Você está na página 1de 12

Caso Prático N.

º 11
(Efeito Atributivo do Registo)

I
António decide vender a sua moradia da Lapa a Bento, em novembro de 1988, tendo sido
lavrada escritura pública.
Bento era emigrante e apenas pretendia ir viver para a moradia, quando se reformasse, não
tendo o facto aquisitivo sido registado.
António decide constituir, em dezembro de 1988, um usufruto oneroso a favor de Carlos,
relativamente à moradia da Lapa, tendo Carlos, por contrapartida, lhe dado uma tiara de
diamantes. Carlos regista o facto aquisitivo a seu favor, passando a residir no imóvel.
Em 2021, Bento regressa a Portugal para gozar a sua reforma, vendo que Carlos residia no
imóvel, decidindo, de imediato, intentar uma acção de reivindicação contra este.

Quid juris?
O negócio celebrado entre o António e Bento é um contrato de compra e venda 874º e como
falamos de um bem imóvel sujeito a registo, determina o art 875 que a validade do contrato
depende de escritura pública ou documento particular autenticado. Verificados estes
pressupostos no caso, o Bento na realidade substantiva é o legítimo proprietário do direito real
sobre o imóvel. Porém, como determinado no art 2º/1/a) do CRPr, o facto aquisitivo é sujeito a
registo e tal não se verificou. O que permitiu a António, um mês depois, negociar um usufruto
oneroso art. 1439º com Carlos. Carlos, fiel ao preceito legal do art. 2º/1/a) regista o facto
aquisitivo. Estamos portanto, com uma quebra entre a realidade substantiva e a realidade
registal.
Segundo a opinião do Professor José Alberto Vieira este defende que a ordem substantiva
prevalece sobre a ordem registral, o que significa que o direito de Bento prevaleceria.
Porém, conforme a nossa ordem jurídica no art. 1º do CRPr, uma das funções essenciais do
registo é a publicidade, por forma a conservar a segurança do comércio jurídico imobiliário.
2- Por referência ao caso acima referenciado, imagine agora que Carlos tinha adquirido o
imóvel em venda executiva (depois da penhora da moradia em virtude das dívidas de
António). Qual seria a sua resposta ao caso?

Neste caso, a venda executiva é feita livre de ónus e encargos, conforme o art 824º/2. Logo, o e
o usufruto de Carlos caducaria e o Bento poderia usufruir do imóvel de forma plena.

3- Por referência ao caso acima referenciado, imagine agora que Bento sempre residira no
imóvel desde novembro de 1988 e que Carlos registara, também o seu facto aquisitivo, mas
não residiu no imóvel. Qual seria a sua resposta ao caso?

Por terem passado mais de 20 anos, o usufruto extingue-se. Art. 1476º/1/c). Logo o Carlos não
teria mais direito ao usufruto.
II
Abel, que cuidava de Berta, interditada por anomalia psíquica de 1990, decide levar a cabo
uma tramoia para passar a propriedade do palacete do Estoril a seu favor.
Para tal, decide ir ter com Carlota, notária em Cascais, que lavra uma escritura para o efeito,
sem o conhecimento de Berta, tendo o facto aquisitivo sido registado a favor de Bento.
Bento, em 2015, acaba por vender o imóvel a Daniel.
Em 2018, Berta morre, tendo deixado todos os bens a seu único sobrinho, Ernesto.
Ernesto, que nunca se dera com a sua tia, mas sabendo da existência do Palacete do Estoril,
decide investigar o que se passou, acabando por descobrir a tramoia perpetrada por Abel.
Ernesto, decide, de imediato, requer a nulidade do contrato de compra e venda entre Berta e
Abel.

Quid juris ?
O registo é nulo porque é fundado num título falso, ou seja, a escritura pública forjada pelo
Bento e Carlota. Art 16/a) CRPr.
Como Bento vendeu o imóvel a Daniel, terceiro de boa-fé, a lei protege os terceiros de boa-fé
por força do art 17/2 CRPr desde que o registo tenha sido anterior à ação de nulidade e que
tenham passados 3 anos desde o facto aquisitivo. Como ainda estamos dentro dos 3 anos, os
direitos de Daniel não estão reconhecidos e Ernesto pode pedir a nulidade do negócio e ver
registado como seu o Palacete do Estoril ao abrigo do art 291/2.

Eu publicito a propriedade do meu computador utilizando-o -> publicidade espontânea,


exercício possessório.
VS. Publicidade organizada: resulta do registo predial. Como primeira noção de publicidade
podemos dizer que esta é operação, ato ou o efeito de tornar público ou dar a conhecer ao
público determinada situação jurídica ou ato com valor real (?). Existem várias situações
sujeitas a registo: pessoais (registo civil, por exemplo), reais (registo predial, automóvel, etc.).
Factos jurídicos que constituem os direitos reais estão sujeitos a registo.
Objetivo: dar conhecimento aos terceiros interessados; situação jurídica real presente no
registo -> SEGURANÇA JURÍDICA (1º CRP). Assim sendo, ao consultar o registo conseguimos ver
quais são os direitos reais de gozo que incidem sobre determinado prédio. Ao consultarmos o
registo somos terceiros de boa-fé. Nem todas as coisas corpóreas são objeto de registo predial
- 204ºCC. Por motivos de segurança, algumas dessas mencionadas no artigo são sujeitas a
regime próprio. Bonifácio Ramos: regime das coisas móveis -> ideia, mas não existe?
Objeto do registo: constituído pela inscrição ou averbamento de factos jurídicos e não por
situações jurídicas, sendo certo que são os factos jurídicos concretos que dão origem à
constituição, modificação ou extinção dos direitos reais. NÃO SE REGISTAM DIREITOS,
REGISTRAM-SE FACTOS JURÍDICOS CONCRETOS.
Factos jurídicos sujeitos a registo: adquire a propriedade com facto jurídico (compra e venda,
doação, usucapião, testamento, dação em cumprimento, contrato permuta, expropriação). O
registo predial português é público e real, e não privado e pessoal, pois é organizado por uma
entidade pública e no que diz respeito à natureza do prédio resulta a sua inscrição pública
(base real -> todo o histórico de cada prédio, diz respeito ao prédio e não ao titular do prédio).
3 MODALIDADES DE ATOS DE REGISTO:
Descrição predial - tem como objetivo a identificação física, económica e fiscal dos prédios
(79º/1 CRP). Ex.: área do prédio, rústico ou urbano. 79º/2 - descrição de cada prédio, com base
numa ficha de registo ordenada por freguesias acompanhada com a data de apresentação;
cada facto registado tem uma data de apresentação. Dependem de uma inscrição ou
averbamento (art.80º), execuções (81º)
Inscrição - é o ato mais importante do registo, é a que vai permitir regular a situação jurídica do
prédio (91º/1). pode ser definitiva (?) ou provisório (73º+92º).
Averbamento – a inscrição, servem para completar, restringir ou atualizar uma inscrição já
existente e são lançados na ? a que respeita (100º/1 e /4). Ex.: aumento de hectares de um
prédio.
A inscrição predial é sempre alicerçada a factos jurídicos e para que seja promovido o registo
deve existir o título (43º). Ex.: contrato de doação, permuta, compra e venda, etc.
Legitimidade registral: 36º CRP. ex.: compradores do imóvel, credores que sabe o devedor tem
móvel a sua titularidade que não registou para que este não fosse penhorado.
Princípios orientadores do CRP:
Legitimação registral: cabe-lhe o disponente a inscrição a nosso favor (9º CRP remete para o
54º/2 Código do notariado), caso haja transmissão sem inscrição prévia, não invalida logo o
negócio jurídico (OA).
Instância: contrapõe-se a um sistema de registo oficioso (41º) ou seja, regra geral o registo tem
que ser feito por uma parte.
Tem que ser articulado com o art.36º
Prioridade: 6º crp. Aplica-se a direitos reais de garantia (ex.: hipoteca) não se aplica a direitos
reais de gozo
? 9+7º crp. efeito presuntivo do registo
trato sucessivo: resulta do art.34º, e tem como objetivo o conservador e não o titular.
consequência da legitimação registral. impõe que haja uma retratação histórica do prédio
(todas as inscrições e averbamentos)
Escrita de justificação notarial: ?
obrigatoriedade: resulta do art.8º-A, e tem normas que não resultam da versão originária, mas
da reforma de 2008, em que os factos passaram a ser obrigatórios a registo, mas não há
consequência jurídica da ausência desse registo, mas sim o pagamento do valor em dobro o
registo; ou então aquisição tabular caso se verifique.

Efeitos do crp:
1º enunciativo - inscrição do fato do registo e que dá ao seu inscrito a consolidação do seu
direito
2º constitutivo - exceção: resulta de casos de direitos reais de garantia (hipoteca) tem que
existir o registo do facto aquisitivo para que a hipoteca nasça.
3º consolidativo - a nossa posição solidifica-se. 4º atributivo: aquisição tabular

3º para efeitos do registo:


teoria ampla de 3º: guilherme moreira - todos aqueles que tivessem adquirido um direito
incompatível independemente do autor ser ou não comum.
teoria restrita de 3º: Manuel de Andrade - para efeitos de registo, são todos os que adquirem o
direito incompatível de um autor comum.
Acórdão uniformizador de jurisprudência: fixou o sentido de um determinado conceito: 1º
1997 concordou com a ampla, depois 2º 1999 inverteu a posição concordando com a restrita
(aditamento do nº4 do art.5º CRP).

3º para efeitos do registo:


Carvalho Fernandes:
Defende que o 3º deve só estar de boa-fé, não sendo necessário onerosidade.

Escola de Coimbra:
Entende que não é necessária onerosidade nem boa-fé, apenas registo prévio.

Santos Justo:
Parece inclinar-se para a tese da boa-fé.
Caso Prático N.º 12

(Propriedade e Conteúdo Negativo Dos Direitos Reais)

António, proprietário de um apartamento e estando em dificuldades económicas, decide


vendê-lo a Bento, no ano de 2015.

Bento acaba por arrendar o imóvel a Daniela que reside no imóvel durante dois anos até que o
vende a Carlos, em 2017.

Carlos, quando chega ao imóvel, vê que existe uma discoteca no prédio em frente que todos os
dias encerra pelas 06:00 horas, não permitindo que este descanse, em virtude do barulho.

Carlos ordena, de imediato, o encerramento da discoteca, ao seu proprietário, alegando este


que tinha tido autorização de Bento para exercer tal atividade.

Carlos acaba por chamar a ASAE que verifica, a qual verifica que nas traseiras da discoteca
existem vários bidões com óleos inflamáveis, apesar de estarem bem acondicionados e
fechados.

Entretanto verifica-se uma inundação no apartamento contíguo ao de Carlos, uma vez que este
não havia mudado a canalização, conforme lhe advertira Bento, aquando da venda, acabando
por provocar o desabamento de um teto, em virtude do excesso de água.

Em abril de 2020, Carlos recebe uma notificação da Câmara Municipal de Lisboa, na qual é
informado que todo o prédio, incluindo a sua fração, iriam servir para montar um hospital de
campanha, em virtude do Covid 19, razão pela qual deveria abandonar o imóvel, de imediato.

Quid juris?

A propriedade é um direito real de gozo art. 1305º


Segundo o art. 1346º o Carlos podia opor-se à emissão de ruído por este ser de tal forma
intenso que não o deixava descansar durante a noite, resultando num prejuízo substancial do
uso do imóvel. Teria o Carlos de intentar contra o proprietário uma ação de execução específica
por prestação de facto negativo 829º CC por forma a ver os seus direitos reais de gozo
respeitados.
Carlos, deveria, segundo o art 1352º, ter feito as obras necessárias para conter as águas. Por
não ter sido cuidadoso em relação a este assunto responderá por responsabilidade civil extra
contratual fundada no art. 1352/3.
A noção de expropriação vem regulado no art. 1308º que limita aos casos previstos na lei. Ora,
como o número de doentes de covid aumentava, a Câmara Municipal de Lisboa viu-se obrigada
usar todo o prédio para montar um hospital de campanha, está em causa uma expropriação,
ainda que temporária. A expropriação determina que haverá sempre lugar a uma indemnização
adequada ao titular do direito real, com fundamento no art. 1310º do CC.
Caso Prático N.º 13

(Comunhão dos Direitos Reais)

António, proprietário de um prédio urbano em regime de propriedade total na Rua Guilherme


Moreira decide constituir, por escritura pública, um usufruto a favor dos seus quatro netos:
Beatriz, Carlos, Dário e Elisa, em Maio de 2017, para que estes residissem habitualmente.

O prédio tinha um logradouro com um pomar de maças que produziu, no final de Junho de
2017, uma tonelada de maças, que Beatriz destinou integralmente à sua unidade de produção
de sumos de fruta.

Em Agosto de 2017, dá-se uma reunião entre os usufrutuários, com o objectivo de decidir se a
fachada do prédio deveria ser pintada.

Beatriz e Carlos queriam que o prédio sofresse tal obra. Por seu turno Dário e Elisa opuseram-
se à ideia.

Beatriz diz que o prédio será pintado, em virtude de a sua quota no usufruto ser de 70%,
conforme resultara de uma carta escrita pelo Avó António, e que todos tinham conhecimento.

O prédio acabou por ser pintado.

Em Outubro de 2017, Beatriz, que nunca gostara de Dário, seu primo, decide proibi-lo de
entrar no aludido prédio mudando, para o efeito, a fechadura da porta da entrada, alegando
que ele não havia liquidado a sua parte nas despesas do IMI e de manutenção do prédio.

Posteriormente Elisa, que se pretendia “livrar” da família, decide alienar o prédio a Félix,
forjando três procurações de Beatriz, Carlos e Dário, nas quais lhe eram dados os poderes
necessários para vender o prédio.

O negócio é celebrado entre Elisa e Félix do Cartório Notarial do Campo Grande.

Carlos decide ainda doar o seu direito real de gozo a favor de Zacarias, seu filho, em segredo
total.

Félix, novo usufrutuário, insurge-se contra a transmissão a favor de Zacarias, uma vez que
pretendia exercer o seu direito de preferência, de que era titular.

Beatriz, que sempre fora dada a negócios, decide abrir um hostel no prédio da Rua Guilherme
Moreira, tendo tido o consentimento anterior apenas de Elisa.

Quid juris?
Caso Prático N.º 11
(Propriedade)

I
António comprou um terreno urbano em Mértola a Bártolo com o objetivo de construir
quatro pequenas moradias que pretendia arrendar a terceiros, tendo o vendedor garantido a
possibilidade de construção nestes termos, uma vez que um funcionário da Câmara
Municipal de Mértola lhe havia transmitido essa informação.
Para se salvaguardar António consagrou uma cláusula no contrato de compra e venda, no
qual previa que se a Câmara não deferisse o projeto de construção, o negócio ficava sem
efeito.
Quando deu entrada do respetivo licenciamento, António apercebeu- se de que apenas podia
construir duas moradias, pretendendo reverter o negócio.
Entretanto a Câmara Municipal de Mértola decide expropriar, por utilidade pública, o
terreno de António, uma vez que os casos de Covid estavam a aumentar no município e
necessitavam de um espaço para albergar doentes.
Quid juris ?
A propriedade é um direito real de gozo art. 1305º
O regime da expropriação vem regulado no art. 1308º que limita aos casos previstos na lei as
expropriações. Ora, como o número de doentes de covid aumentava, a Câmara Municipal de
Mértola viu-se obrigada usar o terreno, porém bastava requerer temporariamente o terreno a
António e não seria necessário expropria-lo atendendo ao princípio da proporcionalidade, pois
o albergue para doentes covid não seria definitivo. A expropriação determina que haverá
sempre lugar a uma indemnização adequada ao titular do direito real.
Fundado no princípio da autonomia privada 405º as partes podem decidir incluir a cláusula
resolutiva no contrato.
Assim, o contrato de compra e venda ficava sem efeito, conforme a cláusula assinada e o
Bártolo veria a Câmara Municipal indemniza-lo, com fundamento no art 1310º.
II

Madalena, aproveitando que o seu marido Tiago não estava em causa, decide colocar no
contentor do lixo uma cadeira estilo Luís XIV, que esta detestava.
Bento, vizinho do casal que estava a passar no local, no momento em que Madalena se
deslocou ao mesmo, decide de imediato levar a cadeira consigo para casa.
Tiago, quando chegou a casa, verificou que não tinha a sua cadeira no escritório, pedindo
explicações à esposa, tendo Madalena referido que estava farta de antiguidades, que havia
colocado a cadeira no lixo e que a mesma já estava em casa de Bento.
Atendendo à explicação, Tiago pretende recuperar a sua cadeira, recusando Bento a
devolução daquele objeto, uma vez que havia encontrado a cadeira no lixo.

Quid juris ?

Abandono é uma forma de renuncia do próprio direito de propriedade – abandono do direito


de propriedade. No caso não há legitimidade por parte de M, por isso B não pode ocupar. A
aquisição é de T e não de M.
1311.º - reivindicação. Res nulius – coisas adquiridas por ocupação – móveis. Não se adquire
por ocupação coisas imoveis.

III
Abel, proprietário de uma indústria metalo-mecânica sita na Rua da Palma, n.º 2, labora,
diariamente, incomodando o vizinho do prédio da Rua da Palma, n.º 9, Bento, que em
virtude de padecer da síndrome do ouvido irritável, não consegue estar descansado em casa.
Bento, pede que Abel cesse de imediato aquela situação, o que Abel recusa dizendo que os
decibéis de ruído produzido estão dentro dos padrões legais e que ele tem licenciamento
para o efeito.

Quid juris ?

Art. 1346.º - a coisa tem que estar numa proximidade para que a emissão de fundo ou afins
afete o outro prédio

Propriedade – direito real de gozo por excelência

Cada direito real de gozo tem autonomia per si. O regime da propriedade é o regime base da
grande maioria das matérias dos direitos reais menores.
O direito de propriedade concede um conteúdo mais intenso dos que os outros - 1305.º.
Caso Prático N.º 12
(Comunhão dos Direitos Reais)

I
António, proprietário de um prédio rústico, decide constituir um usufruto gratuito e vitalício
a favor dos seus quatro netos: Beatriz, Carlos, Dário e Elisa, em maio de 2017.
O prédio produziu, no final de junho de 2017, uma tonelada de maçãs, que Beatriz destinou,
integralmente, à sua unidade de produção de sumos de fruta, sem o conhecimento dos
demais usufrutuários.
Em agosto de 2017, dá-se uma reunião entre os usufrutuários, com o objetivo de decidir se o
muro do prédio deveria ser pintado.
Beatriz e Carlos queriam que o prédio sofresse tal obra, contrariamente a Dário e Elisa.
Beatriz diz que o prédio será pintado, em virtude de a sua quota no usufruto ser de 70%,
conforme resultara de uma carta escrita pelo Avó António, e que todos tinham
conhecimento.
O prédio acabou por ser pintado.
Em outubro de 2017, Beatriz, decide proibir Dário de entrar no prédio mudando a fechadura
e alegando que este não havia liquidado a sua parte nas despesas do IMI.
Posteriormente Elisa, que se pretendia “livrar” da família, decide alienar o prédio a Félix,
forjando três procurações de Beatriz, Carlos e Dário, nas quais lhe eram dados os poderes
necessários para vender o prédio.
O negócio é celebrado entre Elisa e Félix do Cartório Notarial do Campo Grande.
No mesmo do negócio acima indicado, Carlos decide ainda doar o seu direito real de gozo a
favor de Zacarias, seu filho, em segredo total.

Quid juris ?

Relativamente aos efeitos do usufruto:


A comunhão pode resultar dos mesmos factos jurídicos que desencadeiam a constituição dos
vários direitos reais, tais como por factos jurídicos negociais, incluindo o usufruto. António, ao
constituir usufruto a favor dos seus quatros netos, está a atribuir o mesmo direito real sobre a
mesma coisa a cada um deles, ou seja, cada comunheiro será titular de um direito
independente dos demais, com a particularidade deste direito partilhar o seu objeto com
outros direitos reais da mesma espécie (art.1403º/2 1ª parte e art.1405/1 1ª parte).

Relativamente às maçãs:
Cada comunheiro tem uma posição quantitativamente determinada na comunhão,
denominada de quota, à qual a lei associa certos efeitos, nomeadamente a posição do
comunheiro. Na opinião de José Alberto Vieira, Pires de Lima e Antunes Varela, a indicação do
valor da quota não tem de ser expressa, contudo, presumem-se quantitativamente iguais na
falta de indicação em contrário no título constitutivo (1403º/2 2ª parte). Não me parece que a
carta em que o Avô escreveu que atribuiu 70% a Beatriz seja válida pois não pertence ao título
constitutivo. (PROF: se o usufruto fosse oneroso, quem pagava mais ficava com maior quota).
Frutos naturais - cíclicos da coisa. Beatriz não podia. Responsabilidade civil: danos sofridos e
lucros cessantes.
1405º - cada comunheiro tem direito aos frutos da proporção da sua quota. Beatriz deveria ter
informado os restantes comunheiros da sua pretensão.
Prof (concorda com o Mota Pinto):
Poderes individualizados: pode exercer sem autorização dos demais consortes
Poderes maioritários: consortes têm que decidir.
Poderes unanimes: poderes que são concretizados através do acordo unânime de todos os
consortes (ex.: venda integral do bem).

Relativamente ao muro:
1407ª - não havia dupla maioria. Recorrer para o tribunal (nº2).
O muro poderia ter sido pintado? Não, mas foi. Qual consequência? Como não havia a maioria
necessária, os consortes que avançaram na pintura, deviam pagar a pintura, e não os que não
queriam, pois, o contrato é nulo e não podia ser utilizado contra os outros consortes.

Proibição de Beatriz a Dário:


1406º - regra geral, todos os comunheiros tem uso comum da coisa. Encargos e despesas:
1474º + 1405º/1 2ª parte. O Dário tem que pagar o IMI. Mas o facto de ele não ter pago atribui
a Beatriz legitimidade para o proibir? Não. A restrição do uso não é permitida, mesmo que os
comunheiros não estejam a cumprir as suas obrigações. O que Beatriz poderia
realmente fazer para Dário pagar? Se ela pagasse por ele, iria ter direito de regresso, podendo
penhorá- lo. Seria uma situação de esbulho, e Dária podia intentar uma acção de reivindicação
ou não sei que da possa?
Procurações forjadas de Elisa:
1408º - Elisa podia onerar a sua própria quota, mas os comunheiros gozam de direito de
preferência (1409º - prof: interpretação ampla: qualquer negócio jurídico oneroso). Segue o
regime da ação de preferência do art.1410º

Em relação ao Zacarias:
Negócio jurídico gratuito: não exige direito de preferência.

PROF:
A comunhão no nosso ordenamento jurídico é de transição e temporária. Ação de revisão de
coisa comum: regime do art.1412º que remete para ação especial prevista no CPC. Os
comunheiros podem a todo o tempo exigir a coisa, excetuando se tratar de coisa ? Esta
situação não significa que a coisa tenha que ser divisível. Licitação em tribunal: terreno dos
sobreiros, ou ? Direito de divisão.

II
Distinga comunhão de matriz romana de comunhão de matriz germânica e indique concretas
situações em que este tipo de comunhão se verifica no tráfego jurídico português.

A comunhão de matriz romana é a atualmente adotada como modelo-regra no ordenamento


jurídico português, ao contrário da matriz germânica, também conhecida como comunhão de
mão comum. No modelo germânico, o património em causa pode ser composto tanto por
outras coisas corpóreas como por outros bens, não estando sujeito a quotas, retirando dos
comunheiros a opção de dispor da sua posição, seja por vontade própria seja por
consentimento geral. Contudo, não implica que a coisa em comunhão não possa ser objeto de
disposição, total ou parcialmente, por todos os comunheiros.
Encontramos no Direito português referências à comunhão de mão comum quando estamos
perante as três situações seguintes: comunhão conjugal resultante de um casamento em
regime de comunhão de bens (geral ou adquirido), comunhão hereditária e na sociedade civil
sem personalidade jurídica (havendo personalidade jurídica, os bens não estão em comunhão,
não havendo risco de confusão).
Explicando cada um com mais detalhe e exemplificando:
A comunhão conjugal resultante de um casamento em regime de comunhão de bens é uma
das situações em que se aplica a comunhão de mão comum em Portugal. Nesse caso, todos os
bens adquiridos após o casamento são considerados bens comuns do casal, a menos que haja
um acordo pré-nupcial que estabeleça o contrário. Dessa forma, tanto os bens móveis quanto
os imóveis adquiridos durante o casamento são compartilhados pelos cônjuges.

Por exemplo, suponhamos que um casal esteja casado em regime de comunhão de bens e
adquira um apartamento após o casamento. Nessa situação, o apartamento será considerado
um bem comum do casal, pertencendo a ambos os cônjuges na proporção de 50% cada.

Outra situação em que encontramos a comunhão de mão comum é na comunhão hereditária.


Quando ocorre o falecimento de uma pessoa e seus bens são deixados para herdeiros, esses
bens passam a ser comuns entre os herdeiros até que a partilha seja realizada. Durante esse
período, os herdeiros têm direitos indivisos sobre os bens e são considerados como estando
em comunhão de mão comum. A partilha dos bens definirá a proporção em que cada herdeiro
terá direito a cada bem.

Por fim, nas sociedades civis sem personalidade jurídica, os bens dos sócios podem estar em
comunhão de mão comum. Isso ocorre porque, nesse tipo de sociedade, não há separação
patrimonial entre os sócios e a sociedade. Assim, os bens adquiridos ou utilizados pela
sociedade são considerados como estando em comunhão de mão comum entre os sócios. É
importante observar que, se a sociedade possuir personalidade jurídica, os bens não estarão
em comunhão, pois a sociedade é uma entidade jurídica separada dos sócios.

Podemos apontar duas principais razões para a adoção da figura da comunhão no


ordenamento jurídico, sendo estas: históricas (a influência que o desenvolvimento romano
relativo à propriedade tem no direito português em geral) e científicas (na ausência de uma
parte geral no sistema interno dos direitos Reais leva a aplicar praticamente tudo que é geral à
propriedade). Assim, define o regime geral do art.1404º que as regras de compropriedade são
aplicáveis, com as necessárias adaptações, à comunhão de quaisquer outros direitos, sem
prejuízo do disposto especialmente para cada um". Assim, o regime de compropriedade
funciona como paradigma da comunhão de direitos reais, mas o alcance da sua disciplina
transcende em muito a comunhão de propriedade, atingindo a comunhão de qualquer direito
real.

Você também pode gostar