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Vida Afetiva
Vida Afetiva
A vida afetiva engloba todos os nossos afetos e as nossas múltiplas relações. É ela
que vai enriquecer nossos dias com sentimentos e emoções, bons ou ruins, fáceis ou
difíceis. Com isso, a vida vai sendo colorida conforme vamos construindo e mantendo
nossas relações. A maior ou menor capacidade de cada pessoa ser afetada pelo outro,
pelas situações, irá transparecer na capacidade do indivíduo de ser mais ou menos objetivo
e racional.
Quanto mais convivemos com alguém, mais criamos indentificações com essa
pessoa e às vezes nossos hábitos e gostos se tornam mais parecidos. Ou seja, a imagem
que vamos construindo de nós, vai se mesclando em partes ao que é do outro. Assim, vão
surgindo nossas relações íntimas, nossos afetos.
O humor é a nossa lente afetiva por onde enxergamos as diversas situações, sendo
que o estado dessas lentes irá favorecer uma visão mais ampla ou reduzida das
experiências. Nesse estado de ânimo, há o encontro da vertente somática com a psíquica.
As emoções são experiências que revelam a unidade psicosomática básica do
indivíduo. Decorrem de reações às situações, podendo ser conscientes ou inconscientes.
Ou seja, são intensas, abalam o equilíbrio emocional e geralmente têm curta duração.
Já os sentimentos são configurações estáveis, construídas ao decorrer de um
período de tempo e portanto são mais mentais do que somáticas. Como estão mais
associados aos conteúdos intelectuais irão depender do universo semântico de cada
cultura. Alguns sentimentos que se apresentam uma cultura às vezes não existem, no
mesmo formato, em outra.
Ao longo do filme podemos observar que a princesa dialoga de forma breve com a
rainha e em dois outros momentos com o príncipe Charles. Ela passa a maior parte do
tempo com seus filhos, Harry e William, com sua camareira e com o cozinheiro. Nessas
relações ela consegue ser ela mesma e demonstrar um pouco da sua insatisfação em estar
naquele lugar. Ela também consegue ter poucos momentos leves e divertivos, em geral
quando está com os seus filhos. Ou seja, ela tem um ciclo social bem restrito e ainda fica
exposta diariamente a um convívio forçado, com pessoas que ela sente como se
estivessem incomodadas com o seu comportamento. Tudo o que ela faz parece ser errado
ou inadequado, o que reforça principalmente os sentimentos relacionados à esfera da
rejeição.
Depressão
Na página 163 do livro, o psiquiatra suíço Paul Eugen Bleuler traz o conceito de
Catatimia, que seria uma “influência que a vida afetiva, sobretudo o estado de humor (mas
também emoções, sentimentos e paixões), exerce constantemente sobre as demais
funções psíquicas”. A afetividade influi na vida mental normal e patológica da pessoa.
Analisando a Diana no filme, é perceptível o quanto o afeto gira em torno de sua vida, o
quanto o tema afetividade influencia. Temos o relacionamento com o marido, com os seus
dois filhos, com sua camareira e confidente Maggie, e com alguns outros poucos
empregados. Claramente é mostrado o quão pobre e quase inexistente de afeto é o
relacionamento dela com seu esposo, Charles. Com as traições do príncipe e a evidente
indiferença dele para com os sentimentos de Diana escancaram um relacionamento quase
que de fachada naquele contexto. E havia um sofrimento por parte dela quanto a isso.
Quanto a ser trocada por outra, quanto a ser negligenciada por ele e sua família, quanto a
não ser escutada nem validada. Por outro lado, Diana tem duas de suas “válvulas de
escape” nos relacionamentos com os filhos, os quais amava muito e fazia tudo por eles. E
pela sua camareira e melhor amiga Maggie, a quem confidenciou seus sentimentos,
pensamentos, era quem ela confiava abrir seu coração.
A afetividade infude outros campos, tais como: atenção, vivência do tempo,
memória, sensopercepção e pensamento e decisões. A atenção pode ser captada, dirigida,
desviada ou concentrada em função do valor afetivo de determinado estímulo. No caso de
Diana, sua atenção era bastante concentrada na questão da traição de Charles, na
invalidação por parte dele e da Rainha em relação aos seus anseios, e também voltada às
crianças, que eram quem a “sustentava” a sua permanência ali, presa naquele castelo. A
vivência do tempo oscila segundo o colorido afetivo do estado emocional no qual estamos,
ou seja, relaciona-se a Diana na questão da afetividade quando ela se recorda a todo
momento o seu passado, a sua liberdade, a sua vida antes de entrar para a realeza, suas
danças, suas brincadeiras. Diana apresenta um comportamento de alguém deprimido,
alguém que está mais preso ao passado. A memória é altamente detalhada ou muito pobre
dependendo do significado afetivo dos fatos ocorridos. A Diana tem uma memória
impecável quando o assunto é seu passado e, no filme, percebemos que a todo momento
ela está relembrando o que vivenciou. A sensopercepção pode alterar em função de
estados afetivos intensos, desencadeando, inclusive, alucinações em pessoas com
psicoses. Em algumas cenas podemos ver Diana alucinando devido a associar o tema do
livro em que lia (traição) com sua própria vida. O estado afetivo posto nessa leitura que ela
faz é tão intenso que acaba por promover certas alucinações.
Com relação à psicose, que seria o “estado mental de perda de ligação com a
realidade, que pode resultar em alucinações, mudanças de personalidade, desordem de
pensamentos, além de delírios, problemas sociais e claras dificuldades para realizar tarefas
cotidianas”, não há a crença de que era o caso dela, mas sim de talvez uma Psicose reativa
breve, que seriam os sintomas que surgem apenas em resposta a um evento muito
estressante, ou seja, algo mais pontual, em determinadas ocasiões apenas, mas não
sempre.
E quanto aos seus pensamentos e decisões, estes seguem os imperativos de
emoções e sentimentos, sejam eles conscientes ou não conscientes. Relaciona-se com a
Diana no sentido de ela estar consciente de sua posição, de seu status e de sua função
como princesa, mas também ter consciência de que era uma mãe de dois filhos, esposa e,
infelizmente, uma prisioneira, um “pássaro enjaulado”, que não tinha voz alguma, e com
isso seus comportamentos e comentários externalizavam a sua revolta interior sobre aquilo
que vivia.