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PERIGOSAS NACIONAIS

Através
do seu olhar

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Anne Aresso
© 2019 Anne Aresso
All rights reserve

O único jeito de se livrar de uma tentação é


ceder a ela.
Oscar Wilde

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A todas as leitoras
de Sem Pudor.

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NOTA DA ESCRITORA

A leitura do livro “Sem Pudor” é imprescindível


antes da leitura do livro “Através do Seu Olhar”.

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CAPÍTULO UM

− O que você pretende fazer após a formatura? –


Ele estava bêbado, eu estava bêbado. Meu primeiro
porre! Cara, meu primeiro porre! Voltávamos de
mais uma festa. Depois de uma semana de provas,
eu merecia. Agora era só encarar o último semestre,
depois formatura e liberdade.
− Eu quero ser livre, cara! – gritei tirando a mão
do volante do Porsche Cabriolet, presente de
aniversário dos meus pais, e que pela primeira vez
estava sendo usado para diversão e não para as
viagens enfadonhas à Mansão Stone, para passar
fins de semanas enfadonhos com conversas
enfadonhas. – Chega de ser uma marionete nas
mãos do meu pai – berrei a plenos pulmões. – Eu
quero ser livre! – completei bebendo mais um gole
da cerveja que equilibrava entre meus dedos
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enquanto dirigia.
− Livre!!! – Greg repetiu em pé ao meu lado, se
equilibrando no para-brisa do carro com uma mão
enquanto, na outra, a garrafa de cerveja era
sacudida freneticamente derramando o líquido
sobre a minha cabeça.
− Eu vou chegar para o senhor Stone, olhar em
seus olhos e gritar para que ele não perca uma
palavra: Eu fui um bom filho, fiz exatamente o que
o senhor queria, fiz a faculdade que o senhor
queria, fui o melhor aluno da turma, fui o orador da
classe e ganhei a porra da menção honrosa. Agora
pega esse maldito diploma e enfia no ... – Greg deu
uma gargalhada. – Porque eu vou viajar, cara. Vou
pra Índia, Nepal, Indonésia, Polinésia, sei lá. Vou
ser um andarilho. Vou viver no ócio. Vou me
transformar em qualquer coisa, menos em alguém
parecido com Edward Stone!
− Partiu Nepal! − o homem ruivo ao meu lado
soltou as duas mãos estendendo-as para cima −
Gregory Michels e Matthew Stone já traçaram suas
metas para o futuro!
− Um futuro brilhante que trará orgulho ao
Senhor Stone! – ironizei.
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− Ao ócio na Indonésia! – Greg completou.


− Ao ócio na Polinésia! − Bebemos o líquido
das garrafas em um único gole.

~§~

Não lembro como aconteceu... as luzes de um


farol me cegaram, o carro invadiu a pista contrária.
Os momentos que se seguiram foram de pânico e
desespero. Pisei nos freios, derrapando no asfalto,
ficamos atravessados na pista, por pouco Greg não
foi lançado para fora do carro, o outro veículo
bateu na minha lateral arrastando o Porsche por
alguns metros e nos fazendo girar. Fiquei tonto,
demorei a perceber o que havia acontecido.
Consegui sair do carro me arrastando, Gregory fez
o mesmo. Minha cabeça latejava, sentia gosto de
sangue na boca. Minha perna tinha um corte. Greg
sentou no meio fio, sua cabeça sangrava. Caminhei
até o outro veículo, o motorista estava desacordado,
tomei a sua pulsação...
~§~

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− Ele irá sobreviver. Pagaremos todos os gastos


com o hospital e as Empresas Stone oferecerá uma
quantia milionária à família para não processá-lo –
disse Gordon, advogado do meu pai, encarregado
de resolver aquele problema. Ele havia me buscado
no hospital, dirigiu em silêncio até a faculdade. Só
começou o sermão quando chegamos ao meu
quarto.
Sentou-se em uma cadeira, eu caminhei até a
janela e fingi prestar a atenção no grupo de
estudantes que caminhavam pelo gramado do
Campus. Minha cabeça ainda latejava, queria
dormir. Mas o velho estava disposto a cumprir a
árdua missão determinada pelo Senhor Edward
Stone.
– Você causou uma grande decepção ao seu pai,
Matthew. Espero que tenha aprendido a lição e
reveja as suas ações a partir de agora.
− Por que ele não veio pessoalmente passar o
sermão no filho? Está tão decepcionado que não
pode deixar de fechar um negócio lucrativo para
ver se eu estou vivo? Como ele pode se
decepcionar com alguém que não significa nada
para ele? Eu sofri um acidente e o velho nem para
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ver se eu estou bem? – esbravejei indignado.


Gordon me lançou um olhar de reprovação.
− Seu pai foi hospitalizado, Matthew Stone. Ele
sofreu um infarto quando soube do seu acidente. –
Senti o chão desaparecer, engoli em seco e
caminhei até o homem de terno e gravata. − As
informações chegaram desencontradas, ele pensou
que você era o motorista em coma.
− O quê? – Meu peito parecia que ia explodir.
Culpa, uma sensação horrível de culpa tomou conta
de mim. – Ele está bem? – minha voz falhou, tinha
medo da resposta. − Corre algum risco?
− O estado dele é grave, está na UTI – disse
com visível pesar. Para Gordon, Edward Stone não
era apenas um cliente, era um amigo de longa data.
− Sua mãe pediu que me acompanhe, assim que se
sentir melhor para fazer a viagem.
− Vamos imediatamente.

~§~

Ver o poderoso Stone ligado à aparelhos era


desesperador, o vidro nos separava, o médico o
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examinava, anotando dados em uma planilha.


Minha mãe acompanhava tudo ao lado dele, que
parecia dormir. Assim que recebi permissão, entrei.
Mamãe caminhou ao meu encontro.
− Como você está, querido? – perguntou
deixando as lágrimas descerem livremente pela sua
face. Ela era linda, aos quarenta e cinco anos
mantinha a beleza da juventude. Seus olhos azuis,
sempre cheios de vida, estavam embaçados pela
tristeza.
− Eu sou um idiota, mãe, um irresponsável –
falei aos soluços enquanto a envolvia em meus
braços. – Ele tem razão.
− Não diga isso. – Ela acariciou o meu cabelo.
− Eu quase matei o pai.
– Ele estava apresentando sinais há algum
tempo, mas era teimoso e não procurou um médico.
Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. – Nada
que ela dissesse iria acalmar a dor que me
sufocava. Eu sabia que a culpa era minha,
unicamente, minha.
Caminhei até a cama, não tinha coragem de
tocá-lo. O toque não fazia parte da nossa
convivência. Nunca tivemos um relacionamento
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normal de pai e filho, eu não fazia ideia de como


era um relacionamento assim. Edward Stone
gerenciava a família com a mesma mão firme que
gerenciava os negócios. Exigia disciplina,
comportamento exemplar e não admitia falhas,
essas eram punidas com severidade. Minhas notas
deveriam ser as mais altas da turma, meu
desempenho no esporte, o melhor. Só quando fui
para a faculdade me livrei da sua influência. A
distância que nos separou me deu uma amostra de
como a vida poderia ser diferente, mais alegre,
mais humana, menos rígida e cruel. Foi quando
comecei a planejar a minha independência, a ideia
de não me transformar em um Senhor Edward
Stone começou a criar corpo e com a proximidade
da formatura, ela pareceu mais e mais real. Em seis
meses eu seria um novo homem. Seria, não serei
mais. O preço que paguei por ousar sonhar, com
uma vida longe do meu pai, era caro demais. Ele
me amava, do seu jeito rude, mas me amava e esse
amor quase o matou. A minha irresponsabilidade
quase o matou.
− Eles estão esperando o seu quadro estabilizar
para realizar a cirurgia – a voz sussurrada e triste de
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minha mãe me fez dar as costas para ele e olhá-la


surpreso nos olhos.
− Cirurgia? – pensei que apenas medicamentos
o trariam de volta a uma vida normal.
− No coração, será de alto risco, mas não temos
escolha. Ou a cirurgia ou ... – ela começou a chorar.
Eu a abracei.
− Desculpa, mãe. Desculpa por todo o
sofrimento que causei a vocês. Eu os decepcionei.
− Não diga isso, Matthew – falou secando as
minhas lágrimas com a ponta do polegar. – Você
sempre foi um filho exemplar. Talvez se aprontasse
de vez em quando, seu pai não levaria tamanho
susto. Mas você é o filho perfeito, ele tem tanto
orgulho de você. – Aquilo só piorou o meu
sentimento de culpa. Ela não sabia dos meus
planos, os planos que os excluíam da minha vida.

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CAPÍTULO DOIS

− Oi... – levantei o olhar do cronograma de


aulas, estávamos no primeiro dia do último
semestre, e vi uma garota alta, cabelos castanhos
ondulados, olhos castanhos, a boca lindamente
desenhada com lábios rosados e carnudos. −
Lembra de mim? – Se eu fosse sincero responderia
que não, mas eu não fui.
− Claro, dá... – falei apontando o dedo, eu ia
dizer da aula de Direito Empresarial, mas ela era
muito jovem para estar no mesmo semestre que eu.
− Da festa, na casa do Clinton – ela completou,
impedindo a minha gafe. Claro, o Greg nos
apresentou. A garota gostosa que gostava das
mesmas coisas que eu, que curtia o mesmo tipo de
música, que torcia para o mesmo time e que eu
achei chata, entediante e perfeita demais. Era cedo
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para pensar em relacionamentos sérios e garotas


perfeitas eram para relacionamentos sérios, eu
queria curtir a vida. Queria, a conjugação do verbo
estava no tempo correto, pretérito imperfeito.
− Claro, como vai, Nicole?
− Nathalie – ela corrigiu, mas não pareceu se
importar com o meu engano. − Bem... – respondeu
tímida. Ela era realmente linda, não seria nenhum
esforço tê-la ao meu lado. – Você andou sumido.
− Pois é, tive alguns problemas – Não estava a
fim de continuar aquela conversa – Preciso ir para a
aula... – me despedi apontando para o corredor.
− Se precisar de alguma coisa ... – disse
baixando os olhos, sem jeito. – Qualquer coisa, eu
estou no quarto nove, da ala leste – disse sedutora.
− Ok.
− A gente se vê – murmurou, dando um
tchauzinho e caminhando para o lado oposto ao
meu. Ela usava uma calça preta e uma camisa
branca. Não se vestia como as garotas do Campus,
era sofisticada. Faltava seis meses para a formatura,
depois minha vida social seria praticamente nula,
talvez uma namorada fixa fosse, realmente, uma
boa ideia. Eu estava prestes a assumir a direção das
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empresas Stone e decidido a viver de forma prática,


fria e metodicamente ordenada. Olhei novamente
para a garota que sumia no corredor, elegante e
perfeita para ser a namorada de um homem bem
sucedido.

− Quem é ela? – Greg surgiu ao meu lado,


tínhamos a mesma disciplina.
− A garota que você me apresentou naquela
festa – respondi.
− Eu te apresentei umas dez garota pelo menos.
− Nicole, Nathalia, sei lá. A morena gostosa –
respondi.
− Aquela que você chamou de superficial. Uma
superficial gostosa.
− É – falei desinteressado.
− O que ela queria?
− Oferecer sua solidariedade – exagerei.
− E você aceitou?
− Não enche. – Entramos no auditório para
assistir uma palestra sobre Direitos Trabalhistas.
− Como tá o velho? – Gregory Michels indagou
enquanto sentávamos nas poltronas próximas à
saída. Uma prática que adquirimos nos últimos
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semestres quando fugíamos das aulas antes do


término para nos enfiarmos em barzinhos, pubs e
festas regadas a muita bebida.
− Vai ter alta amanhã – disse preocupado.
− E você começa quando na empresa?
− Semana que vem – respondi enquanto o
professor começava a sua fala no palco do
auditório, eu não prestava atenção. Uma ideia
começou a martelar na minha cabeça, trabalhar na
Stone, chefiar uma das maiores empresas do país
era algo assustador, eu iria precisar de alguém ao
meu lado.
− Meus pêsames, cara – Greg falou com
sinceridade. Estava realmente com pena de mim, do
meu futuro.
− Eu quero que você venha trabalhar comigo –
convidei num impulso. Não que eu não houvesse
pensado naquilo antes, mas a possibilidade do meu
pai rejeitar a minha indicação, me fez desistir.
Agora não podia mais voltar atrás. Tinha feito o
convite e em voz alta. Eu precisava de alguém da
minha confiança e Greg era a minha melhor aposta.
− Tá de brincadeira? – disse, visivelmente,
surpreso. − Eu topei ir para a Polinésia com você,
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não para a Stone.


− Eu preciso de alguém para ser meu braço
direito quando assumir a presidência e pensei em
contar com você – falei num tom de voz quase
inaudível.
− Você tá falando sério? – ele perguntou alto
demais. Um “Shhhh” coletivo veio de todos os
lados do auditório. Mas o professor continuou com
o seu monólogo tedioso, enquanto projetava uma
série de imagens que mostravam as terríveis
condições de trabalho na Europa do século XIX.
− Estou – disse olhando em seus olhos. – Você
aceita?
− Você trouxe as alianças? – debochou.
− Ah... vá para o inferno! – falei perdendo a
paciência.
− Aceito, cara! – ele respondeu estendendo a
mão para que selássemos o acordo.
− Obrigado – disse apertando a sua mão.
− Não precisa agradecer. Vai ser demais, Matt –
respondeu empolgado. − Seremos a dupla
dinâmica, tipo Batman e Robin, Alice e o
Chapeleiro, O Chapolin e a Polegarina.
− Shhhhhh...
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− Cala a boca!

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CAPÍTULO TRÊS

Ela usava um vestido discreto, caminhava pelo


meu quarto enquanto eu me vestia. Silenciosa,
solícita, se diferenciava das outras garotas da
Universidade, seu comportamento era exemplar,
tinha traquejo social e estava sempre linda.
Havíamos saído algumas vezes nas últimas
semanas, Nathalie parecia ler meus pensamentos,
fazia as minhas vontades, sem que eu exigisse por
isso. Conhecia meus gostos, chegava a ser serviçal.
A senhorita Rochester era a garota perfeita, a garota
que o meu pai aprovaria como nora.
O estágio em uma das filiais da Stone e a
conclusão do último semestre na Universidade, fez
com que o pouco tempo, que me restava livre, fosse
exclusivamente dedicado aos estudos e à
preparação para os exames finais. Nathalie se
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transformou em uma espécie de tutora. Aparecia


depois do período, escolhia aleatoriamente algumas
perguntas sobre o conteúdo da próxima prova, que
eu realizaria, e fazia a sabatina. Se eu me saísse
bem ou não, vinha a compensação: o sexo. Não era
nada arrebatador, porque ela não se entregava
totalmente, era contida nos gestos, nos sons. Seu
orgasmo, silencioso. Mas era bom, satisfatório, ela
sentia prazer e eu gozava entre suas pernas.
– Você está pronto?
− Só tenho que colocar o casaco – respondi
enquanto ela me ajudava a dar o nó na gravata. –
Meu pai te achou encantadora. – Ela sorriu
mostrando os lindos dentes brancos, perfeitamente
alinhados.
− Eu achei sua família adorável. – Nathalie
havia me acompanhado ao jantar de aniversário da
minha mãe, dois dias atrás. Uma festa íntima, na
mansão Stone, para poucos convidados, devido à
delicada condição de saúde do meu pai. Hoje, era
minha vez de retribuir a gentileza. Estávamos indo
a um jantar na casa dos seus pais, ia conhecer a
família Rochester. – Espero que você tenha a
mesma impressão com a minha.
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− Tenho certeza que a família, que criou a


fabulosa Nathalie Rochester, deve ser tão
encantadora quanto à Stone.
− Você diz isso porque ainda não conheceu a
minha irmã – comentou enquanto saíamos do
quarto em direção ao estacionamento, onde uma
Mercedes preta com chofer nos aguardava. Uma
exigência do Senhor Stone, um motorista
particular. Eu estava proibido de dirigir até a
formatura.
− O que tem a sua irmã? Você nunca falou dela
– comentei.
− Eu tenho vergonha – disse com um fio de voz.
− Vergonha? – perguntei curioso.
− Emma é a decepção dos meus pais. –
respondeu visivelmente incomodada em dar aquela
informação. −Tem um comportamento lamentável.
Por favor, não julgue a minha família por ela,
recebemos a mesma educação, mas por algum
motivo, minha irmã se perdeu. Tem amigos de
reputação questionável, vive bêbada e ... – ela
engasgou. Falava de cabeça baixa, eu segurei o seu
queixo e a fiz me encarar, lágrimas deslizavam de
seus olhos.
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− Nada mudará o que sinto por você – falei


antes de tomar os seus lábios em um beijo
carinhoso. Detestei a irmã de Nathalie antes de
conhecê-la, apenas pelo fato de fazer a minha
namorada sofrer.

~§~

A garota que vestia um shorts jeans rasgado,


bota tipo coturno, camiseta da banda Misfits,
invadiu a sala de jantar no momento que nos
sentávamos à mesa. Atrevida, petulante e ousada,
essa era Emma Rochester, diferente de Nathalie,
seus cabelos eram negros, pintava as unhas de preto
e a boca apresentava lábios roxos. Apesar de ser
dois anos mais jovem, era tão alta quanto a irmã.
Sua pele era branca, pálida e seus olhos, com
sombras que o demarcavam, eram profundos,
enigmáticos. Como podiam ser tão diferentes?
Nossos olhares se encontraram e por um breve
momento tive a impressão de vê-la corar. Por
educação me levantei para cumprimentá-la,
Nathalie fez o mesmo, apertando levemente o meu
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braço, senti sua insegurança. Edna Rochester, a


matriarca da família, encontrava-se sentada à
cabeceira da mesa, que estava, elegantemente,
preparada para receber os pratos para o jantar.
− Oi, Nathy – Emma cumprimentou a irmã com
um leve sorriso nos lábios, depois seus olhos
voltaram-se para mim. Eu a encarei, ela
definitivamente ruborizou, mas não desviou o
olhar. Aquilo era um desafio? A Senhorita Emma
Rochester estava medindo forças comigo?
− Emma, você não tinha algo melhor para
vestir? – o pai chamou a sua atenção e ela desviou
o olhar.
− Eu sempre me visto assim – respondeu
desafiadora.
− Querida, por favor! – a mãe pediu prevendo
uma discussão. Ela deu de ombros e voltou a
atenção novamente a minha pessoa.
− Não vai me apresentar o seu namorado, irmã?
– Quando se dirigia a Nathalie, Emma era doce.
Sua voz ficava suave, diferente do tom dispensado
ao pai.
− Matthew, essa é minha irmã Emma – Nathalie
disse a contragosto.
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− Olá, seja bem-vindo ao manicômio Rochester


– falou em tom de brincadeira. Ela se aproximou e
estendeu a mão, eu a toquei, sua pele era suave,
macia. Senti um leve tremor em seus dedos. Eu a
perturbei, não sabia como. Se era repulsa ou outra
coisa, mas Emma sentiu algo e não soube disfarçar,
puxou sua mão fugindo do meu toque.
− Comporte-se, menina! – a avó Rochester,
Edna, a repreendeu. A velha senhora, de cabelos
grisalhos, era de pouca fala. Mas era astuta e
observadora, só se pronunciava para impor os seus
desejos. Por isso, sua repreensão à neta, foi como
uma ordem ao filho, que tomasse alguma atitude
pelo comportamento inadequado da neta. A
mensagem foi captada pelo Senhor Rochester.
− Emma, retire-se. – A menina olhou para o pai,
desafiando-o.
− Por quê? – Ela fechou as mãos em punho. Por
algum motivo olhei para a minha mão, a mão que a
havia tocado. O que ela sentiu? Voltei a observá-la.
As semelhanças físicas com Nathalie eram
incríveis, mas a discussão que começou a seguir,
mostrou o quanto a irmã mais nova da minha
namorada era o seu oposto.
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− Troque essa roupa e retorne como uma


verdadeira Rochester – foi a avó que respondeu.
− Por acaso não sou digna de levar o nome
Rochester, vovó? – perguntou com deboche.
− Emma! – o pai gritou.
− Você é uma vergonha para essa família, veste-
se como uma vadiazinha. Não, menina, nem para
falsa Rochester você serve – a senhora destilou sua
ira.
− Pois se para ser uma Rochester tenho que me
comportar como uma mosca morta prefiro não ser –
a neta afrontou a avó.
− Emma! – foi Nathalie quem pronunciou o seu
nome, visivelmente, ofendida pelo comentário.
Emma olhou para a irmã, parecia arrependida, mas
não teve tempo de se desculpar.
– Saia daqui! – gritou o pai, apontando a porta.
− Será um prazer não participar do seu jantar
perfeito com a família perfeita!
− Suba já para o seu quarto! – o Senhor
Rochester pronunciou entredentes, seu rosto
apresentava uma cor vermelha.
− Eu vou para o inferno, mas não fico nem mais
um minuto nessa casa – suas palavras saíram
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pausadas, todo o seu ódio era direcionado ao


patriarca da família Rochester.
− Não se atreva! – Robert chegou a levantar a
mão para a filha. Mas se arrependeu. – Desapareça
daqui!
− Será um prazer! – debochou fazendo um
meneio com o braço e as pernas. Antes de sair me
olhou de soslaio.
− Desculpa! – Nathalie murmurou com lágrimas
nos olhos.
− Você não tem culpa, querida – falei
abraçando-a.

~§~

Ninguém tocou no jantar. Um silêncio


constrangedor nos acompanhava até que um
estrondo vindo da porta da frente chamou a nossa
atenção. Albert veio até à sala e olhou para o
senhor Rochester, que se levantou e caminhou até
ele.
− Vá! – a voz fraca do homem fez com que
minha atenção, que até então estavam em Nathalie,
se voltasse para ele. Sua debilidade era visível. Sua
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mão apertava o peito. Temi pelo pior.


− O senhor está bem? – perguntei me
aproximando.
− Vai passar. São apenas palpitações, essa
menina me tira do sério.
− Querido, sente-se! – Mary Anne pediu
pegando o braço do marido e levando-o para a sala
ao lado.
− Acho que devíamos levá-lo ao hospital –
comentei preocupado.
− Não exagere, rapaz – o homem contestou.
− Pai, não é exagero. – Nathalie se ajoelhou ao
seu lado e segurou a sua mão.
− Vou chamar o doutor Forbes – a mãe de
Nathalie disse caminhando em direção ao telefone.
A tranquilidade aparente da família dissipou-se
quando o médico ordenou que Robert Rochester
fosse hospitalizado para estabilizar o quadro de
hipertensão que apresentava. Passamos a noite no
hospital, pela manhã ela apareceu. Estava bêbada e
pediu para ver o pai, o que foi negado pela equipe
médica que o acompanhava. Emma não fez cena,
sentou-se em um poltrona longe da família. Mary
Anne que acompanhava o marido saiu do quarto e
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foi em direção a filha mais nova. Sentou-se ao seu


lado e a abraçou. Emma fez o mesmo, envolvendo
o pescoço da mãe e chorando convulsivamente.
Adormeceu com a cabeça deitada no colo de Mary
Anne, que acariciava seus longos cabelos negros.
Nathalie estava ao meu lado e olhava com
desaprovação a cena.
− Ela nunca mudará e a culpa é da mamãe que a
mima.
− A vida vai ensiná-la – Assim como me
ensinou, pensei.
− Eu estraguei tudo, não devia tê-lo apresentado
à minha família... – comentou chorosa. Eu olhei
para ela, secando uma lágrima que deslizava pela
sua face.
− Por quê?
− Você agora vai querer se afastar – outras
lágrimas acompanharam a primeira. – Eu entendo...
−Eu jamais faria isso, Nathalie. – disse
abraçando-a. – Eu não me afastaria de você por
algo tão insignificante – completei procurando com
o olhar a culpada por todo aquele sofrimento.

Nada grave, foi o diagnóstico do médico, mas


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Robert Rochester teria que se afastar do trabalho e


dos problemas por um tempo. A família decidiu
viajar para a casa que tinha na praia de Saline.
Nathalie e eu voltamos para a faculdade naquele
mesmo dia. Estávamos no meio do semestre, aquele
incidente pareceu nos aproximar mais e a ideia de
um compromisso mais sério se tornava, a cada dia,
mais atraente.

~§~

− Matthew – olhei curioso em direção a voz


feminina, procurando a sua dona. Caminhava pelo
jardim dos Rochester, um lugar encantador. Eu não
a via desde o jantar, um mês atrás. Os pais a
haviam internado em uma clínica, mas pelo visto
não por muito tempo. Usava uma minissaia preta,
expondo suas coxas. A camiseta curta mostrava seu
umbigo. Pulsos repletos de pulseiras e dedos com
anéis de caveiras. Na boca o batom escuro e os
olhos, delineados de lápis, eram penetrantes.
− Emma – falei sem me aproximar, mantendo
minhas mãos nos bolsos da calça, não fiz menção
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de cumprimentá-la. A lembrança do seu toque


macio e da sua repulsa me soaram como um alerta.
Emma Rochester era uma presença perigosa, que
deveria ser evitada. Sua rebeldia era como uma
afronta a minha passividade em aceitar o meu
destino. Ela se aproximou, insegura.
− Eu quero me desculpar pelo outro dia – disse
me olhando nos olhos e mordendo o lábio inferior.
Por alguns segundos me perdi naquele gesto
involuntário.
− Você não deve desculpas a mim, mas a sua
família – falei com certa rispidez.
− Com eles, eu me entendo – ela respondeu no
mesmo tom. Seus olhos me fuzilaram.
− O que você tem na cabeça? O que pretende
com todo esse teatro? A garota rica revoltada?
Cresce menina, isso ... – apontei para as suas
roupas. – é ridículo.
− Ora, ora,... o Senhor Certinho mostrou a sua
cara. Eu devia ter imaginado, Nathalie só podia ter
arrumado um babaca como namorado.
− Se ser educado e responsável me torna um
babaca, então eu sou. – Ela sorriu irônica. – E você
é o quê? A palhaça da corte?
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− Eu sou o que eu bem entender. Sou o que eu


quiser, não estou presa a essas convenções
nauseantes que a sua “Sociedade educada e
responsável” – Seus dedos formaram os sinais de
aspas no ar, enquanto pronunciava aquelas palavras
− prega como verdade absoluta. – Senti um
impulso de humilhá-la com palavras de baixo
calão, mas me contive. Ela sorriu diante do meu
silêncio.
− Você é um caso perdido, garota. Será vítima
da sua arrogância. – pronunciei entredentes.
− Emm – um homem cheio de piercings, jaqueta
de couro e calça surrada, a chamou. Estava sobre
uma Harley estacionada no gramado dos jardins da
mansão. A quanto tempo ele estava ali? Não
lembrava de ouvir o barulho da moto.
− Já vou, Ed – disse voltando a me encarar. –
vou me divertir com os perdidos como eu, eles pelo
menos não são insonsos, mornos e entediantes
como você. São quentes, imprevisíveis e livres. –
Engoli em seco. Fechei minhas mãos em punho.
Ela me deu as costas e correu ao encontro do
homem de cabelos loiros, longo, preso em um rabo
de cavalo. Eles se beijaram e ela subiu na
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motocicleta. O barulho do motor chamou a atenção


de outros da casa. Albert foi o primeiro a aparecer,
seguido por Nathalie e Mary Anne.
− Emma estava aqui? – Mary Anne perguntou.
− Sim, ela acabou de sair – respondi.
− Ela devia estar na clínica. Prometeu que não
fugiria – falou desanimada. − Albert.
− Sim, senhora. – Mais uma vez o mordomo
saiu à procura da garota. Nathalie me olhava
apreensiva.
− Ela te importunou?
− Não – respondi. − Eu só queria te pedir uma
coisa...
− O quê? – sua voz foi quase um sussurro.
− Evite-a. Sua irmã não é uma boa companhia e
as pessoas com quem ela anda são de índole
questionável.
− Mas ela é a minha irmã – tentou explicar.
− Mas eu serei seu marido – falei por impulso.
Ela sorriu e pulou no meu pescoço – Eu não estarei
sempre ao seu lado para protegê-la. Não confio em
Emma.
− Eu farei o que você quiser, meu amor. O que
você quiser – Uma sessão de beijos cobriu o meu
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rosto.
~§~

A família Rochester era tradicional, sempre


estiveram presentes na alta sociedade, mas não
lembrava de encontrar Nathalie ou Emma nas festas
que frequentei ou de ouvir seus nomes
mencionados. Cruzar com Nathalie em uma festa
de alunos do último ano foi uma agradável
coincidência, não sei como ela conseguiu o convite,
já que era restrito aos veteranos, mas ela estava lá e
por algum motivo, me escolheu entre tantos. O
noivado foi marcado e o casamento teria que
esperar a formatura de minha noiva, que seria em
dois anos. Ela resmungou, mas foi uma exigência
da Família Rochester e concordamos.
Meus encontros com Emma eram raros e tensos.
Eu a evitava, as vezes ela fazia o mesmo, outras ela
tentava uma aproximação que nunca aconteceria.
Meus sentimentos por ela eram confusos,
controversos. Ela me fascinava por sua rebeldia,
sua liberdade. E me irritava pela sua
irresponsabilidade.

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CAPÍTULO QUATRO

Sobrevoávamos a cidade litorânea de Saline,


voávamos a baixa altitude e era possível ver com
detalhes a arquitetura peculiar da pequena
comunidade.
– Se está pensando em desistir, ainda dá tempo.
Falo para o piloto dar meia volta agora mesmo –
provocou Greg.
– Pensei que você estivesse dormindo e não
planejando uma fuga – respondi. Havíamos
conversado pouco durante a viagem, tínhamos
esgotado o nosso vocabulário numa cansativa
negociação de compra de uma famosa rede de
hotéis.
– Eu tenho um interesse especial em seu
casamento, Matt. Afinal, dentro de algumas horas,
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o solteiro mais cobiçado do planeta vai ficar


indisponível. E aí, meu amigo, finalmente terei
alguma chance com a mulherada.
– Você, mais que ninguém, sabe que eu vou me
casar com a mulher da minha vida. E que história é
essa de chance com a mulherada, não está saindo
com duas? Aliás, qual das duas vem para o
casamento? Lisa ou Jane?
– Nenhuma das duas, vou ver se arrumo uma
dama de honra bem gostosa para me fazer
companhia ou, com alguma sorte, uma ex sua para
consolar.
Esse era o Gregory Michels, o cara que eu
conhecia desde a adolescência. Meu parceiro de
estudos, de festas e agora dos negócios. Confiava
nele e por isso, quando assumi a presidência das
Empresas Stone, não tive dúvida em trazê-lo para
trabalhar comigo. Ninguém me conhecia melhor,
nem mesmo minha noiva. Sabíamos os segredos e
os defeitos um do outro e o seu maior defeito, a sua
maior fraqueza eram as mulheres, quando queria
uma, não media esforços para conquistá-la.
– Pode esquecer, Nathalie não convidaria
nenhuma ex e depois dela não tive mais ninguém,
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você sabe disso.


– Só estava brincando, cara! Eu sei que você é
fiel à Nathalie. E a sua escolha não poderia ter sido
melhor, ela é maravilhosa, vai ser a esposa ideal. É
educada, vem de uma família tradicional e é linda.
– Para com isso, Greg, parece minha mãe
falando. Eu a amo. E é só por isso que estou
casando e dando adeus a minha liberdade – falei
sem muita convicção.
A vista do imenso jardim decorado chamou a
minha atenção. Mesas com arranjos de rosas
brancas se espalhavam pelo gramado da mansão,
um caminho com pétalas, da mesma cor, levava até
a pequena capela, uma construção centenária
erguida pelos antepassados de Nathalie e onde,
hoje, seria realizada a cerimônia do nosso
casamento. Os poucos convidados seriam
recepcionados nos jardins. Era uma festa íntima,
cinquenta pessoas, entre amigos, parentes e alguns
empresários com os quais eu mantinha uma estreita
relação de negócios. O casamento estava sendo
programado há algum tempo, mas a morte
repentina da avó de Nathy, Edna, provocou uma
mudança de planos, ou cancelávamos tudo e
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adiávamos a festa ou faríamos uma recepção íntima


para poucos. Apesar de relutante, Nathalie
concordou com a festa íntima.

~§~

O helicóptero pousou numa área afastada da


casa principal. Um motorista com uma limusine
estava nos esperando para o traslado, apesar da
distância ser curta e poder facilmente ser feita
caminhando. Passamos por jardins bem cuidados e
prontos para a recepção. Empregados caminhando
para todos os lados, cuidando dos últimos detalhes.
– Cara, e a irmãzinha dela? Será que eu tenho
alguma chance?
– Emma? Você está louco? Aquela garota é
problema – respondi preocupado. Novamente
mulheres, será que Greg só pensava nisso?
– Problema ou não, ela é uma gatinha. Você já
viu aquela tatuagem no pescoço? Cara, que vontade
de morder aquele pescocinho.
A imagem de Greg, nos seus quase dois metros,
cabelos ruivos, sardento, praticamente um
personagem de Stephen King em Colheita Maldita,
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agarrando a minha cunhada, me deixou


incomodado. Assim como Nathalie, Emma tinha
uma aparência frágil, mas ao contrário da minha
noiva, tinha um temperamento explosivo.
– Você não inventa de se envolver com a
Emma, a garota já é maluca, você só vai complicar
ainda mais o cérebro dela – tentei convencê-lo.
Não duvidava das intenções de Greg, sabia do que
ele era capaz de fazer para ter a mulher que
desejava, isso já foi motivo de situações hilárias e
muitas gargalhadas, mas agora me preocupava,
porque a garota em questão era um problema
ambulante.
– Não se preocupe, não vou mexer com a sua
cunhadinha gostosa. Mas que aquele estilo rebelde
é uma tentação, isso você não pode negar?
Não respondi à provocação. Emma não era o
estilo de mulher que me atraía. Dois anos mais
jovem que Nathalie, não era feia, mas camiseta
preta, calça jeans e tênis estavam muito longe do
meu conceito de tentação.
Albert veio nos receber. Ele devia ter mais de
cinquenta anos, cabelos castanhos bem cortados
onde começavam a aparecer os primeiros grisalhos,
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não era mais alto que eu. Era o mordomo da família


há mais de vinte anos.
– Boa tarde, Senhor Stone e Senhor Michels.
Estou aqui para servi–los. A família Rochester e os
convidados estão na ala sul da casa, onde foi
disponibilizado um SPA para prepará-los para a
cerimônia, os senhores podem me acompanhar até
lá, se assim desejarem.
– Não, Albert. Eu só preciso de um bom banho.
Ainda tenho duas horas antes da cerimônia e
preciso relaxar um pouco. Vou subir para o meu
quarto. Mande um empregado trazer meu terno
dentro de uma hora, por favor.
– Sim, Senhor Stone. Providenciarei isso.
– Tem massagista, Albert? – Greg quis saber.
– Sim, Senhor Michels.
– Desculpa, amigo, mas depois daquela guerra
de nervos que enfrentamos para convencer aqueles
velhotes sovinas a nos vender a rede de Hotéis
Masterson, eu prefiro relaxar com uma bela mulher
me massageando.
– Você não tem jeito, cara.

~§~
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A água do chuveiro estava morna, relaxante.


Queria um pouco de paz e sossego antes da
cerimônia. Estava exausto, fechar um negócio no
dia do meu casamento não estava nos meus planos,
mas não pude adiar. Fazia algum tempo que eu
estava de olho naqueles hotéis e a possibilidade de
compra surgiu na última hora. Conseguimos baixar
o preço e fazer um ótimo negócio. Lucro certo, sem
riscos. Mas nem sempre era assim, às vezes era
preciso arriscar, analisar todas as possibilidades de
fracasso, quando essas eram pequenas, valia a pena
correr riscos. Não foi diferente quando resolvi casar
com Nathalie, analisei todas as possibilidades e as
de insucesso eram quase nulas. Nosso sexo era
bom, sem arroubos de paixão, sem desconfianças,
sem cenas de ciúmes, quente na medida certa.
Nunca brigávamos e Nathalie sempre acatava as
minhas vontades. Sabia o que queria, ela me queria,
queria esse casamento tanto quanto eu.
Uma batida insistente na porta do quarto me
obrigou a abandonar o chuveiro. Devia ser o
empregado com as minhas roupas. Enrolei uma
toalha na cintura e fui atender.
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~§~

Emma entrou sem ser convidada, usava um


vestido preto de renda, que de tão curto poderia ser
confundido com um baby doll, estava descalça, os
sapatos de salto pendurados nos dedos de sua mão
esquerda e na outra uma garrafa de whisky.
–Servido? – perguntou levantando a garrafa em
minha direção e em seguida virando o gargalo na
sua boca e bebendo um gole.
– O que você faz aqui, Emma? – questionei,
intrigado com a visita. O que a irmã mais nova da
minha noiva poderia querer comigo? Não tínhamos
nenhuma intimidade, desde que a conheci não a
considerei apropriada para as minhas relações
sociais. Quanto mais afastada essa maluca ficasse
de Nathalie e de mim, melhor. E hoje não era um
bom dia para mudar isso. – Você poderia se retirar,
preciso me vestir para o casamento! – ordenei,
abrindo a porta para ela sair.
– Eu? Acabei de chegar. Não está feliz em me
ver? Que novidade! – falou enrolando a língua,
bêbada.
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–Você não deveria estar aqui. Vou pedir para


um dos empregados chamar a sua mãe, me dá essa
garrafa! – Estendi a mão. Ela riu alto.
– Senhor Matthew Stone, o Senhor Certinho,
chato, arrogante e idiota do meu cunhado. Vim aqui
só para te parabenizar. Sempre consegue tudo o que
quer. Parabéns, por ter conseguido a minha irmã só
para você. Parabéns, por tê-la afastado de mim.
Parabéns, por tê-la convencido que eu sou uma
péssima companhia para a futura Senhora Stone.
Parabéns, parabéns, parabéns! – concluiu com um
sorriso irônico no rosto, sacudia a garrafa em minha
direção. Bebeu outro gole. Aquilo estava me
deixando irritado.
–Você está bêbada, me entrega a garrafa. –
disse. − Emma, eu não estou brincando! – gritei,
perdendo a paciência. Fui em sua direção, mas ela
foi mais rápida e escapou, correu pelo quarto,
rindo.
–Shhh... Eu não terminei. Eu te odeio, sabia.
Uma irmã te ama e a outra te odeia. Só queria
entender o que eu fiz para você? Eu sempre me
comportei na sua frente e o que eu recebi em troca?
Hein, seu babaca? O quê? Seu desprezo e por
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consequência o desprezo da minha irmã. Por sua


causa ela me evita. Eu te odeio por ter
transformado a minha vida num inferno.
Aproveitei um descuido e consegui tirar a
garrafa de suas mãos, o que a deixou mais furiosa e
a fez se jogar para cima de mim tentando pegá-la
de volta.
– Devolve! – gritou. Levantei a mão, que
segurava a garrafa, acima da minha cabeça,
deixando–a fora do seu alcance. – Eu disse para me
devolver a garrafa, agora! – Me empurrou e eu me
desequilibrei, caindo sentado na cama.
Emma subiu em cima de mim, ficando de
joelhos no colchão, colocou uma perna de cada
lado do meu corpo e se esticou para pegar a garrafa.
Eu a puxei com força para baixo e ela caiu sentada
no meu colo, de frente para mim. Nossos rostos
estavam próximos e eu a olhei nos olhos. Olhos
castanhos claros, quase verdes, a boca com lábios
grossos exalava o cheiro da bebida. Estava
tentadora, agora eu entendia o interesse de Greg.
Ela era realmente linda
Larguei a garrafa em cima da cama, fora do seu
alcance, e a segurei pela cintura. Ela não parava
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quieta, tentava pegar a bebida que estava atrás de


mim, seus seios roçavam no meu peito. Sua pele
era quente, seu toque macio. Só então me dei conta
que aquela situação toda havia me deixado excitado
e meu membro estava tendo uma ereção. Precisava
mandá-la embora, antes que eu fizesse uma
bobagem. E eu estava com muita vontade de fazer
bobagem com aquela garota no meu colo.
– Eu vou chamar Mary Anne para ajudar você.
Ok? – falei tentando afastá-la.
–Não! Mamãe vai fazer um escândalo. E eu não
preciso de ajuda. Estou ótima, só preciso do meu
whisky de volta. Por favor? Prometo que vou
embora e deixo você e Nathalie serem felizes para
sempre. – Ela fez um beicinho e me olhou com os
olhos para cima. Fiquei com vontade de rir e com
mais vontade ainda de morder aqueles lábios, mas a
situação não era para isso.
– Não. Você está fora de controle e bêbada. E
ainda me pergunta por que eu não quero você perto
da Nathalie? Você é instável, menina. Uma bomba
pronta para explodir. E quando isso acontecer o
estrago vai ser tão grande que nem você vai
aguentar as consequências – provoquei, irritando-a.
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Ela me fuzilou com os olhos, não havia sobrado


nada da menina meiga de antes.
– Você é um babaca! – Ela começou a dar socos
no meu peito eu a segurei pelos pulsos. – Me solta!
– gritou, começando a se debater, soltei–a de
repente e ela quase caiu para trás, voltei a segurá-la,
puxando–a de encontro ao meu corpo. Ela parou
ofegante. Seu cabelo caiu em mechas no rosto, a
boca entreaberta, o olhar selvagem, deliciosamente,
selvagem. Não resisti e a beijei.
Esperei uma bofetada, um empurrão, mas em
vez disso, Emma retribuiu o beijo com uma
voracidade que me tirou o fôlego. Nossas línguas
trocaram de boca, uma sensação que eu
desconhecia tomou conta do meu corpo, algo que
eu não conseguia controlar, que eu não queria
controlar. Desci as mãos até as suas coxas, senti sua
pele arrepiar, levantei o seu vestido, agarrei–a pela
bunda e a pressionei contra o meu membro duro.
Ela gemeu e jogou a cabeça para trás, me
oferecendo o seu pescoço.
– Meu Deus, como você é gostosa! – sussurrei.
Levei a mão até seus cabelos e inclinei sua cabeça
para o lado, eu sabia que ali havia uma pequena
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borboleta. Eu a beijei com carinho e depois cravei


os dentes e provei seu pescoço, mordendo sem
machucá-la. Ela gemia e mexia o quadril, me
provocando, pressionando o seu sexo contra o meu.
Encontrei o fecho do vestido e o abri, deixando as
suas costas nuas. Deslizei as alças pelos seus
ombros, elas caíram pelos braços, expondo dois
seios perfeitos. Eu a deitei na cama, tirei a toalha da
minha cintura e me inclinei ao lado dela. Minha
boca encontrou a pele branca e macia do seu seio e
eu o suguei. Minha mão desceu pelo seu ventre e
entrou na pequena calcinha de renda preta, meus
dedos deslizaram para dentro dela. Ela estava
quente e úmida.
Que loucura eu estava fazendo? Nunca me
deixei levar pelo desejo, sempre soube me
controlar, mas agora era mais forte, mais intenso,
mais saboroso. Minha língua lambia seus mamilos
enrijecidos, eu os mordia levemente e depois
chupava, abocanhando como se fosse devorá-los.
Ela correspondia, se arqueando para cima, me
oferecendo seu corpo, as pernas abertas facilitando
as investidas dos meus dedos.
– Matt – ela me chamou, abandonei seu seio e a
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olhei nos olhos. – Eu quero você dentro de mim –


sussurrou e começou a acariciar meu pênis com a
mão. Eu perdi a cabeça, beijei sua boca com
violência, machucando seus lábios. Comecei a
meter meus dedos com mais força dentro dela e em
minutos a fazia gritar de prazer ao atingir o
orgasmo. Ela gemia totalmente entregue.
Totalmente minha.

~§~

– Emma, você precisa ir. Você está bêbada, se


não estivesse isso jamais teria acontecido. – Minha
voz saiu rouca, ela ainda me acariciava.
Eu tinha invadido um território proibido e
precisava recuar, tirei meus dedos de dentro dela,
ela gemeu baixinho e colocou sua perna sobre a
minha. Percorri com as costas da mão um caminho
que foi da sua coxa até o seio, olhei para o mamilo
arrepiado e o mordi, sugando em seguida. Ela
colocou as mãos nos meus ombros e me puxou para
mais perto.
– Você nunca deixaria eu fazer isso – sussurrei
enquanto saboreava o seu seio. Eu estava perdido,
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perdido de desejo, de tesão, de fome, fome pelo seu


corpo. E pra piorar, eu não estava nem um pouco
arrependido do que estava fazendo, pelo contrário,
estava arrependido de estar me casando. A desejava
como nunca havia desejado outra mulher, ficaria o
dia inteiro trancado naquele quarto com ela.
Poderia imaginar várias maneiras de levá-la ao
prazer. Ela era tão submissa, se entregou ao meu
toque sem pudor. Correspondia a cada carícia,
desejou aquilo tanto quanto eu, mas estava
embriagada. E isso mudava tudo. Diante dessa
lembrança, me afastei.
– Como você sabe que eu não faria se estivesse
sóbria? – ela provocou. Estava saciada, mas queria
mais, podia ver isso nos seus olhos, me olhava com
luxúria, colocou as pernas em volta da minha
cintura e me puxou para cima dela. – Você por
acaso tentou?
– Emma, precisamos parar com isso, agora –
falei aquilo mais para mim do que pra ela. Queria
prová-la, queria possuí-la até saciar o meu desejo.
Queria meter pra dentro dela até fazê-la gritar e
pedir mais. – Vamos nos arrepender disso tudo
depois.
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Ela parecia não me ouvir, seus olhos se fixaram


na minha boca e quando parei de falar, me mordeu
no lábio.
– Dane–se.
Mordi de volta, beijando–a com gana, a envolvi
nos braços encaixando–a embaixo de mim, pronto
para penetrá-la.
Alguém bateu a porta.
– Senhor, viemos ajudá-lo a se vestir, trouxemos
o seu terno. Podemos entrar?
– Não! – gritei, me afastando dela, levantei e
enrolei a toalha na cintura. Precisava pensar,
precisava me acalmar. Estava ofegante exibindo
uma ereção que não ia ceder sem uma chuveirada
ou... Olhei para Emma, ela havia se ajoelhado e
sentado em cima das pernas, o vestido caído na
cintura, os seios com manchas vermelhas
provocadas pela minha boca, os cabelos negros
despenteados e a boca inchada de beijar. Uma
tentação. Linda, pronta para o sexo, pronta para ser
minha.
Mas eu não podia arriscar tudo que construí por
uma aventura inconsequente. Emma era um
negócio de risco. Eu a beijei quando devia
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expulsá-la, eu a mordi quando devia afastá-la e a


teria possuído se não tivessem nos interrompido.
Eu nunca tinha perdido o controle com nenhuma
das minhas parceiras sexuais, nem com Nathalie,
pelo contrário, sempre dominei a situação e hoje,
com Emma, parecia um adolescente trocando
carícias com a primeira namorada, inseguro e
faminto. O que eu sentia por ela era apenas desejo.
Eu amava Nathalie e ia me casar com ela. Essa era
a melhor decisão a tomar. Essa era a decisão certa a
tomar.
Sentei ao lado dela e a ajudei a se vestir.
Acariciava a sua pele com os dedos enquanto subia
as alças do vestido, não conseguia evitar. Ela estava
de costas para mim, fechei o fecho do vestido e
beijei o seu pescoço. Emma inclinou a cabeça para
trás e nossos lábios se encontraram. Lábios doces e
ardentes.
– Eu tenho um casamento para ir – falei num
tom sério, me afastando da sua boca. – O que
aconteceu aqui foi errado.
– Eu sei – Ela parecia alheia a tudo, tinha um
olhar perdido, longe. Levantou da cama pegou os
sapatos, abriu a porta e, antes de sair, me olhou
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sobre o ombro. – Seja feliz.

Dois homens usando ternos pretos me olharam


boquiabertos. Peguei o terno que um deles segurava
e bati a porta deixando-os do lado de fora.
− Seja feliz... Como serei feliz depois disso? –
gritei atirando a roupa sobre a cama. – Inferno! O
que você fez comigo, garota? – vesti a calça e saí
correndo pelos corredores. Eu precisava vê-la, eu
precisava entender o que havia acontecido. Não
foi só sexo, quando a beijei meu coração
acelerou, meu corpo queimou, febril. Eu não a
desejei apenas por um momento, mas por vários,
eu a queria ao meu lado por dias, noites ou talvez
por uma vida. Procurei Emma no piso superior,
desci as escadas, ela estava no jardim. Havia
pego a garrafa antes de sair sem que eu
percebesse, caminhava cambaleante entre as
mesas. Segui com passos firmes em sua direção.
Eu precisava saber se ela havia sentido o mesmo.
− Matthew – aquela voz familiar me fez parar
como uma estátua. Ele sempre teve aquele poder
paralisante sobre mim. Um misto de respeito e
medo.
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− Pai – falei dando as costas para a garota que


desapareceu entre gazebos e rosas.
− O que faz aqui vestido dessa maneira? −
Olhei para a minha roupa, estava sem camisa e
descalço.
− Eu preciso, eu... eu não tenho certeza se
devo me casar – falei. Ele me olhou incrédulo.
− Isso é uma piada ou quer me provocar outro
enfarte? − De repente me dei conta da minha
irresponsabilidade. O que eu estava fazendo?
− Foi só uma brincadeira. Desculpa – disse
me redimindo.
− Você me assustou, filho – o homem alto,
magro, cabelos grisalhos e olhos castanhos se
aproximou e me abraçou, me surpreendendo com
aquele gesto. − Estou tão orgulhoso de você,
Matthew. As empresas nunca estiveram tão bem
e essa garota que você escolheu será a esposa
ideal para acompanhar o empresário de sucesso
que você se transformou.
− Eu sei, pai. Nathalie é maravilhosa.
− Então, não vamos deixar a mulher
maravilhosa nervosa. Você tem que se vestir para
o casamento, menino, ou está pensando em entrar
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na igreja assim?
− Não, claro que não. – Ele passou o braço
sobre o meu ombro e me acompanhou até o
quarto, me ajudou com a gravata e caminhamos
juntos para a Capela.
~§~

Eu a procurei entre os convidados, não sei


qual seria a minha reação quando a encontrasse.
O gosto do seu corpo ainda estava em minha
boca, seu cheiro na minha pele. Emma me
entorpeceu, só agora eu entendia a minha aversão
a sua presença, foi o jeito que encontrei para
reprimir a atração que sentia por ela, ela era a
minha liberdade, amá-la seria ir contra tudo ao
que eu fui condicionado a ser. Se ela me amasse,
eu fugiria com ela para a Polinésia, Indonésia ou
qualquer lugar do mundo. Apenas nós dois, isso
me bastaria. Mas como saber se era
correspondido? Onde, diabos, ela se meteu? Eu
estava no altar, prestes a me casar com Nathalie,
eu estava prestes a me tornar seu cunhado.
− Tudo bem, Matt? – Greg perguntou se
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aproximando.
− Não, você viu a Emma? – ele me lançou um
olhar curioso e depois procurou a garota entre os
convidados.
− Ela não está aqui.
− Isso eu sei – respondi impaciente.
− Calma, cara. Não se preocupe, a sua
cunhadinha não vai estragar o seu casamento. Ela
é louca, mas não a esse ponto. – Nesse
momento, um pianista começou a tocar a marcha
nupcial e Nathalie, vestida de branco, de braços
com o pai, apareceu na porta da pequena capela.
Olhei para Mary Anne, sentada na primeira
fileira, seu semblante era de preocupação, olhava
apreensiva para a multidão, que em pé observava
a noiva que se aproximava do altar.
A cerimônia começou. Eu estava decidido a
não me casar, sentia um nó na garganta, mas não
era justo que continuasse com aquilo, não era
justo com Nathalie, não era justo comigo.
− Nathalie Rochester, aceita Matthew Stone
como seu legítimo esposo? – ela me lançou um
olhar apaixonado.
− Sim – tentei sorrir de volta, mas não
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consegui.
− Matthew Stone, aceita Nathalie Rochester...
– Palmas, alguém aplaudia a cerimônia na
entrada da igreja. Olhei para trás e lá estava ela.
A alça do vestido caía deixando seu seio a
mostra. Na mão a garrafa de whisky, agora vazia.
− Que lindo! O casal perfeição! O homem
bem sucedido e a noiva recatada. Continuem, eu
não quero atrapalhar esse momento tão
importante para a Família Rochester. Pode
segurar pra mim? − Ela largou a garrafa na mão
da esposa de um CEO, cuja empresa estava
fechando uma fusão com a Stone, e caminhou em
direção ao altar. Engoli em seco. Não faça isso,
não faça isso! Repeti mentalmente. Minha
vontade era de envolvê-la em meus braços e tirá-
la dali, antes que o pior acontecesse. Mas eu não
me movi. Nathalie me abraçou, nervosa.
− Filha, por favor, vem comigo! −Mary Anne
a alcançou.
− Eu quero só desejar felicidades para a
minha irmãzinha – disse enquanto passava pela
mãe, sem dar atenção, cambaleante. Mary Anne
segurou o seu braço.
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− Por favor, querida. – Emma tentou se


desvencilhar da mãe puxando o braço com força,
Mary Anne se desequilibrou e caiu batendo com
a cabeça na ponta de um banco. Emma se
desesperou ao ver o que havia provocado, se
ajoelhou ao lado da mãe que apresentava um
corte na cabeça,
− Mãe, mamãe. Desculpa! – seu estado de
embriaguez a impedia de socorrê-la. Eu corri
para amparar Mary Anne. O senhor Rochester
empurrou Emma que caiu aos meus pés. Eu a
ajudei a levantar-se, ela me olhou nos olhos.
Chorava. O que eu estou sentindo por você,
garota? O que você fez comigo?
− Saia daqui! Desapareça! – Nathalie gritou
ao meu lado, avançando sobre Emma, que apenas
a olhava com os olhos lacrimejantes. Minha
noiva estava descontrolada e a esbofeteou, a irmã
não reagiu. Eu a segurei para que não
continuasse com a agressão. − Você não passa de
lixo! Só envergonha a nossa família, desapareça
daqui! Já estragou o meu casamento, está
satisfeita?
− Precisamos de um médico, ela perdeu os
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sentidos – Robert Rochester disse desesperado.


Emma olhou para a mãe. O doutor Forbes,
convidado da família, começou a prestar os
primeiros socorros. O pai fuzilou Emma com o
olhar.
− Não ouviu a sua irmã? Desapareça daqui! –
berrou. – Você só envergonha os Rochester!
− Envergonho? – Ela falou com empáfia. −
Você me dá nojo, sua família perfeita me dá
nojo, eu odeio vocês, todos vocês. Inclusive
você! – disse se dirigindo a mim − Eu te odeio.
Você é igual a eles. Um (...) Os elogios que
Emma Rochester me fez em frente à minha
família, amigos e sócios são impublicáveis.
− Emma, venha comigo – Susan, irmã de
Mary Anne, tia de Emma, a segurou pelos
ombros e a arrastou para fora da igreja.

~§~

Havia me afastado da festa, um turbilhão,


chamado Emma Rochester, passou pela minha
vida e nesse momento eu tentava, em vão,
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recuperar a minha sanidade. Estava com o casaco


aberto, sem gravata, segurava uma taça na mão,
olhava para o oceano.
− O que você faz aqui? – Olhei para Edward
Stone, sua aparência frágil, debilitada pelo
problema cardíaco, tão diferente do homem que
me educou com severidade. – Tem um
casamento acontecendo e acho que a sua
presença é essencial
− Claro – respondi com um sorriso forçado.
− Então vamos... – caminhei em sua direção.
Ele me parou colocando a mão em meu ombro
quando em cruzava o seu caminho.
− Eu espero que tenha sido apenas por
diversão – esbravejou.
− O quê? – não compreendi a pergunta.
− Eu sei o que aconteceu no seu quarto,
Matthew. Eu te procurei mais cedo e vi a sua
cunhada saindo de lá.
− Ela só queria desejar... – tentei explicar.
− Não me trate como um idiota, Matthew
Stone – o tom da sua voz ganhou a gravidade que
eu conhecia tão bem. – Era atrás dela que você
estava quando te encontrei seminu nos jardins. O
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que você pensava em fazer? Responda! O que se


passava por essa sua cabeça quando eu te
encontrei? Que escândalo eu evitei? – sua
respiração ficou pesada.
− O Senhor está fazendo suposições erradas –
respondi, encarando-o.
− Escuta aqui, garoto! − Ele segurou o meu
rosto com força, me forçando a olhar em seus
olhos, aquele era o seu jeito carinhoso de me
aconselhar. – Eu não te eduquei para você jogar
tudo fora por uma trepada, entendeu? Seu futuro
é ao lado da sua esposa, se quiser ter casinhos,
tenha. Mas nunca deixe isso interferir na sua
família e principalmente nos seus negócios.
Estamos entendidos? – As palavras saiam
entrecortadas pela falta de ar. Eu não contestava,
sua debilidade me transformava em um ouvinte
passivo.
− Sim, senhor – engoli em seco.
− Ótimo, agora vamos voltar para a festa.

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CAPÍTULO CINCO

A ligação de Nathalie, aquela manhã, me


desestruturou. Estava em uma reunião com a
equipe de Nova Iorque quando o telefone tocou.
Pensei em não atender, pensei que ela viria mais
uma vez com seus assuntos frívolos mas, dessa vez,
não era. Ela estava indignada, falava sem parar,
criticava os pais, tive que interrompê-la mais de
uma vez para que fosse direto ao ponto. Aquelas
ligações com reclamações de sua família ou dos
empregados ou de algum amigo ou até mesmo de
mim, eram comuns e desgastantes. Finalmente, ela
deu o motivo. Emma estava de volta. Depois do
escândalo no casamento, a família a afastou, não
era mais bem-vinda. Para desgosto de Nathalie, que
não conseguia se reconciliar com a irmã, a mãe
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mantinha contato, a encontrava regularmente. O pai


não a perdoou. Eu? Eu procurei esquecê-la. E
pensei que havia conseguido, mas quando menos
esperava, seus lábios beijavam minha boca durante
um sonho, meu membro penetrava o seu corpo e eu
acordava suado, excitado, duro. Com o passar dos
anos, a distância se tornou minha aliada. Ela passou
por um período de desintoxicação em uma clínica,
em uma cidade afastada da Capital. Quando voltou
foi morar com a tia em um condomínio longe dos
nossos círculos sociais.
Uma única vez a vi, parei o carro em um
cruzamento, próximo ao campus da universidade
onde ela estudava e a garota de jeans e moletom
desceu do ônibus e cruzou a rua, carregada de
livros. Lembro do meu coração acelerado, lembro
do soco na direção quando ela teve seu corpo
envolvido e seus lábios beijados por um garoto
magrelo e sem graça. Lembro que, naquele dia,
decidi tirá-la da minha vida definitivamente. Com o
tempo, os negócios da Stone aumentaram, vieram
fusões e, com elas, longas viagens ao exterior.
Nathalie me acompanhava em algumas, mas logo
se entediou e começou a viajar sozinha para
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destinos diferentes dos meus. Escolhia lugares


propícios às compras, ou para tratamentos de
beleza, Spas e Resorts. Não demorou a criar um
círculo de amizades que gostava do mesmo tipo de
entretenimento. Estávamos afastados mais do que
nunca nestes últimos meses.

~§~

Respirei fundo, tentando manter minha mente


ocupada. Depois da ligação, cancelei a reunião que
teria após o almoço, minha chegada à Saline estava
programada para a noite. Mas eu precisava ter
certeza que não sentia mais nada por ela, essa foi a
desculpa que inventei para explicar aquela
ansiedade que me atordoava.
Dirigia o meu Porsche a uma velocidade acima
do aconselhável. Os prédios da pequena cidade
litorânea de Saline desapareceram e as dunas me
cercaram, o cheiro do mar me informava que eu
estava próximo da Casa de Veraneio dos Rochester.
Voltei ali algumas vezes naqueles últimos anos, era
uma mansão charmosa à beira mar, com suas
grandes janelas brancas, quartos arejados e uma
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biblioteca fascinante, com obras raras compradas


pelos antepassados de Nathalie.
Ela tinha um namorado. Emma Rochester
chegaria à mansão acompanhada. Isso não importa,
eu não sinto mais nada por ela, tudo não passou de
desejo, uma confusão de sentimentos de um cara de
vinte e poucos anos que havia projetado uma vida
perfeita, organizada e feliz e se surpreendeu com
algo novo, intenso e inexplicável. Desejo, foi só
desejo. Passei pelo caminho formado por um
jardim de folhagens exóticas. Mais uma curva e a
bela mansão se ergueu a minha frente, era uma
imagem deslumbrante. Não desacelerei e quando
vi, ela estava a alguns metros de distância, pisei nos
freios a tempo de parar centímetros do seu corpo.
Nathalie se escorou no carro, trêmula. Saí do
veículo para ver se ela estava bem.
– Você se machucou, meu amor? Eu não te vi –
perguntei, envolvendo-a pela cintura, examinando
seu corpo para ver se não havia nenhum ferimento.
Ela se virou e me encarou. Perdi o fôlego. Seus
olhos castanhos, seus cabelos ondulados, sua boca.
Ela usava um vestido branco sobre um biquíni
minúsculo, provocante Estava linda, mais linda que
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antes e o que era para ser só desejo voltou mais


forte e arrebatador. Inferno! – Emma? – Não resisti
e fechei minhas mãos em sua cintura. – Você está
diferente, pintou o cabelo? Eu pensei que fosse a
Nathalie, vocês estão parecidas. – Lembrava dela
com os cabelos negros, mas jamais esqueceria
aquele olhar, aqueles lábios.
–Essa é a cor natural do meu cabelo. E se visse
que era eu, teria passado por cima? – perguntou
com indignação
–Era uma possibilidade – respondi com um
sorriso no canto dos lábios, meus olhos
percorreram o seu corpo, senti um leve tremor em
sua pele, o vai e vem dos seus seios denunciavam
sua respiração alterada. Ou era repulsa ou ela me
desejava. Eu descobriria logo, me aproximei mais,
pressionando-a contra o capô do carro e colando o
seu corpo ao meu. – Você se machucou? –
perguntei num murmúrio, olhando em seus olhos e
depois para a sua boca. Toquei o seu rosto e
acariciei seus lábios com o polegar, a sua maciez
me fez ofegar. Senti seu hálito doce tocar a minha
boca.

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–Matt, você está bem? – a voz de Nathalie nos


afastou. − Nós ouvimos o barulho da freada.
Aconteceu alguma coisa? – No momento que me
virei para responder, dei de cara com um homem de
cabelos loiros, corpo musculoso, que acompanhava
Mary Anne e Robert. O namorado dela, fui tomado
por um sentimento que deduzi ser raiva.
– Eu estou bem, amor – respondi para minha
esposa, tentando disfarçar o que sentia. − Quase
atropelei sua irmã, levei um susto pensando que era
você – beijei Nathalie como não fazia há muito
tempo. Nosso casamento estava passando por uma
crise, quase não nos víamos, os negócios me
prendiam à Stone. Busquei entre seus lábios algum
resquício do que havia sentido por ela antes do
casamento, precisava de algo que me salvasse do
abismo e me trouxesse de volta o discernimento.
– Você está bem, linda? Não se machucou? – o
namoradinho perguntou à Emma.
– Eu estou um pouco tonta, me ajuda a voltar
pra casa? – Ela respondeu, olhei para eles a tempo
de ver o garoto a suspender em seus braços e
caminhar em direção à casa. Quando passaram por
mim, ele virou-se em minha direção e me olhou nos
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olhos.
– Olá, você deve ser o Matthew? – perguntou
petulante. −Eu sou Trevor, namorado da Emma.
–Prazer em conhecê-lo – respondi, desejando
arrancá-la de seus braços. Droga! Eu preciso me
controlar.
− Fez boa viagem, Matthew? – Robert
perguntou enquanto apertava a minha mão. Mary
Anne apenas me lançou um sorriso e acompanhou a
filha e o namorado.
− Sim, excelente. Não sabia que Emma estaria
presente? – menti. Nathalie não contestou, esperou
o pai dar explicações, uma vez que imaginava que
eu também não aprovava a presença da sua irmã.
− Foi exigência de Mary Anne, estamos
comemorando nossas Bodas de Prata e ela quis a
presença da filha. Eu não pude negar – se explicou.
− Depois do escândalo do meu casamento, não
sei como ela tem coragem de aparecer diante da
família – Nathy comentou irritada. – Você não se
envergonha de tê-la aqui, papai? Será que eu sou a
única incomodada com isso?
− Faz tempo, filha. As pessoas já esqueceram –
ele tentou amenizar.
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− Eu não esqueci e não a perdoo por ter


estragado o momento mais importante da minha
vida.
− Não vamos exagerar, Nathalie – falei vendo
que aquela insistência de minha esposa estava
importunando o Senhor Rochester.
− Vou pagar pra ver, tenho certeza que Emma
não mudou e vai fazer alguma coisa para estragar
esse momento – resmungou enquanto entrávamos
na casa.

~§~

Tomei uma ducha rápida, vesti uma camisa


branca e uma calça preta, caminhei pelos
corredores da mansão, todos me aguardavam para o
almoço. Parei diante de uma porta, a porta do
quarto de hóspedes que usei para me vestir para o
casamento. Quantas vezes imaginei como teria sido
se tivesse tido coragem de ir atrás dela?
Nathalie sentou-se ao meu lado e Mary Anne
ocupou a cadeira a minha direita. Na ponta da
mesa, Robert ocupou o seu lugar. Ela ficou do
outro lado, exatamente, a minha frente, ao seu lado,
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o namoradinho. Robert monopolizou a minha


atenção, queria saber dos últimos negócios da
Stone, gostava de conversar com ele sobre esses
assuntos, sua experiência como advogado sempre
me trazia um outro ponto de vista dos negócios.
Mas hoje, particularmente, a minha atenção estava
em outro lugar. Ela conversava com Trevor e Mary
Anne, mas eu também não prestava muita atenção
nessa conversa. Observava seus gestos, seu sorriso,
o jeito que arrumava o cabelo atrás da orelha e
como mordia o lábio quando nossos olhares se
cruzavam. O que você sente por mim, Emma? Por
que age como se nada tivesse acontecido entre nós?
Minha esposa se sentiu indisposta e se retirou
para o quarto, após o almoço. Passei o restante da
tarde com Robert, ele examinou alguns documentos
que seriam assinados na semana seguinte, fez
importantes alterações. Precisava rever o jurídico
da Stone, já havia convidado Robert Rochester para
assumir a diretoria deste setor, mas ele sempre
recusava. Era sócio de um dos mais importantes
Escritórios de advocacia da Capital e não pensava
em abrir mão da tranquilidade de chefiar um grupo
eficiente de advogados para comandar o
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complicado setor jurídico de uma grande


Corporação.
Enviei, por e-mail, as alterações, sugeridas por
Robert, nos contratos que deveriam ser assinados
na próxima semana, para que Greg tomasse as
providências.

~§~

− Sente-se melhor? – perguntei, assim que


entrei. Ela estava deitada com as janelas do quarto
fechadas, havia trocado o vestido floreado por uma
camisola rosa.
− Foi só um mal estar, deve ter sido a presença
da Emma que me deixou enojada.
− Você não acha que está exagerando, Nathalie?
– questionei, aquilo já estava ficando repetitivo.
− Exagerando? Como vocês conseguem ser
tão... tão... passíveis? Eu conheço bem a minha
irmã e ela não é essa santa que está aí. Ela é uma
dissimulada.
− Ok, você tem razão. Mas dê uma trégua, pare
de reclamar, por seus pais. Eles estão felizes por

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terem a família reunida novamente. – Ela me


lançou um olhar de reprovação.
− Ok – concordou a contragosto. Beijei a sua
testa.
− Vamos dar uma caminhada na praia? –
perguntei tentando animá-la. – Talvez um pouco de
ar puro te faça bem.
− Não, vou me encher de areia. Prefiro ficar
aqui, quietinha.

~§~

Ela saía do mar. Ao longe, Mary Anne e o


garoto musculoso passeavam, se afastando, pelo
orla. Caminhei em sua direção, as ondas batiam
abaixo dos meus joelhos quando nos encontramos.
Emma não me olhava nos olhos, me aproximei
mais e segurei o seu queixo para que me encarasse.
– Tudo bem, Emma? Por que você desvia o
olhar de mim? Algum problema?
– Não, é impressão sua. Nós nunca tivemos um
relacionamento próximo para trocarmos olhares e
confidências, por que mudar isso agora? – Estava

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sempre na defensiva.
– Eu te julguei mal no passado e gostaria de
mudar isso. Se você quiser, podemos conversar a
sós para resolvermos nossas diferenças. – O que eu
estou dizendo? Isso foi patético, Matthew.
– Não quero mudar nada, Matthew. Quero
consertar as coisas com mamãe, papai e Nathalie,
de você eu quero distância. – Sua voz saiu
sussurrada, quase rouca, ofegava. Seus mamilos
estavam enrijecidos e sua pele arrepiada. Era
desejo. Sorri e me inclinei, tocando com meus
lábios sua orelha, enquanto sussurrava.
– Não é o que o seu corpo diz.
Deixei uma Emma desconcertada para trás e
mergulhei no mar, precisava esconder a minha
excitação. Meu membro pulsava apertado dentro da
sunga preta. Mergulhei, nadando pela encosta, até
que meu corpo ficasse cansado e meus
pensamentos se reencontrassem com a realidade e
Emma voltasse a ser apenas um fetiche de um
homem que estava em crise no casamento.
Voltei para Nathalie. Ela continuava enjoada,
Mary Anne havia preparado um chá para a filha e a
aconselhou a procurar um médico, minha esposa
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insistia em dizer que a culpa era da irmã, que a sua


simples presença a deixava doente.
Examinei o meu celular, havia várias ligações
não atendidas do Greg. Liguei, imediatamente, para
ele. Os acionistas da Claire Empreendimentos não
haviam concordado com as alterações e queriam
uma reunião imediatamente. Pedi para Greg me
enviar um e-mail explicando detalhadamente os
pontos a serem novamente revistos, queria discutir
com Robert antes de dar o meu parecer final. Eu
sabia que tal alvoroço se devia a uma multa
contratual, caso os prazos acordados não fossem
cumpridos, Robert aconselhou a aumentar o
percentual, uma vez que era vantajoso para a Claire
manter o que estava estipulado.
Nathalie não desceu para o jantar, todos
pareciam cansados e silenciosos. Emma estava
distante, pensativa. Percebi que me observava,
discreta, mas resolvi não provocá-la. Robert me
acompanhou até o escritório, uma sala ampla com
janelas que davam para a praia. O barulho das
ondas não atrapalhou a conversa. Depois de ouvir
suas sugestões, liguei para Greg e marquei uma
reunião por vídeo para o dia seguinte. Estava
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sozinho, o relógio marcava onze e cinquenta.


Respondia alguns e-mails quando um barulho,
vindo do corredor, chamou a minha atenção. Não
demorou para que a porta se abrisse.
− Oi, você vai demorar? – Nathalie perguntou.
− Mais alguns minutos – respondi, sem me
mover do lugar. – Como está se sentindo?
− Um pouco melhor, o clima dessa casa está
pesado demais, já me arrependi de ter vindo – disse
com um beiço.
− E uma data importante para os teus pais,
Nathalie.
− Se eles realmente me quisessem aqui não
teriam convidado aquela outra.
− Aquela outra é a sua irmã – sabia que para ela
era difícil perdoar Emma pelo desastre no
casamento, mas já havia se passado quatro anos,
será que guardaria rancor para sempre? − Ela
revirou os olhos, odiava ser contrariada, outra
característica da minha esposa que só descobri
depois de casado.
− Vou subir, peguei um livro para ler na
biblioteca – disse mostrando o volume que trazia
consigo. – Não demora.
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− Só mais alguns e-mails – prometi. Ela fechou


a porta, voltei a digitar a mensagem que seria
enviada, quando o som de vozes vindas do corredor
chamou a minha atenção. Caminhei até a porta para
ouvir melhor o que se passava.
– Vim buscar um livro também. – Era a voz de
Emma. − Trevor estava exausto da viagem e
dormiu cedo. Então resolvi ler.
– Bom, vou voltar para o quarto – Nathalie
respondeu. − Boa noite, Emm.
–Boa noite, Nathy.
–Emm?
–Sim?
– Não faça nenhuma bobagem para estragar este
fim de semana. São as Bodas de Prata dos nossos
pais, todos os nossos parentes estarão aqui e a
última vez que isso aconteceu você estragou tudo.
Silêncio. O barulho da porta da biblioteca se
abrindo e fechando. Esperei alguns minutos,
aguardando ouvir o barulho da porta ao lado se
abrir, o que não aconteceu.
− Inferno! O que ela faz na biblioteca? −
Caminhei de um lado a outro do escritório. − Não
vá lá, Matthew. Não fique sozinho com ela! −
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minha consciência gritava. Eu só preciso saber o


que ela sentiu aquele dia. Por que age como se nada
tivesse acontecido? Será que foi tão insignificante
assim? Ela vai ter que me responder e vai ser
agora. Abri a porta do escritório sem fazer barulho.
A casa estava na penumbra. Entrei na biblioteca.

Emma estava em frente à janela, a luz do luar


desenhava o contorno do seu corpo, usava uma
camisa branca. Pensei em dizer algo, mas me calei.
Ela sabia que eu estava ali, por que não se virou?
Eu me aproximei, Emma continuou onde estava,
esperando... De repente me dei conta que não era
por mim, mas por ele. Pensei em recuar, mas não o
fiz.
Não havia mais distância entre nossos corpos,
toquei seus braços, senti seu arrepiar, ela o
desejava, não a mim. Engoli em seco, meu corpo
respondia aquela proximidade, meu membro
pulsou. Colei o seu corpo ao meu, puxando-a para
trás. Ela tentou se virar, eu não deixei.
Minhas mãos deslizaram até suas coxas e,
lentamente, por baixo da camisa, acariciaram sua
pele. Ela ofegou, submissa ao meu toque. Passeei
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pelo seu ventre, senti sua contração, subi mais uns


centímetros até encontrar a maciez do seu seio.
Molhei os lábios desejando que minha boca
estivesse no lugar dos meus dedos, apertei seu
mamilo como se o sugasse, ela gemeu. Minha outra
mão tocou a parte interna das suas coxas, não havia
renda ou algodão que impedisse o meu avanço para
dentro do seu sexo nu. Abri seus lábios e profanei
seu delicioso corpo, que me recebeu quente,
molhado. Emma estremeceu. Esfreguei meus
dedos em seu interior, enquanto acariciava seu
clitóris, deixando-o inchado. Sua vagina se
contraiu, me apertando, ela colocou sua mão
esquerda sobre a minha mão invasora,
pressionando-a enquanto gozava. Seus dedos se
emaranham em meus cabelos, me puxando para
frente e me oferecendo seu pescoço, beijei sua pele
e a suguei fincando meus dentes onde a pequena
tatuagem de uma borboleta azul estava desenhada.
– Isso foi bom – Emma murmurou, rouca. Suas
mãos foram para trás e desabotoaram a minha
calça. Ela abriu o fecho e envolveu meu pênis,
massageando-o com força. Ousada, colava sua
deliciosa parte traseira no meu membro enquanto
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me masturbava. Controlei o meu desejo até o


limite, se ela não parasse eu ia gozar e não era entre
seus dedos que eu queria derramar o meu sêmen.
Hoje ela seria minha.
Ainda de costas e com a minha identidade
preservada, conduzi Emma até uma poltrona, ela se
ajoelhou sobre o móvel, olhei para o que me era
oferecido e contive o ímpeto de pronunciar o
quanto era gostosa. Segurei o meu membro,
coloquei apenas sua ponta entre os lábios do seu
sexo, inclinei meu quadril para frente e meti,
devagar, entrando centímetro por centímetro dentro
da sua vagina úmida, dilatada, inchada. Uma única
estocada e ela me tinha totalmente em seu interior.
Minha respiração era descompassada, meu coração
acelerado, minhas mãos apertaram seu quadril,
entrei e saí, sem pressa, saciando-a, saboreando sua
parte mais intima. Um gemido mais alto e meu
esperma jorrou, lambuzando seu corpo com o meu
prazer.

Meu pênis ainda estava dentro dela, Emma


virou o rosto procurando meus lábios, eu capturei

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sua boca invadindo-a com a minha língua e


roubando seu fôlego, ela abriu os olhos e ficamos
nos olhando por um tempo que poderia ser menor.
Emma demorou para reagir, eu poderia jurar que
senti seu sexo se contrair uma vez mais quando
percebeu quem a penetrava.
–Matt?
–Emm?

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CAPÍTULO SEIS

Eu tinha duas escolhas: ser sincero ou mentir.


Já me sentia um canalha, então optei pela segunda.
– Eu... eu entrei aqui, Nathy disse que vinha
para a biblioteca, eu imaginei, vocês são parecidas,
eu... Não sei o que dizer – gaguejei, caminhando de
um lado a outro, pensava em como continuar com
aquela farsa, enquanto tentava fechar a calça, mas a
minha ereção dificultava as coisas. Emma desviou
o olhar ao ver aquela cena, eu senti vontade de rir,
ela me enlouquecia com aquele pudor quase
devasso.
– Eu estava esperando o Trevor – confessou.
Fiquei tentado a confrontá-la. Minha estatura, meu
porte físico não se pareciam em nada com o seu
namorado musculoso. Como pode se confundir? −

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Pensei que fosse ele, eu... isso foi errado –


completou demonstrando todo o seu
constrangimento. – Meu Deus! Isso não podia ter
acontecido.
– Nós não traímos ninguém, ok? – falei tentando
me justificar− Você pensava em Trevor e eu em
Nathy, isso não pode ser considerado traição.
– Que fácil pra você – sussurrávamos, mas o
tom de voz dela se alterou, indignada. − É com essa
lógica estúpida que você justifica suas traições –
concluiu com ironia, mas havia algo mais, talvez
raiva.
– Para seu conhecimento eu nunca traí sua irmã.
– Somente quando eu penso em você. − Eu a amo –
disse olhando em seus olhos. Ela se afastou.
Timidez? Vergonha? Arrependimento? Essa garota
está me tirando do sério. Olhei para a sua nudez, a
camisa entreaberta, os seios expostos, o sexo
molhado pelo meu gozo. Ela seguiu o meu olhar,
cruzou os braços automaticamente tentando cobrir
seu corpo. Eu precisava me afastar ou acabaria
dentro dela mais uma vez. – Eu vou para o meu
quarto, vamos esquecer tudo isso, foi algo
insignificante para nós dois. Não foi? – Esperei sua
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resposta.
– Com certeza! – disse enrijecendo seu queixo.
– Ótimo! Boa noite! – respondi como se nada
daquilo tivesse realmente importância. Saí da
biblioteca, mas não fui para o quarto, caminhei até
a praia, sentei na areia gelada e senti a brisa tocar o
meu rosto enquanto minha mente se perdia em um
emaranhado de pensamentos. Eu estava perdendo o
controle, como ela conseguia ter esse poder sobre
os meus sentimentos? Sobre meus atos? Quando a
conheci era uma adolescente, alguns anos mais
jovem que Nathalie. No casamento, já era uma
mulher sedutora, naquele dia Emma roubou minha
sanidade.
Desde o infarto do Senhor Stone que tento ter a
vida que ele planejou para mim, voltei a ser o filho
perfeito, voltei a me espelhar em seu exemplo, mas
havia uma parte de mim, que lutava contra tudo
aquilo, uma parte que queria ser livre, errar, mandar
tudo as favas. Uma parte que Emma Rochester
despertou. O que senti quando ela deixou o meu
quarto foi desesperador, ela me fez agir por
impulso, me fez errar, me fez irresponsável. Eu
quis viver aquela loucura e teria largado tudo para
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ficar com ela. Se não fosse o velho Stone aparecer


para, novamente, me colocar nos trilhos. Agora não
havia o meu pai para me impedir e isso me
perturbava. Eu não precisava dele para me dizer
que o que eu havia feito era errado. Eu sabia que
nada justificava o fato de eu ter traído a minha
esposa com a sua irmã. Mas mesmo assim, meu
corpo, minha mente buscavam uma resposta para
entender aquele sentimento quente, incontrolável,
possessivo, que me doía o peito e me adoecia a
alma.

~§~

Entrei no quarto quando os primeiros raios de


sol apareciam no horizonte. Olhei para Nathalie e
não tive coragem de deitar ao seu lado. Voltei a sair
do quarto e caminhei até a porta que ficava no final
do corredor, o quarto de hóspedes, meu quarto
quando era namorado de Nathalie. Abri a porta,
olhei para cama e lembrei de cada detalhe daquele
dia, do dia do meu casamento. Inferno! Você está
me enlouquecendo, Emma Rochester!

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~§~

Quando Nathalie acordou eu já estava em pé,


acompanhava Robert e Mary Anne no café da
manhã.
− Bom dia – falou ainda sonolenta, estava
totalmente restabelecida. Maquiada e lindamente
vestida. Aproximou-se e me beijou no rosto. – Não
vi você deitar ontem.
− Eu fiquei até tarde resolvendo uns problemas
e agora tenho uma reunião por vídeo conferência.
− Ah, Matt... – resmungou fazendo um beiço. –
Você prometeu que passearíamos em Saline hoje.
Não aguento mais ficar trancada nessa casa.
− Eu sinto muito – me desculpei − Mas não
tenho escolha. – Nathalie ia reclamar mais uma
vez, mas Robert interveio.
− Filha, eu e sua mãe te acompanhamos. Assim
poderemos deixar seu marido tranquilo para
resolver seus negócios. – Ela concordou,
nitidamente, contrariada.
− Então vou convidar a Emma e o Trevor –
Mary Anne falou empolgada sem dar importância
para os olhares de reprovação da filha e do marido.
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Perfeito, um dia longe de Emma e eu poderia


colocar meus sentimentos em ordem, se o que eu
sentia era só desejo, ela o havia saciado, então
quando nos encontrássemos, eu não sentiria nada.

~§~

Voltei para o escritório, o sol deu lugar a chuva.


Olhei para o laptop sobre a mesa, ainda teria
algumas horas até a vídeo conferência. Fiz algumas
ligações, acertei alguns pontos com Greg. Ouvi um
leve bater na porta e Nathalie entrar para se
despedir.
− Divirta-se – falei beijando-lhe os lábios.
− Ganhe bastante dinheiro para nós – ela disse,
piscando o olho. Sorri de volta. Se minha esposa
não pertencesse a uma família rica, pensaria que
havia casado por interesse. Ela demonstrou um
comportamento extravagante depois do casamento.
Gostava de ostentar, adorava frequentar festas,
chegava a ser frívola, presunçosa e arrogante.
Deixou de ser a Nathalie que conheci na faculdade.
No começo me culpei, por deixá-la muito tempo
sozinha, mas ela não demonstrava se importar.
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Mesmo quando estávamos juntos, trocava um


programa a dois por alguma festa badalada,
realizada em algum lugar barulhento, repleto de
celebridades, onde a imprensa era bem-vinda e
atormentava os convidados procurando algum
escândalo para ser manchete em seus sites
sensacionalistas.
~§~

A noite mal dormida cobrava seu preço, eu


estava exausto. As horas passavam sem que eu
percebesse. A reunião havia sido cansativa, os
problemas com a conexão da internet fez o sinal
cair diversas vezes. Com muita insistência
conseguimos obter algum sucesso, mas uma nova
reunião deveria acontecer na próxima semana, eu
teria que viajar na segunda-feira, mas antes
precisava consultar os diretores da Stone, não
poderia fechar aquele negócio vultuoso sem ouvi-
los. Liguei para a minha secretária e pedi que
marcasse a reunião. Comecei a revisar o documento
enviado por e-mail por Greg, com os acertos feitos
com a Claire Empreendimentos, quando alguém
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abriu a porta do escritório. Levantei meus olhos,


imaginando ser um dos empregados, Alfred ou
Anna. Estava pronto para responder que não
precisava de nada, quando meus olhos encontraram
os dela, meu coração disparou, me esforcei para
demonstrar indiferença, afastei a cadeira para trás e
cruzei os braços, olhei para Emma de cima a baixo,
usava um vestido curto com flores em tons de azul,
o cabelo preso em um coque que deixava várias
mechas caídas em seu rosto de pele branca e macia.
Eu ainda a desejava.
–Você não devia estar se divertindo com o seu
namoradinho na cidade? – perguntei. O que ela
fazia aqui? Será que eles já voltaram?
–E você não devia estar acompanhando a sua
esposa? – perguntou com uma indignação
exagerada.
– Eu preciso trabalhar – respondi, decidido a
afastá-la, mas desejando tocá-la. Eu tinha que
retomar o controle da situação, ser racional. −
Diferente de você, eu não posso me dar ao luxo de
curtir a vida. O mundo dos negócios não para –
completei com rispidez, esperando que se saísse.
Mas ela fez exatamente o contrário, caminhou
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até a mesa, escorando suas mãos sobre elas e se


inclinando para frente.
– Algum problema? – perguntei, tentando
parecer arrogante e indiferente. −Posso ajudá-la em
alguma coisa? Caso contrário gostaria que se
retirasse, já disse que não tenho tempo para perder
com bobagens. Tenho que terminar o que estava
fazendo. – Emma teve uma reação inesperada,
pegou um porta retrato sobre a mesa e o arremessou
contra mim, consegui desviar, mas o objeto se
espatifou contra a parede. Ela me provocou a ponto
de me fazer perder a paciência. Qual era o
problema daquela garota, afinal? Ontem, na
biblioteca, parecia realmente constrangida com o
que havia acontecido e agora age como um
descontrolada. Levantei da cadeira e caminhei em
sua direção.
– Ficou louca? – esbravejei.
–Eu te odeio. Você é um canalha, um idiota,
um...um... tarado.
–Tarado? – falei com uma gargalhada. − Essa é
nova. Você costumava ser mais criativa nas suas
agressões verbais, Emma.
– Não seja cínico, você sabe do que estou
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falando – acusou.
– No dia do casamento, você usou uns adjetivos
bem mais interessantes para me descrever – Ela me
olhou intrigada. − Você realmente não lembra de
nada daquele dia? – essa era a pergunta que eu
queria ter feito à noite passada, mas fui impedido
por uma garota seminua que desejava ser possuída
por um homem que não era eu.
– Não – respondeu pensativa. – Eu apaguei
aquele dia da memória.
– É uma pena – Era melhor que ela continuasse
sem lembrar, já que aquilo se encerraria naquele
momento. – E quanto ao tarado – falei. − Eu acho
que nós já esclarecemos o que aconteceu e
concordamos em esquecer. Está tão difícil assim
para você?
– O quê? O que eu mais quero é esquecer, foi a
pior experiência que eu já tive – gritou. − Acho que
vou ter que voltar a fazer terapia por sua causa.
– Se foi tão ruim, por que você está tão
alterada?
– Estou com raiva.
– Pois engula a sua raiva e saia. Acho que já nos
agredimos o suficiente por hoje – encerrei o
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assunto, dando as costas para ela, eu queria


comprovar a minha teoria que tudo não passou de
sexo. Queria que saísse do escritório e da minha
vida, para que tudo voltasse a fazer sentido. Mas
ela parecia não estar a fim de colaborar, bloqueou a
minha passagem, em seguida ficou de costas para
mim, inclinando levemente o pescoço, olhei para a
sua pele, vi o desenho que estava parcialmente
coberto por algo viscoso, um creme.
– Você pode me explicar isso? – perguntou.
Olhei com mais atenção, o creme cobria uma pele
avermelhada beirando ao roxo. As cenas da noite
anterior vieram claras a minha mente: enquanto eu
sugava seu pescoço, meus dedos a penetravam
sentindo as contrações do seu gozo. Meu membro
respondeu àquele estímulo.
–Uma mordida – respondi engolindo em seco.
–Sua mordida – Não precisava me corrigir, eu
não esqueceria aquele momento tão cedo.
Necessitava mudar de estratégia, o volume em
minhas calças mostrava que eu não estava mais no
controle.
–Desculpa− foi tudo o que me ocorreu.
– O quê? – esbravejou virando-se e me
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encarando. Ficava mais linda quando mostrava a


sua impetuosidade. – É isso que você tem a dizer.
Desculpa? Você é ridículo.
– O que você quer que eu diga? Desculpa, eu
não queria machucá-la. Eu nem sabia que era você,
garota – menti. −Por isso eu... fiz isso.
– Você sabia – acusou. − Você viu a tatuagem,
você me mordeu quando viu a tatuagem. Você
sabia que era eu quando...
– Agora, ridícula está sendo você! – falei
passando a mão no cabelo, por que era tão difícil
que ela me deixasse em paz? Ela me odiava, era
claro. Eu queria, eu precisava que ela se afastasse,
mas ao mesmo tempo, desejava que ficasse. Olhei
para Emma e quis beijá-la. Mas uma luta estava
sendo travada dentro de mim e eu precisava ser
forte o suficiente para fazer a coisa certa. – Você
acha que eu sinto alguma coisa por você? Passa por
essa sua cabecinha que eu tenha tesão por você?
Que eu te desejo daquele jeito, Emma? Você é
patética. – seus olhos lacrimejaram, eu a havia
humilhado e me sentia um canalha por isso. Ela me
encarou, senti a palma da sua mão tocar o meu
rosto com força.
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− Inferno! Ficou maluca, garota – esbravejei,


enquanto ela desaparecia no corredor. − Emm,
droga! – Corri atrás dela, consegui alcançá-la antes
que fechasse a porta do seu quarto.
– Sai daqui! – gritou.
– O que você quer Emma? O que você quer que
eu fale? – perguntei exasperado.
– Nada. Eu quero que você me deixe só.
– Não. Nós vamos resolver isso, agora. O que
você quer que eu responda? Que eu vi a tatuagem?
É isso? E depois? – disse me aproximando, ficando
a alguns centímetros do seu corpo. – Você quer
ouvir que eu estava beijando o seu pescoço e
quando eu passei a língua para chupá-lo eu senti a
sua tatuagem?
– Por que você não parou? – sua voz saiu fraca.
– É isso que você quer saber? – Nada estava
saindo como planejado. A minha razão estava
perdendo aquela batalha.
–Sim – murmurou.
– Se coloca no meu lugar, Emma. Eu estava
com uma mulher nua massageando o meu... pênis.
Com os meus dedos ocupando o lugar que

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pertencia a ele. E para piorar, quando eu te mordi


você gozou. Eu não sou tão forte assim. Naquele
momento eu só pensei em meter dentro de você. E
foi o que eu fiz. Era isso que você queria saber?
–Sai... Sai daqui! – gaguejou.
– Que droga, Emma. Essa resposta também não
está boa para você? – perguntei impaciente.
– Sai! – Gritou. Eu consegui o que eu queria,
que ela me afastasse. Mas ainda havia algo que eu
precisava saber antes de partir.
–Não. Agora, eu quero que você me responda.
Você sabia que era eu, não sabia? – perguntei
desafiando-a.
– O quê? − indagou, visivelmente, constrangida.
− Sai, agora, do meu quarto.
– Não – protestei. − Você vai me escutar. Eu só
soube que era você quando vi a tatuagem, mas você
sabia que era eu desde o começo.
– Eu estava esperando o Trevor.
– Eu sei, mas quando eu te abracei você sentiu
que não era seu namoradinho. Ele é mais baixo que
eu e mais musculoso. – A respiração dela se
alterou. Eu sabia que mentia. − Você não notou
isso? Ele nunca te abraçou por trás, Emma? E o
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meu perfume? Você não sentiu o meu cheiro?


– Não – sua voz saiu insegura. − Eu não notei a
diferença.
– Mentirosa – falei com um sorriso, ela também
me desejava. Ela gozou sabendo que era eu dentro
dela, por que insistia em negar? Me aproximei
mais, tocando seu corpo com o meu. – E o sexo,
Emma? Foi igual? Ele te toca como eu te toquei?
Você gostou, eu sei. – murmurei, aproximando
meus lábios dos seus. − Quantas vezes eu te levei
ao orgasmo? Duas? Com ele é assim também?
– Para! – Ela me interrompeu colocando sua
mão sobre a minha boca. Segurei o seu pulso,
afastando a mão que me calava.
– Eu preciso saber – sussurrei encostando minha
testa na sua.
– Por quê?
– Foi diferente, Emma? Ou você pensou que era
ele? – Me diga, por favor. Aquilo fazia toda a
diferença, eu precisava saber que não era rejeitado
pela mulher que desejava
– Não.
– Não o que, Emm?
– Não foi igual. – Eu quis beijá-la, Deus como
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eu desejava aqueles lábios. Segurei o seu rosto


entre as minhas mãos, passei o polegar, desenhando
o contorno da sua boca macia e a beijei. Ela sugou
o meu dedo, libidinosa, enquanto minha língua a
profanava. Seu gosto se misturava ao meu, seu
respirar era o meu ar. Meu peito doía, meu membro
pulsava. Aquilo era um erro. Em um último
resquício de sanidade, abandonei seus lábios.
Minha respiração era pesada, meu corpo extasiado,
toquei a sua testa, não conseguia desviar o olhar de
seus lábios, ela respirava pela boca, sentia seu
hálito quente tocar minha face. Num impulso deixei
o quarto. Caminhei pelos corredores, desci as
escadas, não sabia para aonde ir, minha vida perdeu
o rumo pela segunda vez e, pela segunda vez, ela
era a culpada. O que foi aquilo? O que estava
acontecendo comigo? Quando dei por mim estava
no escritório escorei as mãos sobre a mesa, tentava
controlar minha respiração, tentava fazer meu
corpo se estabilizar, minha mente voltar a razão.
−Foda-se! – falei esmurrando a mesa.

~§~

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Ela não estava no quarto, o barulho do chuveiro


me levou à porta entreaberta do cômodo anexo. A
água deslizava pelo seu corpo nu. Dois passos foi
tudo que eu precisei para tê-la em meus braços,
para tê-la em minha boca, para perceber que ela
seria a minha perdição. Ela se entregou e eu a
possuí com meus lábios, contra a parede de
azulejos. Uma língua libidinosa provou o seu gosto,
passeou pela sua pele e encontrou o seu sexo,
profanando a sua parte mais íntima, lambendo a
maciez dos seus lábios, penetrando em seu corpo,
saboreando o seu prazer. Suguei, lascivo, seu
clitóris, fazendo-a estremecer, se contrair, gozar.

– Tudo bem, Emm? – perguntei quando a


abracei, sentindo seu corpo enrijecer. Ela me olhou
nos olhos, insegura. Mas não respondeu. – Vamos
sair deste banheiro – murmurei, suspendendo-a no
colo. Manteve-se silenciosa, enquanto a colocava
sobre a cama. Abri os botões da camisa molhada,
grudada em minha pele. Observava a mulher
despida, entre lençóis, que não desviava os olhos de
mim, sua respiração voltou a se alterar, ela mordeu
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os lábios quando liberei minha ereção, tirando a


última peça.
– Está gostando do que está vendo? –
provoquei.
– Talvez – respondeu sedutora, provocando um
sorriso em meus lábios enquanto me inclinava
sobre ela, afastando uma mecha que caía em seus
rosto.
– Eu quero você, Emm. Eu quero estar dentro de
você – sussurrei, beijando suavemente a sua orelha.
–Eu quero você dentro de mim – murmurou,
beijei sua boca com fome. Abri suas pernas e me
encaixei entre elas, meu membro tocou a sua
entrada. Um pequeno movimento de quadril, e eu a
penetraria sem dificuldade, deslizando minha
espessura entre as paredes molhadas do seu sexo.
Preenchendo-a. Mas não o fiz, queria saborear
aquele momento. Emma seria minha sabendo que
era o meu membro que a possuía. Abri seus lábios
penetrando a ponta rosada e arredonda do meu
pênis, sentindo sua maciez me envolver. Controlei
o ímpeto de meter todo dentro dela, meu coração
acelerou, meus músculos enrijeceram. Ainda não,
respirei fundo. Gozaria entre suas pernas como um
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adolescente, se não me controlasse. Meus dedos


tocaram o seu clitóris, ela estava sensível, gemeu e
se projetou para cima, desejando o encaixe, me
afastei, voltando a beijá-la
– Matt – resmungou.
– Humm...
– Por favor! – suplicou. Como podia ser tão
provocante? Tão, deliciosamente, provocante.
– Você ainda não está pronta – murmurei,
metendo alguns centímetros para dentro do seu
corpo e depois saindo, não totalmente, o suficiente
para ela me sentir, saber que eu estava ali pronto
para penetrá-la, Emma parecia contrariada, se
contorceu embaixo de mim, se esfregando, devassa,
em meu corpo, em meu sexo. Um gemido mais alto
e senti sua vagina apertar a ponta do meu pênis em
uma contração de prazer.
– Agora você está pronta – ofeguei antes de
penetrá-la, sem pressa, queria sentir a maciez do
seu interior me envolver. Emma gritou quando meu
membro a completou. Engoli em seco, sentindo a
devassidão, a luxúria, o pecado de estar dentro dela,
de ser devorado pelo seu corpo, mexi o quadril e a
abandonei, para depois voltar mais sedento. Nossos
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lábios se tocavam, trocando carícias. Cada vez que


me projetava em seu corpo, ela gemia, me deixando
em êxtase – Emm – sussurrei. – Como você é
gostosa. – Mexi mais rápido, sentindo sua pélvis
tocar a minha. Ela me apertou em seu corpo,
massageou meu membro com suas contrações, suas
pernas envolveram o meu quadril, seu sexo se abriu
totalmente para mim e eu finquei mais fundo, gozei
dentro dela, derramando meu sêmen em seu ventre.
Emma ofegava, deliciosa. Fiquei de joelhos, a
puxei para o meu colo, sem sair dentro dela. Emm
entrelaçou suas pernas na minha cintura e tocou
meu peito com a sua face. Minhas mãos deslizaram
pela nudez das suas costas, beijei seus cabelos, um
suave perfume de flores do campo.
Não era só desejo, eu sabia. E se for amor? Senti
um nó na garganta. Eu já havia pensado em amor,
há quatro anos, naquele mesmo corredor. Eu já
havia pensado em desistir de tudo por ela. Mas e
ela? Será que faria o mesmo? E se estivesse apenas
se divertindo? Se vingando da irmã, da família que
a refutou? Essas dúvidas bagunçaram meus
pensamentos. Olhei para a garota em meus braços,

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senti seu corpo tocando o meu, desejei possuí-la


mais uma vez. De repente uma incerteza, fomos
descuidados.
– Emm? Você usa algum método contraceptivo?
– perguntei, ela me olhou nos olhos, ainda
aconchegada em meu peito, suas bochechas
coraram.
– Não – respondeu, mordendo o lábio inferior. −
Eu nunca transei sem camisinha, até agora.
– Só aconteceu duas vezes, acho que não
corremos risco, mas da próxima vez vamos tomar
cuidado – falei inclinando-a sobre a cama. Meu
membro pulsou dentro dela, lambuzado pelo gozo.
Como ser cuidadoso com você? Como controlar
esse impulso de estar dentro do seu corpo? De me
saciar em seu sexo? De provocar sua libido. Olhei
em seus olhos, enquanto me encaixava
pressionando levemente minha ereção, sentindo
meus pelos roçarem seus lábios. Ela estremeceu,
por uma fração de segundos pareceu distante,
pensativa. Será que estava arrependida?
– O que foi? Não quer ter uma próxima vez? –
perguntei tentando disfarçar a minha insegurança. –
Eu quero ter várias próximas vezes com você. E
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vou abrir mão do que for preciso para te ter só pra


mim – confessei. − Eu te deixei escapar uma vez,
isso não vai se repetir. Você é minha.
– E você é meu? – perguntou.
– Nesse momento, você me tem dentro de você.
E esse é o lugar onde eu mais desejo estar. Mais
seu que isso, impossível. – provoquei num tom
irônico e sedutor. Meus lábios envolveram os seus,
minha mão desceu até a sua coxa, a pressionando
contra o meu corpo para que ela sentisse meu pênis
mais fundo. – Você me deixa louco. Eu teria te
possuído no capô do meu Porsche se não tivessem
nos interrompido. E na praia, eu quase arranquei o
seu biquíni. Eu quero você só pra mim, sem
namoradinhos, só eu posso estar dentro de você. Só
eu posso fazer isso. – Tirei meu pênis e meti forte
penetrando fundo, uma, duas, três vezes,...

~§~

Uma batida na porta.


–Senhorita Emma? – a empregada chamou,
angustiada.

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–Sim? Algum problema, Anna? – Emma


perguntou.
– Graças a Deus, a senhorita está. Estou
tentando encontrar o Sr. Stone. O Senhor Rochester
está ao telefone e precisa falar com ele. Parece que
aconteceu alguma coisa com a Senhora Nathalie.
Droga! Saltei da cama procurando a roupa
espalhada pelo chão, Emma vestiu um roupão,
abriu a porta com cuidado e desceu as escadas com
Anna, sem que ela percebesse a minha presença. O
que terá acontecido? Como assim um acidente? De
repente, um acidente acontecido anos atrás, que
mudou completamente a minha vida, voltou a
minha mente. Aquilo não podia estar acontecendo
novamente. Desci as escadas correndo, havia
vestido apenas a calça molhada durante o sexo no
banheiro.
– O que houve? – perguntei, nervoso.
– Se... Senhor parece que aconteceu um
acidente. – Não prestei atenção nas palavras da
garota loira que atendia os Rochester há algum
tempo. Tirei o telefone que Emma tinha nas mãos
antes que ela começasse a falar. Ouvi Robert
Rochester, profundamente abalado, do outro lado
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da linha.

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CAPÍTULO SETE

– Matt...
– Agora não, Emma. Depois conversamos –
Não conseguia olhar para ela, fixei minha atenção
na estrada. A ideia de que eu a perderia me
assombrava. Isso não pode estar acontecendo? Era
algum tipo de castigo? Robert disse que Nathalie
está em observação, o carro colidiu depois que o
motorista perdeu o controle da direção. Olhei de
soslaio para Emma, ela estava inquieta desde que
saímos da mansão, mexia-se no banco, olhava pela
janela, mais de uma vez tentou conversar e eu a
impedi. Vestia-se como uma colegial, calça jeans,
tênis e uma blusa branca de manga curta. Eu usava
preto, calça, camisa e casaco. O que aquela garota
tinha de especial? Nathalie era mais elegante que
ela, era mais educada, mais sofisticada. Emma era...
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era a minha devassidão. Fiz uma curva rápido


demais e ela se desequilibrou, senti sua mão tocar a
minha perna, um choque perpassou o meu corpo,
um simples toque e todas as minhas defesas se
esvaíram.
− Desculpa... – ela murmurou, retirando a mão.
Parei o carro bruscamente, estávamos envolvidos
por dunas, o que acontecesse ali, só teria como
testemunho o vento, que sussurrava um uivo
melancólico, o prenúncio do que estava por vir.
Respirei fundo, tocando a direção com a minha
testa. Demorei a entender que aquilo era desespero.
O desespero de quem não tinha o seu destino em
suas mãos, o desespero de quem sabia, que mais
uma vez, o acaso estava tomando a frente e me
obrigando a seguir um caminho diferente daquele
que eu queria trilhar. Olhei para ela. Era ela quem
eu queria, mas nossos destinos estavam novamente
nas mãos de outras pessoas. Ela me observava, seus
lábios entreabertos, os olhos castanhos, o cabelo
com um cacho, que em desarmonia, cobria sua tez.
Envolvi seu rosto com minhas mãos, meus lábios
tocaram os seus e a beijei, eu não sabia, naquele
momento, que era um beijo de despedida. Eu não
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sabia que seu sabor não sairia da minha memória,


que seu perfume ficaria marcado em minha pele,
que a tristeza do seu olhar assombraria meu sono
em noites de solidão. Eu não sabia, que eu seria o
principal culpado da nossa separação.
– Nós vamos resolver tudo isso, eu prometo –
murmurei, quando finalmente consegui me afastar
de sua boca.
– Eu sei – ela sussurrou.

~§~

Quando entrei no hospital foi como voltar no


tempo, não era o Matthew com quase trinta anos
que estava ali, era o garoto inconsequente que por
pouco não matou o seu pai depois de se envolver
em um acidente. A ideia de castigo voltou a me
assombrar. Procurei por Robert, ele caminhava de
um lado a outro próximo a uma parede de vidro
onde as palavras Emergência estavam grafadas.
– Onde está a Nathalie? – perguntei.
– Mamãe e Trevor estão bem? – Emma
questionou, tão aflita quanto eu.
– Sua mãe machucou o pulso, está fazendo
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alguns exames para descartar outras lesões, Trevor


fraturou a perna e está recebendo atendimento na
Traumatologia e Nathalie está em observação, ela
está com uma pequena hemorragia e os médicos
estão tentando descobrir o que houve.
– Onde ela está? Quero vê-la? Quero falar com
o médico? – Hemorragia? Como assim
hemorragia? Será que perfurou algum órgão? A
culpa, a mesma culpa pelas escolhas erradas. Eu
deveria estar com ela, isso não teria acontecido.
Inferno!
– Calma, Matt! Temos que aguardar – diferente
de mim, o senhor Rochester conseguia controlar
suas emoções, estava nervoso, era perceptível, mas
não demonstrava.
–E você papai? Está se sentindo bem? – Emma
perguntou, só então olhei para os braços do homem
a minha frente, havia algumas escoriações e um
curativo cobrindo um ferimento maior na altura do
ombro.
– Estou bem, Emma – explicou acalmando a
filha. − Já fiz alguns exames e depois farei outros,
mas estou bem.
– Quem estava dirigindo? – questionei − Como
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aconteceu o acidente? Algum motorista imprudente


cortou vocês? Eu processo esse canalha!
– Não houve imprudência. Trevor pediu para
dirigir e eu cedi. Numa curva muito fechada, talvez
por causa da chuva, não sei, ele se perdeu e
acabamos batendo em uma árvore. Todos estavam
com o cinto, mas Trevor e Nathalie estavam nos
bancos da frente e se machucaram mais. – Eu já
tinha motivos suficientes para não gostar daquele
garoto, agora mais isso.
Uma enfermeira, de meia idade, cabelos negros
levemente grisalhos surgiu no corredor
acompanhando Mary Anne. O pulso de minha
sogra estava enfaixado, sua face era pálida e sua
boca levemente arroxeada. Robert a ajudou a
sentar-se em uma poltrona de couro marrom, a sala
estava repleta delas. Algumas pessoas,
acompanhantes de pacientes que estavam
recebendo atendimento, ocupavam parte daqueles
sofás. Emma auxiliou o pai e depois ajoelhou-se ao
lado da mãe, eu estava a ponto de explodir,
precisava saber notícias de Nathalie.
– Estou bem, querida. – a voz sempre suave de
Mary Anne soou no recinto silencioso. − Não
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quebrei nada, foi só uma torção. E sua irmã? Como


ela está?
– Fazendo exames, querida – foi Robert quem
respondeu.
Eu não conseguia ficar parado sem notícias,
havia um turbilhão de sentimentos me atordoando:
culpa, raiva, impotência. Eu era um homem
controlador, pelo menos pensava que era. Somente
uma pessoa fazia eu perder o controle e essa pessoa
estava a algum metros de mim, Emma.
− Por que estão demorando tanto para dar
notícias? – esbravejei.
− Eu vou falar com o médico responsável pelo
plantão – Robert anunciou.
− Não há necessidade, Senhor Rochester, eu
vou. – Não olhei para Emma, mas sabia que ela me
analisava. Será que estava preocupada com o
namoradinho? Claro que estava. Não encontrei
nenhum responsável pela administração do
Hospital para me atender. O único médico
plantonista estava com Nathalie. Fiz algumas
ligações que não resultaram em nada. Todos me
mandavam aguardar. Trinta longos minutos se
passaram, sem saber o que havia acontecido com a
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minha esposa. Desliguei o celular depois que


consegui, finalmente, falar com o coordenador do
Hospital, ele me garantiu que o Doutor Clive me
atenderia em seguida, neste momento Trevor entrou
na sala de espera sentado em uma cadeira de rodas,
a perna enfaixada. Emma correu ao seu encontro.
– Desculpa, linda. Não queria estragar seu final
de semana. – falou com a voz arrastada, estava sob
o efeito de anestésicos.
– Você não teve culpa de nada. Foi um acidente.
Você não conhecia o carro, nem a estrada, ninguém
morreu e todos vão ficar bem – ela respondeu
acariciando o rosto do cara. Engoli em seco,
assistindo o garoto beijar a sua mão.
− Os familiares da Senhora Nathalie Stone? –
um homem, que deduzi ser o tal Doutor Clive,
perguntou ao entrar no recinto.
– Ela é minha esposa – respondi me
aproximando do homem alto e magro vestido de
branco, com um semblante cansado e de
preocupação. − Como ela está?
– Ela está bem, Senhor Stone, está medicada e
descansando, ficará em observação até amanhã. –
respondeu com voz pastosa. − Depois poderá ir
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para casa, terá que ficar em repouso por algum


tempo. Mas, lamento informar que não
conseguimos salvar o bebê.
– O bebê? – Um nó se formou em minha
garganta, senti que ia sufocar. – Ela estava grávida?
– O senhor não sabia? – O homem me examinou
curioso. −Estava com quase oito semanas de
gestação – completou parecendo constrangido. – Eu
sinto muito. Se o Senhor quiser vê-la, ela estará
sendo encaminhada para um quarto particular em
poucos minutos. Agora, se me dão licença, tenho
outros pacientes para atender. − Fechei minhas
mãos em punho, uma lividez tomou conta do meu
corpo, eu queria matar o desgraçado que assassinou
o meu filho. Olhei para o homem na cadeira de
rodas, ele segurava a mão dela. Caminhei a passos
largos até ele, ele ia pagar pelo que fez, não
pensava mais, estava fora mim, não controlava
meus atos. Emma impediu que me aproximasse,
ficando entre nós dois.
– Sai da frente, Emma. – gritei. − Eu quero
acertar as contas com esse assassino.
–Não. Você não vai tocar no Trevor, Matt –
disse me encarando. Olhei para os seus olhos. Por
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que o defendia? Ele matou o meu filho. − Acalme-


se! Foi um acidente. Ele não tem culpa do que
aconteceu.
– Está defendendo o seu namoradinho? –
perguntei fuzilando-a com olhar. Como pode dar
razão a ele? Como pode defendê-lo depois do que
ele fez com a sua irmã?
–Eu sinto muito – o idiota balbuciou da cadeira
de rodas.
– Cala boca, assassino! Você matou o meu filho
– esbravejei avançando em sua direção, Emma
tentou me impedir, mas eu segurei-a pelos ombros
e a tirei da minha frente. − E eu não vou te perdoar.
Você vai pagar por isso! – disse a um passo dele,
foi Robert quem me impediu de desferir um soco
no homem ferido e indefeso. Ele me segurou por
trás, apesar de ser mais velho, era forte, praticava
esporte e tinha um físico atlético. Eu tentei me
desvencilhar das suas mãos, Emma correu até o
namorado e o abraçou. Aquilo foi a punhalada de
misericórdia. Fui tomado por um sentimento que
até então desconhecia, um sentimento de perda,
mas perda de quê? Ela nunca foi minha, Emma
havia feito a sua escolha, e eu não fazia parte dela.
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Naquele momento quis machucá-la, queria que ela


percebesse que também não significava nada para
mim. Que foi apenas uma diversão.
– Suma com esse seu namoradinho daqui! –
esbravejei, entredentes− Você só aparece para
estragar as nossas vidas – disse dando as costas e
saindo daquele lugar. Caminhei até o banheiro e
chorei, esmurrando a parede de cerâmica branca.
Sentia-me sufocar, sentia-me perdido. Inferno, eu
era um fraco! O velho Stone tinha razão.

~§~

− Como você está? – perguntei quando ela


despertou.
− Estou bem – murmurou. – Você passou a
noite sentado nessa poltrona? – eu me aproximei e
beijei a sua testa.
− Sim. Queria estar ao seu lado quando
acordasse – ela sorriu. Será que sabia o que havia
acontecido? Será que sabia que estava esperando
um bebê?
− Nossa, acho que vou me acidentar mais vezes
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para ter a sua atenção.


− Eu sei que o nosso casamento não é
exatamente o que você sonhou. Mas eu prometo
que isso vai mudar, Nathalie – engoli em seco,
sentindo todo o peso da minha culpa.
− Eu nunca reclamei de nada, querido. Eu
entendo e admiro a sua preocupação com os
negócios. Sei que sempre que pode está ao meu
lado – senti sua mão gelada tocar a minha face. Eu
a cobri com a minha, beijando sua palma.
− Eu preciso te contar algo... eu, você teve uma
hemorragia causada pelo impacto que sofreu
durante o acidente.
− Hemorragia? – ela me observou confusa e sua
mão foi até o seu ventre.
− Por que não me contou que estava tentando
engravidar?
− Eu estou grávida? – perguntou arregalando os
olhos, atônita, não sabia se estava feliz ou
assustada.
− Não – respondi, não contendo as lágrimas. –
O bebê, o nosso filho... você sofreu um aborto por
causa do acidente – completei, envolvendo-a em
meus braços. Ela chorou. Depois respirou fundo,
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acariciou meu rosto, secando minhas lágrimas.


− Eu queria que fosse uma surpresa – disse. –
Sabia que te faria feliz, por isso não contei antes.
− Deveria ser uma decisão de nós dois – Se eu
soubesse...
− Você está bravo comigo? – perguntou
angustiada.
− Não, claro que não. Mas eu não teria deixado
você sair em um dia chuvoso, por exemplo? Eu
teria te coberto de cuidados se soubesse que você
carregava o nosso filho.
− Somente por isso? – questionou ofendida.
− Não, Nathalie. Você entende que era uma
situação especial, que eu jamais te deixaria sozinha
por tanto tempo. Você deveria ter me contado, eu
me sinto culpado... você me perdoa?
− Matt, não diga isso. Você me dá tudo o que
peço. Nunca me questionou sobre meus gastos,
minhas viagens.
− Mas isso não deve bastar. Eu sou um marido
relapso, eu vivo para a Stone e não para você –
confessei.
− Não, você é exatamente como eu gosto que
seja. Esse homem poderoso, inteligente e perspicaz.
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Foi por esse Matthew que me apaixonei, pelo


Matthew, executivo, o CEO implacável na hora de
fechar um negócio. É desse homem que preciso ao
meu lado.
−Acho que vou pedir para o meu pai passar uns
dias com você – comentei, ela acabara de descrever
o homem que odiei durante toda a minha vida, o pai
ausente, autoritário e, muitas vezes, cruel.
− Bobo – Nathalie disse dando um tapinha em
meu peito. Eu estava sentado ao seu lado na cama
do hospital. Ela teria alta em breve. Voltaríamos
para a Mansão onde os convidados para a festa, de
comemoração das Bodas de Prata dos seus pais, já
deviam estar chegando.
− Você quer ir à festa? Posso chamar um
helicóptero e voltarmos para casa. Lá você poderá
descansar.
− Nem pensar, eu estou ótima – disse tentando
levantar-se. Eu a impedi.
− Espera o médico, ele dirá se está liberada para
sair.
− Quanta bobagem – resmungou.

~§~
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Ela recebeu alta. E realmente estava bem,


divertiu-se na festa dos seus pais, caminhou entre
os convidados, conversou e bebeu, quando eu não
estava por perto para impedi-la. Parecia totalmente
recuperada, eu a seguia, a cobria de cuidados,
Nathalie se divertia com aquilo, como se estivesse
encenado. Por vezes, me irritei com a sua falta de
sensibilidade, parecia não se importar com a perda
do nosso filho.
No começo, pensei que era negação, mas com o
passar do tempo, percebi que minha esposa,
realmente, não se abalou com aquele triste
acontecimento. Uma cirurgia estética foi marcada
para retirada de uma flacidez imaginária em sua
barriga e a possibilidade de uma futura gravidez foi
descartada.

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CAPÍTULO OITO

Emma voltou a ser assunto proibido na Família


Rochester, principalmente, quando Nathalie estava
presente. Mas isso não durou muito tempo. Alguns
meses depois do acidente, Mary Anne comentou
que a filha mais nova estava morando na Europa e
não pensava mais em retornar. Decidi que aquilo
não ia me abalar, mas não foi o que aconteceu.

~§~

− Tudo bem, Matt? – Greg perguntou,


caminhávamos pelos corredores da Stone. Eu
estava irritado e havia gritado com a Senhorita
Jack, minha secretária, por causa da demora em
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uma ligação. Ele presenciara a cena.


− Nós temos algum negócio para fechar na
Itália? − perguntei depois de um longo silêncio. −
Florença, para ser mais exato.
− Florença? O que pode haver em Florença que
interesse à Stone?
− Emma Rochester – deixei escapar. Estava
exausto, precisava desabafar com alguém, vivi os
últimos meses procurando Emma na multidão, a
ideia de que o destino nos colocasse frente a frente
em uma tarde qualquer, me fazia sobreviver aquela
distância, mas desde que soube que isso não
aconteceria, ir atrás dela se tornou uma obsessão.
Greg me olhou estupefato.
− Emma? A Emma cunhada? – senti a malícia
em sua voz.
− A Emma cunhada – concordei, entrávamos no
elevador, onde funcionários da Stone nos
cumprimentaram com demasiada cortesia. Acho
que o meu humor já era assunto em todos os
setores, pensei observando o constrangimento do
grupo que, geralmente, me tratava como um igual.
Descemos em silêncio, a ideia era ir para casa, onde
minha esposa não me esperava. Depois da última
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discussão, ela havia viajado para uma temporada


em um Resort no mar do Caribe, mas Greg não iria
me deixar em paz sem que eu terminasse o que
havia começado e, naquele momento, eu queria
ouvir a opinião de outra pessoa, mesmo que essa
pessoa fosse o irresponsável sentimental do meu
amigo.

~§~

− Agora, me explica essa história – disse


quando sentamos à mesa de um pub e pedimos uma
cerveja.
− Não tem história, Greg – falei colocando as
mãos na cabeça e me descabelando. Afrouxei a
gravata e abri os primeiros botões da camisa branca
que usava sob o terno importado. O ruivo me olhou
por alguns instantes, enquanto duas garrafas de
pilsen eram colocadas sobre a mesa por uma
garçonete loira com trancinhas, usando uma
minissaia preta e uma camisa branca amarrada
acima do umbigo. – Eu estou apaixonado por ela –
confessei quando a loira se afastou. – Eu amo
Emma Rochester – repeti emborcado a garrafa e
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bebendo seu líquido. Terminei batendo o casco


sobre a mesa e fazendo sinal para que a garota de
sorriso largo trouxesse outra. Greg parecia
hipnotizado, me olhava boquiaberto.
− Como? – disse finalmente. – Como isso
aconteceu? Vocês? Vocês ... – tive vontade de rir
da ironia de ver meu colega com dificuldade em
falar sobre o seu assunto preferido, sexo. – Vocês
transaram? Treparam? Foderam? Cara, você comeu
a tua cunhada? – Ele fez aquilo parecer sujo, não
era sujo, não podia ser sujo o que eu sentia por ela.
A minha demora em responder fez ele tirar suas
próprias conclusões. – Quando? Vocês não se viam
desde o casamento ou se encontravam as
escondidas?
− Não! – falei alto demais chamando a atenção
dos ocupantes das mesas vizinhas. Apesar do
burburinho normal dos bares, naquele horário ainda
estava com poucos clientes e a música soava num
volume que não atrapalhava as conversas. – Eu não
traí a Nathalie, não desde o casamento... – corrigi.
− No casamento? – Greg colocou as mãos na
cabeça. – Você e a Emma?
− Nós não chegamos a... quase, ela invadiu o
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meu quarto e a coisa ficou quente.


− Detalhes, Matthew.
− Não, eu não vou contar pra você o que
aconteceu. Pode esquecer.
− Se não falar vou imaginar as coisas mais sujas
e você sabe que eu sou bom nisso – ameaçou.
− Nós nos tocamos e só.
− E depois?
− Depois você sabe – continuei, já arrependido
de ter começado aquela conversa. – Ela apareceu na
cerimônia e fez aquele escândalo e depois sumiu
das nossas vidas.
− Até as bodas dos Rochester. Ela não estava na
festa, mas havia um murmúrio que havia sido
expulsa da família novamente. – O assunto acidente
havia se tornado sigiloso, não que houvesse uma
combinação, mas todos os envolvidos não pareciam
dispostos a tocar no assunto. – Nós estávamos
naquela reunião com o grupo de Nova York,
reunião que você fez questão de marcar para
protelar a sua ida à Mansão Rochester, mas depois
que a Nathalie ligou, você não sossegou enquanto
não terminássemos, ela ligou pra contar que a
Emma estava em Saline, não foi?
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− Foi – Greg me conhecia bem demais para


mentir. – Eu voei para Saline mais cedo porque
precisa vê-la e ter certeza que aquilo que eu ainda
sentia não passava de desejo, de tara de macho, sei
lá? – confessei envergonhado. Eu precisava saber
se ela sentia o mesmo, essa era a verdade. Mas eu
não descobri. Emma era uma incógnita, agiu como
se o que aconteceu no meu quarto há quatro anos
não significasse nada, nem remorso. Eu dei a
entender diversas vezes que a queria só para mim,
que largaria tudo por ela e ela, em nenhum
momento, demonstrou que faria ou que desejava o
mesmo. E quando defendeu o namorado, aquilo foi
o gatilho para que eu fosse atingido por uma fúria
que misturava ciúmes, raiva e desespero. Eu teria
batido nele, teria batido em um homem indefeso. O
homem que provocou a morte do meu filho, o
homem que ficou com a mulher que eu... (engoli
em seco) amava.
− Pelo menos satisfez a sua tara de macho? –
Greg perguntou malicioso, o que fez dar-me conta
da bobagem que havia feito ao contar aquele
segredo para ele. Para Gregory Michels tudo se
resumia a sexo, ele era incapaz de perceber que não
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era disso que eu estava falando.


− Vá pro inferno!
− E você vai comigo, mas para Florença é que
você não vai – completou enfático, eu o encarei.
− Veremos – provoquei bebendo o restante do
líquido da garrafa. No dia seguinte pediria à
Senhorita Jack para marcar o voo. Emma tinha que
saber que eu a amava.

~§~

Não houve viagem para Florença, meus pais


apareceram para uma temporada na Capital, que
durou exatamente três meses. Ele, totalmente,
recuperado do último infarto, viajou comigo pelo
mundo conhecendo todas as novas sedes da Stone,
cada uma responsável por um segmento, evitando a
Itália por um motivo que eu desconfiava. Mais de
uma vez coloquei Greg contra a parede tentando
descobrir se ele tinha alguma coisa a ver com
aquele súbito interesse do velho Stone pelos
negócios, mas ele negou com tanta veemência, que
acreditei. A bela Julianne Stone, minha mãe, nos
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acompanhou. Nathalie, contrariada, permaneceu


apenas alguns dias, voltou para a Capital com a
desculpa de trabalhos voluntários, que eu sabia não
passar de fachada para outros compromissos não
tão glamorosos. Entre idas e vindas e com a
presença frequente dos meus pais, nosso casamento
tornou-se insustentável. Assim que os Stones
partiram, decidimos dormir em quartos separados.
Ela concordou sem questionar, terminavam as
constantes reclamações referentes ao meu horário
de trabalho, que atrapalhavam o seu descanso.
Minha esposa mostrava-se a cada dia mais frívola e
fria.

~§~

− Precisamos conversar – falei para a garota que


surgiu em minha vida em um momento de caos,
quando a culpa, pela doença do meu pai, me
dominava. A bela caloura que se ofereceu para
fazer parte da minha vida e eu aceitei. Como
acabamos assim, Nathalie? Pensei que seríamos
felizes, pensei que nossa união seria tranquila,
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éramos tão parecidos antes do casamento. Você era


previsível e isso me dava a segurança que eu
necessitava na época. Com o tempo esse seu
comportamento passional se tornou irritante, ficou
óbvio que você era dissimulada. Não conseguiu
interpretar a esposa apaixonada por muito tempo,
queria viver intensamente a vida extravagante da
alta sociedade. Se transformou em mais um corpo
perfeito com uma mente vazia. Até que ponto a
culpa era minha? Eu me apaixonei por outra no dia
do nosso casamento. Tentei esquecê-la, tentei amar
a mulher que, agora, descia as escadas usando um
sensual vestido vermelho. Ela era linda e estava
mais linda a cada dia. Fazia procedimentos
estéticos com frequência corrigindo o que
considerava imperfeições.
− Estamos atrasados – disse com um sorriso
sedutor. − Pensei que não iria, querido? –
Tínhamos um compromisso juntos? Fazia tanto
tempo que isso não acontecia que eu não fazia ideia
do que ela estava falando. Eu havia voltado mais
cedo para casa com um objetivo e não deixaria que
ela saísse sem que eu dissesse a que vim.
− Precisamos conversar antes de sair – repeti.
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− Mas meus pais devem estar esperando.


Esqueceu que é o aniversário da mamãe? E eles não
gostam de atrasos.
− Não esqueci – menti.
− Então troque-se, Matt – falou passando a mão
na minha gravata. – Apesar de você estar bem
sedutor com esse terno.
− Você quer alguma coisa, Nathalie?
− Por que a pergunta? Não posso elogiar o meu
marido?
− Vamos concordar que isso não acontece há
muito tempo e, se não me engano, a última vez que
você se aproximou carinhosa era porque queria
comprar uma casa em Malibu, porque uma de suas
amigas tinha uma casa naquela praia.
− Matthew! – exclamou fingindo mágoa.
− O que você quer dessa vez?
− Eu acho que a nossa casa está pequena
demais, acho que merecemos uma casa maior e eu
soube de um condomínio perto do litoral, muitos
dos nossos amigos estão se mudando para lá. Acho
que seria um lugar excelente para morarmos e
ampliar as nossas relações sociais.
− Excelente ideia! – falei sem pestanejar. Ela
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me olhou surpresa.
− Sério? – disse com um sorriso que foi de
orelha a orelha
− Sim, você tem a minha autorização para
comprar uma mansão nesse condomínio e se mudar
para lá assim que estiver pronta – Nathalie me
olhou confusa.
− Como assim? Você falou de um jeito que
parece que eu vou sozinha.
− Exatamente – disse me afastando do seu
toque. – Vamos nos separar Nathalie. Conversei
com o meu advogado e ele já está providenciando
tudo.
− Não! – sua voz saiu esganiçada – Eu não vou
me separar de você, nunca!
− Por que não? Não dormimos no mesmo quarto
há meses, não temos intimidade desde que você...
desde o acidente.
− Se é por isso podemos subir agora para o
quarto, meu amor! – Falou se aproximando e
envolvendo o meu pescoço com suas mãos geladas,
tão frias quanto a sua proposta.
− Não é isso que está em questão, Nathalie –
esbravejei, segurando as suas mãos para evitar o
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toque. − Não há amor, não há cumplicidade.


Vivemos como estranhos nessa casa.
− Então ama outra? É isso, Matthew? Tem outra
mulher em sua vida?
− Por favor, Nathalie, sem cena de ciúmes. Isso
não combina com você.
− Então não nega que está apaixonado por
outra? – Eu ia negar, mas como encontrar a outra
fazia parte dos meus planos, não neguei. Ela
saberia, em breve, que existia outra e saberia quem
ela é.
− Amanhã, o meu advogado irá procurá-la para
fecharmos um acordo, você receberá tudo que tem
direito.
− Eu não quero o seu dinheiro, eu sou uma
mulher rica, esqueceu?
− Então não teremos problemas com a
separação. Excelente! – dei as costas e estava
subindo as escadarias de mármore que me levariam
para o segundo andar da mansão que Nathalie havia
decidido que era pequena demais para nós dois.
− Eu quero o seu prestígio! – Ela gritou as
minhas costas. – Ser esposa de Matthew Stone
abriu as portas da alta sociedade para mim e disso
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eu não abro mão. – Olhei perplexo para ela, nem


uma lágrima em seu rosto, sua face permanecia
maquiada e bela, a única coisa que havia se
modificado era o olhar, Nathalie tinha um olhar
felino, ameaçador. – Eu me mudo, eu vou morar
longe de você, você pode ficar com a sua amante,
não me importo, mas não torne isso público. Eu
serei a Senhora Stone, a única Senhora Stone.
− Eu não estou negociando com você – nesse
momento o celular de Nathalie tocou em sua
pequena bolsa de tecido vermelho. Parei de falar
para que ela atendesse ou desligasse o aparelho
barulhento.
− Inferno! – esbravejou quando viu na tela a
identificação de chamada. – Eu vou atrasar, mãe! –
gritou. – Que dane-se a tia Susan, ela que espere! –
O nome da tia, que levou Emma para a Europa,
despertou a minha atenção. – Eu estou esperando o
Matthew terminar de se arrumar – falou me
encarando, desafiadora. Mal sabia ela que havia me
dado um motivo para acompanhá-la àquele jantar. –
Não se preocupe, não atrasaremos mais. – desligou
o telefone e me olhou, desafiante. − Sobre o que
falávamos, meu amor?
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− Vamos ao aniversário de sua mãe, depois


continuaremos a nossa conversa – concordei.
Nathalie sorriu triunfante.

~§~

Susan, a irmã de Mary Anne, estava sozinha.


Emma permaneceu na Europa. Fazia quase dois
anos que ela havia partido e que eu não tinha
notícias, eu iria atrás dela assim que o divórcio
fosse assinado, nada iria me impedir.
− Como vai, Matthew? – Susan se aproximou
com uma taça de vinho na mão. Estávamos no
jardim da casa dos Rochester. Os convidados, em
torno de sessenta pessoas, se divertiam na parte
interna, onde uma pequena orquestra tocava
músicas da década de cinquenta.
− Bem, pensando em conhecer o ar da Toscana
– comentei propositalmente.
− Não se arrependerá, mas talvez Nathalie não
encontre o glamour que está acostumada em nossos
vinhedos. – respondeu com certa ironia. Sabia que
eu não caia em seus agrados. Ela sempre esteve ao
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lado da sobrinha mais nova. Cuidou de Emma


quando a família a renegou.
− Penso em ir sozinho – confessei. Ela não
respondeu, bebeu o líquido vermelho em um único
gole e quando vi que iria se afastar fiz a pergunta
que estava presa em minha garganta. − E Emma? –
Ela me olhou por uma fração de segundo, tentando
decifrar qual era a minha intensão.
− Muito bem – respondeu com naturalidade. –
Está feliz, apaixonada. −Engoli em seco. –
Encontrou o verdadeiro amor, alguém que vai fazê-
la feliz. Como ela mesma diz: O homem da sua
vida.
− Estou contente por ela – disse cerrando o
maxilar.
− Sei que pra você é indiferente – acusou. – Mas
faço questão que saiba, Emma é feliz e não pensa
em voltar. Aliás, pode ficar tranquilo e tranquilizar
sua esposa. Ela não quer mais ver aqueles que só
souberam lhe oferecer ódio e desprezo.

~§~

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Eu a amava a ponto de deixá-la ser feliz com


outro alguém? Ou não suportava a ideia de ser
rejeitado se a procurasse? Não consegui responder
aquelas perguntas, mas também não consegui ir até
ela. A ideia de vê-la com outra pessoa me fez
recuar. Naquela noite, tentei fazer um acordo com
Nathalie, foram meses de discussões intermináveis,
até que ela apresentou um contrato com suas
imposições para que o divórcio fosse assinado.
Deveríamos fingir que ainda éramos casados. No
começo achei ridículo, mas com o tempo, aquela
imposição infantil da minha esposa pareceu atrativa
e o divórcio foi assinado em um ato secreto, apenas
nossos advogados saberiam e estes assinaram um
pacto de sigilo.
Eu me mudei para um apartamento e ela para o
condomínio de luxo. Constantemente me
importunava com sessões de fotos, para
acompanhá-la em algum compromisso social ou em
família. Foi a maneira que encontrei de me manter,
de alguma forma, ligado aos Rochester, ligado à
Emma. Eu esperava esquecê-la, contava com isso.
O tempo teria que ser generoso e transformá-la em
uma doce lembrança do passado.
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CAPÍTULO NOVE

− O Senhor Hiroshi chegou para a reunião,


Senhor Stone – tirei os olhos dos documentos que
examinava e olhei para Yumi, uma jovem
secretária designada pela diretoria para me
acompanhar durante a minha estadia na capital
japonesa. Não tinha mais que trinta anos, era alta,
magra e com cabelos negros e sedosos, presos em
um coque perfeito na altura da cabeça. Há quanto
tempo não saio com uma mulher? Desde a
separação não me interesso por alguém em
especial, alguns casos com mulheres que se
pareciam com ela, mas em vez de me fazerem
esquecê-la, me traziam a angústia de saber que ela
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era de outro, que havia outro homem tocando o seu


corpo, beijando os seus lábios, compartilhando o
seu sorriso, o seu jeito inconsequente e, às vezes,
inseguro de se deixar amar.
− Acompanhe-o até a sala de reuniões,
Senhorita Kimura.
− Sim, Senhor.
− Irei em breve – concluí, organizando alguns
papéis em uma pasta de couro marrom com a letra
S impressa em baixo relevo. Peguei o celular que
repousava sobre a mesa e pensei em ligar para o
Greg, ele ainda não havia enviado os gráficos com
as últimas movimentações financeiras da Nakajima.
Precisava ter certeza que aquele negócio era
confiável, tinha interesses naquela aquisição.
Procurava o número do cara que estava ao meu
lado desde o começo da minha história na
presidência da Stone, quando o telefone tocou.
Olhei para o nome Robert na tela e demorei a
perceber que era o meu sogro. Havia meses que não
conversávamos, quase um ano para ser mais exato.
Eles pareciam não se importar com isso, nem
mesmo Nathalie me importunava mais exigindo a
minha presença nas celebrações familiares. Por isso
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estranhei aquela chamada.


− Olá, Robert – cumprimentei.
− Como está, Matthew? − a voz do homem do
outro lado da linha era abafada, parecia cansado ou
falava em um tom quase inaudível, como se
sussurrasse. Não esperou que eu respondesse a sua
pergunta. – Nathalie está com você? Preciso
encontrá-la.
− Não, eu estou no Japão e Nathalie está
viajando com um grupo de amigos. – Não arrisquei
dizer o lugar exato onde estava minha ex esposa,
porque eu não sabia, apesar da minha secretária
sempre ter anotado os seus destinos, uma exigência
dela, que considerava fundamental para o nosso
papel de casal feliz, que o marido soubesse onde se
encontrava a sua amada.
− Sua secretária me disse que ela está em um
Resort no Pacífico, a minha esperança era que você
estivesse com ela – disse angustiado, aquele
comportamento era um tanto estranho para o
Senhor Rochester, o que me deixou preocupado.
− Está tudo bem, Robert? – perguntei sentido
um aperto no peito enquanto aguardava a sua
resposta, ele demorou alguns segundo para
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responder, parecia que ponderava se eu era


merecedor de uma resposta ou não.
− É só coisa de velho – falou finalmente. –
Quero voltar a ver minha família reunida.
− Família reunida? – repeti tentando decifrar
aquela informação. Isso significava que...
− Sim, quero que Nathalie venha nos visitar,
Emma está de volta – engoli em seco. – E
queremos que as coisas se ajustem, chega de brigas
e desentendimentos. Preciso que minhas filhas se
entendam e espero poder contar com você para
isso.
− Claro, certamente – minha voz saiu
entrecortada. – Entrarei em contato com Nathalie o
mais breve.
− Obrigado, Matthew. Sei da sua divergência
com Emma, mas por favor, Mary Anne sentiu
muito a distância da nossa filha e agora que ela
voltou, por pouco tempo, talvez, queríamos selar
um pacto de paz e vivermos finalmente como uma
família. Posso contar com você para que isso
ocorra?
− Sim, Senhor Rochester.
− Obrigado – a ligação se silenciou. Olhei para
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o relógio, era noite no Japão, era manhã na Capital.


− Senhorita Kimura, venha até a minha sala
imediatamente – ordenei pelo interfone.
− Sim, senhor – ela disse ao entrar.
− Chame o Senhor Yamada.
− Ele está com o senhor Nakajima, aguardando-
o para a reunião.
− Pois peça para ele vir até a minha sala agora!
– ordenei enfático. A mulher não falou mais nada,
saiu a passos largos e retornou com a presença do
homem de baixa estatura e ombros largos. O CEO
da Stone em Tóquio, Ken Yamada. – Preciso que
coordene a reunião com Nakajima, quero que o
convença a esperar mais alguns dias antes de fechar
o negócio com qualquer outro, prometa que a nossa
oferta será a mais atraente.
− Mas por que o Senhor mesmo não faz isso?
− Porque estou voltando neste momento para a
Capital. – O homem me olhou perplexo.
− Mas...
− Não se considera capaz de cumprir a ordem
dada, Ken? – ele pareceu lívido.
− Não... quer dizer, sim, Senhor Stone. Eu sou
capaz de fazer isso – gaguejou.
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− Ótimo, excelente. E a Senhorita? – Virei-me


para a desconcertada Yumi. − Por que ainda está aí
parada? Veja como faço para fretar um avião que
me leve ainda hoje para o outro lado do planeta.
− Sim, senhor.
~§~

Quando há dinheiro, nada é impossível. Minha


viagem de retorno estava prevista para dali a cinco
dias, depois de muitas ligações conseguimos um
jatinho que me trouxe de volta, mais algumas
ligações e descobri onde encontrá-la. O destino
estava a meu favor, Emma não havia se hospedado
na casa dos pais, estava em um hotel, em um dos
meus hotéis. Quando recebi aquela informação,
sorri. Estava exausto, mas assim que desembarquei
no aeroporto peguei o carro e fui direto ao
Masterson.

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CAPÍTULO DEZ

Ela ainda era Senhorita Rochester, um sorriso


bobo se desenhou em meus lábios quando o
recepcionista confirmou sua reserva no quarto
1101. Caminhei de um lado a outro, minhas mãos
iam da barba rala, que havia adotado nos últimos
meses, aos cabelos, já em desalinho, vítimas do
meu nervosismo. Voltei ao carro, não queria
chamar a atenção dos funcionários. As horas se
arrastaram. Estava exausto, beirando ao sono. Será
que ela voltaria? Será que não decidiu ficar com os
pais? E se não estivesse sozinha? Ainda usava o
nome de solteira, mas não lembrei de verificar se
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havia se hospedado com alguém. Aquelas


perguntas me atordoavam. Cada hóspede que se
aproximava do hall de entrada do hotel deixava
meu coração aos pulos. E não foi diferente quando
a garota, usando um vestido justo, entregou as
chaves do carro para o manobrista e subiu as
escadas em direção ao saguão do hotel. Era ela, eu
sabia que era ela, atravessei a rua a passos largos,
ela parecia ter pressa, desviava de todos enquanto
seguia em direção aos elevadores. Consegui
alcançá-la no momento que seus dedos finos e
longos selecionavam o décimo primeiro andar, ela
percebeu a minha presença mas afastou-se. Suas
costas, tocaram as paredes do lado oposto do
elevador e só então, ela me encarou. Não se vestia
mais como uma garota, era uma mulher linda,
independente, diretora executiva de uma editora de
livros na bela Toscana. O que eu sentia por ela até
aquele momento, mas veio mais forte, arrebatador.
O simples fato de tê-la ali, tão próxima, me deu a
certeza de que era assim que eu a queria para o
resto da vida, ao meu lado. Mas ela, mais uma vez
se afastou, me deixando com aquela sensação de
insegurança, que me enfurecia. Eu não pronunciei
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uma palavra apenas a observei, saboreando cada


detalhe seu, enfeitiçado. O elevador parou, pensei
que um hóspede iria interromper aquele momento,
mas quem entrou foi a Senhorita Muller, a gerente
do hotel.
– Senhor Stone, não esperávamos o senhor hoje.
Vai passar a noite? – perguntou a loira
inconveniente. − Podemos preparar a sua suíte.
Estou aqui para acompanhá-lo e atender todas as
suas necessidades. – Eu mal prestava a atenção no
que ela falava, meus olhos não conseguiam desviar
da garota de cabelos longos que me fuzilava com
seus lindos olhos castanhos. Como eu queria que
aquilo fosse ciúmes.
– Obrigado pela sua atenção, senhorita Muller –
disse tentando me livrar da mulher. − Mas estou
aqui para resolver um assunto pessoal, vim visitar
um hóspede e não quero ser importunado. Também
não quero que a minha estadia nesse hotel seja
divulgada. Entendeu?
– Sim, senhor – ela respondeu. – Mas se o
senhor precisar de algo, estamos todos a seu dispor.
– Eu sei, Senhorita Muller. Eu sou o dono desse
hotel, esqueceu? – falei com certa grosseria. −
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Agora se me der licença, tenho assuntos a resolver.


– concluí apertando um botão no painel, que fez o
elevador parar. Ela hesitou, mas desceu.
Emma caminhou até a porta, ficando de costas
para mim. Continuava me ignorando. Eu sabia que
o seu quarto ficava no próximo andar, mas não era
para lá que ela iria. Ela só não sabia disso ainda. O
elevador parou, e antes que as porta se abrissem
acionei o botão para que permanecessem fechadas.
–Você não vai a lugar nenhum, Emm – sussurrei
me aproximado.
– Você não tem um encontro? Deixe–me sair –
exigiu me encarando.
– Você é o meu encontro – respondi chegando
bem perto a ponto de sentir seu hálito me tocar, me
inebriar.
– Nós não temos nada pra conversar – disse me
olhando nos olhos. Naquele momento, a última
coisa que eu pensava era em conversar com ela. –
Eu tenho um compromisso e estou atrasada – um
murmúrio rouco atingiu meus ouvidos, fazendo
meu corpo aquecer.
– Cancela – sussurrei roçando meus lábios aos
seus. O elevador parou no último andar, mas as
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portas só se abririam ao meu comando. Emma


voltou a se afastar. – Eu viajei meio mundo pra te
encontrar, Emma. E você não vai fugir de mim
dessa vez.
– Se não me falha a memória, eu não fugi −
disse com empáfia, o que a deixou mais atraente. −
Fui expulsa por você. Mas isso é passado, não tem
mais nenhuma importância, afinal tivemos algo
insignificante, agora abra essa porta. Eu quero sair!
– Ela estava encostada no espelho que revestia a
parede interna do elevador. Um passo e eu tinha
seu corpo junto ao meu.
– Quando o seu pai me ligou e disse que você
havia voltado – confessei. − Eu perdi a cabeça,
Emma. Eu precisava te ver. Coloquei meu pessoal
pra descobrir em qual hotel você estava e vim
voando, literalmente, para cá. Fiquei esperando no
carro até você chegar. – Eu a tocava com o meu
corpo, minha boca a centímetros da sua. − E você
acha que eu vou deixá-la ir?
– Matthew, não – pediu, me deixando confuso.
–Não o quê, Emm? – sussurrei.
–Não me toque...
–Por que não? – deslizei minhas mãos pelos
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seus braços, sentindo sua pele arrepiada. Entrelacei


meus dedos aos seus, elevando suas mãos para
cima.
–Porque eu não consigo resistir – ela murmurou,
se entregando ao meu toque, aos meus beijos.
Como eu consegui ficar tanto tempo longe de
você? Pensei enquanto a pressionava contra a
parede e a devorava com minha boca. Soltei suas
mãos que se emaranharam em meus cabelos. Senti
meu pênis pulsar, dolorido, abri o fecho da calça,
liberando-o. Envolvi suas coxas com as minhas
mãos e a suspendi, levantando seu vestido, a deixei
no ponto exato do encaixe, afastei sua calcinha de
renda, tocando levemente com meus dedos o seu
clitóris, provocando a sua libido. Levei meu
membro até o seu sexo e deslizei entre seus lábios,
abrindo seu corpo, penetrando forte naquele lugar
quente e, deliciosamente, molhado. Estremeci
quando a completei e senti a pressão de suas
paredes que pulsavam em torno da minha ereção.
Emma gemeu quando a abandonei.
– Te machuquei? – perguntei voltando a
completá-la, mexendo o meu quadril em
movimentos ritmados. − Você está tão deliciosa! –
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balbuciei, roçando o meu pênis dentro do seu


corpo. – Você me enlouquece, Emma. – murmurei,
metendo mais uma vez e outra e outra. Ela não
respondeu, sua respiração era um gemido gostoso.
Seu sexo dilatado, inchado, pulsava levemente
acariciando a pele rosada do meu membro. – Por
que só você faz isso comigo? Por que só dentro de
você eu me sinto completo? – perguntei ofegante
enquanto saia e voltava. – Eu te completo, Emma?
Olha, como nós nos encaixamos perfeitamente. –
Ela olhou para o ponto onde nossos corpos se
transformavam em um, seus olhos semicerrados,
sua pele arrepiada, seus mamilos rígidos se
projetavam no tecido do vestido. Seu ventre se
retraiu.
− Delicioso – murmurou molhando os lábios
com a língua.
– Eu vou gozar – falei sentindo sua vagina
devassa me apertar em contrações ritmadas. − Não
vou conseguir segurar mais. Goza comigo... –
implorei, metendo mais fundo, ela se entregou ao
prazer, seu sexo me subjugou ao seu orgasmo,
enquanto o jorro do meu gozo a lambuzava entre as
pernas.
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Eu a envolvi em meus braços, coração


descompassado, respirar ofegante. Não estava nos
meus planos possuí-la ali, daquele jeito selvagem,
mas Emma me provocava momentos de insensatez,
a ponto de cometer as maiores insanidades. Beijei o
seu cabelo e a liberei do meu toque, queria levá-la
para um lugar onde conversaríamos sobre
sentimentos, queria ouvi-la. Queria saber se o que
tínhamos era só desejo, se o que ela sentia por mim
era mais que atração. Queria dizer que a queria para
mim, que a deseja para o meu mundo, para o meu
dia a dia, queria que ela fosse a minha rotina. Mas
era isso que ela desejava? Aqueles pensamentos me
atordoaram enquanto fechava a calça, fazendo o
meu pênis, ainda semiereto, caber dentro dela.
Olhei para a garota que tentava desamassar o
vestido. Ela parecia incomodada, arrependida.
Pegou a bolsa e apertou a tecla com o número onze.
Mas o elevador não se moveu.
– Matthew eu preciso descer – falou com
rispidez. Que droga, Emma! Por que tem que ser
tão fria? – Você já conseguiu o que queria, agora

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me deixa ir.
– Não o suficiente – disse irritado com o seu
desprezo. − Quando você vai entender, Emm, que
com você uma vez nunca será o suficiente? Eu vou
sempre querer mais – se o que a prendia ao meu
lado era o sexo, então seria sexo que ela teria.
Abracei-a pela cintura e abri as portas do elevador.
– Eu realmente preciso ir... – Não, você não vai,
pensei enquanto envolvia seu rosto entre minhas
mãos e a beijava com volúpia. Ela se deixou beijar,
correspondeu com lascívia, me desejava. Isso por
ora me bastava, mas e depois?
Caminhamos pelos corredores do último andar,
um lugar reservado para hóspedes especiais, que
queriam total privacidade, ali havia apenas um
apartamento, um refúgio que eu utilizava quando
queria me isolar do mundo. Usei o cartão para abrir
a porta, ela entrou e examinou o apartamento com
uma certa inquietação.
– Que lugar é este?
– Um dos meus esconderijos – respondi
enquanto tirava o terno.
– Onde você encontra as suas amantes? – aquela
pergunta me pegou de surpresa. Era a segunda vez
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que ela demonstrava estar incomodada com a


minha suposta vida amorosa e isso me enchia de
esperança.
– Está com ciúmes, senhorita Emma Rochester?
– provoquei enquanto desabotoava a camisa.
– Por que eu teria ciúmes de algo que não me
pertence?
– Eu nunca trouxe uma mulher aqui. Você é a
primeira – confessei enquanto tirava a camisa e
caminhava em sua direção – Vamos tomar um
banho. Vem que eu te ajudo com a sua roupa –
murmurei em seu ouvido enquanto desabotoava o
vestido, deslizando-o pelos ombros. Olhei para a
peça de renda que cobria seus seios, abri o pequeno
fecho e a virei de frente para mim. – Você é linda.
Uma ciumenta linda! – exclamei me ajoelhando aos
seus pés para tirar a última peça, aquela que
escondia seu sexo. Quando me levantei, beijei seu
ventre, lambi seu seio, mordi seu pescoço e devorei
seus lábios. –Vamos para banheira, depois nós
vamos conversar. Eu tenho tanta coisa para te dizer,
Emm.
Quando cheguei, naquela noite, ordenei que o
apartamento ficasse preparado para me hospedar, e
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o banho era uma das minhas exigências.


~§~

Sem pudor, ela entrou na banheira, em pé,


ficando de frente para mim. Sentou-se
vagarosamente em meu colo, minhas mãos
envolveram seu quadril, mantendo-a de joelhos,
meu pênis teso, pronto para penetrá-la.
–Isso é covardia – balbuciei entre seus seios que
me eram oferecidos de forma permissiva. Minha
língua lambeu sua pele branca para depois meus
lábios se fecharem na parte rosada e chupá-la com
voracidade. A água fez meus dedos deslizarem
entre suas coxas, encontrando seu ponto de prazer,
tão pequeno, levemente arredondado, inchado, me
demorei acariciando-o, provocando arrepios na pele
que minha boca tocava. Abri seus lábios e meus
dedos a penetraram, ela se contorceu, me
apertando. Meu pênis pulsava, sedento por aquele
lugar
– Eu acho que você prefere outra coisa aqui
dentro – falei explorando-a mais fundo, seu gemido
me entorpecia. A abandonei, segurei meu membro
e a fiz sentar, fechei os olhos saboreando-a,
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enquanto era engolido pelo seu sexo. – Emm...


você é minha. Seu corpo é meu, só meu –
murmurei.
– Eu não sou sua – retrucou num sopro,
mexendo os quadris, promíscua, provocante.
Mesmo desejando que ela continuasse com aquela
dança devassa que me fazia tocar seu interior como
se estivesse sendo degustado, decidi puni-la pela
sua teimosia. Voltei a segurar seu quadril e puxei-a
para cima, meu membro abandonou-a, apenas a
ponta arredondada continuava presa entre seus
lábios.
–Você lembra disso? – perguntei mantendo-a
naquela posição, impedindo-a de descer e voltar a
me absorver.
– Sim – disse atrevida. – Você acha que eu não
estou pronta? – Ela lembrava, sorri.
– Você está sempre pronta pra mim, Emm. Mas
se você não é minha... então você não quer isso? –
Eu a puxei e a fiz sentir toda a minha extensão
penetrando-a em uma única estocada. Ela gemeu.
Voltei a suspendê-la, deixando-a na mesma
posição. Meus dedos afundavam em sua pele
branca, segurando com força a garota que, travessa,
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tentava me dissuadir a deixá-la sentar e me


consumir – Você é minha? – Ela mexeu a cabeça,
dizendo que não. Meu dedo apertou seu ponto de
prazer e com movimento circulares a fiz perder o
equilíbrio enquanto gemia e ofegava. Suas mãos
procuraram meus ombros e seus seios vieram para
a minha boça. Eu suguei um depois o outro. Se ela
não cedesse eu cederia, não resisti e soltei-a,
esperando que ela me tomasse em seu corpo, mas
ela não o fez.
– Então, tem algo pra me dizer? – perguntei pela
última vez.
– Eu quero você, eu quero você dentro de mim,
por favor! – implorou. Seus cabelos tocavam meu
rosto, meus lábios tocavam seus seios.
– Eu quero te ver me engolir inteiro, Emm. Mas
você precisa me dizer o que eu quero ouvir.
– Eu sou sua – sussurrou. – Toda sua. – Ela
desceu e subiu e voltou a descer e eu me perdi em
seu corpo, em seu gozo, na devassidão do seu
prazer, sentindo suas contrações, seus espasmos,
sua entrega.
– Vira de costas! – pedi, eu ainda não estava
satisfeito, controlei minha ereção, queria prolongar
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aquele momento. Ela obedeceu e sentou em meu


membro duro. Acariciei sua parte arredondada e
desejei experimentá-la. – Assim, me satisfaça,
Emma – ofeguei, ela mexeu, lentamente, me
torturou com seus movimentos ora compassados,
ora descontrolados, desequilibrados. Meus dedos
apertaram as suas nádegas, meu quadril se projetou
para cima e eu finquei fundo – Emm... – gemi,
enquanto um jato grosso de esperma inundava seu
sexo.

– Vem cá! – puxei-a para meus braços Ela


deitou-se no meu peito, minha boca procurou a sua.
Trocamos intimidades, caricias, beijos, mordidas,
eu queria declarar meus sentimentos, mas a
incerteza em ser correspondido me impedia.

~§~

Fomos para a cama, ela se aconchegou em meu


corpo e adormeceu. O cansaço venceu, dormi por
mais de uma hora, acordei assustado, imaginando
que ela havia partido. Mas ela dormia em meus

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braços. Toquei seus lábios com a ponta dos dedos,


acariciei seus cabelos e beijei sua testa. Eu a
amava, aquilo era amor, sempre foi. Preciso dizer
isso a ela, mas não tive coragem de acordá-la,
esperei paciencioso. Por vezes, a insegurança me
assaltava e eu imagina como seria perdê-la
novamente. Nesses momentos queria abraçá-la,
queria acordá-la, queria gritar meu amor, pedir,
implorar que me amasse na mesma intensidade.
Mas não o fazia, ponderava e esperava que
despertasse. E ela despertou, o toque de um celular
trouxe Emma de volta para mim. Estávamos nus,
cobertos apenas por um fino lençol branco, ela me
olhou sonolenta com um sorriso lindo nos lábios.
– Minha... – murmurei antes de possuir seus
lábios.
O celular voltou a tocar. Eu me afastei e ela saiu
da cama à procura do aparelho. Escorei a cabeça
com minhas mãos sobre o travesseiro e fiquei
observando a garota nua que tirava o celular da
bolsa.
– Pai, tudo bem? − Robert? Por que ligava para
a filha àquela hora? Emma parecia desconfortável.
(...)
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– Estou papai, eu me deitei um pouco e acabei


dormindo. Está tudo bem por aí? – perguntou,
lançando um olhar para mim. Como eu gostaria de
decifrá-la, o que aquele olhar significava?
(...)
– Mas mamãe vai ficar bem?
(...)
– Não papai, eu vou dormir no hotel e amanhã
cedo estarei aí. Tudo bem?
(...)
– Boa noite, pai. – Emma despediu-se deixando
o celular sobre uma cômoda, eu levantei e fui ao
seu encontro, abraçando-a por trás e beijando a
pequena borboleta azul em seu pescoço. Senti o
arrepiar de sua pele.
–Tudo bem? – perguntei, percebendo que algo a
incomodava.
– Não, Matthew, não está tudo bem. – Aquela
resposta me pegou de surpresa, eu a virei de frente
para mim, Emma chorava.
– O que houve Emm? Isso é por nossa causa? –
questionei aflito. − Eu não quero te ver assim.
–Não. Eu não tive tempo de processar isso
ainda. – respondeu fazendo um gesto com a mão
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apontando pra mim e depois pra ela. – Essas


lágrimas eu vou deixar para mais tarde. – Não
haverá mais lágrimas, não se você me amar, pensei,
protelando mais uma vez a conversa que queria ter
com ela. A sua tristeza era visível. Caminhamos até
a cama, sentei encostado na cabeceira e Emma
escorou a cabeça em meu peito, seu corpo nu se
entrelaçou ao meu.
–Você vai me contar o que está acontecendo?
– Minha mãe está muito doente – disse entre
lágrimas. Eu a apertei em meus braços.
– Mary Anne? Mas como? Nathalie esteve com
ela há algumas semanas e não comentou nada. – Na
verdade eu não via Nathalie há meses, mas sua
agenda dizia que ela esteve com a família. − O que
há com ela, Emma? É tão grave assim?
– Câncer – Emma falou em um sussurro,
afundando o rosto em meu peito e caindo em um
choro convulsivo. Deus! Como isso era possível?
Mary Anne sempre teve uma aparência saudável,
era um mulher bela, jovial. Uma série de
lembranças vieram a minha mente, desde que a
conheci até a última vez que nos encontramos. De
repente lembrei do seu abatimento, da desculpa
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pelo cansaço, das poucas palavras pronunciadas, da


voz pausada. Como não percebi, como Nathalie não
percebeu? Não acreditava que minha ex esposa
tivesse coragem de me esconder uma informação
tão importante quanto essa. Eu sentia um carinho
especial por Mary Anne, ela era uma mulher com
personalidade forte, sofreu muito com a ausência
da filha mais nova, sempre a defendia quando o
assunto vinha à tona. Olhei para Emma em meus
braços, deixei que chorasse, respeitei sua dor, que
se tornou minha dor.

Eu me sentia impotente. Incapaz de tirar de


dentro dela a tristeza, a angústia, o desalento. Ela
procurou meus olhos, mordeu os lábios controlando
o choro. Eu a beijei sem pressa, rocei meus lábios
em sua boca rosada. Emm envolveu meu pescoço
com suas mãos delicadas e minha língua invadiu
sua boca. Eu a deitei de costas na cama e meus
lábios deslizaram pelo seu rosto, testa, olhos, nariz,
bochechas, queixo e boca. Provoquei seu ofegar,
quando a penetrei, devagar, deslizando entre suas
pernas, explorando seu sexo molhado. Cada
movimento foi controlado, não houve arroubos de
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paixão, houve troca de carícias, de gemidos, de


beijos. Emma se entregou ao orgasmo envolvendo
suas pernas em minha cintura, eu gozei sentindo o
aperto de seu corpo envolver-me.

~§~

– Você quer conversar sobre a sua mãe? –


perguntei tocando seu rosto com a ponta dos dedos,
colocando uma mecha de cabelo para trás de sua
orelha.
– Ela está muito doente e os médicos a
desenganaram. – respondeu com um olhar vago,
perdido em lembranças que a entristeciam. − Por
isso papai me ligou, pedindo para eu voltar. É uma
despedida.
– Emma, a medicina está avançando – tentei
animá-la. − A cada dia surgem novos tratamentos
contra o câncer, tenho certeza de que
encontraremos um para a sua mãe.
– Ela já está há dois anos lutando contra essa
doença e agora voltou avassaladora – disse
segurando as lágrimas. − Eu queria me animar, mas
a conversa com papai esvaneceu minhas
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esperanças.
– Nós vamos dar um jeito, meu amor. – Eu a
envolvi em meus braços, ficamos apenas sentindo o
calor dos nossos corpos, o bater dos nossos
corações, até que sono nos dominasse.

~§~

Amanhecia, ela não estava ao meu lado.


Levantei insone, seguindo sua voz sussurrada. Com
quem ela conversava? Abri a porta sem que ela
percebesse, falava ao celular.
– Que legal! Mas guarda um tempinho pra
gente ficar juntinho. – O carinho em sua voz era
palpável. – Eu te amo mais que muito − murmurou.
Um nó se formou na minha garganta. (...) – Tchau,
amore mio – encerrou a ligação e virou-se em
minha direção. Nossos olhos se encontraram,
chorava emocionada, tentou secar as lágrimas com
a palma da mão. Seu embaraço era visível.
– Quem é ele, Emm? – perguntei enfurecido. −
Você está tão apaixonada assim? O que foi essa
noite pra você? Que tipo de mulher você é? –
esbravejei cerrando as mãos. −Trepa comigo a
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noite inteira e de manhã faz juras de amor para um


outro cara! Que droga, Emm. Você é minha,
esqueceu?
– Pro inferno, que eu sou sua! Eu não sou de
ninguém! Eu não tenho dono, Matt. – disse com
empáfia. − Sua é a Nathalie, esqueceu? – ironizou.
– Foi ela que você escolheu para passar o resto da
sua vida. Então por que cobrar de mim o que você
não pode me oferecer? – falou aquilo segura de si,
como se nada do que aconteceu importasse.
Recolheu suas roupas que estavam espalhadas pelo
chão e desapareceu atrás da porta do quarto.
Minha respiração estava alterada, caminhei de
um lado a outro. Como fui idiota, imaginando que
ela pudesse me amar. A tia já tinha dito que ela
estava apaixonada, que conhecera outro alguém.
Como pude ser tão ingênuo? Como pude alimentar
esse amor por tantos anos?
− Imbecil –grunhi dando um soco no imenso
espelho que cobria uma das paredes da sala.
Rasguei a pele da minha mão, o sangue surgiu no
corte provocado pela minha estupidez. Procurei
uma toalha, enrolando-a na mão machucada. Olhei

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em direção ao quarto, pensei em confrontá-la, mas


o orgulho não deixou. Não iria implorar pelo seu
amor, mesmo sabendo que não seria feliz longe
dela, não iria me humilhar, isso não. Peguei o
telefone, precisava de um curativo, liguei para a
recepção.
– Senhorita Muller, poderia vir até o meu
apartamento. – nesse momento Emma saiu do
quarto, vestida e pronta para ir embora. Ouvi a
gerente tagarelar do outro lado, me irritando. −
Estou precisando de você, agora – terminei aquela
conversa, fuzilando Emma com o olhar. Ela passou
por mim, não tentei impedi-la, apesar da minha
vontade era de aprisioná-la naquele quarto até que
se convencesse que eu era o homem da sua vida.

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CAPÍTULO ONZE

− Onde você está? – esbravejei ao telefone.


Conseguia ouvir a algazarra atrás da voz sussurrada
da minha ex mulher.
− Estou em um SPA, querido. Eu enviei minha
agenda para a inútil da sua secretária. Ela não te
passou?
− Não recebeu o meu recado?
− O recado que você está morrendo de saudades
de mim e me quer de volta? – Nathalie, me irritava.
Ela não desistia de me provocar com as
possibilidades de reatarmos o casamento, suas
insinuações se tornaram pegajosas e
inconvenientes. As coisas só pioravam quando
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íamos aos mesmos eventos sociais, nesses


momentos interpretávamos o casal perfeito. Agora
que Emma estava de volta, iria acabar com aquele
teatro o quanto antes.
− É sério, Nathalie. O seu pai solicitou uma
reunião para tratarmos assuntos de família e conta
com a sua presença.
− Deve ser mais um dos seus assunto chatos, eu
não estou interessada.
− Eu não estou te dando essa opção – sentia
vontade de contar a gravidade do assunto, mas não
era para eu estar ciente, uma vez que foi Emma
quem me contou em um encontro que não deveria
ter acontecido.
− Estou sem tempo, Matt. Tenho uma sessão de
fotos com uma revista para amanhã. Depois ligo
para o papai.
− Amanhã você estará na casa dos seus pais –
exigi pela última vez.
− Se não... – debochou.
− Não me provoque, Nathalie. Amanhã estarei
te esperando na casa dos Rochester, caso não
apareça, posso fazer uma lista de coisas que tenho
para contar a ele.
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− Você é um chato! – desliguei o telefone antes


que aquela ladainha se prolongasse. Falar com
Nathalie era desgastante. Caminhei até a parede de
vidro e olhei para o dia ensolarado que banhava a
cidade. Estava no penúltimo andar do prédio
construído para ser a Sede da Stone. Pensei em
tudo que realizei naquele último ano, pensei no
meu pai. Pensei em tudo que abri mão para fazer a
sua vontade e seguir os seus passos. Não o culpei,
eu tinha consciência das minhas escolhas. Com o
tempo me tornei bom no que fazia. Cada negócio
era um desafio, um desafio que deveria ser vencido.
A Stone havia triplicado o seu patrimônio,
dominávamos o mercado nacional e internacional
em vários segmentos. Então por que me sentia um
fracassado?
− Pronto para a reunião? – A voz de Greg me
trouxe de volta ao mundo dos negócios.
− Eles aceitaram fechar o contrato por vídeo
conferência? – Não estava disposto a voltar para
Tóquio.
− Na verdade, aceitaram fazer a reunião.
Quando ao resto conto com o seu charme, meu
amigo – respondeu abrindo a porta e fazendo um
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meneio para que eu passasse.

– Tudo bem, Matt? – perguntou, apontando


para o pequeno curativo na mão, enquanto
caminhávamos em direção à sala onde nos
aguardavam.
− Um copo quebrou na minha mão, foi um corte
superficial. – respondi sem muita vontade de
explicar a minha falta de controle motivado pelo
ciúmes. Algo que definitivamente não iria se
repetir.
− E eu posso saber porque a volta do Japão sem
a conclusão do negócio? – Olhei para ele segurando
a maçaneta da porta entre os dedos e decidindo se
deveria compartilhar com ele ou não a volta de
Emma.
− O Rochester pediu uma reunião de família
urgente.
− Alguma problema com as finanças?
− Não, parece que Mary Anne não está bem.
− Sinto pela sua sogra. – falou mais por
educação. Greg nunca chegou a ser íntimo dos
Rochester. Foi a algumas festas na casa dos pais de
Nathalie, não mais que isso. Era bem recebido e
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retribuía a atenção sendo um cavalheiro


− Obrigado – respondi ao abrir a porta e receber
os olhares dos diretores que me aguardavam em
frente a uma tela, onde o presidente da Nakajima
me observava impaciente. – Bom dia, Senhor
Hiroshi Nakajima– falei cumprimentando o homem
que retribuiu o cumprimento sem esboçar qualquer
emoção.

~§~

Estacionei o carro em frente à casa dos


Rochester, olhei para a construção de quase um
século, a arquitetura vitoriana deixava o lugar com
uma atmosfera que beirava ao fantástico, se da alta
torre que pendia do telhado acinzentado
sobrevoasse um dragão, não me surpreenderia.
Uma criança deveria estar correndo por aqueles
jardins naquele momento. De repente, lembrei do
filho que não nasceu, engoli em seco. Respirei
fundo antes de tocar a campainha, eu estava ali
decidido a encerrar um ciclo da minha vida. Iria me
despedir dos Rochester, não fazia mais sentido
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manter aquela relação, vivia uma mentira. Contaria


sobre o divórcio. A decepção em descobrir que
Emma se entregou a mim e depois declarou seu
amor à outro, me decepcionou a ponto de desejar
me afastar definitivamente de qualquer vínculo
com ela.
–Bom dia, Senhor Stone – o mordomo me
recebeu, solícito.
–Bom dia Albert, a Senhora Stone já chegou? –
A combinação com Nathalie era que ela estaria na
casa dos pais quando eu chegasse naquela manhã,
mas conhecendo a minha ex esposa sabia que sua
promessa era vazia. Seria melhor, assim falaria com
Robert a sós, ele era um homem ponderado,
contava com a sua compreensão.
–Não, senhor – respondeu confirmando as
minhas suspeitas. − Posso anunciá-lo?
–Não há necessidade. Vou dar um telefonema
primeiro. − comuniquei pegando o celular no bolso
do terno. − Onde estão todos?
– No jardim, a Senhora Mary Anne quis tomar
café ao ar livre.
– Obrigado, Albert.
– De nada, Senhor – disse se afastando. Procurei
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o contato dela na agenda. E uma voz sonolenta me


atendeu.
– Alô, Nathalie? Estou na casa de seus pais,
onde você está?
− Onde mais eu estaria? Tenho uma sessão de
fotos para uma revista, esqueceu? Estamparei a
capa da R&F e seria perfeito se você estivesse ao
meu lado.
−O quê? Capa de revista? Eu não vou a
nenhuma sessão de fotos, eu disse para você
cancelar.
− Sem chance, meu amor. Só as personalidades
mais influentes conseguem estampar a capa da
Ricos e Famosos.
− Nathalie venha pra cá, agora! – esbravejei
perdendo totalmente a paciência. Desliguei o
telefone quando ela começou a esboçar uma
lamúria. Será sem a sua presença, querida. Quando
retornar não será, oficialmente, a Senhora Stone.
Olhei para o hall, precisaria atravessar a casa para
chegar aos jardins onde Mary Anne costumava
fazer o desjejum. Mas não cheguei a dar um passo,
um barulho diferente chamou a minha atenção.
Franzi a testa tentando decifrar o que ou quem se
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aproximava. Ele não tinha mais que um metro, os


cabelos lisos caiam nos olhos, suas bochechas
rosadas estavam infladas enquanto a boca fazia um
bico de onde saia um “Vrummm”, na mão esticada,
planando no ar, um aviãozinho de lata.
Ele parou e me observou com seus olhos azuis.
Um sorriso surgiu em seus lábios de menino.
Quantos anos ele tinha? Quatro? Cinco? Seu rosto
me era tão familiar.
– Olá, quem é você? – perguntei.
– Bom dia, meu nome é Luca Rochester – ele
respondeu esticando a mãozinha em cumprimento.
Eu retribui com um aperto.
– Matthew Stone, muito prazer, senhor...
Rochester? – Será que era filho de algum parente
que eu não conhecia? – Que bonito esse avião. É
seu? – perguntei olhando para o brinquedo que um
dia foi meu e que doei para a coleção de raridades
do Rochester. Não esperava que ele desse para uma
criança brincar.
– Sim, o vovô tem um monte. E disse que todos
são meus. Daí eu pedi esse pra brincar. Quando
crescer, vou ser piloto.
– Se Robert é o seu avó, quem são seus pais? –
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A resposta era tão óbvia que eu precisava ouvi-la


em voz alta para confirmá-la.
– Luca! – Ela surgiu no patamar da escada, o
garoto correu se jogando em seus braços.
– Mamma! – Um nó na garganta, meu coração
disparou, ela tinha um filho.
– Amore mio. Dormiu bem essa noite? – Emma
perguntou ao menino, enchendo seu pescoço de
beijos que provocavam cócegas e gargalhadas no
pequeno. De repente a imagem de um outro menino
percorreu a minha mente. Os cabelos lisos caindo
na testa e os grandes olhos azuis acompanhando as
peripécias do brinquedo de lata que trazia nas
mãos. Ao longe, uma mãe cuidadosa, sentada em
uma manta de seda sobre o gramado verde,
observava seu pequeno filho brincando com o
presente que havia ganhado do avô.
– Matthew? – a voz grossa de Robert se
confundiu com a voz de minha mãe, trazida de
algum lugar do passado. − Vocês vieram? Onde
está a Nathalie? – perguntou caminhando em minha
direção. Demorei a me recompor. Sentia um torpor
em todo o corpo. Uma emoção indescritível tomava
conta de mim. Ele era meu.
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– Olá, Robert. – respondi finalmente. −


Nathalie está vindo, tinha uns compromissos –
menti. − M as deve chegar em breve.
– Já conheceu meu neto? Presente de Emma
para nós. – Robert perguntou pegando o menino no
colo e trazendo-o ao meu encontro.
– Já fomos apresentados – respondi passando a
mão nos cabelos de Luca. – E o seu pai? – indaguei
olhando para Emma enquanto aguardava a resposta.
Ela me encarou sem conseguir disfarçar sua
inquietação.
– Eu sou bonito que nem o meu papai – ele
respondeu com sua vozinha de criança. − A mamãe
sempre diz isso. Mas eu ainda não o conheço. Ele
mora longe.
– Na Inglaterra, querido – ela completou
rapidamente.
– Inglaterra? – perguntei sem disfarçar um
sorriso no canto dos lábios.
– Vamos entrar, Matt – Robert interrompeu
aquele momento de confidências que só eu e ela
compartilhávamos. – Vocês ficam para o almoço?
Mary Anne vai ficar feliz com a presença de todos.

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– Claro que ficamos. – Robert caminhou em


direção aos jardins, eu o acompanhei. Quando
cruzei por Emma, não resisti a inquietação que me
atordoava. – Emma, eu poderia falar com você? –
perguntei. − Em particular.
– Sim – murmurou indecisa.
– Emma, você tem certeza? – Robert parou a
alguns passos nos lançando um olhar de
preocupação. Eu não o condenava, meu
relacionamento com Emma, aos olhos do pai, era o
pior possível.
– Tudo bem, pai. – ela o tranquilizou.
Caminhamos em silêncio até a sala onde Robert
despachava desde que se aposentou do Escritório
de Advocacia, deixando sua administração a cargo
dos sócios.
As costas de Emma tocaram as paredes cobertas
por papéis desenhado em arabescos, eu queria
beijá-la, queria possuí-la ali, há alguns metros de
sua família, mas primeiro precisava que me
dissesse a verdade. Mas ela, teimosa, se recusava.
− Ele é meu, confessa. – murmurei tão próximo
de seus lábios que seu hálito se misturou ao meu. –

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Não minta para mim, Emm. Ele é meu?


– Não! – ela repetiu, sua respiração irregular a
denunciava. Sua inquietude ia além da atração que
pairava entre nossos corpos, uma energia que
provocava o toque sutil, suave, tenso.
– Eu te conheço Emm, melhor do que ninguém.
Eu sei onde você gosta de ser tocada. – envolvi sua
cintura, seu corpo enrijeceu, em outros tempos
julgaria que era repulsa, mas agora... agora sabia o
quanto me desejava. – Eu sei que você gosta que eu
sussurre na sua orelha. Eu sei que você não resiste a
isso – rocei seus lábios com os meus. Ela fechou os
olhos esperando um beijo. – E eu sei quando você
mente. E agora você está mentindo – sussurrei.
– Não, eu tive um namorado, um turista inglês –
falou com a voz entrecortada, insegura. − Ele era
parecido com você, fisicamente. Ele é o pai do
Luca. Não você.
–Você é uma péssima mentirosa. Ele é igual a
mim quando criança. Uma cópia, Emm. Qualquer
um vai notar a semelhança. Ele é meu. Pare de
negar. Você sabe que eu tenho como descobrir isso.
Em uma semana eu descubro quando você teve
enjoo, quais foram seus desejos, a hora da sua
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primeira contração, de quantas semanas ele nasceu


e o dia que ele foi concebido. Então me poupe
desse trabalho, e diz a verdade. Ele é nosso, Emm.
Ele é fruto do nosso amor.
–Amor? – questionou, me lançando um olhar
cortante. – Pensei que nós trepávamos? – Não
resisti. Dei uma gargalhada e a puxei para junto do
meu corpo.
– Eu falei aquilo porque estava furioso, você
estava ao telefone dizendo que amava outra pessoa.
Eu não podia imaginar que era o nosso filho. Você
não entendeu ainda, Emm? Eu ... – te amo. Teria
dito se a porta de madeira não tivesse sido
esmurrada naquele instante.
– Senhorita Emma, seu pai pediu para perguntar
se está tudo bem? – Albert nos interrompeu, sua
voz demonstrava toda a sua preocupação. Liberei
Emma dos meus braços e abri a porta.
–Está tudo ótimo, Albert. – respondi bem-
humorado antes de sair, deixando-os para trás e me
dirigindo aos jardins com um sorriso bobo nos
lábios. Eu era pai, eu era o pai do filho dela!

~§~
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Mary Anne estava sentada em uma chase,


protegida por um ombrelone, foi em sua direção
que caminhei.
− Matthew, que alegria recebê-lo em nossa casa
– falou entendendo sua mão pálida, que levei aos
meus lábios.
− Como está Mary Anne?
− Muito melhor depois que Emma voltou e
trouxe aquele presente com ela. – olhamos para o
pequeno que se divertia com o avô simulando voos
mirabolantes com pequenos aviões de lata. – Ele
cura qualquer mal.
– Bom dia, mamãe. – Emma se aproximou, meu
olhar foi do menino à mãe. Ele tinha pouca
semelhança com ela, era parecido com o pai.
Comigo. − Como você está se sentindo hoje?
– Estou bem, querida. Estava dizendo para o
Matt que Luca é o remédio para qualquer mal.
Desde que ele chegou nessa casa tudo ficou mais
alegre, mais colorido. É o nosso anjinho travesso. E
aí vem ele, qual será a novidade? – Luca se
aproximou entusiasmado, para minha surpresa eu

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era o alvo da sua atenção.


– Tio Matt, tio Matt? – falou ofegante parando a
minha frente. – Vovô disse que você é o meu tio. –
lancei um olhar para Emma. Ela não conseguiu
disfarçar o seu incômodo.
– Sim, sou seu tio – respondi pegando-o no
colo. Ele sorriu.
– Vovô disse que você tem um avião de verdade
– continuou empolgado. − E que você sabe pilotar.
E que se eu pedisse você me levava para voar. –
Robert soltou uma gargalhada, levantando as mãos
e se eximindo do autoconvite.
– Claro. Levo você e a sua mãe. Quando você
quiser.
– Hoje! – respondeu levantando os braços para
cima e arrancando gargalhadas dos presentes.
– Calma, meu amor, hoje o titio veio nos visitar
– Mary Anne ponderou. – Vamos marcar outro dia.
– Ah! – exclamou desanimado. – Eu queria ir
hoje.
– Eu preciso preparar o avião antes de voar –
expliquei. − Isso demora alguns dias. – Seu olhar
de decepção me comoveu. − Mas podemos marcar
para essa semana. Tudo bem?
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– Ok. Você quer conhecer meus aviões? Vovô


me deu um monte – convidou pulando do meu colo
e me puxando pela mão em direção a uma mesa
retangular com vários modelos dispostos de forma
desordenada. Aquelas relíquias eram guardadas em
um armário de vidro, cuja chave ficava aos
cuidados de Albert que tinha a função de
regularmente polir as peças. Agora, estavam ali,
aos cuidados de um menino de quatro anos que as
pegava de modo desajeitado e corria com elas pelo
gramado da mansão. Um menino...Um filho. Meu
filho! − pensei, observando o pequeno que me
trazia um modelo Piper Amarelo.
− Será que Nathalie chega para o almoço? –
Robert perguntou de repente.
− Ela tinha alguns compromissos agendados e
estava fazendo o possível para se livrar – menti
mais uma vez.
− Ótimo, você deve ter notado que Mary Anne
não está bem de saúde – falou com voz sussurrada
enquanto o Piper era alçado ao ar e aterrissava
perfeitamente entre os arbustos para felicidade do
garotinho de cabelos lisos.
− Eu notei que está com uma aparência abatida.
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Nada grave, espero – Como dizer que sabia da


gravidade da situação sem contar sobre o encontro
com Emma.
− Infelizmente, é grave. Ela está lutando contra
um câncer – sua voz ficou embargada. Olhei para
os olhos do homem que até poucos meses mantinha
um porte atlético, altivo e agora, magro, olhos
profundos marcados pela tristeza e rugas que
brotaram na tez flácida.
− Eu sinto muito, Robert. – lamentei, colocando
a mão em seu ombro. Ele sorriu, um sorriso
amargo. – Mas a medicina... – comecei a falar e fui
interrompido por quem já devia estar cansado
daquela ladainha e que agora, incrédulo e
impaciente, não tinha mais disposição para aquele
discurso pronto, decorado, vazio de sentido.
− A medicina não pode fazer nada pela minha
Mary, Matthew. Só um milagre – engoliu o
desespero e sorriu, seus olhos voltaram a brilhar
quando o pequeno se aproximou com uma réplica
rara de um Spitfire, modelo de combate da Segunda
Grande Guerra.
− Vovô, quebrou aqui na asa... – os olhos
preocupados de Luca trouxeram um sorriso para os
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lábios do avô.
− Não se preocupe, meu menino. Vamos
procurar um mecânico para consertar.
− Tem mecânicos de brinquedos? – perguntou
curioso.
− Conheço os melhores – o avô respondeu
enfático.
− Eu quero ser mecânico de brinquedos – gritou
saltitante, correndo até a mãe e a avô para contar a
novidade.
− Se todos os meus problemas se resumissem a
um brinquedo quebrado – murmurou examinando o
avião esquecido sobre a mesa.

~§~

Voltei a ligar para Nathalie, fazendo-a prometer


que chegaria para o almoço, o que não aconteceu.
Com o adiantar da hora, a refeição foi servido.
Emma manteve-se distante, trocamos poucas
palavras, sua ansiedade era palpável. Eu precisava
ficar a sós com ela novamente.
Após a refeição, Robert pediu para que eu o
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acompanhasse até o escritório para um licor. Eu


sabia que queria falar sobre a ausência de Nathalie
e pedir para que eu intercedesse junto a ela para
que viesse ter com a mãe. Mas fomos
acompanhados por Luca, que mesmo cansado e aos
bocejos, tomou a nossa atenção por alguns
instantes, participando da conversa amena sobre
assuntos superficiais, devido a sua presença.
Acabou dormindo em meus braços. Eu o
observava, enquanto ressonava, encantado com a
ideia de ser meu filho, Emma não poderia me tirar
isso, ele precisava saber que era meu.
− Ele é fascinante – Robert sussurrou.
− Sim, cheio de vida. − Havia uma pergunta que
precisava ser feita. − Vocês já sabiam? – Robert me
olhou confuso, mas logo entendeu o que eu queria
saber.
− Não, foi uma surpresa, uma adorável surpresa,
quando Emma chegou acompanhada do meu neto.
− Por que ela voltou? – perguntei conhecendo a
resposta.
− Eu pedi para ela voltar. Quando os médicos
deram o diagnóstico para Mary Anne, a primeira
coisa que ela me pediu foi para que nossa filha
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voltasse para casa, para que ela pudesse reparar o


mal que fizemos a ela – ele respirou fundo. – Como
se minha Mary pudesse fazer mal a alguém? A
culpa de toda essa situação é minha. Eu fui um pai
ausente e intransigente com Emma. Ela fez o que
fez porque em nenhum momento eu a abracei e
disse que amava e que estaria com ela em qualquer
situação. Já minha esposa, ela nunca a abandonou.
– Robert me olhou nos olhos, era difícil não se
comover com tanta tristeza. – Ela a procurou contra
a minha vontade, que tipo de pai eu fui?
− Você pensava que era o certo a fazer. – tentei
abrandar.
− Certo? Quando abandonar um filho será
certo? – Não tive resposta para dar ao pai que
secava uma lágrima no canto dos olhos. − Quando
Emma foi para a Itália, Mary Anne entrou em uma
depressão profunda. Ela tentava disfarçar, mas só
depois que a doença foi descoberta que eu vi o mal
que fiz para minha família. Minha esposa estava
doente, uma doença da alma e eu não a ajudei,
quando a doença foi para o corpo, era tarde demais.
Talvez, se eu fosse mais atento, se eu olhasse mais
para dentro da minha casa e não ficasse tanto tempo
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envolvido com o trabalho, nossa história não estaria


indo para os últimos capítulos, tão cedo.
Em pensava em como confortá-lo, em que
palavras dizer para que não fosse tão duro consigo
mesmo, mas o silêncio se tornou perturbador. Um
leve toque na porta dissipou a tensão que nos
rodeava.
– Vou levá-lo para o quarto – ela sussurrou se
aproximando para pegá-lo.
– Eu levo – respondi levantando o pequeno em
meus braços, Luca resmungou, mas voltou a
ressonar.
Subimos as escadas cruzamos os corredores sem
trocar uma palavra. Ela caminhava a minha frente,
usava um vestido com decote atrevido, coberto por
um casaco de cashmere.
~§~

Era um quarto de hóspedes, onde dormi algumas


vezes quando namorado de Nathalie. Coloquei o
menino na cama e me despedi com um beijo na
testa.
– Nós não terminamos a nossa conversa –
murmurei segurando o seu pulso e puxando-a para
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perto de mim. – Precisamos conversar, mas não


aqui. Não quero mais interrupções.
– Só converso com você num lugar público.
–Tem medo de mim, Emm? – provoquei, sua
respiração já estava alterada. − Ou tem medo de
você?
– Não confio em você. – ela respondeu me
olhando nos olhos. Eu tinha urgência em resolver
aquele assunto, precisava ouvir dos lábios dela que
Luca era meu. Mas sabia que se continuasse
insistindo ela poderia se sentia acuada e
desaparecer. Não podia correr esse risco, para
esconder Luca de mim, ela foi para a Europa e
agora poderia fazer o mesmo.
– Então nos encontraremos no meu escritório –
falei num impulso. Foi o lugar mais tranquilo que
me veio à mente. Ninguém nos interromperia, se
assim eu ordenasse. − Você sabe onde fica o prédio
central das Empresas Stone? Segunda–feira à tarde,
quatorze horas, está bom pra você?
– Por que lá? Eu pensei num lugar com pessoas
circulando. Um shopping, uma cafeteria?
– Para alguém ouvir sobre o que falamos? –
questionei sem esperar por uma resposta. − Não. Lá
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você estará segura. Qualquer coisa é só gritar que


minha secretária corre para socorrê-la – provoquei
a mulher que me olhava indecisa. – Agora preciso
ir tenho que encontrar Nathalie e saber porque ela
não apareceu. – beijei sua boca e parti antes que
Emma tivesse tempo de ponderar a minha proposta
e se negar a ir ao encontro.

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CAPÍTULO DOZE

Ela havia mentido, não estava na Capital,


permanecera no Resort para a maldita sessão de
fotos. Tentei, em vão, contatá-la. Nathalie havia,
finalmente, esgotado a minha paciência. Somente à
noite consegui ouvir a sua voz do outro lado do
telefone.
− Que desespero é esse Matthew? – atendeu
impaciente.
− Você deveria estar com os seus pais e não em
uma agenda fútil.
− Você sabe que a imagem da mulher de um
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homem que ocupa uma posição como a sua é muito


importante. Você deveria agradecer, sempre que
estampo as capas de uma revista não é a Nathalie
que está lá, linda e exuberante. É a Stone. Sou sua
garota propaganda, querido. E faço isso sem cobrar
nada. – Deixei escapar uma gargalhada. Se fosse
colocar na ponta do lápis, aquele casamento havia
me consumido milhões.
− Amanhã, você estará na casa dos seus pais.
Caso isso não ocorra, Nathalie, meu advogado irá
procurá-la para que possamos resolver aquela
questão pendente. − Ela calou-se. Sabia que eu me
referia ao divórcio. Eu iria acabar com aquela farsa
de qualquer maneira, mas por ora, usei para
chantageá-la.
− Não gosto de ameaças. – respondeu com
grosseria.
− Isso não é uma ameaça, considere um aviso. –
Ela praguejou e desligou o telefone. No mesmo
instante ele voltou a tocar.
− Matthew, a Nakajima acaba de anunciar que
fechará na segunda-feira com a Frost. – A voz de
Greg era de desânimo.
− O quê? – esbravejei. – Pensei que eles haviam
concordado com a nossa proposta?
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− O Senhor Hiroshi disse que se sentiu ofendido


com a sua atitude em Tóquio e não fecha negócio
com garotos inconsequentes. – Inferno, aquelas
palavras lembraram meu pai e a minha indignação
só aumentou. Pensei em deixar aquele negócio para
lá. Mas havia mais em jogo. A ideia de salvar a
Nakajima estava intimamente ligada ao meu
propósito de vida, algo que deu sentido aos meus
dias. Salvar empresas da falência e transformá-las
em um negócio lucrativo, não apenas para a Stone,
mas para a comunidade onde elas estavam
inseridas. E o fechamento da empresa japonesa
significaria centenas de pessoas sem seu sustento.
Meus técnicos já haviam feito os estudos para
reativar a produção e transformá-la em uma
empresa Verde, não pensei que o velho Hiroshi
complicaria. – Quais são os planos da Frost?
− Eliminar a concorrência.
− Nós – respondi. A Frost sabia que a Nakajima
não era concorrente, iria fechar a fábrica, sem se
preocupar com o impacto social. Só visava o lucro
e nos manter fora do mercado oriental. – O negócio
não foi fechado, ainda temos tempo.
− O que pensa em fazer?
− Vou para Tóquio. Reserve um voo para me
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levar até lá, amanhã mesmo.


− Posso te acompanhar, se preferir. – Greg
ponderou.
− Não, temos reuniões importantes na Stone,
necessito a sua presença aqui. Ligue para o Charles
e peça para ele me acompanhar, entre em contato
com Senhor Yamada, peça para ele fazer os acertos
pessoalmente com o Senhor Hiroshi, marcando o
nosso encontro. E veja com a Senhorita Jack todos
os trâmites para a viagem.
− Ok.
− Eu preciso das gravações da Tele Conferência,
quero ver onde erramos para que o Hiroshi
mudasse de ideia. Não pode ser dinheiro e essa
história de orgulho ferido, não convence.
− Já estou te enviando, vou anexar também as
alterações do contrato, exigências da Nakajima.
− Certo.

~§~

− Droga, Emma! – esbravejei atirando o


aparelho celular sobre o banco de couro. Acelerei
para chegar à marina a tempo. – Por que foram
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inventar esse passeio de lancha justamente hoje? –


Tinha pressa em encontrá-la, necessitava vê-la
antes da viagem, falar sobre o que eu sentia por ela,
dizer que a amava, mas antes queria ouvi-la, queria
ter certeza que era recíproco, queria que ela
confessasse que me amava e que Luca era meu.
Corri pelo píer de madeira, as embarcações se
perfilavam dos dois lados. O domingo ensolarado
movimentou o cais. Pessoas, vestidas com roupas
coloridas, circulavam sem pressa, bloqueando o
meu caminho. Meu terno não combinava com
aquela paisagem. Desviei de um grupo de jovens,
que caminhavam carregando caixas térmicas,
provavelmente cheias de bebidas, antes de alcançar
o cais onde eles deveriam estar.
− Inferno! – bufei colocando as mãos na cabeça.
A minha frente apenas o oceano, nenhum sinal da
embarcação que recebia o nome da família que
havia bagunçado totalmente a minha vida. Os
Rochester. Apalpei os bolsos do paletó e da calça –
Droga! – O celular havia ficado no carro.
Meu voo sairia em menos de duas horas, eu
precisava tomar uma decisão. Caminhei devagar
em direção ao estacionamento. Poderia tentar ligar
para Emma durante a viagem, mas isso não garantia
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que conseguiria, poderia incumbir minha secretária


de fazer isso, tinha que ser alguém de confiança.
Greg.

~§~

Tentei o número dela mais uma série de vezes.


Mas nada.
O avião estava aterrissando no Aeroporto de
Chitose, um carro com motorista me esperava. Um
passada rápida no hotel e a viagem de carro até a
pequena cidade na região de Hokkaido, onde o
Senhor Hiroshi me aguardava.
Antes de entrar na sala de Reuniões da
Nakajima, fiz a ligação que havia protelado.
− Greg, preciso de um favor – falei sem rodeios.
− Claro, Matt. Alguma coisa referente à
Nakajima? – perguntou solicito.
− Não, é pessoal.
− Diga.
− Antes quero que prometa discrição, não quero
que faça comentários ou piadas desnecessárias.
− Assim você me ofende, Matthew – disse com
um toque de ironia que em outros momentos teria
me divertido, mas que agora me irritava.
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− Não estou para brincadeiras, Greg. Confio


minha vida a você e por isso é a única pessoa com
quem posso contar nesse momento.
− Agora fiquei preocupado, cara! Fala,
aconteceu alguma coisa grave?
− Não, só quero que faça uma ligação para uma
pessoa desmarcando um encontro que teria com
ela.
− Humm ...
− Sem comentários desnecessário – interrompi.
− Desculpa – pareceu sincero.
− Ligue para Emma, Emma Rochester e diga
que não poderei recebê-la na Stone, como o
combinado.
− Ela está na cidade?
− Está, apenas ligue para ela e avise. Posso
contar com você?
− Óbvio.
− Aí deve ser manhã de segunda, ligue antes das
quatorze horas.
− Deixa comigo. Mas depois você me conta essa
história.
− Não tem história. – Encerrei aquela conversa.
– Obrigado, Greg.

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~§~

− Você ligou para ela? – perguntei depois de


narrar o fracasso da primeira reunião com os
Nakajima, o homem estava disposto a dificultar as
coisas. Mandou o seu filho para negociar, um
garoto inexperiente e turrão. Eu sabia que aquilo
era uma provocação, mas não perdi a paciência. No
dia seguinte teria uma nova oportunidade. Agora
teria que viajar até uma das filiais da empresa, onde
o senhor Hiroshi me aguardava.
− Liguei – a resposta curta me decepcionou.
− Ela respondeu alguma coisa?
− Ela deveria? Eu só fiz uma ligação
informando que a reunião estava cancelada e que
você marcaria uma nova data. Ela respondeu com
um “ok” e foi só. − Não sei o que eu esperava que
Emma respondesse para o Greg. Eles eram
praticamente estranhos. O que eu não entendia era
porque ela não atendia as minhas ligações? – Matt,
você está tendo um caso com a Emma? – ele
perguntou de repente.
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− Não, eu e Emma temos assuntos pendentes


para resolver e...
− E isso não me diz respeito, eu sei – ele
completou.
− Obrigado, Greg, pela sua discrição.
− O que é isso cara, somos amigos e amigos é
para essas coisas.

~§~

Os dias se arrastaram, Hiroshi Nakajima não se


mostrou mais intransigente, eu havia entendido
tudo errado. O velho queria ter certeza que o
patrimônio construído com sacrifício pela família
Nakajima não seria delapidado.
− Eu estou morrendo, Senhor Stone – ele falou
enquanto caminhávamos por uma extensa plantação
de arroz, em uma das propriedades da família.
Olhei para o homem que pronunciou aquelas
palavras sem se abater. Ele continuou caminhando
com a cabeça erguida, as mãos para trás. – Eu
pesquisei os negócios da Stone, o seu perfil me
chamou a atenção. O que você faz é nobre, meu
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rapaz.
− Não entendo – falei depois de ponderar
aquelas informações.
− Tentei colocar meu único filho, Takeo, à
frente da Empresa quando descobri que tinha
apenas mais alguns meses de vida, isso resultou em
péssimos negócios. A ideia de ver a obra dos meus
pais destruída me fez tomar a decisão de vender a
empresa antes que fosse tarde demais. Mas eu
precisava escolher o comprador, queria alguém em
quem confiasse, alguém que honrasse o nome
Nakajima. Você é esse alguém, Senhor Stone.
− Mas e as negociações com a Frost?
− Um blefe. Para que você viesse até mim.
− E por que eu precisava vir aqui?
− Eu queria ter certeza que a sua fama condizia
com a realidade.
− E a que conclusão chegou? – Eu o seguia, não
nos olhávamos, eram apenas duas pessoas
caminhando sobre a relva verde. Enquanto homens
e mulheres, com chapéus e lenços protegendo suas
cabeças, faziam a colheita do arroz.
− Eu estou entregando o nome Nakajima, a
nossa maior riqueza, nas mãos de um homem que
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vai honrá-lo. A Nakajima é sua, Stone.

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CAPÍTULO TREZE

− Stone é sinônimo de confiabilidade, solidez –


protestou Greg ao saber que não mudaríamos o
nome da Nakajima.
−A Nakajima tem tradição, os deslizes do
último ano serão facilmente esquecidos quando
começarmos a nossa gestão. Estamos entrando no
mercado asiático com um nome conhecido e
respeitado. Não vejo necessidade de mudar isso.
− Mas é a nossa marca, Matthew – Greg
contrapôs.
− Pois a partir de agora deixará de ser. – falei
discando o número dela outra vez. − Qual o
problema com essa garota? Pensei em seguir direto
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para a Mansão Rochester, quando desembarguei no


aeroporto da Capital, àquela manhã. Mas um grupo
de empresários já me esperava para uma reunião e
os diretores da Stone precisavam ficar a par dos
detalhes do contrato final com a Nakajima. E agora
essa recepção no GoldRiver. Eu não conseguiria
falar com Emma tão cedo.
− Pra quem você está tentando ligar a tarde
inteira? − perguntou curioso.
− Nada importante. Um assunto pendente. − A
limusine estacionou em frente ao Hotel. Um tapete
vermelho estendido na escadaria de mármore
branco levava os convidados até o Hall,
esplendidamente decorado para receber os
principais executivos da Capital, homens que
vislumbraram mais que o lucro em seus negócios e
desenvolveram ações sociais que transformaram
vidas. A Imprensa estava presente. Um jornalista,
autorizado pelo evento, entrevistava os convidados.
Sorri para ele quando vi que não conseguiria
escapar.
− Matthew Stone, o grande homenageado da
noite –anunciou para a câmera. – E onde estava a
beldade da sua esposa? – perguntou malicioso.
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− Nathalie, ela... – pensei em uma desculpa


qualquer quando senti alguém envolver o meu
braço, olhei para o lado e lá estava ela, linda e
elegante como sempre.
− Estou aqui, querido – respondeu beijando os
meus lábios. Eu não correspondi, o que não foi
percebido pelo entusiasmado entrevistador que
esqueceu totalmente o objetivo daquele evento e
encheu a minha esposa com perguntas frívolas.
Assim que outro casal se aproximou fomos
esquecidos e os holofotes mudaram de foco. – Você
está lindo com essa barba – disse tocando o meu
rosto enquanto caminhávamos como o casal
perfeito em direção ao Salão onde o evento
acontecia. Greg já estava acompanhado de uma
bela loira e nos seguia à distância.
− Há quanto tempo não nos vemos? – perguntei,
não fazia ideia da última vez que estivemos juntos.
− Quatro meses – ela respondeu. – Está com
saudades? Podemos nos divertir um pouco depois
desse evento, o que acha? – Sorri para a mulher ao
meu lado, Nathalie sempre fazia aquele joguinho de
sedução quando estávamos juntos, não era amor,
nem desejo.
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− Você sabe que isso não vai acontecer, por que


insiste?
− Não sei quem está te satisfazendo, querido,
mas quero que você saiba que nunca vai se livrar de
mim. Eu, somente eu, serei a Senhora Stone,
ninguém mais.
− Isso não é você quem decide – falei me
desvencilhando dos seus braços. Ela me olhou
ameaçadora e depois sorriu para um grupo que
vinha em nossa direção. Cumprimentei a todos e saí
do burburinho para fazer uma ligação. Emma não
atendeu.
Caminhei entre os convidados durante a festa.
Não conseguia ficar perto de Nathalie, sua voz me
irritava, seu escarnio me provocava repulsa, como
pude algum dia amar aquela mulher?
Olhei para o celular. Voltei a fazer uma ligação,
dessa vez para outro número.
− Alô – a voz soou do outro lado, me deixando
na dúvida se havia tomado a decisão certa.
− Boa noite, Robert.
− Matthew? Tudo bem? – perguntou
visivelmente surpreso.
− Sim, só estou ligando para saber notícias de
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Mary Anne – aquilo não era totalmente mentira,


sua saúde me preocupava.
− Ela está bem – respondeu. – Na medida do
possível – completou com certo desânimo.
− Ela ficara bem, Robert. Mary Anne é uma
mulher forte e agora com o neto encontrou uma
nova motivação para lutar.
− Deus, eu não sei se sou merecedor de tamanha
felicidade. Ele iluminou nossas vidas num
momento de total escuridão – sua voz falhou.
− Ele é uma criança especial.
− Ele lembra a Emma quando pequena, viva,
cheia de energia.
− E ela está se adaptando a nova vida na
Capital?
− Sim, pensei que talvez sentisse falta dos
amigos que deixou na Itália, mas já reencontrou
antigas amizades. Hoje mesmo saiu com um grupo
de colegas do tempo da faculdade.
− Mesmo?
− Foi um alívio vê-la retornar a vida social,
pensamos que não se adaptaria, ainda é jovem,
sempre gostou de sair, de dançar, achei que logo se
entediaria se ficasse só em casa. Na Itália,
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trabalhava, tinha um círculo social.


− Desculpa, Robert. Mas o passado da Emma,
esse lugar que ela foi é... – Eu me sentia um
canalha insinuando aquilo, mas era a única forma
de conseguir a informação que queria.
− Não precisa se preocupar, ela repetiu cem
vezes o nome da boate onde estaria, Toca-Discos,
caso acontecesse algo e precisássemos encontrá-la.
Emma não é mais a menina inconsequente, ela é
uma mãe amorosa, dedicada, protetora.
− Fico mais tranquilo.

~§~

Era um lugar pequeno, desses alternativos, a


decoração lembrava as disco dos anos 70, garotas
com perucas coloridas desfilavam com saias
curtíssimas e botas de canos longos. A música era
lenta, romântica. Olhei para a pista, ela estava lá,
mas não estava sozinha. Ele a envolvia em seus
braços, deslizando suas mãos em suas costas. Como
ousava tocá-la daquele jeito? Caminhei com os
punhos fechados.

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– Tira suas mãos de cima dela! – gritei, o


homem me encarou e só então reconheci o
namoradinho, Trevor. – Eu disse para você tirar as
mãos do corpo dela – repeti, pronunciando cada
palavra devagar, me controlando para não cometer
uma sandice.
–O que você faz aqui? – Emma perguntou me
encarando, seminua em um minúsculo vestido preto
com alcinhas, tão provocante quanto aquele que
usou para invadir o meu quarto no dia do meu
casamento e bagunçar totalmente a minha vida.
– Vim buscar você – respondi olhando em seus
olhos.
– Eu não vou com você – disse atrevida me
dando as costas.
–Você não tem escolha. – falei puxando-a para
junto do meu corpo. – Você vem comigo, Emm.
Agora!
– Você não sabe ouvir um não, cara? – o
namoradinho veio até ela e a segurou pelo braço. –
Emm, vem comigo! – Sem pensar nas
consequências, puxei Emma para o lado, tirando-a
da frente e desferi um soco no rosto de Trevor, ele

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cambaleou e caiu no chão.


– Eu devia ter feito isso há cinco anos –
esbravejei indo para cima dele, dois seguranças me
contiveram, agarrando os meus braços. Trevor
tentou se levantar para revidar, mas uma garota
magra de cabelos escuros se aproximou,
acompanhada de outras pessoas, contendo-o. Sua
boca sangrava. Emma caminhou até ele,
agachando-se ao seu lado. Não havia mais música e
a voz dela chegou nítida aos meus ouvidos.
– Trevor, eu vou embora. Eu vou tirá-lo daqui,
depois a gente conversa.
– Leva esse seu namorado psicopata daqui! – a
morena gritou.
– Ele não é o namorado dela – Trevor
esbravejou. – Que merda é essa Emm? Esse cara é
o teu cunhado.
– Eu explico outra hora. Desculpa.
Ela passou direto por mim. Caminhou de cabeça
erguida, sem olhar para trás, afastando-se
rapidamente. Demorei a me desvencilhar dos
seguranças, corri atrás dela, a noite estava fria.
Olhei para os dois lados da rua e não a vi. Corri até
a esquina mais próxima. Ela caminhava abraçando
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o próprio corpo, o vestido curto, o salto alto, os


cabelos soltos ao vento.
– Emm! – disse quando a alcancei. − Você está
louca em sair desse jeito? Saí atrás de você, mas
você sumiu. – Ela me ignorava. − Para de caminhar
e me ouve! – ordenei perdendo a paciência e
segurando-a pelo cotovelo.
– Não me toca! – gritou, puxando o braço com
força, eu recuei, não queria mais desentendimentos,
precisávamos conversar, esclarecer as coisas.
Peguei o celular no bolso do smoking e liguei para
o meu motorista. Emma continuou caminhando, eu
a seguia em silêncio. A limusine nos alcançou.
– Entra no carro. – falei. Ela me olhou confusa e
então viu o carro estacionado ao seu lado. Carlos
aguardava com a porta aberta.
– Não – protestou me encarando.
– Ah... não? Veremos! – Segurei-a na altura dos
braços e a suspendi colocando-a para dentro do
carro sem dificuldade. Entrando em seguida e
fechando a porta.
– Pode ir, Carlos. Apenas dirija – ordenei, antes
que a cabine do motorista desaparecesse atrás de
um vidro fumê, deixando-nos a sós. Tirei o casaco
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e tentei colocá-lo em seus ombros. Seu corpo


seminu me provocava pensamentos indecentes, não
tinha dúvidas do desejo que Emma sentia por mim
e sabia que se a tocasse seria correspondido. Mas
naquela noite, eu queria ter outras certezas e para
isso precisávamos conversar, eu queria que ela me
ouvisse, eu queria escutá-la.
– Não me toca – disse me afastando com a mão
espalmada.
– Que droga, Emma! O que aconteceu? Eu estou
há uma semana tentando conversar com você e não
consigo. Você não me atende. E quando volto de
viagem te encontro nos braços do seu antigo
namorado.
– Por quê? Eu devia estar nos braços do seu
amigo Greg? – Olhei para ela tentando entender
aquela insinuação. Senti como se levasse um soco
no estômago. Eu conhecia o Greg, sabia que era um
canalha com as mulheres. Mas com a Emma? Não,
ele não ousaria.
– Como assim? – perguntei na esperança que ela
estivesse apenas me provocando. − O que o Greg
tem a ver com isso? Onde vocês se encontraram?
Emma, me responde. Ele te tocou?
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– Como assim, digo eu – respondeu com ironia.


− Você resolveu me emprestar para o seu amigo?
Foi isso? – Emma gesticulava nervosa enquanto
falava, seu olhar era de fúria. − Considera–me o
que Matt? Uma vagabunda? É isso o que eu sou pra
você? – Enquanto pronunciava aquelas palavras, eu
me afundava em um abismo de suposições. O que
ele fez com ela? Eu estava enlouquecendo com a
simples suspeita de que algo pudesse ter
acontecido. Emma me torturava com a dúvida. −
Você me mandou direto para os braços do seu
amigo é quer saber se ele me tocou? – perguntou
com sarcasmo.
– Eu só pedi para ele te ligar cancelando o nosso
encontro – tentei explicar. − Eu não conseguia te
achar. Não sabia pra quem recorrer, eu confiava no
Greg, somos amigos há anos. – Droga! Eu sou um
idiota completo. Como fui mandá-la ao encontro
daquele... O Greg vai pagar caro por isso! –
Emma, eu preciso saber, o que aconteceu? –
implorei encarando-a.
– Eu posso te garantir que foi uma tarde
inesquecível para ele − respondeu com um sorriso
no canto dos lábios.
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– Você não deixou aquele canalha te tocar?


– Quem disse que ele me tocou? Eu o toquei –
sussurrou provocante.
–Você não fez isso? Emma para de me torturar,
você não iria fazer isso, não você.
– Matthew, você me confunde, não era para eu
agradar o seu amigo? Não foi pra isso que você
mandou ele me receber? Não foi pra, qual foi a
palavra que ele usou mesmo? Ah, para saciar o
tesão que ele sempre sentiu por mim.
– Eu vou matar aquele canalha! – gritei
desesperado, colocando as mãos na cabeça e
abaixando-a até meus cotovelos tocarem minhas
pernas, sentia-me sem chão, precisava colocar os
pensamentos em ordem. Greg não seria perdoado –
Droga, Emm! – voltei a encará-la. – Vocês tiveram
alguma coisa? Eu preciso saber.
– Por quê? Eu não te devo fidelidade, Matt.
Você é um homem casado e quer que eu seja fiel?
Você quer que eu diga o quê? Que você foi o único
homem na minha vida? Sinto muito, mas não foi.
Tive outros. E você não foi nem o primeiro.
– Para de me provocar, Emm. – esbravejei, sem
paciência para aquele jogo de acusações. Inferno!
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Por que sempre terminamos assim? Eu só queria


dizer que te amo, pensei desanimado.
– Por quê? Eu falei alguma mentira? – ela
provocou. − E quer saber mais uma coisa sobre
mim? Eu adoro fazer sexo. E sabe quem me deixou
assim? Você. A culpa é sua de eu estar agora louca
pra fazer isso – ela ajoelhou-se no banco de couro
se inclinando sobre o meu corpo, sua mão deslizou
entre as minhas pernas e envolveu o meu membro,
ainda protegido pelo tecido da calça. A alça do
vestido desceu pelo braço, deixando exposto seu
seio nu. – Você me mostrou o quanto podia ser
delicioso ser possuída – sussurrou se aproximando
mais, seus lábios tocaram os meus, seus dedos,
longos, hábeis, abriram a minha calça e
percorreram a extensão do meu pênis, apertando
levemente a pele rosada, ofeguei. – Você me fez
querer ser sua, só para sentir o seu membro duro
dentro de mim. Você me viciou nisso aqui. –
Molhei meus lábios olhando para a carícia que
recebia. − E você? Alguma vez desejou ser meu? –
tentei murmurar que a amava, mas fui
interrompido. – Não, você nunca foi meu, eu
sempre soube disso, mas mesmo assim eu desejava
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você. Meu corpo queria o seu dentro dele, mesmo


sabendo que depois você iria para os braços de
outra, mesmo sabendo que depois eu iria me sentir
usada e o pior é que eu gostava de ser usada por
você. – Enquanto falava, Emma se inclinou até seus
lábios tocarem meu sexo. Sua língua me lambeu,
devassa, sua boca me envolveu e ela me chupou
devagar, engolindo meu membro.
– Eu já falei que você é muito gostoso,
Matthew? – perguntou deixando apenas a ponta do
meu pênis entre seus lábios vermelhos.
– Emma – ofeguei, segurando seus cabelos para
poder vê-la enquanto me sugava, promíscua.
– Eu quero provar você, Matthew. Eu quero
sentir o seu gosto. – murmurou, chupando mais
forte, me devorando e me expelindo, selvagem,
faminta. A maciez da sua língua e a pressão dos
seus lábios me levaram à perdição, senti meu
sêmen sendo expelido.
– Eu vou gozar, Emm. – grunhi enquanto
jorrava em sua boca. Ela não se afastou, provou o
líquido esbranquiçado e grosso que brotava do meu
corpo.

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Nossas bocas se tocaram, tentei abraçá-la, puxá-


la para junto de mim, mas Emma se afastou, me
deixando confuso.
Ela se desfez da peça de renda preta, olhei para
o seu sexo, meu membro voltou a pulsar, dolorido
pelas mordidas capciosas recebidas enquanto me
subjugava à depravação da sua boca. Tirei a calça e
a boxer e segurei meu pênis, massageando-o
levemente, provocando sua ereção. Ela envolveu
minha cintura com as suas pernas, sem sentar
totalmente em meu colo. Tirou minha gravata e
abriu os botões da minha camisa.
– O que você está fazendo? – murmurei.
– O que eu estou fazendo? Estou saciando a
minha fome de você. Olha o que você faz comigo.
– Emma levou a minha mão entre suas pernas,
meus dedos a penetraram, úmida, quente, dilatada.
– Você me deixa faminta. – deslizei para dentro
dela, acariciando seu interior. Minha boca procurou
a maciez dos seus seios, meus lábios se fecharam
em torno dos seus mamilos, sugando-os com
voracidade. Senti sua pele arrepiar, seu bico
endurecer e a provoquei, mordendo a parte mais
enrijecida. Segurei o seu quadril, ela me olhou nos
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olhos e depois para a parte do nosso corpo que se


completava, meu membro tocou os seus lábios
inchados e deslizou entre eles, entrando em seu
sexo, sentindo as contrações do seu prazer.
Tirei o seu vestindo deixando-a nua, acariciei os
seu seios, fechando minhas mãos em torno de sua
pele branca, ela se moveu, devassa, me devorando e
me abandonando em uma dança erótica, cobriu a
minha mão com a sua, levando-a até sua boca, meu
dedo médio foi envolvido pelos seus lábios, ela o
sugou, libidinosa, me deixando a ponto de gozar.
Suas contrações se intensificaram, sua respiração
falhou e ela gozou. A envolvi em meus braços e a
beijei. Ainda estava duro dentro dela, desci minhas
mãos pelas suas costas, estava prestes a fazê-la me
satisfazer, quando ela se afastou.
– O que foi? – perguntei.
– Eu já estou satisfeita. Obrigada! – Dei uma
gargalhada e a puxei de volta para o meu colo, ela
tentou se afastar virando de costas, mas eu a trouxe
de volta, meu membro se encaixou entre suas
nádegas brancas e macias. – Me solta! – ordenou se
inclinando para frente, fugindo do meu toque. –
Matthew, me solta.
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– Não. Você me provocou, agora aguenta as


consequências.
– O que você vai fazer comigo? – perguntou
voltando a ser submissa. O que ela pretendia com
aquilo? – Meu corpo é seu, me surpreenda –
Deitou-se, escorando sua cabeça em meu ombro.
– Não me tente. Eu posso ser bem cruel com
você. – minhas mãos passearam pelo seu corpo,
provoquei seus seios, desci pelo seu ventre e
encontrei seu clitóris, meus dedos se demoraram
ali.
–Você já foi, qualquer coisa que fizer agora, não
superará o que me fez no passado. – Ela voltou a
me acusar, tirei-a do meu colo e a deitei no banco,
colocando meu corpo sobre o dela, queria que ela
olhasse nos meus olhos para ver que eu não mentia,
estava cansado de acusações, de mentiras, de
desentendimentos, de desencontros.
– Eu não posso mudar o que fiz no passado.
Mas no presente eu jamais faria algo que te
machucasse. – Eu a beijei. – Você é muito
importante pra mim. – Outro beijo, era para ser um
carinho, mas Emma mordeu meu lábio e eu perdi a
razão, possuindo sua boca com a minha língua,
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roubando seu fôlego. Seus dedos se emaranharam


em meus cabelos, suas pernas envolveram minha
cintura e eu a penetrei, meti meu pênis dentro dela,
uma vez, duas, três, ... uma sequência de vezes,
saciando-me.
– Quero gozar com você. – ela sussurrou − Nem
antes, nem depois, ao mesmo tempo.
– Quase...– murmurei ofegante. – Mexendo,
enquanto tocava o seu clitóris com meus dedos. –
Agora! – finquei meu pênis em sua vagina,
puxando seu quadril para cima. Seu orgasmo foi
intenso, a perdição de um homem apaixonado.

~§~

Ela não contestou quando a convidei para ir ao


meu apartamento, mas quando entramos no prédio
da Stone, Emma ficou lívida, seu corpo se retraiu.
– Tudo bem, Emm?
–Você mora aqui? – perguntou apreensiva.
– Moro. Vamos pegar um elevador privado, que
vai direto para o meu apartamento no último andar.
– expliquei, observando a sua inquietude. − Emm,
você está pálida? O que houve?
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– Matt, eu não menti quando disse que o Greg


tentou me agarrar. Por pouco ele não me... eu fugi,
ele não me tocou, eu dei uma joelhada nele e corri
– ela mal conseguia falar, trêmula. Um sentimento
de impotência e ira tomou conta de mim.
– Meu Deus, Emm – falei envolvendo-a em meu
braços. − Eu pensei que você estivesse me
provocando.
– Eu pensei que não ia conseguir fugir –
balbuciou escondendo o rosto em meu peito.
Ficamos em silêncio enquanto Carlos estacionava o
carro na vaga reservada. O silêncio nos
acompanhou até o elevador, eu a envolvia em meus
braços. Como pude ser tão ingênuo em confiar
naquele canalha. Quando éramos jovens, esse seu
jeito inconsequente com as mulheres era justificado
pela sua falta de experiência, mas na verdade
sempre foi canalhice, Greg era um mau caráter.
– Eu vou fazer o Greg pagar pelo que fez com
você. – falei olhando em seus olhos quando
entramos no elevador. − Eu prometo.

~§~

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Ela caminhou até um aparador onde algumas


fotos estavam dispostas em pequenos porta-
retratos. Examinou-as sem pronunciar uma palavra,
até uma, em especial, chamar a sua atenção.
Caminhei até ela, estávamos na sala do meu
apartamento, envolvi sua cintura com meus braços
e escorei meu queixo em seu ombro. Emma
observava uma foto minha, ainda criança, nas mãos
um avião de lata, presente do meu avô. O mesmo
avião que Luca brincava quando nos conhecemos.
– Ele é igual a você – disse sem virar o rosto,
olhei para o garotinho de olhos azuis, cabelos
escuros caindo nos olhos. − Igual ao pai – ela
completou. Um sorriso e uma alegria indescritível
tomou conta de mim. Ela disse.
– Lindo como o pai, você quer dizer –
murmurei fazendo-a me encarar, me apropriando
do seu fôlego, beijei-a com sofreguidão, com
paixão. – Quando vi Luca – falei me afastando o
suficiente para olhá-la nos olhos. − Eu me
enxerguei correndo com o aviãozinho que meu avô
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me deu, o mesmo da foto. Eu dei aquele avião para


o seu pai colocar na sua coleção, foi do meu bisavô,
depois do meu avô e finalmente meu e agora é do
Luca. No momento que eu descobri que ele era seu,
eu soube que era meu, Emm. Você poderia ficar
negando o resto da vida, não ia adiantar.
– Eu não vou... – disse com um sorriso lindo nos
lábios, mas com lágrimas nos olhos. − Ele é seu. Eu
queria te esquecer, eu precisava te esquecer, mas
toda vez que eu olhava para aqueles olhos azuis, eu
te via. Ele não precisava ter nascido tão parecido
com você. Seria mais fácil te tirar da minha vida.
– É isso que você deseja? – perguntei franzindo
a testa.
– É o certo – balbuciou. − Não é?
– Não! Como pode ser certo eu não poder te
tocar, eu não poder ouvir a sua voz, sentir o seu
cheiro, provar o seu gosto. – Olhei em seus olhos,
ela mordia os lábios. − Como pode ser certo eu não
poder te amar?
– Matt... – Emma murmurou.
–Eu te amo, Emm. – pronunciar aquelas
palavras foi como arrancar do peito uma sombra
que me prendia em um lugar escuro e sem vida. −
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Te amo – sussurrei beijando seus lábios. – Te amo.


– Outro beijo. − Te amo – nossas bocas se unirem
em um beijo demorado. – Desde que você voltou
eu estou tentando dizer “te amo”, mas parece que o
universo conspira contra nós. – Comecei a falar
sem parar, era como se esperasse que a qualquer
momento algo nos interrompesse e nada seria dito.
− Eu estava fechando um negócio importante no
Japão quando seu pai me ligou dizendo que você
havia voltado, eu perdi a cabeça, Emm. Larguei
todos os compromissos e voei pra cá, mas ficaram
coisas pendentes e se eu não voltasse, pessoas
poderiam ser demitidas. Estávamos fechando a
compra de uma empresa de um concorrente que
estava prestes a falir, queria aproveitar a estrutura e
a mão de obra dele e ampliar a minha empresa e se
eu não fosse logo, poderia ser tarde. Haviam outras
empresas interessadas, mas estas iriam fechá-la,
eliminando o concorrente, eu tinha prioridade no
negócio, mas não podia perder tempo. Por isso
viajei no domingo. Tentei te encontrar, o celular só
dava mensagem de voz, avisando que estava fora
da área de cobertura e quando fui à marina, vocês
estavam em alto-mar. Então recorri ao Greg. Mas
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era para ele te ligar, só isso – terminei recuperando


o fôlego. Ela acariciou a minha face.
– Como você me encontrou hoje?
– As negociações se estenderam mais do que eu
imaginava. Cheguei de viagem hoje à tarde, vim
direto para o escritório, tive algumas reuniões, te
liguei várias vezes e você não me atendeu, tinha
uma festa para ir, a entrega de algum prêmio, mas
precisava combinar de te encontrar depois, então
não resisti e liguei para o seu pai. Fiz toda uma
história até conseguir tirar dele o lugar onde você
estava. E aqui estamos.
–E a festa? E o prêmio?
–A festa deve estar acontecendo e quanto ao
prêmio? Greg e Nathalie estão lá, estou bem
representado.
–E Nathalie, Matt? – ela engoliu em seco e seus
olhos inquietos procuraram os meus. − Ela é a sua
esposa.
–Nathalie não faz mais parte da minha vida,
Emm. Nós nos separamos há quase três anos.
– Como assim? – questionou incrédula. − Mas
vocês estão sempre juntos nos eventos, nas
revistas? Papai e mamãe não comentaram nada.
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– Ninguém sabe. Somente nossos advogados e o


Greg. Foi um pedido da sua irmã, ela imaginou que
separada não iria mais receber tantos convites para
festas e entrevistas e eu tinha interesse em mantê-la
por perto.
– É bom para os negócios – completou
visivelmente decepcionada.
– Não – respondi sorrindo, se aquilo a
incomodava era porque ela me queria. − Ela era o
meu único vínculo com você – confessei. − Que
desculpa eu teria para aparecer na sua casa se fosse
o ex–marido de Nathalie, pra começar seu pai não
teria me ligado. Eu não saberia da sua volta. Não
poderia ter passado uma tarde maravilhosa com o
nosso filho.
– Por que você não me procurou na Itália?
– Eu pensei em ir, mas me torturava pelo que fiz
com você no hospital, imaginei que devia me odiar.
E depois sua tia deixava bem claro, quando nos
encontrávamos nas festas da família, que você tinha
encontrado o verdadeiro amor e agora era a mulher
mais feliz do mundo.
– Luca.
– Isso eu só descobri agora.
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– E se eu tivesse voltado casada? – provocou.


– Eu te roubaria do seu marido, eu iria te seduzir
e te possuir de qualquer maneira, eu não resisto a
você. Eu preciso te tocar. – Meus dedos deslizaram
pela sua pele. – Eu preciso te provar – sussurrei,
enquanto descia a alça do vestido, deslizando meus
lábios em sua pele, encontrando seu seio, mordendo
o seu mamilo.
–Matt! – ela gemeu com a dor provocada pelos
meus dentes, eu chupei sua pele rosada,
provocando sua excitação. Olhei para o peito
ofegante, uma mancha vermelha na pele.
– Desculpa... – falei olhando em seus olhos, sem
afastar a boca do seu seio, passei a língua em torno
da área dolorida e voltei a sorvê-la. – Eu nunca
vou cansar de você, Emm – confessei, terminando
de despi-la e deitando-a de bruços no sofá. Olhei
para as suas costas, toquei com as mãos sua pele
macia, branca e arredondada e encaixei meu
membro entre elas, pressionando levemente
naquele lugar apertado e proibido. Um liquido saiu
da minha glande lambuzando a pequena entrada,
Emma empinou o quadril, em uma oferta tentadora.
–Matthew, você não vai fazer isso – sussurrou.
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– Hoje não, meu amor. Só estou fazendo o


reconhecimento da área, mas, em breve, eu volto.
– Isso se eu deixar.
– Você vai... você deseja tanto quanto eu –
projetei meu corpo para frente e a ponta do meu
pênis a penetrou, ela gemeu e se abriu na
expectativa de mais. – Não faz isso, Emm. Eu não
vou me controlar e posso te machucar. Ela não
obedeceu, busquei forças para resistir aquela
tentação e me afastei ofegante, sentando do outro
lado do sofá. Segurei o meu pênis, que pulsava
enlouquecidamente, tentando aplacar aquele desejo.
– Você vai se divertir sozinho? – ela provocou,
mordendo o lábio inferior. Luxúria, Emma era o
meu pecado capital. Ela ainda vai me levar para o
Inferno.
– Maluca, eu poderia ter te machucado e eu não
quero que você sinta dor, só prazer. – disse
deitando-a de costas e me inclinado sobre o seu
corpo. – Você não faz ideia o quanto eu te desejo,
Emma? Quando eu te vi dançando com o seu ex–
namorado, ele te tocando, eu enlouqueci... – Ela
tocou meus lábios com a ponta dos dedos,
impedindo que eu continuasse.
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–Matt, eu sou sua. Há cinco anos eu me


entreguei a você. E desde então, só a você. Eu só
desejava você. – ela beijou meus lábios, eu não
interrompi, queria ouvi-la, queria que ela
confessasse o que sentia por mim. – Meu corpo só
queria o seu. – Desejo? Pensei engolindo em seco.
Uma língua faminta me tirou o fôlego, a sanidade, a
força de resistir. Ela entrelaçou as pernas em meu
quadril e meu membro a penetrou em uma só
estocada, fundo. – Eu te amo. – Deslizei dentro do
corpo da mulher que acabara de dizer que me
amava sem pressa, saboreando seu corpo,
provocando seu prazer, seu gemido, seu ofegar, seu
gozo.
Ela me ama!

~§~

Não consegui dormir, fiquei olhando para


Emma em meus braços, um misto de alegria e
insegurança me tiraram o sono. Nem o cansaço pós
viagem, pós sexo me fez dormir. Pensava no
turbilhão de acontecimentos que iria suscitar
quando tornássemos público o nosso
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relacionamento. Precisávamos estar preparados, eu


estava, mas e ela? Será que ficaria ao meu lado?
Precisava proteger Luca da fúria da Imprensa.
Precisava me libertar de Nathalie e esse
relacionamento nocivo e de interesses que
compartilhávamos. Mas a primeira coisa que
precisava resolver se chamava Gregory Michels. O
que fazer com o cara que até hoje eu tinha como
um amigo? O homem que conhecia todos os
negócios da Stone. Demiti-lo seria o mais
apropriado, mas havia implicações contratuais.
Meu estômago resmungou, só então me dei
conta que não havia me alimentado durante todo o
dia. Cuidadosamente, a desvencilhei dos meus
braços, vesti a calça do primeiro pijama que
encontrei e desci as escadas em direção à cozinha.
Eu não sabia cozinhar, mas tinha uma leve noção
de como se faziam omeletes. Abri uma garrafa de
vinho, caminhei até a sala, peguei um disco da
minha coleção de Nat King Cole coloquei na
vitrola e voltei para a difícil missão de quebrar ovos
sem estraçalhar a casca. Depois de uma verdadeira
batalha, consegui organizar a mistura com
especiarias e queijo dentro de uma frigideira. O
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cheiro era delicioso. Servi tudo em um prato e me


virei para colocá-lo sobre o balcão de mármore que
separava os ambientes da cozinha e sala de jantar.

Ela me observava, usava uma das minhas


camisas, o cabelo em desalinho, o olhar sonolento e
os lábios vermelhos e inchados dos beijos que
trocamos.
– Com fome? – perguntei largando a refeição
em sua frente, ela molhou os lábios com a ponta da
língua, mas não era para o prato que olhava.
– De você – respondeu se aproximando, com a
ponta do dedo fez o contorno da minha boca, antes
de morder meu lábio inferior sugando-o com
volúpia, meu corpo respondeu àquele estímulo,
meu membro pulsou. Eu a envolvi em meus braços,
minhas mãos invadiram a peça branca, explorando
sua nudez. Emma me entorpecia com a sua entrega.
Respirei fundo antes de afastá-la.
– Vamos comer a omelete primeiro, depois eu
mato a sua outra fome. – Ela sentou-se ao meu
lado, suas pernas tocavam o tecido fino da seda
preta que cobria o meus corpo. Devoramos todo o
conteúdo do prato, famintos.
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–Vinho? – perguntei, voltando a encher a taça,


esquecida sobre o mármore.
– Não bebo – disse com visível desconforto.
Olhei para ela tentando descobrir porque aquela
decisão a deixava constrangida. − Não mais. – Não
mais? Lembrei da última vez que a vi bêbada,
lembrei de cada detalhe daquele dia. Desci da
banqueta, ela continuou sentada, minhas mãos
tocaram sua cintura enquanto meu corpo se
encaixava entre suas pernas.
– Por causa daquele dia? – perguntei olhando
em seus olhos.
– Sim. Aquele dia é um ponto de interrogação
em minha vida. – disse aflita, desviando o olhar. −
Eu não lembro de nada. E a bebida é a grande
culpada disso – Ela me encarou. − O que aconteceu
naquele dia, Matt? Greg falou que eu te
proporcionei uma despedida de solteiro. O que eu
fiz? O que nós fizemos? – Não era para ela
descobrir através do Greg o que tinha acontecido.
Ele fez parecer sujo, mas não foi. Ela não podia
pensar que eu era um canalha. Um cara que se
aproveitou da sua embriaguez.
– Vamos conversar no quarto? Eu conto tudo o
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que você quer saber.

~§~

– O que aconteceu, Matt? Por que o Greg falou


aquelas coisas? – perguntou aflita, ajoelhada sobre
os lençóis.
– Porque ele é um idiota. Porque eu fui um
idiota. – A minha resposta só piorou as coisas,
Emma se retraiu.
– Por que você foi um idiota? – perguntou
angustiada.
– Porque eu contei pra ele o que havia
acontecido entre nós naquele dia. – confessei.
– Para de me enrolar, Matt. O que aconteceu? –
Emma perdeu a paciência.
– Você me procurou. – disse escolhendo as
palavras para não estragar aquele momento, para
não acabar com aquela lembrança, para não destruir
o nosso futuro − Foi até o meu quarto, estava
bêbada. Estava linda. – completei com um sorriso
melancólico. − Nós discutimos, você queria saber
porque eu te afastei da sua irmã, você me
empurrou, eu caí sentado na cama e você veio para
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cima de mim. Eu não resisti e te beijei.


– À força? – ela fez uma careta, franzindo a
testa.
– Não − respondi. − Você foi bem receptiva.
–Nós?
– Não, quer dizer... – respirei fundo. − mais ou
menos. Nós nos tocamos.
– Eu não entendo...
– Foi assim.... – eu a beijei, enquanto
desabotoava a camisa. Minha boca deslizou pelo
seu pescoço e encontrou seus seios, minha mão
desceu pelo seu ventre e profanou o seu corpo, ela
gemeu
–Matt. – procurei os seus olhos. – Eu quero
você. – Senti sua mão descer pelo meu abdômen,
invadir o cós do pijama e segurar meu pênis,
envolvendo-o com seus dedos.
– Eu queria você aquele dia e uma batida na
porta nos impediu – confessei enquanto era
massageado. − Eu imaginei durante anos como
seria ter te possuído – confessei ofegante. −
Quando eu te reencontrei eu queria ficar sozinho
com você, queria provocá-la, queria que você me
desejasse como eu te desejava. Eu ouvi a sua
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conversa com a Nathalie naquela noite, eu sabia


que era você na biblioteca. – Não queria mais
esconder nada dela, chega de mal-entendidos, de
enganos, de desencontros. − Eu achei que era a
oportunidade para te confrontar, para te fazer
lembrar. Mas você estava lá, esperando para se
entregar a outro homem e eu não resisti. Você seria
minha de qualquer jeito, nem que fosse sem
perceber. − Eu só pensava nisso. – Minha pélvis
tocou a dela, quando meu membro a preencheu,
completando o seu corpo. Cada centímetro meu em
seu interior, roçando em suas paredes, umedecido
com sua libido, deslizando sem dificuldade uma
vez mais e mais, e mais...

~§~

Um acidente de carro, um garoto ferido, meu


pai no hospital. A igreja, Nathalie, Emma, a praia,
...
− Eu não te eduquei para você jogar tudo fora
por uma trepada, entendeu? Seu futuro é ao lado
da sua esposa, se quiser ter casinhos, tenha. Mas
nunca deixe isso interferir na sua família e
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principalmente nos seus negócios. Estamos


entendidos? – engoli em seco e olhei nos olhos do
meu pai.
− Não! – gritei. Acordando com o grunhido que
saia sufocado da minha garganta. Estava suado,
olhei para o lado. Ela dormia, nua sobre o lençol
branco. Toquei seu cabelo. − Eu enfrentarei o
mundo para ficar com você. – murmurei.
Não consegui dormir, tomei um banho. Tinha
urgência em resolver aquela situação. Começaria
por Greg.
Liguei para ele via Skype, queria olhar em seus
olhos quando o confrontasse. Ele estava dormindo
acompanhado por uma loira. Demorou a atender.
Passei a ligação para a tela e sentei no sofá olhando
para a cara de ressaca do cara com olhos vermelhos
que denunciavam a bebedeira da noite anterior.
− O que foi Matthew? Tá louco? São sete horas
de sábado. Temos algum compromisso? –
perguntou com um bocejo.
− Por que não ligou para Emma?
− O quê? Emma?
− Não se faça de desentendido, Greg, estou sem
paciência − esbravejei.
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− A sua cunhada. Eu liguei, liguei e disse o que


você me pediu. – respondeu descaradamente.
− Não minta, cara. Você a chamou na Stone, por
que você fez isso, Greg? O que você tem nessa
merda de cabeça?
− Pega leve, Matt. Vai brigar com o seu amigo
por causa daquela vadiazinha? Eu não fiz nada,
liguei para ela e a garota se ofereceu. Então
marquei uma trepada na Stone. Na hora a louca se
arrependeu e fez todo um escândalo.
− Cale-se! – gritei. Com que tipo de canalha eu
convivo? Como pude me enganar com Greg,
quantas vezes o livrei de situações constrangedoras
imaginando que as garotas exageravam. Deus! Eu
fui conivente com esse tipo de situação por anos,
imaginando que meu amigo só era desajeitado com
as mulheres quando na verdade era o tipo mais
desprezível de homem que existe. – Eu não sei o
que eu faço com você, Greg? Mas você poderia
facilitar as coisas começando com a verdade.
Emma seria incapaz de fazer isso.
− Você não conhece essa mulher, Matt. Acha
que o tumulto que aconteceu na Boate foi uma
coincidência. Deve ter sido armação dela e do outro
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cara e você caiu feito um patinho.


− Que tumulto?
− A sua cena de ciúmes. Será impossível
controlar o escândalo, meu amigo. Suas fotos estão
estampando todos os sites de notícias.
– Eu não quero saber de sites e fotos – contestei.
− Eu quero saber o que você fez com a Emma? Eu
não quero você perto dela, entendeu?
– Cara, você está louco. – disse mudando de
tática, partindo para o vitimismo. − Essa garota vai
destruir a sua vida, não sei o que ela inventou, mas
é mentira. Eu não fiz nada. Ela é totalmente pirada.
Você prefere acreditar nessa maluca a acreditar no
seu amigo? Você é um executivo respeitado, tem
uma mulher maravilhosa, e agora essa foto sua e da
Emma, praticamente se beijando em uma boate de
quinta e outra de você batendo num cara. Você
pirou? Sai dessa roubada.
– Cala a boca, Greg. Eu dou um jeito nessas
fotos, isso não me incomoda. Eu te liguei pra te
avisar que as coisas vão mudar, dessa vez você
ultrapassou os limites. Você se meteu com a mulher
que eu amo e isso não tem perdão.
– Cara, pensa bem... Isso vai ser péssimo pra
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sua imagem, podemos perder negócios e as ações


das empresas podem despencar. – Respirou fundo,
passou as mãos nos cabelos ruivos, a loira nua ao
seu lado se mexeu, ele a empurrou para fora do
meu campo de visão. − Para todos, você e Nathalie
ainda estão casados e você a está traindo com a
irmã.
– Já disse que isso eu resolvo. Só quero que
você entenda que a Emma é minha e você vai ficar
o mais longe possível dela. – Olhei para ele através
da tela colocada estrategicamente na parede,
utilizada quase que exclusivamente para
teleconferências. − Lembra que eu posso acabar
com você, Greg.
– Eu entendi. – falou me encarando, poderia
jurar que era ódio em seu olhar, não medo, nem
arrependimento. − E com a Nathalie? Como você
vai se explicar?
–Isso não te diz respeito – encerrei aquela
ligação.
− Que fotos? – Emma me observava da porta,
estava pálida.
Eu a abracei, caminhamos até o sofá. Fiz uma
pesquisa rápida no smartphone, que foi projetada
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na tela, lá estavam as fotos tiradas de celulares na


Boate onde nos encontramos na noite anterior.
AMANTE, TRAIÇÃO, DIVÓRCIO, as notícias me
pintaram como um depravado, Emma como uma
oportunista e Nathalie como a esposa compreensiva
e traída. Emm ficou visivelmente abatida.
− Nos vamos passar por isso juntos. Mais cedo
ou mais tarde todos saberiam. Só precisamos
desfazer os desentendimentos.
− Como? Ninguém sabe que você é divorciado e
quando souberem que a amante sou eu, sua
cunhada, as coisas só vão piorar – disse aflita.
− Você me ama? – ela me olhou tentando
entender o que a minha pergunta tinha a ver com
toda aquela confusão.
− Amo – respondeu finalmente.
− Eu estarei ao seu lado, enfrentaremos qualquer
tempestade porque temos um ao outro e temos o
Luca.
− Você não entende? Mamãe está doente, eu
não posso simplesmente chegar em casa e dizer que
estou apaixonada pelo pai do Luca e que ele é você.
− Por que não?
− Eu já decepcionei tanto meus pais, já fiz tanta
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coisa errada, Matthew. – Emma contorcia as mãos


enquanto falava, lágrimas deslizavam de seus
olhos. – Eu não posso levar mais dor para a vida da
minha mãe, não nesse momento. Não quando ela
parece estar se recuperando.
− Nós faremos as coisas do seu jeito, ok? Não
fique assim, nenhum site falou do seu nome.
− Negue, por favor! Negue que temos alguma
coisa. Vamos dizer que você me encontrou por
acaso e .... e bateu no Trevor porque ele causou o
acidente em Saline.
− Eu estou cansado de mentiras, Emma.
− Por favor...
− Porque simplesmente não contamos a
verdade, seus pais entenderão.
− Eu conheço o meu pai, ele vai me afastar da
mamãe. Eu sei que vai – sua aflição me fez ceder.
− Tudo bem. – disse contrariado. − Será do seu
jeito. No seu tempo.
− Obrigada – agradeceu, me abraçando.

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CAPÍTULO QUATORZE

− Deixou a Senhorita Rochester em casa? –


perguntei para o homem de quase dois metros,
usando um terno preto parado a minha frente.
− Sim, senhor.
− Conto com a sua discrição, Carlos. – falei
encarando-o.
− Não se preocupe, Senhor. – Sabia que podia
confiar nele. Estava comigo nos últimos cinco anos,
era um homem discreto e de poucas palavras.
− Tire o resto do dia de folga. – ordenei,
desviando o olhar para o aparelho celular que
chamava o número de Nathalie.
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− Senhor – Carlos chamou minha atenção,


imaginei que não estivesse mais ali, mas
permanecia no mesmo lugar.
− Sim? – perguntei franzindo a testa. O que ele
podia querer?
− O carro da Senhora Stone estava estacionado
em frente à Casa dos Rochester.
− Tem certeza?
− Sim, senhor.
− Obrigado.
O que ela fazia lá e a essa hora da manhã?
Passou a noite na Festa de Premiação. De repente
me dei conta, Nathalie era viciada em redes sociais,
tinha um dispositivo que avisava quando o seu
nome era citado em alguma notícia, tinha uma
página para seus seguidores, que era gerenciada por
sua secretária. Inferno! Ela sabia das fotos.

~§~

Os Rochester não se preocupavam muito com a


segurança. Sem portões, a bela casa ficava
localizada em um bairro nobre da Capital, onde um

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forte sistema de vigilância era contratado pelos


moradores para monitorar os visitantes. Por isso
não estranhei a porta entreaberta.
Silêncio, a casa estava acordando, ninguém veio
me receber. Talvez fosse exagero e Nathalie tenha
vindo apenas fazer uma visita aos pais. Podiam
estar tomando o desjejum nos jardins, pensei em
caminhar nessa direção quando a voz de Roberto
chegou aos meus ouvidos.
− Anna, leve Luca para o quarto – ele pedia à
empregada. Ela passou por mim com o menino
sonolento em seus braços. Toquei o seu cabelo com
a ponta dos dedos, recebi um sorriso acompanhado
de um bocejo.
Entrei na sala sem que percebessem a minha
presença, todos tinham a atenção em Nathalie,
minha ex mulher estava sentada em uma poltrona,
os olhos vidrados. Parecia em choque. Caminhei
até ela.
– Nathalie? O que aconteceu? – perguntei me
ajoelhando a sua frente.
– Você me traiu – ela murmurou olhando em
meus olhos. Lembrei da promessa que havia feito a
Emma e a cumpri, exatamente como ela me pediu.
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– Não. Eu não te traí – respondi, pegando a sua


mão para que levanta-se. – Vamos para casa.
– O menino. Ele... – voltei a interrompê-la.
– Shhh... Conversamos em casa. Você já deixou
seus pais bem abalados. Tudo bem? – Controlava a
minha paciência para não contrariar a mulher que
amava, minha vontade era terminar de vez com
aquela farsa.
– Filha vai com o seu marido, por favor! –
Robert pediu
–Eu estou tonta, você me carrega? – respirei
fundo. Você me deve essa, Emma, pensei ao
suspendê-la do chão e envolvê-la em meus braços.
Deixei a casa dos Rochester a passos largos, não
olhei para Emma, não conseguiria continuar com
aquele teatro se a olhasse nos olhos. Albert nos
acompanhou abrindo a porta do meu carro para que
eu colocasse a minha querida esposa no banco do
passageiro. Ela choramingava baixinho. Girei a
chave e acelerei. Quando passamos pelas árvores
que limitavam a Mansão da calçada, olhei para o
lado. Ela ainda usava o vestido da noite anterior,
um longo vermelho. O rosto lembrava um
personagem da DC Comics. Era patético!
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− Pode parar de encenar, Nathalie.


− Encenar? Eu acabo de descobrir que você me
traiu com a minha irmã e você vem falar em cena?
– lancei um olhar em sua direção, eu a conhecia tão
bem que sabia que aquele papel de mulher traída
não duraria por muito tempo. − Foi em Saline? –
permaneci em silêncio. – Responde, droga! Foi em
Saline que você trepou com a minha irmã?
− Estamos separados, isso interessa?
− Você não tinha esse direito! Eu te amava, te
respeitava! – Parei o carro no meio da rua, naquela
hora da manhã não havia movimento.
− Você me amava? Me respeitava? Em que
mundo você vive, Nathalie? Em qual dimensão o
nosso casamento foi perfeito?
− O que você está insinuando, Matthew?
− Eu não estou insinuando nada, querida. Eu sei
das suas traições. Muitas delas antes da separação.
− Eu... eu... nunca te traí. E não mude de
assunto. Você me traiu com a Emma e isso é
imperdoável.
− Ok, o que vamos fazer agora? Vamos nos
separar? – perguntei com cinismo. Ela não
respondeu. Olhou para frente, posição ereta, altiva.
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Voltei a dirigir, seguindo em direção à sua casa. Eu


não era santo, sabia disso, tentei amar a minha
esposa e fui fiel após o casamento, apesar de Emma
povoar os meus pensamentos nos momentos mais
íntimos. Nathalie soube ser discreta, aparecia na
mídia sempre com uma imagem ilibada, impecável.
Mas ela cometia os seus pecados. Não faço ideia do
montante que ela pagou pelas fotos, tiradas menos
de um ano após o nosso casamento. O que sei foi o
quanto eu paguei por elas, alguns anos depois,
quando fui procurado pelo mesmo paparazzi que a
chantageou com imagens um tanto
comprometedoras com o seu amante. O homem
desprezível resolveu lucrar um pouco mais com as
fotografias, veio com uma história de que os
homens deviam se ajudar e que não achava justo
que um homem como eu continuasse a ser
enganado. Tinha os negativos que a minha esposa
não pediu na época da chantagem. Uma amadora.
Eu paguei para evitar o escândalo, não por mim,
mas pelos Stone e os Rochester. Ela nunca soube
da existência desses negativos, eu não os usei
quando pedi a separação, nosso casamento já estava
desgastado e nunca houve amor, não fiquei com
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raiva ou magoado. Simplesmente queria me livrar


daquela situação e foi o que fiz.
− Podemos oficializar o nosso divórcio hoje
mesmo – falei estacionando o carro em frente à
mansão no Condomínio de luxo.
− Você não vai se livrar de mim fácil assim –
falou abrindo a porta e batendo com força antes de
sair a passos largos para o interior da mansão. Fui
atrás dela e a impedi de fechar a porta na minha
cara.
− Eu posso fazer isso sozinho, chamo a
imprensa e comunico que estamos separados –
ameacei. Ela me fuzilou com o olhar.
− Eu, eu preciso me recompor. Por favor, eu
preciso pensar – disse e, pela primeira vez, pareceu
realmente abalada.
− Hoje, Nathalie. Vamos decidir ainda hoje
como isso será feito.
− Tudo bem, eu ligo combinando um lugar para
conversarmos.
− Se você não ligar eu faço um comunicado
oficial – ameacei.
− Hoje à noite, no Francis, às vinte e uma horas,
ok? – perguntou nervosa.
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− Estarei lá.
~§~

A casa de três andares cercada por gigantescas


araucárias impressionava por sua arquitetura
neoclássica, a propriedade de Edward e Julianne
Stone ocupava o espaço que abrigaria
confortavelmente toda a população da pequena
cidade de Saline. A fazenda comportava quadras de
tênis, piscinas, um campo de golfe, um heliporto e
mais algumas extravagâncias. A região reservada
ao agronegócio e o haras ficavam há alguns
quilômetros de distância da casa principal, próximo
à plantação, um vilarejo, destinado aos
trabalhadores e suas famílias, nele uma escola e
uma pequena capela.
Fui recebido por um mordomo, um homem
ainda jovem, nos seus quarenta anos. Armand, que
acompanhou a família nas últimas décadas havia se
aposentado no ano do meu casamento.
− Boa tarde, Senhor Stone.
− Boa tarde... – não consegui lembrar o nome
dele. − Meus pais estão? − perguntei tirando o
casaco do terno.
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− Na ala sul, a Senhora Stone está no jardim de


inverno e o Senhor Stone na Biblioteca. Quer que
eu o anuncie?
− Não há necessidade, obrigado – disse me
encaminhando aos jardins de inverno, um local
agradável com teto de vidro onde um sistema de
irrigação e controle da temperatura mantinha a
pequena floresta tropical impecável.
Já passava do meio-dia, o que vim resolver ali
tomaria metade do meu dia, mas precisava ser feito.
Voltaria para a Capital a tempo do jantar marcado
com Nathalie.
− Mãe – Ela estava sentada em uma chase, uma
visão idílica, a sua volta folhagens exóticas. Usava
um vestido longo verde, os cabelos negros caindo
nos ombros e os olhos de um azul cristalino.
− Matt! – exclamou com um sorriso nos lábios.
Largou o livro que trazia nas mãos e caminhou ao
meu encontro. – Meu amor, quanto tempo? −
Quase seis meses desde a última vez, pensei
enquanto lembrava da discussão com o velho
Stone, das acusações e de mais um longo período
de afastamento. Assim era o nosso relacionamento
desde que eu assumi o controle total dos negócios
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da Stone, transformando-a em uma empresa


modelo em responsabilidade socioambiental, o que
o meu pai considerava uma bobagem. – Está tudo
bem? – perguntou se afastando o suficiente para me
olhar nos olhos.
− Sim, tudo ótimo e é por isso que vim. Quero
que saibam da decisão que tomei antes que se torne
pública.
− Fiquei curiosa – disse entrelaçando seu braço
ao meu e caminhando para fora do belo jardim. –
Vamos encontrar o seu pai, então você nos conta o
que o trouxe até nós.
− Não, quero primeiro conversar com você –
falei pegando suas mãos e retribuindo o olhar.
− Não é nada grave, espero? Do jeito que falou
pensei que fosse uma boa notícia. Um neto, talvez?
–Engoli em seco, na verdade aquilo fazia parte do
que queria contar, mas não agora. Agora, queria
apenas comunicar o meu divórcio. − O que tem de
tão importante para me dizer, filho? – Seu sorriso
havia desaparecido.
Sentamos embaixo de um pergolado, no jardim
externo da mansão. Uma brisa morna tocou o meu
rosto. Sorri para a mulher ao meu lado.
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− Eu me divorciei da Nathalie – comuniquei


examinando a sua expressão. Alívio? Franzi a testa,
ela sorriu.
− Que notícia maravilhosa, querido!
− O quê? – perguntei perplexo. Mamãe nunca
demonstrou nenhum desagrado por Nathalie, pelo
contrário, pareciam amigas. – Você nunca...
− Eu não tinha esse direito, meu filho –
interrompeu. − Era a sua vida, se você a amava,
quem era eu para me intrometer?
− Agora você me deixou confuso. Por que não
gosta da Nathalie?
− Eu gosto da Nathalie, não desejo mal a ela.
Mas vocês dois... − Ela voltou a segurar as minhas
mãos. − Não havia conexão, querido. Eu olhava
para vocês e não via um casal, nem mesmo nos
primeiros meses. Depois do casamento então,
parecia que você havia feito uma fusão Rochester
& Stone. Era tudo tão formal, tão planejado,
prático. Secretários que cuidavam de agendas,
combinavam festas, reservavam jantares. Isso não
funcionou nem comigo e com o seu pai. Não
funcionaria com você. Estou enganada? Ela alguma
vez te fez feliz?
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− Não.
− Mãe sente essas coisas – falou com um olhar
triste. − Você era tão diferente do seu pai, Matthew.
E essa era a minha maior felicidade, saber que você
não se transformaria em um Edward Stone. Mas
com Nathalie foi justamente o que aconteceu.
− Por que você ainda está com ele? – perguntei
depois daquela confissão.
− Porque eu o amo. – Não consegui contestá-la.
Muitas vezes me revoltei contra a sua passividade,
por não me defender quando era agredido
psicologicamente ou até fisicamente por ele. Seu
silêncio machucava mais que as palavras do meu
pai. Mesmo depois ela vindo, me envolvendo em
seus braços e cicatrizando as feridas abertas na
alma. – Talvez você não entenda, mas seu pai não é
totalmente mal. Ele foi criado pelo seu avô para ser
um homem de negócios, não um pai de família,
então ele transformou a família Stone em uma
empresa, quando eu vi você repetindo o erro. Como
me doeu, filho.
− Eu não sigo os passos dele, eu não sou como
ele.
− Eu sei. Eu sei o que você está fazendo, as
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empresas que a Stone está adquirindo e devolvendo


dignidade aos seus funcionários. Você me orgulha,
querido. Mas e a sua vida pessoal, o que pretende
fazer agora?
− Eu quero ser feliz ao lado da mulher que amo.
− Então existe um alguém?
− Sim e você pode ficar tranquila porque ela
consegue bagunçar a minha vida, me tirando
totalmente da rotina – confessei com um sorriso
bobo nos lábios.
− Já estou gostando dessa garota – disse me
dando um abraço demorado interrompido pelo
barulho das hélices de um helicóptero.
− Vocês estão esperando alguém? – perguntei
curioso.
− Não, geralmente seu pai reserva os fins de
semana para o descanso. – Mesmo se afastando da
presidência da Stone, sabia que Edward Stone
continuava no mundo dos negócios, agora voltado
para o agro, administrando as fazendas que
adquiriu.
− Eu gostaria de conversar com ele antes que se
prenda em alguma reunião interminável. Preciso
voltar ainda hoje para a Capital e acertar os
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detalhes do divórcio com Nathalie.


− Ele deve estar no escritório, vamos até lá.

~§~

− O que aquele moleque tem na cabeça?


Primeiro, essa vocação pra Madre Tereza,
transformou a Stone num Centro de Caridade,
agora isso? Um escândalo sujando o nome da nossa
família! – Paralisei ao ouvir aquelas palavras sendo
cuspidas pelo velho Stone, a porta estava
entreaberta, havia outra pessoa com ele. Mamãe
apertou meu braço e tentou evitar que eu
prosseguisse.
– Ele enlouqueceu, não há outra explicação. –
Reconheci aquela voz. – Por isso vim alertá-lo. Não
posso ver o Matthew destruir o patrimônio Stone,
que o Senhor tanto lutou para construir.
− Obrigado, Michels. Você foi meus olhos
dentro da Stone nesses últimos anos. Agora está na
hora de ser também minha voz – engoli em seco, o
que ele pretendia? – Vou convocar uma reunião
para segunda-feira. Vou destituir Matthew da

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presidência e você será nomeado meu representante


para assumir o cargo.
− Senhor, me sinto lisonjeado... – Abri a porta
de supetão interrompendo o discurso de
agradecimento.
- Olá, Greg – falei olhando para o homem que
até um dia atrás tinha como uma pessoa de
confiança, um amigo.
− Matthew, eu posso explicar...
− Você não precisa explicar nada para esse
inconsequente – meu pai vociferou. – Eu sempre te
achei um fraco, quando casou com a Rochester
pensei que ela havia colocado um pouco de juízo na
sua cabeça, mas não... Foi só a vagabunda da irmã
voltar e você coloca tudo a perder.
− O Senhor não tem o direito de falar assim da
Emma. – Mamãe me lançou um olhar de espanto,
surpresa com a declaração do seu marido. Ele
percebeu e aproveitou para coloca-la contra mim.
− Vai defendê-lo agora, Julianne? Vai defender
o seu filho que traiu a esposa com a cunhada?
− Emma é a mulher que eu amo – falei olhando
para ela, o que ele pensava de mim não me
importava, mas ela. Ela tinha que me entender.
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− Filho... – pronunciou decepcionada. Greg deu


um sorriso com o canto dos lábios. Edward Stone
caminhou ao meu encontro.
− Você não vai se divorciar da Nathalie,
moleque! E vai acabar com esse caso
imediatamente ou...
− Ou? – perguntei encarando-o com fúria.
− Ou te deserdo, você vai ficar sem um centavo,
quero ver que mulher vai querer um homem sem
dinheiro. – Dei uma gargalhada.
− Você não tem esse poder, Edward Stone –
disse com tranquilidade. − Pode me destituir da
Stone, faça como quiser.
− Eu te proíbo! – gritou enquanto eu dava as
costas e caminhava em direção a porta mais
próxima que me tirasse de dentro daquela prisão
emocional.
− Matthew... – olhei para trás enquanto abria a
porta do carro. – Emma? – perguntou com visível
reprovação.
− Eu a amo – ela não contestou, me abraçou
forte, respirei fundo quando recebi um beijo na
testa.
− Então lute por esse amor, que eu estarei ao seu
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lado.

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CAPÍTULO QUINZE

Cheguei alguns minutos atrasado para o jantar,


ela não me aguardava. Liguei para o seu celular,
mas não fui atendido. Vinte minutos depois
apareceu, estava completamente recomposta. Usava
um vestido provocante, cabelos soltos ondulados
caindo nos ombros, boca vermelha e olhar
profundo.
− Olá, querido! – disse se aproximando e
beijando meus lábios. Virei o rosto, mas mesmo
assim ela conseguiu o que queria. – Desculpa o
atraso, mas queria estar linda para o meu marido.
− Ex marido, Nathalie – corrigi. Um garçom se
aproximou e fizemos os pedidos, queria terminar
com aquilo o quanto antes, mas sabia que com
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Nathalie não era assim que funcionava.


_ Como vamos fazer? − perguntei quando o
garçom se afastou.
− Não vamos! – disse com um sorriso cínico,
colocando sua mão sobre a minha.
− Vamos, isso não há dúvida – retribuí o
cinismo. − Estou te dando a chance de ser você a
dizer que não me quer mais. Mas se não quer fazer
isso posso eu dizer que foi consensual. – completei
entredentes, me afastando do seu toque.
− Eu não vou te deixar livre para a vagabunda
da minha irmã, querido – terminou a frase fechando
a boca em um beijo que foi assoprado em minha
direção. Respirei fundo, para não aumentar o tom
de voz e fazer um escândalo.
− Legalmente somos divorciados, querida. Eu
sou um homem livre perante a lei. Só estou fazendo
uma gentileza para você – bebi um gole de vinho.
Ela fez o mesmo, permanecia inexplicavelmente
calma.
− Eu tenho uma proposta para você –
finalmente, respirei aliviado. Pensei que estava
perdendo o meu tempo. O garçom se aproximou-se
e serviu a entrada. – Eu te amo, Matthew e sei que
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você me ama. Vamos recomeçar – tocou o meu


rosto com as costas das mãos em um carinho
íntimo. – Podemos namorar, o que acha? Eu posso
visitá-lo no seu apartamento, você vai até a minha
casa? Nosso sexo sempre foi incrível, você não tem
saudades? – Senti sua perna roçar na minha, me
afastei.
− Não – respondi seco. Ela deu uma gargalhada,
como se eu tivesse contado uma piada, chamando a
atenção das mesas vizinhas. – Você não entendeu,
Nathalie. Não existe mais a possibilidade de
continuarmos com essa farsa. Eu vou anunciar a
separação amanhã com ou sem a sua participação.
− Levantei e me retirei deixando-a sozinha.
− Veremos, querido! – ouvi antes de me afastar.

~§~

Sentia-me culpado por não tê-la procurado no


sábado, mas depois do jantar frustrado com
Nathalie, recebi um telefonema do jurídico da
Stone, meu pai estava cumprindo sua ameaça. Ele
queria uma auditoria nas Empresas, estava
questionando a minha capacidade em gerir os
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negócios, estava questionando minhas decisões,


estava questionando minha sanidade, queria o meu
afastamento imediato.
Quando dirigi até a mansão Rochester naquela
tarde de domingo era com a intenção de sequestrá-
la, ela e meu filho, e levá-los para um lugar
tranquilo onde pudéssemos ser, pela primeira vez,
uma família. Longe de olhares curiosos, longe da
maldade daqueles que queriam nos destruir. Mas
ela não estava. Meus problemas se tornaram
pequenos diante do que Emma estava vivendo
naquele momento. Mary Anne estava hospitalizada.
Seu estado de saúde era delicado.

~§~

O Terceiro andar do Memorial era um ala


particular, com uma recepção semelhante ao hall de
um hotel. Os quartos ficavam separados por uma
parede de vidro, onde se podia observar o
movimento dos enfermeiros carregando
equipamentos, medicamentos e prontuários.
Quando abri a porta do quarto onde Mary Anne
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estava, meus olhos encontraram os de Emma,


estava sentada em uma poltrona folheando uma
revista.
– Matthew? – demorei a reconhecer a bela loira
que me cumprimentava. A irmã de Mary Anne não
havia envelhecido, mantinha a vivacidade da
juventude.
– Olá Susan, como está? Não sabia que havia
chegado.
–Estou bem. E Nathalie? Veio com você?
–Pensei que a encontraria aqui – Custava-me
acreditar que Nathalie não havia visitado a mãe
ainda, será que sabia da internação? Cumprimentei
Susan e caminhei até o leito de Mary Anne. –
Como você está Mary Anne? – perguntei segurando
suas mãos. − Fui visitá-los e Albert me contou que
estavam aqui.
– Melhor, querido – respondeu com a voz fraca.
− Foi exagero da Emma e do Robert me trazerem
para o hospital. Logo estarei em casa.
– Fico feliz. – respondi, olhando para a sua
filha, que até então parecia me ignorar. – Tudo
bem, Emm?
– Tudo bem, Matthew – respondeu com
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rispidez. O que eu fiz dessa vez? Perguntei para


mim mesmo, tentando entender a mudança de
humor da mulher que esteve em meus braços e para
quem confessei o meu amor. – Vou descer e ver
como papai está se saindo com Luca. – disse
deixando o quarto. Aquilo era algum jogo? Fazia
parte do plano de esconder o nosso
relacionamento? Eu precisa entender o que se
passava na mente de Emma. Suas atitudes me
deixavam inseguro. Por que era tão difícil para ela
assumir o nosso amor?
Mary Anne era uma pessoa espirituosa, Susan
era alegre e divertida. As duas tornaram minha
tarde prazerosa, apesar de estarmos em um quarto
de hospital, conversamos durante mais de uma
hora, esperei Emma retornar, o que não aconteceu.
Robert apareceu com Luca, que estava exausto e
acabou adormecendo aconchegado nos braços de
Susan. Mary Anne demonstrou cansaço, me
despedi de todos. Robert me acompanhou até o
elevador.
− Nathalie não veio com você? – perguntou.
− Não – lamentei. − Ela sabe da internação da
mãe?
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− Sim, eu liguei para ela. Disse que viria,


pareceu preocupada.
− Eu conversarei com ela, Robert. Estamos
passando por um momento delicado do nosso
casamento e pouco nos falamos.
− Eu percebi – disse.
− Sobre o que aconteceu...
− Precisamos conversar, Matthew. Mas agora
não é o momento – engoli em seco. – Veja se
consegue trazer minha filha para ver a mãe, Mary
Anne sente a falta de Nathalie.
− Farei o possível, Robert. – As portas do
elevador se abriram.
Desci até o térreo, não pensava em ir embora
sem conversar com Emma. Era final de tarde, o
alaranjado do poente já dava lugar ao azulado que
preconizava a escuridão da noite. Caminhei a esmo,
com as mãos nos bolsos, olhando para as pessoas a
minha volta, em busca de um rosto conhecido. Foi
quando me deparei com Anna e Albert que
chegavam ao hospital.
− Senhor Stone – cumprimentaram quando
nossos caminhos se cruzaram.
− Albert, você viu a Emma?
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− Passamos de carro por ela – foi Anna quem


respondeu sob o olhar de desaprovação de Albert. –
Caminhava distraída, nem nos viu.
− Em qual direção? – perguntei apontando para
os dois lados da estrada. Ela apontou para a
esquerda. Foi o caminho que peguei, assim que me
despedi.

~§~

Ela vinha em minha direção, estava tão


distraída que não percebeu quando me aproximei,
segurei seu braço deixando-a sem chance de reação
e a conduzi até um lugar onde não seríamos
interrompidos e onde não haveria testemunhas para
a conversa que teríamos, um beco protegido pela
penumbra do anoitecer. Mas mudei de ideia quando
colei seu corpo contra a parede de tijolos aparentes.
A conversa ficaria para depois. Inferno! Como ela
consegui me enlouquecer daquele jeito?
–Por que você sempre foge de mim? – sussurrei
mordendo a sua orelha, enquanto meus dedos
abriam os botões da sua camisa e eu preenchia a

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palma da minha mão com o seu seio.


–Nós não podemos – gemeu.
–Por que não? – mordi o seu pescoço, sua pele
arrepiou, fazendo o meu pênis pulsar, duro.
–Estamos na rua.
–Isso não te excita? – minha língua deslizou
pelo decote do sutiã e encontrou seu mamilo,
lambuzando-o com minha saliva.
–Excita – murmurou. Puxei a peça de renda
branca que impedia que eu a sugasse, lambi a pele
macia, mordisquei sua parte rosada e depois fechei
meus lábios ao seu redor, chupei com força e com
fome. Minhas mãos desceram até o cós do jeans
desabotoando-o. Olhei para seu rosto, seus olhos
semicerrados, a boca entreaberta. Abocanhei seus
seios mais uma vez antes de abandoná-los e virá-la
de costas. Ela espalmou suas mãos na parede
avermelhada, grudei meu corpo em sua parte
traseira para que sentisse minha ereção enquanto
meus dedos penetravam a abertura do fecho e
profanavam seu sexo molhado, apertando
levemente seu clitóris com o dedo médio
provocando o seu gemer. Atrevida, ela empinou o
quadril para trás esfregando-o no meu membro.
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Vozes vindas de uma distância irrisória não me


afastaram, ela seria minha com ou sem
testemunhas. Tirei seu jeans, olhei para a calcinha
branca, pensei em rasgá-la, mas a poupei,
despindo-a até os joelhos. Puxei o seu quadril para
trás, seu sexo se apresentou rosado, molhado,
inchado. Toquei-o com o indicador penetrando
entre seus lábios.
– Saborosa – murmurei liberando meu pênis e
abrindo seu corpo com a minha espessura. Senti sua
umidade envolvê-lo, enquanto era recebido em seu
interior. Finquei mais forte, uma, duas, três,... vezes
até saciar o desejo que me consumia. Seu corpo se
contraiu, meu pênis foi sugado pelo seu orgasmo e
gozei entre suas pernas, derramando meu sêmen em
seu ventre. Antes de abandoná-la acariciei suas
costas, me demorando na parte arredondada. Eu
queria prová-la, penetrar seu lugar proibido,
apertado. A luxúria que Emma me provocava
estava saindo do controle, pensamentos libidinosos
povoaram minha mente enquanto meu pênis
abandonava seu corpo, ainda semi ereto, liberando
o líquido pegajoso que lambuzou suas coxas.

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~§~

–Vem dormir comigo essa noite? – perguntei


enquanto nos vestíamos, tentando disfarçar a
bagunça das nossas roupas. – Sua mãe está bem
acompanhada e podemos levar nosso filho junto.
Precisamos conversar.
– E Nathalie? − perguntou.
– Eu não sei da Nathalie, já te falei que estamos
separados – respondi impaciente.
– Mas eu vi vocês num restaurante – Depois que
deixei Nathalie, fui procurado por um blogueiro
fofoqueiro que queria detalhes sobre a nossa
reconciliação, só então descobri que ela havia
enviado à imprensa, junto com uma notificação,
imagens do nosso jantar cuidadosamente editadas.
– Eu jantei com ela para acertar o comunicado
oficial do nosso divórcio. Só isso – expliquei. −É
você que eu quero, é você que eu amo. Quando
você vai acreditar em mim?
– Eu tento – Emma me olhou nos olhos,
mordendo os lábios. −Mas às vezes você me ignora
como se eu não existisse e depois faz declarações
de amor?
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– Emma, eu faço um esforço sobrenatural pra


não te tocar em público. Eu não conseguiria me
segurar se roçasse a pele em você, você é meu
ponto fraco. Eu controlo empresas, faço fusões,
negociações milionárias, negocio com os maiores
CEOs do mundo. Mas fraquejo diante de você. E eu
fico esperando você vir atrás de mim, eu fico
esperando você demonstrar que sente o mesmo.
Que sua vida não faz sentido se eu não fizer parte
dela, mas você não vem. Você me deixa inseguro e
isso é frustrante. Eu não vivo sem você, Emm.
Minha vida só faz sentido se eu sentir sua pele na
minha, seu gosto na minha boca, seu cheiro no meu
corpo – envolvi sua face com minhas mãos.
Aproximei meu rosto ao seu colando nossas testas.
− Fica comigo essa noite?
– Sim – respondeu tímida e provocante. Meus
lábios tocaram os seus, minha língua a invadiu, seu
gosto me inebriou, meu corpo respondeu ao toque
de suas mãos. Precisava me afastar ou a possuiria
mais uma vez.
–Vamos, antes que eu faça outra loucura – disse
ofegante.

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~§~

Envolvi sua cintura enquanto caminhávamos em


direção ao hospital mas, para minha frustração, ao
nos aproximar, ela se afastou.
− Ainda não – falou tomando uma distância
seguro. Controlei o impulso de segurar a sua mão.
Respeitaria, mais uma vez, sua decisão, esperaria o
tempo que fosse necessário. Meu celular começou a
tocar no momento que íamos entrar no elevador.
Olhei para a tela, era o Tony, o diretor Jurídico da
Stone.
− Eu preciso atender – falei, ficando para trás
enquanto ela subia até o terceiro andar para buscar
Luca e irmos para a minha casa.
− Ok – disse enquanto as portas se fechavam,
nos separando mais uma vez.
− Alguma novidade, Tony?
− Novidade? Isso aqui parece um campo de
batalha, um grupo de auditores invadiu a Stone a
mando do seu pai e levaram os documentos da
empresa, computadores, arquivos inteiros foram
jogados em SUVs pretas, coisa de cinema. Seu pai
está causando um rebuliço desnecessário, proibiu
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todos os membros da diretoria de entrar no prédio.


Eles querem uma reunião o mais rápido possível.
− Marque e me comunique.
− Temos que fazer alguma coisa, Matthew, seu
pai vai causar um escândalo sem precedentes para a
empresa. Nossas ações vão despencar.
− Eu sei, mas ele tem esse direito.
− Você tem que interditá-lo. Eu sei que é o seu
pai, mas ele está agindo como uma pessoa
desequilibrada.
− Vamos conversar na reunião, não pretendo
chegar a tanto – expliquei.
− Desculpa, estou nervoso.
− Eu entendo, marque a reunião e me avise.
− Certo, boa noite.
− Boa noite. – Desliguei o aparelho, haviam
algumas ligações não atendidas, uma delas era de
minha mãe. Liguei de volta.
− Matthew, agora não posso conversar – disse
com um sussurro. – Ligo mais tarde, filho.
− Tudo bem – falei engolindo em seco. Respirei
fundo e fui ao encontro de Emma, ela já devia ter
voltado. A ideia era esperá-la próximo ao elevador
enquanto buscava o Luca, mas com a demora
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caminhei em direção ao quarto. Eles estavam na


Sala de Espera. Havia algo errado, Robert e Susan
conversavam próximos a uma janela, Emma estava
de costas para mim.
– O que aconteceu? – Ela se virou, chorava. Foi
como uma punhalada no coração. Queria abraçá-la,
mas não me movi, havia um acordo e eu não queria
quebrá-lo. Mas ela o fez, caminhou em minha
direção e eu a envolvi em meus braços. – O que
houve, meu amor? – sussurrei em seu ouvido para
que só ela me ouvisse.
– Mamãe – foi tudo o que disse e desabou em
um choro convulsivo. Olhei para Robert, lágrimas
deslizavam de seus olhos. Susan nos observava sem
dizer uma palavra. Será quê? Não, não podia ser.
Mary Anne estava bem quando a deixei, deve ter
acontecido alguma coisa, a piora do quadro, talvez.
Caminhei com Emma até o sofá, ela sentou-se ao
meu lado, deitando sua cabeça em meu peito, eu a
abracei forte beijando o seus cabelos. Senti suas
lágrimas molharem minha camisa.
– Tudo bem, Emma? – Susan perguntou se
aproximando. Eu não me movi, continuei
acariciando seu cabelo enquanto meus braços
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tentavam protegê-la do invisível: a dor, a tristeza, o


desespero. Ela levantou a cabeça e olhou para a tia,
os olhos inchados do choro.
− Sim – disse com a voz entrecortada, voltando
a se deitar, eu afaguei seus cabelo. Estava feito, não
era assim que imaginei, mas agora todos sabiam
que havia algo entre nós. Isso era o que menos me
preocupava. A incerteza do estado de Mary Anne
me angustiava.
Uma equipe médica saiu do quarto. Robert
correu ao encontro dos homens de branco, seguido
de Susan, Emma percebeu a movimentação e
levantou-se, caminhando hesitante, eu a
acompanhei.
– O quadro já está estabilizado, ela ainda está
respirando com a ajuda de aparelhos, mas acredito
que amanhã já poderemos retirá-los. Estamos
fazendo alguns exames para ver o que causou a
parada respiratória, se foi a doença ou alguma
reação à medicação. É melhor vocês descansarem,
vou autorizar apenas um acompanhante, ela precisa
de silêncio e paz para se recuperar. Vocês podem
entrar, mas sem fazer barulho.
− Eu fico – Robert disse prontamente. − Não
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vou mais me afastar de minha Mary – falou num


fio de voz.
− Vá para casa, Emma. – Susan disse enquanto
Robert ouvia algumas instruções da enfermeira. –
Eu fico aqui.
− Não, eu quero ficar perto da mamãe –
respondeu soluçando. Susan olhou para ela, um
sorriso triste se desenhou em seu lábio.
− Está bem, minha querida. – disse tocando seu
rosto com carinho e secando uma lágrima. – Eu vou
para casa ficar com o nosso pequeno.
− Obrigada – ela abraçou a tia.

~§~

Ela adormeceu em meus braços, chorou durante


o sono. Eu tentei, desesperadamente, tranquilizá-la,
mas a cada movimento ela acordava assustava.
Olhava em direção ao quarto da mãe, chorava, eu a
abraçava mais forte, secava suas lágrimas com
meus lábios... até que voltava a adormecer. Já
havia amanhecido quando Robert saiu do quarto.
− Preciso de um café – comentou com um
bocejo. Seu abatimento era visível.
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− Eu fico com ela, pai. – Emma disse se


recompondo e lançando um olhar em minha direção
enquanto caminhava para o quarto, insegura,
fechava as mãos, apertando os dedos contra a
palma com os braços esticados ao lado do corpo.
− Você me acompanha? – Robert perguntou
caminhando em direção ao elevador, eu o segui.
A cafeteria ficava no andar superior, com
paredes envidraçadas que ofereciam uma visão
privilegiada da cidade. Estava amanhecendo e o dia
era nublado.
− Precisamos conversar – Robert falou antes de
levar a xícara de café até a boca.
− Eu lhe devo uma explicação.
− Deve – ele disse com tom de reprovação.
− Eu e Nathalie estamos separados há quase três
anos, Robert. – Ele não pareceu surpreso, voltou a
beber do líquido fumegante. Engoli em seco antes
de continuar. – Ela pediu para que continuássemos
fingindo o casamento.
− Eu já sabia do divórcio – Olhei para ele
surpreso. − Nathalie consultou um dos meus sócios
para assessorá-la. Sem querer, vi os arquivos no
computador da Escritório. Soubemos no mesmo
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ano que se separaram, esperamos que nos


contassem, Mary Anne tentou tirar a verdade de
Nathalie, era visível que não moravam juntos,
chegavam em carros separados, viajavam para
lugares diferentes. Por que você concordou com
esse absurdo de fingir que continuava casado? Ela,
eu entendo, Matthew. Minha filha gosta do status
de ser a Senhor Stone. Dói saber que criei uma filha
que vive de aparências, mas reconheço minha
culpa. Só não entendo porque você aceitou se
submeter aos caprichos de Nathalie?
− Porque... porque era a única maneira de me
manter, de certa forma, perto da Emma. Eu amo a
Emma, Robert.
− Eu confesso que isso me surpreendeu.
− Eu a amo há muito tempo, só não sabia que
era correspondido.
− Mas agora sabe − Senti vontade de sorrir ao
ouvir aquilo, a ideia do amor de Emma por mim ser
visível aos olhos dos outros me deixava eufórico,
mas me contive.
− Acho que sim – falei olhando em seus olhos.
− Eu não vou me meter, já fiz tanto mal a
Emma, agora deixarei que ela siga a sua vida como
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bem entender. Eu só quero que ela seja feliz.


− Eu também.
−Só espero que você já tenha resolvido tudo
com a Nathalie. Não quero mais escândalos, não
quero que Mary Anne... – respirou fundo antes de
continuar – sofra mais.
− Eu vou tentar resolver tudo da forma mais
discreta.
− Certo – terminamos de beber nossos cafés,
silenciosamente.

~§~

Susan e Emma estavam do lado de fora do


quarto quando voltamos, Luca estava no colo da
mãe, mas quando me viu desceu e correu em minha
direção pulando em meus braços, eu o levantei até
acima da minha cabeça, suspendendo-o no ar, ele
deu uma gargalhada se atirando para trás.
– Quando vamos pilotar seu avião, tio Matt? –
perguntou me olhando nos olhos.
– Logo. Vamos esperar a vovó melhorar e
depois eu, você e a mãe vamos viajar para um lugar
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bem bonito e você será o nosso piloto. – Ele me


abraçou e eu beijei a testa do meu filho.
– Por que você está aqui fora? – ouvi Robert
perguntar para Emma. − Quem está com a sua
mãe?
– Os médicos a estão examinando e pediram
para que eu me retirasse – explicou aflita. − Vai dar
tudo certo papai, ela acordou enquanto eu estava lá.
Tenho certeza que os médicos nos darão boas
notícias – disse tentando parecer otimista, mas sua
voz a denunciava.
− Você deveria comer alguma coisa, Emma –
disse me aproximando dela com o nosso filho no
colo.
− Não estou com fome – ela respondeu
passando a mão no cabelo revolto de Luca.
− Eu te acompanho, querida − Susan comentou.
− Não consigo comer nada, tia. Meu estômago
está embrulhado – respondeu fazendo uma careta e
colocando a mão no ventre.

~§~

Todas as tentativas de fazê-la colocar algo na


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boca falharam, Emma manteve-se irredutível. Ficou


com o pai, sorria para Luca que monopolizava a
minha atenção com histórias inventadas e outras,
talvez, com um fundo de verdade. Monstros, super-
heróis, aventuras espaciais povoavam o imaginário
do menino de cabelos lisos e olhos azuis, se
misturando com rotinas do dia a dia de uma criança
de quatro anos.
Emma, Susan e Robert tiveram suas entradas
liberadas pelo médico assim que saíram do quarto.
Eu fiquei com Luca, mas Mary Anne pediu para
ver o neto e Susan veio nos chamar.
– Nossa, dois homens bonitos me visitando –
disse Mary assim que entramos no quarto, Luca se
soltou da minha mão e correu ao encontro da avó.
Tive que contê-lo antes que pulasse sobre a cama.
– Deixa, Matthew. Vem cá, meu querido! – Ela
pediu. Luca sentou-se ao seu lado e se inclinou
sobre a avó cochichando algo ao seu ouvido. Ela
sorriu. – Claro que você é mais bonito que ele, a
vovó estava só brincando – respondeu piscando
para mim.
– Emm! – disse me aproximando dela. – Você
precisa comer alguma coisa. Sua mãe está bem,
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vem comigo, vamos até a minha casa, você toma


um banho, come algo. – Seu abatimento me
preocupava, precisava tirá-la dali. Ela me olhou
indecisa. Sabia que ia recusar, mas Robert
intercedeu.
– Vá, filha. Nós ficamos com Luca, só ele
consegue deixar sua mãe assim. – Olhei para a
cama, Mary Anne e Luca conversavam animados,
ele conseguia tirar risadas da avó. – Vá com Matt,
descansa.
– Tudo bem – disse com resignação, vencida
pelo cansaço. − Eu vou.

~§~

Ela deitou no meu colo, estávamos nus na


banheira. Deixou que eu tocasse seu corpo com
carinho, levemente adormecida, enquanto eu a
banhava. Ficamos assim, apenas trocando carícias,
até que ela se sentisse reestabelecida.
Não quis dormir, preparei um café e alcancei
para ela, estava sentada no sofá, usava um dos
meus roupões. Caminhei até o quarto para me
vestir. Meu celular tocou.
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− Fala, Tony.
− Conversei com a diretoria, a reunião foi
marcada para hoje à tarde, tudo bem pra você?
− Eu confirmarei mais tarde. Estou com alguns
problemas e, no momento, eles são prioridade.
− Eu entendo, Matthew. Mas a Stone depende
de você.
− A Stone não depende de mim, Tony. Ela se
manterá forte, não importa quem a administre.
− Mas tudo o que você construiu nos últimos
anos, a sua gestão, você se preocupa com os
funcionários e eles estão contando com você nesse
momento. A notícia da auditoria e do seu
afastamento já se espalhou. A insegurança tomou
conta das empresas. Estou recebendo ligações de
todo o mundo. Todos querem saber o que vai
acontecer a partir de agora.
− Não acredito que haverá demissões, meu
amigo – tentei acalmá-lo. Apesar de eu não poder
garantir aquilo.
− Há boatos que Greg vai assumir o seu lugar –
engoli em seco. Aquilo era inadmissível!
− Marque a reunião, confirmarei antes do
horário se poderei ir.
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− Ok – respondeu encerrando o telefonema.


Vesti uma calça, peguei uma camisa branca, o
casaco do terno, antes de descer fui até o armário
do banheiro e procurei algo que tinha comprado
alguns dias atrás em uma farmácia. Só depois desci
as escadas. Emma continuava sentada, alheia a
tudo. Nossos olhos se encontraram quando me
aproximei.
– Como você está? – perguntei me agachando a
sua frente.
– Sedenta por você. – disse largando a xícara na
guarda do sofá e se inclinando, beijando meus
lábios com luxúria – Eu preciso de você, agora. –
sussurrou colocando suas mãos no cós da minha
calça, seu dedos invadiram o tecido macio e
envolveram meu membro. – Dentro de mim –
sussurrou. Fiquei em pé e tirei minha roupa. Emma
se ajoelhou no sofá e mordeu, lambeu e beijou
minhas coxas, desenhando um caminho de carícias
até o meu membro, ela me provocou me
acariciando vagarosamente, sentindo o meu pulsar
antes de me engolir. Seus lábios me envolveram,
me levando até sua garganta e depois me
expulsando. Envolvi seus cabelos úmidos com os
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meus dedos para poder vê-la me saboreando. Mordi


o lábio, sentindo toda a devassidão de sua língua
explorando cada centímetro do meu membro
enquanto seus boca o consumia. Senti que ia gozar,
mas não ainda. Eu queria mais.
– Vem cá – pedi, ajudando-a a se levantar. Meus
olhos procuraram os seus, ela me beijou, tirei o seu
roupão, olhei para a sua nudez. – Vira. – ordenei,
ela obedeceu. Deslizei minhas mãos pelas suas
costas, descendo até o meio de suas partes
arredondadas.
– Eu vou penetrar você aqui. – Emm
estremeceu, eu não faria se ela não permitisse.
Emma se inclinou colocando as mãos no encosto
do sofá. – Você deixa? – Ela ofegou. – Eu não vou
te machucar, prometo.
– Sim – suspirou, olhando para trás e
procurando a minha boca com a sua, eu a possuí
com paixão. Provoquei seus lábios com beijos
entrecortados por carícias, tirando seu fôlego,
provocando a sua libido. Minhas mãos envolveram
seus seios em uma massagem erótica em seus
deliciosos mamilos. Deslizei pelo seu ventre e
encontrei seu sexo, meus dedos abriram seus lábios
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e penetraram em seu interior. Com a outra mão,


desci pelas suas costas abrindo suas nádegas e
provocando com movimentos circulares aquele
outro lugar, penetrando-o apenas com a ponta do
meu dedo, queria prepará-la para me receber, sem
dor. Aos poucos ela foi se abrindo, meus dedos a
invadiam, sentindo a obscenidade de suas
contrações. Sem pressa preparei seu corpo, abrindo
espaço para profaná-lo com o meu membro.
– Matthew – meu nome foi pronunciado entre
gemidos.
– O que foi, meu amor? – perguntei sentindo
entre os dedos, que acariciavam sua vagina, o
pulsar de seu prazer. Ela se jogou para trás
encostando sua cabeça em meu ombro.
– Eu quero ser sua, me possua, me deixa sentir o
seu membro entrando em mim. – Eu me afastei,
vesti a camisinha que trazia no bolso da calça.
Peguei o gel lubrificante e lambuzei o local que
seria penetrado.
Devagar, sem pressa coloquei a minha glande
em seu interior e mexi encaixando a ponta do meu
membro na sua entrada, controlava o ímpeto de
meter tudo de uma só vez, sabia que se o fizesse,
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somente um de nós sentiria prazer e não era isso


que eu queria. Uma mão controlava meu pênis, a
outra procurou seu clitóris e o massageou com
volúpia, Emma colocou sua mão sobre a minha
pressionando-a para que o toque se intensificasse.
Mordi seu ombro enquanto a invadia mais alguns
centímetros. Olhava para meu membro que
desaparecia em seu corpo até que minha pélvis
tocou suas nádegas. Meu quadril se movimentou
para trás e para frente, devagar, minha testa estava
apoiada em seu ombro, minha mão em seu sexo,
meu membro, naquele lugar que agora também era
meu, deslizava em um vai e vem inebriante.
– Deliciosa – falei entredentes sentindo a
devassidão de seu orgasmo me apertar. Eu ainda
não havia terminado, controlava meu desejo,
prolongava meu prazer. Queria que Emma sentisse
o gozo de ser penetrada naquele lugar. Meu dedos
invadiram sua vagina por trás, sincronizei minha
dupla penetração e a fiz gritar de prazer quando um
novo orgasmo a atingiu. Meu membro foi
subjugado às contrações de seu corpo liberando o
meu gozo num jato de esperma aprisionado no
látex.
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~§~

Ela se encaixou de costas em meu corpo,


estávamos deitados, esperando que a respiração
normalizasse, que os batimentos cardíacos
diminuíssem, que o prazer do gozo se fosse.
– Tudo bem? Eu não te machuquei? Eu tentei
me controlar, mas você me deixa louco de desejo –
disse quando a lucidez voltou e a luxúria deu lugar
a razão. Emma se virou ficando de frente para mim.
– Você já estava preparado pra isso – acusou,
fechando levemente os olhos. − Você não vai para
o escritório carregando camisinha e lubrificante no
bolso da sua calça? Ou vai? – Sorri.
– Depois do nosso último encontro nesse sofá,
confesso que me preparei, na expectativa que
houvesse uma próxima oportunidade. E dessa vez,
eu não ia deixar você escapar – respondi beijando-a
com carinho. − Vem, vamos voltar pra banheira.

~§~

Emma adormeceu. As preocupações com o


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futuro da Stone não me deixaram relaxar, deixei-a


no quarto e desci até o escritório para me inteirar
dos últimos acontecimentos. Todos os diretores
foram afastados, Greg era o presidente interino até
segunda ordem, um grupo de acionistas marcaram
uma reunião para aquela tarde e pediam a minha
presença. Estavam insatisfeitos com os
acontecimentos.
Levantei meus olhos da tela do computador ao
ouvir um barulho na porta. Emma vestindo uma das
minhas camisas me observava, seu cabelo caia
sobre seus ombros em um emaranhado bagunçado e
sensual. Ela sorriu, sonolenta, e caminhou ao meu
encontro, circulando a mesa e sentando no meu
colo, deixando escapar um gemido de dor.
− Você está bem?
− Sim – respondeu deitando sua cabeça em meu
ombro. – Algum problema? – perguntou lendo o e-
mail que estava aberto na tela. “ A reunião será às
16 horas. Contamos com a sua presença”
− Uma reunião de negócios.
− Algo urgente? – Eu não queria preocupá-la
com meus problemas. Não era justo.
− Empresários indianos estão na Capital para
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fechar alguns negócios com a Stone. Mas não se


preocupe, eu vou desmarcar. – Beijei seus lábios. –
nada é mais importante que você.
− Eu vou ficar bem – disse acariciando a minha
face. – Vá na sua reunião e depois volta pra mim. –
Aproximei meus lábios dos seus e beijei-a
apaixonadamente.

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CAPÍTULO DEZESSEIS

− Mas você tem ações – Demétrio Collin


esbravejou batendo o punho cerrado com força
contra a mesa. – somando com as nossas não somos
maioria? – perguntou desesperado. − Não podemos
vetar essa medida absurda de afastá-lo da
presidência? − O homem grisalho de mais de um
metro e noventa parecia um menino acuado.
− Temos pouco mais que um terço das ações –
foi Tony quem respondeu desanimado. Éramos um
total de 23 pessoas tentando encontrar uma saída
para a crise que se instaurou na Stone depois da
atitude impensada de meu pai de me afastar,
instaurar uma auditoria e colocar o Greg como
presidente interino. As primeiras ações do novo
presidente foram cancelar contratos já firmados da
Stone com clientes antigos, a explicação era que
tinham que examinar estes contratos para reajustar
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valores. Essa confusão causou a desconfiança do


mercado financeiro e nossas ações despencariam
assim que a bolsa abrisse no dia seguinte. Os sócios
estavam em polvorosa. – A Stone sempre foi
cautelosa com a abertura de mercado, o senhor
Edward Stone é o sócio majoritário, não existe a
possibilidade de vetar suas decisões. Nem Matthew
tem esse poder. – Um alvoroço tomou conta de
todos, as conversas se cruzaram em uma confusão
de vozes, Tony tentou acalmá-los, sem sucesso.
− Senhores! – falei com um tom de voz que se
sobressaiu aos outros. Todos silenciaram e me
olharam.
− Eu não vejo alternativa, a não ser
aguardarmos a conclusão da auditoria, que provará
que não há nada de errado com a Stone, que nossos
negócios sempre foram transparentes, provará que a
Stone cresceu mais de trezentos por cento desde
que eu assumi sua presidência e que qualquer
acusação contra a minha gestão é injusta, imoral e
pessoal. E isso eu não admitirei. – alguns
entusiastas aplaudiram. – Prometo honrar o
contrato que temos com os senhores e prometo que
não haverá perdas, assim que a Stone retornar para
as nossas mãos recuperaremos o prestígio e
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voltaremos a crescer. – Todos ficaram em pé e me


aplaudiram, o que, de certa forma, me deixou
constrangido. Não fazia ideia de como resolveria
aquela questão, uma vez que não tinha poder para
mudar as decisões do meu pai, mas não cairia sem
lutar.
Já passava das vinte uma horas quando a
reunião se encerrou. Jantei com Tony e outros
membros da diretoria para tomar algumas decisões,
nem todos haviam sido dispensados da Stone, por
isso, sabíamos detalhes do que acontecia no interior
da empresa. Greg recebeu carta branca do meu pai
e isso se transformou em um verdadeiro desastre.
Suas ações como presidente estavam acabando com
a reputação da empresa. Voltei para o apartamento,
um banho demorado, vesti uma camiseta branca,
jeans e uma jaqueta de couro. Pretendia passar a
noite com Emma, nem que fosse em uma recepção
de hospital. Peguei a chave do carro e enquanto
entrava no elevador liguei para ela.
− Alô – o som da sua voz fez meu corpo
estremecer e um calor diferente aquecer o meu
peito.
– Oi, você está no hospital? Estou indo ficar
com você. Tudo bem?
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– Não estou no hospital, estou em casa. –


sussurrou do outro lado da linha. − Mamãe está
bem. Mas os médicos acharam melhor restringir o
número de pessoas no quarto para ela não se
cansar. E você? Por onde andou o restante do dia?
– A reunião se estendeu até tarde. Depois fui
jantar com os executivos da Multinacional. Só
agora me livrei deles. Queria passar a noite com
você, nem que fosse sentado no banco de um
hospital.
– Eu também, mas agora é tarde, estou com o
papai e o Luca e amanhã cedo iremos para o
hospital. – Aquela não era a resposta que eu
esperava escutar. – Matt, você sabe da Nathalie?
– Já te falei que não a vejo desde aquele maldito
jantar – respondi impaciente. Sentia-me frustrado.
– Não é isso – explicou. – É que ela não foi ver
a mamãe ainda. E mesmo sem comentar nada,
sabemos que mamãe está muito triste com isso.
– Amanhã eu vejo o que posso fazer para
encontrá-la – prometi. −Ok?
– Ok. – Silêncio do outro lado da linha.
– Emm... vem passar a noite comigo? Eu
preciso de você aqui. – Diz que sim, desejei, eu sei
que ela está passando por um momento difícil, mas
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eu... eu precisava mais do que nunca me perder em


seus braços. Precisava esquecer do pai que nunca
me viu como um filho, sempre como um
empregado, um subordinado imediato, facilmente
substituído, demitido, não só da Empresa Stone,
mas também da Família Stone. Suspirei esperando
sua resposta.
– Não posso... – disse depois de ponderar.
– Tudo bem! – respondi desligando o telefone.
Caminhei em direção ao carro, olhei para a chave
na minha mão, apertei o controle do alarme, eu não
passaria aquela noite sozinho.

~§~

– Oi... – ela atendeu o celular.


– Desce e vem abrir a porta pra mim – falei
enquanto subia as escadarias que levavam a porta
da Casa dos Rochester, já passava da meia-noite.
– Você é maluco? – perguntou com humor.
Sorri ao perceber que era bem-vindo. Emma era
uma incógnita, eu nunca sabia qual seria sua reação
diante de uma situação.
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– Maluco por você. Vem logo que está frio aqui


fora. – respondi cochichando, a última coisa que
queria era acordar alguém.
A porta se abriu e uma garota com os cabelos
soltos caindo sobre os olhos, pele sem maquiagem,
lábios grossos, usando apenas uma camisa branca,
curta, com alguns botões abertos que deixavam o
contorno dos seus seios e as coxas a mostra surgiu
a minha frente.
– Oi – sussurrei, envolvendo seu rosto com
minhas mãos e beijando seus lábios.
– Vem comigo! – Emm murmurou pegando a
minha mão, subindo as escadas e me levando até o
seu quarto. Sentei na sua cama, tirei a jaqueta e
olhei para ela, que dava uma volta com a chave,
para só depois vir ao meu encontro. Prudente,
pensei. Minhas mãos encontraram a maciez da sua
pele e a aspereza da renda que a cobria, tirei a peça
branca, deixando seu sexo, deliciosamente, nu. Ela
sentou no meu colo.
– Você achou que eu ia passar a noite longe de
você? – Envolvi seu seio sobre o tecido de algodão,
apertando seu volume e mordendo seu mamilo,
umedecendo a camisa que o cobria com a minha
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saliva. Ela tentou desabotoar. – Não, fica com ela –


murmurei, enquanto a deitava na cama sem deixar
de morder seus seios, puxando com os dentes o
tecido que os protegiam. Meus lábios deslizaram
pelo seu vente e encontraram o seu ponto de prazer,
lambi, provocando-a, fechando os meus lábios,
sugando-a, até senti-la inchada, sensível. Minha
língua abriu seus lábios, encontrando a umidade do
seu prazer. Ela estava pronta para receber o meu
membro. Abri o fecho da calça, liberei a minha
ereção, envolvendo-a com os meus dedos, um
líquido transparente saiu da sua ponta quando o
massageei levemente. – Vem. – chamei-a para o
meu colo. Ela obedeceu e sentou sobre ele,
engolindo-o com sua vagina. Emm mexeu
lentamente, provocante, me apertando, me
expelindo, me levando fundo e depois me
abandonando. Fui devorado, alimentei seu corpo,
me submeti aos seus arroubos, submisso. Meu
gemido era contido. Senti que o líquido do meu
gozo estava prestes a me abandonar, meu polegar
tocou o seu clitóris.
– Matthew, não – ela gemeu entregando-se ao
orgasmo. As contrações da sua vagina não
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cederam, me pressionando, engoli em seco. Ainda


não. Controlei o ímpeto de jorrar em seu interior,
ela continuou se movendo, eu me mantinha duro
enquanto fincava dentro dela. Emma voltou a
gemer e outra onda de prazer a atingiu. Seu corpo
estremeceu, suas coxas, seu ventre se contraíram.
Sua respiração era um gemido. – Matt?
– O quê?
– Isso é loucura. Eu vou gozar de novo. – Ela
não controlava mais seu corpo que se contraia
involuntariamente a cada onda de prazer. Emma
envolveu meu pescoço com seus braços e acelerou
os movimentos, meu membro se esfregava em sua
vagina entrando e saindo numa sequência
atordoante – Olha como nos encaixamos
perfeitamente. – balbuciou.
– Deliciosa – suspirei, segurando o seu quadril e
a pressionando contra a minha pélvis no exato
momento que derramava meu esperma dentro do
seu sexo.

~§~

– Emm, precisamos conversar sobre algo que


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aconteceu hoje – falei envolvendo seu corpo.


Estávamos deitados em sua cama, não havia mais
roupa, minha pele tocava sua pele.
– O que foi? – perguntou escorando seu queixo
no meu peito e me olhando nos olhos.
– Quando fui tomar café com o seu pai, ele me
perguntou o que estava acontecendo entre nós dois.
– E o que você respondeu? − perguntou aflita.
– A verdade. Que eu te amo. Que você é a
mulher da minha vida. Que eu vou me casar com
você.
– Mentiroso. Você não falaria isso. Você ainda
está casado com Nathalie, pelo menos para meus
pais.
– Ele sabe do divórcio – expliquei.
– O quê? – questionou confusa. – Como?
– Nathalie procurou um dos advogados do
escritório que o seu pai é sócio. Queria uma
segunda opinião sobre a divisão de bens. O serviço
é sigiloso, mas não para os sócios e seu pai ainda
assessora em muitos casos e numa dessas
assessorias encontrou alguns registros sobre o
nosso divórcio, ligou alguns fatos e tirou suas
conclusões. Ele disse que esperou durante meses
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que anunciássemos a separação publicamente,


tentou arrancar alguma coisa de Nathalie, mas não
conseguiu. Notou que não morávamos mais juntos
e só aparecíamos em datas comemorativas, sempre
em carros separados e mal conversávamos. Como
não falamos nada, ele achou melhor fingir que
estava tudo igual e ver até onde a nossa farsa iria.
–E mamãe? Ela sabe?
– Sim, seu pai contou a ela, isso tudo foi antes
da doença aparecer, Mary Anne tentou conversar
com Nathalie, mas ela negou tudo. Continuou
fantasiando que tudo estava bem, e eu cumprindo o
meu papel, que era concordar com as mentiras que
ela inventava. Viagens a dois que nunca
aconteceram, jantares românticos, declarações de
amor. Nathalie fantasiou nesses últimos anos um
casamento perfeito e vendeu essa fantasia para a
mídia. O meu erro foi ser conivente com isso.
– Você contou para ele sobre nós?
– Só a parte que eu te amo. E que vou fazer de
tudo para que isso dê certo. E que vamos nos casar.
–O quê?
–Você quer casar comigo, Emma Rochester? –
perguntei sentindo meu coração aos pulos. Olhei
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para ela, um sorriso se desenhou em seus lábios e


um brilho intenso iluminou o seu olhar.
– Se eu quero casar com você? Viver o resto da
vida ao seu lado? Acordar nos seus braços? Dormir
com você entre as minhas pernas? Ser sua,
oficialmente? Sim, sim, sim, sim. – fui beijado pela
boca mais deliciosa que já provei. Pela boca da
futura Senhora Stone.

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CAPÍTULO DEZESSETE

Uma semana complicada, o pente fino na Stone


não havia encontrado nada, mas Edward Stone
continuava com a ideia obsessiva de provar que eu
não era competente para tocar os negócios da
família. Já teria desistido de provar o contrário se
isso não significasse desmoralizar o meu nome. O
nome que eu daria ao meu filho. Então era uma
questão de honra provar que o meu pai estava
enganado. Mas nem tudo foi dissabores, durante
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aquela semana todas as minhas noites terminavam


entre os braços de Emma. De mãos dadas subíamos
as escadarias da Mansão Rochester em direção ao
seu quarto de menina. Lá eu a fazia minha, das
maneiras mais libidinosas possíveis. Eu não
imaginava mais minha vida sem ela.

~§~
Julianne Stone voltou a me ligar, disse que
queria me ver, que precisávamos conversar. Um
almoço com minha mãe foi marcada para quinta-
feira.

− Como vai, mãe? – perguntei tentando


esconder o constrangimento que aquela situação
nos proporcionava. Não sabia o que ela queria, mas
imaginava que estava ali a pedido do meu pai, para
que eu aceitasse as suas condições: abandonar
Emma, voltar para Nathalie e me submeter aos seus
caprichos, só tomando decisões na Stone depois
que ele as aprovasse. Isso era inegociável. Se esse
era o motivo do encontro, ela estava perdendo o seu
tempo e desgastando a nossa relação.
− Aflita, meu filho – falou me abraçando. Seus
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olhos azuis estavam protegidos por um óculos de


sol, os cabelos escuros presos em um coque lhe
conferiam um ar aristocrático, o conjunto de saia e
blazer preto acompanhados por um colar de pérolas
deixaram-na extremamente elegante.
− Foi ele que a mandou aqui? – ela me olhou
triste.
− Não, seu pai não sabe que eu estou aqui. –
Aquilo me surpreendeu. – Na verdade eu entrei
com um pedido de divórcio.
− Mãe? Eu... eu não quero ser o motivo da
discórdia entre vocês – ela sorriu.
− Como não, Matthew? Como o seu pai ousa a
fazer isso com você? É inconcebível, um pai
tentando destruir um filho. – Eu segurei suas mãos.
− Ele sempre foi assim, eu me acostumei −
tentei abrandar o seu sofrimento.
− Você é o amor da minha vida, filho. Nada,
nem ninguém consegue superar o que uma mãe
sente por um filho. Eu jamais, em hipótese alguma,
faria mal a você, meu amor. Como pode imaginar
que eu compactuaria com o seu pai?
− Eu só pensei que você tentaria contemporizar
– expliquei.
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− Não, eu tentei com ele, esses últimos dias tem


sido um inferno, desculpa! – Ela pegou um lenço
na pequena bolsa preta que trazia nas mãos. Um
garçom se aproximou, fiz um gesto para que se
afastasse. – Eu tentei de todas as formas fazê-lo ver
a aberração que estava cometendo, mas ele está
cego – nesse momento ela tirou o óculos para secar
as lágrimas e eu vi o roxo – toquei se rosto com a
ponta dos dedos. Ela mordeu os lábios.
− Ele fez isso? – sempre imaginei que minha
mãe, por ser uma mulher apaixonada, nunca viu o
homem com que quem morava com os mesmos
olhos que eu via. Eu conhecia seus defeitos, eu
provei do seu lado mais violento e cruel.
− Ele se descontrolou – falou com um sorriso
desbotado nos lábios.
− Foi a primeira vez?
− Seu pai sempre teve o temperamento difícil,
você sabe disso – tentou explicar.
− Você tem que denunciá-lo.
− Não quero escândalos. Eu já saí de casa,
deixei seu pai na fazenda. Estou em um
apartamento aqui na Capital e pretendo ficar por
aqui, por ora.
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− E ele? – Ela deu uma risada amarga.


− Ele disse que eu não fazia falta em sua vida,
era só mais um estorvo. – Seu sorriso desapareceu.
− Vamos brindar a isso! – falou com ironia. –
Garçom, a carta de vinhos.
Almoçamos em silêncio, não sentíamos fome,
os pratos ficaram intocados.
− Eu vou passar a minha parte das ações para
você – disse de repente. – Seu pai esqueceu que
vinte e cinco por cento estão no meu nome, vinte e
cinco no seu, trinta com ele e o restante dividido
entre os sócios minoritários. Você voltará a ter o
controle da Stone, filho. – Olhei para a mulher forte
a minha frente. Onde ela estava escondida? Sempre
foi a sombra do meu pai. Era uma mãe carinhosa,
protetora, mas nunca contestou suas ações, não na
minha frente. Talvez eu estivesse enganado esse
tempo todo, talvez ela tenha travado uma luta
solitária contra o tirano Senhor Stone.
− Você tem certeza?
− Absoluta. – disse segurando minhas mãos
sobre a mesa.

~§~
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Acompanhei Emma até o hospital naquela


manhã de sexta-feira. Ela ficaria com a mãe. Susan
que havia passado a noite com Mary Anne voltaria
para casa. A Reunião com os advogados e os
auditores estava marcada para às nove horas.
Robert, a meu pedido, me acompanhou até a sede
da Stone. Ele estava a par dos últimos
acontecimentos, mas não contou nada à Emma.
Todos estavam presentes, menos o meu pai. Os
auditores apresentaram os resultados das
investigações. Como era esperado, nada foi
encontrado que pudesse macular a minha
administração frente as Empresas Stone. Os sócios
ficaram satisfeitos, Greg, que representava os
interesses de Edward Stone, examinou os
documentos apresentados fazendo vários
questionamentos que foram prontamente
explicados pelos auditores. Minha mãe já havia
comunicado ao Conselho de Acionistas sua decisão
de apoiar o meu retorno à presidência da empresa.
Sem mais nada a declarar e havendo consenso entre
os acionistas presentes fui nomeado novamente
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presidente, retornando imediatamente ao cargo.


Robert pediu licença para atender o telefone e se
retirou da reunião, não retornando mais. Fiquei
preocupado imaginando que poderia ter acontecido
algo com Mary Anne. Alguns minutos depois o
meu celular tocou. A reunião foi encerrada, olhei
para a tela do smartphone, era Susan.
− Matthew, pelo amor de Deus, diga que você
está com a Nathalie – sua voz era de aflição.
− Não, Susan – respondi.
– Ela levou o Luca. – disse perdendo a voz. Um
nó na garganta me impediu de pronunciar qualquer
palavra. – Esteve aqui mais cedo, disse para Anna
que Emma havia pedido para ela levá-lo ao hospital
e desapareceu com o nosso pequeno. Já liguei
inúmeras vezes para o seu celular mas ela não
atende. Robert ligou para a casa dela, os
empregados não sabem do seu paradeiro. Nem a
secretária.
− Acalme-se – falei aquilo mais pra mim do que
para a tia de Emma. – Eu vou encontrá-la. Já ligou
para o hospital? Ela não foi para lá?
− Não, ela não está lá. Meu Deus! O que eu
direi para Emma? – perguntou desesperada.
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− Não diga nada – enquanto falava caminhava


em direção ao carro. Robert estava ao lado do seu
carro, falava ao telefone, caminhando de um lado a
outro. Preciso listar os outros lugares onde ela
possa ter levado o meu filho. Inferno! O que ela
pretende? – Emma ficará nervosa à toa. Eu
encontrarei Nathalie antes que Emm descubra o que
ela fez.
− Você tem certeza?
− Sim.

~§~

As horas passaram sem notícias de Nathalie.


Uma equipe de investigadores foi acionada, Robert
e eu comandávamos através do telefone enquanto
percorríamos a Capital nos possíveis endereços
onde ela poderia estar, outro grupo percorria
parques, shoppings e museus. A polícia estava de
sobreaviso.
Eu me sentia exausto quando o telefone tocou,
dirigia há mais de quatro horas percorrendo cada
canto da cidade. Era Emma. Estacionei o carro
antes de atendê-la.
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– Oi – esperei que ela respondesse, ouvia a sua


respiração irregular. – Emma, tudo bem?
– Tudo bem? – gritou. – Está tudo bem,
Matthew? Você por acaso encontrou a louca da sua
mulher? Você encontrou o meu filho? – Seu
desespero me atingiu como um punhal. Eu me senti
impotente.
– Emma, se acalme. Vamos encontrá-los.
Nathalie não fará mal ao Luca. Ela só está tentando
assustá-la. Não faça o jogo dela.
– Ficar calma? Você quer que eu fique calma,
sabendo que uma desequilibrada está com o meu
filho? Eu quero o meu filho, eu quero o meu Luca.
Por favor, eu quero o meu filho... – sua voz se
misturou ao choro e depois o silêncio.
− Emma? Emma? – chamei aflito.
− Emergência, chamem o doutor de plantão –
uma voz feminina gritou.
− Emma? – Atirei o telefone no banco do
passageiro e dirigi o mais rápido possível em
direção ao hospital.

~§~

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− O senhor não pode entrar, ela está fazendo


exames – Uma enfermeira tentava me impedir de
passar, Emma havia desmaiado enquanto
falávamos ao telefone. Segurei a mulher pelos
ombros e a afastei do caminho. Quando entrei no
quarto perdi meu chão, ela estava desacordada. Em
sua mão, o soro.
− Emm, sou eu o Matt... – murmurei me
aproximando, tocando sua face com minhas mãos,
ela não reagiu.
− Por favor, Senhor – A enfermeira segurou
meu braço pedindo para que eu me afastasse.
− O que aconteceu? Por que ela não responde? –
perguntei desesperado.
− Ela teve um desmaio e está com uma pequena
hemorragia, estamos fazendo exames. O Senhor
pode aguardar lá fora – Engoli em seco, contrariado
sai do quarto.
~§~

Os minutos se arrastaram, Robert chegou ao


hospital, as buscas por Luca continuavam. Nossa

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entrada no quarto de Emma foi permitida, ela


permanecia desacordada.
− O quadro dela é estável – a médica informou.
− Mas o que houve? Por que o desmaio? –
perguntei angustiado.
− Ela teve uma queda súbita da pressão arterial.
– explicou a mulher de possivelmente quarenta
anos. − Devido ao seu estado, ela deve ser poupada
de problemas que possam causar stress,
preocupação. Sei que o quadro de saúde da sua mãe
é delicado, mas nesse momento devemos poupá-la
de grandes emoções. – Robert me olhou confuso.
− Ela está com algum problema de saúde? –
perguntei sentindo que pisava em um território
movediço.
− Que eu saiba gravidez não é um problema de
saúde – comentou com certo sarcasmo. – Ela está
grávida. – mordi os lábios, respirei fundo soltando
o ar pela boca, meus olhos lacrimejaram. Grávida,
ela vai me dar um filho, outro filho.
− Eles estão fora de risco? – Robert perguntou
preocupado.
– Ela tem que ficar de repouso. Conseguimos
conter a hemorragia com os medicamentos, mas
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não podemos garantir a continuidade da gestação,


faremos uma ecografia para ver se o bebê está bem.
Ela está de poucas semanas e tudo vai depender das
próximas horas. Então é crucial, que Emma fique o
mais tranquila possível. – me ajoelhei ao lado da
cama segurei sua mão e a beijei, eu a amei mais
ainda, se é que isso era possível. A ideia de perdê-
la me entorpecia, me deixava fraco, inseguro. Eu
tinha que encontrar meu filho, disso dependia a
minha vida, a vida de Emma e a do nosso bebê.
Robert colocou a mão no meu ombro.
− Vamos, Matthew, meu outro neto precisa de
nós nesse momento. – Olhei para o homem quando
me levantei, ele chorava. Eu o abracei e lágrimas
deslizaram dos meus olhos. Ele bateu nas minhas
costas, nos recompomos.
− Vamos! – respondi, depois de beijar a testa de
Emma.

~§~

− Precisamos conversar – a voz dele era


agressiva ao telefone.
− Não posso falar com o senhor agora –
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respondi para o meu pai, precisava encerrar aquela


ligação, esperava a chamada de Susan a qualquer
momento me informando se Emma havia
despertado.
− Com quem pensa que está falando, moleque?
Você fez a cabeça daquela descerebrada da sua
mãe, mas a mim não engana. Pensa que vai roubar
meu patrimônio?
− Pai, eu não quero nada que é seu. Eu sou
herdeiro da Stone, assim como o Senhor a herdou
do meu avô. Então, esqueça. Eu não entregarei a
Stone ao Senhor ou a quem quer que indique, uma
vez que demonstrou não ter mais discernimento em
suas escolhas. Agora preciso desligar. – Não
esperei sua resposta. Não era o momento para mais
aquele tormento.
As horas passaram sem pistas do paradeiro de
Nathalie, mesmo contrariado, Robert concordou em
colocar a polícia no caso. Qualquer pista era
seguida, a mais absurda possível era checada pelos
agentes que nos apoiavam na busca. Aguardava a
ligação do hospital, precisava saber se ela havia
acordado, precisava saber como ela estava. O
telefone finalmente tocou.
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− Matthew, Emma desapareceu! − ela gritou


descontrolada do outro lado da linha.
− Como assim desapareceu? Você está em um
hospital, ela estava medicada, não pode ter ido
longe – a angústia que me abateu, fez com que me
desesperasse e atirasse longe o mapa que cobria a
mesa com os pontos indicando onde os agentes já
haviam investigado o paradeiro de Nathalie. Todos,
na sala, me olharam.
− A roupa dela não está no armário, nem o
celular. Não há sinal de Emma. – Susan começou a
chorar. Eu já a procurei por todos os lados. Fui até
o quarto de Mary Anne por uns instantes e quando
voltei ela não estava mais aqui.
− Deus! – disse colocando as mãos no rosto e
escorando meus cotovelos na mesa. A minha frente
um grupo de homens que monitoravam câmeras de
segurança e tentavam rastrear o paradeiro de
Nathalie, aguardavam, preocupados, uma
explicação para aquele meu descontrole. Robert se
aproximou, sua tensão era visível.
− Luca? – ele perguntou com um fio de voz.
− Emma desapareceu do hospital – quando
aquele pesadelo iria acabar. − Nós vamos procurá-
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la, Susan, fique tranquila. – desliguei o telefone e


liguei para Emma, ela atendeu.
– Emma, onde você está? Sua tia voltou para o
quarto e não te encontrou, acabou de me ligar
desesperada. Você está bem? – perguntei lívido.
– Não, eu só vou estar bem quando estiver com
o meu filho.
– Emma, não faça nenhuma bobagem. Volte
para o hospital. Nós estamos procurando o Luca e
vamos encontrá-lo. Meu amor, você precisa ficar de
repouso – implorei. O barulho na ligação
denunciava que ela estava no trânsito.
– Eu estou indo buscar o nosso filho, Matthew.
Eu sei onde ele está. Ele está com medo. Eu preciso
ir até ele – sua voz saiu quase inaudível.
– Emma, onde você está indo? Como sabe onde
ele está?
– Nathalie me ligou. – respondeu, encerrando a
ligação.
− Emma?
− Onde ela está? – Robert perguntou.
− Ela sabe onde está o Luca e está indo resgatá-
lo.
− Meu Deus! Nathalie está descontrolada, pode
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ser perigoso.
− Eu sei.
− Vocês conseguem rastrear um celular? –
perguntei para os detetives a minha frente.
− Podemos tentar – um dos policiais me
respondeu. Mas não foi necessário. Alguns minutos
depois recebi uma mensagem de Emma:

“Casa da Praia”.

CAPÍTULO DEZOITO

O helicóptero pousou ao lado de outro, o piloto


aguardava na cabine, isso significava que Emma
tinha entrado sozinha na casa. Robert correu ao
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meu lado em direção a Mansão Rochester, na praia


de Saline, o vento era cortante, o barulho das ondas
era ensurdecedor. A casa estava iluminada, a porta
da frente batia com as rajadas de vento. Entrei
seguido pelo Rochester, Carlos e um agente da
polícia. O silêncio da casa era cortado pela barulho
da chuva batendo nas vidraças. Nos separamos,
Carlos e o policial subiram as escadas, Robert e eu
ficamos com o térreo. Por instinto segui em direção
à biblioteca, encontrei Luca caminhando cauteloso
no corredor.
− Vovô! – disse correndo em direção a Robert.
− Luca, você está bem? – o avô o abraçou
elevando-o em seu colo. – Machucaram você, meu
amor?
− Não, mas a titia está brigando com a mamãe.
Ela pediu para eu ficar escondido, mas um homem
não fica escondido. Eu preciso salvá-la – disse
tentando se desvencilhar dos braços do avô.
− Eu vou salvá-la. – falei para o meu filho,
tentando acalmá-lo. – Onde elas estão?
− Luca apontou para a biblioteca.
− Fique com ele Robert, eu resolvo isso.
− Estarei aqui se precisar.
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− Eu também – Luca respondeu provocando um


sorriso nos lábios nervosos do avô.

~§~

– Nathalie! – gritei olhando para Emma que


sangrava, nas mãos da minha ex esposa a arma,
uma caneta tinteiro apontada para o peito da irmã. –
Me dá isso, você não precisa machucar a Emma,
ela não significa nada para mim. – falei para a
mulher de cabelos desgrenhados, roupa molhada
pela chuva, maquiagem borrada, era a caricatura
triste da mulher que sempre controlou todos a sua
volta.
– Mesmo, meu amor? − perguntou me lançando
um olhar fixo que denunciava a sua insanidade.
– Sim – menti, me aproximando mais. − Eu vim
te buscar, é você que eu quero, vem comigo, vamos
embora. – Ela deixou a caneta cair no chão, seu
corpo retorcido veio em minha direção. Eu a recebi
em meus braços, queria tirá-la o mais rápido
possível de perto de Emma.
– Espera! – Emma gritou aproximando-se, eu a
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olhei atônito, o que ela pensava em fazer? − Isso e


pelo que você fez com o meu filho. – disse
desferindo um golpe no rosto da irmã, que
cambaleou. Nesse momento Carlos entrou na
biblioteca, evitando que Nathalie caísse. – E isso é
pra você parar de dizer que eu não significo nada
pra você. – Ela me pegou pelo colarinho da camisa
e seus lábios encontraram os meus em um beijo
intenso.
− Matthew é meu, eu sou a Senhora Stone,
ninguém vai tomar o meu lugar. – Nathalie gritou
se esperneando, tentando se livrar dos braços do
meu motorista.
– Carlos leve-a daqui! – ordenei sem tirar os
olhos da mulher que tinha em meus braços. – Você
é maluca, sabia?
– Eu sei. Fiz até tratamento, mas resolvi viver
essa loucura.
– Você está bem? – perguntei preocupado,
lembrando do sangue em sua roupa.
– Sim. – respondeu olhando para a camisa
manchada. – Foi só um corte. Precisamos pegar o
Luca.
– Ele está com o seu pai. Quando chegamos
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aqui ele estava a caminho da biblioteca para salvá-


la. Disse que um homem não fica escondido e sim
defende a mamãe. Acho que teremos um valentão
na família.
– Ele é a minha vida. – murmurou com a voz
embargada – E eu estive tão perto de perdê-lo.
– Emma, você precisa voltar para o hospital.
Você tem que repousar.
– Eu estou bem, foi só um mal-estar, já estou me
sentindo melhor.
– Mas tem alguém que precisa de cuidados –
falei, fazendo um carinho em seu ventre. Emma me
olhou confusa e ao mesmo tempo emocionada. – O
nosso bebê precisa de atenção.
– Um bebê? Um maninho para o Luca? Nosso
filho? – lágrimas brotaram em seus olhos e eu a
beijei.
– Ou uma menina linda e teimosa, como a mãe
– disse envolvendo sua cintura e caminhando em
direção a porta, antes de sair olhei para trás.
–Sempre pensei em voltar aqui com você, mas
confesso que na minha imaginação era bem mais
divertido.

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EPÍLOGO

Era um sábado de verão, o cheiro das flores


espalhadas pelas mesas no jardim, as gargalhadas
de Luca correndo entre os convidados, a alegria de
Mary Anne sentada em seu chase, com um chapéu
azul combinando com o vestido longo, esvoaçante
com a brisa morna que espalhava o perfume de
felicidade no ar. Procurei com o olhar por ela, lá
estava Julianne Stone, conversava alegremente com
Susan, sua leveza era visível, pareceu rejuvenescer
depois da separação.
Respirei fundo e sorri quando Emma apareceu,
linda, com uma pequena tiara de flores do campo
na cabeça, um vestido branco de renda, a barriga
dos primeiros meses já aparente. Ela caminhou
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descalça ao meu encontro. Sorria, com o pequeno


buquê nas mãos, de braços dados com o pai. Os
ternos haviam sido substituídos por camisas
brancas e calças da mesma cor. Exigência da noiva,
nada formal.

~§~

− Sim
− Sim
Um beijo selou o nosso amor.
Ela era oficialmente a Senhora Stone.

~§~

O brinde, o discurso emocionado de Robert. O


choro contido de Mary Anne e Emma. A festa seria
perfeita se não fosse por ele.
− Senhor, temos um problema – Carlos se
aproximou discretamente enquanto eu observava
Emma e Luca que dançavam ao som de uma
música cantada por ela ao seu ouvido. – Eu tentei,
mas ele insiste em falar com o Senhor.
Acompanhei Carlos até a entrada da casa dos
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Rochester, Edward Stone me esperava escorado em


uma Ferrari Vermelha, ao seu lado uma garota, uns
quarenta anos mais jovem que ele, usando um
vestido que mal cobria suas coxas.
− Vim para o casamento do meu filho – disse
com deboche e visivelmente alcoolizado.
− O Senhor não foi convidado.
− E quem disse que eu preciso de convite?
− O Senhor não é bem-vindo a essa casa – repeti
incisivo.
− Eu não admito...
− Quem não admite sou eu – gritei. – Eu vi o
que o Senhor fez no rosto da mamãe. – Não
havíamos mais nos encontrados, eu tinha tanto para
falar com aquele homem, mas não hoje, não no dia
do meu casamento. Ele não ia estragar aquele dia. −
Você nunca mais se aproximará dela.
− Ela fez por merecer – disse levantando o
queixo e me provocando.
− Assim como eu fazia quando tinha três anos?
Quatro? Cinco? Quantos anos eu tinha quando
quebrou o meu braço? Não responde, eu sei. Sete e
você fez eu mentir para a mamãe que havia caído
da bicicleta.
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− Eu estava te educando para que não fosse um


frouxo.
− Você é doente! – disse perdendo a cabeça e
dando as costas para ele.
− Me respeite, Matthew.
− Não, Senhor Stone. Eu não lhe devo respeito,
o máximo que o senhor terá de mim será o meu
desprezo. Então saia da minha vida e nunca mais se
aproxime de mim ou da minha família – olhei em
seus olhos com fúria, ele retribuiu com uma
gargalhada. − Carlos acompanhe o Senhor Stone
até a rua. Ele não é bem-vindo a essa casa.
Alguns meses depois, a modelo com quem ele
estava se relacionando apresentou queixa por
agressão. Ele teve que fazer um acordo milionário
para se livrar do julgamento. Voltou à fazenda,
onde vive recluso desde então.

~§~

Mary Anne partiu dois meses depois do


casamento. A tristeza tomou conta da família
Rochester. Mas eles eram fortes, tinham um ao
outro e um amor sólido que os amparou. A vinda da
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pequena Mary, meses depois, fez a vida brotar


novamente naqueles jardins. A felicidade voltou à
vida de Robert que agora era consultor na Stone.
Não consegui me livrar de Greg, representante
legal do meu pai nas empresas. Mas, por decisão do
Conselho de Acionistas, arrumei uma transferência
para ele representá-lo do Japão.
−Ela continua insistindo que está em um spa –
disse desanimado. − Conversa com os outros
pacientes como se estivesse dando entrevistas.
− Eu sinto muito, Robert. – estávamos na minha
sala, na Stone, ele voltava de uma visita à Nathalie
que estava internada em uma clínica, desde o
incidente na praia de Saline.
− Os médicos não deram esperança de melhora
– completou desanimado.

~§~

− Tchau, mamãe.
− Tomem cuidado – ela gritou.
− Eu já sei pilotar, não se preocupe – Luca
respondeu empolgado da cabine, usava um chapéu
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de aviador marrom com óculos de proteção. Parecia


um personagem de um filme infantil.
− Eu te amo! – falei para a mulher que segurava
nos braços a nossa pequena Mary.
− Eu te amo! – ela respondeu, quando as hélices
do pequeno monomotor começaram a girar. Era o
primeiro voo de Luca, uma promessa adiada tantas
vezes.
No ar, olhei para a cidade que se tornava
pequena, ao longe a praia, em algum lugar em
frente ao mar estava a casa onde eu morava com a
minha família.
− Quando crescer vou ser piloto, papai. – olhei
para o pequeno ao meu lado.
− Você será o que quiser, filho. Eu sempre
apoiarei as tuas escolhas.

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Dois anos depois...

Ele entrou na minha sala sem ser anunciado.


Tentei parecer displicente, apesar de ter esperado a
semana inteira por aquela visita.
– Aconteceu alguma coisa com as crianças? –
perguntei levantando da cadeira que ocupava como
diretora da Editora de Livros e caminhando até o
outro lado da mesa, sem me aproximar do meu
marido.
– Não, está tudo bem com os nossos filhos. Mas,
aconteceu alguma coisa entre nós? O que foi aquela
discussão hoje pela manhã, Emma? Eu não lembro
mais nem porque brigamos, mas lembro que foi
você que começou.
– Eu que comecei? Agora a culpa é sempre
minha? O Senhor Certinho nunca erra? – Ele

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odiava aquele apelido que a Emma adolescente


havia colocado no chato do noivo da sua irmã. Era
desse Matthew que eu sentia saudades, do Matthew
que me levava a loucura com suas provocações,
nosso sexo era selvagem, mas entre quatro paredes.
Eu queria o Matthew que me possuiu no elevador
ou em um beco escuro. Ele caminhou em minha
direção, me obrigando a encostar na mesa.
– Não me chame assim, você sabe que eu não
gosto – protestou, o cabelo precisava de um corte, a
franja caia em seu olhos, a barba rala era uma
provocação à sanidade feminina. Eu sabia que ele
arrancava suspiros das funcionárias da editora, eu
sabia que elas estavam curiosas para saber o que
acontecia naquela sala, naquele momento.
– Chamar de quê? De Senhor Certinho? – repeti
com deboche, deixando-o furioso.
– Eu não vou responder por mim se você
continuar com isso.
– Vai fazer o quê? Me impedir de falar?
–Não é uma má ideia. – Minha boca foi violada
por um beijo intenso, sua língua capturou a minha
envolvendo-a em movimentos eróticos que
provocaram uma dor abaixo do meu ventre. As
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mãos de Matthew agarraram as minhas coxas,


levantando o vestido, minha calcinha foi arrancada
de meu corpo. Sentei na mesa. Ele abriu o fecho da
calça, liberando sua ereção. Minha vagina foi
invadida, sem preliminares. Seu pênis grosso me
penetrou abrindo meus lábios e esfregando sua
espessura em minhas paredes até preenchê-las.
Meus dedos se emaranharam em seus cabelos, ele
mexeu, saindo e entrando do meu corpo.
− Matthew – murmurei, ele tocou o meu clitóris,
sabia que aquilo me enlouquecia, meu sexo se
contraiu, ele meteu mais forte, mais fundo. Cada
estocada, um gemido, cada estocada, uma onda de
prazer. – Eu te amo! Eu amo ter você dentro de
mim, eu amo o jeito que você me toca. – Ele me
beijou, era um beijo entrecortado pela respiração
ofegante. Seu quadril se projetou, quando toda a
luxúria do orgasmo me atingiu, e gozou,
derramando seu sêmen dentro de mim.

~§~

– Você planejou tudo isso? Me provocou


durante essa última semana de propósito. – Ele não
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se vestiu, estava provocante com o membro


exposto sentado no sofá da minha sala. Peguei a
calcinha rasgada do chão e o encarei. Como podia
ser tão gostoso?
– Por que eu faria isso? – perguntei fingindo
inocência.
– Me responda você – disse levantando uma
sobrancelha.
– Vamos conversar em casa, tenho uma reunião
em dez minutos.
– Cancela, você sabe que uma vez com você não
é o suficiente, Emma. – Fingi analisar a proposta
indecente do meu marido.
– Julie, cancela minha agenda para hoje à tarde.
Eu e o Senhor Stone estamos discutindo uma fusão
entre as nossas empresas e não queremos ser
interrompidos – falei a minha secretária pelo viva
voz do telefone.
–Sim, senhora.
Tirei o meu vestido, ficando apenas com um
corpete branco de renda transparente. Fui até um
compartimento secreto da minha gaveta e peguei
algo que estava escondido ali, esperando aquela
visita.
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– Por que eu brigaria com você? – perguntei


sentando em seu colo, fazendo seu pênis me
penetrar até que sua pélvis tocasse os meus lábios.
– Para você me procurar no meu trabalho e nós
treparmos a tarde inteira no meu escritório? O
senhor tem uma imaginação muito boa, Senhor
Stone.
– Aprendi com a melhor. O que você está
escondendo aí atrás? – Mostrei a camisinha e o
lubrificante. Ele sorriu, malicioso. Sua boca
encontrou a curva dos meus seios e sua língua
tocou os meus mamilos. Suas mãos apertaram
minha parte arredondada que em breve seria
profanada por ele. Em um gesto involuntário
coloquei meus cabelos para o lado, deixando o meu
pescoço exposto. Ele viu algo que chamou sua
atenção, senti seu dentes provarem minha pele
naquele lugar e a lembrança de uma noite em uma
biblioteca me fez gemer.

FIM
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