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Apostila Didática Do Ensino 2023 - Unidade I
Apostila Didática Do Ensino 2023 - Unidade I
epistemologia,
especificidades e
pressupostos
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INTRODUÇÃO E OBJETIVOS (Unidade I)
Nesta Unidade I, estudaremos o conceito de didática, bem como suas
especificidades e alguns de seus pressupostos históricos. A pergunta norteadora
dessa primeira unidade é: O que é a didática?
Penso que a primeira coisa a se fazer ao trabalhar com a questão da didática,
é situar a instituição escola. Para Saviani (2003), a escola é local de socialização do
saber no sentido de humanização do homem. Para o autor, educar não é apenas
educar sujeitos para a sociedade, mas sim sujeitos conscientes que possam
transformá-la.
Ao pensar na escola, é preciso compreender, também, que ela é permeada
pelas diversas tendências pedagógicas que fazem parte do contexto histórico
educacional. Por isso, mais à frente, estudaremos alguns dos principais teóricos que
escreveram sobre essas tendências pedagógicas.
O principal objetivo desta unidade, é que você compreenda o conceito de
didática e perceba que há várias abordagens que abrangem o processo de ensino-
aprendizagem.
Que abordagens são essas?
Vamos lá?
responsável pelo estudo e reflexão sobre a teoria da Educação e é nesse sentido que
se localiza a , como a teoria e a prática da instrução e do ensino (HAYDT,
2006).
Portanto, didática está muito ligada à questão da aprendizagem. Veremos que,
inclusive, seu objeto de estudo é o próprio processo de ensino-aprendizagem e nosso
foco aqui é trazer à tona o conceito de didática.
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A Pedagogia é o estudo sistemático da educação. É a reflexão sobre
as doutrinas e os sistemas de educação. A Didática é uma seção ou
ramo específico da Pedagogia e se refere aos conteúdos do ensino e
aos processos próprios para a construção de conhecimentos.
Enquanto a Pedagogia pode ser conceituada como a ciência e a arte
da educação, a Didática é definida como a ciência e a arte do ensino
(HAYDT, 1997, p. 13, grifos nossos).
Resumindo:
Pedagogia: arte e ciência da educação.
Didática: ciência e arte do ensino.
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e as duas irmãs, vitimados pela peste. Sua educação fundamentou-se em saber ler,
escrever e contar. Foram ensinamentos aprendidos em ambiente rígido com prática
da palmatória. O professor era o centro do processo, portanto, os conteúdos
escolares eram inquestionáveis. Talvez esse rigor da escola e a falta de carinho, que
marcaram a vida de órfão, tenham inspirado seus princípios de uma didática
revolucionária para o século XVII.
É na Pedagogia Moderna, na qual temos a figura de Comenius, que surge a
ruptura com o tal “dom de ensinar”. A partir dessa Pedagogia, que há o despertar de
certo olhar mais crítico para esse processo, entende-se que não se trata de ter o
determinismo do dom para ensinar. É preciso pensar em estratégias de ensino para
que os estudantes aprendam mais.
A concepção de Didática Moderna nasce com Jan Amós Comenius e tem o
respaldo em Jean-Jacques Rousseau (Educar para a emancipação do indivíduo).
O lema de Comenius era “Ensinar tudo a todos”. Por isso, chamam
Comenius de o pai da Didática Moderna.
Aumentar-se-á ao estudante a facilidade da aprendizagem, se lhe
mostrar a utilidade que, na vida cotidiana, terá tudo o que se lhe
ensina. (...). Portanto, não se ensine senão aquilo que se apresenta
como imediatamente útil (COMENIUS, 1957, p. 246).
E continua a nos ensinar:
Portanto: (1). Logo que uma coisa seja entendida, pense
imediatamente na utilidade que ela pode vir a ter, para que nada se
aprenda em vão; (2). Logo que uma coisa seja entendida, difunda-se
de novo, comunicando-a a outros, para que nada se saiba em vão
(COMENIUS, 1957, p. 265).
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Nessa obra, Didática Magna, não encontramos apenas teorias, mas também
suas experiências vividas em sala de aula, uma vez que ele faz diálogos entre a teoria
e a prática. São propostas metodológicas para facilitar a prática docente,
considerando que a disciplina é importante em sala de aula, mas despida de violência.
Nesse sentido, ele enfatiza que no processo de ensino-aprendizagem é fundamental
o respeito, o afeto e o prazer em ensinar e aprender.
Outra obra escrita por ele foi “Orbis Sensualim Pictus”, de 1658, que pode ser
considerada como uma primeira obra para crianças, associando palavras, conceitos
e, até mesmo, imagens.
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Figura 4 – Obra Orbis Sensualim Pictus, de Comenius
Esta obra, que associa texto e imagem, também representa uma maneira de
pensar em como se ensinar “tudo a todos”, o que demostra a atualidade do
pensamento de Comenius que, com certeza, foi um grande educador do século XVII
que até hoje deixa aprendizagens significativas nesse processo de ensinar e
aprender, inclusive, destaca-se que esse processo constitui o próprio objeto de
estudo da didática: o ensino (professor) e a aprendizagem (o educando), ou seja, o
processo de ensino-aprendizagem. A didática enfatiza a relação professor-educando.
Link: https://youtu.be/pDMjytkuJJw
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1.2 AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
Todos nós aprendemos, mas para ensinar é preciso buscar um suporte teórico
para compreender melhor o processo de ensino-aprendizagem.
Neste tópico, indico a leitura do texto “Abordagens do processo de ensino-
aprendizagem”1, de Roberto Vatan dos Santos que, mesmo escrito em 2005, merece
nossa atenção, porque esse autor traz um comparativo importante sobre os
referenciais teóricos desse processo. Analisa quatro aspectos que são fundamentais
para compreendermos bem esse contexto da didática: escola, educando, professor,
processo de ensino-aprendizagem. Traz uma reflexão sobre as abordagens
tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista e sociocultural.
Vocês verão que o autor apresenta as ideias de quatro autores sobre as
abordagens do processo de ensino-aprendizagem:
Primeiro: o autor fala das estratégias de ensino de Bordenave (1984)
considerando a Pedagogia da Transmissão, Pedagogia da Moldagem e Pedagogia
da Problematização.
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Segundo: traz as tendências pedagógicas estudadas por Libâneo (1982), que
são: a) Pedagogia Liberal, em suas versões: conservadora, renovada progressista e
renovada não-diretiva; b) Pedagogia Progressista, em suas versões: libertadora,
libertária, de conteúdos.
Para aprofundar, sugiro que estudem um pouco mais as concepções sócio
epistemológicas, trazidas por Libâneo, referentes às Pedagogias Libertadora
(chamada pelo seu criador, Paulo Freire, de Pedagogia do Oprimido) e Crítico-social
dos conteúdos (por volta dos anos 80, baseada na concepção Histórico-crítica de
Educação, de Dermeval Saviani, preconizada por ele no final dos anos 70). Libâneo
liderou um grupo de educadores que defendiam a democratização dos conteúdos
culturais sistematizados, o acesso e a permanência das pessoas de classes
populares nas escolas públicas. E foi esse grupo que criou a chamada Pedagogia
Crítico-social dos Conteúdos.
Figura 6 – José Carlos Libâneo
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voltada para uma educação de conscientização e de prática social e procura
historicizar a educação.
Para aqueles que tiverem interesse, deixo na nota de rodapé, o link da minha
dissertação de mestrado2, pesquisa objetivada em estudar vida e obra desse
educador brasileiro, Dermeval Saviani.
Figura 7 – Dermeval Saviani
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Neste texto de Santos (2005), vocês verão que o autor condensa uma análise
comparativa desses quatro autores ao abordar tanto dos pressupostos comuns
quanto dos diferentes, referentes às diversas abordagens que procuram explicar o
processo de ensino-aprendizagem.
De um modo geral, nesta primeira unidade, quis mostrar que a didática tem
como objeto de estudo, o processo de ensino aprendizagem e, este processo, envolve
a relação professor-educando (educador-educando), a construção do conhecimento
(depende da relação professor-educando, depende da didática – forma de ensinar
e de aprender, depende da seleção de conteúdos - planejamento), as estratégias
cognitivas e as formas de avaliar. A escola é esse mundo do conhecimento e a
questão pedagógica e didática está totalmente ligada à aprendizagem do pensar e,
para levar o educando à pensar, é necessário ter uma boa didática, que envolve
planejamento efetivo, seleção de conteúdos significativos que promovam críticas e
problematizações, conhecimento do assunto a ser tratado e estratégias bem
pensadas para avaliar (não se trata de pensar em nota – número; trata-se de pensar
nesse instrumento como uma possibilidade de aprendizagem: avaliar o quê? Para
quê? Como?).
É importante perceberem que a didática envolve o entrelaçamento entre:
planejamento (objetivos de ensino) / seleção de conteúdos (selecionar em funções
dos objetivos) / formas de avaliar (estabelecer os vínculos entre ensino e
aprendizagem).
Lembrem-se que o maior motivo do fracasso escolar, é a falta de preparo da
organização escolar (metodologias, didáticas de procedimentos adequados para
serem trabalhados com as crianças).
Todos esses tópicos – que correspondem a seleção de conteúdos desta
disciplina de didática (organização do trabalho pedagógico, avaliação, relação
professor-educando) – elencados acima, serão discutidos nas próximas unidades
desta apostila. As unidades se inter-relacionam.
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Atenção – A leitura do texto indicado neste tópico 1.2 é
obrigatória e seu conteúdo poderá ser cobrado em atividades
avaliativas da disciplina.
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