CARLOS RODRIGUES BRANDÃO. O que é educação. São Paulo (Sp): Brasiliense, 1995.
A educação não é um conceito, ou mesmo uma estrutura, universal, compreendida
igualmente independentemente da perspectiva que se adote. A compreensão acerca do que consiste a educação muda a depender das estruturas vigentes em conglomerados sociais e do valor social atribuído a essa instituição do saber. Dessa maneira, a educação, como conceito variável é também passível de ser usada como instrumento de dominação, em que a organização do conhecimento e a compreensão de mundo daqueles que detêm os meios para sua produção e difusão são considerados legítimos enquanto que os conhecimentos tradicionais e ancestrais dos dominados são tidos como arcaicos e primitivos. Dessa maneira, se faz necessária a reflexão acerca dos possíveis empregos da educação já que, ao se adotar uma narrativa de ensino-aprendizagem, adota-se também uma ideologia e uma maneira de recortar a realidade que posiciona certos indivíduos em posições de dominação e outros em posição de subserviência. A educação tem a capacidade, assim, de garantir que essas posições sejam perpetuadas se não for tomada a partir de uma abordagem crítica. Importa pensar, portanto, em como a própria acepção de “educação” é permeada por ideias eurocêntricas que tendem a desconsiderar como educação os ensinamentos seculares de comunidades tradicionais ou mesmo as ações e interações cotidianas e inócuas nos anos iniciais das crianças. Contudo, independente na forma que toma, a educação é um meio para se alcançar, entre outras coisas, o fim da socialização e da aprendizagem de certas habilidades. OLIVEIRA, J.F. A função social da educação e da escola pública: tensões, desafios e perspectivas.
Ao longo dos séculos, educação desempenhou diversos papeis conflitantes na história
da humanidade, sendo por si um reflexo das tensões sociais. Contudo, a educação não é um fim em si mesma e visa a servir alguns propósitos como a reprodução de normas sociais, construções de habilidades técnicas e ideológicas e criação de força de trabalho para o crescimento econômico dentro do sistema econômico-financeiro do capitalismo. Embora haja o consenso de que a educação é uma ferramenta emancipatória através do qual cidadãos de um país concretizam o acesso democrático a direitos constitucionais, a estrutura econômica atual vê a educação como uma commodity e aqueles que não a detêm são considerados desqualificados e, portanto, supérfluos. Depreende-se, dessa maneira, que as contínuas alterações quanto às exigências de qualificações na atual estrutura trabalhista modificam, por sua vez, a compreensão acerca do que é a educação e seu fim último. A mudança paradigmática da educação requer, assim, repensar estruturas de ensino que permitam que a competitividade no mercado de trabalho seja disputada em uma arena mais igualitária. Essas alterações nas estruturas de ensino são refletidas em iniciativas e planos governamentais que prezam pela satisfação das demandas de produção, deixando em segundo plano a educação como direito social. Cumpre recuperar, portanto, o papel de socialização e emancipatório que a educação inerentemente cumpre ao conscientizar indivíduos acerca da sua historicidade e subjetividade, conceitos que superam o ideal econômico-produtivo que vê trabalhadores como peças alienadas dentro do motor de produção capitalista. Essas questões inevitavelmente envolvem o conceito de “educação de qualidade” que pode ser entendida a partir da perspectiva econômica e da perspectiva social, que compreende a educação como direito que só pode ser alcançado democraticamente a partir da participação da comunidade escolar e da valorização da educação.
O futuro roubado com a reforma do Ensino Médio: dualidades educacionais, exclusão digital na pandemia da Covid-19 e o ensino politécnico como possibilidade pedagógica de formação integrada em espaços educativos