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A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO E A POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAÇÃO DE

CRIANÇAS AUTISTAS

Valéria Cristina Soares Moreira1


Orientadoras: MSc. Vera Lúcia Catoto Dias2
1
Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, Faculdade de Educação e Arte, FEA
Rua: Tertuliano Delphin Jr., 181, Campus Aquarius, CEP 12246 -140 - São José dos Campos, SP.
2
Universidade do Vale do Paraíba, UNIVAP, Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, IP&D
Núcleo de Pesquisa Formação de Educadores, NUPEFE
Avenida: Shishima Hifumi, 2911, Campus Urbanova, CEP 12244 000, São José dos Campos, SP

carlitosvaleria@click21.com.br;vcatoto@univap.br

1
Resumo- O presente artigo propõe refletir, discutir a inclusão de crianças com deficiências na área
educacional, bem como a possibilidade de alfabetização de indivíduos autistas, alertando profissionais
sobre a importância de práticas flexíveis e diferenciadas no desenvolvimento e aprendizagem dessas
crianças, oferecendo diferentes materiais e alternativas buscando atingir um mesmo objetivo: a
alfabetização. Sabendo que a inclusão é um direito e representa um ganho tanto para aqueles que têm
dificuldades como para os alunos que não apresentam dificuldade, proporcionando, por meio da diversidade
a aprendizagem. Este artigo foi desenvolvido partindo de estudos teóricos e pesquisas realizadas por C.
Willians e B. Wright (2008), V. Juhlin (2002). Além de textos de outros autores que contribuem para a
reflexão do tema.

Palavras-chave: Inclusão, Alfabetização, Educação Especial, Capacitação do educador.


Área do Conhecimento: Ciências Humanas/Educação

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Documento Referência CONAE 2010, Art. 280 inciso 2, línea a.

Introdução garantido pela Lei nº. 7.853/89 que define como


crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou
A inserção de crianças com deficiências extinguir a matricula de qualquer indivíduo em
educacionais em sala de aula regular esta cada decorrência de deficiência, em qualquer curso ou
vez mais constante no cotidiano escolar. Porém, nível de ensino, seja ele público ou privado.
apenas a presença do aluno não é suficiente para Destaca-se neste artigo o Autismo – Distúrbio
a garantia de seu aprendizado, as dificuldades vão do Espectro do Autismo – que segundo C. Willians
além do diagnóstico do aluno. Hoje, nos e B. Wright (2008), autores do livro Convivendo
deparamos com o despreparo do profissional da com Autismo e Síndrome de Asperger: Estratégias
educação, que quando se vê frente a esta Práticas para Pais e Profissionais, o autismo
situação, não sabe o que fazer para que seu aluno causa atraso no desenvolvimento da criança e
aprenda. Muitos acabam deixando o aluno compromete a comunicação, a linguagem,
especial de lado, subestimando suas capacidades, interação social, imaginação e o comportamento.
com pré-conceitos de que seu aluno não Segundo os autores são imprescindíveis
conseguirá se alfabetizar. O que motiva a tratamentos adequados que contribuem nos
elaboração deste artigo é o fato de que existem progressos no desenvolvimento, destacam ainda
pesquisas de que é possível uma criança autista, que muito possa ser feito para ajudá-la, em
se alfabetizar e conquistar muitos progressos em diversos aspectos de sua vida.
seu desenvolvimento. A edição especial da A possibilidade de alfabetização representa
Revista Nova Escola de outubro de 2006, uma enorme conquista na vida de qualquer ser
apresenta diversos textos informativos quanto humano, e muito mais para a criança com
aspectos pedagógicos, que auxiliam professores a diagnóstico autista e sua família. Segundo V.
atender diversos tipos de dificuldades; apresenta Juhlin (2002), em seu livro O desenvolvimento da
também trechos da lei em que declara a inclusão leitura e escrita de crianças com necessidades
de crianças com necessidades educacionais especiais, ressalta que a crianças que apresentam
especiais no ensino regular sendo um direito distúrbios de comportamento, passam pelas

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mesmas fases da leitura e da escrita pesquisadas reconhecimento denota o progresso da linguagem
por Ferreiro e Teberosky (1999). A autora afirma oral (comunicação).
que a aprendizagem de crianças autistas demora Nas atividades escolares demonstrou facilidade
um tempo maior e exige muito esforço do quando oferecido apoio pedagógico, que
profissional. Em geral essas crianças têm uma contribuíram para auxiliar sua compreensão; por
percepção diferente de mundo, têm dificuldade em exemplo: foi aplicada uma atividade em que a
compreender regras em grupo; portanto a criança deveria contar quantas flores tem em um
aprendizagem individual e direta a ela será mais determinado vaso e escrever o número em um
produtiva. Dentre as orientações propostas por espaço abaixo. Para a realização desta tarefa
Juhlin (2008) encontram-se os recursos visuais, foram utilizados os seguintes recursos: primeiro a
pois a utilização de materiais concretos facilita o educadora preparou o ambiente (a mesa) com o
entendimento do indivíduo autista, uma vez que mínimo de objetos possíveis, para que a criança
ela enfrenta dificuldade de trabalhar com situações não se distraísse com nada e concentrasse sua
abstratas. atenção somente na atividade. Sabendo-se que é
O presente artigo tem como objetivo a reflexão difícil a criança trabalhar com abstratos, foi
sobre a importância da educação inclusiva, oferecido como apoio material concreto, como:
ressaltando a necessidade da utilização de números já recortados e objetos para contagem. A
práticas flexíveis e recursos didáticos alternativos educadora direcionou a criança nesta atividade e
que possibilitem um aprendizado significativo para contou os números junto com a ela, em seguida,
crianças com deficiências (autistas). solicitou à criança que pegasse o número
correspondente e colasse. Como resultado a
Metodologia criança obteve uma excelente compreensão, pois
observou a professora contando os números e em
A pesquisa foi realizada por meio de seguida quando solicitado que pegasse
observações de uma criança autista com a idade determinado numeral ela observava e pegava o
de cinco anos, em uma escola particular de número correspondente, colando-os na tarefa
educação infantil e fundamental de São José dos corretamente.
Campos, durante o segundo semestre de 2008, Em outra atividade foi apresentado ao aluno
tendo como foco seu desenvolvimento, aquisição um cartão com seu nome, uma folha de sulfite e
da linguagem, e seu processo de alfabetização. letras correspondentes ao seu nome, o aluno
Foram utilizados como recursos pedagógicos: sentou-se, observou seu nome no cartão e colou
livros de literatura infantil, contendo várias as letras do seu nome na folha de sulfite que
ilustrações e frases; números e letras estava em branco. Foi observado que o aluno
confeccionados em EVA; jornais de propagandas procurou colar as letras seguindo uma linha
com logotipos; cartão com seu nome; e outros uniforme e horizontal; trocou a ordem de apenas
tipos de textos e ilustrações. Aos poucos, e em duas letras de seu nome, considerando que seu
dias alternados foram apresentados à criança os nome é composto por seis letras, tendo a noção
materiais e atividades; e por meio de observações de que as letras precisavam estar juntas e
foi realizado registros de seu comportamento e seguindo uma linha para formar seu nome.
atitudes diante das solicitações.
Discussão
Resultados
Concorda-se com Juhlin (2002) ao sinalizar que
Por meio de observações e coleta de dados, foi o ato de ler compreende desde quando a criança
constatado que quando apresentado livros, a forma concepções a respeito da leitura e da
criança demonstrou grande interesse, folheando- escrita, percebe a relação existente entre a fala e
os constantemente. Reconheceu números simples a escrita, reconhecendo seu nome, nome dos
(0 a 12). Quando apresentado um cartão com seu amigos da sala, palavras de propaganda, incluindo
nome, reconheceu imediatamente, pegando o logotipos. O ato de escrever segue desde rabiscos
cartão e apontando com o dedinho. Da mesma até a escrita de pequenos textos.
forma, quando apresentado a ele alguns logotipos, Por meio da pesquisa e das bases teóricas
imediatamente reconheceu-os e falou a seu modo, científicas apresentadas neste artigo, foi
o que significava; por exemplo: logotipo das observado que quanto mais apoiada for à criança
“Casas Bahia” apontava com seu dedinho e por parte de profissionais comprometidos com seu
olhava para a pessoa que estava próxima dizendo desenvolvimento, maior chance terá em sucesso
“aía”. Logotipo do Banco Itaú, a criança olhava e na aprendizagem. Fica evidente a possibilidade de
falava “aú”, e outros diversos símbolos. Percebe- desenvolvimento da criança, sujeito deste estudo
se que já é um tipo de leitura, o fato de reconhecer de caso, com expectativas otimistas para construir
logotipos e números e expressar oralmente esse a alfabetização, respeitando seu ritmo de

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assimilação e aprendizagem que varia de criança criança tem sua individualidade e necessidade,
para criança. muito diferente uma das outras. No desempenho
Frente a algumas atividades a criança com da profissão docente estão presentes a
deficiências educacionais, no caso o autismo, identificação das dificuldades no processo ensino
certamente apresentará dificuldades em imaginar e aprendizagem, assim como o desenvolvimento
e compreender o que está sendo solicitado na de proposta para promover a aprendizagem de
tarefa, devido à característica de seu distúrbio. sucesso dos alunos. Tendo sempre presente que
Porém, o profissional da educação poderá utilizar cada indivíduo é único e considerando que
recursos de apoio e estratégias que auxiliam a poderão levar um tempo maior para aprender.
compreensão do aluno. Sobre isso Juhlin (2002) afirma que a criança
A inclusão representa ganho para todos, tanto autista aprende, porém exige esforço do educador
para aqueles que apresentam dificuldades como e seu aprendizado será mais produtivo quando
aqueles que não apresentam. A diversidade em realizado de maneira direta, professor – aluno,
sala de aula pode servir de aprendizado podendo utilizar recursos visuais, gravuras,
significativo para toda a vida, pois a convivência ilustrações, que facilita a compreensão do aluno e
com crianças com dificuldades despertará nos estimula a linguagem.
demais alunos a consciência de que somos Conforme afirmam C. Willians e B. Wright
diferentes e que cada um tem uma maneira de (2008), autores do livro Convivendo com autismo e
aprender. Por outro lado para essas crianças Síndrome de Asperger, todas as crianças com
conviver em ambiente regular de ensino, autismo demonstram progressos e muito pode ser
proporciona a elas um estímulo para que feito para ajudar essas crianças e familiares. Seja
acompanhem o ritmo dos outros, seja imitando por meio de terapias, estímulos para
seus gestos, fala, atitudes, deixando de lado desenvolvimento de aptidões sociais, incentivos
certas estereotipias, ou a condenação de ter que na linguagem e comunicação. Interessante
conviver apenas com quem tem dificuldades, ressaltar a importância que os autores destacam
como era o caso das classes especiais. na aquisição de conhecimento e informação
Faz parte do debate sobre o desenvolvimento e daquelas pessoas que estão próximas no dia a dia
aprendizagem de crianças autistas a interação do indivíduo autista. As pessoas precisam se
entre a família, escola, terapeutas e médico. O aproximar do tema, estudar, adquirir subsídios
indivíduo conseguirá superar as dificuldades para que estejam preparados para ajudar essas
desde que a equipe de profissionais possa crianças. Criando estratégias e medidas
programar ações conjuntas, com sinergia e preventivas que possibilitam a melhora do
trocando informações. comportamento, da interação social, e
A matrícula e inclusão de crianças com aprendizagem como um todo.
deficiência é orientação presente e garantida no
texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Conclusão
Nacional, LDBEN, nº 9394/96, entretanto muitas
instituições educacionais dificultam o cumprimento Por meio dos resultados obtidos, das
da Lei, alegando comprometimento no espaço observações realizadas, conclui-se que cada
físico inadequado e/ou ausência de recursos criança tem um ritmo de aprendizagem, e mesmo
humanos e profissionais capacitados no apresentando dificuldades na aprendizagem são
atendimento desses alunos. É fato que apenas capazes de aprender. Fica evidente a importância
incluir e cumprir uma determinação legal não é dos estímulos tanto no ambiente escolar como em
suficiente para as crianças, as necessidades vão casa com a família. A competência dos
além de garantia de espaços, e sim de profissionais especializados e o acompanhamento
proporcionar uma qualidade de ensino ao aluno; das terapias servem como apoio e orientação para
de profissionais que se interessem pelo desafio de a escola e a família.
ensinar e sejam formados para isso. A inclusão é A convivência do aluno com deficiência em
uma realidade que assusta muitos profissionais da escola regular representa um ganho para todos,
área educacional, por diversos motivos como: porém é torna-se essencial que professores se
preconceito, despreparo, insegurança, dificuldade apropriem de fundamentação teórica sólida para
de interação com esse aluno. Enfim muitos são os posterior transposição para prática pedagógica,
desafios a serem superados. pela interação teoria e prática para atender a
A tendência atual é de que temas relacionados necessidade de seus alunos.
à inclusão sejam contemplados pelos currículos A possibilidade de aprender a ler e escrever
para formação de professores, possibilitando ao representa uma conquista, e inserção social, A
aluno em formação um olhar sensível para cada utilização de recursos extras que facilitam a
aluno, percebendo-o com sujeito de possibilidades compreensão desses alunos, são ferramentas
com capacidades, sentimentos, valores. Cada importantíssimas que auxiliam, sendo fundamental

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aos atores envolvidos no processo: professores, a
família, e terapeutas trocarem informações,
buscando a melhor forma para promover a
aprendizagem do aluno.

Referências

- FERREIRO, E. & TEBEROSKY, Psicogênese da


Língua Escrita. Porto Alegre, Artmed,1999.

- JUHLIN, VERA. O desenvolvimento da leitura e


escrita de crianças com necessidade especial.
São José dos Campos. UNIVAP, 2002 Editora
Shemá Produções – Junho/ 2002.

- Williams, Chris e Wright, Barry. Convivendo com


Autismo e Síndrome de Asperger: Estratégias
Práticas para Pais e Profissionais, 2008 – São
Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda.

Revista Nova Escola , edicão especial, Outubro /


2006.

http://portal.mec.gov.br/conae/images/stories/pdf/d
oc_base_conae_revisado2.pdf

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