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Reflexões Sobre Aspecto(s) Da LDB.
Reflexões Sobre Aspecto(s) Da LDB.
Niterói – 2017
Introdução.
O ensino profissionalizante desde que foi instituído, em 1909, não serviu como
mecanismo de ascensão social para a classe trabalhadora. Contrariamente, podemos observar
que a modalidade de ensino profissionalizante, tem funcionado como instrumento de
manutenção da acumulação das classes dominantes, conforme expõem as teorias crítico-
reprodutivistas acerca da educação. Tais teorias “postulam não ser possível compreender a
educação senão a partir dos seus condicionantes sociais” (SAVIANI, 1983, p.27), em nosso
caso, uma sociedade marcada por uma disputa constante entre classes sociais pela conquista
de direitos por uns, e manutenção de privilégios por outros. Conjuntamente, o discurso
ideológico sobre a educação profissional evidencia o caráter contraditório acerca das políticas
públicas executadas para essa modalidade como veremos mais a frente. Esse fato não é
surpresa alguma em uma sociedade que tem por característica principal muitas contradições -
a contradição entre capital e trabalho seria apenas uma de muitas. Durante o período do
regime empresarial-militar de 1964 no Brasil, o ensino profissionalizante passa a ser
incorporado ao antigo 2° grau com o objetivo de atender uma indústria que ainda em
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desenvolvimento. Assim, a estruturação do ensino acentuava o modelo primário-
profissionalizante/secundário-superior, que reproduzia a lógica social onde os filhos dos
trabalhadores tornariam-se, também, mão-de-obra qualificada; enquanto os filhos da elite
alcançariam a educação superior, intelectualizada.
A Questão da Qualidade.
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profissionalizante passou a absorver um grande número de estudantes, preparando tais alunos
para o mercado. A grande questão que se coloca é que, tal preparação dispensa um
compromisso com a qualidade do desenvolvimento técnico e cognitivo do aluno. Se, na
introdução deste ensaio, nos referimos à educação como um preparo do homem para a vida
em sociedade; a educação profissionalizante toma um desvio conceitual e passa a entender
mercado e sociedade como uma coisa só. A primazia passa a ser pela formação de indivíduos
com habilidades específicas, para atuar em um mercado flexível; porém, e para além desse
deslocamento de sentido, o investimento Estatal nesse tipo de educação torna-se reduzido, e a
iniciativa privada avança sobre essa fatia do mercado sem também, prezar pela qualidade.
Assim temos um quadro de intensa formação de jovens profissionais que não dominam as
técnicas necessárias para execução plena de suas competências profissionais, e acabam
ingressando no mercado de trabalho em funções que não condizem com sua formação,
legitimando a precarização do trabalhador. Dessa forma podemos entender que essa expansão,
claramente, “não se propõe a alterar a essencia estrutural da educação técnica” ( SILVA,
PELISSARI, STEIMBACH, 2013, p.415), porém, tal expansão não deixa de vir carregada de
um discurso ideológico acerca da democratização do acesso, conjuntamente com a satisfação
dos anseios do mercado. Não à toa a atratividade dos cursos profissionalizantes fundamenta-
se em discursos acerca a receptividade do mercado para com esses futuros profissionais,
associados à pressão da família. Constata-se que, contraditoriamente, essa visão idealizada do
ensino profissionalizante, que se põe àqueles estudantes que ingressam nessa modalidade de
ensino, configura também, uma das principais razões para a desilusão com o curso e a evasão.
Observamos até aqui, que a educação profissional em sua aparência atua como uma
modalidade inclusiva, por sua ampla oferta de possibilidades, repetidas em discursos
ideológicos ora proferidos por professores, ora pelas próprias instituições ligadas à essa fatia
de mercado; mas em essência funciona como mecanismo de reprodução de uma lógica social
excludente. O exame mais detalhado das políticas públicas referentes à educação profssional
implantadas nos últimos anos, dão um panorama pouco animador acerca dessa questão. Isso
porque, mais uma vez, estamos analisando uma estrutração da educação dentro de uma
sociedade capitalista marcada pela luta de classes. Nesse modelo de sociedade, é preciso
ressaltar, em se tratando de políticas de inclusão, devemos pensar que essa é uma “inclusão
concedida” já que esta ocorre visando atender às demandas do processo de acumulação.
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Podemos observar tal fenômeno através da expansão do ensino profissionalizante; expansão
que “realiza um processo de inclusão que, dada a sua desqualificação, é excludente”
(KUENZER, 2008, p.493); ou seja, acaba por não promover os ideais do conceito de
educação referente a formar um cidadão para a sociedade, para a prática política na
coletividade. As competências que são adquiridas nessa modalidade de educação acabam
sendo aquelas que podem ser diversamente e flexivelmente consumidas dentro das cadeias
produtivas e de modo predatório. É necessário pôr em evidência que todo esse processo
encontra respaldo legal, ou seja, o ordenamento jurídico sobre a educação profissional fornece
suporte legal a esse esvaziamento da qualidade e ao deslocamento de parte da
responsabilidade do Estado para a iniciativa privada, o que, inclusive, evidência uma
realidade adversa dos discursos recorrentes acerca da privatização no que se refere a melhoria
da qualidade. Ao contrário, como a precarização do ensino profissionalizante se mostra um
problema estrutural, as instituições privadas – mesmo com recursos públicos provenientes das
parcerias feitas com o Estado – também reproduzem a lógica estrutural: Expandem seu
alcance produzindo o efeito aparente de democratização e inclusão, porém não investem em
uma formação de boa qualidade; configurando um grande desperdício de dinheiro público
com embasamento jurídico. Esse fato demonstra que a atual concepção de Estado – Estado
atuando com lógica de mercado – tem falhado em elaborar políticas públicas que reafirmem a
primazia da oferta pública de educação profissional de qualidade; algo notável na comparação
entre os Decretos 2.208/97 e 5.154/2004, que vigoraram em épocas de administrações com
propostas relativamente diferentes, mas que em se tratando de legislar acerca da educação
profissional, a segunda administração mostrou-se conservadora e pouco alterou o que ficou
estabelecido pelo Decreto 2.208/97.
Conclusão.
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sentido muda de sentido indicando uma formação não para a vida em sociedade mas para
apenas um das dimensões da vida em sociedade, que é o trabalho. É preciso questionar qual é
o tipo expansão do ensino profissionalizante mais adequado ao sentido de educação. Uma
educação profissionalizante que além de prover os indivíduos de ferramentas para exercício
pleno de suas funções no mercado, forneça os aparatos teóricos e cognitivos para
emancipação desse indivíduo enquanto pessoa humana. Par tal talvez seja necessário que o
Estado como produtor de representações sociais (Durkheim, 2002) se desvencilhe do modelo
neoliberal de atuação, para então conseguir pensar a educação de forma mais humanista,
menos tecnocrática, produzindo cidadãos capazes de enxergar e entender a estrutura social na
qual estão inseridos e assim, capazes de atuar como agentes mais coscientes no mundo social.
Bibliografia:
CURY, Carlos Roberto Jamil. A qualidade da Educação Como Um Direito. Educ. Soc.,
Campinas, v. 35, nº. 129, p. 1053-1066, out.-dez., 2014.
SILVA, Mônica Ribeiro da; PELISSARI, Lucas Barbosa; STEIMBACH, Allan Andrei.
Juventude, escola e trabalho: permanência e abandono na educação profissional técnica de nível
médio. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 403-417, abr./jun. 2013.