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Departamento de Psicologia e Ciências da Educação

Psicologia do Desenvolvimento II
2º Ano da Licenciatura em Psicologia; 2º semestre

O Conceito de Adolescência
Texto de Apoio
1. Origem do Conceito de Adolescência

A origem da palavra “Adolescência” é latina, sendo proveniente do termo “Adolescere” que significa “estar a crescer”,
enquanto que “Adultos” significa “parar de crescer” (Martins, 2006).

2. Definições de Adolescência ao longo do tempo

2.1. Definições Históricas de Adolescência

“Na natureza humana há sete estações a que chamamos idades: o bebé, a criança, o adolescente, o homem velho, o
homem feito, o homem idoso, o velho. A idade do bebé vai até aos sete anos, a idade da dentição; a idade da criança
dura até à produção espermática; a do adolescente até ao aparecimento da barba…” (Hipócrates, 460 A.C., citado por
Martins, 2006).

Desenvolvimento Humano: (1) primeira infância – primeiros 7 anos de vida; (2) segunda infância – dos 7 anos até á
puberdade; (3) Juventude – da puberdade até aos 21 anos (Aristóteles, IV A.C., citado por Nunes, 2013).

2.2. Definições Clássicas de Adolescência

• “A Adolescência é um período marcado por grandes mudanças fisiológicas, um período turbulento, com
sentimentos contraditórios” (Stanley Hall, 1904, citado por Martins, 2006) – Perspetiva Biológica.

• “A Adolescência é uma época turbulenta, de mudanças dramáticas, de tensões e sofrimento psicológico” (Stanley
Hall, 1904, citado por Nunes, 2013).

• “Não existe nada mais empolgante para um espírito curioso do que estudar como cada criança humana se
transforma num adulto completo, num resumo complexo e individual da sua cidade e do seu século” (Margaret
Mead, 1928, citada por Martins, 2006) – Perspetiva Sociocultural.

• “A Adolescência é uma fase agradável da vida em que gradualmente somos introduzidos na vida e
responsabilidades dos adultos (Margaret Mead, 1928, citada por Nunes, 2013).

• «Adolescência é uma “moratória social”, um “compasso de espera”» (Erikson, 1968, citado por Martins, 2006).

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Docente: Ana Susana Almeida
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• “Uma das tarefas da adolescência consiste na aquisição de uma identidade pessoal, que faz referência ao
compromisso com uma série de valores ideológicos, religiosos e vocacionais” (Erikson, 1968, citado por Oliva,
2003, p. 6-7).

As duas posições opostas: a enfâse na Visão Negativa e a enfâse na Visão Positiva da Adolescência

❖ Existência de debates teóricos no campo da psicologia do desenvolvimento no que se refere à adolescência, uma
vez que alguns autores enfatizam uma visão negativa da adolescência outros uma visão positiva (Oliva, 2003).

❖ Autores que enfatizam uma visão negativa: consideram a adolescência como um período de frequentes conflitos
familiares e de intensos problemas emocionais e de comportamento (Oliva, 2003).

❖ Autores como Stanley Hall ou Anna Freud situaram-se na visão catastrófica do “storm e stress” (tempestade e
stresse) (Oliva, 2003, p. 2).

❖ Os autores que enfatizam uma visão positiva da adolescência consideram que este período de transição
desenvolvimental é experienciado de forma tranquila e sem dificuldades especiais (Oliva, 2003). Autores mais
recentes apresentaram uma visão mais favorável da adolescência (e.g., Coleman, 1980, citado por Oliva, 2003).

2.3. Definições Atuais de Adolescência

• A adolescência é uma das fases mais rápidas do desenvolvimento humano (World Health Organization, 2020).

• A adolescência é um período biopsicossocial (Schoen-Ferreira & Aznar-Farias, 2010).

• Organização Mundial de Saúde: “Hoje entende-se pela etapa de vida que vai desde os 12 anos até aos 19, e constitui
a etapa de transição em que já não se é uma criança, mas ainda não se tem o estatuto de adulto” (Martins, 2006).

• A adolescência inicia-se com as mudanças corporais da puberdade e termina com a inserção social, profissional e
económica na sociedade adulta (Formigli, Costa, & Porto, 2000).

• A adolescência é uma época de grandes transformações, as quais ter repercussões não só no próprio individuo que as
vivencia, mas também na sua família e na sua comunidade (Schoen-Ferreira & Aznar-Farias, 2010).

• Conceito ocidental de Adolescência – como produto do nosso século – Caracterizado por: (1) enquadramento num
determinado contexto escolar ou de aprendizagem profissional; (2) dependência dos pais; (3) transição de um processo
de vinculação à família para um processo de vinculação aos pares, e estabelecimentos de contactos amorosos; (4)
esforços na inserção numa “cultura adolescente” (hábitos; modas; estilos de vida; preocupações próprias).

• “Adolescência: refere-se ao período psicossociológico que se prolonga vários anos e que se caracteriza pela transição
entre a infância e a idade a adulta” (Nunes, 2013).

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• A Adolescência é uma etapa desenvolvimental transitória, que implica mudanças físicas e psicológicas e o assumir de
novos papéis (Oliva, 2003).

• A adolescência é um período da vida com necessidades e direitos específicos, nomeadamente ao nível da saúde
e do desenvolvimento. É também um momento para o desenvolvimento de conhecimentos e competências, para
aprender a gerir emoções e relacionamentos e adquirir atributos e habilidades que serão importantes para
desfrutar os anos da adolescência e para assumir os papéis de adultos (World Health Organization, 2020).

• Todas as sociedades reconhecem que existem diferenças entre ser criança e tornar-se adulto. Contudo, a forma
como essa transição da infância para a vida adulta é definida e reconhecida difere entre culturas e ao longo do
tempo. No passado, costumava ser relativamente rápido e, em algumas sociedades, ainda é. No entanto, em
muitos países as características dessa transição estão a mudar (World Health Organization, 2020).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2020) existem 3 domínios fundamentais de mudanças na Adolescência:

(1) As Mudanças Físicas


A adolescência é uma das fases mais rápidas do desenvolvimento humano. Embora a ordem de muitas das
mudanças físicas pareça ser universal, o seu tempo específico e a velocidade da mudança variam entre e
até dentro dos indivíduos (variações inter e intra individuais). As características de um indivíduo (e.g., sexo)
e os fatores externos (e.g., nutrição inadequada, um ambiente abusivo) influenciam essas mudanças.

(2) As Mudanças Neurodesenvolvimentais


No decurso dos anos da Adolescência também ocorrem alterações e desenvolvimentos neuronais
relevantes. Essas alterações/mudanças estão relacionados com alterações hormonais, mas nem sempre
dependem delas. Estas mudanças ocorrem em regiões do cérebro, como o sistema límbico, que são
responsáveis pela procura de prazer e pelo processamento de recompensas, das respostas emocionais e
pela regulação do sono. Em simultâneo, ocorrem mudanças no córtex pré-frontal, a área responsável pelas
funções executivas: tomada de decisão, organização, controle de impulsos e planeamento do futuro.
Embora ambas as alterações ocorram no decurso da Adolescência, as alterações no córtex pré-frontal
ocorrem numa fase mais tardia comparativamente às alterações do sistema límbico.

(3) As Mudanças Psicológicas e Sociais


Associadas às mudanças hormonais e neurológicas ocorrem as mudanças psicossociais e emocionais e o
incremento significativo das capacidades cognitivas e intelectuais. Os Adolescentes desenvolvem
competências mais fortes de raciocínio, de pensamento lógico e moral e tornam-se mais competentes ao
nível do pensamento abstrato e das apreciações racionais.

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As mudanças que ocorrem no ambiente do Adolescente afetam, e são afetadas, pelas mudanças internas
experienciadas pelo Adolescente. Estas influências externas, que diferem entre culturas e sociedades,
incluem valores e normas sociais e a mudança dos papéis, responsabilidades, relacionamentos e
expectativas deste período da vida.

3. Marcos: Início da Adolescência e final da adolescência (etapa desenvolvimental)

• A Adolescência começa com a puberdade (Martins, 2006).

• Adolescência termina com a entrada na adultez, contudo, devido a alterações sociais atuais a entrada na idade adulta
tende a ser mais tardia.

• Existe um atraso na idade em que os adultos jovens começam a trabalhar e se tornam independentes dos pais (Oliva,
2003, p.3).

• O período compreendido entre os 18 e os 25 anos, que tradicionalmente supunha a aquisição de responsabilidades


e papeis que marcavam o início da adultez, transformou-se numa etapa de prolongamento da adolescência que
Arnett (2000, citada por Oliva, 2003) denominou de adultez emergente.

• A adolescência inicia-se com as mudanças corporais da puberdade e termina com a inserção social, profissional e
económica na sociedade adulta (Formigli, Costa, & Porto, 2000).

• De acordo com a posição atual da Organização Mundial de Saúde a idade é uma forma útil de definir a Adolescência.
Contudo é apenas uma das características que delimita ou circunscreve essa etapa desenvolvimental. A idade é
frequentemente mais apropriada para avaliar e comparar as mudanças biológicas que ocorrem (e.g., a puberdade),
que são moderadamente mais universais comparativamente com as transições sociais que variam mais em função
do ambiente sociocultural (World Health Organization, 2020).

4. Dificuldades associadas à Adolescência

4.1. Atual visão negativa ou positiva da adolescência?

A propósito da controvérsia visão negativa versus visão positiva da adolescência Arnett (1999, citada por Oliva,
2003, p. 2) refere que a conceção de storm and stress precisa de ser reformulada a partir dos conhecimentos
atuais, uma vez que não se pode manter a imagem da adolescência como uma etapa em que existem dificuldades
generalizadas, embora exista evidencias empíricas suficientes acerca de uma importante incidência de problemas
relacionados com e áreas: (1) os conflitos com os pais (Laursen, Coy, & Collins, 1998); (2) a instabilidade emocional
(Buchanan, Eccles, & Becker, 1992) e os comportamentos de risco (Arnett, 1992).

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As razões subjacentes a estas dificuldades relacionam-se com o carácter transitório desta etapa
desenvolvimental, com as mudanças físicas e psicológicas que lhe são inerentes e com os novos papéis que se
devem assumir. Não é infrequente que em alguns casos o stress gerado por estas mudanças conduza ao
surgimento de problemas de comportamento e de transtornos emocionais (Oliva, 2003, p. 2).

Os adolescentes mais jovens podem ser particularmente vulneráveis uma vez que as suas capacidades ainda
estão em franco desenvolvimento e estão a iniciar a sua autonomização e a sair da “alçada” das suas famílias
(World Health Organization, 2020).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2020) todas as mudanças internas e externas experienciadas
na Adolescência podem ter implicações para a Saúde e o Comportamento.

De variadas formas, o desenvolvimento no decurso da Adolescência impulsiona também mudanças na quantidade


de doenças que vão surgindo - por exemplo, com a idade aumentam os problemas ao nível da saúde sexual e
reprodutiva, de doenças mentais e de lesões (World Health Organization, 2020).

O surgimento de determinados problemas de saúde na Adolescência, incluindo os transtornos devido ao consumo


de substâncias, os transtornos mentais e as lesões, provavelmente reflete as mudanças biológicas da puberdade
e o contexto social em que os jovens se estão a desenvolver. Outras condições, tais como o aumento da incidência
de certas doenças infeciosas podem resultar simplesmente das atividades diárias dos adolescentes durante esse
período de suas vidas (World Health Organization, 2020).

Muitos dos comportamentos relacionados com a saúde que surgem durante a adolescência têm implicações para
a saúde e o desenvolvimento presentes e futuros. Por exemplo, o abuso de bebidas alcoólicas e a obesidade no
início da adolescência comprometem o desenvolvimento do adolescente, mas também se assumem como
importantes preditores do abuso de bebidas alcoólicas e da obesidade em fases mais tardias da vida, com sérias
implicações para a saúde pública (World Health Organization, 2020).

Implicação para políticas e programas – Organização Mundial de Saúde (2020)

As mudanças que ocorrem na Adolescência sugerem 9 princípios com implicações para a políticas e programas
de Saúde:

(1) Os adolescentes necessitam de uma atenção explicita;


(2) Os adolescestes não são todos iguais;
(3) Alguns adolescentes são particularmente vulneráveis;
(4) O desenvolvimento adolescente tem implicações para a saúde do adolescente;
(5) O desenvolvimento adolescente tem implicações relativas à saúde ao longo de toda a vida;
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(6) As mudanças no decurso da adolescência afetam a forma como os adolescentes pensam e
agem/atuam;
(7) Os adolescentes precisam de compreender os processos que ocorrem no decurso da adolescência
(o que se passa com eles próprios e com os seus pares);
(8) No sentido de ser possível contribuir positivamente, os adultos precisam de compreender os
processos que ocorrem no decurso da adolescência;
(9) A saúde pública e os direitos humanos convergem em torno de conceitos relativos ao
desenvolvimento do adolescente.

4.1.1. Perspetiva social atual sobre a adolescência

Os meios de comunicação social têm atualmente um papel fundamental na difusão de uma imagem conflituosa dos
adolescentes e jovens, uma vez que as notícias que difundem associam adolescência ou juventude a crime, violência ou
consumos de drogas (Casco, 2003; Dorfman & Schiraldi, 2001; Males, 2000, citados por Oliva, 2003, p. 4).

Evidencia-se um contraste entre os estereótipos ou as representações sociais da infância e da adolescência (Oliva, 2003):

o Infância: as crianças são perspetivadas como vulneráveis, indefesas, inocentes, vítimas e a necessitar de
afeto e apoio.

• Adolescência: o adolescente é perspetivado como invulnerável, autosuficiente, conflituoso, culpado,


transgressor e agressor.

Investigações realizadas nos E.U.A. (e.g., Buchanan & Holmbeck, 1998; Holmbeck & Hill, 1988) e em Espanha (e.g.,
Casco, 2003; Oliva & Casco, 2002) salientam a vigência atual, entre os profissionais e os cidadãos, de conceções de
adolescência próximas das visões tradicionais negativas (“storm and stress”) (Oliva, 2003, p. 4).

Esta imagem desfavorável poderá conduzir a um intenso prejuízo uma vez que poderá influenciar negativamente as
relações entre adultos e jovens, aumentando o conflito intergeracional, especialmente nos microssistemas do jovem (i.e.,
contexto familiar e contexto escolar). Além disso poderá constituir um marco de referência para a interpretação de
determinados problemas sociais e para a justificação de algumas decisões a nível político e legislativo (Oliva, 2003).

4.2. Atuais abordagens teóricas de influência – importância da contextualização social das dificuldades

Atualmente, os modelos contextuais ou ecológicos (e.g., Bronfenbrenner, 1979; Lerner, 1991) representam um importante
marco teórico na explicação do desenvolvimento humano e dos seus problemas. De acordo com este enfoque, os fatores
macrossistémicos – sociais, culturais e económicos – podem ter uma influência direta sobre o que ocorre nos contextos
imediatos ou microssistémicos das crianças e adolescentes, influenciando o seu desenvolvimento e adaptação
psicológica (Oliva, 2003, p. 2).

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As características quer do indivíduo (neste caso o adolescente) quer do ambiente envolvente influenciam as mudanças
que ocorrem no decurso da adolescência (World Health Organization, 2020).

4.3. Contexto sócio histórico atual e impacto na adolescência

• Algumas mudanças sociais atuais têm repercussões no desenvolvimento dos adolescentes, sendo estes afetados
nas suas trajetórias vitais por estas transformações (Oliva, 2003).

• Alguns desses fatores sociais são:

(1) a globalização e os seus efeitos;

(2) os movimentos migratórios;

(3) a maior presença dos meios de comunicação social;

(4) o uso das novas tecnologias;

(5) mudanças demográficas - o decréscimo do índice de natalidade e

(6) as alterações na estrutura familiar (Oliva, 2003).

• O início da adolescência (marcada pela puberdade) e o final da mesma (marcada pelo início da adultez) estão a ser
alteradas uma vez que a puberdade parece iniciar-se mais cedo e a entrada na adultez mais tarde devido a
mudanças sociais (i.e., melhores condições de vida ao nível de saúde, influência de certos agentes contaminantes
sobre o sistema endócrino, início tardio da entrada no mercado de trabalho, saída dos jovens da casa dos familiares
cada vez mais tardia tal como a sua total independência e autonomia).

• A par da crescente imersão dos meios de comunicação e das novas tecnologias (e.g., televisão, computadores,
internet, videojogos, revistas adolescentes, música) tem aumentado a preocupação social da sua influência sobre o
desenvolvimento dos adolescentes, e tem-se considerado esta influência negativa (Oliva, 2003, p. 5).

• Tem-se atribuído á televisão uma responsabilidade direta na promoção do consumo do tabaco e do álcool, da
atividade sexual precoce e aos papeis de género muito estereotipados (Oliva, 2003, p. 5). Os filmes e os videojogos
competem pelo primeiro lugar como instigadores de comportamentos violentos, enquanto que a imagem ideal do
corpo feminino difundida pelas revistas para adolescentes tem acolhido a responsabilidade por muitos transtornos
alimentares e problemas de autoestima. Contudo, é importante desdramatizar e considerar resultados empíricos que
salientam os efeitos positivos da utilização dos videojogos no desenvolvimento dos adolescentes (e.g., Phillips, Rolls,
Rouse, & Griffith, 1995; Durkin & Barber, 2001), da exposição a programas televisivos (e.g., Mares, 1996), ou da
utilização da internet (e.g., Conde, Torres-lana, & Ruiz, 2002; Hellenga, 2002). Todavia é indubitável a existência de
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um aumento substancial das influências a que os adolescentes estão expostos, que já não se limitam aos clássicos
contextos família, escola e pares. Daí a importância de os pais supervisionarem estas novas formas de influência
(Oliva, 2003, p. 5).

• As alterações na Família podem igualmente ter algumas repercussões no desenvolvimento dos adolescentes.

• Alterações importantes na estrutura familiar, como o surgimento de novos tipos de família – monoparentais ou
reconstituídas – estas novas situações familiares podem implicar uma maior complicação relativa ao exercício dos
papéis parentais e em algumas ocasiões poderão surgir conflitos importantes no decurso da adolescência (Oliva,
2003, p. 7-8).

• No que diz respeito à ausência da figura paterna na família nuclear, alguns estudos revelam que esta ausência pode
supor um défice no controlo e supervisão e uma falta de modelos masculinos que contribuem para o surgimento de
comportamentos anti-sociais (Amato & Keith, 1991; Dornbusch et al., 1985 citados por Oliva, 2003, p.8).

• As mudanças sociais atuais estão a tornar a adolescência uma etapa cada vez mais complexa uma vez que
implicam novos desafios e riscos, por isso é importante que a sociedade invista em novos projetos de forma a
promover uma transição mais saudável para o mundo dos adultos (Oliva, 2003).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a Adolescência, devido à sua natureza e importância únicas, exige

atenção explicita e específica no âmbito de políticas e programas de saúde. Políticas e programas de saúde adequados

são muito relevantes nesta etapa desenvolvimental uma vez que as mudanças na adolescência têm consequências para

a saúde não só na adolescência mas também ao longo de toda a vida do indivíduo (World Health Organization, 2020).

5. Puberdade

• Puberdade (menarca/1ª ejaculação: fenómeno biopsicológico centrado na carga sexual nova como motor de processo
maturativo) – a adolescência começa com a puberdade (Martins, 2006).

• Puberdade: processo de desenvolvimento desde o aparecimento dos caracteres sexuais secundários à maturidade
sexual (Martins, 2006).

• “Puberdade: refere-se ao conjunto de fatores físicos que durante a segunda década de vida transformam o
corpo infantil num corpo adulto com capacidade para a reprodução” (Nunes, 2013).

• Na generalidade existe uma desarmonia evolutiva entre a maturação sexual genital (mais rápida) e a maturação
psicoafetiva (Martins, 2006).

• Desenvolvimento do processo psicológico individual e quadros de identificação da infância à adultez (Martins, 2006).
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• Transição de um estado de total dependência socioeconómica à de independência relativa (Martins, 2006).

Alterações na puberdade/adolescência:

1. Relação com o corpo

2. Relação com a Família

3. Relação com os pares

4. Relação com os outros Adultos: Escola, Grupos desportivos…. (Martins, 2006).

5.1. Impacto das alterações histórico-sociais atuais na puberdade

• Idade de início da puberdade: Ao longo das últimas décadas tem-se vindo a produzir um adiantamento gradual da
idade do início da puberdade, de tal forma que algumas das primeiras mudanças físicas começam em idades tão
precoces como os 8 anos de idade (Oliva, 2003, p.3).

• Fatores que poderão estar implicados neste adiantamento gradual da idade do início da puberdade:

- melhores condições de vida;

- Influência de certos agentes contaminantes sobre o sistema endócrino (Oliva, 2003, p.3).

• Diversos estudos encontraram associações entre a puberdade muito precoce e o uso de pesticidas na agricultura
intensiva e de hormonas na alimentação e engorda do gado (e.g., Herman-Giddens et al, 1997; Herman-Giddens,
Wang, & Koch, 2001, citados por Oliva, 2003, p.3).

• Impacto de mudanças mais precoces: O impacto poderá ser a nível de aspetos emocionais e comportamentais, uma
vez que uma avançada maturação física não é acompanhada por uma maturidade psicológica (Oliva, 2003). De facto
a maturidade biológica precede a maturidade psicossocial. Desta realidade advêm diversas implicações,
nomeadamente ao nível das respostas de políticas e programas à exploração e experimentação que ocorrem durante
a adolescência (World Health Organization, 2020).

• Diversos estudos têm considerado esta inconcordância maturativa (física vs psicológica) como um importante fator
de risco para a adaptação psicológica e comportamental, especialmente no caso das raparigas (e.g., Flennery, Rowe,
& Gulley, 1993; Graber, Lewinsohn, Seely, & Brooks-Gunn, 1997, citados por Oliva, 2003).

• Por outro lado, muitos comportamentos que tradicionalmente eram próprios de jovens e adolescentes começam
atualmente a ser frequentes na infância tardia (e.g., início de relações amorosas, comportamentos consumistas, uso
de novas tecnologias, etc) (Coleman, 2000, citado por Oliva, 2003). A antecipação destes comportamentos próprios da

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adolescência nos últimos anos da infância poderá ser explicada, para além dos fatores fisiológicos fatores sociais, com
a influência de séries e programas televisivos (Oliva, 2003, p. 3).

Referências Bibliográficas

 Martins, A. T. (2006). Acetatos de apoio às aulas teórico-práticas de Psicologia da Adolescência. Documentos de


apoio às aulas teórico-práticas não publicados, Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
da Universidade do Algarve, Portugal.

 Nunes, C. (2013). Diapositivos de apoio às aulas teóricas de Psicologia do Desenvolvimento II. Documentos de apoio
às aulas teóricas não publicados, Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade do Algarve, Portugal.

 Oliva, A. (2003). Adolescência em España a principios del siglo XXI. Cultura y Educación, 15, 4, 1-11.

 Schoen-Ferreira, T.H., & Aznar-Farias, M. (2010). Adolescência através dos Séculos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26, 2,
227-234.

 World Health Organization (2020). Adolescent development. Retirado em 2 de março de 2020 de


https://www.who.int/maternal_child_adolescent/topics/adolescence/development/en/#

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Docente: Ana Susana Almeida
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