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A Revolução Francesa, de Albert


Soboul.
Prof. Richard Abreu

10–14 minutes

A Revolução Francesa, de Albert Soboul, publicado no Brasil


pela editora Difel, em 1976, como parte da coleção Saber Atual.
O autor traça um panorama completo da Revolução Francesa,
movimento revolucionário que selou o fim da feudalidade e
princípio de um nova era, com a difusão dos valores liberais
propagados pelo Iluminismo. Na introdução de seu livro, o
autor dispensa especial atenção às causas profundas que
levaram a França do século XVIII à revolução, estabelecendo
um elo entre diversas correntes historiográficas que trataram do
assunto. Aqui oferecemos um breve resumo da introdução do
livro de Soboul, certos de contribuir com a divulgação da obra,
tão fundamental para compreensão de um dos capítulos mais

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importantes da história da humanidade.

As causas e os caráteres da Revolução Francesa

Já na introdução de seu livro, Albert Soboul discorre sobre as


causas da Revolução Francesa. Salienta-nos, o autor, as
características que fizeram a revolução na França distinta das
demais revoluções burguesas que a antecederam. Ao ressaltar
a Revolução Francesa como propulsora do fim do feudalismo,
aponta as características peculiares que a distingue dos demais
movimentos revolucionários europeus daquela época:

Sua característica essencial é ter realizado a unidade nacional


do país por meio da destruição do regime senhorial e das
ordens feudais

(….)

O fato de ter chegado, finalmente, ao estabelecimento de uma


democracia liberal particulariza ainda a sua significação
histórica. Deste duplo ponto de vista, e sob o ângulo da história
mundial, ela merece ser considerada o modelo clássico da
revolução burguesa.

(SOBOUL, 1976, p. 7)

Cabe observar, que as condições que fomentaram as


revoluções burguesas em diversas partes da Europa, de certa
forma, foram as mesmas também na França: ascensão da
classe burguesa por meio da crescente força do capital. Porém,
especificidades no interior da sociedade francesa do Antigo
Regime, a particularizam em relação aos demais movimentos
europeus.

Sugestão: Compre o livro A Revolução Francesa, de Albert


Soboul, na Amazon.

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Assim, o autor analisa que mesmo as causas profundas da


revolução devem ser perquiridas não só “nas contradições da
antiga sociedade, obstáculo ao desenvolvimento dos novos
meios de produção e de troca” — sem dúvida, condicionantes
do movimento revolucionário francês, as “revoluções
neerlandesas, desde o fim do século XVI, e inglesa do século
XII, já o tinham demostrado” –, mas também “nos traços
específicos da sociedade francesa do Antigo Regime”.

As conjunturas e estruturas sociais da França

Em seguida, Albert Soboul passa a traçar um panorama das


estruturas e conjunturas sociais da sociedade francesa pré-
revolução, apontando o primeiro passo para a desestabilização
do Antigo Regime: as contradições internas de suas diversas
‘castas’, sobretudo, evidentes no segmento da nobreza. A
classe dos nobres era sobremaneira fragmentada. Embora
possuidora de privilégios, era o poder econômico que fazia-se
preponderante para os membros desta classe. Assim, em seu
seio, evidenciava-se diferenças profundas entre nobres ricos e
aqueles despossuídos de riqueza. A insatisfação destes últimos,
abriu espaço para uma crescente onda de descontentamento
contra a monarquia, surgindo, então, o germes da revolução
que a burguesia concretizaria. Na historiografia, sobretudo na
palavras de Georges Lefebvre, fala-se em “revolução
aristocrática”, termo que o Soboul refuta pela ambiguidade,
dada as reivindicações da nobreza em contraste com seu
genuíno interesse em manter para si os privilégios que a ordem
vigente garantia.

“Revolução aristocrática… o expressão parece ambígua. Se a


nobreza (e seus registros de queixas o ilustraram logo após)
admitia um regime constitucional e o voto do imposto pelos

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Estados gerais, exigia a entrega da administração aos Estados


provinciais eletivos (Estados gerais e Estados provinciais que
ela dominaria graças à manutenção de sua estrutura
aristocrática), se se mostrava ciosa de liberdade individual,
estava longe de admitir a igualdade fiscal, era unânime quanto
à conservação dos direitos senhoriais. Não pode subsistir
nenhuma dúvida: a aristocracia encetou a luta contra o
absolutismo para restabelecer a sua preponderância política e
salvaguardar privilégios sociais ultrapassados — luta que ala
prosseguiu logicamente até à contra-revolução.

(SOBOUL, 1976, p. 14)

A burguesia, por sua vez, longe de ser uma classe homogênea,


era formada por diversos estamentos da sociedade francesa.
Integrava o Terceiro Estado, que abrigava, além das diversas
camadas da classe burguesa, os despossuídos dos meios de
produção, incluindo-se, entre eles, o campesinato.

Que a burguesia tenha dirigido a Revolução, é hoje verdade


evidente. Deve-se constatar ainda que ela não constituía, na
sociedade do século XVIII, uma classe homogênea. Algumas
de suas frações estavam integradas nas estruturas do Antigo
Regime, participando em variados graus dos privilégios da
classe dominante: quer pela fortuna fundiária e pelos direitos
senhoriais, quer por pertencer ao aparelho estatal, quer pela
direção das formas tradicionais das finanças e da economia
(SOBOUL, 1976, p. 16).

Adiante, o autor aponta que todos os elementos do Terceiro


Estado foram envolvidos pela revolução, porém, muito menos
por uma questão de consciência de classe do que premidos
pelas circunstâncias. Falando das categorias populares da
sociedade francesa pré-revolução, Soboul assevera:

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O ódio à aristocracia, a oposição irredutível aos “grossos” e aos


ricos foram os fermentos de unidade das massas laboriosas.
Quando as más colheitas e a crise econômica que delas
resultava, as puseram em movimento, elas não se ordenaram
como classe distinta, mas como associadas aos artesanato,
atrás da burguesia: foi assim que se aplicaram à antiga
sociedade os golpes mais eficazes. Mas esta vitória das
massas populares não poderia ser senão “uma vitória
burguesa: a burguesia só aceitou a aliança popular contra a
aristocracia porque as massas a ela se subordinaram. Em caso
contrário, a burguesia teria verossimilmente renunciado, como
ocorreu no século XIX na Alemanha e, em menor escala, na
Itália, ao apoio de aliados julgados demasiado perigosos.

(SOBOUL, 1976, p. 20)

As questões econômicas

Para Soboul, em que pese as causas profundas da Revolução


Francesa, que situam-se no seio das estruturas sociais do
Antigo Regime, a Revolução, como estopim, nasceu de uma
crise econômica. O século XVIII atingiu o ápice de sua
prosperidade nos finais dos anos sessenta e começo dos anos
setenta. A partir de 1778 entrou em declínio e culminou em
profunda crise em 1887:

O Século XVIII foi bem um século de prosperidade; seu apogeu


econômico situa-se no fim dos anos Sessenta e no começo dos
anos Setenta: “O esplendor de Luís XV.” Depois de 1778, teve
início “o declínio de Luís XVI”, período de contração, a seguir
de regressão, coroada em 1787 por uma crise cíclica geradora
de miséria e de distúrbios.

(SOBOUL, 1976, p. 24)

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A fome, radicalizada pela alta dos preços no período pré-


revolucionário e agravada pelo crescimento demográfico das
cidades, com crescente fluxo de camponeses para os centros
urbanos, empurrou as massas paro movimento revolucionário
em 1789:

O custo da vida popular foi gravemente afetado pela alta dos


preços: com os cereais aumentando mais que todo o resto, foi o
povo o mais duramente atingido. À véspera de 1789, a parte do
pão no orçamento popular tinha alcançado 58% por motivo da
alta geral; em 1789 atingiu 88%. Restavam apenas 12% do
rendimento para as demais despesas. A alta dos preços
poupava as categorias abastadas, sobrecarregava o povo.

(SOBOUL, 1976, p. 26)

A crise econômica na França do século XVIII foi se


consolidando a partir de sucessivos fatos que a tornavam cada
vez mais abismal. No campo, os lucros da produção do vinho,
praticamente único produto comercializado, declinou devido à
queda do preço do produto impulsionada pela alta produção. O
comércio rural, que se fazia essencial à produção industrial se
contraiu e em 1788 o resultados da colheita foi desastrosa,
levando a significativo aumento do desemprego e baixa dos
salários, aumentando o fluxo de imigrantes para as cidades, que
já sentia os efeitos da baixa produção industrial. Soma-se a isto
as vultuosas despesas do governo com a guerra de
independência na América. Configurava-se as condições para a
revolução e a burguesia encontrou o espaço para imprimir o
movimento de derrubada do Antigo Regime, empurrada pela
massa em desesperada miséria, força motriz da Revolução.
Com a palavra, Albert Soboul:

As irredutíveis contradições da sociedade do Antigo Regime

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tinham posto havia muito a Revolução na ordem do dia. As


flutuações econômicas e demográficas, geradoras de tensão e
que, nas condições do tempo, escapavam a toda ação
governamental, criaram uma situação revolucionária. Contra um
regime cuja classe dirigente era impotente para defender,
levantou-se a imensa maioria da população, confusa ou
conscientemente. Em 1988, a crise nacional passou de flor a
fruto (…) A penúria e a carestia mobilizaram as massas rurais e
citadinas que, muito naturalmente, imputaram a
responsabilidade de seus males às classes dominantes e às
autoridades governamentais. Dizimeiros e senhores que
recolhiam o imposto das searas, dispondo de grandes
quantidades de cereais, como os negociantes de trigo, os
moleiros e os padeiros, eram acusados de açambarcamento
(…) A crise econômica, se não criou, contribuiu porém para
agravar a crise da monarquia: as dificuldades financeiras deram
ensejo à oposição política (…) A burguesia, elemento dirigente
do Terceiro Estado, a partir daí empunhou as rédeas. Seus fins
eram revolucionários: destruir o privilégio aristocrático,
estabelecer a igualdade civil numa sociedade sem ordem nem
corpos. Não obstante, pretendia conservar-se dentro de um
estrito legalismo. Mas foi em breve empurrada para a frente, na
ação revolucionária, pelas massas populares, verdadeira força
motriz, mantidas em boa disposição por muito tempo ainda pela
contribuição de suas próprias reivindicações e pela crise
econômica que persistiu até meados de 1790.

(SOBOUL, 1976, p. 28)

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