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Deontologia Profissional – 4.

º ano

2. Cuidados de saúde
– perspectiva do doente

© Francisco Miranda Veiga – 2006


1
2.1. A relação clínica
– autonomia e responsabilidade da pessoa

2
–– Adeus – disse a raposa. –– Vou contar o tal segredo. É muito simples:
só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…
–– O essencial é invisível para os olhos –– repetiu o principezinho para
nunca mais se esquecer.
–– Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa
importante.
–– Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… –– repetiu o
principezinho, para nunca mais se esquecer.

[SAINT-EXUPÉRY – O Principezinho, p. 74]

3
Quem sou eu?

Ser humano -
homem
PESSOA - sujeito
Eu
afirmação do eu e da existência
sou

sou eu sou eu sou eu sou eu sou eu sou eu sou eu sou eu sou4 eu


Ser pessoa…

ser (inv.) > res – coisa / tudo o que existe (ente)

pessoa
teatro grego: máscara, algo usado para se fazer ouvir (personare),
desempenhar um papel e um personagem. Cada um terá o seu papel individual
no palco do teatro do mundo;
direito romano: sujeito. Para Cícero, pessoa é «sujeito de direitos e deveres»;
Cristianismo (reflexão sobre a unidade de Cristo na dupla natureza e unidade
na trindade de Deus) elaborou doutrina do ser pessoa: «relação e inter-relação»
como constitutivos dinâmicos do ser humano;
Boécio: «substância individual de natureza racional»;
S.Tomás de Aquino: «natureza racional subsistente em si».

5
Ser pessoa…

Sujeito autónomo de relação

é poder dizer eu e referir-se a um tu...

na linha horizontal dos outros (eus) – dimensão social da


individualidade;
na linha vertical da relação ao tu absoluto (Deus/valor) –
dimensão transcendental e ética da autonomia.

6
Pessoa humana…

sujeito

auto-consciência

inteligência

valores • valor intrínseco;


• dignidade;
• liberdade e responsabilidade. [DUDH, 1946]

“...reconhecer a eminente dignidade da pessoa


humana como marco axiológico fundamental.”
[A. Antunes] 7
Auto-conhecimento

com + SI + ciência (conhecimento)

jo mim
EU v e a
os
auto… me u tr
êem
o eu oso e v
mim próprio m jo s m
co ve o
o u tr
co
m
oso
m o
co

“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses...”


8
[Sócrates]
Auto-conhecimento

é importante saber as nossas potencialidades para sabermos como


actuar, bem como os pontos fracos a fim de os evitar;
para o desenvolvimento da Inteligência Emocional necessitamos de
tomar contacto com as nossas emoções: o que sentimos, porque
sentimos, como actuamos perante o que sentimos;
importante conhecer a nossa dinâmica emocional;
importância da construção da auto-imagem;
não há nada pior para o correcto desempenho do que uma auto-
imagem negativa;
o conceito mais idóneo de auto-imagem é aquele que melhor se ajusta
à realidade, tomando-se como referência para um desenvolvimento
constante;
aceitação do EU;
a nossa vida tem uma forte dose de esperança e de desejo.

9
Proposta de trabalho

Preenche um anúncio publicitário referente à sua pessoa… Seja persuasivo!


10
Abertura ao outro - TU

Sentimentos para a sobrevivência:

medo
ira ser feliz
repulsa
pessoal
tristeza
realização
felicidade
social

simpatia / reconhecimento / afectos / amizade

“Se quiseres conhecer-te a ti mesmo, observa os teus vizinhos; se


queres compreender os teus semelhantes, penetra em ti mesmo”
11
[Goethe]
Educação para os afectos – Amizade

O homem é um ser social

exercício de alteridade;
dimensão inter-relacional.

Eu gosto de… viver (com os outros)

a amizade é uma necessidade vital

12
À procura de amigos (manual de sobrevivência)

13
Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1946)

objectivos práticos:
codificar direitos de grupos humanos:
- minorias étnicas e
religiosas,
- de classes etárias,
- dos doentes em geral,
- dos doentes mentais,
- dos doentes terminais,
- das crianças hospitalizadas

DOENTE

direito a ser tratado como pessoa humana: nunca coisificável, nem


podendo ser reduzida a um caso, um objecto de investigação, um
número de cama ou uma ruína biológica…
14
Direitos Humanos
S ão “direitos
“direitos prévios que toda a constituição
política tem de respeitar”!!!

Sã o (...) o s bens
e ssenc ialment e hu mano s ,
o u seja , aqu e le s bens q u e,
c o nst it uindo a ve rda de ira
pro pried ad e d o ho me m,
lhe c o rrespo nd em
e xa c t ame nt e e nqu ant o
ho me m. (...) s ão d ire it o s
u niv ersais,
ersais , sit u ad o s ac ima
d e t o do o E st a do
15
“Cada homemé único, de
tal modo que, comcada
nascimento, algo
singulamente novo entra no
mundo”

Hannah Aren
16dt
Mas que significa afinal respeitar o homemenquanto homem...

...na sua dignidade de pessoaque é? 17


o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros
da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no
mundo
Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem

18
Quais são os princ ípios f u ndame nt ais que
salvaguardam o re spe ito pela dignidade humana?

19
Vida

To do o ho mem tem direito a


viver... e viver co m dignidade
20
Liberdade

To do o ho mem tem direito à Liberdade


de Opinião , Expressão e Asso ciação e
dire ito à Liberdade Religio
21 sa
22
Solidariedade

“dotados de razão e de consciência, devem


agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade”

Artº 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem

23
Privacidade

To da a pesso a tem dire ito à


reserva da vida privada24
Segurança
Pessoal

“todo o indivíduo tem direito à vida, à


liberdade e à segurança pessoal”

Artº 3º da Declaração Universal dos Direitos do Homem

25
Direito à
Justiça
“ninguém pode ser
arbitrariamente preso,
detido ou exilado”

Artº 10º da Declaração Universal dos Direitos do


Homem

26
Direito a uma
Pátria

“toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência


no interior de um Estado

toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra,


incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país”
27
Artº 13º da Declaração Universal dos Direitos do Homem
Direito à
“a partir da idade núbil, o homem e a mulher
Família
têm o direito de casar e de constituir família,
sem restrição alguma de raça, nacionalidade
ou religião. Durante o casamento e na altura
da sua dissolução, ambos têm direitos iguais

a família é o elemento natural e fundamental


da sociedade e tem direito à protecção desta e
do Estado”
Artº 16º da Declaração Universal dos Direitos do Homem

28
Liberdade
Religiosa
“toda a pessoa tem direito à liberdade de
pensamento, de consciência e de religião; este
direito implica a liberdade de mudar de
religião ou de convicção, assim como a
liberdade de manifestar a religião ou
convicção, sozinho ou em comum, tanto em
público como em privado, pelo ensino, pela
prática, pelo culto e pelos ritos”

Artº 18º da Declaração Universal dos Direitos do Homem

29
Liberdade de
Expressão
“todo o indivíduo tem direito à liberdade
de opinião e de expressão, o que implica o
direito de não ser inquietado pelas suas
opiniões e o de procurar, receber e
difundir, sem consideração de fronteiras,
informações e ideias por qualquer meio de
expressão ”

Artº 19º da Declaração Universal dos Direitos do Homem


30
Direito ao
Trabalho
“toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do
trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de
trabalho e à protecção contra o desemprego
todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário
igual por trabalho igual
quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa
e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma
existência conforme com a dignidade humana, e
completada, se possível, por todos os outros meios de
protecção social ”

Artº 23º da Declaração Universal dos Direitos do Homem

31
Direito à Saúde
“toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para
lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços
sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego,
na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros
casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias
independentes da sua vontade

a maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência


especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do
matrimónio, gozam da mesma protecção social.”

Artº 25º da Declaração Universal dos Direitos do Homem

32
33
Educação

To do o ho mem tem direito à e ducação e e sta


de ve visar a ple na expansão da perso nalidade, de
m o do a pro m o ve r uma m e lho r qualidade de vida, para
cada um do s ho m e ns indiv idualme nt e co nsiderado e
para a so ciedade co nsiderada co m o um to do .
34
35
o desconhecimento e o desprezo dos
direitos do homem conduziram a actos de
barbárie que revoltam a consciência da
Humanidade e que o advento de um mundo
em que os seres humanos sejam livres de
falar e de crer, libertos do terror e da
miséria, foi proclamado como a mais alta
inspiração do homem
Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem

36
Direito à
Dignidade

[…de ser
37
Humanização dos cuidados de saúde

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1948);


Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais (1950);
Carta Social Europeia (1961);
Pacto Internacional dos Direitos Económicos Sociais e Culturais (1966);
Carta dos Direitos das Pessoas Doentes (1996);
Decl. Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos do Homem (1997);
Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e da Dignidade do Ser
Humano face às Aplicações da Biologia e da Medicina (Oviedo, 4 de Abril
de 1997; Diário República, I série-A, 3 de Janeiro de 2001).

Respeito pela dignidade humana e espírito de


fraternidade como orientação de comportamentos
38
Enfermeiro na resolução de dilemas éticos

Código Deontológico

Pessoa moral
direitos /deveres R.E.P.E.

Elemento da equipa

Responsabilidade ;
Valores;
Discernimento.

Contributo para uma decisão em equipa 39


2.2. Carta dos Direitos
e Deveres dos Doentes
(Ministério da Saúde/DGS,
1999)

40
Direitos dos Doentes
1
a ser tratado no respeito pela dignidade humana

2
ao respeito pelas suas convicções culturais, filosóficas e religiosas

41
Direitos dos Doentes
3
a receber os cuidados apropriados ao seu estado de saúde,
no âmbito dos cuidados preventivos, curativos, de reabilitação
e terminais

4
à prestação de cuidados continuados

42
Direitos dos Doentes
5
a ser informado acerca dos serviços de saúde existentes, suas
competências e níveis de cuidados

6
ser informado sobre a sua situação de saúde

43
Direitos dos Doentes
7
a obter uma segunda opinião sobre a sua situação de saúde

8
a dar ou recusar o seu consentimento, antes de qualquer acto
médico ou participação em investigação ou ensino clínico

44
Direitos dos Doentes
9
à confidencialidade de toda a informação clínica e elementos
identificativos que lhe respeitam

10
de acesso aos dados registados no seu processo clínico;

45
Direitos dos Doentes
11

à privacidade na prestação de todo e qualquer acto médico

12
a apresentar, por si ou por quem o represente, sugestões ou
reclamações

46
Deveres dos Doentes
1
de zelar pelo seu estado de saúde

2
de fornecer aos profissionais de saúde todas as informações
necessárias para um correcto diagnóstico e adequado tratamento

47
Deveres dos Doentes
3
de respeitar os direitos dos outros doentes

4
de colaborar com os profissionais de saúde, respeitando as
indicações que lhe são dadas e, por si, livremente aceites

48
Deveres dos Doentes
5
de respeitar as regras de funcionamento dos serviços de
saúde

6
de utilizar os serviços de saúde de forma apropriada e de
colaborar na redução de gastos desnecessários

49
2.3. Consentimento Informado

50
Consentimento… conceito

procedimento que garante a tomada de uma decisão voluntária por parte de


um indivíduo autónomo, e que ocorre após um processo informativo e
deliberado, visando a aceitação de um tratamento (preventivo ou curativo) ou
de acto de experimentação, tendo plena consciência para além dos possíveis
benefícios, das suas consequências e dos seus riscos.

“Designa-se vulgarmente por consentimento informado o


assentimento livre e esclarecido que um sujeito humano deve
prestar com relação a quaisquer actos médicos a serem prestados na
sua pessoa” . [Archer, 1999]

consentimento informado, livre e esclarecido


51
Consentimento… conceito

Direitos dos Doentes:


Autodeterminação;
Informação.

Princípio bioético da Autonomia.

aceitar o tratamento autorizar a sua realização

princípio do respeito pela


princípio da autodeterminação integridade física

52
Consentimento… conceito

 Prevenção;
• natureza Somática  Identificação
genética;
Actos
 Diagnóstico;
• natureza Psíquica
 Terapia;
 Experimentação.

As intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos não se


consideram ofensa à integridade física, desde que
levadas a cabo de acordo com as legis artis e com o
consentimento do doente após devidamente esclarecido
sobre o diagnóstico e possíveis consequências da
intervenção ou do tratamento.

[Código Penal, art.º 150º conj. com o n.º 1 do art.º 156º e o art.º 157º]
53
Elementos do Consentimento Informado

competência;

comunicação;

compreensão; [Beauchamp e Childress, 1994]

voluntariedade;

consentimento.

54
Subdivisão dos Elementos do Consentimento Informado

I. pré-condições:
1. competência (para compreender e agir)
2. voluntariedade (em decidir)

II. elementos da informação:


1. comunicação da informação
2. recomendação de um plano
3. compreensão

III. elementos do consentimento:


1. decisão
2. autorização do plano escolhido

55
Competência

indivíduo competente – capacitado física e mentalmente


• capacidade para efectuar uma tarefa;
• competência relacionada com a decisão a ser tomada;
• determinar o nível de competência: protege os doentes/utentes de decisões
que possam tomar e que não sejam no seu melhor interesse;
• implica que o paciente seja capaz de compreender a informação, de decidir
relativamente às escolhas possíveis e de comunicar a sua decisão;

Indivíduo incompetente – incapacitado:


- durante o sono, anestesia, dor forte;
- demência senil,
- alcoolismo, toxicodependência

o consentimento deve ser o acto de uma pessoa capaz no sentido jurídico 56


Voluntariedade

liberdade de decisão: a pessoa deverá estar livre de qualquer


influência exterior (forças manipuladoras e coercivas) – influência
extrínseca;

sofrimento físico ou psíquico intenso – influência intrínseca.

na tradição kantiana a pessoa só é livre para decidir quando se encontra


no uso pleno da sua racionalidade, sem constrangimentos emocionais,
passionais ou de outra natureza

57
Comunicação

Informação:
• «verdade comunicada ao doente» – nunca mentir, a mentira destrói a relação
de confiança;
• dar informações necessárias para que o doente esteja apto a decidir livremente
a orientação da sua vida – princípio da Autonomia.

Quem informa:
• equipa de saúde – bom conhecimento das condições do doente;
• Médico – diagnóstico e prognóstico;
• Enfermeiros – «Informar o indivíduo e a família no que respeita aos cuidados
de enfermagem» [Decreto Lei n.º 104/98 de 21 Abril, art. 84.º a) ]

A quem se informa:
doente – quando capacitado para receber a informação;
família
58
Comunicação

Linguagem:
acessível;
familiar;
sem terminologia técnica;
explicação dos riscos e possíveis complicações.

Qualidades humanas (profissionais de saúde):


sensibilidade;
clima acolhedor;
relação de confiança;
respeito mútuo aliança terapêutica

59
Comunicação

Informação necessária:
• explicar situação clínica envolvente;
• necessidade de procedimento ou tratamento proposto,
• reconhecimento dos riscos e benefícios envolvidos;
• procedimentos alternativos, seus benefícios, riscos e efeitos secundários;
• consequências para o paciente em não aceitar a proposta terapêutica;
• duração aproximada do tratamento e as condições materiais que lhe estão
associadas;
• o direito do paciente em não consentir, ou após o consentimento abandonar o
procedimento em qualquer altura.
[German, 1998]

Será lícito dar a informação que não é solicitada?


60
Comunicação

Omissão de Informação:
• privilégio terapêutico;
• a pedido do doente. omitir ≠ mentir

Compreensão:

• criar um clima de abertura e confiança;


• averiguação da compreensão;
• pedir ao paciente que explique o que lhe foi exposto a pedido do doente;
• suscitar questões complementares por parte do doente;
• avaliar o grau de ansiedade do doente e tentar remediá-lo.
61
Comunicação

comunicação eficaz

Competências básicas – orientação das relações


[Carl Roger]

• Compreensão empática
• Aceitação incondicional
• Autenticidade
• Respeito

62
Código Deontológico do Enfermeiro Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes
Art.º 84.º - Dever de Informação (Ministério da Saúde /DGS)

No respeito pelo direito à 6. O doente tem direito a ser informado


autodeterminação, o enfermeiro sobre a sua situação de saúde.
assume o dever de:
• Esta informação deve ser prestada de
a) Informar o indivíduo e a família no forma clara, devendo ter sempre em
que respeita aos cuidados de conta a personalidade, o grau de
enfermagem; instrução e as condições clínicas e
psíquicas do doente.
b) Respeitar, defender e promover o
direito da pessoa ao • Especialmente, a informação deve
consentimento informado; conter elementos relativos ao diagnóstico
(tipo de doença), ao prognóstico
c) Atender com responsabilidade e (evolução da doença), tratamentos a
cuidado todo o pedido de efectuar, possíveis riscos e eventuais
informação ou explicação feito tratamentos alternativos.
pelo indivíduo em matéria de
cuidados de enfermagem, • O doente pode desejar não ser
informado do seu estado de saúde,
d) Informar sobre os recursos a que devendo indicar, caso o entenda, quem
a pessoa pode ter acesso, bem deve receber a informação em seu lugar.
como sobre a maneira de os obter.
63
Decisão/ autorização

Consentimento:
implícito ou presumido (tácito);
oral ou formalizado (escrito);
termo de responsabilidade;
substituição;
testamento vital.

64
Consentimento Informado

pedido de informação
consentimento revelação de riscos

respeito pela
obrigação jurídica autonomia da
pessoa

65
Consentimento Informado

Problemas éticos:

autonomia princípio da
do doente beneficência
Vs.

DOENTE PROFISSIONAL

66
Consentimento Informado

 a equipa de saúde esclareceu o utente das alternativas possíveis


(incluindo a ausência de tratamentos das suas
vantagens/inconvenientes e consequências;
 o utente tem capacidade de compreender a informação (a
informação adaptada às suas capacidades de compreensão);
 certificação de que a informação fornecida foi compreendida;
 certificação de que o assentimento foi livre e esclarecido.

67
Variantes de Consentimento

Pessoas sem capacidade para consentir:


crianças
doentes mentais
it co
doentes confusos é
n o
doentes em coma pla
demência senil
acidente (urgência)
coma

Quem pode decidir sobre o bem do outro?


Como decidir sobre o melhor interesse do outro?
68
Variantes de Consentimento

são situações em que não é possível obter o consentimento informado, livre e


esclarecido do sujeito;
torna-se necessário avaliar a capacidade de decisão do doente;

se for considerado incompetente é necessário um representante legal para


tomar decisões.

proceder no melhor interesse da pessoa em causa

princípio da beneficência

69
Situações de Urgência

se o utente é considerado incompetente, o profissional de saúde


age de acordo com o princípio da beneficência e presume-se o seu
consentimento;

se o utente é considerado temporariamente incompetente (após


uma sedação para a realização de uma técnica invasiva) e em que só
deu consentimento para a execução de determinado acto, mas que
devido à sua situação necessita de uma intervenção adicional, o
profissional age de acordo com o consentimento presumido.

70
Menores de Idade

no caso do interesse da criança estar em causa após decisão dos


pais, o profissional saúde deve requerer petição judicial e agir de
acordo com o que for do seu melhor interesse;

a tendência da lei europeia é para valorizar, na medida do possível,


a vontade do menor ou do adulto juridicamente incapaz;
«A opinião do menor deve ser tida progressivamente em
consideração, em proporção á sua idade e grau de maturidade»
[Convenção de Bioética do Conselho da Europa , Art. 6.º]

• «O consentimento só é eficaz se for prestado por quem tiver mais


de 14 anos e possuir o discernimento necessário para avaliar o seu
sentido e alcance no momento em que o presta.»
[Código Penal Português, Art. 38.º – 3.º]

Assim, considera-se válido o consentimento de um adolescente desde


disponha de discernimento que lhe permita a tomada de decisão.
71
Doentes mentalmente incapazes

pessoas com:
deterioração mental (demência)
[na ausência de representantes legais]
• agir segundo o princípio da beneficência (legis artis);

doença mental (depressão)


• consentimento informado do paciente;
• consentimento dos seus representantes legais.

• «os doentes psiquiátricos são sujeitos particularmente vulneráveis;


logo deverão ser tomadas precauções adicionais para salvaguardar a
sua integridade física e mental»
[Declaração de Madrid, 1996]

72
quando não é possível consenso entre a decisão do doente e a equipa
terapêutica, a última palavra compete ao doente, no respeito pelo princípio da
autonomia, a não ser que se sobreponham certos direitos da sociedade ou
princípios de deontologia profissional.

Caso:
adulto recusa, por razões religiosas, uma transfusão de
sangue, considerada indispensável para lhe salvar a
vida.

apesar de haver decisões judiciais em sentido


oposto, consideramos que essa recusa está dentro dos
limites legítimos da autonomia do doente, que deve ser
respeitado nas suas convicções religiosas. Não é ético levar a
cabo tal transfusão.

73
a autonomia de um indivíduo pode ser restringida pelos direitos de uma
sociedade democrática, sobretudo pelo interesse da segurança pública, pela
protecção dos direitos e liberdades de terceiros, pela protecção da saúde pública
e pela prevenção do crime.

assim se
compreende

Internamento compulsivo do doente mental;


Teste de paternidade ordenado por entidade judicial;
Análise compulsiva do ADN em processo judicial;
Vacinação compulsiva contra doenças altamente contagiosas.

74
Doação de órgãos para transplantação – post mortem

possibilidade de proceder à colheita de órgãos tem de ser baseada


num procedimento efectuado em vida;

deverá ser uma opção individual, baseada nas crenças e valores de


cada um;

após a morte, todo o indivíduo é presumivelmente dador de


órgãos, excepto quando este está inscrito no RENNDA

75
Consentimento e experimentação clínica

(Alemanha) directrizes respeitantes às novas


1931 terapias e à experimentação científica no homem;

Código de Nuremberga – o consentimento torna-se


1947 parte essencial das declarações e códigos
internacionais em matéria de investigação médica;

76
Consentimento e experimentação clínica

(Estados Unidos) o governo estabeleceu normas


Década de 60 que regulamentam a experimentação no homem e
o seu consentimento como sujeito de experiência;

Década de 70 (Canadá) seguiu um caminho idêntico ao dos


Estados Unidos;

77
Experimentação clínica

(França) surge a Lei Huriet – protecção de pessoas


1988 que se prestam a investigações biomédicas em que
é exigido o consentimento escrito do sujeito de
experiência;

1997 surge a Convenção dos Direitos do Homem e da


Biomedicina (Oviedo) que regulamenta o
consentimento do sujeito de experiência.

78
Experimentação clínica

Problemas éticos:

Princípio da Princípio da
autonomia beneficência
Vs.

utilidade da
DOENTE investigação

“o maior bem para o maior número” [Stuart Mill]

79
Experimentação clínica

Procedimento do consentimento:

finalidade do ensaio e objectivos da investigação/ caso


 experimentação no Homem  terapia usual

efeitos secundários e riscos possíveis;


método utilizado;
desenvolvimento prático do ensaio (duração, hospitalizações,
investigações);
possibilidade de recusar participar na investigação, sem
prejuízos – dizer NÃO;
possibilidade de se retirar do protocolo em qualquer momento.

80
Pessoas sem capacidade para consentir

pessoas incapazes para consentir o acto médico;


populações vulneráveis (ex. emigrantes, etnia cigana);
populações cativas (ex. reclusos e pessoas que vivam em instituições de
acolhimento).

indivíduo (Pessoa) como sujeito e nunca como objecto;


o Consentimento Informado é necessário, mas não suficiente

necessidade de regras éticas e regulamentações administrativas

(Comissões de Ética)
81
2.4. Segredo Profissional

82
Conceito

«A pessoa, para conseguir desabrochar e viver sadiamente,


precisa de saber e sentir que a própria intimidade é preservada,
respeitada e defendida»
[Eclesiástico]

conhecimento oculto que pertence, por direito estrito, a uma ou mais


pessoas, não podendo outros conhecer licitamente essa noticia contra a
vontade razoável das pessoas que o possuem;
quando se fala em segredo, referimo-nos não só às coisas que não se
devem revelar, mas também, ao compromisso moral de não manifestar dados
de que se tenha tomado conhecimento;
a falta de segredo mina a capacidade de escolher, de optar, de actuar, por
isso altera as condições de uma actuação autónoma CONFIANÇA.
83
Tipos de segredo

• SEGREDO NATURAL
- aquele que nasce e segue a própria natureza das coisas;
- independente de qualquer compromisso;
- não depende da vontade nem do contexto;

• SEGREDO PROMETIDO
- surge da promessa livremente feita e da palavra dada;
- guardar segredo sobre determinado assunto após o seu conhecimento;
- contrato estabelecido de não revelar a terceiros o que se teve conhecimento;

• SEGREDO CONFIADO
- fundamenta-se num acordo (Explicito ou Implícito) antes do conhecimento;

• SEGREDO SACRAMENTAL
- ligado à confissão;
- absoluto e totalmente inviolável;
- obriga incondicionalmente e para sempre;
- em caso de violação comete-se uma falta ética grave.

84
Tipos de segredo

SEGREDO PROFISSIONAL

- objectivo: não violar a dignidade da pessoa humana;


- objecto: a pessoa humana;

Para uma confidência ser considerada segredo profissional, deve-se observar:

 a noticia deve ser realmente segredo, antes de ser considerada segredo


profissional, ou seja não deve ser do domínio publico;
 deve ser assunto para constituir segredo profissional;
 a informação confidencial, deve ser comunicada ao membro da profissão
médica, estando este no exercício da profissão.

85
Conteúdo do segredo

Juramento de Hipócrates:

“Tudo quanto no trato com os demais, tanto no exercício da profissão,


como fora da mesma. Vir ou ouvir que não possa ser divulgado, considerá-
lo-ei absolutamente segredo.”

Juramento de Florence Nigthingale:

“Farei todo o possível para dignificar com os demais, tanto no exercício da


profissão, como fora da mesma, vir ou ouvir que não possa ser divulgado,
considerá-lo-ei absolutamente segredo.”

86
Razões que justifiquem o segredo

num hospital distrital ou central, durante o período de internamento, pelo


menos 75 pessoas diferentes podem lidar com o processo do doente

• Razoável liberdade e legitima vontade do dono em manter o


segredo ou limitar a sua divulgação como algo que lhe pertence;

• Devido à própria razão do objecto que por si mesmo tem razões


para não ser divulgado, além dos efeitos sociais nocivos;

• Por motivo da confidencialidade.

cada um (pessoa) tem o direito a ser o senhor único da sua intimidade:


• pensamentos • sentimentos • projectos

87
Código Deontológico do Enfermeiro

Art.º 85.º - Dever de Sigilo

O enfermeiro, obrigado a guardar segredo profissional sobre o que toma


conhecimento no exercício da sua profissão, assume o dever de:
a) Considerar confidencial toda a informação acerca do destinatário de cuidados
e da família qualquer que seja a fonte;
b) Partilhar a informação pertinente só com aqueles que estão implicados no
plano terapêutico, usando como critérios orientadores o bem-estar, a
segurança física, emocional e social do indivíduo e família, assim como os
seus direitos;
c) Divulgar informação confidencial acerca do indivíduo e família só nas
situações previstas na lei, devendo para tal efeito, recorrer a
aconselhamento deontológico e jurídico;
d) Manter o anonimato da pessoa sempre que o seu caso for usado em
situações de ensino, investigação ou controlo da qualidade de cuidados.

88
Revelação do segredo profissional

O Segredo Profissional pode ser revelado:

• houver consentimento livre e legitimo do Utente, sem consequências


negativas para outros;
• nos casos em que seja evidente a necessidade de defender o legitimo

bem comum;
• quando estiver em jogo a defesa do bem muito importante de terceira

pessoa, que esteja inocente e se tornaria vitima injusta;


• quando essa revelação poupa um prejuízo grave à pessoa interessada

no segredo;
• quando da sua não revelação se segue um prejuízo grave para a própria

pessoa que foi constituída depositária do segredo.

carácter não absoluto


89
Conclusão… é segredo!

com segredo alto valor social


CONFIANÇA

relação
sem segredo profissional/ doente
prejudicada

«a melhor pessoa para guardar um segredo é aquela que não o sabe»


[Eclesiástico]

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© Francisco Miranda Veiga – 2005

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