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HERMENÊUTICA FILOSÓFICA E LINGUAGEM

GADAMER (1900-2002)
- Sua formação acadêmica inclui Filosofia e
Filologia.
- A originalidade de seu pensamento está no
desenvolvimento da Hermenêutica
Filosófica.
- Gadamer foi um intelectual bastante
longevo, que manteve-se intelectualmente
ativo até o final da sala vida.
- Por isso, encontramos obras que foram
publicadas já após o centésimo aniversário
do autor.
GADAMER É CONSIDERADO COMO PAI
DA
HERMENÊUTICA FILOSÓFICA
CONTEMPORÂNEA
O Acontecer Do Diálogo Hermenêutico
- Para Gadamer é preciso estabelecer uma relação entre diálogo e
tradução;
- O tradutor precisa colocar-se no lugar e contexto da escritura de
um texto para compreendê-la melhor;
- A questão do diálogo nos leva a pensar no processo linguístico
(obs: quando não há linguagem falada, necessita haver outros
métodos de captação da linguagem, p. ex.: linguagem para
surdos-mudos, etc.);
- O diálogo não é objeto único/específico, e sim um tema sobre o
qual se fala;
- Para existir um acordo num diálogo, precisa-se chegar numa
coincidência;
- O objeto da hermenêutica constitui-se de todas as coisas sobre as
quais é possível falar, todas as coisas que podem tornar-se
linguagem;
O Acontecer Do Diálogo Hermenêutico
- O mais importante no diálogo é o outro;
- O diálogo caracteriza-se pela impossibilidade de determinação
final;
- Há reciprocidade nas relações, não autoridade;
- É necessário acolher, porém sem se auto-anular;
- No diálogo há a necessidade da comunhão do saber;
- Faz- se necessário conhecer a pergunta e a resposta que o texto
expressa;
- Para compreender-se no mundo é necessário compreender o
outro;
- A propriedade da relação com o outro significa muito mais que
falar com o outro, trata-se antes da centralidade do outro no
processo de conhecer e de pensar;
- Características do diálogo: transcendência, incondicionalidade
e simultaneidade.
Em 1960 publica Werheit und Methode
(Verdade e Método).

Hermenêutica: originalmente está


ligada à interpretação de textos e a
uma teoria geral da compreensão.

Na tradição, a hermenêutica foi


apresentada como método das
ciências humanas e sociais.

Gadamer, porém, desenvolve a


hermenêutica filosófica numa outra
perspectiva que não será mais
metodológica.
Nós, todos interpretamos quando ouvimos um
discurso ou lemos uma página de um livro. E então o que
significa interpretar um texto? E quando podemos estar
tranquilos sobre a adequação de uma interpretação nossa?

As perguntas desse tipo respondem a teoria da


hermeneutica ou da interpretação, cuja teoria encontra, em
nossos dias, seu texto classico em Verdade e Método.
E se também esta segunda interpretação resultar
inadequada, experimentar-se-á uma terceira. E assim por
diante, teoricamente ao infinito, ainda que de fato nos
detenhamos naquela interpretação que, vez por outra, nos
aparecerá como satisfatória.

É este, em poucas palavras, o círculo hermenêutico, o


movimento do "compreender", o procedimento de qualquer
atividade interpretativa nossa.
O produto não é o produtor. E o autor de um texto é um
elemento ocasional. Com efeito, depois de vindo ao mundo,
um texto vive uma vida autônoma: produz seus efeitos.
Assim, por exemplo, de uma teoria científica, com o tempo,
se verão consequências, erros, aplicações,
desenvolvimentos, interpretações.

É claro que a história dos efeitos de um texto


determina sempre mais plenamente seu significado. Disso
resulta que quem interpreta um texto a distância temporal
do nascimento do texto tem possibilidades maiores de
compreender mais plenamente seu sentido.
A interpretação como tarefa possível, mas infinita
O intéprete não é uma tabula rasa. Ele se aproxima do
texto com sua Vor-verständnis, isto é, com a sua
pré-compreensão, vale dizer, com os seus pré-juízos ou
Vor-urteile.
Cada interpretação se efetua à luz do que se sabe; e o
que se sabe muda; no curso da história humana, mudam as
perspectivas (ou conjecturas ou pré-juízos) com que se olha
um texto, cresce o saber sobre o "contexto" e aumenta o
conhecimento sobre o homem, a natureza e a linguagem.
A interpretação como tarefa possível, mas infinita
Nós interpretarnos um texto à luz de nossos
préconceitos; e se uma lnterpretação nossa se choca contra
o texto, devemos procurar substuí-la por outra
imterpretação, mais adequada. A tarefa hermenêutica é
tarefa possível e infinita.
Infinita, pelo fato que uma interpretação que parecia
adequada pode ser demonstrada incorreta, e porque são
sempre possíveis novas e melhores interpretações.

Possíveis porque, a cada vez, conforme a troca


histórica em que vive o intérprete e com base no que ele
sabe, não se excluem interpretações que, precisamente
para aquela época e para o que na troca se sabe, são
melhores ou mais adequadas do que outras.
CÍRCULO HERMENÊUTICO
A alteridade do texto
Na realização e na progressiva elaboração do
projeto inicial emerge a alteridade do texto.

Não descobrimos o que o texto diz e chegamos a


descobrir sua diversidade da nossa mentalidade, ou
talvez a distância da nossa cultura, apenas partindo
daquelas "atribuições de sentido" que construímos a
partir de nossa pré-compreensão e que corrigimos e
descartamos sob a pressão do texto.
Por isso, escreve Gadamer:
"quem quiser compreender um texto deve estar pronto a
deixar que o texto lhe diga alguma coisa. Por isso, uma
consciência educada hermeneuticamente deve ser
preliminarmente sensivel alteridade do texto. Tal
sensibilidade não pressupõe uma 'neutralidade' objetiva
nem um esquecimento de si mesmo, mas implica uma
precisa tomada de consciência das próprias
pressuposições e dos próprios préconceitos".
Substancialmente, as pressuposições ou préconceitos
do intérprete não devem amordaçar o texto: não devem
silenciá-lo. O intérprete deve ser sensível à alteridade do
texto: o texto não é pretexto para que só o intérprete fale.

O intérprete deve falar para escutar o texto, ou seja,


deve propor um "sentido" após o outro, um "sentido"
melhor e mais adequado do que o outro, para que o texto
apareça sempre mais, em sua alteridade, como aquilo que
realmente é.
Enfrentamos um texto com o conjunto de expectativas ou
pré-conceitos (Vor-urteile) que constituem nossa Vor-verstandnis
ou pré-compreensão.
E é em base a esta pré-compreensão nossa que damos uma
primeira interpretação do texto; tal primeira interpretação do texto
não é mais que conjectura nossa sobre a mensagem ou conteúdo
do texto, sobre aquilo que o texto diz; e o intérprete põe esta sua
interpretação ao crivo sobre o texto e sobre o contexto (o
contexto é qualquer informação importante, apta a confirmar ou a
enfraquecer a interpretação proposta), e se esse controle mostra e
sobre que há um choque entre nossa interpretação e algum trecho
do texto ou do contexto, então devemos propor um esboço
posterior de sentido, outra interpretação a ser submetida, por sua
vez, ao crivo do texto e do contexto.
Jogo
O conceito hermenêutico de jogo reúne o que é
comum tanto a jogos de tabuleiro, jogos esportivos em
equipes, jogos lúdicos de crianças e até mesmo jogos
que um só indivíduo executa. Do mesmo modo, o
conceito abarca o que é comum tanto a jogos
competitivos, quanto a jogos não competitivos.

O conceito de jogo renuncia à concepção moderna


de sujeito e consciência. “O verdadeiro sujeito do jogo
não é o jogador mas o próprio jogo”.

Assim é com a linguagem: o sujeito de uma


conversação não é cada um dos que dela participa, mas
é o próprio diálogo instituído.
Linguagem e hermenêutica filosófica
Na hermenêutica filosófica perdem importância as
técnicas de domínio formal da linguagem. Também não
será determinante a busca de significados universais na
linguagem.

A estrutura de jogo nos remete à linguagem da


conversação, que toma sentido na história e no contexto
em que se efetiva. Importa, portanto, a linguagem como
acontecimento histórico, como existência temporal.

Não há significados definitivos que possam uma vez


serem apreendidos na consciência e assim serem
universalmente validados. Todo conteúdo da linguagem
toma forma na relação intersubjetiva daqueles que
participam do jogo linguístico.
A dimensão ontológica da compreensão
- Ontologia: refere-se ao Ser.
- Na hermenêutica, a partir da influência de
Heidegger, ontologia diz respeito ao que toma
sentido a partir da linguagem.
- O Ser é o que toma sentido, faz-se realidade e cria
mundo a partir da linguagem. Escreve Gadamer:
“O Ser que pode ser compreendido é linguagem”.
- A compreensão não tem significados fixos e não
indica dados objetivos.
- Por isso, a compreensão não resulta de métodos e
técnicas que garantam resultados, mas ela é
apenas uma possibilidade – não uma necessidade
– que se efetiva nos contextos intersubjetivos da
linguagem.
Sobre Gadamer e Wittgenstein
Gadamer e Wittgenstein afastam-se das teorias da
consciência e refutam a concepção moderna de
subjetividade.

Para ambos a linguagem cria sentidos no seu próprio


acontecimento linguístico. O foco não é mais o
sujeito, mas sim a relação (intersubjetividade).

Não é cada consciência que determina um conteúdo


como verdadeiro, assim como também não há uma
universalidade em si, mas são os contextos
linguísticos que possibilitam a construção de algo
como verdadeiro.
Esse deslocamento da consciência para a
linguagem, da subjetividade para a
intersubjetividade, é muito importante para
compreendermos os desafios contemporâneos
das ciências, da política, da educação e dos
fenômenos sociais em geral.
BOA SEMANA DE ESTUDOS!

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