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As ideias

pedagógicas e a
Catequese no
Brasil
POR JOÃO MELO
“Um cristão é um homem no
mundo e com o mundo, de
maneira que, comprometido no
mundo, ele supera-o”
Paulo Freire
Educação e Catequese no Brasil
Colonização – Educação - Catequese

A educação formal começou no


Brasil com a chegada dos
missionários jesuítas que
instituíram colégios e seminários
em vários lugares da colônia.
A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa que
originou-se em 27 de setembro de 1540, com a
aprovação do Papa Paulo III, em Roma, na Itália, de
um grupo liderado por Santo Inácio de Loyola,
colocando-se à disposição para servir em missões de
evangelização na Igreja. A Companhia de Jesus se
incorporou na colonização das nações católicas,
Espanha e Portugal, devido aquisição de territórios
enormes por elas. Os Jesuítas chegaram ao Brasil em
1549.

Os padres Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e


Manoel de Paiva começaram suas atividades em
Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, construindo
um colégio, que viria a ser o núcleo em torno do
qual se ergueria o povoado e posteriormente a
cidade de São Paulo.
Desde 1549, quando os jesuítas se estabeleceram, eles iniciaram um trabalho de
instrução e catequese com a construção de muitas escolas. Nelas, tanto os filhos dos
colonos, dos índios e os “órfãos do Reino” aprendiam juntos a ler, a escrever, a cantar,
a doutrina cristã e a ajudar na missa. “O eixo do trabalho catequético era de caráter
pedagógico, uma vez que os jesuítas consideravam que a primeira alternativa de
conversão era o convencimento que implicava práticas pedagógicas institucionais (as
escolas) e não institucionais (o exemplo)”

A principal estratégia utilizada para a organização do ensino, tendo em vista o


objetivo de atrair os “gentios”, foi agir sobre as crianças. Para isso se mandou vir de
Lisboa meninos órfãos que foram acolhidos em colégios jesuítas. Pretendia-se, pela
mediação dos meninos brancos, atrair os meninos índios e, por meio deles, agir sobre
seus pais, em especial os caciques, convertendo toda a tribo para a fé católica
A capacidade de adaptação e a escolha de métodos que pudessem facilitar
a transmissão da fé e colaborar com a educação, sobretudo dos indígenas,
parece ter sido traço da pedagogia jesuítica no Brasil colônia. São José de
Anchieta que dominava vários idiomas, logo tratou de aprender a língua
nativa dos indígenas e organiza uma gramática do idioma para os seus
trabalhos pedagógicos.
“Anchieta utilizou-se largamente do idioma tupi tanto
para se dirigir aos nativos como aos colonos que já
entendiam a língua geral falada ao longo da costa
brasileira”. Com técnicas como o teatro, com o uso de
gestos e de outros recursos visuais e simbólicos. Tais
recursos, quase que esquecidos pela reforma
protestante, eram ainda mais propostos pela Igreja
Católica.
A educação e a catequese têm papel
preponderante na humanização das
pessoas e na transformação da realidade
A catequese busca promover a dignidade do homem enraizada na concepção cristã em que
os homens e as mulheres são filhos e filhas de Deus, ou seja, plenos de dignidade, de
modo que vivendo como cristãos contribuam para estabelecer o que Jesus de Nazaré
chamou de “Reino de Deus”, isto é, os valores evangélicos de paz, justiça e caridade (Rm
14,17).
Se pudéssemos falar de técnicas pedagógicas das tribos “nativas”,
podemos destacar “a assistência convocada para cerimônias rituais e,
aos poucos (ou depois de uma iniciação), o direito à participação nestas
cerimônias (solenidades religiosas, danças, rituais de passagem)”.

Elemento constituinte da cultura e realidade sensível a toda a


comunidade tribal – como ainda hoje é o sentimento religioso para
grande parte da sociedade – a educação religiosa de caráter
confessional era prática pressuposta por esses grupos. De fato, não
havia distinção entre o que era conteúdo educativo religioso e o que
não era, de modo que o saber acumulado, e entenda-se aqui, a cultura
do povo, era transmitido de forma igual a todos.
O processo educativo não é algo
puramente intelectual,
desvinculado da vida, antes, implica
também o despertar de
sentimentos e mesmo de
disposições interiores e emocionais
que, de maneira consequente,
levam o indivíduo a assumir como
suas as convicções de conduta e os
valores morais do grupo ao qual
está vinculado.
Paulo Freire destaca que a educação precisa ser entendida como um
processo de humanização do homem, ou seja, a natureza da educação é
libertadora e possibilita o surgir de um homem crítico, político e atento que
pensa as questões que a contemporaneidade lhe impõe.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a


sua produção ou a sua construção”.

Dessa forma, é contrário à natureza da educação instrumentalizá-la para


estabelecer ou manter domínio ou alienação
A etimologia do verbo “educar” provém
do latim “educere”, que significa extrair,
tirar, desenvolver. Dessa forma, educar é
um processo que visa desenvolver as
potencialidades humanas aperfeiçoando
os saberes e valores já adquiridos e
oportunizando o aprendizado de novos.
É uma ação dialógico construtiva entre
educando e educador.
O vocábulo catequese, por sua vez, tem
sua origem no verbo katechein que
inicialmente significava falar de cima, fazer
eco, ressoar. Os poetas “catequizavam”
quando, por efeito de voz produzido com o
uso de máscaras durante o teatro, faziam
sua voz ressoar, de maneira que as
palavras chegassem nítidas aos
espectadores. Com o passar dos anos o
termo ganhou o sentido de fazer ressoar o
Evangelho, a vida de Jesus de Nazaré e
seus ensinamentos
Ao olharmos a história,
veremos que a catequese
foi em diversos países
instrumento privilegiado,
se não único de
alfabetização e de
promoção cultural,
assumindo forma de
educação formativa em
todos os aspectos,
inclusive naquilo que se
refere à formação da
identidade humana de
muitos.
“Com efeito, já desde seus
primeiros séculos a Igreja
estabelece um período de
educação na fé - o
catecumenato-, cuja missão
consistia em provocar mudança
radical de valores na perspectiva
de Cristo e em converter a uma
realidade nova", ou seja, uma
práxis ou estilo de vida em que
as atitudes sejam baseadas pelos
valores adquiridos neste
processo de educação.
A catequese possui ao lado da sua dimensão teológica ou de fé, uma
forte dimensão pedagógica que a conferem a característica de ser
educativa. Ela é pedagogia da fé em ato.

Catequese é “educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos,


a qual compreende especialmente um ensino da doutrina cristã, dado
em geral de maneira orgânica e sistemática, com o fim de os iniciar na
plenitude da vida cristã”
Há uma distinção entre catequese e evangelização

Enquanto a primeira é educação ou aprofundamento da fé,


portanto pressupõe a fé, a segunda é primeiro anúncio, pregação
para suscitar ou desperta a fé, ou seja, antecede à catequese
propriamente dita. Sendo assim “a especificidade da catequese,
distinta do primeiro anúncio do Evangelho que suscitou a
conversão, visa o duplo objetivo de fazer amadurecer a fé inicial e
de educar o verdadeiro discípulo de Cristo, mediante um
conhecimento mais aprofundo e mais sistemático da Pessoa e da
mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo”
O Ensino Religioso visa a educação da religiosidade e a
Catequese a educação da fé — a Catequese supõe a fé.
A Catequese inspira-se no que é próprio da sua religião,
objetiva desenvolver a formação na fé. O Ensino
Religioso tem por objetivo proporcionar junto ao
educando experiências, reflexões que o ajudem a
alimentar o respeito e a tolerância religiosa, uma vez
que a educação da consciência religiosa é um direito de
todos os seres humanos. O Ensino Religioso não quer
ensinar religiosidade e sim apresentar esta como algo
relevante na vida humana, respeitando, assim, a
vontade e o direito de acreditar num transcendente
A partir de 1564, a Companhia de Jesus
experimentou um momento frutuoso na sua missão
na colônia brasileira. O Ratio Studiorum possuía 467
regras inspiradas nas Constituições que regiam a
Companhia de Jesus e cobriam as atividades de todos
os agentes ligadas ao ensino. O Ratio constituiu um
“prefeito geral de estudos” que, se comparado aos
dias de hoje corresponde, mais ou menos, à função
de um coordenador pedagógico, uma vez que suas
funções eram ouvir e observar os professores, assistir
aulas, ler anotações de alunos, corrigir erros dos
professores e organizar os estudos e as aulas. Não há
dúvida que o sistema educacional jesuíta fosse
autêntico.
1759, quando se deu a expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas colônias por ato do
Marquês de Pombal, então primeiro-ministro do rei Dom José I

Com a reforma pombalina, mais do que uma


reforma, as diretrizes da Coroa destruíram todo
o sistema educacional implementado pelos
jesuítas até então . Exemplos dessa
desconstrução são o abandono e a pilhagem
das bibliotecas dos colégios e residências dos
jesuítas, em que a imensa maioria dos
catecismos produzidos em línguas nativas da
colônia desapareceram
O Catecismo de Montpellier, apesar de condenado e
colocado no Index, lista de livros proibidos pela Igreja, sob
acusação de tendências nacionalistas, foi adotado pelo
governo português como texto oficial para ser usado em
todo o Reino, lido e explicado antes da Missa de domingo e
decorado pelos fiéis. Esse catecismo foi adotado pela Coroa
porque condiciona a fé à obediência ao soberano,
favorecendo o despotismo esclarecido. “Ele é divulgado por
toda parte influenciando tremendamente a catequese no
Brasil até o início do período imperial”
Com essa evidente crise de uma catequese oficial, entra
em cena uma catequese popular: expressão do povo por
meio de devoções, prática religiosas sincréticas com a
mistura de elementos de religiões indígenas e africanas
sustentada por gente simples e do povo. Surge o
catolicismo popular que é característico por ser
transmitido de geração em geração como herança familiar
A VOCAÇÃO EDUCATIVA DA CATEQUESE CONTEMPORÂNEA
O Documento de Aparecida (DAp), fruto da reflexão do
episcopado da América Latina afirma que na
catequese, em geral,
Apesar da boa vontade, a formação teológica e
pedagógica dos catequistas não costuma ser a
desejável. Os materiais e subsídios são com frequência
muito variados e não se integram em uma pastoral de
conjunto; e nem sempre são portadores de métodos
pedagógicos atualizados. Os serviços catequéticos das
paróquias frequentemente carecem de colaboração
próxima das famílias. Os párocos e demais
responsáveis não assumem com maior empenho a
função que lhes corresponde como primeiros
catequistas (DAp, 2007, n. 296).
“A consciência não se muda através de
discursos e de cursos ou por meio de sermões
eloquentes, mas unicamente, por meio da ação
dos homens no mundo”. Em outras palavras,
poderíamos dizer que o testemunho de quem
age conforme as mudanças que apregoa é que
realmente educa. Freire diz que “ao
arriscarmos historicamente, damos
testemunho, e o testemunho não pode ser
importado”. Quem dá testemunho educa os
outros a pensar e agir conforme a maneira que
ensina.
Aspectos educacionais na Catequese de Jesus

Para a catequese, o seu modelo e paradigma é Jesus de Nazaré. Ela afirma a sua
identidade, redescobre a sua missão e consolida-se como prática educativa,
sobretudo quando volta-se a suas origens.

Pode dizer-se que as ações e a pregação de Jesus são, no seu conjunto,


evangelização e catequese. Mais ainda: ‘Toda a vida de Cristo foi um
ensinar contínuo: Os seus silêncios, os seus milagres, os seus gestos, a
sua oração, o seu amor pelos homens, a sua predileção pelos
pequeninos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na cruz pela
redenção do mundo e a sua ressurreição, tornam ato as suas palavras e
realizam a sua revelação (Catechesi Tradendae, nª 9)
Recursos didáticos que Jesus valorizava
no processo de formação dos seus
discípulos eram:

1) O testemunho de vida
2) A Vida e a natureza
3) As grandes questões do momento e
as perguntas do povo
4) O jeito de ensinar em qualquer lugar
5) Memorização na base da repetição
6) A Bíblia e a história do povo
7) A Cruz e o sofrimento
Aspectos educacionais na Catequese dos Apóstolos

A catequese oral precedeu a forma escrita.

A Escritura Sagrada do novo testamento é fruto da catequese oral e surgiu posteriormente.

O próprio Jesus de Nazaré não escreveu nem mandou escrever nada.

Os textos bíblicos neotestamentários, como as cartas paulinas, por exemplo, tinham a única
função de aprofundamento da catequese oral já iniciada.

Os quatro escritos bíblicos que narram a vida de Jesus e são chamados de evangelhos (Marcos,
Mateus, Lucas e João) são frutos da catequese de Jesus e dos Apóstolos.

Hoje, esses textos são considerados por muitos especialistas como “catequeses cristãs”.
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