Você está na página 1de 97

Prevenção e tratamento do Pé Diabético

Hélder Ribeiro
Enfermeiro
Epidemia da Diabetes

Adaptado de: International Diabetes Federation, 2017


Epidemia da Diabetes

Adaptado de: International Diabetes Federation, 2017


Impacto Económico da Diabetes em
Portugal

Adaptado de: Relatório anual do Observatório Nacional da Diabetes, 2016


Complicações da Diabetes

Utentes que saíram do internamento por “Pé Diabético”

Adaptado de: Relatório anual do Observatório Nacional da Diabetes, 2016


Epidemiologia
 50% de todas as amputações não traumáticas são causadas pela Diabetes;

 O risco de amputação aumenta 40 vezes em pessoas com Diabetes;

 70% das pessoas com Diabetes morrem 5 anos após a amputação;

 Os problemas nos pés são responsáveis por 40% dos serviços de


assistência médica em países em desenvolvimento e 15% em países
desenvolvidos;

International Diabetes Federation


Epidemiologia
 85% de todas as amputações têm início com uma úlcera;

 49-85% das amputações podem ser evitadas com “medidas simples”.

International Diabetes Federation


Fisiopatologia da Neuropatia

Neuropatia Periférica

Controlo Metabólico inadequado

Nervos sensitivos e motores


Neuropatia sensitivo - motora
Nervos autónomos
Neuropatia autónoma
Boulton AJM, 2006
Fisiopatologia da Neuropatia

Neuropatia Autónoma:

 A perda da sudação vai originar pele seca levando ao aparecimento de


fissuras (risco de infeção);

 Abertura dos “shunts” arteriovenosos;

 Pode levar ao surgimento do “Pé de Charcot”;

 Calcificação das artérias do pé;

Boulton AJM, 2006


Fisiopatologia da Neuropatia

Neuropatia Sensitiva:

 Com inicio assintomático ou com sensação de ardor / queimadura;

 Evolui para perda de sensibilidade;

 É a principal causa de úlceras neuropáticas;

Boulton AJM, 2006


Fisiopatologia da Neuropatia
Neuropatia motora:
 Comprometimento de músculos e tendões do pé vai levar a
deformações osteoarticulares do pé:

Dedos em
martelo/garra

Alteração
Pé cavo dos pontos
de apoio

Desvio das
Formação de
“almofadas
hiperqueratoses
plantares”
Boulton AJM, 2006
Fisiopatologia da Arteriopatia Periféric

Arterosclerose periférica

 Doença obstrutiva do lúmen arterial que leva à diminuição do fluxo sanguíneo nos
tecidos

Serra, 2008
Fisiopatologia da Arteriopatia Periféric

Arterosclerose periférica

 Mais frequente e precoce nas pessoas com diabetes;

 Está associada a HTA, dislipidemia e tabagismo;

 Bilateral;

 Atinge com frequência as artérias infra poplíteas.

Schomig, M.; Ritz, E.; Standl, E.;Allenberg J. 2000


Fisiopatologia da Arteriopatia
Periférica
Classificação de Leriche Fontaine

 Estadio I: Insuficiência arterial sem sintomas

 Estadio II: Claudicação intermitente


 II a: claudicação com distâncias superiores a 150 m
 II b: claudicação com distâncias inferiores a 150 m

 Estadio III: Dor em repouso

 Estadio IV: Presença de lesões tróficas


 IVa: Ulceração
 IVb: Gangrena
Princípios para a Prevenção e
Tratamento
 Inspeção e exame do pé em situação de risco;

 Identificação do nível de risco;

 Educação da pessoa com diabetes, familiares e prestadores de cuidados de


saúde;

 Utilização de calçado apropriado e alivio da pressão;

 Tratamento da patologia não ulcerada;

 Doença Arterial Periférica (diagnóstico, prognóstico e tratamento em


indivíduos com DM e úlcera do pé ativa)

 Diagnóstico e tratamento de infecções;

 Cicatrização.

International working Group on the Diabetic Foot, Consultative Section of IDF 2011
Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Inspecção e exame do pé em situação de risco

Avaliação do historial clínico e exame

1 - Antecedentes:

 História de úlcera ou amputação anterior;

 Avaliação dos conhecimentos sobre cuidados aos pés;

 Isolamento social e difícil acesso aos cuidados de saúde;


Inspecção e exame do pé em situação de risco

2- Neuropatia:

 Presença de parestesias ou dor nos membros inferiores


(especialmente à noite);

3 – Situação Vascular:

 Claudicação, dor em repouso, pulsos (tibial posterior e


pedioso);

4 – Pele:

 Avaliar cor, temperatura e presença de edemas;


Inspecção e exame do pé em situação de risco

5 – Ossos e Articulações:

 Avaliar a presença de deformações (ex: dedos em garra ou em


martelo, proeminências ósseas);

6 – Avaliação de calçado e meias (interna e externa)


Inspecção e exame do pé em situação de risco

Avaliação Neurológica (Neuropatia):

Percepção da pressão – Monofilamento de Semmes-Weinstein

1. Aplicar o monofilamento (10 gr);

2. O tempo de contacto deve ser aproximadamente 2 seg;

3. Não aplicar o filamento sobre úlceras, cicatrizes e calosidades;

4. Alternar com pelo menos uma aplicação “falsa”;


Inspecção e exame do pé em situação de risco

 Existe sensibilidade protetora se em cada local, a pessoa com diabetes


responder corretamente a 2 de 3 aplicações.

 A sensibilidade protetora está ausente com 2 respostas incorretas em 3.


Inspecção e exame do pé em situação de risco

Percepção da vibração – Diapasão de 128 Hz.

 Aplicar o diapasão perpendicularmente numa parte óssea do lado


dorsal da falange do primeiro dedo do pé ou maléolo da tíbia;
 Repetir a aplicação 2 vezes alternando com uma aplicação “falsa”;
Inspecção e exame do pé em situação de risco

DISCRIMINAÇÃO – Picada de alfinete no dorso do pé sem perfurar a


pele;

SENSAÇÃO TÁCTIL – Aplicação de algodão no dorso do pé;

REFLEXOS - Avaliação dos reflexos no tendão de Aquiles com o


martelo;

TÉRMICA - Distinção de quente e frio.


Inspecção e exame do pé em situação de risco

Avaliação Vascular (Isquemia):

 Avaliação de pulsos periféricos;

 Doppler arterial;

 Índice de pressão tornozelo Braço (< 0,9 = isquemia; < 0,7 = isquemia
grave; < 0,5 = isquemia crítica ). A calcificação das artérias do pé e
tornozelo podem alterar o resultado;

 TcPO2 :Avalia a perfusão dos tecidos subcutâneos. Permite conhecer o


potencial de cicatrização da ferida (< 30 mmhg = isquemia);

 Angiografia .
Inspecção e exame do pé em situação de risco

Pé Neuropático:

 Pé quente e com pêlos;


 Pé com deformações;
 Pele seca com hiperqueratoses;
 Ingurgitamento venoso;
 Zonas de hiperpressão;
 Sem sensibilidade;
 Com pulsos;
 Bordos da ferida “grossos”.
Inspecção e exame do pé em situação de risco

Pé Isquémico:

 Pé frio e sem pêlos;


 Pé sem deformações;
 Sem ingurgitamento venoso;
 Pele de cor violácea e fina;
 Sem zonas de hiperpressão;
 Com sensibilidade e dor;
 Sem pulsos;
 Bordos da ferida finos.
Identificação do pé em situação de risco

Após o exame ao pé deve ser atribuída uma categoria de risco, que


servirá de orientação para o tratamento seguinte
Categoria Perfil de risco Frequência de exame

1 Baixo risco - Ausência de Anual pela equipa de Pé Diabético nível I


factores de risco

2 Médio risco – Presença de Semestral pela equipa de Pé Diabético nível


neuropatia I ou eventualmente nível II

3 Alto Risco – Existência de 1 a 3 meses pela equipa de Pé Diabético


isquemia ou neuropatia com nível II ou eventualmente nível III
deformidades no pé ou história
de úlcera cicatrizada ou
amputação prévia

Direção Geral de Saúde , 2011 (Norma 005/2011)


Educação da pessoa com diabetes,
família e dos prestadores de cuidados de
saúde

“A educação deve ser estruturada e


tem um papel fundamental na
prevenção de forma a aumentar a
motivação e aptidões”

International working Group on the Diabetic Foot, Consultative Section of IDF 2011
Educação da pessoa com diabetes,
família e dos prestadores de cuidados
de saúde
 Não andar descalço, com meias ou com chinelos, em casa ou no exterior;

 Inspeção diária dos pés e do interior dos sapatos;

 Lavar os pés regularmente com especial cuidado na secagem interdigital;

 Evitar o uso de agentes químicos ou emplastros para remover


calosidades;

 Usar emolientes para hidratar a pele seca;

 Cortar / limar unhas de modo recto;

 Evitar a proximidade dos pés com fontes de calor (ex: lareiras,


aquecedores).
Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Educação da pessoa com diabetes,
família e dos prestadores de cuidados
de saúde

 A pessoa com diabetes com classificação de risco 2 ou 3 deve monitorizar


em casa a temperatura da pele, afim de prevenir uma úlcera “de
novo”/recorrente (reconhecimento precoce da inflamação e orientação
atempada para o profissional de saúde);

 Para prevenir uma úlcera “de novo” em doente com pé em risco,


é necessário melhorar o conhecimento sobre o calçado adequado.

Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Calçado adequado e alívio de pressão

 Para tratar uma úlcera neuropática plantar, sem isquemia ou infecção não
controlada, use um aparelho não removível até ao joelho com uma interface
adequada para o pé;

 Para tratar uma úlcera neuropática plantar, use sapato de baruk ou sapato
ortopédico, se houver contraindicação ou intolerância do doente ao aparelho
removível;

 Em caso de lesão pré-ulcerativa ou deformidade, é aconselhável o uso de


palmilhas individualizadas ou órtoteses interdigitais;

 O calçado deve promover o alívio da pressão plantar para prevenir úlcera


plantar recorrente;

 Incentivar a pessoa com diabetes a usar sempre o calçado, até em casa.

Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Tratamento da patologia não - ulcerativa

 Em doentes de risco as patologias associadas às calosidades, unhas e


pele devem ser tratadas regularmente.

 O tratamento das lesões pré-ulcerativas na pessoa com diabetes com pé


em risco, deve incluir:

 Remoção de calosidades;

 Proteção de pequenas flictenas;

 Drenagem de grandes flictenas;

 Tratamento de unhas espessadas ou onicocriptoses;

 Tratamento antifúngico para infecções fúngicas;

Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Tratamento da patologia não - ulcerativa

Anidrose
Caracteriza-se pela ausência de suor que pode ser generalizada,
localizada ou assimétrica.
Tratamento da patologia não - ulcerativa

Onicomicoses
A unha apresenta uma coloração amarelada e maior espessura e rigidez

Tratamento:
 Isolar pés com chinelos de
banho;
 Evitar a auto - contaminação;
 Usar calçado e meias
adequados, afim de diminuir o
calor e humidade dos pés;
 Aplicação de fungicida
tópico;
 Tratamento sistémico com
fungicida oral.
Tratamento da patologia não - ulcerativa

Onicogrifose

Excessivo endurecimento e crescimento da unha em direção anómala


Tratamento da patologia não - ulcerativa

Onicocriptose

Pode ser causada por, aumento da convexidade e espessamento da unha, Hallux


valgus e corte da unha com arredondamento dos cantos
Tratamento da patologia não - ulcerativa

Flictenas

Surgem com mais frequência no pé neuropático e resultam da fricção


contínua da pele.

Tratamento:

 Drenagem, desinfecção e
protecção;

 Correcção da causa (uso de


mau calçado).
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Deformações Ósseas

SÚBITA
relacionadas com
traumatismos

LENTA
devido à
degeneração das
estruturas do pé
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Dedos sobrepostos:

 Geralmente estão relacionados com o uso de mau calçado

 Esta situação leva à maceração interdigital e ao aparecimento de calosidades

Tratamento:

 Redução dos pontos de hiperpressão


(ortóteses e silicones);

 Em caso de deformações
irredutíveis está indicada a
correcção cirúrgica.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Dedos em martelo:

É uma deformação por flexão da articulação interfalângica distal de um ou vários


dedos, que entram em conflito com o sapato, enquanto as extremidades dos dedos
se apoiam no solo.

Tratamento:

 Redução das zonas de hiperpressão;

 Colocação de ortóteses de
preenchimento, molde de silicone
ou palmilha.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Dedos em garra:

 Caracteriza-se pela hiperextensão de uma ou várias articulações


metatarsofalângicas;

 Surge em consequência da atrofia dos pequenos músculos intrínsecos do


pé, responsáveis pela estabilidade das articulações metatarsofalângicas e
acompanha-se da retracção dos tendões.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Tratamento:

 Em fases iniciais recorre-se a ortóteses e silicones de correção e


proteção;

 Em fases avançadas com recurso ao uso de palmilhas;

 O tratamento cirúrgico em fases iniciais permite corrigir a posição dos


dedos.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Hallux rígido

Relacionado pela rigidez da 1ª articulação metatarsofalangica, com perda


da dorsiflexão e uma maior pressão na zona plantar do dedo.

Tratamento:

Remoção de calosidades e
proteção das zonas de atrito
Tratamento da patologia não - ulcerativa

Pé Cavum

Caracteriza-se pela retração dos músculos, tendões e fáscia plantar com


aumento da arcada e diminuição da base.

Tratamento:

 Consiste na libertação cirúrgica da


retração;

 A manutenção e prevenção
consiste na remoção de
calosidades, ortóteses que
preencham a arcada e diminuam a
pressão.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Pé Plano

Caracteriza-se pela redução do metatarso e da arcada plantar o que leva a


maior pressão na zona médio - plantar

Tratamento:

A remoção de calosidades e a recriação da


arcada com ortótese de correção e
proteção.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Deformações Pós – Cirúrgicas:

Relacionadas com a amputação de um ou vários dedos, que vão levar à


alteração dos pontos de apoio durante a marcha, dando origem a
calosidades e úlceras.

Tratamento:

Ortóteses de preenchimento afim de reduzir as pressões.


Tratamento da patologia não-ulcerativa

Neuropatia de Charcot:

Condição não-infecciosa, progressiva, que afecta uma ou mais articulações,


caracterizada por alterações articulares, fraturas patológicas, destruição da
arquitetura do pé, associada à neuropatia.

Serra, 2008
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Neuropatia de Charcot:
Tratamento:

 Fase Subaguda (pé com sinais inflamatórios e com deformidades


estruturais):

1. Repouso por duas semanas para diminuir os sinais


inflamatórios;

2. Imobilização do membro com gesso durante uma semana


passando ao uso de uma bota de descarga;

3. Cirurgia.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Tratamento na Fase Aguda:

1. Repouso por duas semanas

2. Tratamento médico ou cirúrgico


Tratamento da patologia não-ulcerativa

Tratamento na Fase Crónica:

Fase em que a deformidade já está estabelecida e os sinais inflamatórios estão


ausentes (excepto o edema).

Tratamento conservador: Compensar as hiperpressões do pé com o uso de


palmilhas e sapatos ortopédicos

Tratamento cirúrgico: Correcção das deformidades


Tratamento da patologia não-ulcerativa

Dermatomicoses

São infecções da pele e dos anexos cutâneos causadas por fungos

Manifestações Clínicas:

Eritema, descamação, maceração,


formação de flictenas, aparecimento de
fissuras, prurido mais ou menos intenso,
dor e mau cheiro.
Tratamento da patologia não-ulcerativa

Dermatomicoses

Medidas Profiláticas:
Controle ou modificação dos
factores ambientais de calor e
humidade
Diagnóstico e tratamento de infeções

 A Infeção no Pé Diabético deve ser diagnosticada clinicamente, com base na


presença de sintomas ou sinais locais ou sistémicos de inflamação.

 Numa ferida infetada é importante um teste “probe-to-bone”:

Em doente de baixo risco para osteomielite, um teste negativo afasta o


diagnóstico

Em doente de alto risco um teste positivo é diagnóstico

Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Diagnóstico e tratamento de infeções

 Evite usar os resultados de amostras de tecidos moles para escolher a


antibioterapia dirigida a osteomielite, estes não refletem os resultados
das amostras de tecidos ósseos;

 As amostras microbiológicas de uma úlcera infetada, devem conter


amostras de tecidos e não devem ser recolhidas com zaragatoa;

Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Cicatrização
 É aconselhada a limpeza da ferida com água estéril ou SF;

 Aconselha-se a remoção tecido desvitalizado, necrose e calosidades


em redor da úlcera, com desbridamento cortante, tendo em conta as
contraindicações (ex: isquemia grave);

 A escolha dos materiais para tratamento de feridas deve ter em conta


o controlo do exsudado, conforto e custo;

 É desaconselhado o uso de pensos antimicrobianos com o objectivo


de melhorar a cicatrização ou prevenir a infeção secundária;

 Considere o uso de oxigenioterapia hiperbárica sistémica, apesar da


necessidade de mais estudos randomizados a avaliar a relação custo-
eficácia e a identificação da população que mais beneficiará desta
intervenção;
Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Cicatrização

 A terapia de pressão negativa pode ser considerada em feridas pós-


operatórias no entanto a eficácia e o relação custo-eficácia desta
intervenção necessita de confirmação;

 Não está aconselhado o uso de agentes promotores da cicatrização que


alteram a biologia da ferida (ex: fatores de crescimento), em preferência
a métodos convencionais aceites;

 Não está aconselhado o uso de agentes promotores da cicatrização que


alteram o ambiente físico (ex: eletricidade, ultrasons) em preferência a
métodos convencionais aceites;

 Não está aconselhado o uso de tratamentos sistémicos apenas por


melhorar a cicatrização (ex; fármacos e produtos naturais) em
preferência a métodos convencionais aceites.

Tradução das recomendações do international working group on the diabetic foot 2015
Opções terapêuticas no tratamento de feridas
Princípios Básicos

 Aliviar a pressão
 Controlar a infeção
 Promover a circulação
 Controlo metabólico e tratamento das co-morbilidades
 Cuidados locais da ferida
 Educação da pessoa com diabetes e/ou cuidador
 Determinar a causa e prevenir recorrência

International working Group on the Diabetic Foot, Consultative Section of IDF 2011
Úlcera no Pé Diabético

“As úlceras neuropáticas ocorrem frequentemente na


região plantar…As úlceras isquémicas são mais
comuns nas extremidades dos dedos e bordo lateral
do pé”

Diretivas Práticas sobre o Tratamento e a Prevenção do Pé Diabético 2011


Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

PÉ NEUROPÁTICO

 Desbridamento
 Evitar a operculização
 Controlo do exsudado e ambiente húmido
 Utilizar mini - pensos
 Reduzir as zonas de hiper-pressão
(palmilhas)
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

PÉ ISQUÉMICO

 Tratar primeiro a causa (aterosclerose)


 Evitar desbridamento
 Penso leve, não compressivo
 Controlar a dor

O tratamento deve estar associado a


CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

Segundo o instrumento “TIME" são quatro as barreiras a


ultrapassar:
1. Tecido não viável - Desbridamento
2. Infeção ou inflamação
3. Manutenção de um ambiente equilibradamente húmido
4. Vigilância das margens da ferida

Seguir estes 4 passos/procedimentos é a base do


Tratamento de Feridas.
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

Desbridamento

A presença de tecido desvitalizado no leito da ferida,


de carácter seco ou húmido, atua como um meio ideal
para a proliferação bacteriana e impede o processo de
cicatrização.
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

O desbridamento pode ser:

 Cirúrgico ou cortante

 Autolítico

 Enzimático

 Mecânico

 Biológico
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

Desbridamento Enzimático

Indicações: Indicado para o desbridamento de qualquer tipo de ferida com crosta,


necrose ou esfacelos.

Características:

 Eficácia depende da penetração na crosta (efetuar incisões);


 No início do tratamento pode provocar ardor e dor;
 Proteger os bordos da ferida com protetor cutâneo;
 Não utilizar soluções que contenham zinco, iodo ou prata (destrói a
enzima );
 Necessita de penso secundário;
 Deve ser substituído a cada 24 horas;
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento
Desbridamento Biológico

Terapia Larvar: Aplicação de larvas vivas e


estéreis de moscas, que são desenvolvidas em
laboratório.

Indicações: Tratamento de lesões com difícil


cicatrização, como: lesões tegumentares, de
tecidos moles, em regiões ósseas (osteomielite),
úlceras de pé diabético, úlceras pós-cirúrgicas
infectadas, úlceras de pressão, queimaduras.

Masiero, Martins,Thyssen 2015


Úlcera no Pé Diabético - Tratamento
Desbridamento Biológico
Características:
• Atuam no desbridamento (enzimas
proteolíticas), posteriormente o tecido
desvitalizado é removido através da
ingestão do mesmo.
• Os tecidos vivos como tendões e ossos
são preservados.
• Potencial bactericida.
• Promoção da migração de fibroblastos.
• Aceleram o processo de remodelação da
matriz extracelular

Efeitos colaterais:

• Sensação de queimadura ou dor ligeira


(mais comum em pacientes com úlceras
isquêmicas)
• Sangramento de leve intensidade
Masiero, Martins,Thyssen 2015
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

Tratamento da infeção

 Ferida colonizada:
Presença de microrganismos replicantes que aderem à superfície da ferida
mas não causam dano celular ao hospedeiro

 Ferida contaminada:
Presença de microrganismos não-replicantes numa ferida

 Ferida infectada:
Presença de microrganismos replicantes na ferida com a consequente
resposta do hospedeiro que conduz a um atraso na cicatrização
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

Manutenção do meio húmido

É fundamental encontrar o equilíbrio entre o leito “muito seco” e o “muito húmido”,


para que o processo de cicatrização não seja inibido ou destruído
Úlcera no Pé Diabético - Tratamento

Vigilância das margens da ferida

 Quando perante uma situação de bordos a cicatrizar em falso, deve ser realizado
despiste de sinais de infeção ou colonização crítica

O facto dos bordos não estarem a migrar:


o Queratinócitos não estão migrantes;

o Células da ferida não respondem ao


tratamento;

o Anormalidades na atividade das protéases.


O Penso Ideal deverá:

1. Manter a humidade na superfície da ferida


A desidratação leva à formação de uma capa seca. Epitelização
ocorre 3x mais rápido em meio húmido que em seco

2. Permitir as trocas gasosas


O O2 é essencial para a fagocitose, epitelização e prevenção da
hipergranulação. A remoção de CO2 é necessária para que não haja
inibição da cicatrização

3. Proteger de traumas

4. Ser impermeável às bactérias


Morgan, 1990
O Penso Ideal deverá:

5. Remover o excesso de exsudado

6. Ser ”não-aderente”

7. Providenciar isolamento térmico


 Promove a atividade macrofágica e mitótica durante as fases de
granulação e epitelização
 Promove a atividade celular e enzimática durante a fase de granulação

8. Ser livre de partículas prejudiciais


 Podem causar reações inflamatórias que retardam a cicatrização

9. Ser cosmeticamente aceitável

Morgan,1990
10. Custo / Eficácia
O Penso Ideal deverá:

Não existe um “PENSO IDEAL” para todos os

tipos de feridas

“O produto / penso selecionado deve ser avaliado em


relação às indicações, às contraindicações, aos custos e
à eficácia.”

Dantas 2004
Opções terapêuticas no tratamento de feridas

 Pensos Absorventes

o Alginatos
o Hidrofibras

o Hidrocolóides
o Espumas
o Carvão ativado
Opções terapêuticas no tratamento de feridas

 Pensos Impregnados

o Com Prata
o Com Iodo

o Com Mel
o Com Substâncias Gordas
o Com antibióticos
Opções terapêuticas no tratamento de feridas

 Pensos cicatrizantes

o Colagénio liofilizado
o Moduladores das metaloproteinases

o Éster do ácido hialurónico


o Ácidos gordos essenciais
Poliuretanos

 Películas extrafinas transparentes

 Impermeáveis a bactérias e água

 Permitem trocas gasosas

Indicações: Feridas superficiais, em epitelização com pouco exsudado e


sem infeção

Características:
 Mantêm um ambiente húmido;
 Permitem a observação da ferida;
 São flexíveis, ajustando-se com facilidade;
 Previnem e reduzem a fricção;
 Máximo de 7 dias de permanência;
 Não requerem penso secundário.
Alginato de Cálcio

 Absorvem o exsudado por capilaridade, com troca iónica entre iões de


cálcio do penso e sódio dos tecidos
 Alta capacidade de absorção, possibilitando a remoção do excesso de
exsudado e a manutenção de um ambiente húmido (autólise)
 Propriedades hemostáticas

Indicações: Feridas exsudativas com ou sem infeção

Características:
 Podem cortar-se;
 Não aderem à pele (indolores na remoção)
 Necessitam de penso secundário;
 Máximo de sete dias de permanência;
 Poderão deixar resíduos de fibras no leito da
ferida.
Hidrofibras

 Gelificam em contacto com o exsudado, absorvendo o exsudado na


vertical;
 Alta capacidade de absorção (maior que os alginatos);
 Propriedades bacteriostáticas, destacando-se a ação sobre as
pseudomonas;
Indicações: Feridas exsudativas.

Características:
.
 Podem cortar-se;
 Indolores na remoção;
 Necessário penso secundário;
 Pode ser mantido de 1 a 7 dias se a ferida o
permitir;
 Absorvem 30 vezes o seu peso.
Hidrofibras com Prata

 Permitem a libertação lenta da prata que impede a toxicidade.

 A prata actua sobre aeróbios, anaeróbios, fungos, estafilococos


resistentes à metilcilina e vancomicina.

 Podem ser mantidos na ferida por 7 dias


Penso de Nanocristalino de Prata
 Protege as feridas de futuras contaminações bacterianas.
 A libertação prolongada e controlada da prata nanocristalina estabelece
uma barreira antimicrobiana, reduzindo o risco de colonização, prevenindo
a infecção.

Indicações: Funciona como barreira antimicrobiana em feridas superficiais


e profundas, como por ex. feridas crónicas, queimaduras e enxertos de pele.

Características:
 Necessário humedecer o penso em água destilada;
 Pode ser cortado;
 Necessita de penso secundário;
 Não provoca trauma na remoção:
 Deverá permanecer na ferida pelo menos 3
dias
Espumas de Poliuretano

 Pensos com uma estrutura esponjosa:


 Camada interna: adere à pele sem trauma
 Camada intermédia: absorve o exsudado
 Camada exterior: permeável às trocas gasosas e impermeável às
bactérias

Indicações: Feridas moderadamente exsudativas, a granular ou epitelizar

Características:
 Podem ser usados como penso primário/
secundário;
 Máximo até 7 dias (dependendo do
exsudado);
 Possuem a vantagem de “almofadar "o
local.
Hidrocolóides

Os hidrocolóides são produtos constituídos por uma base de


carboximetilcelulose, resina e pectina

Em contacto com o exsudado da ferida a carboximetilcelulose


transforma-se num gel viscoso

Indicações: Feridas não infectadas, capacidade de absorção pequena ou


média, sem exposição de tendão ou ósseo

Características:
 Caso ocorram dobras sobre a pele,
existe risco de lesão;
 Necessidade de substituição entre 2 a 7
dias;
 Podem ser usados como penso primário
ou secundário.
Tule impregnado com Iodo

 Este penso tem um largo espectro de atividade bactericida,


fungicida e esporicida, atuando também sobre vírus e
protozoários.

Indicações: Feridas com sinais inflamatórios, secas ou


moderadamente exsudativas

Características:

 A sua utilização deve ser ponderada em


indivíduos com patologia da tiroide e com
hipersensibilidade ao iodo;

 Necessitam de penso secundário;

 Máximo de 4 dias de permanência.


Cadexómero de Iodo
 O cadexómero de iodo na presença de exsudado e outros detritos
orgânicos, absorve-os e remove-os, libertando progressivamente o iodo
e transformando-se num gel. 1 gr de cadexómero de iodo pode
absorver até 6 ml de fluído.

Indicações: Tratamento de feridas infetadas


Características:

 A sua utilização deve ser ponderada em


indivíduos com patologia da tiroide e com
hipersensibilidade ao iodo;
 O tratamento não deve ser superior a três
meses;
 A dose semanal não deve exceder as 150 gr;
 Mantém a humidade do leito da ferida;
 Tem capacidade de absorver exsudados e
tem ação desbridante
Pensos com Mel

Produto de elevada osmolaridade com uma grande concentração de glicose,


frutose, dextrose, proteínas, polén, vitaminas sais minerais e água

Tem ação desodorizante, anti-inflamatória e antimicrobiana

Indicações: Tratamento de feridas agudas e crónicas, colonizadas e infectadas

Características:
 Necessitam de penso secundário;
 Não traumatizam aquando a remoção;
 Se ardor local descontinuar o tratamento;
 Desaconselhar o mel doméstico pela presença de partículas e esporos
viáveis.
Colagénio Liofilizado
 Tem em vista restabelecer o equilíbrio colagénio/tecido de granulação
quando há deficiência de colagénio no leito da ferida

 Mantém o meio húmido, potencia a migração dos fibroblastos e


estimula a angiogénese

Indicações: Feridas crónicas sem evolução, sem tecido necrótico, fibrina


e sem infecção

Características:

 Necessitam de penso secundário;

 Existem associados a antibióticos e a


moduladores das protéases.
Inibidores das Metaloproteases

 Composto por colagénio e enzimas moduladoras das protéases

Indicações: Feridas crónicas sem evolução, não infectadas e sem tecido


desvitalizado

Características:

 Necessário penso secundário

 Máximo de permanência 3 dias


Malha não Aderente

 È uma compressa primária não-aderente, de acetato de celulose


impregnada com uma emulsão a base de petrolato (vaselina purificada).

Indicações: Queimaduras de 1º e 2º grau; Abrasões; Enxertos; Úlceras


venosas; Úlceras de pressão.

Características:

 O exsudado passa livremente através da


malha para o penso secundário;
 Previne a retenção de fluidos no leito da
ferida, reduzindo a maceração;
 Pode ser cortado, não se desfia, nem
deixando partículas na ferida;
 Não provoca trauma aquando a remoção
Terapia de Pressão Negativa

Tratamento com vácuo

 Procedimento não invasivo que cria um ambiente de pressão (negativa)


sub-atmosférica localizada e controlada

 A pressão exercida na ferida atua através de uma esponja (poliuretano)


ou gase podendo variar entre os 50 e os 125 mmHg
Terapia de Pressão Negativa

Indicações:

 Feridas crónicas ( Pé Diabético, úlceras de pressão e vasculares)

 Feridas agudas e traumáticas ( trauma abdominal)

 Enxertos de pele

 Infeções necrotizantes

 Feridas com exposição de osso ou tendões


Terapia de Pressão Negativa

Contra–indicações:
 Malignidade

 Vasos sanguíneos / órgãos expostos

 Osteomielite não tratada

 Desbridamentos incompletos

Com precaução :
 Doentes tratados com hipocoagulantes e com difícil hemóstase

 Fistulas não exploradas


Oxigenioterapia Hiperbárica
Oxigenioterapia Hiperbárica

 Permite o tratamento não invasivo da ferida que não cicatriza

 O O2 puro, humidificado e pressurizado é aplicado diretamente sobre a ferida


em hipoxia

Vantagens:

 O aumento da angiogenese e da colagenese;

 Facilitada eliminação da infeção;

 Atenuação da dor;

 Procedimento não invasivo;

 Promove a diminuição dos custos de tratamento.


OBRIGADO
Bibliografia
Boulton, A. (2006). The Foot in Diabetes. Fourth Edition. John Wiley &
Sons.

Boulton, A.; Meneses, P.; Ennis, J. (1999). Diabetic foot ulcers: A


framework for prevention and care. Wound Repair and Regeneration.

 Murray J, Boulton A. (1995).The pathophysiology of diabetic foot


ulceration. Clin Pediatr Med Surg.

Direção Geral de Saúde (2011). Diagnóstico Sistemático do Pé


Diabético. Norma 005/2011. Lisboa.

Direção Geral de Saúde (2016). Diabetes: Factos e números 2016.


Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes . Portugal.

International Diabetes Federation (2017). IDF, Diabetes Atlas. 8ª Edição.


Bibliografia
International Diabetes Federation . (2015).Tradução das recomendações do
international working group on the diabetic foot. International working
Group on the Diabetic Foot, Consultative Section of IDF.

International Diabetes Federation (2013). IDF, Diabetes Atlas. 6ª Edição.

International Diabetes Federation (2013). IDF, Diabetes Atlas. 6ª Edição.

International Diabetes Federation. (2011). International consensus in the


Diabetic Foot and Practical Guidelines on the Management and Prevention
of the Diabetic Foot. International working Group on the diabetic Foot.

Pereira E. (2004). A Cinderela da Diabetes. Pé diabetico, perspetiva de


saúde publica. Climepsi Editores.

Schomig, M.; Ritz, E.; Standl, E.;Allenberg J. (2000). The Diabetic Foot in
the Dialyzed Patient. vol. 11. Nº 6.
Bibliografia
Serra L. M.(2008). Pé Diabético: Manual para a prevenção da catástrofe.
Lidel.

Você também pode gostar