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Artigo Cientifico Do Modulo Contratos em Especial
Artigo Cientifico Do Modulo Contratos em Especial
Sumário:
Resumo
O presente artigo tem como tema “Responsabilidade Civil do Trabalhador pela Violação do
Sigilo Profissional Depois da Cessação do Contrato de Trabalho”. Esta temática prende-se
na necessidade de buscarmos entender a susceptibilidade que a entidade empregadora
enquanto a ofendida, tem de poder responsabilizar civilmente um ex trabalhador pela
violação do sigilo profissional no momento posterior a cessação da relação jurídica laboral
que os vinculava. O presenta trabalho busca abordar o complexo problema atinente à
responsabilidade civil do trabalhador que violou o dever de sigilo profissional apos a extinção
do contrato de trabalho, atendendo ao facto de que, as relações de trabalho estão em constante
mudanças, visto que os contratos de trabalho passam por várias vicissitudes, entre elas, temos
a extinção do próprio contrato de trabalho, o que significa que os trabalhadores afectos a uma
referente entidade empregadora não estão ligados a ela eternamente. Entretanto, face a isso,
os trabalhadores que se desligam de uma entidade empregadora saem dela com inúmeras
informações importantes desta, tendo em consideração as funções do antigo posto de
trabalho, e estes mesmos Trabalhadores depois dê-se desvincular da antiga entidade
empregadora vão em busca de novos desafios em outras empresas que por ventura podem ser
concorrentes directo da antiga entidade empregadora e isso pode levar há várias situações
constrangedoras ao direito, como a que pretendemos discutir aqui, a divulgação ou a quebra
do sigilo profissional que o trabalhador esta obrigado com a antiga entidade empregadora
pelo contrato de Trabalho, de modo a garantir o seu novo emprego. Portanto, é deveras
importante buscarmos saber se essa entidade empregadora tem direito dê-se fazer ressarcir
pelos danos que possa vir a ter pela divulgação ou publicação da informação sigilosa ainda
1
Mestrando em Direito Civil na Faculdade de Direito (FADIR) da Universidade Católica de Moçambique,
Jurista e Docente assistente da Faculdade de Gestão de Recursos Naturais e Mineralogia (FAGRENM), e-mail:
nahocamunati.017@gmail.com.
Abstract
The present article has as its theme "Civil Liability of the Worker for Violation of
Professional Secrecy after Termination of the Employment Contract". This theme is related
to the need to understand the susceptibility that the employer, as the offended party, has to
be able to hold a former employee civilly liable for the violation of professional secrecy after
the termination of the employment relationship that bound them. This paper seeks to address
the complex problem of the civil liability of an employee who has violated the duty of
professional secrecy after the termination of the employment contract, given the fact that
labor relations are constantly changing, since employment contracts go through various
vicissitudes, including the termination of the employment contract itself, which means that
workers assigned to a particular employer are not bound to it eternally. However, in light of
this, workers who leave an employer leave that employer with countless important pieces of
information, taking into consideration the functions of the former job position, and these
same workers, after leaving the former employer, go in search of new challenges in other
companies that may be in direct competition with the former employer, and this may lead to
various situations that are embarrassing to the law, such as the one we intend to discuss here,
the disclosure or the breach of professional secrecy that the worker is bound to with the
former employer by the Labor Agreement, in order to guarantee his or her new job.
Therefore, it is very important for us to find out whether the employer has the right to be
compensated for the damages he may incur from the disclosure or publication of the
confidential information, even if the fact has occurred at a time when the breaching Worker
was no longer bound to the employer and, consequently, not bound to the fulfillment of
contractual duties, due to the fact that the employment contract has been terminated? And if
so, what would be the appropriate type of civil liability (between contractual or extra-
contractual liability) to hold the Worker liable? The answers to these questions will serve as
a roadmap to the present article that seeks other territories of solid and sustained knowledge.
So that, at the end of the journey, it will feel able to identify and justify whether a certain
worker has violated his duty of confidentiality with his former employer and, as a result,
debit him with the due legal consequences admitted in the Brazilian legal system. To carry
out this research, bibliographical and qualitative research was applied. The methods applied
were legal, hermeneutic, and documental. The data survey was bibliographic.
1. Introdução
De modo com que este objectivo seja alcançado foram trancados os seguintes objectivos
específicos: 1. descrever os contornos legais e doutrinários sobre contrato de trabalho e o
dever do sigilo profissional; 2. fazer um enquadramento legal da responsabilidade civil pela
violação do dever de sigilo profissional após a cessação do vínculo contratual laboral; 3.
analisar os limites da aplicabilidade do dever de sigilo profissional do trabalhador.
No tange a metodologia aplicada ao presente trabalho, a pesquisa é básica,
quanto a finalidade e qualitativa, quanto a abordagem; também é explicativa, quanto aos
objectivos e é bibliográfica e documental no que diz respeito aos procedimentos técnicos.
Outrossim, o método aplicado para a elaboração do presente artigo é método jurídico através
da hermenêutica jurídica, tendo em conta aquilo que é o objecto de estudo “Responsabilidade
Civil do Trabalhador pela Violação do Sigilo Profissional Depois da Cessação do Contrato
de Trabalho”.
2
À distinção entre trabalho autônomo e trabalho subordinado prendem-se as duas categorias de locação de
sérviços, vindas do Direito Romano: locatio operis e locatio operarum. Na primeira, é o resultado do trabalho
que importa; na segunda, a própria força de trabalho. Enquanto na locatio operis o risco do resultado permanece
a cargo de quem se obriga a realizar certa obra (empreiteiro), na locatio operarum recai sobre aquele que
adquire o direito de dispor do trabalho alheio (empregador).” SÜSSEKIND, Arnaldo [et al]. Instituições de
Direito do Trabalho. Volume I. 22. Ed. São Paulo: LTr, 2005. Pág.232.
3
ARAÚJO, Francisco Rossal de. A Boa-fé nos Contratos de Emprego. São Paulo: LTr, 1996. Pág. 115.
4
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho -29ª edição – São Paulo: Atlas, 2013. Pág.94.
5
RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. 5ª ed. Curitiba: Juruá,1995. Pág. 52
6
HUECK, Alfred e H. C. Nipperdey, Compendio de Derecho del Trabajo, Madrid, Editorial Revista de
Derecho Privado, (1963), Págs. 84-85.
7
HUECK, Alfred e H. C. Nipperdey, Compendio de Derecho del Trabajo, Madrid, Editorial Revista de
Derecho Privado, (1963), Págs. 84-85.
a prestar a sua actividade a outra pessoa, empregador, sob a autoridade e direcção desta,
mediante remuneração."
Destas duas noções legais do Contrato de Trabalho, podemos destacar três
elementos essências: primeiro temos a prestação de uma actividade, segundo, a subordinação
do trabalhador ou a execução da actividade com subordinação jurídica e por fim, o terceiro
elemento, temos a retribuição.
Dessas características essências aqui apresentada, como nos referimos
anteriormente, é o elemento subordinação do trabalhador ao empregador a principal
característica que difere a relação de emprego das demais relações de trabalho, sendo que
nestas últimas o trabalhador guarda autonomia frente ao empregador8.
Esta característica deve-se ao facto do trabalhador sujeitar-se aos poderes de
autoridade – o poder de Diretivo, Regulamentar e Disciplinar - que a Lei de Trabalho confere
a entidade empregadora, nos termos do artigo 60º.
8
[...] A característica essencial está em que o trabalhador presta serviços, por força da relação de emprego,
subordinado às ordens legítimas do empregador.” RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do
Trabalho. 5ª ed. Curitiba: Juruá,1995. Pág. 52.
9
ZOLLNER, Wolfgang e KARL-GEORG, Loritz, Arbeitsrecht: ein studienbuch, Munchen, Beck, 1992, Pág.
481.
10
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho (atualiz.) Rio de
Janeiro, 2003, Pág. 1262.
11
GOMEZ SEGADE, Jose Antonio. El secreto industrial (know-how): concepto y protección. Madrid:
Editorial Tecnos, 1974, Pág. 42.
12
MORAIS SILVA, Antonio de. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Atualizadores: Augusto Moreno,
Cardoso Júnior e José Pedro Machado. Vol. IX. 10ª ed. Lisboa: Editorial Confluência, 1949, Pág. 983.
13
GOMEZ SEGADE, Jose Antonio. El secreto industrial (know-how): concepto y protección. Madrid:
Editorial Tecnos, 1974, Pág. 41.
conhecimento particular, sob reserva, ou ocultamente. É o que não se deve, não se quer, ou
não se pode revelar, para que não se torne público, ou conhecido14”.
Nesta mesma senda, temos o doutrinário DORVAL DE LACERDA, que se
limita a apresentar o conceito de “segredo de empresa”, que no seu entender, "seria todo acto,
facto ou coisa que não possa ou não deva ser tornado público, sob pena de causar prejuízo15.
No entanto, essa nocao de segredo foi objecto de críticas por parte do autor Wagner D. Giglio
por se limitar apenas à esfera empresarial.
Segundo WAGNER D. GIGLIO, segredo é tudo: acto, facto ou coisa, não
possuindo, como requisito essencial, a exclusividade, ao argumento de que algum método
exclusivo pode não ser segredo16.
Dentre todos esses conceitos, todavia, reputa-se como o mais adequado o de
Gomez Segade, para quem segredo corresponde a um conhecimento reservado. Trata-se, em
outras palavras, de uma postura mental, de uma situação fática. Não poderia ser definido
como “coisa”, pois não consistem as coisas no segredo em si, mas tão-somente no seu objeto.
Segredo seria, portanto, determinado conhecimento reservado, tido por alguém que deseja
conservá-lo exclusivamente com relação a outras pessoas17.
Esclarecida a noção de segredo e da sua obrigação para o trabalhador enquanto
parte de um contrato de trabalho com a entidade empregadora, a duvida que surge é a de-se
saber que tipo de informação que o legislador pretende proteger ao consagrar essa obrigação
ao Trabalhador? Ou será, todo tipo de informação produzida na empresa?
Em resposta a essa questão o Professor JORGE LEITE, ensina que o dever de
sigilo profissional refere-se a informações que não possuam caráter público e cujo
conhecimento decorre da posição que as partes ocupam no desenrolar do vínculo jurídico18,
e a sua divulgação deve representar um prejuízo para a contraparte.
14
FEKETE, Elisabeth Kasznar. O Regime Jurídico do Segredo de Indústria e Comércio no Direito Brasileiro.
Rio de Janeiro: Forense, 2003, Pág. 40.
15
LACERDA, Dorval. A Falta Grave no Direito do Trabalho. 4ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas S/A,
1976, Pág. 226.
16
GIGLIO, Wagner D. Justa Causa. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000, Págs. 182-183.
17
ICHINO, Pietro. Diritto alla riservatezza e diritto al segreto nel rapporto di lavoro: La disciplina giuridica
della circolazione delle informazioni nell’impresa. Milano: Giuffrè, 1979, Pág. 142
18
LEITE, Jorge, Direito do Trabalho, II, Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra,
1999, Pág. 101.
19
MOTA, Laura, O Dever de Lealdade do Trabalhador após a Cessação do Contrato de Trabalho, Coimbra,
Almedina, 2015, Pág. 160.
20
LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes, Direito do Trabalho, Coimbra, Almedina, 2014, Pág. 239.
21
MARQUES DE CARVALHO, Alexandre de Jesus de Almeida, Deveres de Lealdade na Relação de
Trabalho, Desertacao (Mestrado em Direito das Empresas), ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, 2016,
Pág. 58.
22
MARTINS, João Zenha, Dos Pactos de Limitação à Liberdade de Trabalho, Coimbra, Almedina, 2016, Pág.
793.
A primeira teoria é defendida por PEDRO ROMANO, que diz que “na falta
de cláusula contratual ou de disposição legal que imponha uma obrigação pós-contratual de
sigilo, finda a relação laboral não subsiste um dever de lealdade para com empregador23”.
E a segunda doutrina é avançada por GIORGIO CIAN, que entende que o
dever de sigilo profissional "permanece enquanto a sua necessidade persistir, mesmo que já
tenha cessado o vínculo laboral"24.
Indo ao encontro da nossa legislação pátria, percebemos que não temos
nenhuma disposição legal que determina a permanência dos efeitos do dever de sigilo
profissional apos a cessação do contrato de trabalho. No entanto, como ficou referenciado
que nos termos do artigo 124º, n.º 2, a cessação do contrato de trabalho extingue tanto as
obrigações principais quanto as acessórias do contrato de trabalho e, entre elas, está a
obrigação de sigilo profissional.25”.
Na mesma linha, NELSON MANNRICH afirma que, extinto o contrato de
trabalho, desaparece o dever de fidelidade, não constituindo justa causa a utilização, em
proveito pessoal, da experiência adquirida na empresa anterior, excepto se constituir
concorrência desleal26.
Apesar da nossa lei laboral ser omissa quanto a essa questão, nos somos da
opinião de que, ao Contrato de Trabalho é aplicado o principio da Boa-fé aplicável a todos
os contratos civis previstos no Código Civil, e é em função disso, que defende que o dever
de sigilo profissional do trabalhador não se extingui conjuntamente com o contrato de
trabalho, sendo que, a boa-fé contratual impõe a proteção das partes contratuais, seja ela na
fase pré-contratual, fase contratual ou na fase pós-contratual.
Ou seja, o princípio da boa fé impõe que as partes continuem adstritas a
deveres de sigilo. O trabalhador não pode revelar factos cujo conhecimento resultou das
funções que desempenhou27.
23
MARTINEZ, Pedro Romano et al, Código do Trabalho Anotado, Coimbra, Almedina, 2013, Pág. 480.
24
CIAN, Giorgio e ALBERTO, Trabucchi, Commentario Breve al Codice civile, Padova, CEDAM, 1997, Pág.
2035.
25
LACERDA, Dorval de. A falta grave no direito do trabalho. 4ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas,
1976, Págs. 184-185.
26
MANNRICH, Nelson. Modernização do contrato de trabalho. São Paulo: LTr, 1998, Pág. 283.
27
CIAN, Giorgio e ALBERTO, Trabucchi, Commentario Breve al Codice civile, Padova, CEDAM, 1997, Pág.
2035. MARQUES DE CARVALHO, Alexandre de Jesus de Almeida, Deveres de Lealdade na Relação de
Trabalho, Desertacao (Mestrado em Direito das Empresas), ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, 2016,
Pág. 58
28
BARACAT, Eduardo Milléo. A boa-fé no direito individual do trabalho. São Paulo: LTr, 2003. Pág. 262-
263.
Considerações Finais
do bonus pater familias, previsto no artigo 487.º, n.º 2, do CC, em face das circunstâncias de
cada caso, ou seja, o inadimplemento deste dever contratual gera a responsabilidade civil
contratual para o trabalhador incumprido, no entanto, para que essa responsabilidade civil se
verifique é necessário que se constatem os pressupostos da responsabilidade civil previstos
no artigo 483º, n.º 1 do C. Civil, a acção ou conduta humana, a culpa, o nexo causal e o dano.
7. Referencias Bibliográficas
Documentos Legislativos
ARAÚJO, Francisco Rossal de. A Boa-fé nos Contratos de Emprego. São Paulo: LTr, 1996.
BARACAT, Eduardo Milléo. A boa-fé no direito individual do trabalho. São Paulo: LTr,
2003.
ICHINO, Pietro. Diritto alla riservatezza e diritto al segreto nel rapporto di lavoro: La
disciplina giuridica
LACERDA, Dorval. A Falta Grave no Direito do Trabalho. 4ª ed. Rio de Janeiro: Edições
Trabalhistas S/A, 1976.
LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes, Direito do Trabalho, Coimbra, Almedina, 2014.
LEITE, Jorge, Direito do Trabalho, II, Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade
de Coimbra, 1999.
MARTINEZ, Pedro Romano et al, Código do Trabalho Anotado, Coimbra, Almedina, 2013.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho -29ª edição – São Paulo: Atlas, 2013.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho (atualiz.)
Rio de
Janeiro, 2003.
SÜSSEKIND, Arnaldo [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Volume I. 22. Ed. São
Paulo: LTr, 2005.