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A Guerra
A Guerra
Em 1987, após o início da Primeira Intifada contra Israel, o Hamas foi fundado pelo imã e
ativista palestino Ahmed Yassin. Ele surgiu a partir de um grupo chamado Mujama
al-Islamiya (Centro Islâmico), estabelecido em Gaza em 1973 como uma instituição de
caridade islâmica associada à Irmandade Muçulmana baseada no Egito.[21] Ao longo dos
anos, o Hamas se envolveu cada vez mais no conflito israelense-palestino;[60] no final da
década de 1990, foi contra as Cartas de Reconhecimento mútuo Israel-Palestina da
Organização para a Libertação da Palestina, bem como os Acordos de paz de Oslo, nos
quais o Fatah renunciou "ao uso de terrorismo e outros atos de violência" e reconheceu
Israel em busca de uma solução de dois estados. O Hamas continuou a advogar pela
resistência armada palestina. Em 2006, venceu as eleições legislativas palestinas,[61]
obtendo maioria no Conselho Legislativo Palestino.[62] Posteriormente assumiu o controle
da Faixa de Gaza após uma guerra civil com o Fatah em 2007.[63][64] Desde então, tem
governado Gaza como um estado autocrático de fato e de partido único.[65] O cisma entre
Hamas e a Autoridade Palestina (controlada pelo Fatah) tem contribuído para a confusão
legal e repetidos adiamentos das eleições.[66][67] Apesar de tudo, o Hamas desfruta de
crescente popularidade na sociedade palestina, por suas posições decididamente
antissionistas e anti-israelenses.[68][69]
Atualmente, a Faixa de Gaza é governada pelo Hamas e encontra-se sob bloqueio por terra,
mar e ar, imposto por Israel e pelo Egito. Ao longo do tempo, Israel empreendeu uma série
de guerras contra Gaza, em 2008-09, 2012, 2014 e 2021, além de vários bombardeios
aéreos israelenses de menor duração, em resposta ao lançamento de foguetes contra Israel.
Na guerra de 2023, o Hamas lançou a Operação Al-Aqsa Flood, na qual seus combatentes
romperam a barreira de Gaza, atacaram bases militares israelenses e levaram civis e
militares como reféns para Gaza.[57][95][96] O ataque foi descrito como o maior revés dos
militares israelenses desde a guerra de 1973. Em resposta, Israel bombardeou a área
densamente povoada de Gaza (13 000/km2), atingindo inúmeros alvos civis,[97] com a
intenção declarada de eliminar o Hamas da face da Terra".[98][99] O Parlamento Europeu
aprovou uma resolução afirmando a necessidade de eliminar o Hamas; o presidente dos
EUA, Joe Biden, expressou a mesma opinião.[100][101]
Etimologia
Hamas é um acrônimo da frase árabe حركة المقاومة اإلسالميةou Ḥarakah al-Muqāwamah
al-ʾIslāmiyyah, que significa "Movimento de Resistência Islâmica". Este acrônimo, HMS, foi
posteriormente alterado no Pacto do Hamas pela palavra árabe ḥamās (102[,) ]حماسque
literalmente significa "zelo", "força" ou "bravura". A consoante inicial não é o /h/ comum em
palavras em inglês (como house), mas um som ligeiramente mais áspero, a fricativa faríngea
surda /ħ/.[103]
História
Origens
Quando Israel ocupou os territórios palestinos em 1967, os membros da Irmandade
Muçulmana não participaram ativamente da resistência, preferindo concentrar-se em
reformas sociais, religiosas e na restauração dos valores islâmicos.[104] Essa perspectiva
mudou no início da década de 1980, quando as organizações islâmicas tornaram-se mais
envolvidas nas questões políticas palestinas.[104] A força motriz por trás dessa
transformação foi o xeique Ahmed Yassin, um refugiado palestino de Al-Jura.[104] De
origens humildes e tetraplégico,[104] ele se empenhou para se tornar um dos líderes da
Irmandade Muçulmana em Gaza. Seu carisma e convicção lhe trouxeram um grupo leal de
seguidores, dos quais ele, como tetraplégico, dependia para tudo, desde alimentá-lo até
transportá-lo para eventos, para comunicar sua estratégia ao público.[105] Em 1973, Yassin
fundou a organização de caridade social-religiosa al-Mujama al-Islamiya ("Centro Islâmico"),
em Gaza, como um desdobramento da Irmandade Muçulmana.[106][107]
Em 1984, Yassin foi preso depois que os israelenses descobriram que seu grupo estava
reunindo armas,[21] mas foi libertado em maio de 1985 como parte de uma troca de
prisioneiros.[112] Ele continuou a expandir o alcance de sua organização de caridade em
Gaza.[21] Após sua libertação, ele estabeleceu o al-Majd (um acrônimo para Munazamat
al-Jihad wa al-Da'wa), liderado pelo ex-líder estudantil Yahya Sinwar e Rawhi Mushtaha,
encarregado de lidar com a segurança interna e caçar informantes locais dos serviços de
inteligência israelenses.[113][114] Ao mesmo tempo, Yassin ordenou ao ex-líder estudantil
Salah Shehade que estabelecesse o al-Mujahidun al-Filastiniun (Lutadores Palestinos), mas
seus militantes foram rapidamente detidos pelas autoridades israelenses e tiveram suas
armas confiscadas.[115][nota 1]
Criar o Hamas como uma entidade distinta da Irmandade Muçulmana foi uma questão de
praticidade; a Irmandade Muçulmana recusou-se a envolver-se em violência contra
Israel,[120] e sem participar da intifada, os islamistas da Irmandade temiam perder o apoio
para seus rivais, a Jihad Islâmica Palestina e a OLP. Eles também esperavam que,
mantendo suas atividades militantes separadas, Israel não interferisse em seu trabalho
social.[nota 3][121]
Em agosto de 1988, o Hamas publicou a Carta do Hamas, na qual se definiu como uma
parte da Irmandade Muçulmana na Palestina e expressou seu desejo de estabelecer "um
estado islâmico em toda a Palestina".[104]
A Primeira Intifada
Ver artigo principal: Primeira Intifada
O primeiro ataque do Hamas contra Israel ocorreu na primavera de 1989, quando o grupo
sequestrou e matou Avi Sasportas e Ilan Saadon, dois soldados israelenses.[122] Na época,
Shehade e Sinwar estavam cumprindo pena em prisões israelenses e o Hamas havia criado
um novo grupo, a Unidade 101, liderada por Mahmoud al-Mabhouh, cujo objetivo era
sequestrar soldados.[123] A descoberta do corpo de Sasportas desencadeou, nas palavras
de Jean-Pierre Filiu, "uma resposta israelense extremamente violenta": centenas de líderes
e ativistas do Hamas, incluindo Yassin, que foi condenado à prisão perpétua, foram
presos[124] e o Hamas foi proibido.[112] Essa detenção em massa de ativistas, juntamente
com uma nova onda de prisões em 1990, desmantelou o Hamas que devastado, foi forçado
a se adaptar;[124][125] seu sistema de comando foi regionalizado para tornar sua estrutura
operacional mais difusa[69] e minimizar as chances de ser detectado.[126]
Nos primeiros anos da Intifada, a violência do Hamas era restrita aos palestinos,
colaboradores de Israel e indivíduos que ele definia como "desviantes morais", ou seja,
traficantes de drogas e prostitutas conhecidas por terem ligações com redes criminosas
israelenses[142] ou por se envolverem em comportamentos impróprios, como seduzir
mulheres em salões de cabeleireiro com álcool, comportamento que o Hamas considerava
incentivado por agentes israelenses.[143] Os líderes do Hamas comparavam a eliminação
dos colaboradores ao que a resistência francesa fez com os colaboradores nazistas durante
a Segunda Guerra Mundial. Somente em 1992, eles executaram mais de 150 pessoas.[144]
Na mídia ocidental, isso foi relatado como uma "típica luta intercomunitária" entre
árabes.[142]
Momentos após o atentado a bomba no ônibus da Rua Dizengoff em Tel Aviv, ocorrido em
1994.
Em fevereiro de 1994, Baruch Goldstein, um colonizador judeu vestido com uniforme militar,
assassinou 29 muçulmanos durante as orações na Mesquita de Ibrahimi em Hebron, na
Cisjordânia, durante o mês do Ramadã. Outros 19 palestinos foram mortos pelas forças
israelenses nos tumultos que se seguiram.[9] O primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin
condenou o massacre, mas temendo um confronto com a violenta comunidade de colonos
em Hebron, ele se recusou a retirá-los.[128] O Hamas jurou vingar as mortes e anunciou
que, se Israel não fizesse distinção entre "combatentes e civis", seria "forçado... a tratar os
sionistas da mesma maneira. Tratar igual com igual é um princípio universal".[146]
De acordo com Matti Steinberg, ex-conselheiro do Shin Bet e um dos principais especialistas
de Israel sobre o Hamas, o massacre encerrou um debate interno dentro do Hamas sobre a
utilidade da violência indiscriminada: "Nos escritos do Hamas, há uma proibição explícita
contra causar danos indiscriminados a pessoas indefesas. O massacre na mesquita os
libertou dessa proibição e introduziu uma dimensão de medida por medida, baseada em
citações do Alcorão."[128]
Embora os ataques suicidas das Brigadas al-Qassam e de outros grupos tenham violado os
acordos de Oslo de 1993 (que o Hamas se opunha),[156] Arafat relutava em perseguir os
agressores e talvez não tivesse meios adequados para fazê-lo.
Enquanto os palestinos estavam acostumados à ideia de que seus jovens estavam
dispostos a morrer pela luta, a ideia de que eles se explodiriam com explosivos amarrados
aos corpos era um desenvolvimento novo e pouco apoiado. Uma pesquisa realizada em
1996, após a onda de atentados suicidas realizados pelo Hamas em retaliação ao
assassinato de Ayyash por Israel, mostrou que a maioria, 70%, era contra essa tática, e 59%
pediam que Arafat tomasse medidas para evitar mais ataques. No cenário político, o Hamas
continuava muito atrás de seu rival Fatah; 41% confiavam em Arafat em 1996, mas apenas
3% confiavam em Yassin.[153]
Em 1999, o Hamas foi banido na Jordânia, supostamente em parte a pedido dos Estados
Unidos, Israel e da Autoridade Palestina.[157] O Rei Abdullah da Jordânia temia que as
atividades do Hamas e de seus aliados jordanianos colocassem em risco as negociações de
paz entre a Autoridade Palestina e Israel, e acusou o Hamas de envolver-se em atividades
ilegítimas dentro da Jordânia.[158] Em meados de setembro de 1999, as autoridades
prenderam os líderes do Hamas, Khaled Mashal e Ibrahim Ghosheh, quando retornaram de
uma visita ao Irã, acusando-os de serem membros de uma organização ilegal, armazenar
armas, conduzir exercícios militares e usar a Jordânia como base de treinamento.[158][159]
Os líderes do Hamas negaram as acusações.[160] Mashal foi exilado e momentaneamente
se estabeleceu em Damasco, na Síria, em 2001.[161] Como resultado da guerra civil na
Síria, ele se distanciou do regime de Bashar al-Assad em 2012 e mudou-se para o
Catar.[161]
Segunda Intifada
Durante a Segunda Intifada, também conhecida como Al-Aqsa, ao contrário do levante
anterior, começou de forma violenta, com manifestações em massa e táticas letais de
contra-insurgência por parte de Israel. Antes dos incidentes em torno da visita de Ariel
Sharon ao Monte do Templo, o apoio palestino à violência contra os israelenses e ao Hamas
era de 52% e 10%, respectivamente. Em julho do ano seguinte, após quase um ano de
conflito intenso, pesquisas indicaram que 86% dos palestinos endossavam a violência contra
os israelenses, e o apoio ao Hamas havia aumentado para 17%.[162]
As Brigadas al-Qassam foram um dos muitos grupos militantes que realizaram ataques
militares e atentados suicidas contra alvos civis e militares israelenses durante esse período.
Nos anos seguintes, quase 5 000 palestinos e mais de 1 100 israelenses foram mortos.[163]
Embora tenha havido um grande número de ataques palestinos contra israelenses, a forma
mais eficaz de violência dos palestinos foram os ataques suicidas; nos primeiros cinco anos
da intifada, um pouco mais da metade de todas as mortes israelenses foram vítimas de
ataques suicidas. O Hamas foi responsável por cerca de 40% dos 135 ataques suicidas
nesse período.[164]
A eleição ocorreu pouco depois de Israel ter evacuado seus assentamentos em Gaza.[174]
A evacuação, realizada sem consultar o Fatah, deu respaldo à visão do Hamas de que a
resistência havia compelido Israel a deixar Gaza.[175] Em um comunicado, o Hamas
retratou isso como uma validação de sua estratégia de resistência armada ("Quatro anos de
resistência superaram 10 anos de negociações") e Muhammed Deif atribuiu "a Libertação de
Gaza" ao "amor ao martírio" de seus militantes.[176]
O Hamas, desejando exibir seu poder por meio de um plebiscito em vez de violência,
anunciou que se absteria de ataques contra Israel se este também cessasse seus ataques
contra cidades e vilarejos palestinos.[177] Seu manifesto eleitoral abandonou a agenda
islâmica, falava de soberania para os territórios palestinos, incluindo Jerusalém (um endosso
implícito à solução de dois estados), sem abrir mão de suas reivindicações sobre toda a
Palestina. Mencionava a "resistência armada" duas vezes e afirmava no artigo 3.6 que era
um direito resistir ao "terrorismo da ocupação".[172] Um cristão palestino estava na lista de
candidatos do Hamas.[178]
O Hamas assumiu a administração da Faixa de Gaza após sua vitória eleitoral e introduziu
mudanças radicais. Herdou uma situação caótica de falta de lei, devido às sanções
econômicas impostas por Israel e pelos Estados Unidos, que haviam prejudicado os
recursos administrativos da Autoridade Palestina. Isso levou ao surgimento de numerosas
gangues estilo máfia e células terroristas modeladas segundo a Al Qaeda.[181] Daniel
Byman, escrevendo na Foreign Affairs, posteriormente afirmou:
No início de fevereiro de 2006, o Hamas ofereceu a Israel uma trégua de dez anos "em troca
de uma retirada completa de Israel dos territórios palestinos ocupados: a Cisjordânia, a
Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental",[184] e o reconhecimento dos direitos palestinos,
incluindo o "direito de retorno".[185] Mashal acrescentou que o Hamas não estava pedindo
um fim definitivo às operações armadas contra Israel, e não impediria outros grupos
palestinos de realizar tais operações.[186]
Após a eleição, o Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, Rússia, União Europeia e
Nações Unidas) afirmou que a assistência à Autoridade Palestina só continuaria se o Hamas
renunciasse à violência, reconhecesse Israel e aceitasse os acordos israelense-palestinos
anteriores, o que o Hamas se recusou a fazer.[187] O Quarteto então impôs um
congelamento em toda ajuda internacional aos territórios palestinos.[188] Em 2006, após a
eleição em Gaza, o líder do Hamas enviou uma carta endereçada a George W. Bush, na
qual, entre outras coisas, declarava que o Hamas aceitaria um estado nas fronteiras de
1967, incluindo uma trégua. No entanto, a administração Bush não respondeu.[189]
Conflito Hamas-Fatah
Em 25 de junho, dois soldados israelenses foram mortos e outro, Gilad Shalit, foi capturado
após uma incursão das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, dos Comitês de Resistência Popular
e do Exército do Islã. Em resposta, o exército israelense lançou a Operação Chuvas de
Verão três dias depois, para garantir a libertação do soldado sequestrado,[197][198]
prendendo 64 autoridades do Hamas, incluindo 8 ministros do gabinete da Autoridade
Palestina e até 20 membros do Conselho Legislativo Palestino.[198] As prisões, juntamente
com outros eventos, efetivamente impediram o funcionamento do legislativo dominado pelo
Hamas durante a maior parte de seu mandato.[199][200] Shalit foi mantido em cativeiro até
2011, quando foi libertado em troca de 1.027 prisioneiros palestinos.[201] Desde então, o
Hamas continuou construindo uma rede de túneis internos e transfronteiriços, que são
usados para armazenar e implantar armas, proteger militantes e facilitar ataques.[202]
Destruir os túneis foi um dos principais objetivos das forças israelenses no conflito
Israel-Gaza de 2014.[203][204]
A Human Rights Watch estima que várias centenas de habitantes de Gaza foram "aleijados"
e torturados nos desdobramentos da Guerra de Gaza. 73 homens de Gaza acusados de
"colaboração" tiveram seus braços e pernas quebrados por "perpetradores não
identificados", e 18 palestinos acusados de colaborar com Israel, que escaparam do
principal complexo prisional de Gaza após um bombardeio de Israel, foram executados por
autoridades de segurança do Hamas nos primeiros dias do conflito.[213][214] As forças de
segurança do Hamas atacaram centenas de funcionários do Fatah que apoiavam Israel. A
Human Rights Watch entrevistou uma dessas pessoas:
"Havia oito de nós sentados lá. Todos éramos do Fatah. Então, três militantes mascarados
entraram. Eles estavam vestidos com uniformes militares de camuflagem marrom; todos
estavam armados. Eles apontaram suas armas para nós, nos insultaram e começaram a nos
bater com barras de ferro, incluindo um menino de 10 anos que foi atingido no rosto. Eles
disseram que éramos 'colaboradores' e 'infiéis'. Eles me bateram com barras de ferro e
coronhas de armas por 15 minutos. Eles gritavam: 'Você está feliz que Israel está nos
bombardeando!' até que as pessoas saíram de suas casas, e eles se retiraram."[213]
Em março de 2012, Mahmoud Abbas afirmou que não havia diferenças políticas entre o
Hamas e o Fatah, pois haviam chegado a um acordo sobre uma plataforma política conjunta
e sobre uma trégua com Israel. Comentando sobre as relações com o Hamas, Abbas
revelou em uma entrevista à Al Jazeera que "acordamos que o período de calma seria não
apenas na Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia", acrescentando que "também
concordamos com uma resistência popular pacífica [contra Israel], o estabelecimento de um
estado palestino ao longo das fronteiras de 1967 e que as negociações de paz continuariam
se Israel interrompesse a construção de assentamentos e aceitasse nossas
condições".[214][215] O progresso das negociações entre os dois grupos foi interrompido
até um novo acordo em abril de 2014 para formar um governo de unidade, com eleições a
serem realizadas no final de 2014.[216] Essas eleições não ocorreram e, após um novo
acordo, foi acertado que a próxima eleição geral palestina ocorreria até o final de março de
2021, mas também não aconteceu.[217]
Após o início da Guerra Civil Síria em 2011, o Hamas se distanciou do regime do governo
sírio e seus membros começaram a deixar o país. Onde antes havia "centenas de
funcionários palestinos exilados com seus parentes", esse número diminuiu para "algumas
dezenas".[252] Em 2012, o Hamas anunciou publicamente seu apoio à oposição síria. Isso
levou a televisão estatal síria a fazer uma "feroz crítica" à liderança do Hamas.[253] Khaled
Mashal afirmou que o Hamas foi "forçado a sair" de Damasco devido às suas discordâncias
com o regime sírio.[254] No final de outubro, soldados do Exército sírio mataram dois líderes
do Hamas no campo de refugiados de Daraa.[255] Em 5 de novembro de 2012, as forças de
segurança sírias fecharam todos os escritórios do Hamas no país.[256] Em janeiro de 2013,
mais dois membros do Hamas foram encontrados mortos no campo de Husseinieh, na Síria.
Ativistas afirmaram que os dois foram presos e executados pelas forças de segurança do
estado.[257] Em 2013, foi relatado que a ala militar do Hamas começou a treinar unidades
do Exército Livre da Síria.[258] Nesse mesmo ano, após "algumas semanas intensas de
diplomacia indireta envolvendo representantes do Hamas, Israel e da Autoridade Palestina",
nenhum acordo foi alcançado.[259] Além disso, as negociações de reconciliação
intra-palestinas estagnaram e, como resultado, durante a visita de Obama a Israel,[259] o
Hamas lançou cinco ataques de foguetes contra Israel. Em novembro, Isra Almodallal foi
nomeada a primeira porta-voz do grupo.[260]
Vítimas civis em Gaza durante a guerra entre Israel e o Hamas, iniciada pelo ataque do
Hamas a Israel, em outubro de 2023.
Posições políticas
A Carta do Hamas de 1988
Em agosto de 1988, o Hamas publicou sua Carta de fundação, na qual se define como um
capítulo da Irmandade Muçulmana e expressou o desejo de estabelecer "um estado islâmico
em toda a Palestina".[104] Segundo o acadêmico palestino Khaled Hroub, o documento de
fundação foi escrito por um único indivíduo e divulgado sem passar pelo habitual processo
de consulta prévia, tendo sido assinado no dia 18 de agosto de 1988.[274] A Carta contém
trechos antissemitas, descrevendo a sociedade israelense como sendo tão cruel quanto os
nazistas,[275] e reivindicações irredentistas.[276][277][278] Declara toda a Palestina como
waqf, uma propriedade religiosa inalienável composta por terras concedidas aos
muçulmanos em perpetuidade por Deus,[279][280][281] com coexistência religiosa mas sob
o domínio do Islã.[282] A Carta rejeita uma solução de dois estados, afirmando que o conflito
não pode ser resolvido "senão por meio de uma jihad".[283]
O Artigo 6 da Carta afirma que o movimento "luta para erguer a bandeira de Alá em cada
centímetro da Palestina, pois, sob a proteção do Islã, seguidores de todas as religiões
podem coexistir em segurança, tendo suas vidas, bens e direitos protegidos".[81][284] E, no
artigo 15,[81] acrescenta: "No dia em que os inimigos usurparem parte da terra muçulmana,
a Jihad tornar-se-á o dever individual de cada muçulmano", lembrando que, segundo o
Hamas, toda a terra palestina é um waqf e, portanto, inegociável.[285] Tal afirmação da
Carta do Hamas de 1988 é semelhante, embora sem os sentimentos antijudaicos presentes,
ao que está expresso no programa do partido israelense Likud e em movimentos
ultranacionalistas judeus como o Gush Emunim. Para o Hamas, ceder território waqf é
equivalente a renunciar ao Islã em si.[286][287][288]
Em uma entrevista de 2006, Ismail Haniyeh, líder político sênior do Hamas e na época
primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina, aceitou um estado palestino "dentro das
fronteiras de 1967, vivendo em calma".[298] Em maio de 2010, Khaled Mashal, então
presidente do Bureau Político do Hamas, afirmou que o estado de Israel vivendo ao lado de
"um estado palestino nas fronteiras de 1967" seria aceitável para o Hamas. Em novembro
de 2010, Ismail Haniyeh[299] também propôs um estado palestino nas fronteiras de 1967,
mas acrescentou mais três condições: "resolução da questão dos refugiados", "liberação de
prisioneiros palestinos" e "Jerusalém como sua capital". Tanto Mashal quanto Haniyeh
naquele ano também expressaram reservas quanto a um "referendo" no qual "o povo
palestino" decidiria se, em tal situação de dois estados, esses dois estados ainda deveriam
ser fundidos em um.[300][301]
Na Carta de 1988, os objetivos declarados do Hamas eram travar uma luta armada contra
Israel,[292] libertar a Palestina da ocupação israelense e transformar o país em um estado
islâmico.[8]
"Eu posso reconhecer a presença de Israel como um fait accompli (amr wâqi‘) ou, como os
franceses dizem, um fato consumado, mas isso não significa que eu reconheça Israel como
um estado"[304]
Marzouk acrescentou ainda que a Carta não poderia ser alterada porque pareceria uma
concessão não aceitável para "as ruas" e haveria o risco de quebra da unidade do partido. O
líder do Hamas, Khaled Meshaal, afirmou que a Carta é "um pedaço da história e não é mais
relevante, mas não pode ser alterada por razões internas". Ahmed Yousef, conselheiro
sênior de Ismail Haniyeh, declarou, em 2011, que a Carta refletia as opiniões dos Anciãos
diante de uma "ocupação implacável". Os detalhes de sua linguagem religiosa e política não
haviam sido examinados no âmbito do direito internacional, e uma revisão interna para
alterá-la foi adiada em virtude da preocupação de não fazer concessões a Israel, tal como o
Fatah fez, de bandeja.[305] Embora representantes do Hamas reconheçam o problema, um
deles observou que Arafat obteve muito pouco em troca de mudar a Carta da OLP sob os
Acordos de Oslo e há consenso de que pouco se ganha com uma abordagem não
violenta.[306] Richard Davis afirma que a rejeição de sua relevância por líderes
contemporâneos contrasta com a suspensão do desejo de reescrevê-lo, refletindo as
diferentes audiências que o Hamas deve atender: o público doméstico e as relações
internacionais.[305] A propria Carta é considerada uma "relíquia histórica".[307]
Em uma reunião de abril de 2008 entre o líder do Hamas, Khaled Mashal e o ex-presidente
dos EUA, Jimmy Carter, chegou-se a um entendimento no qual o Hamas concordou em
respeitar a criação de um estado palestino no território tomado por Israel na Guerra dos Seis
Dias de 1967, desde que isso fosse ratificado pelo povo palestino em um referendo.[308] Em
2009, em uma carta ao Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, Haniyeh repetiu o apoio de
seu grupo a um acordo de dois estados com base nas fronteiras de 1967: "Nunca
impediríamos esforços para criar um estado palestino independente com fronteiras de 4 de
junho de 1967, com Jerusalém como sua capital."[309] Em 1º de dezembro de 2010, Ismail
Haniyeh repetiu novamente: "Aceitamos um estado palestino nas fronteiras de 1967, com
Jerusalém como sua capital, a libertação de prisioneiros palestinos e a resolução da questão
dos refugiados", e "o Hamas respeitará os resultados [de um referendo], independentemente
de diferir de sua ideologia e princípios."[310]
Em novembro de 2011, o líder do Hamas, Khaled Mishal, fez um acordo com Mahmoud
Abbas no Cairo, comprometendo-se a respeitar as fronteiras de 1967.[311]