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Introdução Aos Estudos - Aula 1
Introdução Aos Estudos - Aula 1
HISTÓRICOS
AULA 1
TEMA 1 – GÊNESE
Nascido em 106 a.C. e falecido em 43 a.C., Marco Túlio Cícero pode ser
considerado como um dos grandes e principais historiadores romanos,
especialmente acerca das reflexões que fez acerca da História. Parte dos
avanços feitos por Cícero haviam sido principiados nos escritos de Políbio,
historiador grego de nascença, mas que fez seus principais trabalhos em Roma,
onde foi levado como prisioneiro quando tinha por volta de 40 anos.
Conforme Karina Anhezine (2009), Políbio era convicto de não haver
necessidade de o historiador conferir as partes envolvidas nos fatos e eventos
pois, após a expansão territorial decorrente da vitória de Roma na Segunda
Guerra Púnica (c. 218 – 202 a.C.) só haveria um lado digno de observação, o de
Roma. A História era vista como exemplo.
No entanto, Cícero elevara essa perspectiva a outro patamar vários anos
depois. Em seu entendimento, a História servia através da prática historiográfica
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a particularmente um propósito: garantir que fosse feito o registro de uma
coleção de exemplos e experiências que auxiliaria o aprendizado da sociedade.
Como bem ressalta Igor Moraes Santos (2019), trata-se de uma
concepção de História enraizada no entendimento de que a natureza humana é
imutável e, por isso, os fatos que aconteceram no passado possuem em sua
base uma essência capaz de proporcionar fatos semelhantes, ainda que em
contextos distintos. Em outras palavras, a História aparece como “mestra da
vida” (magistra vitae) ao fornecer exemplos de eventos e fatos que servem de
referência ao leitor como uma espécie de guia moral, indicando o que deve ser
reproduzido e o que se deve evitar.
A perspectiva de Cícero manifesta a junção da tradição grega com a nova
visão romana elaborada desde Políbio. Ainda se busca a verdade pelo registro
da História, já que a base do fazer historiográfico para Cícero está no sentido de
buscar os exemplos sempre nos fatos: o historiador (ou como Cícero coloca, o
orador) deve sempre se ater aos fatos verdadeiros e apresentá-los, mas nunca
os inventar.
Até aqui, vimos como que a História surgiu enquanto prática por
historiadores greco-romanos. Contudo, é preciso salientar que nenhum desses
historiadores carregavam “títulos” ou desenvolviam seus conhecimentos a partir
de uma formação específica. Normalmente, esses indivíduos exerciam
atividades públicas como juristas, políticos ou mesmo clérigos, se pensarmos
nas centúrias que constituíram a Idade Média.
Mas a partir do século XVIII e especialmente durante o decorrer do XIX,
foi sendo construído reflexões acerca da História enquanto disciplina, uma área
do conhecimento separada das demais e que demandava toda uma formação
própria. Isso significou duas coisas: a institucionalização da História enquanto
campo a ser exercido por um indivíduo especializado nas suas competências; a
elaboração das técnicas típicas da História que resultaram na formulação e
fundação de revistas e periódicos específicos que publicaram ensaios e artigos
a respeito de diversas temáticas.
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3.1 Breves considerações a respeito da historiografia moderna
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determinações oficiais das comunidades humanas. Como destaca Ciro
Flamarion Santana Cardoso (1992), os fatos são singulares e, portanto,
irrepetíveis para os pensadores do século XIX.
De acordo com Guy Bourdé e Hervé Martin (1990), a manifestação mais
concreta do proceder dessa nova corrente de pensamento histórico aparece em
1876 com a publicação de um manifesto, escrito pelo historiador francês Gabriel
Monod, que estabeleceu a fundação de A Revista Histórica. A instituição desse
periódico marcaria também a configuração da chamada Escola Metódica,
comumente conhecida também, embora erroneamente como bem destacam
Boudé e Martin (1990), por Escola Positivista. Além de Monod, outros de seus
membros mais destacados foram Ernest Lavisse, Charles Seignobos e o
principal historiador da vertente metódica alemã, Leopold von Ranke.
A partir de meados do século XIX e especialmente com as primeiras ações
da Escola Metódica, a disciplina História cada vez mais foi se consolidando como
área científica autônoma, detentora de métodos rigorosos de análise e fazendo
referência em citações que evidenciam o constante trabalho com as fontes
históricas. Podemos dizer que A Revista Histórica, de 1876, e os metódicos
franceses de forma geral, tinham como referência inspiradora para seus
trabalhos e procedimentos o historiador alemão Leopold von Ranke.
Ranke é considerado como o grande expoente da mudança de se fazer
história a partir da consideração e tratamento das fontes de forma crítica. Seus
principais postulados seguidos pelos historiadores metódicos franceses foram os
seguintes, conforme explicitado por Boudé e Martin (1990):
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análise, pois esta sairia prejudicada pela teoria de abrir precedente de
especulação acerca dos fatos considerados. Em uma palavra, a reunião
dos dados garante que “o registo histórico organiza-se e deixa-se
interpretar” (Boudé; Martin, 1990, p. 114).
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4.1 Fontes históricas como documentos
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Entretanto, a inclinação à interdisciplinaridade escancarou uma
preocupação fundamental da prática historiográfica enquanto operação
científica: o cuidado com o tratamento da documentação.
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receptor(es) do que foi registrado? Qual a posição social daquele(s) que a
produziu/produziram?
Barros (2012) prefere resumir todas essas problemáticas por meio de um
termo cunhado por Michel de Certeau na década de 1970, “lugar de produção”,
que inicialmente foi confeccionado para se referir à prática historiográfica, mas
que foi estendido por Barros para as fontes históricas. Por esse motivo, Barros
explicita que “o emissor de um discurso nunca é somente o seu autor nominal
[...] [pois este seria] apenas a ponta de um imenso iceberg” (Barros, 2012, p.
419).
O que o autor pretende informar é que a elaboração de um documento
escrito por um indivíduo diz respeito também ao que sua sociedade compreende
da realidade social, uma vez que todo indivíduo está imerso nas contradições
que envolvem uma sociedade no tempo.
Mas, afinal, trata-se de uma produção consciente ou inconsciente? De
acordo com Barros (2012), ambas as respostas são possíveis. A consciência ou
não da posição assumida em um texto tido como fonte histórica pode realçar a
posição da sociedade à qual o documento pertence originalmente. Seguindo de
perto as considerações do autor, a contextualização das fontes utilizadas se
torna imprescindível justamente por esclarecer os pontos que elencamos
anteriormente, evitando que o historiador seja seduzido pela ideologia presente
na documentação.
Por fim, façamos uma última observação. Todas as produções
historiográficas são produzidas dentro de determinado contexto, sendo
indiscutível que o contexto histórico vivenciado pelo historiador influencia no seu
procedimento, seja ao ser mobilizado por alguma temática específica, seja pelas
questões que faz a determino assunto.
Como ressaltamos, a historiografia do século XIX priorizou as
documentações escritas por conta da busca por referências que justificassem as
origens dos Estados nacionais. Nesse sentido, entender o contexto de produção
não indica um caminho de mão única, levando somente às fontes documentais.
É preciso ressaltar que a própria prática historiográfica pode (e deve), em algum
momento, ser submetida à análise crítica, de modo que possamos não apenas
entender as preocupações de uma dada época, como também o que entendiam
por História e, consequentemente, o que pode ser entendido por fontes
históricas. Em uma palavra, a nossa prática historiográfica também pode ser
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utilizada como fonte histórica, representando o que denominamos de história da
historiografia.
Afinal, o que a História representa nos dias atuais? Após o longo caminho
percorrido desde que se tornou uma disciplina consolidada, praticada por
profissionais capacitados por uma formação específica, a História tem
caminhado para uma direção cada vez mais negligenciada.
Façamos aqui duas reflexões finais: a primeira em relação à perspectiva
que podemos dizer ser “mais aceita” ou pelos menos capaz de mobilizar maior
consenso por parte dos historiadores a respeito da cientificidade da área; a
segunda é promovida a respeito da última reforma do Ensino Médio articulada
pela Lei n. 13.415/2017, que prevê reformulações a serem aplicadas a partir
deste ano de 2022.
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descartadas em prol das novas, mas, sim, incorporadas a estas. Nesse sentido,
Cardoso entende que a História é uma “ciência em construção”, pois os
“historiadores ainda estão descobrindo os meios de análise adequados ao seu
objeto” (Cardoso, 1992, p. 49). Entretanto, o autor destaca que ainda que não
considere a História uma ciência completa, não há impeditivos que a impeça de
em algum momento chegar à essa condição.
Os historiadores utilizam sua produção em muitos âmbitos, não somente
em debates internos à academia. Uma de suas práticas, além da investigação e
análise de processos históricos, é o ensino para crianças, jovens e adultos.
Especialmente na educação básica, o espaço do historiador vem sendo
constantemente atacado. Mais recentemente foi aprovada a Lei n. 13.415/2017,
que prevê reformulações no Ensino Médio.
Entre as muitas mudanças, estão a introdução do “itinerário formativo”,
em que cada estudante escolherá, a partir do 1º ano, um setor para se
aprofundar nos conhecimentos. Esses setores serão dispostos de acordo com
separações semelhantes às do ENEM, por exemplo, Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas ou Matemática e suas Tecnologias. Há ainda a opção de
escolher a formação técnica e profissional, que visa capacitar o aluno para entrar
no mercado de trabalho assim que terminar o Ensino Médio.
De acordo com Rodrigo Turin (2018), há a discussão acerca de que a
reforma veio sendo conduzida por expressões como flexibilidade que se conecta
com a aceleração cada vez mais intensa do mercado no mundo capitalista. Para
o autor, o desafio da História na formação das crianças e adolescentes está
agora em provar sua utilidade em suprir as demandas do mercado que, cada vez
mais, se impõe sobre a sociedade.
Isso é algo negativo na visão de Turin (2018), uma vez que a História e
as demais disciplinas estão sendo associadas à formação única e exclusiva de
habilidades requisitadas pelo mercado, sem pensar que a formação escolar está
associada à formação do aluno enquanto ser humano, indivíduo e cidadão.
Por essas razões, qual o papel da História? Em consequência, qual o
papel do historiador? São essas questões que todo indivíduo disposto a se
formar em História precisa estar atento durante seus estudos para além das
questões teórico-metodológicas dispostas nos temas iniciais.
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NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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