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Leituras Comentadas- O murmúrio do lugar Rafael Moneo

Rafael Moneo introduz-nos o conceito de imobilidade substancial, a essência do


lugar, a presença do solo transformado em sítio quando adivinhamos que nele se vai
construir. Uma forma muito bela, do que pode ser a aproximação a um projeto, e uma
premeditação ao que virá a seguir.
A definição do teórico chileno Juan Boches acerca de “imobilidade substancial” é de
uma extrema riqueza, ao pensar que metaforicamente no lugar vão nascer raízes e ali
irá brotar um novo elemento que pertencerá fauna daquele lugar.
Constata, que o primeiro material que podemos contar ao projetar é o solo, algo
colossal. Saber aproveitar o local onde estamos a intervir, aprendermos a decifrá-lo,
sem nos limitarmos por este, e considerarmos erradamente esta informação como
qualquer tipo de fórmula ou solução imediata. Leva-nos a avantajarmo-nos e
elevarmos o nosso projeto.
(Um bom exemplo de leitura do lugar é o centro galego de arte contemporânea de
Siza Vieira)
“Mas ocupar um lugar significa tomar posse dele. Construir implica a assunção do
lugar. Assim, quer se queira quer não, a construção implica sempre uma certa
violência sobre o lugar.” Revejo toda esta citação com uma enorme relevância, as
cidades e países moldam-se à volta dos diferentes indivíduos que possuem a terra, e
a arquitetura ao longo da história girou à volta disso. Se pensarmos em todas as
transformações que aconteceram nas cidades, pode parecermo-nos algo quase
«bárbaro». Resta-nos esperar que todos os programas para as intervenções venham
no melhores interesse do lugar, pois aí ganhamos a luta entre a metamorfose que irão
valorizar, ou ,de mudanças que podem ser disformes.
O ponto que levanta, ao afirmar que é utópico a ideia do solo se manteve inalterada
até aos nossos dias (à parte da Amazónia), faz pensar, e um excelente exemplo disso,
é o Museu em Lisboa do Teatro Romana onde é possível mostrar as diferentes
alterações da terra, e as diferentes “camadas de arquitetura” que se foram
sedimentando ao longo dos séculos. Vivemos das transformações dos lugares, são o
palco onde a nossa vida se desenrola.
Considero que como alunos é isto que estamos a aprender, a aproximação ao lugar,
o que este emana de dentro de si, e perpetua para fora como ondas. Saber o que
proteger, o que retirar e o que criar, o murmúrio do lugar, este é o propósito.
É de valorizar o conceito de que o objeto vai buscar a sua identidade ao local onde
está implementado, para assim como indica nos vivermos num mundo homogéneo
rodeado do igual, sem fronteiras entre estar lá ou estar cá. São dessas riquezas que
crescemos e aprendemos e que não podemos perder.
De certa forma foi um texto apaziguador, existe um certo receio, especialmente pelos
movimentos que considero relevantes da sustentabilidade, do criar, do levantar do
chão mais edificações quase num gesto sufocante, que me intimidam. Mas pela leitura
fora apercebi-me que vivemos num meio que está em constantemente em
transformação, e cabe a cada um de nós, com a devida cautela, prosperar o
panorama. E especialmente o final:
“A arquitetura não pode estar em qualquer lugar”
-Diferentes alterações do solo através dos séculos no local onde permanecia o antigo
Teatro Romano.

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