2 – OS TRABALHADORES SE REVOLTAM: O GRANDE MASSACRE DE GATOS DA RUA SAINT-SÉVERIN – ROBERT DARTNON CAP. 6 – TEMPO, DISCIPLINA DE TRABALHO E CAPITALISMO INDUSTRIAL –E. P. THOMPSON
Profa. Esp. Olga de Almeida Corrêa
O grande massacre de gatos Gráfica de Jaques Vicent, em Paris durante o fim da década de 1730; Aprendizes: Jerome e Léviellé – vida dura e de exploração exacerbada – maus-tratos, insultos dos assalariados, péssima alimentação (comiam sobras); Proliferação de gatos pelas ruas – animais de estimação de algumas famílias burguesas; Copies: forma importante de divertimento para os homens; O episódio em conjunto, o massacre dos gatos acrescido das copies, é destacado como a experiência mais hilariante em toda a carreira de Jerome. Dartnon: Qual o papel do humor na vida desses homens? Onde está o humor, num grupo de homens adultos balindo como bodes e batendo seus instrumentos de trabalho, enquanto um adolescente reencena a matança ritual de uma animal indefeso? Distância entre o presente e o passado, necessidade de se debruça com a lente daquele período para uma melhor compreensão; Dartnon: “Entender a piada do grande massacre de gatos pode possibilitar o ‘entendimento’ de um ingrediente fundamental da cultura artesanal, nos tempos do Antigo Regime; Autobiografia de Contat: era comum tipógrafos fazerem relatos sobre seu cotidiano e suas experiências; Massacre dos gatos: ataque indireto ao patrão e a sua mulher; Disparidade entre a vida dos trabalhadores e dos burgueses; Elementos fundamentais da vida: trabalho, comida e sono; Léveillé se torna o herói da oficina: “todos os operários estão unidos contra os mestres. Basta falar mal deles (os mestres) para ser estimado por toda a assembléia de tipógrafos”; Enorme quantidade de grandes gráficas que apoiadas pelo governo eliminaram as maioria das oficinas menores – deterioração da situação dos empregados; Meios para progredir na profissão: casamento com viúvas de mestres – condição de mestre tornou-se um privilégio hereditário; Tendência de contratar tipógrafos sem qualificação – fonte de trabalho barato – trabalho se torna uma mercadoria, em vez de uma parceria, como anteriormente; Grande rotatividade de mão de obra: brigas, tentativa de ganhar fortuna em outros lugares, fugas, demissões geradas por fim de “contrato”; Objetivo: manter o equilíbrio entre as duas partes da oficina a “casse e a presse; Violência, bebedeira e o absenteísmo aparecem nas estatísticas de rendimentos e produção; Características procuradas em um trabalhador: assiduidade e sobriedade – manter a regularidade do trabalho; Troca de informações entre recrutadores e patrões sobre os artesões, formou um conjunto de crenças sobre eles: eram preguiçosos, inconstantes, dissolutos e não confiáveis; Depósito de garantia: o patrão guardava os pertences, para o caso de escapulirem depois do pagamento; Conat: faz referência a uma época em que patrões e empregados eram companheiros – “família feliz”; Governo: desfez as associações gerais – separação entre mestres e assalariados; Dartnon: é necessário entender o tema obscuro do tema dos rituais e do simbolismo ritual; Ciclos rituais: um dos mais importantes era o carnaval e da quaresma; Carnaval: período de crítica, para os jovens – organização de charivaris ou passeatas burlescas: música grosseira com objetivo de humilhar maridos enganados, maridos espancados pelas mulheres, mulheres casadas com homens mais jovens ou qualquer um que personificasse um infração das normas tradicionais; Carnaval: temporada de hilaridade e sexualidade; Pós-carnaval: ordem, submissão e seriedade da quaresma; Mardi Gras: boneco de palha, o rei do carnaval ou caramantran era julgado e executado, num ritual; Gatos: figuram em vários rituais – São João Batista (24 de Junho, solstício de verão) – multidões faziam fogueiras, pulavam sobre elas, dançavam em torno e atiravam dentro objetos com poder mágico – evitar desastres e conseguir boa sorte durante o resto do ano – um dos objetos favoritos eram os gatos – gatos amarrados dentro de sacos, gatos suspensos em cordas, ou gatos queimados em postes; Prática de perseguição e violência contra os gatos variava de um lugar para o outro; Celebração de cerimônia peculiares a profissão; Tributos e festividades especiais assinalavam a entrada de um homem na oficina, sua saída e até mesmo seu casamento; Ver citação p. 117; A transição de aprendiz para assalariado era marcada por situações de humilhação e tarefas desagradavéis – marcava a passagem da infância para a vida adulta; Nem tudo era tolerado dentro do ambiente da oficina; Ver citação p. 119; Burguês: descrito como um fánatico religioso, cheio de superstições – mundo separado, de moralidade burguesa farisaica; Gatos: sempre atraíram olhares supersticiosos; Os gatos são bons para a realização de cerimônias, têm valor espiritual; Tortura de animais – divertimento popular em toda a Europa, no início dos tempos modernos; Semur: crianças costumavam amarrar gatos a varas e assá-los em fogueiras; Corpus Christi – jogavam os animais para cima, bem alto, e eles se espatifavam no chão; Inglês são descritos como igualmente cruéis: durante a reforma, em Londres, uma multidão protestante raspou os pêlos de um gato de modo a fazê-lo parecer-se com um padre, vestiu-o com uma batina em miniatura e enforcou-o no patíbulo, em Cheapside; Material de análise usado por Dartnon: coletâneas de contos populares, superstições, provérbios e a medicina popular; Gatos sugeriam feitiçaria – brancos e pretos; As feiticeiras se transformavam em gatos para enfeitiçar suas vítimas; Terça de carnaval dias de horrendos sábas; Para se proteger da feitiçaria: devia-se aleijar o gato (cortando-lhe a cauda, aparando suas orelhas, quebrando-lhe a perna, arrancando ou queimando seu pêlo, desta forma a pessoa quebrava seu poder malévolo; Ver parágrafo p. 126; Ter gatos em casa podia significar perigo: sufocavam bebês, entendiam as conversas e contavam tudo na rua; Proteção de casas: enterrar gatos vivos nas paredes; Também havia a relação dos gatos com a vida sexual; Ver parágrafo p. 127; Gritaria de gatos: orgias satânicas; Ver parágrafo p. 129; Feitiçaria, orgia, traição sexual, baderna e massacre, os homens do Antigo Regime podiam escutar muita coisa no gemido de um gato; Quando o burguês ordena o massacre dos gatos ele está aplicando o remédio clássico para a feitiçaria; Aprendizes exploram a superstição do patrão – folia e às suas custas e revolta contra a patroa; Fazem referência ao fato da patroa ter um caso amoroso com seu padre; “um trôpego mestre , uma patroa de meia idade e seu jovem amante”; Episódio de Contat: atmosfera de motim, de festival; Ao executar os gatos condenaram a casa e declaram os burgueses culpados; Atacando o bicho de estimação da patroa, os operários estupravam simbolicamente a patroa; O simbolismo disfarçava o insulto suficientemente bem para não sofrerem consequências; Uma cultura carnavalesca de sexualidade e insubordinação na qual o elemento revolucionário podia estar contido em símbolos e metáforas, ou explodir num levante geral, como em 1789; O episódio procionou aos trabalhadores uma maneira de virar a mesa contra o burguês, que serviu como excelente alvo para a piada, que não foi entendida pelo mesmo; Ter bichos de estimação era tão estranhos aos operários como, para os burgueses torturar animais; Dartnon: “aprisionados entre sensibilidades incompatíveis, os gatos receberam o pior de ambos os universos” Cap. 6 – Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial –E. P. Thompson 1300-1650: mudanças importantes na percepção de tempo no âmbito da cultura intelectual da Europa Ocidental; Entre os povos primitivos, a medição do tempo está comumente relacionada com os processos familiares no ciclo do trabalho ou das tarefas domésticas; Pierre Bourdieu: “uma atitude de submissão e de indiferença imperturbável em relação a passagem do tempo, que ninguém sonha em controlar, empregar ou poupar... A pressa é vista como uma falta de compostura combinada com ambição diabólica” O descaso com o tempo do relógio só é possível numa comunidade de pequenos agricultores e pescadores, cuja estrutura de mercado e administração é mínima; Ver citação p. 272. Não é absolutamente claro até que ponto se podia dispor de hora precisa, marcada pelo relógio, na época da Revolução Industrial; O relógio de sol continuava em uso (em parte para acertar o relógio) nos séculos XVII, XVIII e XIX; Importância do sino: marcação do tempo cotidiano, também lembram aos homens a sua morte, a ressurreição e o Juízo Final; Progresso da exatidão do tempo: uso dos pêndulos após 1658; 1680: aumento da fabricação de relógios portáteis e não portáteis; Ver citação p. 276; Entre 1774-1755: trabalhadores ainda não tem condições de adquiri relógios, o tempo ainda pertencia a gentry, aos mestres, aos fazendeiros – símbolo de status; Os ministros do período afirmavam que a posse de relógios era um sinal de luxo. Difusão de relógios pode ser observada no momento em que a Revolução Industrial requeria maior sincronização do trabalho; Um relógio não era apenas útil; conferia prestígio ao seu dono, e um homem podia se dispor a fazer economia para comprar um; O relógio era o banco do pobre – investimento; Melhoria na condição do padrão de vida – aquisição de relógios é uma das primeira mudanças observáveis; Atenção ao trabalho – sincronização do trabalho; Primeiros desenvolvimentos da manufatura e da mineração – existência de muitas ocupações mistas; Irregularidade da semana de trabalho – críticas e lamentações; Ver citação p. 281; Padrão de trabalho: sempre alternava momentos de atividade intensa e de ociosidade quando os homens detinham o controle da sua vida produtiva. Ver citação p. 282 e 283; Comemoração da santa segunda-feira: a celebação desse dia era uma espécie de privilégio de status do artesão bem pago – mudanças percebidas à media que avançava o século XIX; Mulheres e crianças: trabalhavam ma segunda e na terça-feira, porém predominava “um sentimento de feriado”, o dia era mais curto que o norma; Falta de mecanização – indisciplina que influenciava alguns setores e toda a vida e ar organizações da classe de trabalhadores dos Potteries; Ver citação p. 284; A santa segunda-feira é alvo em muitos folhetos vitorianos sobre a temperança; Podemos notas que a irregularidade do dia e da semana de trabalho estava estruturada, até as primeiras décadas do século XIX, no âmbito da irregularidade mais abrangente do ano de trabalho, pontuado pelos seus feriados e feiras tradicionais. Trabalhador rural – não tinha a Santa Segunda-Feira; Falta de discriminação detalhada das diferentes situações de trabalho; Ver citação p. 285; Necessidade de vigilância: o próprio fazendeiro devia fazer horas extra se quisesse manter todos os seus trabalhadores sempre ocupados; Preocupação: administrar de maneira eficiente o tempo da força de trabalho; Ver citação p. 287; Século XIX: debate foi em grande parte decidido a favor do trabalho remunerado semanalmente, suplementado pelo trabalho por tarefas quando havia necessidade; Mulheres do campo: trabalho mais árduo – ver citação p.287; O ritmo do trabalho feminino em casa não se afina totalmente com a mediação do relógio, ela ainda não abandonou de todo as convenções da sociedade “pré-industrial”. Tompson: define a Inglaterra e a França do século XVIII como “pré-industriais” – para o autor a transição que se deu na sociedade não é para o “industrialismo”, mas para o capitalismo industrial; Primeira Revolução Industrial no inicio do século XVIII: cultura popular vigorosa e reconhecida, que os propagandistas da disciplina consideravam com aflição – as pessoas das classes inferiores eram totalmente degeneradas; Ver citação p. 289; Severidade mercantilista – necessidade de manter os salários baixos – prevenção do ócio – mudanças: segunda metade do século XVII – incentivos salariais “normais” do capitalismo; Crowley: necessidade de projetar um código civil e penal – governar e regular a força do trabalho rebelde; Surgimento de novos personagens da fábrica: diretor e supervisor – ordens de manter uma folha de controle de tempo de cada diarista; Ver citação p. 290; 1700: paisagem familiar do capitalismo industrial disciplinado, com a folha de controle de tempo, o controlador do tempo, os delatores e as multas; “Qualquer trabalhador que forçar a entrada pelo cubiculo do porteiro depois da hora permitida pelo mestre paga uma multa de 2/-d”; Preguiça – só pode esperar a pobreza como recompensa; Ver citação p. 292; TEMPO É DINHEIRO! Ver citação p. 292; Educação: treinamento para adquirir o “hábito do trabalho”; Educação: “espetáculo de ordem e regularidade” – educação como forma de controle e disciplina; Tempo disciplinado: “eles se tornam [...] mais tratáveis e obedientes, e menos briguentos e vingativos” Essa transição não foi feita sem resistência – nova disciplina – os trabalhadores começam a lutar, não contra o tempo, mas sobre ele; Os trabalhadores mais organizados são aqueles que conseguem as primeiras vitórias; Ver citação p. 294; Cada geração de trabalhadores trouxe mudanças no âmbito do trabalho; Ver último parágrafo da p. 294; Até que ponto a disciplina era imposta, até que ponto assumida? Ética puritana: relógio moral interior – empregar todo tempo para o dever; Casamento de conveniência entre do puritanismo com o capitalismo industrial, foi o agente que converteu as pessoas a novas avaliações de tempo; Ver citação p. 295; O tempo precioso não deve ser desperdiçado com preguiça desnecessária: “vista-se rápido”; “e faça as suas atividades com diligência constante”; “Ficando tanto tempo de molho [...] tanto tempo entre os lençóis quentes, a carne é como que escaldada, e torna-se macia e flácida. Os nervos, nesse meio tempo ficam debilitados” Tempo-e-movimento: apogeu com Henry Ford; Pela divisão de trabalho, supervisão do trabalho, multas, sinos e relógios, incentivos em dinheiro, pregações e ensino, supressão das feiras e dos esportes – formam-se novos hábitos de trabalho e impôs-se uma nova disciplina de tempo; Século XIX:a propaganda do uso econômico do tempo continuou a ser dirigida aos trabalhadores; A sociedade capitalista madura, todo os tempo de ser consumido, negociado, utilizado; é uma ofensa que a força de trabalho meramente “passe o tempo”; Avanço da Revolução Industrial: incentivos salariais e as campanhas de expansão do consumo são claramente eficientes; Classe trabalhadora inglesa entre 1830 e 1840: regular, maior capacidade de trabalho, dispêndio metódico de energia, repressão da capacidade de relaxar segundo os hábitos antigos desinibidos; Ver citação p. 299; Ver citação p. 301; Revolução Industrial gerou a perda da arte de viver; Crença de que a pontualidade no horário de trabalho expressaria respeito pelos colegas de trabalho. Não existe desenvolvimento econômico que não seja ao mesmo tempo desenvolvimento ou mudança de uma cultura. E o desenvolvimento da consciência social, como o desenvolvimento da mente de um poeta, jamais pode ser, em última análise, planejado.