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LAUDO PSICOLÓGICO

1. IDENTIFICAÇÃO
Dados do paciente:

Nome: Carlos Celso Lisboa

Sexo: Masculino

Idade: 37 anos

Endereço: Rua da Flores, sem nº

Telefone: (21) XXXX XXXX

Solicitante: Empresa Malote Seguro LTDA

Finalidade: Para complementação diagnóstica de comprovação de capacidade


laboral com arma de fogo
Autora: Psicóloga X (CRP: 05/XXXX)

2. DESCRIÇÃO DA DEMANDA

No dia 27 de março de 2024, o paciente Carlos Celso Lisboa foi encaminhado


pelo RH da sua empresa, para avaliação de sua capacidade ou incapacidade
laboral devido ao manuseio da arma de fogo indevido, apontando-a para
cabeça de um outro funcionário, visto por câmeras de segurança.

Histórico da demanda:
Em relação ao encaminhamento da empresa existe a suspeita de consumo
excessivo de bebidas alcoólicas relatado por colegas de trabalho que
percebem o odor excessivo de álcool, bem como respostas ríspidas sem
contexto e coerência. Na descrição da solicitação também tem a descrição dos
machucados visíveis na chegada ao trabalho.
Assistência prestada:
Carlos foi encaminhado pela empresa ao setor médico diversas vezes, devido
aos machucados e a alta pressão arterial. Carlos aceitou o encaminhamento
alegando em entrevista inicial que às pessoas o estão perseguindo, que ele
bebe socialmente e que também a sua hipertensão arterial está regulada. E
declarou que desde quando a voz da sua cabeça disse que a esposa o estava
traindo, não conseguia dormir direito e que este problema está ao fim de seu
relacionamento, que ele estava disposto a perdoar, desde que sua esposa
confessasse que o traiu. O encaminhamento para avaliação se deu devido o
Recursos Humanos da empresa perceber a necessidade de uma avaliação
mais abrangente e profunda para compreender a natureza do suposto
sofrimento psíquico.

Histórico familiar:
Paciente cresceu em um ambiente familiar no qual o consumo de álcool era
comum e socialmente aceitável. Seu pai tinha o hábito de beber regularmente,
e isso era visto como parte da cultura familiar. Carlos relatou que seu pai ao
beber ficava mais relaxado e brincalhão com ele. Embora não tenha havido
histórico de alcoolismo severo na família, o consumo moderado era uma
prática comum durante eventos sociais. O Pai de Carlos sempre quis que ele
seguisse a carreira de dentista, assim como ele na questão profissional. Carlos
alega nunca querer seguir carreira de dentista, e, por isso, diz que seus pais o
matricularam em um colégio interno. Durante sua permanência nessa
instituição relatou que, por determinação de seu pai a instituição, as vezes não
se alimentava. Além disso, era trancado em quartos escuros, como castigo e
que era perseguido por superiores da instituição. Hoje Carlos é vigilante e
desenvolvedor de sistemas nas horas livres como autônomo. Diz que sua mãe
o considera como uma pessoa inteligente, porém por conta de não seguir a
carreira que o pai queria, era muito agredido fisicamente por sua mãe, e que
seu pai não o apoiava.

3. PROCEDIMENTO
A avaliação psicológica foi realizada no período de 27/03/24 a 15/05/24. A
escolha dos instrumentos projetivos/expressivos foi baseada na lista de testes
com parecer favorável disponíveis no SATEPSI. Carlos foi submetido aos
seguintes exames psicológicos com o objetivo de investigar se há fatores de
personalidade patológica que possam estar associados ao comportamento
compulsivo com a bebida e a agressividade.

1 - Entrevista Diagnóstica

Para levantamento de hipóteses diagnostica de psicopatologias com o


examinando e com familiares: 3 sessões: uma com um familiar (esposa) - e
duas com o examinando, cada sessão com duração de uma hora.

A análise do conteúdo da entrevista foi fundamentada na TCC para


compreensão da dinâmica da personalidade (Teorias da personalidade - Feist,
J e organizadores, 2015) e nos estudos nosológicos do DSM V - TR (2022) e
nos estudos de Psicopatologia dos Transtornos Mentais (Dalgalarrondo, P.,
2021).

2. Teste de Rorschach (VAZ, 2006)

Para identificar estrutura da personalidade e sinais de psicopatologias. Foi


aplicado em uma sessão de duração de uma hora do Teste de Rorschach.

3 HTP (TARDIVO, 2007)

Para compreender aspectos da personalidade do indivíduo bem como a forma


dele interagir com as pessoas e com o ambiente, foi aplicado em uma sessão
de duração de uma hora.

4 Sessão de devolutiva: em que o laudo foi apresentado ao paciente, com os


encaminhamentos descritos no presente laudo.

4. ANÁLISE:

Durante as sessões de entrevista foi possível perceber que Carlos apresenta


um afeto inadequado, alterações do humor expressadas como depressão,
ansiedade ou raiva e um padrão de sono perturbado. Nota-se descontrole
emocional, oscilando de ansiedade intensa a depressão intensa.

Sua esposa compareceu aa sessão, chegando atrasada e muito retraída. Diz


que está separada de corpos com Carlos já a 3 meses e que o mesmo a um
tempo vem apresentando comportamento estranho e agressivo. Diz que não
dorme e escuta o mesmo falando a noite sozinho, como quem responde a uma
pessoa. Quando questionada se já foi agredida fisicamente, diz que não, mas
as ameaças e a agressividade verbal são constantes, pois que o marido relata
que sabe de traição que não existiu.

Nas sessões Carlos relata que acredita que sua ingestão de bebida alcoólica
não é excessiva, porque segundo ele, bebe todos os dias, mas pequenas
doses. Que o seu problema real são as pessoas que o traem e o perseguem.
Que ao beber, a voz que escuta constantemente, fica mais baixa e ele
consegue relaxar. Que quando não bebe, essa voz fica falando em sua cabeça
sem parar, inclusive não o deixa dormir. Ao ser indagado de quem é a voz, fica
muito irritado e diz que ela está com ele desde o internato. Quando
questionado com quem ele brigava, o paciente relata que briga, porque sabe
que essas coisas que a voz diz para ele são verdades, e que ele odeia
mentiras e quando confronta as pessoas que mentem para ele, fica com raiva.
Ao ser questionado sobre as escoriações no corpo, Carlos informa que brigou
na rua afirmando ser a voz que diz a ele a verdade do que tais pessoas estão
falando. Que estão de “cochicho”, e estão falando mal dele. E quando
confronta essas pessoas questionando, elas mentem e ele perde a paciência
ocasionando brigas.

Nos testes podemos verificar as seguintes conclusões:

1.Diagnóstico de Rorschaell - apresentou conflitos internos entre forças


repressoras e forças reprimidas (Superego e id) não conseguindo controle das
forças reprimidas (impulsos), reagindo com comportamentos que fogem ao seu
controle racional e explosões afetivas. A figura de autoridade foi interiorizada de
forma negativa, representando ameaça a sua integridade, ocasionando assim
uma debilidade patológica na relação do examinando com a realidade, com
uma incapacidade de identificar segurança no meio ambiente.

2-Diagnóstico do HTP - Carlos apresentou como características um significado


emocional intenso, mobilizando associações conscientes e inconscientes
referentes ao lar. Esse resultado traz claramente uma relação com as
verbalizações durante as sessões, onde traz o conflito com a figura paterna. Os
principais traços encontrados foram ansiedade, depressão, e grande potencial
para desenvolver psicopatologias, em especial a esquizofrenia. Os resultados
sugerem também sentimento de frustração, forte necessidade de afastamento,
luta para manter a integridade do ego, negativismo, necessidade de
estruturação da situação de forma mais segura, pensamentos expansivos de
despersonalização, tensão, ambiente restritivo, compensação, regressão
preocupação consigo mesmo e fixação no passado.

O caso de Carlos envolve um cenário bastante familiar no qual um jovem com


funcionamento elevado sofre um declínio significativo. Carlos parece estar
reagindo a estímulos internos (Ex: alucinações auditivas) e demonstrando
sintomas negativos (não dorme). Esses sintomas persistiram e se
intensificaram ao longo do ano anterior.

A avaliação da personalidade
foi realizada através da
observação e do teste
House-Tree-Person (HTP).
Os principais traços
encontrados foram:
impulsividade,
agressividade,
obsessividade, ansiedade,
depressão, timidez,
retraimento,
organicidade (em destaque
o hemisfério esquerdo) e
grande potencial para
desenvolver psicopatologia
(em especial a
esquizofrenia). Os resultados
sugerem
também sentimento de
frustração; forte
necessidade de
afastamento; luta para
manter a integridade do
ego; negativismo; rebeldia
à autoridade; insegurança;
necessidade de
estruturação da situação
de forma mais segura;
pensamento
expansivo; ego inflado;
supervalorização da
inteligência; fantasia;
ajustamento
pobre; imaturidade;
sentimento de
despersonalização; tensão;
energia; ambiente
restritivo; compensação;
regressão; preocupação
consigo mesmo; fixação
no
passado; negação; tendência
para evitar emoções;
dependência; contato pobre
com
a realidade; ambivalência
social; preocupações sexuais
A avaliação da personalidade
foi realizada através da
observação e do teste
House-Tree-Person (HTP).
Os principais traços
encontrados foram:
impulsividade,
agressividade,
obsessividade, ansiedade,
depressão, timidez,
retraimento,
organicidade (em destaque
o hemisfério esquerdo) e
grande potencial para
desenvolver psicopatologia
(em especial a
esquizofrenia). Os resultados
sugerem
também sentimento de
frustração; forte
necessidade de
afastamento; luta para
manter a integridade do
ego; negativismo; rebeldia
à autoridade; insegurança;
necessidade de
estruturação da situação
de forma mais segura;
pensamento
expansivo; ego inflado;
supervalorização da
inteligência; fantasia;
ajustamento
pobre; imaturidade;
sentimento de
despersonalização; tensão;
energia; ambiente
restritivo; compensação;
regressão; preocupação
consigo mesmo; fixação
no
passado; negação; tendência
para evitar emoções;
dependência; contato pobre
com
a realidade; ambivalência
social; preocupações sexuais
5. CONCLUSÃO

A partir dos resultados e analises decorrentes da presente avaliação foi


possível observar que o paciente apresenta indicadores de severo
comprometimento no que diz respeito à capacidade de representação e
organização do eu. Em relação à percepção de si, de seu mundo interno

Cabe ressaltar mudanças afetivas proeminentes, comportamentos


irresponsáveis e imprevisíveis. O afeto é superficial e acompanhado por iras
sem contexto pertinente. Tendo em vista os resultados obtidos durante a
avaliação levantamos a hipótese de esquizofrenia, de acordo com o DMS V-
TR.

Outro aspecto importante a ressaltar está em Pellini (2000) in Caneda que


aponta no teste de Rorschach orientações ao fornecimento do porte de arma
de fogo, no contexto da lei. Para ela, o método de Rorschach possibilita o
acesso às principais funções psíquicas – afetividade e inteligência – como
referência para a contraindicação do porte de arma de fogo. Que considerou
cinco fatores de contraindicação no protocolo em questão, a saber: índices de
impulsividade; adaptação à realidade; dinamismos envolvidos no ajustamento
pessoal e social; grau de maturidade psicológica e autoafirmação; expressão
amadurecida dos afetos; e, coordenação motora e manutenção da atenção.
Sugere que a presença de pelo menos três dos cinco indicadores seria
suficiente para impossibilitar o candidato de portar uma arma.

Devido a natureza, o curso de tempo dos sintomas e levando em consideração


que o porte de arma de fogo exige, a quem porta, controle emocional, da
impulsividade e da agressividade, como também adequação a realidade e a
adaptação social a presente avaliação indica que Carlos apresenta um perfil
indicador e restritivo ao porte de arma

Importante salientar que na sessão devolutiva ocorreu a entrega do laudo


psicológico e a comunicação verbal discriminada das informações globais do
processo, onde reforçando aspectos sadios e adaptativos do paciente bem
como os menos adaptativos para o diagnóstico encontrado. Carlos aceitou as
indicações terapêuticas mas ressaltou a continuidade da percepção de estar
sendo perseguido.

Indicações terapêuticas:

a) Psicoterapia: psicoterapia individual

b) Avaliação complementar: Psiquiatra e Clinico geral

c) Atividade laboral: Implementação de uma função sem uso de arma de fogo.

Por fim, ressalta-se que a presente avaliação psicológica possui um caráter


situacional e temporal focada no presente, sendo necessária nova avaliação
psicológica conforme a demanda e após as intervenções sugeridas acima.

6. REFERÊNCIA

CANEDA, Cristiana Rezende Gonçalves e TEODORO, Maycoln Leôni Martins.


Contribuições da avaliação psicológica ao porte de arma: uma revisão de
estudos brasileiros. Aletheia [online]. 2012, n.38-39, pp.162-172. ISSN 1413-
0394.

Conselho Federal de Psicologia (2022). Resolução nº 031 de 15 de


dezembro. Brasília, DF.

______. Resolução CFP nº 010/2005 que aprova o Código de Ética Profissional


do Psicólogo (CEPP)

GRAEFF, F.G.; BRANDÃO, M.L. Esquizofrenia. In GRAEFF, F.G.; BRANDÃO,


M.L. Neurobiologia das Doenças Mentais. 5 ed. São Paulo: Lemos Editorial,
1999. 254 p.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR [American


Psychiatric Association] ; tradução: Daniel Vieira, Marcos Viola Cardoso,
Sandra Maria Mallmann da Rosa; revisão técnica: José Alexandre de Souza
Crippa, Flávia de Lima Osório, José Diogo Ribeiro de Souza. – 5. ed., texto
revisado. – Porto Alegre : Artmed, 2023. E-pub.

Pellini, M. C. B. M. (2000). Avaliação psicológica para porte de arma de fogo.


São Paulo: Casa do Psicólogo

POLÍCIA FEDERAL. Instrução normativa nº 78 de 10 de Fevereiro de 2014 que


estabelece procedimentos para o credenciamento, fiscalização da aplicação e
correção dos exames psicológicos realizados por psicólogos credenciados,
responsáveis pela expedição do laudo que ateste a aptidão psicológica para o
manuseio de arma de fogo e para exercer a profissão de vigilante.

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