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Disciplina: Direito Penal Esquematizado

Tema: Culpabilidade e causas exculpantes

Prof. Diego Pureza

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Disciplina: Direito Penal Esquematizado
Tema: Culpabilidade e causas exculpantes

SUMÁRIO

CULPABILIDADE ............................................................................................................................. 3
Imputabilidade .......................................................................................................................... 3
Causas de inimputabilidade: ................................................................................................. 4
# O índio não integrado é considerado inimputável? ........................................................... 7
# Como é tratado a emoção e a paixão? ............................................................................... 7
Potencial consciência da ilicitude.............................................................................................. 7
Erro de proibição ................................................................................................................... 7
Exigibilidade de conduta diversa............................................................................................... 9

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CULPABILIDADE

Culpabilidade pode ser definida como o juízo de reprovação que recai na conduta
típica e ilícita que o agente se propõe a realizar. Trata-se de um juízo relativo à necessidade de
aplicação da sanção penal.
Possui os seguintes elementos: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e
exigibilidade de conduta diversa.

Imputabilidade

É a capacidade de imputação, ou seja, a possibilidade de se atribuir a alguém a


responsabilidade pela prática de uma infração penal.
O Código Penal prevê 3 hipóteses de inimputabilidade:
1 – Distúrbios mentais (art. 26 do CP);
2 – Menoridade (art. 27 do CP);
3 – Embriaguez completa acidental (art. 28, §1º, do CP).

Critérios que discutem a inimputabilidade:

(a) Critério biológico: leva em conta apenas o desenvolvimento mental do agente


(doença mental ou idade), independentemente se tinha, ao tempo da conduta, capacidade de
entendimento e autodeterminação.
> Conclusão: basta ser portador de anomalia psíquica ou menor de idade para ser
inimputável.

(b) Critério psicológico: considera apenas se o agente, ao tempo da ação ou omissão,


tinha capacidade de entendimento e autodeterminação, independentemente de sua condição
mental ou idade.
> Conclusão: não importa se o agente é portador de anomalia psíquica ou menor de
idade para ser inimputável. É necessário que o agente não tenha capacidade de entendimento
e autodeterminação no momento da conduta.

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(c) Critério biopsicológico: leva em consideração a condição mental do agente, bem


como se o mesmo era, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se conforme esse entendimento.
> Conclusão: não basta ser portador de anomalia psíquica para ser inimputável ou
menor de idade, mas, também, devido a esta condição, o agente precisa ser inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato no momento da conduta.

Causas de inimputabilidade:

A – Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento


mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.

Nesta primeira hipótese de inimputabilidade, adotou-se o critério biopsicológico, pois,


além da doença mental, para que o agente seja considerado inimputável, é necessário que ao
tempo da conduta o mesmo esteja desprovido de capacidade de entendimento e
autodeterminação.
Isso porque há ocasiões em que o agente é acometido de doença mental mas exibe
intervalos de lucidez, ocasiões em que entende o caráter ilícito do fato, sendo, portanto,
imputável.
Aqui, a doença mental deve ser entendida de forma ampla e abrangente, sendo
compreendida como qualquer enfermidade que venha a debilitar as funções psíquicas do
agente.
 Consequência: o inimputável será denunciado e processado, porém, ao final, deve
ser absolvido (e não condenado). Trata-se da chamada ‘absolvição imprópria’, pois
deixa-se de aplicar pena e aplica-se medida de segurança.
Por fim, o art. 26, parágrafo único, do CP não anuncia hipótese de inimputabilidade,
mas de imputabilidade com responsabilidade penal diminuída (semi-imputabilidade):

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em


virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto

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ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou


de determinar-se de acordo com esse entendimento.

 Consequência: é a condenação do semi-imputável, porém com redução de pena,


de um a dois terços ou1 substituição da pena por medida de segurança (art. 98 do
CP).

B) Inimputabilidade em razão da idade:

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando


sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.

O Código Penal, quando da sua reforma em 1984, elegeu patamar etário para início da
imputabilidade aos 18 anos, sendo seguido pelo constituinte no art. 228 da Constituição Federal.
Como se percebe, adotou-se o critério biológico, considerando somente a idade,
independente de, se ao tempo da conduta, havia capacidade de entendimento e
autodeterminação.
 Consequência: Há uma presunção absoluta de que o menor de dezoito anos possui
desenvolvimento mental incompleto, motivo pelo qual deve ser submetido às
normas do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Esta presunção está fundada em orientações de política criminal (não há qualquer
postulado científico).
A maioridade penal é alcançada no primeiro minuto do dia do aniversário de 18 anos
do agente, sendo irrelevantes alterações transitórias e ficcionistas (horário de verão, por
exemplo). Além disso, eventual emancipação civil da capacidade do agente não gera efeitos
penais, uma vez que a preocupação do CP é com a idade cronológica.
Segundo a já estudada teoria da atividade (art. 4º do CP), a imputabilidade em razão
da idade deve ser aquilatada no momento da conduta, e não da produção do resultado.

C) Inimputabilidade em razão da embriaguez:

1
Trata-se do chamado sistema vicariante ou unitário, adotado após a reforma do Código Penal de 1984,
segundo a qual não se poderá aplicar as duas sanções ao condenado (pena e medida de segurança),
devendo o magistrado optar por uma das duas.

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Embriaguez é a intoxicação transitória causada pelo álcool ou substância de efeitos


análogos. A embriaguez é classificada em espécies e graus, variando as respectivas
consequências:

(i) Embriaguez não acidental (voluntária ou culposa): embriaguez voluntária ocorre


quando o agente ingere a substância alcóolica com a intenção de embriagar-se; embriaguez
culposa surge quando o agente, por negligência ou imprudência, acaba por embriagar-se. Pode
ser completa (retirando do agente, no momento da conduta, a capacidade de entendimento e
autodeterminação) ou incompleta (diminuindo a mesma capacidade).
 Consequência: jamais exclui a imputabilidade (art. 28, II, do CP), seja ela
incompleta ou incompleta.

(ii) Embriaguez acidental (caso fortuito ou força maior): a embriaguez decorre de caso
fortuito (o sujeito desconhece o efeito inebriante da substância que ingere) ou força maior (o
sujeito é obrigado a ingerir a substância inebriante.
 Consequência: Se completa, isenta o agente de pena (art. 28, §1º, do CP) –
hipótese de inimputabilidade; se incompleta, não exclui a culpabilidade, mas
diminui a pena (art. 28, §2º, do CP).
Note que para gerar a inimputabilidade a embriaguez pressupõe as seguintes
condições: causal (proveniente de caso fortuito ou força maior); quantitativo (completa);
cronológica (ao tempo da ação ou omissão); e, consequencial (inteira incapacidade intelectiva
ou volitiva).

(iii) Embriaguez patológica: é a embriaguez doentia, que, conforme o caso concreto,


pode ser tratada como anomalia psíquica, gerando inimputabilidade do agente ou redução da
pena, os moldes do art. 26 do CP (inimputabilidade em razão de anomalia psíquica).

(iv) Embriaguez preordenada: nessa espécie, o agente ingere bebida alcóolica ou


consome substância de efeitos análogos com a finalidade de cometer um crime.
 Consequência: completa ou incompleta, não haverá exclusão da imputabilidade,
tampouco redução da pena, mas a incidência de agravante (art. 61, II, “l”, do CP2).

2
“Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
[...] II – ter o agente cometido o crime: [...] l) em estado de embriaguez preordenada”.

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# O índio não integrado é considerado inimputável?


R: a condição de índio não integrado não gera presunção de incapacidade penal. A
regra é a sua imputabilidade, que poderá ser afastada quando doente mental, menor de 18 anos
na data dos fatos ou tomado por embriaguez acidental completa.
No entanto, não se descarta, diante do caso concreto, que a sua não integração seja
causa de excludente da culpabilidade, mas por ausência de ‘potencial consciência da ilicitude’
ou ‘inexigibilidade de conduta diversa’.

# Como é tratado a emoção e a paixão?


R: Conforme o art. 28, I, do CP, a emoção e a paixão não excluem a responsabilidade
penal. Emoção é o estado súbito e passageiro, enquanto a paixão é o sentimento crônico e
duradouro.
Emoção pode servir como circunstância atenuante (art. 65, III, “c”, do CP) ou como
causa de diminuição de pena nos crimes de homicídio e lesão corporal (art. 121, §1º, e 129, §4º,
ambos do CP). Já a paixão, dependendo do grau e da capacidade de entendimento do agente,
pode ser encarada como doença mental (paixão patológica – art. 26 do CP).

Potencial consciência da ilicitude

Trata-se da possibilidade (e não a certeza técnica) que tem o agente imputável de


compreender a reprovabilidade da sua conduta

Erro de proibição

É causa que exclui o elemento “potencial consciência da ilicitude” prescrito no art. 21


do Código Penal:

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se


inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou
atingir essa consciência.

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Apesar de não ser possível alegar o desconhecimento da lei como causa dirimente, é
possível, todavia, que o agente, mesmo conhecendo a lei, incida em erro quanto à proibição do
seu comportamento, valorando equivocadamente a reprovabilidade da sua conduta, podendo
acarretar a exclusão da culpabilidade.

O erro de proibição pode ser:


 Escusável: ocorre quando o agente atua ou se omite sem ter a consciência da
ilicitude do fato em situação na qual não é possível lhe exigir que tenha essa
consciência.
Consequência: afasta a culpabilidade;
 Inescusável: previsto no parágrafo único do art. 21 do CP, “se o agente atua ou se
omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”.
Consequência: há crime, mas, diminui a pena (de um sexto a um terço).

Para aferir se o erro foi escusável ou inescusável, são consideradas as características


pessoais, tais como a idade, grau de instrução, local em que vive e os elementos culturais que
permeiam o meio no qual sua personalidade foi formada (não se aplica o critério da
“substituição hipotética do homem médio”).

Nesse sentido, podemos apontar duas situações exemplificando o erro de proibição:


a) o agente, apesar de ignorar a lei, conhecia a reprovabilidade da sua conduta.
Exemplo: Pedro, mesmo sabendo que homicídio é crime, acredita que o tipo não alcança a
eutanásia.

b) o agente ignora a lei e a ilicitude do fato. Exemplo: Pedro fabrica açúcar em casa,
não imaginando que seu comportamento é reprovável, muito menos crime previsto no art. 1º
do Decreto-Lei nº 16/66.

Espécies de erro de proibição:

(A) Erro de proibição DIRETO:

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Nesta espécie, o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva, ou


porque ignora a existência do tipo incriminador, ou porque não conhece completamente seu
conteúdo, ou porque não entende seu âmbito de incidência.
Exemplo: turista holandês, consumidor contumaz de maconha em seu país de origem,
acredita ser possível utilizar a mesma droga no Brasil, equivocando-se quanto ao caráter
proibido da sua conduta.

(B) Erro de proibição INDIRETO:


Também chamado de descriminante putativa por erro de proibição, o agente sabe que
a conduta é típica, mas supõe presente uma norma permissiva, ora supondo existir uma causa
excludente da ilicitude, ora supondo estar agindo nos limites da descriminante.
Exemplo: José, traído por sua esposa, acredita estar autorizado a matá-la para
defender sua honra ferida.

Exigibilidade de conduta diversa

Para a reprovação social, não basta que o autor do fato lesivo seja imputável e tenha
possibilidade de lhe conhecer o caráter ilícito.
Exige-se, ainda, que nas circunstâncias tivesse a possibilidade de atuar de acordo
com o ordenamento jurídico

Pode ser excluído, segundo o Código Penal, pelo:

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a


ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da
coação ou da ordem.

1 – Coação moral irresistível (art. 22, primeira parte, do CP);

2 – Obediência hierárquica não manifestamente ilegal (art. 22, segunda parte, do CP).

Diego Luiz Victório Pureza

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Advogado.
Professor de Criminologia, Direito Penal, Direito Processual Penal e Legislação Penal
Especial em diversos cursos preparatórios para concursos públicos.
Pós-graduado em Ciências Criminai.
Pós-graduado em Docência do Ensino Superior
Pós-graduado em Combate e Controle da Corrupção: Desvios de Recursos Públicos.
Palestrante e autor de diversos artigos jurídicos.

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