ: Como eles têm INQ. Ele foi jogado com
em espiral. força igual, nenhum muita força no ar,
dos dois sai do lugar. talvez por algum
predador ou pelo vento.

• As séries Perspectiva e Luminosidade são as mais controversas entre as escolas de Rorschach,


principalmente pelo fato de que Hermann Rorschach teve pouco tempo para trabalhar com as diferenças
de tons que surgiram nas manchas após a impressão pela editora (e tendo ele falecido menos de um ano
após a publicação do material). Para alguns autores, a perspectiva é considerada uma resposta da série
de claro-escuro (luminosidade, na nossa acepção), mas, na Escola de Silveira, embora as diferenças de
claro-escuro possam indicar sensação de profundidade, mas o que determina a resposta é a projeção da
terceira dimensão e devem ser classificadas à parte.
• Para a classificação dessas respostas, devemos observar a projeção, por parte do examinando, de
profundidade, distância ou tridimensionalidade nas figuras.
• Nesta série de determinantes, o que permitirá distinguir Ps, ps ou ps’ será a participação da forma na
resposta dada.

RESPOSTAS Ps:

• Resposta construída a partir de planos diferentes de observação, associação à percepção de forma


precisa, bem delimitada.
• Exemplos:
Pr. I Uma mulher ao fundo, no meio de duas rochas. Pr. X - Vejo a Torre Eiffel, ao fundo de uma alameda,
INQ: (G) A mulher está aqui (P4), ao fundo, tem um jardim todo florido aqui na frente.
e aqui na frente estão as rochas (P2)”. INQ: Aqui é a Torre (P11) e aqui na frente o jardim.

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RESPOSTAS ps:
• Nestas respostas, a participação da forma é secundária, vaga, imprecisa, predomina a noção de planos
diferentes de percepção, tridimensionalidade no espaço.
• Exemplos:
Pr.VIII - Nuvens no céu. Pr. X - Explosão de fogos de artifício no céu.
INQ: (G) Como se fossem nuvens, parece quando olho INQ: (G) Estouraram vários fogos,
para o céu e vejo nuvens, é assim, elas lá no alto, só isso. ficaram lá no céu, bem bonito.

RESPOSTAS ps’
• A forma está completamente ausente, há Pr. VII Infinito.
apenas uma sensação subjetiva de INQ: (E7) Não sei porquê, mas esse vazio dá sensação
distância, profundidade, tridimensio- que é o infinito, profundo, sem fim, não gosto nem de olhar.
nalidade, sem associá-la a presença de uma
forma qualquer, mesmo que imprecisa.

• Na série de Respostas de Luminosidade (RL), o examinando:


• Considera as diferenças dos tons, os • Utiliza os tons acromáticos (branco, preto ou
contrastes de claro-escuro do interior das cinza) como elemento cor em sua resposta.
manchas. • Exemplo: Morcego Preto
• Exemplo: Boca e olho

RESPOSTAS C’
• Tons acromáticos (branco, preto ou cinza) usados como cor na resposta, porém com forma implícita
(definida ou vaga).
• Respostas “C’” são equivalentes às FC e CF em regiões cromáticas.
• Exemplos:
Pr. VII – Jarro de porcelana. Pr. II v - Uma flor.
INQ. (E7) Tem o formato direitinho de jarro e INQ. (E5) Não sei que flor é,
é de porcelana porque é branco. mas me lembrou uma flor branca.

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RESPOSTAS L
• São respostas construídas pelo contraste dos tons claro-escuro dentro das manchas, determinando um
percepto com forma precisa, bem delimitada, em regiões da mancha pouco selecionadas pela população;
logo, são regiões que não constarão no Mapa de Localização, e que apresenta a modalidade da resposta
sendo sempre um pormenor secundário (p) não mapeado.
• As respostas “L” poderão ser construídas em qualquer uma das 10 pranchas.
• O que caracteriza “L” é que as respostas se restringem à área interna das manchas, não considerando o
contorno delas.
• Exemplos:
Pr. IV Dois olhos Pr. I Um feto.
espreitando. INQ. (p s/loc dentro de
INQ: (E s/loc dentro de P4) P2) É igualzinho a um
São olhos compridos meio feto, a cabecinha dele,
para estranhos. os braços e pernas e
está encolhido.

RESPOSTAS l:
• São respostas construídas através da percepção dos contrastes de tons dentro das manchas, associadas
ao relevo e a textura.
Pr. IV - Pelos de animal. Pr. VIII Escamas de peixe.
INQ: (G) Pelos fofos, bem peludo (gestos nas mãos), INQ: (P2) Essas manchinhas aqui dentro,
nessas manchinhas aqui dentro (dedos na prancha). parecem escamas.

RESPOSTAS l’:
• O que caracteriza esse determinante é a completa ausência de forma.
• O examinando considera somente os tons acromáticos (branco, preto ou cinza) ignorando qualquer
participação da forma em sua resposta.
• Este determinante está associado a sensações subjetivas como: transparência, brilho, nojento, sujo,
feio, viscoso, leve, pesado, melado; ou os contrastes entre claro e escuro (luz e sombra), sãoi
interpretados como escuridão, claridade, sentimentos.
• Exemplos:

Pr. V Parece a morte. Pr.VII < Brilho, luz divina. Pr. VI - Um monte de sujeira.
INQ: (G) Essa cor preta, escuridão, INQ: (E7) É uma luz muito intensa, INQ: (G) Não sei o que é.
lembra morte, luto. brilhante, mágica, poderosa. É uma coisa gosmenta, viscosa.

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• Em algumas respostas, dois ou mais determinantes estão em jogo na construção de uma resposta. Esta
classificação nos permite usar um determinante como principal e outro como adicional (entre parênteses)
para cada resposta.
• Segundo Coelho (1980, p. 4), “Todos os especialistas na prova de Rorschach, desde o seu criador,
reconhecem a possibilidade de intervir em uma mesma resposta mais de um fator determinante. Apenas o
exame atento ao processo perceptual em causa permitirá a distinção de um dos fatores psicológicos como
sendo o determinante central da associação, enquanto o outro, embora igualmente mobilizado, exerce um
papel secundário”.
• Havendo mais de um determinante envolvido na • Quando um determinante surgir apenas no
associação do examinando, deve-se analisar Inquérito da resposta (desde que não seja uma
bem a resposta para verificarmos qual o nova resposta, e sim uma nova característica
determinante que tem a prioridade na sua apresentada, no inquérito, à resposta inicial, dada
construção da imagem. na fase de associação), será adicional.
• Exemplo: Pr. IV Um gorila peludo. • Exemplo: Pr. I Uma mulher.
INQ: (G) É um gorila direitinho, as pernas, os INQ: (P4) Uma mulher, tem os braços
braços, a cabeça e o corpo, ele é todo peludo para o alto, ela está dançando, parece
(mostra as manchas na figura). balé, está na ponta dos pés, dançando
com os braços para o alto assim
(gestos).
(Antes?) Não, só agora percebo que
está dançando.

P4 F+(M) H V
Gi F+ (l) A V

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• Refletem o tipo de interesse que o sujeito apresenta em relação ao ambiente.


• São analisados através da faixa de interesses.
• Há uma lista com as diversas categorias de conteúdos esperadas que se encontram na Apostila de
Qualidade Formal (Small & Beck, 2004).
• Os conteúdos: H (humano), pH (parte humana) A (animal) e pA (parte animal), devido sua importância na
interpretação, têm prioridade sobre os demais conteúdos.
– H/pH = figuras religiosas, fantásticas, extraterrenas, pinturas, esculturas, máscaras, etc., desde que a
gestalt básica seja a de figura humana (ou parte dela). Feto é an.
– A/pA = também têm prioridade sobre os demais, exceto quando estiver preparado para comer (al).
– sx = prevalece sobre os conteúdos H/pH ou A/pA.
• Amplidão dos conteúdos:
– H + pH + A + pA + an = 75% dos conteúdos afetivos; habituais
– Demais conteúdos = 25% distribuídos em 3 categorias:

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• Uma resposta é considerada como Vulgar quando faz parte do conjunto das respostas mais comuns
encontradas na população.
• Traduz, o senso comum do grupo.
• A frequência estabelecida por H. Rorschach foi de 1 : 3. Atualmente, adotada por Beck e pela maioria dos
autores, é a frequência de 1 : 6.
• Quando uma resposta é Vulgar, anotamos “V” na sua classificação.
• Para verificar quais são as respostas Vulgares, utilizamos a Tabela de Qualidade Formal, que apresenta
a lista destas respostas mais frequentes.

• Resumo das respostas vulgares:

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• Visa identificar o raciocínio intelectual de elaboração.


• Respostas globais (Gi/Gc): capacidade do indivíduo combinar, abstrair e generalizar o significado de
suas experiências.
• Mancha com espaço: o raciocínio será ainda mais complexo quando há integração das situações
(manchas), mas também do pano de fundo (espaço).
• Pormenor adjacente ou pormenor distante: integração da atenção em aspectos práticos (P) e/ou em
pormenores menos evidentes (p), integrados (dois ou mais).
• O índice de organização (Z) de Beck permite a avaliação objetiva desta capacidade intelectual.
• Beck atribui o valor Z apenas: “As respostas em que duas ou mais porções da figura são vistas
relacionadas entre si, e quando o significado percebido na combinação, ou em qualquer porção
componente, depender unicamente da própria organização do percepto” (Beck, 1960).
• Segundo Beck, o valor é atribuído apenas às respostas que forem determinadas, pelo menos em parte,
pela forma. Respostas vagas, mal articuladas ou baseadas em articulações arbitrárias ou delirantes
também não recebem valor Z.
• Portanto, o índice Z de Beck (designado pela escola brasileira como Elab), avalia o grau de elaboração
racional das experiências.
• Z2: índice criado pela Escola de Silveira para verificar os processos de elaboração das experiências
pautados em concepções irracionais ou demasiadamente subjetivas (como ocorre, por exemplo nos
protocolos de psicóticos). Os valores são computados à parte e indicamos o resultado como Z2.
• A análise qualitativa do Z2 é indispensável para verificar essas experiências subjetivas dando um tônus
especial ao recrutamento da capacidade intelectual.

• Valores de Elab para cada prancha:

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• A genialidade de Hermann Rorschach não reside apenas no método de investigação que criou, mas
também na forma de categorizar suas respostas para posterior quantificação dos dados.
• A maioria de seus cálculos reside na porcentagem de um fator ou índice.
• Outro método de investigação objetiva é a proporcionalidade entre dois ou mais aspectos da prova, os quais
podem fornecer um panorama mais profundo da personalidade.

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PERC – PROTOCOLO TOTAL

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PERC – PRANCHAS MONOCROMÁTICAS

PERC – PRANCHAS COLORIDAS

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CHOQUE À COR
SINAIS MAIS SIGNIFICATIVOS DE DISTÚRBIOS INCONSCIENTES 11
1) Rejeição total / parcial (inibição): II, III ou VIII 3
2) Desvios nas RF: %F+; %F+ por F arbitrário, vago ou dinâmico; %F- 2
3) Desvio no M: M=0, M→F; M<m+m’, M-; M em p; M em pH 2
4) Desvio nas RC: RC=0; FC=0 e formal: condensação cor; CF (vagas, deter.); F(C); C; nC 2
5) Desvios conteúdos: %V; %V (II, III, VIII) e (an, sx, sg, fg, al, ml) acarretando %A.
Não computar: %A por (H, rl, arq, art, ab, ci) 2
SINAIS DE ORDEM COGNITIVA, DECORRENTES DE DISTÚRBIOS AFETIVOS INCONSCIENTES 5
6) Mecanismos inusuais de reação (II, III e VIII) 1
7) Elab: Elab por Z2; Elab total ou Elab/R; Elab=0 em II, III ou VIII 1
8) Desvio tempo e produtividade: 1
TT ou T/R; Tri  1; associado à Rc < 16 ou à Af < 1,2
9) Restrição categorias:
categorias associado à estereotipia (%A ou pers.cont.1ário): ou categorias associado à <0,5 1
ou só 1 série de determinante
10) Desvio PERC: 1
G ou de sua forma (vagas ou sincréticas) e E ou ocorrência de PG, GP, p’
SOMATÓRIA TOTAL (considerar quando chC  8 pontos) 16

CHOQUE À LUMINOSIDADE
SINAIS MAIS SIGNIFICATIVOS DE DISTÚRBIOS INCONSCIENTES 11
1) Rejeição Total ou Parcial: IV, V e VII 3
2) Desvio RF: %F+(até 100%); %F+ (Color 75%) 2
3) Desvio M: M=0; M<Ps e M<m+m’; M<L e M<m+m’ 2
4) Desvios PERC: G; p’, PG ou GP 2
5) Desvio no conteúdo: %V (Color 16%); %V  34%; associado a %A  50%; pH > H ou H = 0 2
SINAIS DE ORDEM COGNITIVA, DECORRENTES DE DISTÚRBIOS AFETIVOS INCONSCIENTES 5
6) Subjetivismo: l´; m’2; ps’ só Mono; l’ > l + L ou C’; m’2 > m’ + m + M; ou ambos os desvios 1
7) Mecanismos inusuais de reação 1
8) Elab: pranchas IV, V e VII 1
9) Desvio tempo e produtividade: Inibição (T; T/R (Mono 25% Color); TRI1min [IV, V ou VII];
associado a Rm<12; Excitação: TT; T/R (Mono  20% Color); resposta imediata IV, V ou VII; 1
associado a Rm>26
10) Restrição das categorias: categorias associada a determinantes como em chC 1
SOMATÓRIA TOTAL (considerar quando chC  8 pontos) 16

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PIOTROWSKI
Nº Item Significado
1 R R < 15
2 T Tri > 1 minuto
3 M M1
4 NC nC  1 (dada como resposta satisfatória, sem necessidade de explicação)
5 %F+ %F+ < 70 (< 75, para Silveira)
6 Aut Resp.automática:frase estereotipada preenchimento; reação mecânica ante situação não familiar
7 Lib Lib.de resposta inadequada, por incapacidade de reprimi-la, apesar de reconhecê-la como tal
8 Ppl Insegurança quanto capaci// cognitiva; pede ajuda / esclareci/o; perguntam se resp.correta ou não
9 Rpt 3ou+ pr: simples reutilização de resp.adequada (demais: geralmente arbitrárias e mal definidas)
10 %V %V < 25 (certo grau de dificuldade de apreensão dos padrões pensamento do consensus social)
 5 ou +: desorganização mental / distúrbios mentais decorrentes de alterações orgânicas do SNC
 Piotrowski: sinais mais significativos: nC, Ppl, Aut.
 A.S.: valoriza também %F+. / L.C.: problemas emocionais (menos valorizável): T; M; %F+; %V

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A análise do Rorschach permite estabelecer um perfil da estrutura e dinâmica da personalidade, e


por este motivo é considerado um teste psicológico padrão-ouro de investigação da personalidade.
“Considerando a expressão dos diferentes processos psíquicos superiores na prova de Rorschach,
torna-se possível a correlação entre seus diferentes fatores e o modo como traduzem a atividade das
três esferas e das funções psíquicas que as compõem” (Coelho e Falcão, 2006).
Por este motivo, o profissional deve dedicar tempo e esforço na condução do processo interpretativo,
sendo o material seguinte apenas um esboço do que se pode analisar através do rico material do
teste.

Profa. Ms. Vanda C. Ramiro

A interpretação do método de Rorschach, segundo nossa acepção, baseada nos estudos de Aníbal
Silveira, procura compreender o indivíduo analisando o protocolo como um todo, sendo que cada
índice possui o seu valor Interpretativo em si, porém, deve ser relacionado e comparado com os
demais índices também encontrados.
Além da comparação de cada índice com os demais, deve-se comparar cada índice entre os dois
conjuntos de pranchas: Monocromáticas e Coloridas, na medida em que cada conjunto de prancha
revela o modo como o examinando lida com diferentes situações de vida.
Como já foi descrito, a Afetividade nos mobiliza durante toda a vida, em todos os momentos, sendo
a mola propulsora para a manutenção da vida e para a satisfação das necessidades relativas aos
instintos s e aos sentimentos.
Entretanto, existem situações em que somos mais mobilizados afetivamente, e outros momentos mais
neutros, nos quais prevalecem a tomada de decisão, a atuação mais prática, a predominância da
utilização da inteligência, sendo o apelo afetivo reduzido.
Através da análise dos índices encontrados nos dois conjuntos de pranchas pode-se verificar como
o examinando lida com diferentes situações de vida; o que faz diferir os dois jogos de pranchas é a
presença ou ausência da cor. A cor é entendida como um estímulo que toca os indivíduos e desse
modo, a maneira do examinando reagir frente as pranchas coloridas revelam seu modo de lidar com
as situações que o mobilizam no nível dos afetos e a ausência da cor pranchas monocromáticas nos
indicariam a maneira de o indivíduo reagir frente a situações onde a afetividade é menos intensa,
mais neutra. Portanto:
• Pranchas Monocromáticas: Os índices encontrados neste conjunto de pranchas revelam corno
o indivíduo reage a situações do cotidiano, momentos mais neutros, nas quais a solicitação é mais
prática, que exigem iniciativa e tomada de decisão. Tratam se de situações em que a mobilização
afetiva é menos intensa.

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• Pranchas Coloridas: Os índices aqui encontrados revelam como o examinando reage frente a
situações de maior apelo afetivo, seja no nível mais básico e instintivo ou mais socializado, dos
sentimentos. Caracterizam se por situações de relacionamento interpessoal mais íntimo, próximo
ou intenso.

Caso os resultados encontrados entre os dois conjuntos de pranchas sejam semelhantes, utilizam-se
os resultados do Protocolo Total para a interpretação, já que, nesse caso, o modo do examinando
lidar com diferentes situações é semelhante. Quando os resultados são divergentes entre as pranchas
monocromáticas e coloridas, a interpretação deverá ser específica a cada conjunto de pranchas, não
devendo ser utilizados os dados do Protocolo Total, na medida em que o examinando lida
diferentemente, dependendo da situação em que se encontra envolvido.
Dessa maneira, teremos como interpretação final, o resultado da corroboração do psicograma como
um todo, e na medida em que o instrumento se propõe a avaliar as características da personalidade
do examinando, verificaremos se o modo de ser e de reagir do indivíduo se diferencia em situações
diversas.
Para se chegar à interpretação, cujo objetivo é levantar um "perfil" o mais fiel e profundo possível de
personalidade do examinando, quer seja quanto os aspectos situacionais, como também os aspectos
estruturais, o relatório é dividido em três etapas:

• Tipo de Trabalho Mental  Aspectos cognitivos

• Feitio de Personalidade  Disposições conativas


Condições afetivo emocionais

• Síntese

➢ Sucessão: modo de observação: movimento ocular. Esperado: primeiro G, depois P e depois p.


➢ Três tipos básicos: estilo perceptual:
1º) Metódico: em sete ou mais pranchas, o sujeito observa na mesma sequência (seja ela qual
for).
2º) Regular: ocorrência da mesma sequência em menos de sete pranchas.
3º) Confuso: não há ordem, não há estilo.

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● Modo com que os processos cognitivos intervêm em cada indivíduo ao se defrontar com situações
novas, tal como elas são representadas na prova.
● Engloba o estilo pessoal de inteligência e de raciocínio, discriminados através das funções
cognitivas envolvidas na:
✓ Observação dos fatos (Perc),
✓ Elaboração de concepções (Elab, %F e Lambda), e
✓ Categorização / comunicação (conteúdos): permitem expressão de ideias, funções
necessárias para um correto entendimento das situações e para resolução de problemas.

• Também são analisadas:


✓ Capacidades produtiva e de planejamento (R, Tri, T/R), e
✓ Autonomia suficiente para realizar projetos (G : M).

Nº R: índice de responsividade frente aos estímulos do ambiente.


➢ R: baixa capacidadeprodução associativa, indicando pouca responsividade frente aos estímulos
externos. Pode indicar estado depressivo (quando RC rebaixado, RL rebaixado, Con rebaixado
etc).
Pode indicar também atitude de desconfiança frente ao teste, com medo de revelar-se (%F
elevada).
Pode ainda indicar reduzida capacidade imaginativa, bem como falta de motivação para o teste.
➢ R: maior responsividade frente aos estímulos do meio. Inteligência e criatividade acentuadas,
compulsividade, ou ainda valorização excessiva de quantidade como elemento principal.
Necessidade de referência externa.
➢ R Mono > R Color: frente ao estímulo afetivo, ocorre bloqueio.

T/R: ritmo do trabalho mental


➢ T/R: ritmo de trabalho mental mais lento.
➢ T/R: pensamento rápido, acentuado.
➢ OBS.: Devemos observar também o Tri: > 60”, suspeita de lesão cerebral, principalmente se nºR
e T/R. Uma Tri é um índice a favor da impulsividade.

Elab/R: capacidade de elaboração dos estímulos (Beck: Z e A.S.: Elab); capacidade intelectual de
elaboração; capacidade de estabelecer relações significativas entre os diferentes
estímulos/eventos da realidade / do ambiente.
➢ Quando não organiza o percepto (ex.: borrão de tinta): não Elab.
Quando organiza (ex.: obra de arte): Elab.

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➢ Z1: Elaboração racional: capacidade de elaboração adaptativa; forma bem definida; sujeito não
coloca tanto sua subjetividade. Ex.: dois bailarinos, morcego: geralmente RM ou RF.
➢ Z2: Elaboração irracional: capacidade de elaboração com concepções delirantes, fuga da
realidade; elaboração baseada nos conteúdos emocionais; sujeito que envolve os próprios
conflitos nas situações que vivencia; forma imprecisa, vaga (noite, mancha de tinta);
condensação (ligação delirante, irracional, de dois perceptos) – em neurótico e psicótico,
principalmente – ver se não é artista; esforço de integração determinado por juízo de valor (ex.:
mancha de sg / nv / manchas com diferentes cores): impressão imediata, subjetiva, afetiva.
➢ Elab: dificuldade em integrar as experiências; difícil aproveitar experiências para o
enriquecimento pessoal.
➢ Z1 + Z2: Calcular separado Z1 e Z2. Se Z1 for baixo, verificar se somado a Z2 atinge o valor
normal. Quando atinge, podemos dizer que:
➢ Embora tenha capacidade de relacionar, relaciona através de valores afetivos (tem
capacidade intelectual), mas não é racional. Irracional, arbitrário; o afetivo é utilizado para
dar o conceito (Z2).
➢ A capacidade é normal, mas a qualidade não. Influência da afetividade sobre o raciocínio
lógico.
➢ Às vezes ocorre em determinadas pranchas: é um mecanismo; é um dado para o choque,
mesmo indireto, porque a condensação está no Z2 e é um indício de choque.

Função intelectual de observação: Tipo de percepção

PERC: maneira peculiar pela qual o probando distribui sua atenção pelo ambiente, ou seja, sua
maneira particular de captar os dados das situações.
OBS.: Começar a interpretação pelo índice que estiver desviado; ver sempre o determinante que o
acompanha. Quando prevalecer p, por exemplo, no PERC, ver a qualidade de p e não de P; ver
também odeterminante que o acompanha.
G: capacidade de perceber e apreender o significado mais amplo das situações / as situações de
forma mais ampla, sendo capaz de realizar generalizações, extraindo das situações observadas
noções mais amplas e gerais. Capacidade de apreender o ambiente em sua totalidade, indicando
uma maior capacidade de planejamento (quando com G+, Gc e G/R=0,25).
➢ Gi: observação concreta; visão genérica e superficial, sem planejamento. Gi  F: formal,
impessoal.
➢ Gc: observação abstrata, com planejamento.
➢ G: excesso de generalização, levando o indivíduo a apreciar os estímulos do meio de modo
muito genérico e superficial.
➢ G: indica tendência ao devaneio, ou fuga dos problemas através do excesso de teorizações.
Pretensão de tudo explicar e planejar. Principalmente Gc: nível alto de planejamento / aspiração;
ambição de qualidade (quer explicar tudo para dominar os dados do ambiente).
➢ G: dificuldade em perceber e organizar as experiências de modo mais amplo. Dificuldade de
generalização e planejamento.

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G : R: planejamento : produção
➢ G: nível de aspiração maior; planeja mais do que produz.
➢ G: não planejamento.
G : M: capacidade de planejamento, de apreciar os aspectos mais amplos : autonomia.
➢ M ou M=0: ambiciona demais para a capacidade que tem.
➢ M e G: tem valores próprios, auto-afirmação, autonomia, decisão, mas não se realiza no
ambiente, não tem sucesso (ao lidar com o ambiente externo), porque não tem pretensão de tudo
explicar; não utiliza muito os recursos; não tem ambição; não usa para ação prática, usa para si
próprio. Comparar com Eq e Eq’.
P: capacidade de apreender/perceber os aspectos imediatos, práticos, óbvios ou mais evidentes das
situações, desejável para a atividade prática; denota observação e inteligência prática.
p: capacidade em captar as minúcias, aspectos insignificantes ou detalhes menos evidentes das
experiências e estímulos do meio, traduzindo um trabalho analítico e atitude de pesquisa.
➢ p com L: observa os aspectos pouco nítidos no ambiente (sentimento de ameaça).
➢ p: preocupação acentuada com os detalhes mais sutis do meio.
➢ p com F+: mecanismos obsessivos; preocupação com a realidade.
➢ p com F-: mecanismos compulsivos; impelido a ver as insignificâncias.
➢ p com M e G: por dificuldade em integrar, pode até ter empatia, mas não tem sucesso
social: mecanismo paranóico.

E: tendência à oposição, preocupação com os aspectos negativos das situações. Pode indicar
também preocupação com sua autonomia (seja para consegui-la, seja para protegê-la). Comum
em adolescentes.
➢ E com M ou em protocolo mais rico: preocupação com obstáculos par defesa de sua
autonomia.
➢ E em protocolo mais pobre: só vê obstáculos ou negativismo.
➢ E meio infantil (furo/buraco/mancha/coisas vagas): diferente de H, que já é maior criação de
imagens.
➢ E (Fonda): inversão gestáltica na percepção figura-fundo; mancha como recurso artístico, de
criação: “a mancha ressalta/realça o contorno disso”: reversão; conotação depende do
determinante que acompanha a resposta de espaço; tendência à oposição / antagonismo /
negativismo. David Levi: negação diretamente associada à necessidade de aprovação. E com
Eq Tipo C: obstinação.
➢ E com F+: vê com objetividade.
➢ E com F-: vê com negativismo.
➢ E com C’: prudência.
➢ E com M+: capacidade crítica, originalidade.

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GE: capacidade de planejamento e abstração, porém com uma preocupação acentuada em integrar
os aspectos negativos e positivos das situações, com conseqüente gasto excessivo de energia
mental nesta integração. O indivíduo percebe os aspectos negativos do meio, mas não se vê
obstruído por tais injunções negativas.
➢ GE: necessidade de justificar as próprias dificuldades e obstáculos.
P(E): esforço de integração; indício de dificuldade nos relacionamentos interpessoais.
E(P): predomina a visão do obstáculo, com mais dificuldade na integração.

p’: inibição do trabalho mental por: deficiência intrínseca da capacidade intelectual de abstração;
ansiedade ou depressão; deficiência conativa de manutenção do trabalho mental; preocupação
com questões internas.

PG: supergeneralização apressada, indicando uma ligação precária com a realidade, podendo ser
resultante de: desencadeamento imediato da ação; deficiência da observação abstrata
(valorização exagerada de um determinado aspecto); deficiência do juízo crítico.

GP: prevalência da observação concreta, deficiência da abstração. Comum em psicóticos e


esquizofrênicos, mas também é comum em cineastas, mas como descrição criativa.

OBS.: Espera-se que o índice PERC tenha a seguinte distribuição: G P p (considerada como
ideal). Sempre comentar no relatório, mesmo sua ausência. As modalidades secundárias não
são esperadas, devendo-se sempre analisá-las quando aparecerem no índice; não é preciso
mencionar sua ausência.

Grau de contato com a realidade


%F: grau de contato com a realidade, indicando a possibilidade de subordinar as pressões afetivas
internas às exigências da realidade, possibilidade de perceber o meio sem se envolver
subjetivamente com ele. Quanto se volta para o ambiente; quanto observa. Interesse para com
a realidade. Envolvimento.
➢ %F: contato superficial e pouco criador com a realidade, atitude de desconfiança ou medo de se
revelar. Subordinação excessiva aos estímulos externos; sujeito se retrai, não se coloca; contato
mais impessoal, mais formal.
➢ %F, com Gi, RC ou RL: rigidez.
➢ %F com Ps = 0 ou M = 0; M < m + m’: carência cognitiva.
➢ %F com F dinâmico, RC ou RC=0; RL: falta de crítica.
➢ %F: rigidez; carência de espontaneidade; receio de revelar-se ao meio; utilização de
estereótipos no contato.

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➢ %F: acentuada prevalência do mundo interno, dificuldade de integrar os instintos à realidade.


Indivíduo mais voltado para si. Pode indicar também desinteresse ou fuga do ambiente externo.
Tudo o que acontece tem um significado pessoal para o indivíduo; não fica como observador.
Prevalece, no contato com o meio, os dados subjetivos (mais voltado para o mundo interno).
➢ %F (menor que 20%): comprometimento grave; verificar qual mecanismo prevalece.

Adaptação à realidade externa

R.m.i.: como se volta para o ambiente. Indica o quanto o indivíduo encontra-se ou não adaptado ao
meio externo. Porém, para compreendermos a maneira pela qual se dá (ou não) esta adaptação,
é necessário analisarmos os diferentes índices que compõem o Rmi; processo de adaptação que
envolve as três esferas da personalidade: conativa (capacidade de estabilizar a atenção para
julgamento objetivo dos fatos: %F+); afetiva (ligação emocional com o meio: %A) e intelectual
(assimilação dos valores sociais: %V).
➢ R.m.i.: pseudoadaptação. Submissão e passividade frente às injunções da realidade, podendo
indicar preocupações excessivas com seus próprios problemas (quando todos os índices
estiverem elevados).
➢ R.m.i.: dificuldade de adaptação. Dificuldade em aceitar o meio e suas implicações e limitações,
o que leva a prejuízo na adaptação ao ambiente externo. Dificuldade em aceitar as contingências
que são impostas.
➢ R.m.i.: francamente desadaptado.

%F+: julgamento da realidade. Tipo de contato que o indivíduo estabelece com o ambiente,
capacidade de estabilizar a atenção e concentração, possibilitando a manutenção da ação ou do
trabalho mental, possibilitando efetuar julgamentos e noções objetivas e críticas dos fatos
externos. Objetividade.
➢ %F+: contato mais rígido, exigência de autodomínio / autocontrole imposta pelo próprio sujeito,
sacrificando sua capacidade de imaginação e espontaneidade. Podemos encontrar %F+ em
indivíduos que procuram dar respostas “certas”.
➢ %F+: indivíduos depressivos.
➢ %F+: contato eminentemente subjetivo. Dificuldade de manter a atenção e concentração.
Instabilidade conativa. Visão pessoal, subjetiva e mesmo distorcida da realidade.
➢ %F+: deficiência mental; esquizofrenia.
➢ 3F+ : 1F-: tendência obsessiva.
➢ 1F+ : 3F-: tendência compulsiva.

%A: tipo de contato emocional. Indica a ligação afetiva do probando com o meio, revelando o quanto
se envolve emocionalmente nas situações; repercussão emocional dos estímulos do meio.
Ligação afetiva mais socializadora.

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➢ %A: tensão emocional na ligação com o ambiente externo, na medida em que se envolve
intensamente e de modo afetivo com as situações. Indivíduos que buscam excessivamente aquilo
que é familiar como forma de segurança; apego a fantasias infantis. Indica também um
pensamento e envolvimento infantil,mais estereotipado. Imaturidade, infantilidade.
➢ %A (Mono e Color): é estilo emocional;
➢ %A (Mono) e %A (Color) ou vice versa: em determinadas situações fica ansioso;
➢ %A (Mono) e %A (Color): tensão emocional quando tem que tomar decisão.
➢ %A: imaturidade; estereotipia do pensamento (principalmente quando Mono e Color).
➢ %A: ligação emocional mais escassa com a realidade.
➢ com Af e Imp: pode indicar instabilidade emocional.
➢ %A: pode indicar grande desinteresse pelos estímulos do meio.
➢ %A e Imp: embotamento afetivo.

%V: uso das funções intelectuais no sentido de assimilação das normas e valores sociais.
Compreensão da lógica grupal.
➢ %V: conformidade excessiva aos valores e padrões convencionais, indicando pouca restrição
ao que lhe é imposto pelo meio social. Pode indicar forte necessidade de aprovação. Falta de
espontaneidade.
➢ %V: dificuldade em aceitar e assimilar as normas e padrões da coletividade. Dificuldade de
adesão aos conceitos convencionais; bloqueio das associações lógicas.

Conteúdos: o conteúdo nos fornece, por um lado, a orientação sobre os interesses espontâneos do
probando e, por outro, o grau de riqueza ou variedade de sua vida mental. A faixa de conteúdos
explícitos permite-nos conhecer a amplitude ou a variedade de interesses do probando em
relação am ambiente e que tanto poderá ser determinada pela curiosidade intelectual, como pela
motivação afetiva.
A fim de medirmos esta diversidade / amplitude de interesses pelos ambiente externo,
verificamos a percentagem de (A+pA+H+pH+an) que deve ser, no máximo, de 75%, sendo que
os outros 25% devem vir distribuídos em pelo menos outras três categorias diferentes de
conteúdos. Tal constatação nos indica que o probando é capaz de distribuir seu interesse pelos
diversos estímulos do ambiente de forma mais adequada.
➢ (A+pA+H+pH+an): demasiadamente preocupado com os estímulos mais afetivos e de ordem
mais pessoal, estando muito mais interessado e suscetível a tais estímulos que a outros
estímulos mais superficiais ou intelectuais do ambiente.
➢ (A+pA+H+pH+an): diversidade muito grande de conteúdos. Interesses se encontram de forma
muito dispersa no ambiente, podendo revelar uma atitude de fuga ou defesa dos relacionamentos
mais íntimos e afetivos.

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%H: traduz o grau de interesse do examinando pelos relacionamentos interpessoais, bem como em
apreciar o comportamento das pessoas, indicando interesse pelos outros.
➢ %H: indica interesse maior que a maioria das pessoas pelos relacionamentos interpessoais
podendo, ainda, denotar conflitos no relacionamento interpessoal, daí o examinando estar mais
voltado para este aspecto.
➢ %H: indica dificuldade nas relações interpessoais por desinteresse pelos outros e pelos
relacionamentos, possivelmente originado por conflitos em relacionamentos anteriores.
➢ %H=0: dificuldade em compreender o outro
➢ Quanto mais semelhantes forem os seres humanos percebidos com o próprio examinando (em
termos de sexo, raça, idade etc) indica maior auto-aceitação de suas próprias características, o
que pode implicar na possibilidade de estabelecer bons relacionamentos interpessoais.
➢ H grotesco, jocoso, estragado, deturpado: desvio de caráter
➢ H correlacionado: tendência de aproximação aos demais.
➢ Análise H e pH:
➢ H com M ou resp.dinâmica: auto-imagem. Ver também:
• H mais próximo (quanto mais próximo, mais se identifica – Piotrowski): atitude
afirmativa.
• H com Ps: necessidade de definir-se no ambiente.
• H com L: cautela em relação ao auto-julgamento
➢ H com F: como observa o outro.
• H (inteiro): interesse pelo comportamento humano.
• Seres vagos ou irreais: percebe o outro como distante.
• H com L: desconfiança, suspeita em relação ao outro. Principalmente quando com FC
= 0.
➢ H : pH: indica conflitos ou empobrecimento nos relacionamentos interpessoais, na medida em
que o sujeito revela dificuldade em apreciar o outro em sua totalidade, em sua complexidade,
relacionando-se com aspectos parciais e isolados das pessoas.
➢ pH em movimento: ou não integrou o valor (de M) na personalidade (ex.: cabeça balançando,
mão fazendo OK); ou é mais grave (ex.: mão que anda sozinha) porque dá idéia de animismo.
Não é o ser humano que controla, não é M por inferência, é m’ (inanimado). M é controlado por
todo o corpo e m’ é movimento bloqueado (ansiedade, sentimento de impotência).
➢ pH com olhos: preocupação com a intenção dos outros, sentindo-se observado, vigiado e
preocupado com a opinião alheia sendo que, quando este aspecto for muito elevado, sugere
tendência à paranóia.
➢ pH como máscaras, fantasias, disfarces: pode traduzir um desejo de simular, aparentar algo
que não é.

%an (acima de 25%): indica preocupações excessivas com seu próprio corpo ou suas condições
de saúde próprias ou de pessoas muito próximas. Pode até estar ligada a tendências
hipocondríacas. Também podem estar ligadas a tentativas do indivíduo de aparentar um nível
mais elevado de inteligência daquele que realmente possui. Deve-se verificar ainda se o
probando não está profissionalmente ligado à área médica.

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Comunicação não-verbal:
Comentários sobre mímica facial, postura, atitude.

DISPOSIÇÕES CONATIVAS

Con = %F+ - (100 - %F)


organização manutenção/inibição iniciativa → objetivo
da ação →seleção

Con: disposição subjetiva para a ação / agir frente ao meio; liberdade subjetiva do probando para agir
no meio externo, indicando capacidade de iniciativa (%F) e capacidade de manutenção da
ação ou do trabalho mental (%F+). Capacidade produtiva. Grau de energia vital, interna /
potencial energético. Produção motora e também mental). Expressão motora para mostrar afeto
e processar experiências de modo cognitivo. O núcleo da personalidade é afetivo. Capacidade
de manter-se perseverante em um objetivo. Harmonia da vontade (iniciativa - %F), com
capacidade de execução dos projetos (%F+).

➢ Esperado Con: interesse (%F) e objetividade (%F+). Harmonia da esfera conativa, ação
organizada no meio externo. Harmonia da vontade (iniciativa - %F), com capacidade de
execução dos projetos (%F+).
➢  ou Con: disfunção conativa: desorganização da ação. Desarmonia entre as funções de
manutenção, inibição e/ou iniciativa. Ação descoordenada, não consegue se manter
perseverante num propósito.
➢ Con: indivíduo com elevada disponibilidade de agir no meio externo; porém sua ação é mais
estereotipada, mais subordinada aos estímulos externos,seja por:
➢ %F+: atenção e concentração mais acentuadas.
➢ %F+: intensa rigidez e necessidade de autodomínio.
➢ %F: contato superficial, pouco criador no contato com o meio.
➢ %F+ e %F: falta de autonomia.
➢ Observar:
➢ Sujeito age em função da solicitação do ambiente. Obsessivo.
➢ Se integra através da forma, da ação explícita, efetiva, no ambiente.

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➢ Con: subjetivismo excessivo desgastando a atividade prática. Pouca energia. Implica em


reduzida disposição para agir no meio e dificuldade em organizar as atividades práticas no meio,
por:
➢ %F+: instabilidade conativa, subjetividade (ou distorções) na análise dos fatos, tendo em
vista prejuízo na atenção e concentração.
➢ %F: contato precário com a realidade, reduzido interesse pelos estímulos externos,
tratando-se de indivíduo intensamente voltado para seus aspectos internos.

➢ Observar:
➢ Quais determinantes estão ?
➢ Sujeito só pensa e não age?
➢ É pelo afeto?
➢ Pode ser subordinação ao meio, ou recolhimento.
➢ Con: Conação negativa: total descoordenação subjetiva; muito mais grave; não tem
controle sobre a própria vontade, por uma alteração básica, estrutural, da conação.
➢ Astenia: é traço de personalidade, é estrutural.

%F e %F+
➢ %F+ e %F: tem objetividade, sabe que é inadequado mas, quando ouve isso do outro,
explode.

Lambda : traduz a existência e a utilização de recursos subjetivos na ação explícita. Quanto o


indivíduo mobiliza seus recursos internos / pessoais na ação. Recursos internos / potencial
intelectual / capacidade de troca afetiva: se se utiliza de, ou não.
➢ : indivíduo que utiliza plenamente seus recursos internos em seu contato com o meio, assim
como na ação prática, sugerindo indivíduo mais criativo.
➢ Verificar:
➢ Às custas de qual determinante?
➢ Vários determinantes: indivíduo com flexibilidade.
➢ RM e RPs: sujeito mobiliza recursos cognitivos.
➢ Ps: pode ser muito ansioso, muito competitivo.
➢ %F+ = 100: tem recursos, mas é muito rígido.
➢ : demonstra pobreza na utilização de recursos internos, assim como não utilização dos
recursos que possui, indivíduo que não utiliza seu potencial intelectual e afetivo-emocional.

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➢ %F e :
➢ %F e : subordinação ao meio externo, sem utilizar os recursos internos que possui.
➢ %F e : subordina-se, mas utiliza bem seus recursos; sujeito formal (executivos, por
exemplo).
➢ %F e : utiliza recursos e volta-se pouco para o ambiente (pode ser poeta, pesquisador).

Con e 
➢ Con e : até tem boa capacidade de coordenar os pensamentos, mas não mobiliza recursos
subjetivos para a ação.

Con e %F+: falta objetividade; não faz leitura crítica e objetiva; mais preocupado com ação.

CONDIÇÕES AFETIVO-EMOCIONAIS

ESFERA AFETIVA

Af (A.Silveira): suscetibilidade geral aos estímulos afetivos (tanto aos mais instintivos como os mais
socializados).
Af (Klopfer e Beck): suscetibilidade aos estímulos afetivos mais socializados (sentimentos).
➢ Af (Klopfer) = VIII + IX + X x 100
R
➢ Af (Beck) = VIII + IX + X
Σ I a VII
➢ Af: reduzida sensibilidade aos estímulos afetivos, traduzindo dificuldade do probando em reagir
às solicitações afetivas do ambiente, por indiferença ou insensibilidade afetiva. Bloqueio afetivo
(quando RC=0).
➢ Af: maior sensibilidade aos estímulos de ordem afetiva, traço a favor da sociabilidade.

Imp: sensibilidade aos estímulos afetivos mais básicos e primários (instintos – funções da
individualidade). Não fala se o sujeito é ou não é impulsivo.
➢ Imp: maior sensibilidade aos estímulos afetivos mais básicos e primários, indicando maior nível
de impulsividade.
➢ Pode ter conduta impulsiva: com %Con;  ou %F+(perda autocontrole).
➢ Impulso de sexualidade ou agressividade contida, mas dominando o ambiente (analisar bem
as pranchas II e III).

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➢ É preciso verificar outros índices que possam indicar o controle da impulsividade:


➢ M (M > m + m’): controle da impulsividade pela autonomia, autoconhecimento,
autocontrole.
➢ FC (FC > CF): expressões de afeto mais amadurecidas e controladas.
➢ %F+: juízo crítico mais rígido, controle consciente.
➢ %F: se isola das implicações do meio.
➢ Con: reduzida disponibilidade para agir.
➢ A: através da tensão emocional no contato com o meio.
➢ A: isolamento das implicações do meio.
➢ %V: submissão às normas e padrões sociais.
➢ Imp: Ver se não há rejeição nas pranchas do índice Imp.

RC: Expressão afetiva; como manifesta, reage afetivamente. Núcleo da personalidade (afetividade);
o que diferencia eu-outro; modo como expresso meus afetos; com controle motor ou não sobre
meus afetos. RC não provoca julgamento (como RF), mas reação; RC não é criativo (como RM).
➢ RC = 0: não indica necessariamente insensibilidade, indica dificuldade na expressão dos afetos.
Pode ser encontrado em indivíduos pedantes, rígidos, depressivos ou com fortes conflitos
afetivos.
➢ RC com l’: tendência suicida. ATENÇÃO!!
➢ RC+: o indivíduo procura, em suas reações afetivas, aproximar-se dos demais, desejando estar
com os outros e partilhar um relacionamento mais íntimo e intenso. Busca troca afetiva.
➢ RC-: as manifestações afetivas são no intuito de manter os outros afastados de si próprio. Ou
para usar o outro (por interesse, para manipular). Dificuldade afetiva: afasta os outros.

FC: modo mais amadurecido e adequado de reação afetiva. Capacidade de retardar a necessidade
de gratificação imediata da tensão afetiva, subordinando-a à realidade e demonstrando
capacidade de levar em conta o outro e o ambiente ao expressar seus afetos. Leva em conta a
estabilidade do ambiente e nele mostra seu afeto. Expressão afetiva subordinada a um dado de
realidade.
➢ FC: não é espontâneo, é muito controlado ao expressar seus afetos. Com CF e C muito
rebaixados, pode indicar necessidade de domínio, também encontrado em psicopatas. Mais
formal, mais controlado, excesso de zelo: portanto, retração afetiva.
➢ FC (se comparado com CF): indica falta de espontaneidade na reação afetiva / expressão mais
formal.

CF: menor subordinação ao mundo real, denotando reações afetivas mais egocêntricas, impulsivas
e instáveis. Sujeito mobiliza-se, mas consegue um certo controle, mesmo não levando muito em
consideração a forma (o ambiente). Vejo o que me interessa, o que me é vantagem, o que vai
me satisfazer.
➢ CF (se comparado com FC): labilidade afetiva, egocentrismo, impulsividade e irritabilidade.

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C: não leva em conta o dado de realidade, o ambiente; mais impulsivo (“bate e volta”); mobiliza-se
pela cor; reação explosiva. “Curto-circuito” afetivo. Liberação da carga afetiva de modo
excessivamente egocêntrico e impulsivo, sem qualquer consideração com o outro ou o meio.

Esperado: FC > CF + C
➢ FC > CF + C: extroversivo de verdade: mais bonachão; relacionamento mais aberto, mais amplo;
leva em conta o outro.
➢ CF > FC: criança birrenta; instável; só olha para si; mais imaturo.
➢ C > FC + CF: “vulcão”.

RC+: procura, em suas reações afetivas, aproximar-se dos demais, desejando estar com os outros e
partilhar um relacionamento mais íntimo e intenso.

RC-: as manifestações afetivas são no intuito de manter os outros afastados de si próprio, ou para
usar o outro (por interesse, para manipular).

nC: imaturidade significativa na expressão dos afetos. Não resiste à estimulação afetiva, porém não
consegue reagir adequadamente a ela. Deficiência de autocontrole. Intensa labilidade afetiva.
OBS.: É comum encontrar-se nC em crianças muito pequenas, sendo isto uma característica
absolutamente normal.

projC: encontrado em pessoas deprimidas. Expressa uma tentativa deliberada e consciente de sentir-
se sereno e aparentar felicidade e autocontrole, relacionado à dissimulação da depressão.
Tentativa de influenciar a si próprio.

F(C) como condensação de cor ou F(C) arbitrário (ex.: jacaré vermelho): dificuldade de integrar
os afetos às exigências da realidade. Índice a favor da compulsividade (sentiu que devia levar
em conta o afeto).

F(C) como negação de cor (ex.: coelho verde, se bem que não existe coelho verde): Índice a
favor da compulsividade. Desejo de sentir e manifestar afetos diferentes dos experienciados
atualmente, desejo de experiências afetivas mais genuínas e intensas.

chC: conflitos afetivos intrínsecos e profundos, gerando ansiedade inconsciente nas relações
afetivas. Indica a possibilidade de perda de controle intelectual numa determinada situação de
mobilização afetiva. Desorganização mais significativa e estrutural em termos da personalidade.
Frustração de ordem afetiva mais orgânica (que não consigo realizar); identidade somática. Não
consegue ter a compreensão dos conflitos, posto que são inconscientes.

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DINÂMICA EMOCIONAL
Emoção: enquanto a afetividade é um setor da personalidade, a emoção é um processo, envolvendo
principalmente as esferas intelectual e afetiva. Emoção é a repercussão afetiva de toda noção
intelectual (real ou idealizada), embora não seja necessariamente consciente. A emoção é
também, ao mesmo tempo, o estímulo e o resultado de todo trabalho mental. É o estímulo para
a elaboração contínua da realidade e a repercussão afetiva deste processo.
Motivação: processo afetivo-conativo.
Interesse: afeto estimula ação explícita e também a observação do mundo.
Afetividade: expressão de disposições psíquicas peculiares ao sujeito. É o modo que o indivíduo
valoriza as relações interpessoais (se aproxima ou se afasta do outro) – (liga do núcleo da
personalidade).

RL: dinâmica emocional – reações particulares da esfera afetiva frente às noções intelectuais.
➢ RL: pode indicar forte ansiedade.
➢ RL: pode indicar estado depressivo.
➢ ESPERADO: L + C’ > l + l’

L: sensibilidade em apreciar o ambiente e os outros; tato e cautela nas relações interpessoais,


resultante do processo intelectual de abstração e do trabalho mental de dedução (busca no
ambiente determinados sinais; ex.: detetive). Procura uma adaptação emocional à realidade de
forma mais flexível e criadora.
➢ L: ansiedade, desejo de aprovação e aceitação. Busca o que está na sua noção; quer tirar um
significado.
➢ L com chL: pode ser ansiedade.
➢ L com olhos: pode estar relacionado com ansiedade persecutória.

C’: processo emocional resultante de adaptação cultural e das experiências anteriormente vividas
pelo sujeito. Resultante de um trabalho mental indutivo e da observação concreta (concreto
porque aprendeu: ex.: morcego porque é preto). Aceitação emocional mais passiva do ambiente,
indivíduo voltado ao meio. Prudência. Sujeito precisa passar por certas situações para aprender
(significado próximo do FC - aprendido). Depende de uma noção.
➢ C’: pode indicar falta de flexibilidade e falta de criatividade. Paralisa porque é muito prudente.
Síndrome do gato escaldado. Deprimidos / PP.

l: maior participação da afetividade, maior preocupação com as sensações subjetivas. Reações


emocionais mais imaturas e subjetivas. Desenvolvimento da criança é a partir do tato; põe tudo na
boca também para conhecer a forma, informa sobre a estrutura do mundo; é uma noção que provoca
um intenso afeto. Ligado à necessidade de afeto, a uma certa sensualidade. Reação emocional mais
flexível (“algumas coisas que eu não sei o que é, mas tudo bem”). G l A V = experiência de algo
banal é muito afetiva.
➢ l: pode indicar insegurança emocional. Sensação subjetiva imatura; preocupação e não entende.

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l’: reações emocionais muito primárias, subjetivas, menor participação intelectual. Expressão
emocional mais primária; contato com ambiente, mais primário do que C puro. Primeiro nível de
percepção visual na criança é a luminosidade (subcortical), antes da cor (cortical). Tem impacto
afetivo muito grande; noção primária do mundo. Impressão de algo emocional, sem forma, dá
certo mal estar (neblina); diferente de transparência (radiografia).
➢ l’: sinal de ansiedade; angústia. Reage só afetivamente, em função da sua sobrevivência (L.C.)

chL: conflitos emocionais intrínsecos e inconscientes, ocasionando uma ansiedade intensa e difusa,
sem nexo. O indivíduo não consegue localizar os conflitos ou dar um sentido intelectual àquilo
que o incomoda (reações fóbicas, obsessivas, compulsivas etc). Mais estrutural.

ESFERA INTELECTUAL

Esfera Intelectual Intrínseca


RM: uso das funções intelectuais em relação ao mundo interno do indivíduo, ou seja, da construção
da identidade, autoconhecimento e autonomia, através faz funções intelectuais de observação e
elaboração. Auto-análise; como se vê, como analisa suas tendências. Cognição e realidade.

M: indicam que o sujeito possui um sistema de valores próprios, com maior autoconhecimento,
autonomia e aceitação de suas próprias características. Indicam também criatividade e interesse
pelos demais, muito ligada aos relacionamentos interpessoais. A base é a criação (valores, ações
invenções); ligado aos sentimentos.
➢ M: formalismo intelectual; esforço de adaptação às normas sociais.
➢ M (1 ou 2): expressa sua afirmação através do ato (Con) ou do domínio (RPs).
➢ M = 0: perturbação grave (deve ter ao menos 1, mesmo que M em A).
➢ →M: já é bom prognóstico, é esperança.
➢ M em A ou figura distorcida: Piotrowski: sujeito projeta tendências que considera como básicas
nas relações interpesssoais, só que não aceita nele mesmo (em A é pior do que em H; em A é
por imaturidade).
➢ M em G: sujeito mais criativo (não necessariamente autoafirmativo).
➢ M em P: sujeito autoafirmativo: age no ambiente segundo seu modo de ser.
➢ M em p: autonomia que não se efetiva (porque é em espaço de diminuto e a força de ação é
menor).
➢ M em p s/loc (M°): não integra os valores pessoais para ação eficiente; fica no imaginário.
➢ Comum em paranóico (e também M em figuras distorcidas e M-)
➢ M com Vulgar: sistema de valores próprios estabelecido pelo sujeito é fruto de concepções
adquiridas socialmente, estando mais relacionado a comportamento imitativo do que noções
intrinsecamente elaboradas. Autonomia ligada ao social; pauta-se muito no parâmetro externo.

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➢ Lúcia Coelho: criatividade, porque V é F+ e, assim, há integração dos valores que o


norteiam de acordo com a realidade. É criador na ação eficiente, mesmo usando os padrões
da coletividade. Nem todos os valores que o sujeito utiliza são pessoais (o padrão social
pode ser bem dele). Pega o que é banal, cotidiano e o transforma em obra de arte. Utiliza o
padrão com originalidade.
➢ Todos os M em V: possivelmente integrou todos os valores sociais como conduta habitual
dele.

➢ M em H próximo ao sujeito: semelhança quanto ao sexo, idade, aspectos físicos etc: maior
aceitação das características percebidas em si próprio.
➢ M em H distante ao sujeito: maior resistência em aceitar em si mesmo determinadas
características, tendendo a projetá-las nos outros.

➢ M+: o autoconhecimento, imaginação e criatividade do sujeito são integrados de forma objetiva à


realidade. Reação afirmativa diante das situações.
➢ M-: o indivíduo utiliza-se de sua capacidade criativa e imaginação para distorcer a realidade e não
para se adaptar a ela. Dessa forma, seu autoconhecimento é estabelecido em função de noções
distorcidas sobre si e sobre o meio onde está inserido. Não se integra ao social, à realidade.
➢ ESPERADO M+ : M- = 3 : 1. Grau de integração dos papéis, quanto é integrado ao grupo em que
vive.

➢ M grau 1: indivíduo com tendência ao comportamento mais agressivo, porém com noção
consciente de sua própria agressividade. Busca a auto-afirmação através da agressividade.
➢ M grau 2: maior autonomia e auto-aceitação dos valores próprios.
➢ M grau 3: disposição em conter suas próprias tendências.
➢ M extensor: maior assertividade, indivíduo mais ativo.
➢ M flexor: atitudes de maior passividade, condescendência e retraimento, indivíduo mais voltado
para si mesmo. Se todos forem flexores: mais introversivo (não necessariamente submisso); se
integra à sua maneira de ser.
➢ M ext e M fl: ter os dois é sinal de flexibilidade. (ou instabilidade?).

m: sujeito busca o autoconhecimento, porém através de noções mais fantasiosas, menos integradas
à realidade objetiva. Fantasias sobre si mesmo.
m: ainda não chegou a autonomia e tenta canalizar aspirações e necessidades afetivas ao nível
fantasioso.
➢ m+: fantasias mais objetivas, mais possíveis de serem realizadas.
➢ m-: fantasias mais subjetivas, mais distorcidas, com menos possibilidade de serem concretizadas.
➢ m grau 1: a agressividade é latente, sem controle.
➢ m extensor: fantasias mais assertivas.
➢ m flexor: fantasias mais passivas, indivíduo precisa mais da aprovação do outro.

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m’1 (movimento projetado em objetos ou forças abstratas): pode indicar uma maior subjetividade,
bem como uma inteligência superior.
➢ fase mais precoce do desenvolvimento humano; não distingue (mesa cai porque é mal-criada);
há uma intenção na natureza; movimento mágico; forças de fora que conseguem as coisas.
➢ capacidade de abstração elevada; capaz de devaneio, abstração; capacidade estética; mundo
imaginário criativo. Maior nível de abstração, quando em adulto, porque consegue projetar no
nível imaginário (simbólico).
➢ pode ser usado como metáfora (“um vulcão dentro de mim”)

m’2 (pessoas ou animais em movimentos impostos ou contidos): ligado ao pesadelo (neurose de


ansiedade); ex.: sujeito sonha que cai no espaço; não é responsável pela situação, é vítima; quer
ser alguém, mas não consegue.
➢ pode usar como defesa (“não sou eu”; “não tenho culpa”; “tenho dificuldade de controlar”): só
quando com Imp, CF ou C com condensação.
Exceção: m’ feito, teoricamente, por ser vivo, mas exige abstração pra ser identificado: m de
protozoário, de partículas atômicas: pela abstração, é m’ ci.

m’ bloqueado: conflito entre o desejo e o sentimento de impossibilidade de realizar este desejo.


Sentimento de impotência. O indivíduo pode desejar expressar-se mais assertivamente no meio,
porém percebe determinados limites na realidade que o impedem.
m’sob forças da natureza: maior passividade, sentimento de estar à mercê dos outros.

ESPERADO: M > m + m’.


➢ M < m + m’: indica imaturidade psicológica em termos da esfera intelectual intrínseca. No uso das
funções intelectuais destinadas a auto-observação e autoconhecimento, prevalecem noções mais
subjetivas e mais distantes da realidade objetiva.
➢ m > M: imaturidade não o torna autônomo, não é capaz de agir e criar no ambiente; tem
imaginação, mas é infantil.

Esfera Intelectual Extrínseca

RPs: uso das funções intelectuais (observação e elaboração) em relação ao meio externo, de forma
mais objetiva (Ps) ou subjetiva (ps).
➢ Ps: capacidade de comparação objetiva com os demais e de compreender os diferentes papéis
sociais. Capacidade de se colocar com relação ao ambiente, atitude crítica. Preocupação em
definir sua posição. É indutivo, tem muito de forma.
➢ Ps: racionalização; distanciamento / necessidade de domínio do ambiente.

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➢ Ps com M: sujeito inteligente; pessoa competitiva, com necessidade de dominar o ambiente


(porque precisa de autonomia para competir).
➢ Ps e M: necessidade de domínio sobre o meio.
➢ Ps sem M: racionalização;distanciamento intelectual.
➢ M < Ps: indivíduo demasiadamente preocupado com sua imagem perante o meio, mas não tem
autonomia e autoconhecimento suficiente para comparar-se com os demais.
➢ Ps < ps + ps’: Sentimento de inferioridade.

ps: sentimentos de insegurança com relação aos demais.

ps’: maior subjetividade ao comparar-se com os demais, indicando sentimento de ansiedade mais
intrínseca e profunda. Angústia.

Equilíbrio de forças subjetivas (Eq e Eq’): traduzem o tipo de vivência que o indivíduo estabelece
com a realidade, também denominado de temperamento. Expressa o modo específico de reagir
frente às experiências vividas. Refere-se à capacidade e o tipo de contato com o ambiente; traduz
a própria experiência como resultante do equilíbrio das forças da personalidade.
Eq: exame do modo peculiar do indivíduo experienciar a realidade a nível manifesto, consciente.
Características preponderantes a nível manifesto.
Eq’: nível latente, profundo consciente. Características latentes que podem vir a ser desenvolvidas
pelo sujeito.
➢ Comparação entre Eq e Eq’: harmonia ou não entre o modo de se relacionar a nível manifesto
(Eq) e suas tendências internas mais profundas (Eq’), ou seja, observação de há harmonia entre
o que o indivíduo exprime e o que lhe é latente, pois a falta de harmonia poderá indicar conflitos
subjetivos significativos.

Tipo M (M > RC) introversivo: indivíduo com maiores interesses na vida intrapsíquica do que nas
solicitações mais imediatas do ambiente, com inteligência criadora, crítica e original (reflexão,
autoconhecimento). Dificuldade em estabelecer relações afetivas mais amplas; relações
estreitas, embora menores em quantidade; os vínculos afetivos às vezes acham-se revestidos
de elaborações e concepções mais “intelectualizadas”.
➢ Verificar: tipo, grau e qualidade do M; se é acompanhado de V.

Tipo C (RC > M) extroversivo: predomínio das reações afetivas. Indivíduos expansivos, que
necessitam de aprovação e reconhecimento do ambiente externo, predominando inteligência
pratica, voltada à realidade. Indivíduos que fazem amizades com facilidade, porém muitas vezes,
instáveis e superficiais. Não sofre tanto as perdas porque não se envolve muito. Verificar:
➢ FC > CF + C: extroversivo de verdade: mais bonachão, relacionamento mais aberto, mais amplo;
leva em conta o outro.
➢ CF > FC: criança birrenta; instável; só olha para si; mais imaturo.
➢ C > FC + CF: “vulcão”.

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Tipo M e C (M  C, sendo 2 : 2 ou mais) ambigual dilatado: indivíduo que se interessa tanto pelos
relacionamentos humanos mais amplos e sociais, mas também, quando necessário, detém-se
nas reflexões mais íntimas e originais sobre a natureza dos próprios vínculos afetivos. Convive
com todas as situações de uma maneira inteira, respeita, é criativo; OU não se define, se
desgasta. Pode indicar também um sinal a favor do TAB.

Tipo F (M  C, sendo 0 : 0 ou 1 : 1 – até 1,5) coartado ou tendência a coartatividade: sujeito que


estabelece um contato superficial, restrito e pobre com a realidade; mais formal; mais impessoal.
Apego excessivo aos aspectos cotidianos, práticos e rotineiros da experiência. Desinteresse em
estabelecer vínculos afetivos ou criações intelectuais, ou ainda medo de se revelar. Pode indicar
também uma tendência depressiva; não se envolve muito.

OBSERVAÇÕES:
➢ Os tipos não devem ser considerados de forma absoluta; sempre se apresentam sob forma de
combinação, com o domínio de um ou de outro tipo. Eq e Eq’ podem ser bastante variáveis em
diferentes épocas de vida do indivíduo, também podendo ser situacional, dependendo do estado
de humor do indivíduo ou de conflitos momentâneos que esteja vivendo.
➢ Grupo RM e RC: indivíduos do grupo são muito diferentes (introversivos).
➢ Grupo RM e RC: indivíduos do grupo são muito parecidos (extroversivos).

Confronto entre as reações Intelectuais e Afetivo-Emocionais – Dinâmica Psíquica


(Ps + M) : (L + C)
(m + m’) : (l + l’ + C’)

Comparação entre as reações intelectuais, e reações e tendências afetivo-emocionais no


comportamento do indivíduo. Reflete também o tipo de adaptação, como o sujeito se comporta,
sua aparência, quais os recursos que usa para se adaptar à realidade. Nos permite avaliar a
harmonia psíquica existente ou não entre o trabalho intelectual e as reações afetivo-emocionais,
em termos do comportamento manifesto {(Ps + M) : (L + C)} ou latente {(m + m’) : (l + l’ + C’)}.
Nível latente: reações que pode ter em determinadas situações.

(Ps + M): predomínio das elaborações intelectuais / processos racionais.


➢ (Ps + M): uso da racionalização, indivíduo normalmente com aparência externa bastante séria.
➢ M: trabalho intelectual intrínseco, voltado à construção da autonomia individual; valores pessoais
de conduta. Vive as experiências e contribui com uma troca (põe algo de si): autoafirmação.
➢ Ps: trabalho intelectual extrínseco, derivado do estímulo externo, com utilização da cognição para
definir sua posição no ambiente (inteligência a serviço do ambiente).

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(L + C): predomínio das reações afetivas no comportamento explícito.


➢ L: extrínseco; integração afetiva através da ligação emocional mais adaptada, cautela,
sensibilidade.
L: ansiedade por tato e cautela excessivos; processo dedutivo.
➢ C: liberação dos impulsos, reações afetivas mais impulsivas e extremamente egocêntricas.
Reação imediata diante das necessidades afetivas primárias. Mede vitalidade predominante
(necessidade de sobrevivência). Processo indutivo.

(m + m’): concepções ligadas a fantasias imaturas.


➢ (m + m’): pode indicar processos neuróticos.
➢ m: fantasias infantis.
➢ m’: nexos primários.

(l + l’ + C’): reações emocionais mais subjetivas e imaturas.


➢ l: insegurança.
➢ l’: ansiedade.
➢ C’: adaptação emocional que, embora adequada, é mais primária e menos criadora que L.

SINAIS PSICODIAGNÓSTICOS

Choque Psicológico: comprometimento / dificuldade / existência de ansiedade profunda e não


consciente da personalidade.
➢ chC (choque afetivo): ansiedade periférica, menos aparente; sensação de desconforto
permeando os relacionamentos afetivos. Sujeito reage imediatamente ao processo afetivo
(afetividade o invade) e tem uma descarga afetiva violenta. Gera sentimento de frustração; sujeito
acaba por evitar os relacionamentos.
➢ chL (choque emocional): sensação de ansiedade mais direta, mais central, mais evidente, mais
facilmente observável. Ocorre nas situações mais neutras (envolvimento afetivo secundário). Ou
paralisa, ou tem reação mais descompensada. Desencadeia sensação de fracasso e culpa. É
mais comprometedor do que chC porque une cognição e afeto (emoção: compreensão intelectual
da afetividade; atribuição de significado cognitivo da experiência e reage afetivamente de maneira
desorganizada).
➢ chC + chL: desequilíbrio maior; alteração mais profunda; ansiedade permeia todas as relações /
esferas.
➢ A.Silveira: protocolos de sujeitos com comprometimento maior (traços neuróticos ou neuróticos).
➢ L.Coelho: em todos os sujeitos.

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Harrower
Traços psicógenos (neuróticos); é constitucional, mostra dificuldade consciente (adere ao
tratamento); pode ser revertido pelo processo psicoterapêutico, através de outros mecanismos
de controle.

Piotrowski
O problema do sujeito, seja ele qual for, está alterando o trabalho mental. Pode ter lesão cerebral ou
outros tipos de comprometimento: pode ser comprometimento / processo neurótico OU
tendência epiléptica (índices L.C.: “lien”; p; Con; R; CF – também com C puro); Imp, Af;
labilidade afetivo-emocional; condensação; perseveração; crítica à mancha; concretismo.
Traços que comprometem, mesmo que não causem convulsões.

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POVA DE RORSCHACH - APOSTILA BÁSICA Profª Maria Inês Falcão

Coelho, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de Rorschach, entrevistas e anamnese


heredológica em 102 examinandos. Editora Ática, São Paulo: 1975.
Coelho, L.M.S. Rorschach Clínico: Manual Básico (3ª ed. rev. e ampl.). Terceira Margem, São Paulo:
2007.
Coelho, L.M.S. & Falcão, M.I. Prova de Rorschach: diretrizes gerais na interpretação dos resultados.
Terceira Margem, São Paulo: 2006.
Martins. F.C. Noções de Interpretação de Rorschach. Sociedade Rorschach de São Paulo (apostila),
São Paulo: 1994.
Pellini, M.C.B.M. Rorschach: Apostila de Classificação. UNIP (apostila), São Paulo: 2006.
Pereira, A.M.T.B. Introdução ao Método de Rorschach. EPU, São Paulo: 1987.
Small, S. & Beck. Qualidade Formal. Tradução adaptada e atualizada - tabelas de localização e
frequência. São Paulo, Terceira Margem: 2004.
Silva, M.D.V. Rorschach: uma abordagem psicanalítica. São Paulo, EPU: 1987.
Silveira, A. Elaboração do Psicograma (2ª ed). EdBras, Campinas: 1985.
Sociedade Rorschach de São Paulo. Fórmulas e Intervalos de Variação População Brasileira Adulta
e Crianças. Sistema Aníbal Silveira (publicação interna). São Paulo: 2010.

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