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Cap.

3 - BALANÇOS MÁSSICOS EM OPERAÇÕES ENVOLVENDO EVAPORAÇÃO

3.1 - Conceitos básicos


Qualquer líquido puro ferve e condensa, numa determinada temperatura e pressão.
Esta é característica física do próprio líquido, conhecido por temperatura de
ebulição.
Na ebulição ocorre vaporização que consiste na passagem das moléculas dum
líquido para o vapor por absorção da energia.
A vaporização ocorre nas seguintes operações unitárias:
Destilação, Sublimação, Secagem, Humidificação, Cristalização e Condicionamento
de ar.
Por exemplo.: Nas proximidades das lagoas, charcos de dejectos das fábricas é
frequente sentirmos cheiros estranhos que estão relacionados com o vapor libertado
que está em equilíbrio com a fase líquida. Neste capítulo vamos tentar explicar e
calcular o grau de contaminação do ambiente pelos vapores libertados pelos charcos
ou absorvidos nas condições ideais em unidades de tratamento.
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Cap 3 - Balanços mássicos envolvendo a vaporização Eng. Manjate,R. 1
Um líquido de uma substância pura conservado num recipiente aberto,
numa determinada temperatura, pode ocorrer um equilíbrio entre as
fases líquida e de vapor, alcançado quando a velocidade das moléculas
que partem da fase líquida para o vapor é igual a das que partem do
vapor para o líquido (vice-versa).
Nestas condições a pressão exercida pelas moléculas de vapor sobre a
superfície livre do líquido é designa por tensão de vapor ou pressão de
vapor de equilíbrio.
Pressão de vapor ou
tensão de vapor (Pv)

Pressão do liquido (Pl)

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Quando a pressão de vapor de um líquido contido num recepiente
aberto alcança a pressão externa, o líquido entra em ebulição.
Pl= Pv => Pl= Patm = 1 atm => Ponto de ebulição
Se a pressão do ambiente envolvente fôr a atmosférica normal
(Patm=760mmHg), a temperatura a qual o líquido ferve, chama-se
Ponto normal de ebulição ou Ponto de ebulição.
A tensão de vapor duma substância não depende da extensão da
superfície ou da forma do recepiente, mas sim da temperatura,
quando a temperatura aumenta, a pressão de vapor também
aumenta e vice-versa
[Pov= f(T) ]  Esta tabelado
[Pov= f(To) ]  Ponto de orvalho -> a temperatura de saturação de
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liquido pelo seu vapor -> Ocorre uma condensacao do liquido
3.2 – Pressão de vapor em função da temperatura
Na Engenharia o conhecimento da pressão de vapor de equilíbrio dum líquido
a várias temperaturas pode ser deduzido pela equação de Clausius Clapeyron
que é uma função termodinâmica:

dP H V H V
 
dT TV T VG  VL 

P – Pressão de vapor de equilíbrio a temperatura T


T – Temperatura absoluta
ΔHv – Calor latente de vaporização
VG – Volume molar do gás a temperatura T
VL – Volume molar do líquido a temperatura T

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Aplicando a lei dos gases ideais e considerando que VG >>VL

RT
VG  n = 1 mole de um gás de ideal
P
dP H V H V P dP H V dT H V 1
  ==>  ==> ln P   C
dT RT RT 2
P RT 2 R T
T
P
Diferenciando:
H V  1 
d ln P   d  Equação de Clausius-Clapeyron
R T 

Consideremos conhecidas as condições iniciais To e Po, então obtem-se


para uma determinada P e T:
P H V  1 1 
ln    
P0 R  T0 T 
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Relação da temperatura e a pressão de vapor dum líquido para pequenas
variações
C
H V 1
ln P Tg α = - ΔHv/R => ln P   C
R T

1/T
Método da substância de referência para determinação da pressão de vapor
(Carta CoX)
H V
d ln P  d ln P  P, ΔHv substância em estudo e Pw , ΔHw para água como
H produto de referência
Equação da recta
H V ΔHv /ΔHw (Cox verificou que esta relação era constante para ΔT)
ln P  ln P  C
H  T1: ln Pw1 e lnP1
T2: ln Pw2 e ln P2
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Consideremos o método de Duhring que relaciona as temperaturas de
ebulição (a mesma pressão) entre a solução problema e a água isto é:

H  1 
d 
  1 
d ln P R  T  H  1 
 1 Donde d    d 
d ln PW

H W  1 
d
T  
 TW  H W  T 
R  W 

Se a constante de integração fôr zero (pode se observar a regra de


Trouton) que teremos:

H W
H W Tw  T
tw  t C ou H
H

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H V
(Carta CoX) d ln P  d ln P
H
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Com a equação impírica de Antoine pode-se calcular a Pressão de Vapor
(P em mmHg) em função da temperatura (T em ºC) de várias
substâncias orgânicas: Onde A. B e C são constantes de Antoine e estão
tabelados

B
log10 P  A 
T C

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Cap 2 - Balanços mássicos sem reacção quimica Eng. Manjate,R.
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3.3 – Sistemas homogeneas de dois componentes
Soluções ideais
Raoult constatou que quando dois líquidos formam entre si uma
solução homogênea (soluto + solvente):

•A pressão de vapor de cada componente da solução é menor que a


sua pressão de vapor de equilíbrio;

•A superfície livre do líquido é ocupada simultaneamente pelos dois


componentes;

•A velocidade de vaporização de cada componente por unidade de


área é menor que quando o componente estiver isolado.

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Para soluções ideais aplica-se a Lei de Raoult:
“As pressões parciais dos componentes duma solução ideal são
proporcionais às suas composições molares no líquido”.
PA = PoA. yA e PB = PoB. yB

Pela Lei do Dalton tem-se: P = PA + PB e 1 = yA + yB

P = PoA. yA + PoB. yB = PoA. yA + PoB. (1-yA)


Onde :
PoA e PoB – Pressões de vapor de equilíbrio (tensão de vapor) dos
componentes A e B puros, a temperatura considerada;
yA e yB - Fracções molares dos componentes na solução líquida.
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Pressões parciais dum sistema ideal A e B em função da composição
molar na fase líquida

Pressão de vapor a Temperatura T


PAo
P = PA + PB

PBo

PA = PAo. xA PB = PBo. xB

0.0 Fracção molar de A na solução xA 1.0

A Razão das composições dos componentes no vapor (YA e YB) e no líquido (yA
e yB) em equilíbrio é traduzida pela relacção:
YA PA PAo x A Se: PoA > Po B Composição de A no vapor será maior do que a de B
  o Assim :
YB PB PB xB
A vaporização produz um vapor muito rico do componente mais volátil.

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Desvios da lei de Raoult
A maior parte das soluções reais não obedecem ao comportamento
ideal e por isso, verificam-se desvios na lei de Raoult.

Se a atracção entre as moléculas


do soluto com as do solvente fôr
maior que a de soluto-soluto
implica que a pressão parcial do
vapor sera maior do que a
prevista pela lei de Raoult sofre
desvios negativos

Desvio Negativo
Soluto-Solvente > Soluto-soluto
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Cap 3 - Balanços mássicos envolvendo a vaporização Eng. Manjate,R.
Se a atracção entre as
moléculas do soluto com as do
solvente fôr menor que a de
soluto-soluto implica que a
pressão parcial do vapor será
menor do que a prevista pela lei
de Raoult e verificam-se
desvios positivos

Desvio Positivo
Soluto-Solvente < Soluto-soluto
__________________________________________________________________________________________________ Cap 2 - Balanços mássicos sem reacção
quimica Eng. Manjate,R. 15
Lei de Henry:
“A pressão parcial do componente A no vapor é proporcional a sua
composição na solução líquida muito diluida”
Onde:
PA = K H . y A

PA – Pressão parcial do componente A


KH – Constante de Henry
yA – Composição molar de A na solução

Se KH = PoA teremos uma solução ideal (lei de Raoult)


KH > PoA se o sistema exibir desvios positivos da idealidade
KH < PoA se o sistema exibir desvios negativos da idealidade
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Diagrama dos desvios da Lei de Raoult e de Henry

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3.4 - Vaporização de soluções contendo solutos não voláteis
Se a tensão de vapor duma substância é de tal forma tão baixa que se pode
desprezar, diz se que a substância é não volátil.
Considerando um componente A, não volátil, dissolvido em B, volátil,
assumindo um comportamento ideal da solução, tem se:

P = PoA. yA + PoB. yB = PoB. yB dado que PoA ~ 0

O efeito do soluto não volátil sobre a solução é o de baixar a pressão total de


vapor, elevando por conseguinte, o seu ponto de ebulição, comparado com o
seu solvente puro.

Por ex: A água do mar onde o cloreto de sódio não evapora.

“ A extenção da elevação do ponto de ebulição é directamente proporcional


a quantidade do soluto adicionado”

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3.5 – Sistemas heterogéneos de dois componentes

Vaporização de sistemas de líquidos imiscíveis


Líquidos são considerados imiscíveis se não se dissolver um noutro. Nestas
condições cada componente exerce , independentemente, uma pressão parcial de
vapor igual a sua tensão de vapor e fica em equilíbrio com o seu respectivo vapor.
P = PoA+ PoB dado que yA = 1 e yB = 1

YA P o A m A M B YA, mA e MA são a composição, a


 o 
YB P B mB M A massa e o peso molecular de A na fase
de vapor

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Destilação por arrastamento do vapor saturado
Quando, sob aquecimento, a soma das pressões de vapor alcança a pressão
externa a mistura entra em ebulição, resulta que tal temperatura da ebulição
deverá ser inferior a qualquer uma das T de ebulição dos componentes puros na
mistura.

Se o líquido imiscível adicionado for água (líquido de arraste), o processo é


conhecido por destilação por arrastamento de vapor e pode acontecer se
PoW < PoA. Vapores mistos

Condensador

Líquido
problema
Torre
Água Água
Vapor

Impurezas + água Produto


destilado
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Destilação por arrastamento do vapor sobreaquecido
O vapor de arraste é sobreaquecido, o que significa que a sua temperatura é maior
que a temperatura de saturação. Nestas condições a única fase líquida existente é
somente, a da substância de interesse, em equilíbrio com os seus próprios
vapores.
Neste caso já é possível conjugar o efeito da temperatura e a pressão de
destilação, por forma a economizar o vapor de aquecimento.
mA PM
 oA A Ou seja 

m A P  PBo M A 
mB P B M B mB PoBM B
Vapores mistos

Condensador

Líquido
problema
Torre
Água
Vapor

Impurezas Produto
destilado
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3.6 – Humidade e Psicrometria (Sistema Ar-vapor de
água)
É frequente na engenharia lidar-se com situações em que o vapor duma
substância é arrastado por um gás inerte (não condensável) ao longo de
um determinado processo.

Por ex.: Recuperação de um solvente;


Secagem e,
Humidificação, etc.

O componente gasoso, neste caso ar, inerte, é designado gás de arraste.

Ar humido Ar seco
Secador
Sólidos humidos Sólidos secos
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O sistema ar-vapor de água é o mais comum em operações
industriais e é por esta razão existem vários dados compilados em tabelas
e termologia bem desenvolvida:

Humidade molar: é a razão entre o número de moles de vapor de água


presentes por cada mole de ar sêco.

HM = moles de vapor de água/ moles de ar sêco

nW PW PW
%H M  100%  100%  100%
nar sec o PAr P  PW

Pw – Pressão parcial da água


PoW – Pressão de vapor saturado de água
PAr – Pressão parcial de Ar de seco
P – Pressão total do sistema
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Humidade específica, humidade absoluta ou simplesmente
humidade: é a massa de vapor de água por unidade de massa de ar
sêco.
Ha = massa de vapor de água/ massa de ar sêco
MW 18
% Ha  H M 100%  H M *100%
M ar sec o 29

Humidade molar de saturação: é a humidade molar que o sistema teria


se estivesse nas condições de saturação.
P oW
%H S  o
100%
P  PW
Percentagem de humidade: indica o grau de saturação do sistema, em
termos percentuais.
HM nM
%H P  100% %H P  100%
HS nS
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Humidade relativa: traduz também o grau de saturação do sistema, mas
em termos de pressões parciais.
A Humidade relativa é o termo mais usado pelos serviços meteorológico.

PW
%H R  100%
PS
Sabe se que PS = PoW

HM
%H P  100%
HS
Substituindo HM e HS obtem-se a seguinte equação:

 p  pWo 
% H P  H R   *100%
 P  PW 
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• Bibliografia

• Houghen, O. A.; Watson, K. M. and Ragatz, R. A. (1973):


Princípio dos processos químico-tecnológicos.1ª Parte, John
Willey & Sons, Inc.. New York.
• Felder, R. M., Rousseau, R. W. (2000) Princípios elementares
dos processos químicos., LTC, 3ª. Edição, John Willey & Sons,
Inc. New York.

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