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Análise Da Mensagem Poética Do Soneto
Análise Da Mensagem Poética Do Soneto
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Neste soneto, o panorama geral que se oferece é, acima de tudo, o de uma
incessante inquietação espiritual, a infinita procura de um sentido da vida
ou de uma finalidade ou propósito para a existência humana.
o Exemplo
«Paladino do amor, busco anelante/ O palácio encantado da Ventura!»
(vv. 3-4)
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É sob o signo deste sujeito, de certo modo, entregue a si próprio e vítima
de uma sensação de abandono que o soneto se constrói. Perante a
insatisfação do real, o eu lírico manifesta-se demasiado frustrado e
desiludido, acabando por se refugiar num sonho (o soneto) que, no fundo,
funciona como metáfora da vida humana e da errância que a caracteriza: a
busca incessante de um ideal pleno de perfeição.
o Exemplo 1
«Eu sou o Vagabundo, o Deserdado.../ Abri-vos portas d’ouro, ante meus
ais!»
(vv. 10-11)
o Exemplo 2
«Abrem-se as portas d’ouro, com fragor…»
(v. 12)
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No poema, a distância entre sonho e realidade parece incerta. O sujeito
poético parece aproximar-se do próprio Antero de Quental: utópico,
revolucionário, forte, erguendo a «espada» defensora de valores, como a
Liberdade, o Amor e a Justiça. No entanto, o caminho faz-se pela dor e
pela dúvida e converge no drama da consciência humana, tumultuária e
expectante, na perspetiva do poeta do século XIX.
o Exemplo 1
«Mas já desmaio, exausto e vacilante,/ Quebrada a espada já, rota a
armadura...»
(vv. 5-6)
o Exemplo 2
«Com grandes golpes bato à porta e brado:»
(v. 9)
Temática poética
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Este poema pode inscrever-se numa linha de pensamento anteriano
subjacente a duas facetas demarcadas: uma combativa ou intelectual, que
expressa as aspirações do sujeito poético enquanto pensador; outra
negativa ou pessimista, que revela o lado emotivo e temperamental do eu
lírico.
O soneto reflete as Configurações do Ideal na poesia anteriana, na medida
em que o sujeito poético busca a felicidade («o palácio da Ventura») numa
tentativa onírica de fugir à realidade traumatizante. Porém, essa busca
desemboca na frustração e na desilusão, devido à impossibilidade de
realização do ideal projetado.
o Exemplo
«Abrem-se as portas d’ouro, com fragor…/ Mas dentro encontro só, cheio
de dor,/ Silêncio e escuridão - e nada mais!»
(vv. 12-14)
Título
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«O palácio da Ventura» configura um lugar, um espaço repleto de
esperança e de sonho; de vida e de felicidade plena, no qual o sujeito
poético possa atingir o seu ideal. Este cenário representa metaforicamente
a projeção de uma vida diferente daquela que é vivida pelo sujeito poético.
Este sente a necessidade de encontrar um novo local onde possa aceder à
concretização das suas vontades e convicções.
o Exemplo
«O palácio encantado da Ventura!»
(v. 4)
Estrutura narrativa
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É possível identificar uma estrutura narrativa neste soneto, na medida em
que podemos detetar as cinco categorias da narrativa: narrador, tempo,
espaço, personagens, ação. O sujeito poético,
simultaneamente narrador, institui o discurso na primeira pessoa do
singular, constituindo-se o protagonista dos acontecimentos partilhados.
Situa temporalmente o início da sua narrativa e fá-lo coincidir com
o tempo do discurso.
o Exemplo
«Sonho que sou um cavaleiro andante»
(v. 1)
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De seguida, refere que atravessa caminhos tortuosos («desertos») durante
vários dias («por sóis») e durante o período noturno («por noite escura»).
Deste modo, indica os referentes espácio-temporais da ação que
protagoniza.
o Exemplo
«Por desertos , por sóis , por noite escura ,»
(v. 2)
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O eu lírico encontra-se numa demanda (cruzada), pois busca atingir um
lugar «encantado», no qual acredita que irá encontrar algo profundamente
desejado, relatando, assim, a sua ação e o propósito da mesma, o que
permite inclusive dividir o soneto em três momentos narrativos: introdução
(v. 1), desenvolvimento (vv. 2-12) e conclusão (vv. 13-14). Conclui-se
assim que, neste texto poético, estão presentes as categorias da narrativa.
o Exemplo
«Sonho que sou um cavaleiro andante./ Por desertos, por sóis,
por noite escura,/ Paladino do amor, busco anelante/ O palácio
encantado da Ventura!»
(vv. 1-4)
o Exemplo
«Mas dentro encontro só, cheio de dor,/ Silêncio e escuridão – e nada
mais!»
(vv. 13-14)
Desenvolvimento de ideias
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O poema inicia-se com a forma verbal do verbo «sonhar» no presente do
indicativo, na primeira pessoa do singular, o que significa que o tema do
texto parte de uma realidade imaginada por um eu. O sujeito poético
declara que sonha ser «um cavaleiro andante». O verso finaliza com um
ponto final, demarcando-se esta afirmação como a ideia inicial e, por si só,
completa, podendo, por isso, funcionar como breve introdução da ação. O
sonho associa-se à aventura, pois a idealização do eu lírico leva-o a
projetar-se como um combatente, um caminhante. A caracterização do
cavaleiro como sendo andante remete também para a existência de um
espaço a percorrer, num determinado momento temporal.
o Exemplo
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O segundo verso revela as condições desse percurso. O espaço e a
dimensão temporal são, portanto, configurados a partir de três elementos:
«desertos», «sóis» e «noite escura». A ideia de caminhar por «desertos»,
sob o calor escaldante de vários «sóis» e vendo-se o eu imerso em «noite
escura» exprime intensamente a dureza desta peregrinação. O pleonasmo
«noite escura» reforça as dificuldades vividas por esse eu que se move
privado de luz, conota os obstáculos que impedem a concretização do
objetivo e sugere também a desorientação que impera no percurso do
sujeito poético até este chegar à meta.
o Exemplo
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Embora tenha de superar todas estas adversidades, o sujeito poético
move-se pelo «amor». É este sentimento que o faz perseguir «anelante» a
concretização de um ideal, neste soneto em que se deseja «O palácio
encantado da Ventura». Grafada com maiúscula, a palavra «Ventura»
simboliza a felicidade, a plenitude que o cavaleiro almeja.
o Exemplo
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O entusiasmo inicial do eu lírico, crente na possibilidade de atingir os
objetivos que o norteiam, configura um tom eufórico ao poema, que se
torna disfórico assim que esse entusiamo dá lugar ao seu desalento. A
jornada é difícil, cheia de obstáculos. A conjunção coordenativa
adversativa «Mas» introduz a segunda etapa deste percurso.
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De repente – «eis que súbito» –, o sujeito avista «O palácio encantado da
Ventura», ou seja, está perto do fim da sua jornada. Num momento de
perda de energia e de vitalidade, sugerido pela forma verbal «desmaio»,
surge diante dos seus olhos, ao longe, o seu objetivo. Ele, então, não
desiste; é movido por valores mais fortes do que as vicissitudes do
caminho. O avistamento inesperado restabelece as suas forças e o seu
ânimo, permitindo-lhe prosseguir.
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Chegado ao seu destino, o sujeito poético bate à porta e grita «Eu sou o
Vagabundo, o Deserdado…», revelando o seu desespero: deseja entrar,
mergulhar no seu sonho de felicidade e plenitude, ambas projetadas
naquele «palácio». Autocaracteriza-se como «Vagabundo», remetendo,
assim, para a sua errância e para os erros cometidos ao longo da vida;
diz-se «Deserdado», por não possuir quaisquer bens e por ser vítima do
desamparo dos seus, condenado, assim, à solidão; é também aquele que
pretende conquistar por si a sua herança, a sua realização pessoal.
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O clímax é atingido no momento em que se cumpre o pedido do sujeito
poético: as portas do «palácio encantado da Ventura» abrem-se «com
fragor», com tal ruído como se aquele fosse um momento vital da
existência do eu, a revelação de uma realidade superior capaz de alterar
completamente a sua vida. Porém, novamente, a conjunção coordenativa
adversativa introduz um contraste. Afinal, tudo o que o «cavaleiro
andante» havia idealizado não se concretiza. A «Ventura» não é real, não
está diante dos seus olhos, não é palpável. Ele depara-se com uma nova e
imensa frustração. O vazio e a escuridão do palácio («dentro encontro só,
cheio de dor») intensificam o sofrimento e a angústia do eu. A sua busca
incessante, a sua luta e resiliência levaram-no a encontrar «Silêncio e
escuridão – e nada mais». No fundo, a viagem sonhada é circular e ele
volta ao ponto de partida – aos «desertos» e à «noite escura» - só que
agora ele está desprovido de esperança.
Não se esperava inicialmente esta grande deceção. Na última estrofe,
concentram-se os anseios do eu lírico e os seus fracassos, que derrotam o
seu esforço e a sua persistência. Enfim, o cavaleiro andante somos todos
nós, que, na nossa viagem terrena, acabamos mais cedo ou mais tarde por
nos confrontarmos com a desilusão, a perda e o sofrimento.
o
«Abrem-se as portas d'ouro com fragor.../ Mas dentro encontro só, cheio
de dor,/ Silêncio e escuridão - e nada mais!
(vv. 12-14)