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Reflexões sobre aspecto(s) da LDB.

Segunda Avaliação da Disciplina Organização da Educção no Brasil.


Professora: Angela Rabello Maciel de Barros Tamberlini.

Aluno: Marcos Roberto Ribeiro de Freitas.

Niterói – 2017
Introdução.

As diversas alterações que Lei de Diretrizes e Bases sofreu desde a sua


primeira versão até os tempos atuais, refllete em muito a forma como o Estado brasileiro
pensa a questão da educação. Apesar de Educação e Cultura figurarem como temas relevantes
na Constituição de Federal de 1988, e claramente estabelecidas como “direito de todos e dever
do Estado e da família”; a forma como o Estado tem sido pensado nos últimos anos – um
Estado que incorpora em seu modo de operar a mesma lógica de operação do mercado – tem
influenciado na forma como o próprio Estado tem pensado e agido no que tange a educação.
Muito embora a definição de educação e seu papel tenham sido (e provavelmente ainda
sejam) alvos de debates calorosos, cabe ressaltar que tem prevalecido uma concepção na qual
a educação tem como finalidade, preparar o homem para a vida social, de modo que essa
educação desenvolva nos indivíduos habilidades e capacidades físicas e intelectuais, que são
requisitos essenciais para o exercício da vida social e política na coletividade. Tendo em vista
essa definição de educação – e outras que se aproximam desta – passamos a refletir, dentro do
conjunto de modalidades de educação, previstas na LDB, aquela chamada educação
profissional. Esse ensaio buscará fazer uma pequena reflexão sobre essa modalidade com suas
especificidades e desafios.

A Educação Profissionalizante: Um Breve Panorama.

O ensino profissionalizante desde que foi instituído, em 1909, não serviu como
mecanismo de ascensão social para a classe trabalhadora. Contrariamente, podemos observar
que a modalidade de ensino profissionalizante, tem funcionado como instrumento de
manutenção da acumulação das classes dominantes, conforme expõem as teorias crítico-
reprodutivistas acerca da educação. Tais teorias “postulam não ser possível compreender a
educação senão a partir dos seus condicionantes sociais” (SAVIANI, 1983, p.27), em nosso
caso, uma sociedade marcada por uma disputa constante entre classes sociais pela conquista
de direitos por uns, e manutenção de privilégios por outros. Conjuntamente, o discurso
ideológico sobre a educação profissional evidencia o caráter contraditório acerca das políticas
públicas executadas para essa modalidade como veremos mais a frente. Esse fato não é
surpresa alguma em uma sociedade que tem por característica principal muitas contradições -
a contradição entre capital e trabalho seria apenas uma de muitas. Durante o período do
regime empresarial-militar de 1964 no Brasil, o ensino profissionalizante passa a ser
incorporado ao antigo 2° grau com o objetivo de atender uma indústria que ainda em
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desenvolvimento. Assim, a estruturação do ensino acentuava o modelo primário-
profissionalizante/secundário-superior, que reproduzia a lógica social onde os filhos dos
trabalhadores tornariam-se, também, mão-de-obra qualificada; enquanto os filhos da elite
alcançariam a educação superior, intelectualizada.

Mesmo após o regime de 1964, a educação profissionalizante não perdeu seu


caráter de reprodução social e permanece atendendo as necessidades do mercado. Insere-se
então, dentro dentro do conjunto de categorias de compreensão acerca do ensino
profissionalizante; categorias pertencentes à realidade do mercado, tais como: eficiência,
produtividade, flexibilidade, entre outras. Nas palavras de JACOMETTI (2008, p. 243) “a
escola deve ser uma comunidade harmoniosa e estável, em que os problemas precisam se
resolvidos técnica e administrativamente”, ou seja, a escola passa a ser um local de formação
de indivíduos preparados para atuar na vida social a partir da lógica do mercado . O Estado
passa a investir na expansão do ensino profissionalizante, de forma tal que, até mesmo, passa
a transferir parte de sua responsabilidade para o setor privado - a partir das chamadas
parcerias público-privado e em associação com o “Sistema S”. Ocorre que tal expansão traz
consigo uma nova gama de problemas, dos quais podemos destacar a questão da qualidade da
educação oferecida por esses cursos profissionalizantes.

A Questão da Qualidade.

O Brasil assinou diversos tratados e convenções internacionais referentes aos


Direitos Humanos, dos quais a educação faz parte. A educação faz parte das obrigações do
Estado. Na Constituição Federal Brasileira temos estabelecido o compromisso do Estado em
manter a busca por uma constante melhoria da qualidade da educação oferecida. A qualidade
seria aquela característica que agregaria valor ao objeto de forma que, em se tratando de
educação, poderíamos observar o que representaria a não-qualidade, “expressa em
repetências sucessivas redundando em reprovações, seguidas do desencanto, da evasão e
abandono” (CURY, 2014, p.1055). O descompromisso com a qualidade da educação, seria
então indicador de um descompromisso com os Direitos Humanos.

Entretanto, o que se observa com relação a educação profissionalizante é um


processo de expansão, legalmente amparado, em detrimento da qualidade. Com o objetivo de
atender as necessidades do mercado e incorporando as categorias de pensamento de um
Estado que pensa a si próprio a partir de categorias e conceitos neoliberais, o ensino

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profissionalizante passou a absorver um grande número de estudantes, preparando tais alunos
para o mercado. A grande questão que se coloca é que, tal preparação dispensa um
compromisso com a qualidade do desenvolvimento técnico e cognitivo do aluno. Se, na
introdução deste ensaio, nos referimos à educação como um preparo do homem para a vida
em sociedade; a educação profissionalizante toma um desvio conceitual e passa a entender
mercado e sociedade como uma coisa só. A primazia passa a ser pela formação de indivíduos
com habilidades específicas, para atuar em um mercado flexível; porém, e para além desse
deslocamento de sentido, o investimento Estatal nesse tipo de educação torna-se reduzido, e a
iniciativa privada avança sobre essa fatia do mercado sem também, prezar pela qualidade.
Assim temos um quadro de intensa formação de jovens profissionais que não dominam as
técnicas necessárias para execução plena de suas competências profissionais, e acabam
ingressando no mercado de trabalho em funções que não condizem com sua formação,
legitimando a precarização do trabalhador. Dessa forma podemos entender que essa expansão,
claramente, “não se propõe a alterar a essencia estrutural da educação técnica” ( SILVA,
PELISSARI, STEIMBACH, 2013, p.415), porém, tal expansão não deixa de vir carregada de
um discurso ideológico acerca da democratização do acesso, conjuntamente com a satisfação
dos anseios do mercado. Não à toa a atratividade dos cursos profissionalizantes fundamenta-
se em discursos acerca a receptividade do mercado para com esses futuros profissionais,
associados à pressão da família. Constata-se que, contraditoriamente, essa visão idealizada do
ensino profissionalizante, que se põe àqueles estudantes que ingressam nessa modalidade de
ensino, configura também, uma das principais razões para a desilusão com o curso e a evasão.

O Efeito das Políticas Públicas.

Observamos até aqui, que a educação profissional em sua aparência atua como uma
modalidade inclusiva, por sua ampla oferta de possibilidades, repetidas em discursos
ideológicos ora proferidos por professores, ora pelas próprias instituições ligadas à essa fatia
de mercado; mas em essência funciona como mecanismo de reprodução de uma lógica social
excludente. O exame mais detalhado das políticas públicas referentes à educação profssional
implantadas nos últimos anos, dão um panorama pouco animador acerca dessa questão. Isso
porque, mais uma vez, estamos analisando uma estrutração da educação dentro de uma
sociedade capitalista marcada pela luta de classes. Nesse modelo de sociedade, é preciso
ressaltar, em se tratando de políticas de inclusão, devemos pensar que essa é uma “inclusão
concedida” já que esta ocorre visando atender às demandas do processo de acumulação.

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Podemos observar tal fenômeno através da expansão do ensino profissionalizante; expansão
que “realiza um processo de inclusão que, dada a sua desqualificação, é excludente”
(KUENZER, 2008, p.493); ou seja, acaba por não promover os ideais do conceito de
educação referente a formar um cidadão para a sociedade, para a prática política na
coletividade. As competências que são adquiridas nessa modalidade de educação acabam
sendo aquelas que podem ser diversamente e flexivelmente consumidas dentro das cadeias
produtivas e de modo predatório. É necessário pôr em evidência que todo esse processo
encontra respaldo legal, ou seja, o ordenamento jurídico sobre a educação profissional fornece
suporte legal a esse esvaziamento da qualidade e ao deslocamento de parte da
responsabilidade do Estado para a iniciativa privada, o que, inclusive, evidência uma
realidade adversa dos discursos recorrentes acerca da privatização no que se refere a melhoria
da qualidade. Ao contrário, como a precarização do ensino profissionalizante se mostra um
problema estrutural, as instituições privadas – mesmo com recursos públicos provenientes das
parcerias feitas com o Estado – também reproduzem a lógica estrutural: Expandem seu
alcance produzindo o efeito aparente de democratização e inclusão, porém não investem em
uma formação de boa qualidade; configurando um grande desperdício de dinheiro público
com embasamento jurídico. Esse fato demonstra que a atual concepção de Estado – Estado
atuando com lógica de mercado – tem falhado em elaborar políticas públicas que reafirmem a
primazia da oferta pública de educação profissional de qualidade; algo notável na comparação
entre os Decretos 2.208/97 e 5.154/2004, que vigoraram em épocas de administrações com
propostas relativamente diferentes, mas que em se tratando de legislar acerca da educação
profissional, a segunda administração mostrou-se conservadora e pouco alterou o que ficou
estabelecido pelo Decreto 2.208/97.

Conclusão.

Desse modo o que podemos depreender a partir da análise da trajetória da


legislação acerca do ensino profissionalizante é que, apesar de mais de cem anos de sua
instituição, apesar das diversar reformulações pelas quais passou, apesar de, nos últimos anos,
passar por um processo de expansão; o ensino profissionalizante permanece ainda como
essencialmente marcador de uma lógica reprodutivista da estrutura social. Ao mesmo tempo
em que podemos observar tal fato, a contradição – característica inerente do sistema
capitalista – também se apresenta, ao passo que os discursos acerca da importância da
educação na vida dos indivíduos, principalmente dos jovens, se intensifica; enquanto seu

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sentido muda de sentido indicando uma formação não para a vida em sociedade mas para
apenas um das dimensões da vida em sociedade, que é o trabalho. É preciso questionar qual é
o tipo expansão do ensino profissionalizante mais adequado ao sentido de educação. Uma
educação profissionalizante que além de prover os indivíduos de ferramentas para exercício
pleno de suas funções no mercado, forneça os aparatos teóricos e cognitivos para
emancipação desse indivíduo enquanto pessoa humana. Par tal talvez seja necessário que o
Estado como produtor de representações sociais (Durkheim, 2002) se desvencilhe do modelo
neoliberal de atuação, para então conseguir pensar a educação de forma mais humanista,
menos tecnocrática, produzindo cidadãos capazes de enxergar e entender a estrutura social na
qual estão inseridos e assim, capazes de atuar como agentes mais coscientes no mundo social.

Bibliografia:

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, Coleção


Primeiros Passos, 28o ed., 1993.

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia: Polêmicas do Nosso Tempo. São Paulo:


Editora Autores Associados, 32° ed., 1999 .

JACOMETTI, Márcio. Reflexões sobre o contexto institucional brasileiro


contemporâneo e as transformações na educação profissional. Educar, Curitiba, n. 32, p. 233-250,
2008.

CURY, Carlos Roberto Jamil. A qualidade da Educação Como Um Direito. Educ. Soc.,
Campinas, v. 35, nº. 129, p. 1053-1066, out.-dez., 2014.

SILVA, Mônica Ribeiro da; PELISSARI, Lucas Barbosa; STEIMBACH, Allan Andrei.
Juventude, escola e trabalho: permanência e abandono na educação profissional técnica de nível
médio. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 403-417, abr./jun. 2013.

KUENZER, Acacia Zeneida. Reforma da educação profissional ou ajuste ao regime de


acumulação flexível? Trab. Educ. Saúde, v. 5 n. 3, p. 491-508, nov.2007/fev.2008.

DURKHEIM, Emile. Lições de Sociologia. São Paulo; Martins Fontes: 2002.

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