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Artigo Cientifico - Do Modulo Contratos em Especial

Direito Administrativo (Universidade Católica de Moçambique)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


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RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRABALHADOR PELA VIOLAÇÃO DO


SIGILO PROFISSIONAL DEPOIS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO DE
TRABALHO

Nahome Belé Camunate Cidade1

Sumário:

Resumo – 1. Introdução - 2. Relação Jurídica Laboral e o Contrato de Trabalho 3. O Dever


de Sigilo Profissional do Trabalhador. 4. A Cessação do Contrato de Trabalho e dos Deveres
Laborais. 5. Responsabilidade do Trabalhador pela Violação do Sigilo Profissional Depois
da Cessação do Contrato de Trabalho 6. Considerações finais. 7. Referências Bibliográficas.

Resumo

O presente artigo tem como tema “Responsabilidade Civil do Trabalhador pela Violação do
Sigilo Profissional Depois da Cessação do Contrato de Trabalho”. Esta temática prende-se
na necessidade de buscarmos entender a susceptibilidade que a entidade empregadora
enquanto a ofendida, tem de poder responsabilizar civilmente um ex trabalhador pela
violação do sigilo profissional no momento posterior a cessação da relação jurídica laboral
que os vinculava. O presenta trabalho busca abordar o complexo problema atinente à
responsabilidade civil do trabalhador que violou o dever de sigilo profissional apos a extinção
do contrato de trabalho, atendendo ao facto de que, as relações de trabalho estão em constante
mudanças, visto que os contratos de trabalho passam por várias vicissitudes, entre elas, temos
a extinção do próprio contrato de trabalho, o que significa que os trabalhadores afectos a uma
referente entidade empregadora não estão ligados a ela eternamente. Entretanto, face a isso,
os trabalhadores que se desligam de uma entidade empregadora saem dela com inúmeras
informações importantes desta, tendo em consideração as funções do antigo posto de
trabalho, e estes mesmos Trabalhadores depois dê-se desvincular da antiga entidade
empregadora vão em busca de novos desafios em outras empresas que por ventura podem ser
concorrentes directo da antiga entidade empregadora e isso pode levar há várias situações
constrangedoras ao direito, como a que pretendemos discutir aqui, a divulgação ou a quebra
do sigilo profissional que o trabalhador esta obrigado com a antiga entidade empregadora
pelo contrato de Trabalho, de modo a garantir o seu novo emprego. Portanto, é deveras
importante buscarmos saber se essa entidade empregadora tem direito dê-se fazer ressarcir
pelos danos que possa vir a ter pela divulgação ou publicação da informação sigilosa ainda

1
Mestrando em Direito Civil na Faculdade de Direito (FADIR) da Universidade Católica de Moçambique,
Jurista e Docente assistente da Faculdade de Gestão de Recursos Naturais e Mineralogia (FAGRENM), e-mail:
nahocamunati.017@gmail.com.

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que o facto tenha ocorrido no momento em que o Trabalhador violador se encontrava


desvinculado da entidade empregado e por consequências, não vinculado ao cumprimento
dos deveres contratuais, pelo facto, do contrato de trabalho se encontrar extinto? E se sim,
qual seria a modalidade de responsabilidade civil adequado (entre a responsabilidade
contratual ou extracontratual) para responsabilizar o Trabalhador? As respostas a estas
perguntas sirvam de roteiro ao presente artigo que busca outros territórios de conhecimentos
sólidos e sustentados. Para que, no final da caminhada, se sinta em condições de identificar
e justificar se um determinado trabalhador violou o seu dever de sigilo com a sua antiga
entidade patronal e em virtude disso debitando-lhe as devidas consequências legais admitidas
no ordenamento jurídico pátrio. Para a concretização desta pesquisa foi aplicada a pesquisa
bibliográfica e qualitativa. Os métodos aplicados foram o jurídico, hermenêutico e
documental. O levantamento de dados da pesquisa foi bibliográfico.

Palavra-chave: Contrato de Trabalho, Responsabilidade Civil, Sigilo Profissional.

Abstract

The present article has as its theme "Civil Liability of the Worker for Violation of
Professional Secrecy after Termination of the Employment Contract". This theme is related
to the need to understand the susceptibility that the employer, as the offended party, has to
be able to hold a former employee civilly liable for the violation of professional secrecy after
the termination of the employment relationship that bound them. This paper seeks to address
the complex problem of the civil liability of an employee who has violated the duty of
professional secrecy after the termination of the employment contract, given the fact that
labor relations are constantly changing, since employment contracts go through various
vicissitudes, including the termination of the employment contract itself, which means that
workers assigned to a particular employer are not bound to it eternally. However, in light of
this, workers who leave an employer leave that employer with countless important pieces of
information, taking into consideration the functions of the former job position, and these
same workers, after leaving the former employer, go in search of new challenges in other
companies that may be in direct competition with the former employer, and this may lead to
various situations that are embarrassing to the law, such as the one we intend to discuss here,
the disclosure or the breach of professional secrecy that the worker is bound to with the
former employer by the Labor Agreement, in order to guarantee his or her new job.
Therefore, it is very important for us to find out whether the employer has the right to be
compensated for the damages he may incur from the disclosure or publication of the
confidential information, even if the fact has occurred at a time when the breaching Worker
was no longer bound to the employer and, consequently, not bound to the fulfillment of
contractual duties, due to the fact that the employment contract has been terminated? And if
so, what would be the appropriate type of civil liability (between contractual or extra-
contractual liability) to hold the Worker liable? The answers to these questions will serve as
a roadmap to the present article that seeks other territories of solid and sustained knowledge.
So that, at the end of the journey, it will feel able to identify and justify whether a certain
worker has violated his duty of confidentiality with his former employer and, as a result,

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debit him with the due legal consequences admitted in the Brazilian legal system. To carry
out this research, bibliographical and qualitative research was applied. The methods applied
were legal, hermeneutic, and documental. The data survey was bibliographic.

Key-words: Employment Contract, Civil Liability, Professional Secrecy.

1. Introdução

A presente pesquisa que tem como tema “Responsabilidade Civil do


Trabalhador pela Violação do Sigilo Profissional Depois da Cessação do Contrato de
Trabalho”, é de carácter multidisciplinar, referente ao Direito Laboral e Direito Civil.
Os parâmetros para a pesquisa serão estipulados pela hermenêutica e aplicação
da Lei do Trabalho (Lei n.º 21/2007 de 1 de Agosto) e o Código Civil vigente actualmente
no ordenamento jurídico Moçambicano, com vista, a buscar primeiro entender os contornos
do dever de sigilo profissional consagrado na Lei de Trabalho e segundo fazer um
enquadramento legal da responsabilidade civil pela violação do dever de sigilo profissional
após a cessação do vínculo laboral no Código Civil entre a responsabilidade civil delitual (ou
extracontratual) onde está em causa a violação de deveres genéricos de respeito, de normas
gerais destinadas à protecção doutrem, ou à prática de delituais específicos e a
responsabilidade obrigacional (ou contratual) que resulta do incumprimento das obrigações
contratuais.
A Lei do Trabalho (Lei n.º 21/2007 de 1 de Agosto) estabelece como um dos
deveres do trabalhador, o dever de sigilo profissional, previsto na alínea f) do artigo 58.º da
LT, dita que o trabalhador não devem divulgar determinadas informações cujo conhecimento
advenha do decurso da relação laboral, independentemente da veracidade dos factos que as
compõem.
No entanto, este dever do trabalhador de sigilo profissional ele existe em
virtude do contrato de trabalho ou do vínculo laboral que o trabalhador tem com a entidade
empregadora, o que significa que, se o vínculo laboral que o trabalhador tem com a entidade
empregador cessar ou se extinguir, as obrigações ou deveres a que o trabalhador estava
adstrito em virtude do contrato de trabalho também cessam, ou seja, com a cessação do
vínculo laboral também cessa o dever de sigilo profissional que o trabalhador estava obrigado

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a obedecer. E é este entendimento que o nosso legislador ordinário perfilhou, quando


consagrou o artigo 124º, que no seu número 2, estabelece “a cessação da relação de trabalho
determina a extinção das obrigações das partes relativas ao cumprimento do vínculo laboral
e a constituição de direitos e deveres, nos casos especialmente previstos na lei”.
Portanto, o mundo é dinâmico, e isto implica que as pessoas sejam móveis,
entre si, e o mesmo não é excepção na área de trabalho, e, quem trabalha hoje em uma
instituição amanhã pode não estar nessa mesma empresa, e contudo, estar a procurar de novas
oportunidade de emprego que o oferece, com isso, situações há em que o trabalho detém
certas informações confidenciais que obteve no seu antigo trabalho em virtude do seu último
e este mesmo trabalho pode por conta disso querer se colocar em uma situação de vantagem
perante um concurso de emprego ou perante uma outra situação que ele pretende obter
alguma vantagem sobre os outros correntes ou outras pessoas, divulgar as informações
confidencias da sua antiga empresa à uma outra empresa que seja uma concorrente, directa
ou indirecta, causando com isto um prejuízo patrimonial a antiga empresa onde trabalhava.
Foi neste prisma que me dispus em discutir sobre a responsabilidade civil do
trabalhador que viola o sigilo profissional após a cessação do vínculo laboral, atendendo e
considerando que a lei de trabalho em inerte quanto a essa questão, ela não diz o que irá
acontecer ao trabalhador que divulgar informações confidenciais após o vínculo contratual
cessar e o dever de sigilo profissional se extinguir e pela divulgação de informações
confidenciais causar prejuízo patrimoniais a antiga entidade empregadora.
A realização deste trabalho prende-se com uma justificativa agridoce, que
consubstancia num misto entre satisfação e inquietação, por um lado, porque há o esforço do
legislador em ditar normas que acompanham o quadro evolutivo da sociedade moçambicana
no que tange ao Direito Laboral e Direito Civil, que são ramos de direito com grande impacto
social, o que significa que se estes ramos de Direito não acompanharem a realidade de hoje,
deixará de lado várias questões com relevância jurídica. Por outro lado, ainda persistem
alguns aspectos que necessitam de uma análise acurada por parte dos cultores do Direito em
geral e do legislador, mormente a questão da responsabilidade civil do trabalhador pela
violação do dever de sigilo profissional depois da cessação do contrato de trabalho.
O principal objectivo deste artigo é analisar a responsabilidade civil do
trabalhador pela violação do dever de sigilo profissional após a cessação do vínculo laboral.

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De modo com que este objectivo seja alcançado foram trancados os seguintes objectivos
específicos: 1. descrever os contornos legais e doutrinários sobre contrato de trabalho e o
dever do sigilo profissional; 2. fazer um enquadramento legal da responsabilidade civil pela
violação do dever de sigilo profissional após a cessação do vínculo contratual laboral; 3.
analisar os limites da aplicabilidade do dever de sigilo profissional do trabalhador.
No tange a metodologia aplicada ao presente trabalho, a pesquisa é básica,
quanto a finalidade e qualitativa, quanto a abordagem; também é explicativa, quanto aos
objectivos e é bibliográfica e documental no que diz respeito aos procedimentos técnicos.
Outrossim, o método aplicado para a elaboração do presente artigo é método jurídico através
da hermenêutica jurídica, tendo em conta aquilo que é o objecto de estudo “Responsabilidade
Civil do Trabalhador pela Violação do Sigilo Profissional Depois da Cessação do Contrato
de Trabalho”.

2. Relação Jurídica Laboral e o Contrato de Trabalho

Antes de irmos ao encontro do centro da discussão que nos propomos aqui


trazer, importa agora apresentar algumas noções gerais de certas matarias que irão permitir
com que o leitor do presente artigo possa compreender o cerne da discussão, entre essas
noções gerais que pretendemos apresentar aqui, iremos começar com a noção geral da relação
jurídica e dos contratos de trabalho.
No que tange a relação jurídica a doutrina Brasileira refere-se muito a uma
importante distinção apresentada pelo Direito Romano, entre a Relação jurídica de Trabalho
e a Relação jurídica de emprego.
Como nos referimos anteriormente, essa distinção da – relação jurídica de
trabalho e a relação jurídica de emprego - tem a sua gênese no Direito Romano que distinguia
o trabalho subordinado (location operarum) do trabalho autônomo (location operis). Nesta
modalidade, o que importa é o resultado do trabalho recaindo todos os riscos para quem se
obriga a realizar a tarefa, enquanto naquele modelo adquiria-se o direito de dispor da energia
laboral do outro2.

2
À distinção entre trabalho autônomo e trabalho subordinado prendem-se as duas categorias de locação de
sérviços, vindas do Direito Romano: locatio operis e locatio operarum. Na primeira, é o resultado do trabalho
que importa; na segunda, a própria força de trabalho. Enquanto na locatio operis o risco do resultado permanece

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Nas palavras de ARAÚJO, "a relação de emprego pressupõe trabalho


subordinado e constitui espécie de relação de trabalho, que é gênero3.”
Como ensina MARTINS que “Relação de trabalho é gênero, que compreende
o trabalho autônomo, eventual, avulso... Relação de emprego trata do trabalho subordinado
do trabalhador em relação ao empregador4.”
A relação de trabalho é gênero, do qual a relação de emprego é espécie, por
outras palavras: a relação de emprego, sempre, é relação de trabalho; mas, nem toda relação
de trabalho é relação de emprego, como ocorre, v.gr., com os trabalhadores autônomos
(profissionais liberais, empreitadas, locações de serviços, etc.)5.
Portanto, o contrato de contrato, previsto no artigo 1152º do C. Civil e o artigo
18º da Lei do Trabalho, emerge da relação jurídica de emprego e os demais contratos
análogos ao contrato de trabalho, como é o caso do contrato de prestação de serviço, previsto
no artigo 1154º do C. Civil, enquadram-se na relação jurídica de trabalho, isto porque, nesses
contratos de prestação de serviço o prestador de serviços é autónomo em relação ao prestado
e nessa relação jurídica vigora claramente o principio da igualdade contratual entre as partes,
sem a subjugação de um em relação ao outro, em função do exercício de poderes de
autoridade, ao passo que, na relação de emprego, onde temos o contrato de trabalho, este é
caracterizado pela subordinação do Trabalhador ao empregador em função do exercício dos
poderes de autoridade que este segundo sujeito tem em relação ao primeiro sujeito, o
Trabalhador.
No entanto, importa agora percebemos é que momento em que a relação de
emprego se constitui.
Existem duas doutrinas alemãs que tentaram oferecer resposta a essa questão,
são as denominadas de teorias do contrato (Vertragstheorie) e da incorporação
(Eingliederungstheorie).
Para a teoria do contrato (Vertragstheorie), a relação jurídica constituía-se
pela celebração do contrato de trabalho. Enquanto que, teoria da incorporação

a cargo de quem se obriga a realizar certa obra (empreiteiro), na locatio operarum recai sobre aquele que
adquire o direito de dispor do trabalho alheio (empregador).” SÜSSEKIND, Arnaldo [et al]. Instituições de
Direito do Trabalho. Volume I. 22. Ed. São Paulo: LTr, 2005. Pág.232.
3
ARAÚJO, Francisco Rossal de. A Boa-fé nos Contratos de Emprego. São Paulo: LTr, 1996. Pág. 115.
4
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho -29ª edição – São Paulo: Atlas, 2013. Pág.94.
5
RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. 5ª ed. Curitiba: Juruá,1995. Pág. 52

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(Eingliederungstheorie), entendia que a relação de trabalho não deriva forçosamente da


celebração de contrato de trabalho, antes da incorporação do trabalhador na empresa6.
Parafraseando ALFRED HUECK e H. C. NIPPERDEY7, a relação de trabalho consiste na
relação jurídica que existe entre trabalhador e empregador, em virtude da qual aquele se
obriga a prestar uma actividade a este.
O nosso legislador pátrio, em função da nossa estrutura laboral e na proteção
do trabalhador, adoptou a teoria alemã da incorporação (Eingliederungstheorie) do
trabalhador na empresa, nos podemos ver isso na nossa Lei de Trabalho, quando estamos em
face da relação jurídica de facto ou presumida, prevista no artigo 19º da Lei do Trabalho, ao
prever no numero que, "presume-se existente a relação jurídica de trabalho sempre que o
trabalhador esteja a prestar actividade remunerada, com conhecimento e sem oposição do
empregador, ou quando aquele esteja na situação de subordinação económica deste".
Apesar da celebração do contrato de trabalho obedecendo as regras previstas
no artigo 38º da Lei do Trabalho, constituir a regra geral no ordenamento jurídico pátrio, no
entanto, em função da proteção que o legislador pátrio quis dar aos Trabalhadores, passou a
considerar as situações de facto de trabalho como uma relação de trabalho de Trabalho e
nessas situações presume-se que o Trabalhador de um contrato de trabalho não escrito,
considerado como um Contrato de Trabalho a Tempo Indeterminado, nos termos do artigo
41º, por ser esse o contrato padrão, e essa possibilidade só pode ser afastar se a entidade
empregador poder demostrar a temporalidade do contrato de trabalho.
A primeira definição do contrato de trabalho vem consagrado no artigo 1152.º
C. Civil, que corresponde à uma noção tradicional de contrato de trabalho, que o define como
sendo " Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição,
a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade e direcção
desta".
Hodiernamente encontramos a definição do contrato de trabalho no artigo 18.º
da Lei do Trabalho, ao define-lo como " o acordo pelo qual uma pessoa, trabalhador, se obriga

6
HUECK, Alfred e H. C. Nipperdey, Compendio de Derecho del Trabajo, Madrid, Editorial Revista de
Derecho Privado, (1963), Págs. 84-85.
7
HUECK, Alfred e H. C. Nipperdey, Compendio de Derecho del Trabajo, Madrid, Editorial Revista de
Derecho Privado, (1963), Págs. 84-85.

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a prestar a sua actividade a outra pessoa, empregador, sob a autoridade e direcção desta,
mediante remuneração."
Destas duas noções legais do Contrato de Trabalho, podemos destacar três
elementos essências: primeiro temos a prestação de uma actividade, segundo, a subordinação
do trabalhador ou a execução da actividade com subordinação jurídica e por fim, o terceiro
elemento, temos a retribuição.
Dessas características essências aqui apresentada, como nos referimos
anteriormente, é o elemento subordinação do trabalhador ao empregador a principal
característica que difere a relação de emprego das demais relações de trabalho, sendo que
nestas últimas o trabalhador guarda autonomia frente ao empregador8.
Esta característica deve-se ao facto do trabalhador sujeitar-se aos poderes de
autoridade – o poder de Diretivo, Regulamentar e Disciplinar - que a Lei de Trabalho confere
a entidade empregadora, nos termos do artigo 60º.

3. O Dever de Sigilo Profissional do Trabalhador.

Depois de constituída a relação jurídica laboral nos termos referidos na secção


anterior, o Trabalhador encontra-se vinculado a entidade empregadora e em função disso fica
este adstrito a uma serie deveres laborais, que advém da própria Lei do Trabalho ou do
Contrato de Trabalho.
Os deveres laborais do Trabalhador estão previstos no artigo 58º da Lei do
Trabalho, entretanto, dos vários deveres laborais consagrados neste artigo importo para a
presente pesquisa o dever laboral que consta da alínea f), que consagra o Dever de Sigilo
Profissional, ao determinar que, o trabalhador tem por dever "guardar sigilo profissional, não
divulgando, em caso algum, informações referentes à sua organização, métodos de produção
ou negócios da empresa ou estabelecimento".
O dever de sigilo profissional do trabalhador, previsto na alínea f) do artigo
58.º da Lei do Trabalho, estabelece essencialmente que o trabalhador não deve divulgar

8
[...] A característica essencial está em que o trabalhador presta serviços, por força da relação de emprego,
subordinado às ordens legítimas do empregador.” RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do
Trabalho. 5ª ed. Curitiba: Juruá,1995. Pág. 52.

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determinadas informações cujo conhecimento advenha do decurso da relação laboral,


independentemente da veracidade dos factos que as compõem9.

Para a melhor compreensão desse dever de sigilo profissional é mister


importante termos em conta a noção de um outro aspecto, o segredo profissional, ou seja,
para conseguirmos entender o dever de sigilo devemos antes conhecer o que é segredo
profissional.
Etimologicamente a palavra segredo tem a sua génese do latim secretum, que
quer dizer, um conhecimento particular não divulgado ao publico, sob reserva, que não se
pretende revelar10. Remete à ideia de separação ou segregação, cuidando-se, nesses termos,
de um saber isolado por obstáculos para que não venha a ser conhecido por outras pessoas11.
Por essa razão, há alguns autores, como o caso de MORAIS SILVA, que o
defina como “causa oculta de que se faz mistério; sentimento íntimo que não se comunica a
outrem”, diferenciando-o do “segredo de polichinelo”, que seria aquele conhecido por
todos12.
O nosso legislador pátrio não define o termo «segredo profissional», assim
como a maior parte dos outros ordenamento jurídico, facto que leva o autor, GOMEZ
SEGADE a afirmar e a advertir que nenhum país chegou a definir, em suas leis, o seu
conceito de segredo, a despeito de ser termo de manejo recorrente nas diferentes áreas
jurídicas. O que gera alguma dificuldade de se chegar a uma definição satisfatória, lembra o
autor, porém, que o significado comum de segredo é explícito: é aquilo que está reservado e
oculto13.
É com base nisso que recorremos a doutrina para nos satisfazer no quesito da
noção de segredo, e com isto, temos autores que tentaram conceituar o termo segredo, como
o, FEKETE, que observa o segredo como sendo aquilo que “exprime o que se tem em

9
ZOLLNER, Wolfgang e KARL-GEORG, Loritz, Arbeitsrecht: ein studienbuch, Munchen, Beck, 1992, Pág.
481.
10
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho (atualiz.) Rio de
Janeiro, 2003, Pág. 1262.
11
GOMEZ SEGADE, Jose Antonio. El secreto industrial (know-how): concepto y protección. Madrid:
Editorial Tecnos, 1974, Pág. 42.
12
MORAIS SILVA, Antonio de. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Atualizadores: Augusto Moreno,
Cardoso Júnior e José Pedro Machado. Vol. IX. 10ª ed. Lisboa: Editorial Confluência, 1949, Pág. 983.
13
GOMEZ SEGADE, Jose Antonio. El secreto industrial (know-how): concepto y protección. Madrid:
Editorial Tecnos, 1974, Pág. 41.

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conhecimento particular, sob reserva, ou ocultamente. É o que não se deve, não se quer, ou
não se pode revelar, para que não se torne público, ou conhecido14”.
Nesta mesma senda, temos o doutrinário DORVAL DE LACERDA, que se
limita a apresentar o conceito de “segredo de empresa”, que no seu entender, "seria todo acto,
facto ou coisa que não possa ou não deva ser tornado público, sob pena de causar prejuízo15.
No entanto, essa nocao de segredo foi objecto de críticas por parte do autor Wagner D. Giglio
por se limitar apenas à esfera empresarial.
Segundo WAGNER D. GIGLIO, segredo é tudo: acto, facto ou coisa, não
possuindo, como requisito essencial, a exclusividade, ao argumento de que algum método
exclusivo pode não ser segredo16.
Dentre todos esses conceitos, todavia, reputa-se como o mais adequado o de
Gomez Segade, para quem segredo corresponde a um conhecimento reservado. Trata-se, em
outras palavras, de uma postura mental, de uma situação fática. Não poderia ser definido
como “coisa”, pois não consistem as coisas no segredo em si, mas tão-somente no seu objeto.
Segredo seria, portanto, determinado conhecimento reservado, tido por alguém que deseja
conservá-lo exclusivamente com relação a outras pessoas17.
Esclarecida a noção de segredo e da sua obrigação para o trabalhador enquanto
parte de um contrato de trabalho com a entidade empregadora, a duvida que surge é a de-se
saber que tipo de informação que o legislador pretende proteger ao consagrar essa obrigação
ao Trabalhador? Ou será, todo tipo de informação produzida na empresa?
Em resposta a essa questão o Professor JORGE LEITE, ensina que o dever de
sigilo profissional refere-se a informações que não possuam caráter público e cujo
conhecimento decorre da posição que as partes ocupam no desenrolar do vínculo jurídico18,
e a sua divulgação deve representar um prejuízo para a contraparte.

14
FEKETE, Elisabeth Kasznar. O Regime Jurídico do Segredo de Indústria e Comércio no Direito Brasileiro.
Rio de Janeiro: Forense, 2003, Pág. 40.
15
LACERDA, Dorval. A Falta Grave no Direito do Trabalho. 4ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas S/A,
1976, Pág. 226.
16
GIGLIO, Wagner D. Justa Causa. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000, Págs. 182-183.
17
ICHINO, Pietro. Diritto alla riservatezza e diritto al segreto nel rapporto di lavoro: La disciplina giuridica
della circolazione delle informazioni nell’impresa. Milano: Giuffrè, 1979, Pág. 142
18
LEITE, Jorge, Direito do Trabalho, II, Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra,
1999, Pág. 101.

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Para a autora LUARA MOTA, serão irrelevantes as “informações de teor


eminentemente técnico que sejam facilmente apreensíveis por qualquer terceiro que trabalhe
na mesma área19”.
O trabalhador não deve difundir informações referentes à empresa, entre as
quais, métodos de produção e de gestão, lista de clientes e de fornecedores, condições
contratuais de outros trabalhadores, situação financeira e preços praticados pela empresa20.
A obrigação de sigilo do empregador recai sobre informações relativas ao trabalhador. A
posição de supremacia do empregador permite-lhe obter informações sobre a vida privada,
aptidões pessoais e profissionais do trabalhador, prerrogativa que se estende à fase preliminar
do contrato de trabalho21.
Observa JOÃO ZENHA MARTINS, que o trabalhador não pode divulgar
segredos industriais (fórmulas ou procedimentos de confeção, fabrico, software, reparação
ou montagem); segredos comerciais (aspetos relacionados com listas reservadas de contactos
com clientes ou fornecedores ou cálculos de preços e estratégias de mercado) e segredos
organizativos e financeiros (contratos, relações creditícias, planos de atividade e projetos)22.

4. A Cessação do Contrato de Trabalho e dos Deveres Laborais

O vinculo contratual entre a entidade empregadora e o trabalhador não eterno,


querendo isso significar que o contrato de trabalho ele se extingui e essa extinção produz
alguns efeitos na esfera jurídica do trabalhador e da empresa.
Nos termos do artigo 124º da Lei do Trabalho, o contrato de trabalho pode
cessar por:
a) caducidade;
b) acordo revogatório;
c) denúncia por qualquer das partes;
d) rescisão por qualquer das partes contratantes com justa causa.

19
MOTA, Laura, O Dever de Lealdade do Trabalhador após a Cessação do Contrato de Trabalho, Coimbra,
Almedina, 2015, Pág. 160.
20
LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes, Direito do Trabalho, Coimbra, Almedina, 2014, Pág. 239.
21
MARQUES DE CARVALHO, Alexandre de Jesus de Almeida, Deveres de Lealdade na Relação de
Trabalho, Desertacao (Mestrado em Direito das Empresas), ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, 2016,
Pág. 58.
22
MARTINS, João Zenha, Dos Pactos de Limitação à Liberdade de Trabalho, Coimbra, Almedina, 2016, Pág.
793.

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A este leque de formas de cessação do contrato de Trabalho podemos acrescer


o despedimento individual ou colectivo dos trabalhadores, nos termos do artigo 67º da Lei
do Trabalho, enquanto a sanção mais gravosa que implica no desligamento do trabalhador a
entidade empregadora em função de justa causa, determinada pela violação dos deveres
laborais através do processo disciplinar.
Essas formas de cessação do contrato de trabalho têm como efeito principal a
extinção das obrigações das partes relativas ao cumprimento do vínculo laboral e a
constituição de direitos e deveres, nos casos especialmente previstos na lei do trabalho, por
exemplo, em caso de rescisão do contrato de trabalho pelo trabalhador com justa causa, lhe
confere direito a uma indemnização determinada nos termos do artigo 128º da Lei do
Trabalho.
E esses efeitos jurídicos da cessação do contrato de trabalho produzem-se a
partir do conhecimento da mesma por parte do outro contratante, mediante documento
escrito, conforme determina o artigo 124º, n.º 3 da Lei do Trabalho.
É em função disso nos questionamos, será que o dever de sigilo profissional
ele também se extingue com a cessação do contrato de trabalho, assim como determina a Lei
de Trabalho? E o mais importante, se a resposta a primeira questão for no sentido negativo,
então nos questionamos mais, qual será a consequência jurídica que vai recair ao ex
trabalhador que vai violar esse dever jurídico laboral?
A respostas a essas questões são as que guiam a secção posterior do presente
trabalho.

5. Responsabilidade do Trabalhador pela Violação do Sigilo Profissional Depois da


Cessação do Contrato de Trabalho

Buscando responder as questões apresentada na secção anterior, a doutrina,


diverge na resposta quanto a primeira questão, uma defende a cessação do dever de sigilo
profissional juntamente com o contrato de trabalho, enquanto que, por outro lado, a outra
defende a permanência do dever sigilo profissional apos a cessação do contrato de trabalho,
em função do principio da boa-fé contratual.

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A primeira teoria é defendida por PEDRO ROMANO, que diz que “na falta
de cláusula contratual ou de disposição legal que imponha uma obrigação pós-contratual de
sigilo, finda a relação laboral não subsiste um dever de lealdade para com empregador23”.
E a segunda doutrina é avançada por GIORGIO CIAN, que entende que o
dever de sigilo profissional "permanece enquanto a sua necessidade persistir, mesmo que já
tenha cessado o vínculo laboral"24.
Indo ao encontro da nossa legislação pátria, percebemos que não temos
nenhuma disposição legal que determina a permanência dos efeitos do dever de sigilo
profissional apos a cessação do contrato de trabalho. No entanto, como ficou referenciado
que nos termos do artigo 124º, n.º 2, a cessação do contrato de trabalho extingue tanto as
obrigações principais quanto as acessórias do contrato de trabalho e, entre elas, está a
obrigação de sigilo profissional.25”.
Na mesma linha, NELSON MANNRICH afirma que, extinto o contrato de
trabalho, desaparece o dever de fidelidade, não constituindo justa causa a utilização, em
proveito pessoal, da experiência adquirida na empresa anterior, excepto se constituir
concorrência desleal26.
Apesar da nossa lei laboral ser omissa quanto a essa questão, nos somos da
opinião de que, ao Contrato de Trabalho é aplicado o principio da Boa-fé aplicável a todos
os contratos civis previstos no Código Civil, e é em função disso, que defende que o dever
de sigilo profissional do trabalhador não se extingui conjuntamente com o contrato de
trabalho, sendo que, a boa-fé contratual impõe a proteção das partes contratuais, seja ela na
fase pré-contratual, fase contratual ou na fase pós-contratual.
Ou seja, o princípio da boa fé impõe que as partes continuem adstritas a
deveres de sigilo. O trabalhador não pode revelar factos cujo conhecimento resultou das
funções que desempenhou27.

23
MARTINEZ, Pedro Romano et al, Código do Trabalho Anotado, Coimbra, Almedina, 2013, Pág. 480.
24
CIAN, Giorgio e ALBERTO, Trabucchi, Commentario Breve al Codice civile, Padova, CEDAM, 1997, Pág.
2035.
25
LACERDA, Dorval de. A falta grave no direito do trabalho. 4ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas,
1976, Págs. 184-185.
26
MANNRICH, Nelson. Modernização do contrato de trabalho. São Paulo: LTr, 1998, Pág. 283.
27
CIAN, Giorgio e ALBERTO, Trabucchi, Commentario Breve al Codice civile, Padova, CEDAM, 1997, Pág.
2035. MARQUES DE CARVALHO, Alexandre de Jesus de Almeida, Deveres de Lealdade na Relação de
Trabalho, Desertacao (Mestrado em Direito das Empresas), ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, 2016,
Pág. 58

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O que justifica na verdade a continuidade da obrigação de sigilo após a


cessação do contrato de trabalho é a obrigação de lealdade, que emerge do principio da boa-
fé.
Sendo que, o trabalhador já se encontra desvinculado da entidade empregado,
quando este violar o dever de sigilo profissional a entidade empregadora pode recorrer a
figura da responsabilidade civil para sancionar a conduta do seu ex trabalhador.
Nos ensina, EDUARDO MILLÉO, que a relação obrigacional decorrente do
contrato de trabalho gera efeitos até mesmo após sua extinção. Significa dizer que depois de
extinto, pelo cumprimento ou por outra forma diversa, um processo contratual, subsistem,
ainda, alguns deveres para os ex-contraentes; temos assim a chamada responsabilidade pós-
contratual. Dessa maneira é que se pauta a ideia de que a relação deve se desenvolver dentro
de uma ordem de cooperação, onde se sustenta a possibilidade de que, mesmo após adimplido
o dever principal, ainda é possível a relação jurídica perdurar, em razão de outro dever
secundário independente28.
Por regra, o dever de sigilo profissional não cessa mutuamente com o contrato
de trabalho, significando isso que, as partes contratuais – a entidade empregadora e o
trabalhador – continuam vinculado ao dever de sigilo profissional na fase pós-contratual, em
cumprimento ao principio da boa-fé, sob a pena de reparação do dano causado pelo
cumprimento desse dever jurídico laboral, nos termos do artigo 483º do C. Civil.
Estamos perante aqui, a aquilo que a doutrina chamada teoria da culpa post
pactum finitum, ou a responsabilidade civil pós-contratual por se caracterizar pela obrigação
de reparação de danos advindos após a cessação do contrato.

28
BARACAT, Eduardo Milléo. A boa-fé no direito individual do trabalho. São Paulo: LTr, 2003. Pág. 262-
263.

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Considerações Finais

Analisado o tema proposto a pesquisa sobre "Responsabilidade Civil do


Trabalhador pela Violação do Sigilo Profissional Depois a Cessação do Contrato de
Trabalho", chegou-se as seguintes conclusões finais: a presente pesquisa começou por
delimitar a noção do Contrato de Trabalho, na qual constatou-se que o Contrato de Trabalho
apesar de ter uma regulamentação própria, na Lei 23/2007, de 01 de agosto, este é um
Contrato atípico e nominado do Direito das Obrigações, regidos nos termos do artigo 1152º
do C. Civil, que o define como sendo "aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante
retribuição, a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade
e direcção desta". Esta noção de contrato de trabalho foi acolhida pela Lei do Trabalho, no
artigo 18º ao estabelecer que, "entende-se por contrato de trabalho o acordo pelo qual uma
pessoa, trabalhador, se obriga a prestar a sua actividade a outra pessoa, empregador, sob a
autoridade e direcção desta, mediante remuneração". Nestas duas noções similares do
Contrato de Trabalho, tira-se uma característica anormal dos contratos em gerais, que é a
subordinação, ou seja, o difere o contrato de trabalho dos demais contratos análogos, como
o contrato de prestação de serviço, regulado no artigo 1154º do C. Civil, é o caracter da
subordinação a que o Trabalhador fica adstrito ao empregador.
Como se observou no trabalho é a partir do contrato do trabalho é que o
Trabalhador fica vinculado a entidade empregadora e por corolário, o trabalhador fica sujeito
ao cumprimento dos deveres contratuais ou legais do contrato do Trabalho e dentre estes
deveres temos o dever legal do sigilo profissional, previsto na alínea f) do artigo 58º da Lei
do Trabalho, que consiste basicamente na obrigação em que o Trabalhador esta adstrito de
não publicar ou divulgar informações que sejam considerados pela entidade empregadora
como segredos ou confidencias, entretanto, como ficou demostrado na presente pesquisa, que
o dever do sigilo profissional distingue-se dos demais deveres laborais pelo facto ser um
dever que perdura no tempo, querendo isto dizer que, o Dever de sigilo profissional ele não
se extingue com o contrato de trabalho, em virtude da boa-fé contratual.
Ao final, conclui-se que, o dever de sigilo profissional constitui uma
manifestação do principio da boa-fé contratual, na proteção das informações contratuais, e é
portanto, a extensão do princípio da boa-fé, incidindo também na fase pós-negocial, querendo
isto dizer que, a violação do dever de sigilo profissional deve ser avaliado segundo o padrão

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do bonus pater familias, previsto no artigo 487.º, n.º 2, do CC, em face das circunstâncias de
cada caso, ou seja, o inadimplemento deste dever contratual gera a responsabilidade civil
contratual para o trabalhador incumprido, no entanto, para que essa responsabilidade civil se
verifique é necessário que se constatem os pressupostos da responsabilidade civil previstos
no artigo 483º, n.º 1 do C. Civil, a acção ou conduta humana, a culpa, o nexo causal e o dano.

7. Referencias Bibliográficas

 Documentos Legislativos

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República, (2018) in Boletim da


República I série nº 115 de 12 de Junho.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 21/2007 de 1 de Agosto, Lei de Trabalho In
Boletim da Republica, I Série N.º 31 de 01 de Agosto.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-Lei n.º 47 344 de 25 de Novembro de 1966,


Código Civil, In Boletim da Republica, I Série Nº? de 25 de Novembro de 1966.

 Manuais, Livros, Revistas e Internet

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2003.

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