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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS

FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS


CURSO DE PSICOLOGIA

CONSUELO FIRMINO DA SILVA


JÉSSICA JIAMACIO TEIXEIRA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTAGIO NO EIXO DE PSICOLOGIA


APLICADA PSICODIAGNÓSTICO

FERNANDÓPOLIS - SP
2018

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS


FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS
CURSO DE PSICOLOGIA

CONSUELO FIRMINO DA SILVA


JÉSSICA JIAMACIO TEIXEIRA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTAGIO DO EIXO DE PSICOLOGIA


APLICADA PSICODIAGNÓSTICO

Trabalho de Conclusão de Estágio


supervisionado no eixo de Psicologia
Aplicada em Psicodiagnóstico, sobre as
exigências para o curso de graduação em
Psicologia, da Fundação Educacional de
Fernandópolis – FEF, sob a supervisão da
Profª.Camila Brandão Carnelossi Armelin.

FERNANDÓPOLIS - SP
2018
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1 Justificativa
A avaliação psicológica hoje constitui uma das funções do psicólogo, que abarca
desde testagens, de uma forma positivada, bem como, estratégia humanista de atendimento
pautado em entrevista, observação, aplicação de testes, avaliação e prognóstico psicológico,
com finalidade holística. Dentro desta esfera, considera-se o psicodiagnóstico como um
instrumento que contribuirá no diagnóstico e, sendo uma ferramenta que, oportunizará a
somatória destas informações, possibilitando agregar valores diretivos a um estudo reflexivo,
pautado no motivo do encaminhamento, objetivo, sinais e sintomas, limitações humanas,
informações estas colhidas por meio de entrevista, observação, seleção de testes e aplicação,
avaliação e conclusão de um trabalho que deve ser objetivo e com prazo delimitado. Desta
forma, o psicodiagnóstico auxilia o profissional da psicologia no processo de encontro de
respostas a questões propostas visando a solução de problemas.

2 Introdução

2.1 O que é psicodiagnóstico


O psicodiagnóstico caracteriza-se como um procedimento clínico estruturado que
utiliza testes psicológicos, e a entrevista clínica diagnóstica, adota procedimentos menos
estruturados de investigação da personalidade, como o jogo, o brincar livre e espontâneo, o
desenhar e contar histórias.
O Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica feita com propósitos clínicos e, que
não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais. Ou seja, é
um processo que visa identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, com um
foco na existência ou não de psicopatologia (CUNHA, 2007).
No psicodiagnóstico há a utilização de testes e de outras estratégias para avaliar um
sujeito de forma sistemática, científica, orientada para a resolução de problemas. Importante
ressaltar que o psicodiagnóstico é um processo limitado no tempo, com início, meio e fim
predeterminados e que não se constitui em psicoterapia.

2.2 Objetivos
O objetivo do Psicodiagnóstico é organizar elementos presentes no estudo psicológico,
de forma a obter uma compreensão do cliente a fim de ajudá-lo. Desta forma é preciso ter
conhecimento prévio dos motivos do encaminhamento, queixas, quem realizou a solicitação e
outros informes, que possam embasar um estudo e, realização de um levantamento de dados
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de natureza psicológica, social, médica, profissional e/ou escolar, sobre o sujeito e pessoas
significativas.
Faz-se importante a definição da necessidade do paciente e da fonte de solicitação para
compreender-se o objetivo do processo do psicodiagnóstico, pois podem variar, em função do
solicitante.
OCAMPO (2014) relata que o psicodiagnóstico parte da síntese que se deve examinar
as manifestações da doença apresentada e assim poder definir um diagnóstico, recomendar um
tratamento e prever um prognóstico. Nesse diapasão, o autor elenca os objetivos do
psicodiagnóstico, v.g, de avaliação simples do desempenho cognitivo, avaliação de déficit
cognitivo e disfunção cerebral, diagnóstico diferencial, avaliação compreensiva dinâmica,
prevenção e avaliação forense.
ARZENO (2003) e TRINCA (1984a) reescreve o objetivo do psicodiagnóstico como
sendo clínico, profissional, educacional, forense, tendo a finalidade de diagnóstico, indicação
de tratamento e/ou prevenção e, CUNHA (2007), como sendo objetivos de uma avaliação
psicológica clínica, a classificação simples, descrição, classificação nosológica, diagnóstico
diferencial, avaliação compreensiva, entendimento dinâmico, prevenção, prognóstico e perícia
forense.

2.3 Documentos
A Resolução 007/2003 estabelece que findo o atendimento, caberá ao psicólogo,
emitir devolutiva ao interessado, através de uma das quatro modalidades de documentos:
declaração, atestado, relatório/laudo e parecer psicológico.
A declaração visa informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas relacionadas
ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar: a) Comparecimentos do atendido
e/ou do seu acompanhante, quando necessário; b) Acompanhamento psicológico do atendido;
c) Informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento, dias ou
horários). Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados
psicológicos. (Resolução CFP nº 007/2003, p. 5).
Já o atestado certifica uma determinada situação ou estado psicológico, tendo como
finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem, por requerimento, o solicita, com
fins de: a) Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante; b) Justificar estar apto ou não
para atividades específicas, após realização de um processo de avaliação psicológica, dentro
do rigor técnico e ético que subscreve esta Resolução; c) Solicitar afastamento e/ou dispensa
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do solicitante, subsidiado na afirmação atestada do fato, em acordo com o disposto na


Resolução CFP nº 015/96. (Resolução CFP nº 007/2003, 2003b, p. 6).
A Resolução nº 007/2003 do CFP define ainda, relatório ou laudo psicológico como
“uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas
determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação
psicológica” e, referenda à estrutura do documento pautando a necessidade da apresentação
de, no mínimo, cinco itens: identificação, descrição da demanda, procedimento, análise e
conclusão. Destacasse que caberá ao laudo comunicar, de forma compreensível, a síntese dos
aspectos avaliados em prol do bem estar do paciente, constando informes acerca dos
procedimentos utilizados, resultados mais relevantes colhidos, resposta a quesitos elaborados
pelo solicitante, e, indicativo de aspectos diagnósticos e prognósticos.
Por fim, o Parecer Psicológico é definido pela Resolução CFP nº 007/2003 como “um
documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo
resultado pode ser indicativo ou conclusivo” (2003b, p. 9). Explica, ainda, que esse
documento tem como objetivo apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento
psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma ‘questão-problema’, visando a
dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma
consulta, que exige de quem responde competência no assunto. (2003b, p. 9)

3 Técnicas Utilizadas

3.1 Entrevista inicial/anamnese


As entrevistas iniciais, no contexto do psicodiagnóstico, objetivam compreender os
motivos da busca pelo atendimento, bem como o conhecimento da história de vida do sujeito.
É na primeira entrevista que se estabelece o contrato terapêutico e ocorre o esclarecimento do
que é psicodiagnóstico, sigilo, formas de pagamento e duração das sessões. Ressalta-se, que a
entrevista inicial pode ocorrer em apenas uma sessão ou até mesmo em mais de uma, de
acordo com a necessidade determinada pelo profissional (ARZENO, 1995).
Segundo Ocampo e Arzeno (2001), a entrevista inicial é um instrumento fundamental
no processo de psicodiagnóstico, onde os dados colhidos possibilitam ao profissional levantar
hipóteses iniciais e traçar os objetivos do atendimento, podendo desta forma elaborar o plano
de avaliação e definir os instrumentos a serem utilizados.
A entrevista inicial caracteriza-se como uma entrevista semidirigida, pois embora o
psicólogo intervenha a fim de esclarecer informações e/ ou abordar outros temas que julgue
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importantes para a avaliação, o cliente tem a possibilidade de expor seus problemas e assuntos
de seu interesse com total liberdade (OCAMPO e ARZENO, 2001).
De acordo com Carrasco e Potter (2005), a entrevista semidirigida tem início, meio e
fim bem delimitados devido ao tempo restrito que se obtém para contato com o cliente e seus
familiares. Apesar do caráter exploratório da entrevista inicial é essencial que o cliente sinta-
se acolhido, no entanto, com cautela para evitar que os objetivos iniciais sejam desviados.
A coleta de dados acerca da história de vida do sujeito (anamnese) tem como
finalidade a reconstrução global da vida deste indivíduo para, desta forma, compreender o
enquadre do problema atual e sua significação no momento presente na vida do cliente
(CUNHA, 2000).
Conforme pontuado por Carrasco e Potter (2005), as entrevistas de anamnese podem
ser realizadas com o próprio cliente e/ou com pessoas que puderem trazer mais informações
sobre sua história de vida, como familiares e amigos. Ainda de acordo com as autoras acima
citadas, no psicodiagnóstico todas as entrevistas podem ser consideradas de anamnese, pelo
fato de que os dados referentes à história de vida do cliente são coletados desde a entrevista
inicial até a entrevista de devolução. Além das informações obtidas no contexto clínico, é
preciso ir mais a fundo, investigando os sistemas familiar, social, cultural e econômico do
cliente, de onde podem ser retiradas informações pertinentes e determinantes para o processo.

3.2 Hora lúdica diagnóstica


A hora lúdica diagnóstica consiste em um dos instrumentos utilizados pelo psicólogo,
com o objetivo de conhecer a criança a ser avaliada no processo de psicodiagnóstico, podendo
assim compreender sua realidade atual.
Ao oferecer à criança a possibilidade de brincar em um contexto particular, com um
enquadramento dado que inclui espaço, tempo, explicitação de papéis e finalidade, cria-se um
campo que será estruturado, basicamente, em função das variáveis internas de sua
personalidade. No momento da hora lúdica, a criança expressa somente um segmento de seu
repertório de condutas, reatualizando no aqui e agora um conjunto de fantasias e de relações
de objeto que irão se sobrepor ao campo de estímulo. É por este fato, que se recorre a outros
instrumentos e métodos de investigação, além da hora lúdica.
Vale ressaltar as diferenças entre hora lúdica diagnóstica e hora lúdica terapêutica,
pois muitas vezes, ocorrem equívocos e confusões em suas definições. O que diferencia é que,
a primeira engloba um processo que tem começo, desenvolvimento e fim em si mesma e a
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segunda, é um elo a mais dentro de uma amplitude onde novos aspectos e modificações
estruturais vão surgindo pela intervenção do terapeuta.

3.3 Testagem
Os testes psicológicos são instrumentos de avaliação ou mensuração de características
psicológicas, constituindo-se como métodos/técnicas de uso privativo do psicólogo, em
decorrência do que dispõe o §1° do artigo 13 da Lei nº 4.119/62 (Resolução CFP 002/2003).
A testagem psicológica caracteriza-se como um dos instrumentos a serem utilizados no
processo de psicodiagnóstico.
Considera-se que os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos de observação
e registro de amostras de comportamentos e respostas de indivíduos com o objetivo de
descrever e/ou mensurar características e processos psicológicos, compreendidos
tradicionalmente nas áreas emoção/afeto, cognição/inteligência, motivação, personalidade,
psicomotricidade, atenção, memória, percepção, dentre outras, nas suas mais diversas formas
de expressão, segundo padrões definidos pela construção dos instrumentos.
Conforme pontuado por Cunha (2000), a utilização de testes psicológicos no decorrer
do processo de psicodiagnóstico, tem a finalidade de fornecer dados que confirmem, ou
descartem as hipóteses iniciais formuladas pelo profissional. Importante observar que, os
testes em si não proporcionam uma avaliação completa da pessoa, no entanto com a aplicação
de vários testes, a margem de erro é consideravelmente reduzida (EXNER apud CUNHA,
2000).
No que diz respeito à escolha da bateria de testes a ser utilizada em um processo de
psicodiagnóstico é essencial atentar-se para que estes atendam às necessidades específicas de
cada caso, que supram, principalmente, o objetivo da avaliação, levando-se em consideração
ainda a idade, sexo e escolaridade do sujeito avaliado (CARRASCO e POTTER, 2005).

3.3.1 HTP (Horse-Tree-Person)


O HTP é uma técnica projetiva de desenho que tem a pretensão de adentrar na
personalidade do indivíduo, buscando extrair informações acerca das funções intelectual e
emocional do sujeito.

3.3.2 WAIS III (Escala Wechsler de Inteligência)


A Escala Wechsler de Inteligência para adultos (WAIS III) objetiva avaliar o
desempenho intelectual de adolescentes e adultos fornecendo três escores de QI: Verbal,
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Execução e Total, além de quatro escores de Índices Fatoriais: Compreensão Verbal (ICV),
Organização Perceptual (IOP), Memória Operacional (IMO) e Velocidade de Processamento
(IVP).
O fator Compreensão Verbal (ICV) composto pelos subtestes Vocabulário,
Semelhanças e Informação tem como finalidade avaliar o conhecimento verbal adquirido e o
processo mental necessário para responder as questões, ou seja, a capacidade de compreensão
(raciocínio verbal). O Índice de Organização Perceptual (IOP) composto pelos subtestes
Completar Figuras, Cubos e Raciocínio Matricial tem a finalidade de mensurar o raciocínio
não-verbal, raciocínio fluído, atenção para detalhes e integração visomotora.
O fator Memória Operacional (IMO) compreendido por Aritmética, Dígitos e
Sequência de Números e Letras relaciona-se com a capacidade de atentar-se para determinada
informação, mantê-la brevemente e processá-la na memória, para em seguida, emitir uma
resposta. O Índice de Velocidade de Processamento (IVP) composto pelos subtestes Códigos
e Procurar Símbolos está relacionado com a resistência à distração, medindo, então, os
processos relacionados à atenção, memória e concentração para processar, rapidamente, a
informação visual.

3.3.3 Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT)


O RAVL tem como finalidade avaliar os processos de aprendizagem, evocação e
reconhecimento da memória episódica. Este teste caracteriza-se por uma lista de 15
substantivos (lista A), a qual é lida em voz alta para o sujeito, por cinco vezes consecutivas
(A1 a A5). Após a quinta tentativa, uma lista de interferência, composta por outros 15
substantivos (lista B), é lida para o sujeito, sendo seguida da evocação da mesma (tentativa
B1).
Posteriormente à tentativa B1, pede-se ao sujeito que recorde as palavras da lista A,
sem que ela seja, nesse momento, reapresentada (tentativa A6). Após um intervalo de 20
minutos, solicita-se ao sujeito que se lembre das palavras da lista A (tentativa A7) sem que a
lista seja lida para ele. Na sequência da tentativa A7 é feito o teste de memória de
reconhecimento, em que uma lista contendo 15 palavras da lista A, 15 palavras da lista B e 20
distratores (semelhantes às palavras de lista A e B em termos fonológicos ou semânticos) são
lidas para o sujeito. A cada palavra lida, o sujeito deve indicar se ela pertence ou não à lista A.
No RAVLT são avaliados: a curva de aprendizagem das palavras ao longo das
tentativas A1 a A5, o índice de interferência proativa (B1/A1) que se trata da capacidade do
sujeito em resistir ao efeito de distratores proativos (interferência de um conteúdo
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anteriormente aprendido sobre a aprendizagem de um novo conteúdo), o índice de


interferência retroativa (A6/A5) que avalia a interferência de um novo conteúdo na
aprendizagem de um conteúdo anteriormente aprendido) e a velocidade de esquecimento
(A7/A6) que avalia a vulnerabilidade do conteúdo apreendido à passagem do tempo.

3.3.4 Figuras Complexas de Rey


Este teste neuropsicológico possibilita a investigação da memória visual e algumas
funções de planejamento e execução de ações, onde a reprodução da cópia reflete a
capacidade visuoespacial e habilidade organizacional, enquanto a reprodução da memória
imediata reflete a quantidade que é armazenada e recuperada da memória, portanto, a cópia
representa a habilidade de construção visual e a memória simboliza a capacidade de
lembrança e reconhecimento.
O objetivo geral do teste é a avaliação da memória do indivíduo, no entanto, há a
possibilidade de avaliar qualitativamente as funções executivas: organização e planejamento.

3.4 Devolutiva
Cunha, Freitas e Raymundo (1991), dispõem de algumas recomendações sobre a
entrevista de devolução. Dentre elas destacam a linguagem, devendo esta ser clara e objetiva,
evitando-se o uso de jargões técnicos e terminologias ambíguas, para facilitar a compreensão
do cliente.
Nesta entrevista, o profissional retomará com o cliente e/ou seus responsáveis os
motivos iniciais pela busca do atendimento, como o processo de psicodiagnóstico foi
conduzido, os métodos e técnicas utilizadas e, por fim, a indicação da terapêutica que julgar
mais adequada ao caso. A entrevista devolutiva deve ter início sendo abordados os aspectos
menos comprometidos do paciente, ou seja, menos causadores de ansiedade.
Diversos autores defendem que a entrevista de devolução é um dos momentos mais
importantes do psicodiagnóstico, pois é o que particulariza e caracteriza o processo.
Para a realização do processo de psicodiagnóstico é essencial que o psicólogo tenha um bom
conhecimento do caso, através da análise criteriosa de todo o material colhido, possibilitando-
o assim elaborar hipóteses explicativas que serão capazes de situar o cliente dentro de um
contexto, um todo, levando-se em conta as suas capacidades, limitações e defesas.
De acordo com Ocampo (1981), um ponto fundamental é comparar a entrevista inicial
com a de devolução, pois desta forma é possível contextualizar as queixas iniciais, notando se
as mesmas se multiplicaram, reduziram ou transformaram-se.
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O psicólogo, ao analisar todo o material colhido durante o processo, deverá distinguir


o que pode/deve ou não ser dito ao cliente, respeitando assim os limites e tolerância do
mesmo às informações. Em suma, a devolução de todos os aspectos, tanto positivos quanto
negativos, deve ocorrer de forma organizada e saudável, podendo o psicólogo elaborar um
roteiro flexível a ser utilizado como parâmetro.
Como citado acima, a entrevista deve partir de assuntos menos ansiógenos, sequência
esta que irá crescendo e se desenrolando. Deve-se considerar que, o cliente deposita no
psicólogo, muitas angústias, e a função deste é processar e devolver estas questões de forma
reorganizada. Quando não é possível identificar a sequência do que causa mais ou menos
ansiedade, sugere-se que o psicólogo dê início à devolutiva na mesma ordem das queixas
trazidas inicialmente.
Segundo Ocampo (1981), alguns parâmetros devem ser seguidos durante a entrevista
devolutiva. No que se refere ao profissional de psicologia espera-se que este possua
capacidade de escuta, discernimento e percepção, bem como possibilidade de transmitir o
conteúdo da maneira mais adequada possível.
Em relação ao processo de psicodiagnóstico com crianças e adolescentes é
recomendável que a entrevista devolutiva seja realizada em momentos distintos, a fim de
selecionar os conteúdos que devem ser devolvidos ao cliente em si e aos familiares. As
informações provenientes da avaliação devem circular entre todos os membros envolvidos e
interessados, mas principalmente ao cliente que fora avaliado.

4 Estudo de Caso

4.1 Identificação
O presente estudo pautou-se no atendimento declinado a R.L.O., masculino, 38 anos
de idade, cursou até o 2º ano do ensino médio e reside com seus genitores, na cidade de
Ouroeste/SP.

4.2 Demanda
Realizado processo de psicodiagnóstico com R.L.O. mediante solicitação do MM Juiz
de Direito da Vara Única da Comarca de Ouroeste – SP, visandoinvestigar as comorbidades
previstas nos CID 10 F72 (Retardo Mental Grave) e CID 10 F20.1 (Esquizofrenia).

4.3 Fundamentação Teórica


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A esquizofrenia, ilustrada no DSM-V na sessão “espectro da esquizofrenia e outros


transtornos psicóticos”, é caracterizada por anormalidades em um ou mais destes cinco
domínios: delírios, alucinações, pensamento/ discurso desorganizado, comportamento motor
grosseiramente desorganizado ou anormal e sintomas negativos.
Os prejuízos cognitivos são alterações primárias da esquizofrenia. Contextualizando-
se historicamente, na primeira sistematização conceitual da esquizofrenia, Emil Kraepelin
(1896) descreveu diversos sintomas cognitivos na demência precoce (distúrbios da atenção,
da compreensão, do fluxo e associação do pensamento e alterações do julgamento), assim
como também sua evolução para a deterioração cognitiva e da personalidade (FERREIRA
JUNIOR et al, 2010).
Ainda conforme apresentado por Ferreira Junioret al (2010), as principais alterações
cognitivas da esquizofrenia foram sintetizadas em uma meta-análise envolvendo treze estudos
realizados com metodologia adequada, que permitiam a comparação dos resultados:
 Velocidade de processamento: habilidade associada à taxa de rapidez do
processamento cognitivo em tarefas simples (por exemplo: nomear cores);
 Atenção/ vigilância: habilidade de manter a atenção voltada para uma tarefa (foco ao
longo do tempo) (por exemplo: assistir a um filme na televisão);
 Memória de trabalho: habilidade de reter certa quantidade de informações para
utilização imediata (por exemplo: dizer se uma sequência de letras apresentada é igual
a uma sequência anterior);
 Aprendizado verbal e memória: habilidade de aprender informações verbalizadas e se
recordar delas (memória imediata preservada e memória de longo prazo/
reconhecimento deficitário);
 Aprendizado visual e memória: habilidade de gerar, reter e manipular imagens visuais
(associado aos diferentes aspectos de processamento de imagens, como geração,
transformação, armazenamento e recuperação);
 Raciocínio/ solução de problemas: habilidade de raciocínio em situações novas,
minimamente dependentes de conhecimentos adquiridos (capacidade de resolver
problemas novos, associar ideias, extrapolar e reorganizar informações);

4.4. Procedimentos utilizados


Os atendimentos de avaliação psicológica pautaram-se, a princípio, de informações
colhidas no bojo da peça preambular do Processo nº 1000468-03.2017.8.26.0696, acrescido
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de informações obtidas junto aos genitores de R.do seu histórico pessoal e clínico
(identificação, queixa principal, sinais e sintomas patológicos, antecedentes pessoais,
condições de nascimento, fases do desenvolvimento da infância e adolescência e
acompanhamento escolar) por meio de anamnese semidirigida.O processo de
psicodiagnóstico deu-se em seis sessões, sendo realizada a anamnese e a aplicação de 06
testes diferentes, entre psicométricos e projetivos, descritos abaixo:
 Técnica Projetiva de Desenho Casa-Árvore-Pessoa (HTP), com a finalidade de extrair
informações acerca das funções intelectual e emocional do sujeito.
 Escala Wechsler de Inteligência para adultos (WAIS III), a qual tem como objetivo
avaliar o desempenho intelectual de adolescentes e adultos, fornecendo três escores de
QI: Verbal, Execução e Total, além de quatro escores de Índices Fatoriais:
Compreensão Verbal, Organização Perceptual, Memória Operacional e Velocidade de
Processamento.
 Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT), utilizado para avaliação
dos processos de aprendizagem, evocação e reconhecimento da memória episódica.
 Figuras Complexas de Rey, que tem como finalidade investigar a memória visual,
além de avaliar qualitativamente a capacidade de organização e planejamento do
indivíduo.
 Teste dos Cinco Dígitos (Five Digits Test – FDT), utilizado para avaliar o efeito de
interferência atencional (efeito Stroop), através de informações conflitantes sobre
números e quantidades.
 Modified Wisconsin CardSorting Test (MWCST), a fim de avaliar a capacidade do
indivíduo de raciocinar abstratamente e modificar suas estratégias cognitivas como
resposta a alterações nas contingências ambientais.

4.5 Relatório da entrevista inicial


A entrevista inicial realizou-se com o genitor de R., o qual informou que em junho de
2017 seu advogado entrou com pedido de interdição e curatela de seu filho face suas
limitações em gerir a vida pessoal. No entanto, o Promotor de Justiça manifestou pelo
indeferimento e, diante dos fatos, o Juiz de Direito concedeu a interdição provisória a fim de
que possa ser realizada avaliação psicológica e, a constatação das limitações portadas pelo
interditando.
13

Relatou que seu filho sempre fora uma criança com características comuns a outras
crianças, porém aos 07 anos de idade apresentou dificuldades de aprendizagem, bem como
comportamentos descritos como estranhos, como a crença de que pessoas estavam falando
sobre ele, bem como, medo de sons estridentes de bombas e fogos de artifício, seguido de
comportamento de fuga.
R. apresentou surtos psicóticos no ano de 2002 e 2012, sendo necessária a intervenção
seguida de internação no hospital psiquiátrico Bezerra de Menezes, na cidade de São José do
Rio Preto – SP, onde permaneceu por cerca de 30 dias.
No que se refere ao desenvolvimento, R. nasceu a termo, após 09 meses de gestação e,
teve desenvolvimento neuropsicomotor típico, alimentou-se desde o nascimento de leite
pasteurizado. Apresentou histórico clínico de desidratação e pneumonia logo nos primeiros
meses de vida, necessitando de hospitalização.
Quanto ao período escolar, os informantes relataram que houve dificuldades na
adaptação nos primeiros anos, caracterizadas por enfrentamentos, agressividades e
incapacidade em permanecer sozinho no ambiente escolar e dificuldades de relacionamento
interpessoal. R. interrompeu seus estudos no segundo ano do ensino médio, face ao baixo
rendimento escolar.
R. foi acompanhado pelo psicológico desde a infância e, com 18 anos de idade, foi
diagnosticado pelo médico psiquiatra com Retardo Mental Grave (CID – F72) e Esquizofrenia
(CID – F20). Atualmente faz uso dos medicamentos: Haloperidol 05 mg (12/12h);
Clorpromazina 100 mg (0-0-1); Biperideno 2 mg (12/12h); Prometazina 25 mg (0-0-1) e
Clozapina 100 mg (12/12h).
O avaliado apresentou rotina básica, demonstrando limitada autonomia face a
dependência nas atividades de vida diária (AVDs), diante da necessidade de auxilio nos
afazeres domésticos, na colocação do próprio alimento no prato, bem como incapacidade para
amarrar o cadarço do tênis ou cordão de suas calças e bermuda, face a pouca coordenação
motora. R. tem boa relação com familiares e conhecidos e confunde-se na distinção do
parentesco com os sobrinhos denominando-os de “netos, genros e sogro”. Atualmente é
assistido no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) da cidade de Ouroeste – SP.

4.6 Síntese dos procedimentos utilizados


O processo Psicodiagnóstico foi realizado na Clínica Escola da Fundação Educacional
de Fernandópolis, ocorrendo em 06 sessões. Cabe salientar que anterior ao início do processo
o paciente e seu responsável foram orientados com relação às questões contratuais,
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principalmente em relação aos aspectos éticos, respeitando o assentimento do atendido e a


assinatura do Termo de Consentimento por parte do seu responsável.
Na primeira sessão foi realizada entrevista semidirigida com o genitor de R. L. O.,
onde obteve-se informações do encaminhamento, bem como, traçou-se o protocolo de
atendimento.
Na segunda sessão foi realizada colheita de maiores informações com a genitora de R.
L. O. e em seguida início da aplicação do teste WAIS III, sendo executados os subtestes:
Completar Figuras; Vocabulário; Códigos; Semelhanças e Cubos. Foi também realizada a
aplicação do teste HTP.
Quando da aplicação do teste HTP, o qual consiste na realização de três desenhos
distintos (Casa-Árvore-Pessoa), foi observado traçados indicativos de rompimento com a
realidade objetiva e refúgio na fantasia, bem como sofrimento do ego e sensação de
desintegração. Notaram-se ainda indicativos de equilíbrio precário da personalidade por efeito
da frustração em não conseguir satisfazer as necessidades básicas, desenvolvimento retardado
e regressão a estados primitivos. Foram evidenciados também traços indicativos de
infantilidade, sensibilidade primitiva e dificuldade nas relações interpessoais ou expressão de
desprezo e/ ou hostilidade em relação a si mesmo.
Na terceira sessão ocorreu a aplicação do teste WAIS III, sendo executados os
seguintes subtestes: Aritmética, Raciocínio Matricial, Dígitos, Informação, Compreensão,
Procurar símbolos, Sequência de Números e Letras e Armar objetos.
Na quarta sessão finalizou-se a aplicação do teste WAIS III, com a execução do
subteste Arranjo de Figuras, seguido da aplicação do teste RAVLT.
A Escala Wechsler de Inteligência para adultos (WAIS III) tem como objetivo avaliar
o desempenho intelectual de adolescentes e adultos, fornecendo três escores de QI: Verbal,
Execução e Total, além de quatro escores de Índices Fatoriais: Compreensão Verbal (ICV),
Organização Perceptual (IOP), Memória Operacional (IMO) e Velocidade de Processamento
(IVP).
O fator Compreensão Verbal (ICV) composto pelos subtestes Vocabulário,
Semelhanças e Informação, tem como finalidade avaliar o conhecimento verbal adquirido e o
processo mental necessário para responder as questões, ou seja, a capacidade de compreensão
(raciocínio verbal). O Índice de Organização Perceptual (IOP) composto pelos subtestes
Completar Figuras, Cubos e Raciocínio Matricial, tem a finalidade de mensurar o raciocínio
não-verbal, raciocínio fluído, atenção para detalhes e integração visomotora.
15

O fator Memória Operacional (IMO), compreendido por Aritmética, Dígitos e


Sequência de Números e Letras, relaciona-se com a capacidade de atentar-se para
determinada informação, mantê-la brevemente e processá-la na memória, para em seguida,
emitir uma resposta. O Índice de Velocidade de Processamento (IVP), composto pelos
subtestes Códigos e Procurar Símbolos, está relacionado com a resistência à distração,
medindo, então, os processos relacionados à atenção, memória e concentração para processar,
rapidamente, a informação visual.
Os subtestes revelaram que o avaliado demonstrou resultado Limítrofe no que se
refere à Compreensão Verbal (ICV), Índice de Organização Perceptual (IOP), Índice de
Velocidade de Processamento (IVP) e Quociente Total (QIT). Notou-se ainda que o resultado
obtido para Índice de Memória Operacional (IMO) enquadra-se na classificação Deficitário.
O Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey – RAVLT tem como finalidade
avaliar os processos de aprendizagem, evocação e reconhecimento da memória episódica.
Este teste caracteriza-se por uma lista de 15 substantivos (lista A), a qual é lida em voz alta
para o sujeito, por cinco vezes consecutivas (A1 a A5). Após a quinta tentativa, uma lista de
interferência, composta por outros 15 substantivos (lista B), é lida para o sujeito, sendo
seguida da evocação da mesma (tentativa B1).
Posteriormente à tentativa B1, pede-se ao sujeito que recorde as palavras da lista A,
sem que ela seja, nesse momento, reapresentada (tentativa A6). Após um intervalo de 20
minutos, solicita-se ao sujeito que se lembre das palavras da lista A (tentativa A7) sem que a
lista seja lida para ele. Na sequência da tentativa A7 é feito o teste de memória de
reconhecimento, em que uma lista contendo 15 palavras da lista A, 15 palavras da lista B e 20
distratores (semelhantes às palavras de lista A e B em termos fonológicos ou semânticos) são
lidas para o sujeito. A cada palavra lida, o sujeito deve indicar se ela pertence ou não à lista A.
No RAVLT são avaliados: a curva de aprendizagem das palavras ao longo das
tentativas A1 a A5, o índice de interferência proativa (B1/A1) que se trata da capacidade do
sujeito em resistir ao efeito de distratores proativos (interferência de um conteúdo
anteriormente aprendido sobre a aprendizagem de um novo conteúdo), o índice de
interferência retroativa (A6/A5) que avalia a interferência de um novo conteúdo na
aprendizagem de um conteúdo anteriormente aprendido) e a velocidade de esquecimento
(A7/A6) que avalia a vulnerabilidade do conteúdo apreendido à passagem do tempo.
Observou-se que o avaliado apresenta-se com resultados em classificação Deficitária
referente à memória de curto prazo, representados pelas listas de A1 a A6. A lista A7,
representativa da memória a longo prazo, também evidenciou resultado classificado como
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deficitário. No entanto, embora tenha sido apresentado tal resultado, ressalta-se que o sujeito
demonstrou facilidade em manter o que foi aprendido, mesmo tendo aprendido pouco, uma
vez que manteve as informações ao longo da aplicação do teste, mesmo diante de
interferências.
Na quinta sessão os testes Figuras de Rey, FDT e Wisconsin foram aplicados.
Figuras Complexas de Rey é um teste neuropsicológico que possibilita a investigação
da memória visual e algumas funções de planejamento e execução de ações, onde a
reprodução da cópia reflete a capacidade visuoespacial e habilidade organizacional, enquanto
a reprodução da memória imediata reflete a quantidade que é armazenada e recuperada da
memória, portanto, a cópia representa a habilidade de construção visual e a memória
simboliza a capacidade de lembrança e reconhecimento.
O objetivo geral do teste é a avaliação da memória do indivíduo, no entanto, há a
possibilidade de avaliar qualitativamente as funções executivas: organização e planejamento.
Observou-se que R reduziu sua capacidade desorganização na execução da figura quando
ocorridas as trocas de cores, relacionando-se a memória operacional, o que indica dificuldade
de organização e planejamento. Percebeu-se ainda, que não armazenou a sequência de cores e
traçados da cópia para a reprodução da memória. As pontuações da reprodução da cópia e
memória enquadram-se no percentil <1,0, indicando que o indivíduo encontra-se inferior à
média.
O Teste dos Cinco Dígitos– FDT tem a finalidade de avaliar a velocidade de
processamento, as funções executivas e o funcionamento atencional utilizando as rotinas de
leitura e contagem de números. Possui quatro etapas: leitura, contagem, escolha e alternância.
As duas primeiras são medidas de atenção automática, velocidade de processamento e as duas
últimas, de atenção controlada, atenção executiva.
O avaliado obteve classificação Deficitária na primeira etapa – Leitura, encontrando-se
no Percentil <5. Na etapa Contagem, embora a classificação para o Tempo tenha sido
Superior (Percentil >95), mostrou-se Deficitária em relação aos Erros (Percentil <5). Nas
etapas Escolha e Alternância, ambos os resultados encontram-se em classificação Deficitária.
Observou-se que durante a execução da atividade R. demonstrou-se muito ansioso e, emitiu
respostas muito rápidas a fim de terminar a atividade em curto prazo.
Por fim, o teste ModifiedWisconsin CardSorting Test– MWCST objetiva avaliar a
capacidade do indivíduo de raciocinar abstratamente e modificar suas estratégias cognitivas
como resposta a alterações nas contingências ambientais.
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O teste foi aplicado em sua versão modificada, sendo composto por dois baralhos
idênticos com 24 cartas cada e quatro cartas-estímulo, fornecendo escores quanto aos acertos,
assim como apontando fontes de dificuldade nas tarefas. As cartas apresentam figuras que
possuem três tipos de configuração: Cor, Forma e Número, que se repetem duas vezes, sendo
necessário que o sujeito tenha 06 acertos por categoria, para que assim seja permitido transitar
para a próxima.
Na aplicação do MWCST com o avaliado, iniciou-se com a categoria Cor, não
havendo 06 acertos consecutivos, impossibilitando a mudança de categoria. Foram utilizadas
as 48 cartas do baralho e após isto, conforme orientações do manual, encerrado o teste. Diante
de tal resultado, apurou-se que o indivíduo encontra-se em classificação Deficitária, quando
comparado com população de mesma idade.
Na sexta sessão houve a devolutiva da avaliação psicológica aos responsáveis de R.
Após a finalização do processo e a compreensão teórico-prática do Psicodiagnóstico foi
efetuada a formulação de um Laudo Psicológico, documento este encaminhamento ao juízo
requerente.

4.7 Síntese diagnóstica e prognóstica


Conforme se observou nos testes executados com o avaliado, há a presença
predominante de índices Deficitários nos resultados obtidos. No teste WAIS III, os resultados
foram limítrofes para quase todas as categorias (Índice de Compreensão Verbal, Índice de
Organização Perceptual, Índice de Velocidade de Processamento, Quociente Total) e
apresentando resultado Deficitário para o Índice de Memória Operacional.
No teste RAVLT foram observados resultados Deficitários para memórias de curto e
longo prazo, no entanto ressalta-se que o indivíduo demonstrou facilidade em manter o que
foi aprendido, embora as informações retidas tenham sido em pequenas quantidades. Em
relação ao teste Figuras Complexas de Rey, as pontuações da reprodução da cópia e memória
indicam que o indivíduo encontra-se inferior à média.
Evidenciou-se também classificação Deficitária nas quatro etapas do Teste dos Cinco
Dígitos - FDT (leitura, contagem, escolha e alternância), observando-se classificação Superior
no que se refere ao tempo na etapa Contagem, resultado este sem grande significância, tendo
em vista que a quantidade de erros foi consideravelmente alta nesta mesma etapa. No teste
Wisconsin, apurou-se que o indivíduo também se encontra em classificação Deficitária,
quando comparado com população de mesma idade.
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Ressalta-se que o material colhido durante as etapas do processo de psicodiagnóstico


subsidia informes acerca das comorbidades que limitam R.L.O. no contexto sociocultural.
Segundo LEZARK, 1995, a neuropsicologia é uma ciência que estuda o comportamento das
disfunções cerebrais (Sistema Nervoso) e suas funções na relação entre estrutura e
desempenho, partindo-se da avaliação das funções cognitivas que abarcam a Atenção,
Memória, Funções Executivas, Processamento Visuoespacial e Linguagem. Processos estes
que constituem os fundamentos da percepção, da atenção, da motivação da ação, do
planejamento e do pensamento, além do próprio aprendizado e memória e, diante do
apresentado e, em resposta aos quesitos formulados pelo Ministério Público é possível
informar que R.L.O. é acometido de comorbidade limitadora, de natureza psíquica, que o
incapacita a gerir e administrar seus bens e a prática de atos da vida civil.Importante se faz,
esclarecer que os instrumentos de avaliação psicológica não têm a finalidade de responder
quesitos como natureza da moléstia, apontar data ou época aproximada de sua eclosão,
origens e caráter permanente ou transitório.

4.8 Entrevista devolutiva


A entrevista devolutiva consiste em transmitir os resultados do psicodiagnóstico de
forma discriminada, organizada e dosada segundo o destinatário, uma vez que se deve
observar, quando da devolutiva, as reações dos interessados diante do conteúdo a ser
apresentado a fim de nortear o processo e, desta formar poder ser mantida ou modificado as
recomendações terapêuticas previamente pensada.
Nesta fase caberá ao avaliador colocá-los em condições de tomar consciência da
identidade real do avaliado partindo do princípio que a comunicação deve pautar-se em
métodos verbais e/ou não verbais para se obter uma melhor devolução tanto para os adultos
como para as crianças, mesmo as muito pequenas, sendo às vezes necessário recorrer
desenhos e histórias. É considerável em casos excepcionais mostrar algum desenho ou
resultado de técnica para os pais, responsáveis, visando a credibilidade e confiança.
Ainda é recomendável agir “em espiral”, ou seja, usar da técnica da repetição de
conteúdos revelados no início e, durante a devolutiva, acrescentar elementos novos até que
seja possível concluir toda a informação necessária.
Ressalta-se que o ponto de partida da devolução deve ser o que o consultante
mencionou como motivo da solicitação de psicodiagnóstico.
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5 Considerações finais
Durante a trajetória de aproximadamente nove meses teve-se a oportunidade de um
contato mais apurado com o ser humano e suas peculiaridades através de avaliações
psicológicas, objeto do presente estágio.
O estágio de Psicodiagnóstico promoveu o contato com três pessoas, de sexo, idade e
hipóteses diagnósticas diversas, momento este, indescritível e primoroso na nossa formação
profissional, presenteando-nos com conhecimento teórico-prático, assistido de supervisão e
orientações específicas a cada novo estudo. Foi possível também o contato com diversos
instrumentos de avaliação psicológica, incluindo testes avaliadores de diferentes esferas,
possibilitando assim a ampliação do nosso conhecimento teórico e técnico neste eixo.
Frente às supervisões, além do suporte técnico, foi um momento de suporte emocional
significativo para aumentar nossa autoconfiança profissional. Podemos assegurar ainda, que o
estágio supervisionado foi uma experiência em que pudemos lapidar nossos conhecimentos,
nossa visão do outro e principalmente oportunidade impar de crescimento pessoal e
profissional.
O estágio como um todo representou uma experiência única e fonte de aprendizagem
permanente. Viver essa experiência, portanto, envolveu frustrar algumas fantasias, questionar-
nos, desconstruir algumas certezas e, acima de tudo, surpreendermos.

6 Referências Bibliográficas

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de


Transtornos Mentais (DSM 5). 5ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

ARZENO, M. E. G. Psicodiagnóstico Clínico. Porto Alegre: Artmed, 1995.

BUCK, J. N. H-T-P: casa-árvore-pessoa, Técnica Projetiva de Desenho: Manual e Guia de


Interpretação. São Paulo: Vetor, 2003.

FERREIRA JUNIOR et al, Alterações cognitivas na esquizofrenia. Revista Psiquiatria. Rio


Grande do Sul, 2010.

HEATON, K. R. et al. Manual do teste Wisconsin de Classificação de Cartas. São Paulo:


Casa do Psicólogo, 2005.

OCAMPO, J. F. V; PEREZ, M. A. G.

REY, André. Figuras complexas de Rey.Adaptação Brasileira: Margareth da Silva Oliveira


e Maisa dos Santos Rigoni. 1. ed. Casa do Psicólogo, 2014.
20

REY, André.Teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey (RAVLT): livro de instruções/


Jonas Jardim de Paula, Leandro Fernandes Malloy-Diniz, 1. ed. – São Paulo: Vetor, 2018.

SEDÓ, Manuel. O teste dos cinco dígitos; versão brasileira Jonas Jardim de Paula, Leandro
Fernandes Malloy-Diniz; [tradução Otto Mendonça]. – São Paulo; Hogrefe CETEPP,
2015.

WECHSLER, David. Escala Wechsler de Inteligência para adultos (WAIS III). Manual
Técnico. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

ZIMMERMANN N, et al. Brazilian preliminary norms and investigation of age and education
effects on the Modified Wisconsin Card Sorting Test, Stroop Color and Word test and
Digit Span test in adults. Dement Neuropsychol; 9 (2):120-127. Jun/ 2015.

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