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AULAS Lei geral dos gases

9 e 10
Competências: 5e6 Habilidades: 17, 18 e 21

1. Introdução Em 1834, o físico francês Émile Clapeyron (1799-1864), de-


pois de estudar diversos gases com quantidades de massa
Nas aulas anteriores, foi estudado o comportamento de diferentes, descobriu que a constante da equação acima não
expansão dos sólidos e dos líquidos; agora será abordado é proporcional à massa do gás, mas depende do número de
o comportamento dos gases. Estudos sobre esse tema re- moléculas do gás. Assim, a equação é escrita como:
montam aos séculos XVII, XVIII e XIX, com apresentações de ___pV
​​   ​​ = R ⋅ n
balões para a nobreza e o surgimento da máquina a vapor. T
ou
Em primeiro lugar, o estudo analisará a definição de gás pV = nRT
ideal. Gás ideal ou perfeito é um gás hipotético composto
por partículas com interações elétricas que devem ser de- Em que o número de mols de moléculas do gás é dado por n,
e a constante R é denominada constante universal dos
sprezadas. As colisões entre as partículas são elásticas, e
gases ideais, por seu valor ser o mesmo para todos os ga-
não ocorre perda de energia na forma de calor. Na prática,
ses. Essa equação é chamada de Equação de Clapeyron.
apenas gases que se encontram em baixa pressão e altas
temperaturas se aproximam de tal comportamento. Isolando a constante R na equação, obtém-se:
pV
Algumas variáveis são importantes para o estudo do com- R = ​​ ___ ​​ 
nT
portamento dos gases: pressão p; volume V; massa m e Assim:
temperatura T. Por certas razões, em vez do uso da massa, (unidade de pressão) ⋅ (unidade de volume)
______________________________________
unidade de R =    
    
​​   ​​
foi adotado o número de mols n, Sendo que o número de (unidade de molaridade) ⋅ (unidade de temperatura)
mols é dado pela razão entre a massa do gás e a massa
molar da composição do gás. O valor de R, determinado experimentalmente, vale:
​​ atm ⋅ L 
R = 0,082 ______ ​​ Pa ⋅ m³ ​​ 
= 8,31 ______
 ​​ 
​​  m   ​​  
n = _____ mol ⋅ K mol ⋅ K
Mmolar
Adiante, será visto que o produto Pa ⋅ m3 é equivalente ao
joule (J). Assim, pode-se reescrever o valor de R como:
Nota: O número de mols também pode ser calculado pela
razão entre o número de partículas que compõe o gás N e ​​  J   ​​ 
R = 8,31 ______ ​​  cal   ​​ 
≅ 2,0 ______
mol ⋅ K mol ⋅ K
o número de Avogadro NA = 6,023 ∙ 1023 mol-1

​​  N  ​​  
n = __
NA

2. Lei geral dos gases –


equação de Clapeyron
A Lei Geral dos Gases estabelece a seguinte relação, válida
para uma quantidade de gás que tem massa constante: multimídia: vídeo
pV
​​ ___ ​​ = constante Fonte: Youtube
T
Física - Lei dos Gases Ideais: a Equação
Em que p é a pressão exercida pelo gás, V é o volume ocu- de Clapeyron
pado pelo gás e T é a temperatura do gás em kelvin.

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2.1. Estado normal de um gás 3.1. Transformação isotérmica
Quando um gás se encontra nas condições normais de Durante a transformação do gás de um estado para outro,
temperatura e pressão (CNTP), afirma-se que ele está em caso a temperatura permaneça constante, a transformação
estado normal: será denominada isotérmica. Nesse caso, a Lei Geral dos
p = 1 atm = 760 mmHg e T = 273 K (0°C) Gases fica:

Nota: VOLUME MOLAR é o volume ocupado por um mol pV = constante


de gás, independentemente da natureza do gás. “Nas
CNTP o volume molar de qualquer gás perfeito é igual a
p1V1 ou
= p2V2
22,4 litros”.

Aplicação do conteúdo O gráfico de p em função de V, em uma transformação iso-


1. Determine o volume de um recipiente que contém térmica, é uma hipérbole equilátera chamada de isoterma.
4,0 mols de moléculas de um gás ideal à pressão de
Quanto maior a temperatura do gás, maior será o produto
2,0 atm e à temperatura de 27 °C. Dados: 1 atm ≅ 105 Pa
do pV, e a isoterma ficará mais afastada dos eixos (lembre-
e R = 8,3 J/mol ⋅ K.
-se de que a quantidade de gás é constante).
Resolução:

 omo o valor de R foi dado em unidades do SI, deve-se


C
transformar unidade de pressão para pascal e unidade de T1
T2 > T1

temperatura para kelvin:

p = 2,0 atm @ 2,0 × 105 Pa


A transformação isotérmica também é conhecida como Lei
T = 27 °C = 300 K de Boyle-Mariotte e foi desenvolvida separadamente por
n = 4,0 mols ambos os cientistas. Robert Boyle (1627-1691) publicou
sua descoberta em 1660. Edme Mariotte (1620-1684)
publicou sua descoberta em 1676, mas cedeu todos os
Pela Equação de Clapeyron, isola-se V e se calcula: créditos a Boyle.
pV = nRT ⇒ V = ___​​ nRT ​​  
P
(4,0 mols) ∙ (8,3 J/mol ∙ k) ∙ (300 k) 
3.2. Transformação isobárica
V = ______________________
   
​​      ​​
2,0 · 105 Pa Durante a transformação do gás de um estado para outro,
V = 4,98 · 10 m
–2 3 caso a pressão permaneça constante, a transformação será
denominada isobárica. Nesse caso, a Lei Geral dos Gases fica:
Na utilização da equação de Clapeyron, é importante observar
que a temperatura sempre deve estar na unidade kelvin. ​​ V ​​  = constante
__
T

3. Transformações particulares ou

Considerando o número de mols de um gás constante, isto __ V V


​​  1 ​​ = ​​ __2 ​​ 
é, um sistema isolado, a transformação do gás de um esta- T1 T2
do A para um estado B é relacionada pela equação:

p ⋅ V _____
_____ p ⋅V
​​  A  ​​A 
 = ​​  B  ​​B 

TA TB

Se uma das variáveis da equação acima permanecer cons-


tante, somente as outras duas podem variar, e, nesse caso,
existem algumas transformações particulares que serão
abordadas a seguir.

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3.3. Transformação isocórica
Durante a transformação do gás de um estado para outro, multimídia: vídeo
caso o volume permaneça constante, a transformação será Fonte: Youtube
denominada isocórica, isométrica ou isovolumétrica. Nesse Por que desodorante spray gela as coisas?
caso, a Lei Geral dos Gases fica:

__ p
​​   ​​ = constante
3.4. Transformação adiabática
T A transformação de um gás pode acontecer muito rapid-
ou amente, e, nesse caso, a expansão ou compressão de um
gás pode ocorrer sem trocas de calor com o meio externo
__ p p (devido à rapidez da transformação).
​​  1 ​​ = ​​ __2 ​​ 
T1 T2 Essa transformação é denominada transformação adiabáti-
ca. A relação que satisfaz essa transformação é dada por:

p ⋅ Vg = constante

ou

p1v1g = p2v2g

Em que g é a razão entre as capacidades caloríficas mo-


lares à pressão constante (Cp) e o volume constante (Cv);
trata-se do chamado coeficiente de Poisson. Para um gás
ideal monoatômico g = __​​ 5 ​​  e para um gás ideal diatômico
3
​​ 7 ​​. 
g = __
5

Tanto a transformação isobárica, que também recebe o


nome de Lei de Charles e Gay-Lussac, quanto a transfor-
mação isocórica, que também é conhecida como Lei de
Charles, recebem os nomes de seus autores, que desen-
volveram suas ideias separadamente: Jacques Alexandre
César Charles (1746-1823) fez sua descoberta da relação
Em relação à temperatura, pode-se escrever:
para a transformação isobárica em 1787, e Louis Joseph
Gay-Lussac (1778-1850) fez sua descoberta em 1802. T1 · v1γ = T2 · v2γ

52
VIVENCIANDO

Apesar de ser útil na caracterização do estado de um gás, a lei geral dos gases pressupõe o comportamento ideal de
um gás, que é impossível de ser obtido na prática; contudo, pode ser considerada prática na maioria das situações.
Os fundamentos da lei geral são utilizados na produção de diversos produtos que presentes no cotidiano, como o
ar-condicionado, o spray aerossol e a geladeira.
O aerossol é constituído por um reservatório de metal e por uma válvula que se conecta a uma mistura entre o pro-
duto (desodorante, repelente, inseticida) e um gás propelente. O produto e o gás se encontram através de um tubo.
Quando a válvula é acionada, a mistura que estava pressurizada dentro da embalagem acaba entrando em contato
com a pressão atmosférica do ambiente, que é diferente da encontrada dentro da lata. A pressão interna do gás,
inicialmente alta, sofre uma diminuição. A diminuição brusca da pressão causa o aumento do volume da mistura, que
acaba sendo espalhada em forma gasosa pelo ambiente.

4. O Mol Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro (1776-1856) foi


um químico italiano que elaborou pela primeira vez a ideia de
Nas aulas de química é ensinado que a contagem do nú- que uma amostra de um elemento, com massa em gramas
mero de átomos e moléculas é realizada usando-se o mol: numericamente igual à sua massa atômica, apresenta sem-
pre o mesmo número de átomos. Entretanto, ele não foi ca-
paz de determinar o valor da constante que leva o seu nome.
1 mol = 6,023 · 1023 partículas
Aplicação do conteúdo
Desse modo, tem-se: 1. Uma amostra de CO2 tem massa m = 88 gramas. De-
termine o número de mols de moléculas da amostra,
§ 1 mol de átomos = 6,023 · 1023 átomos sabendo que:
§ 2 mols de átomos = 2(6,023 · 1023) átomos = 12,046
· 1023 átomos Massa molar do carbono: MC = 12 gramas/mol

A quantidade 6,023 · 1023 é denominada número de Massa molar do oxigênio: MO = 16 gramas/mol


Avogadro e comumente representada por NA: Resolução:

Como há dois átomos de oxigênio na molécula, a massa


NA = 6,023 · 1023 partículas/mol = 6,023 · 1023 mol–1
molar de CO2 é:

Note que o plural de mol é mols. M = MC + 2MO = (12 g/mol) + 2(16 g/mol) = 44 g/mol

A massa molar (M) de um elemento é definida como a Assim, calcula-se o número de mols (n) da amostra:
massa de 1 mol de átomos desse elemento. De modo se-
88 g
melhante, para uma substância, a massa molar é a massa ​​  m  ​​ = _______
n = __ ​​    ​​ 
= 2 mols
M 44 g/mol
de 1 mol de moléculas dessa substância. Assim, é possível
calcular o número n de mols de átomos de um elemento de P ortanto, essa amostra é composta por 2 mols de moléculas
massa m, a partir da seguinte relação: de CO2, ou seja, existem 2(6,023 × 1023) moléculas de CO2.
2. (G1) Um gás perfeito está sob pressão de 20
​​  m  ​​
n = __ atm, na temperatura de 200 K e apresenta um
M volume de 40 litros. Se o referido gás tiver sua
pressão alterada para 40 atm, na mesma tempera-
Note que essa relação também é válida para determinar o tura, isto é, transformação isotérmica, qual será o
número de mols de moléculas de uma substância de massa m. novo volume?

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Resolução: Resolução:

Como a transformação é isotérmica, pode-se aplicar a fór- Como a transformação é isovolumétrica, ou seja, isocórica,
mula específica para esse tipo de transformação: segue que o volume é constante; assim:
__ p p2
p1 ⋅ V1 = p2 ⋅ V2 ​​  1 ​​ = __
​​   ​​  
T1 T2
Substituindo os valores na fórmula, obtém-se: Lembrando que, nessa fórmula, a temperatura deve ser
mantida em kelvin. Substituindo os valores na fórmula,
20 ⋅ 40 = 40 ⋅ V2
obtém-se:
Finalizando os cálculos: ________
​​  2   ​​   = __ ​​ 4  ​​
20 + 273 T2
V2 = 20L
Finalizando os cálculos:
Assim, 20 litros será o novo volume. T2 = 586 K
3. (Unesp) Um gás ideal, inicialmente à temperatura de
Alternativa D
320 K e ocupando um volume de 22,4 L, sofre expansão
em uma transformação isobárica. Considerando que a 5. (UFRGS) Um gás monoatômico sofre uma transfor-
massa do gás permaneceu inalterada e a temperatura mação adiabática durante a qual sua pressão absoluta
final foi de 480 K, calcule a variação do volume do gás. passa de P para 4P. Sendo o volume inicial igual a 1 litro,
podemos afirmar que o volume final será o valor de?
Resolução:
Resolução:
Como a transformação é isobárica, segue que a pressão é
Como a transformação é adiabática, segue que não há tro-
constante; assim:
ca de calor com o meio externo; assim:
__ V V2
​​  1 ​​ = __
​​   ​​   p1 ⋅ ​​V1​ g​  ​​ = p2 ⋅ ​​V2​ g​  ​​
T1 T2
Para um gás monoatômico, segue que a constante de
Substituindo os valores na fórmula, obtém-se:
​​ 5 ​​: 
transformação vale __
3
____22,4 V2
​​   ​​  = ___
​​    ​​   P ⋅ 15/3 = 4P ⋅ V25/3
320 480
Finalizando os cálculos: Finalizando os cálculos, obtém-se:

V2 = 33,6 L V2 5/3 = 0,25

Assim, a variação de volume foi: Logo:


V2 ≅ 0,43 L
V2 - V1 = 11,2 L
Portanto, tem-se uma variação de volume de 11,2 litros.

4. (Unirio) Com base no gráfico a seguir, que represen-


ta uma transformação isovolumétrica de um gás ideal,
podemos afirmar que, no estado B, a temperatura é de:

multimídia: sites
www.efeitojoule.com/2009/09/equacao-
de-clapeyron-equacao-clapeyron.html
www.if.ufrgs.br/~dschulz/web/transf_
termodinamicas.htm
a) 273 K quantumfreak.com/derivation-of-pvnrt-
b) 293 K the-equation-of-ideal-gas/
c) 313 K mundoestranho.abril.com.br/saude/como-
d) 586 K se-forma-o-pum/
e) 595 K

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CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A lei geral dos gases é objeto de estudo de pesquisadores


da Química e da meteorologia, uma vez que as modificações
gasosas que ocorrem com o aumento de temperatura são im-
portantes para determinar fatores que influenciam o clima e a
dinâmica atmosférica. A compreensã dos fenômenos atmos-
féricos e do funcionamento dos processos gasosos encontra-
dos na atmosfera contribui para uma visão completa dos pro-
cedimentos que envolvem diversas áreas, como saúde, política
e ecologia.
Outro exemplo de pesquisas interdisciplinares com os gases são
os estudos sobre combustíveis alternativos, como o nitrogênio
líquido e o ar comprimido, que são utilizados com base nos
fenômenos de compressão e expansão dos gases para se criar
motores utilizados em carros e outros tipos de transporte.

5. Mistura de gases perfeitos Lei das Pressões Parciais - Lei de Dalton


A pressão final P da mistura é dada pela soma das pressões
Sejam misturados n1 e n2 mols de gás ideal, a quantidade
parciais dos componentes da mistura se cada gás ocupasse
final de mols é dada pela soma das quantidades individuais.
sozinho todo o volume final V, na mesma temperatura T que
n = n1 + n2 a mistura final. Matematicamente, temos que, para a mistura,
Sejam p, V, n e T as variáveis termodinâmicas da mistura, p⋅V
pela equação de Clapeyron temos que: n = ____
​​   ​​  
R⋅T
p⋅V
n = ____
​​   ​​   para os gases individuais, teríamos:
R⋅T
p’ ⋅ V
Sendo p1, V1, n1 e T1 as variáveis termodinâmicas do primei- n’ = ____
​​   ​​  
ro gás antes da mistura, e p2, V2, n2 e T2 as variáveis termo- R⋅T
dinâmicas do segundo gás antes da mistura, pela equação e
de Clapeyron, temos que:
p” ⋅ V
n” = ____
​​   ​​  

p ⋅V R⋅T
n1 = ____
​​  1 1 ​​ 
  Como o número de mols da mistura é a soma das quanti-
R ⋅ T1
dades individuais dos gases, temos:
e
n = n’ + n”
p ⋅V
n2 = ____
​​  2 2 ​​ 
  p
____ ⋅ V p’ ⋅ V ____
= ____
​​    ​​   ​​    ​​  
p” ⋅ V
+ ​​    ​​  
R ⋅ T2 T T T
Finalmente,
Finalmente podemos dizer que:
p = p' + p"
p ⋅ V ____
____ p ⋅ V ____ p ⋅V
= ​​  1   1​​ 
​​    ​​   + ​​  2   2​​  
   
T T1 T2

55
DIAGRAMA DE IDEIAS

LEI GERAL
DOS GASES

EQUAÇÃO DE ESTA- EXPANSIBILIDADE E


GÁS IDEAL
DO DE CLAPEYRON COMPRESSIBILIDADE

VARIÁVEIS
TRANSFORMAÇÕES
DE ESTADO

• ISOTÉRMICA • PRESSÃO
• ISOBÁRICA • VOLUME
• ISOVOLUMÉTRICA • TEMPERATURA
• ADIABÁTICA

56
AULAS Primeira lei da termodinâmica
11 e 12
Competências: 5e6 Habilidades: 17, 18 e 21

1. Máquinas térmicas
Durante a chamada Revolução Industrial, entre o final
do século XVIII e meados do século XIX, a economia
europeia foi alterada devido a uma série de transforma-
ções tecnológicas.
Um elemento fundamental para essa revolução foi a má- A força exercida pelo gás sobre o êmbolo e o deslocamen-
quina a vapor. Utilizando a força do vapor resultante da to têm o mesmo sentido; assim, o trabalho é dado por:
ebulição da água para produzir movimento, a máquina a τG = FG ⋅ d
vapor era utilizada inicialmente para retirar água do fundo
das minas; aos poucos, porém, passou a ser utilizada nas Chamando de pG a pressão exercida pelo gás sobre o
indústrias e nos transportes. êmbolo, temos:
FG = pG ⋅ A
As máquinas a vapor transformam calor em trabalho
(ou energia mecânica), e por isso são denominadas Substituindo na equação do trabalho, obtém-se:
máquinas térmicas. τG = FG ⋅ d = pG ⋅ A ⋅ d ⇒

1.1. O motor de combustão interna τG = pG ⋅ DV


No fim do século XIX, outro tipo de máquina térmica foi cria-
do: o motor de combustão interna. Nesse motor, uma Se, em vez de uma expansão, o gás sofrer​____uma compressão
› ​___›
mistura de ar e vapor de combustível, como gasolina, álcool isobárica, o trabalho será negativo, pois F​ G ​  e d ​
​   terão senti-
ou óleo diesel, é usada em vez do vapor de água. Essa mis- dos opostos, do mesmo modo que DV será negativo, pois:
tura é introduzida em um cilindro, e um dispositivo, chamado DV = (volume final) – (volume inicial)
vela de ignição, emite uma faísca elétrica, provocando a
combustão da mistura e uma rápida expansão (explosão) do No caso de uma compressão:
gás, movimentando o pistão dentro do cilindro. Esse tipo de volume final < volume inicial
motor é usado, por exemplo, nos automóveis.
Assim, a equação acima do trabalho realizado pelo gás é
Devido a essa característica da explosão da mistura den- válida tanto na expansão isobárica quanto na compressão
tro do cilindro, o motor de combustão interna é conhecido isobárica do gás. Por se tratar de processos isobáricos, a
também como motor a explosão. pressão é constante, e o gráfico de pG em função do volu-
De forma resumida, nas máquinas térmicas, um gás recebe me é uma reta paralela ao eixo das abcissas (eixo do volu-
me). A área sob a curva, limitada pela variação de volume,
calor e realiza trabalho.
como mostrado na figura a seguir, é numericamente igual
ao trabalho realizado pelo gás.
2. Trabalho realizado por um gás pG

Na figura a seguir, um gás ideal está contido em um cilin- pG


dro munido de um embolo (região mais escura). A seção
reta do cilindro tem área A. A força
​____› exercida pelo gás sobre
o êmbolo é representada por F​ G ​  . Considere que o êmbolo
se desloque de d depois de uma expansão isobárica (pres-
são constante) do gás.

57
É possível demonstrar que, mesmo quando a pressão não é Assim como o calor, o trabalho também está relacionado
constante, o trabalho ainda é numericamente igual à área com a transferência de energia. Entretanto, distingue-se pelo
sob o gráfico. A figura a seguir ilustra esse caso. fato de não causar a alteração de temperatura do corpo.
pG Resumidamente, é possível afirmar que, quando o gás rea-
liza trabalho (trabalho interno), seu valor é positivo; quan-
do o trabalho é realizado sobre o gás (trabalho externo),
seu valor é negativo. De modo geral, o módulo do trabalho
é numericamente igual à área abaixo da curva p x V que
caracteriza os estados termodinâmicos do gás. Na transfor-
mação isobárica, a relação é dada por:

τ = p ⋅ DV
Aplicação do conteúdo
1. O gráfico a seguir mostra a mudança de um gás
ideal do estado A para o estado B. Sabendo que
1 atm @ 105 Pa, determine o trabalho realizado pelo gás
na transformação.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Energia interna, calor, trabalho e sua relação...

3. Energia interna
A soma das energias de todas as moléculas de um corpo
determina sua energia interna (U). As energias cinéti-
Resolução: cas dos átomos e das moléculas, assim como as energias
potenciais correspondentes às forças elétricas existentes
 gráfico representa a variação de pressão em função do
O entre os átomos ou moléculas, somam-se para compor a
volume do gás. Como foi visto, o trabalho realizado pelo gás, energia interna. No caso de um gás ideal, a energia interna
em módulo, é numericamente igual à área da figura sombre- é proporcional à temperatura absoluta (T) do gás. Assim:
ada no gráfico. Calculando a área do trapézio, segue:
§ Se T aumenta, U aumenta;
(2, 0 atm + 4, 0 atm) (8, 0 L)
|τG| = ______________________
  
​     ​= 24 atm ⋅ L § Se T é constante, U é constante;
2
Como 1 atm = 105 Pa e 1L = 10–3 m3, tem-se: § Se T diminui, U diminui.
No caso de um gás ideal constituído por apenas um átomo
|τG| = 24 ⋅ (105 Pa) ⋅ (10–3 m3) = 2,4 ∙ 103 Pa ⋅ m3 (gás monoatômico), a energia interna é dada por:

As unidades Pa e m3 são as unidades padrões do SI e, por-


tanto, o trabalho é expresso em joules: ​ 3 ​ nRT
U = __
2
|τG| = 2,4 ∙ 103 J
Em que n é o número de mols de moléculas, e R é a cons-
Pelo gráfico, verifica-se que o volume diminuiu (∆V < 0); tante universal dos gases. É importante salientar que essa
assim, o trabalho é negativo: equação é válida somente para gases monoatômicos e não
é válida se as moléculas que formam o gás forem compostas
τG = –2,4 ∙ 103 J por mais de um átomo.

58
Lembrando da equação de Clapeyron, pV = nRT, a energia in- § se Q < 0, o sistema perde calor;
terna de um gás ideal pode ser reescrita da seguinte maneira:
§ se τ > 0, o sistema se expande, e o gás realiza trabalho;

​ 3 ​ pV
U = __ § se τ < 0, o sistema se contrai, e o trabalho é realizado
2 sobre o gás.
Sendo U0 a energia interna inicial do sistema, e Uf a energia
interna final, tem-se:
DU = Uf – U0

Assim:
DU > 0 ⇔ Uf > U0
DU < 0 ⇔ Uf < U0

Aplicação do conteúdo
multimídia: vídeo
1. Um gás é comprimido por um agente externo e, ao
Fonte: Youtube mesmo tempo, recebe 400 J de calor de uma chama.
Primeira Lei da Termodinâmica - Energia Sabendo-se que o trabalho do agente externo foi 700 J,
Interna determine a variação de energia interna do gás.

Resolução

4. Primeira lei da termodinâmica Como o gás recebeu calor, Q > 0:


No início do século XVIII, quando as primeiras máquinas a Q = + 400 J
vapor foram construídas, ainda não se tinha certeza sobre
a natureza do calor. Entretanto, em meados do século XIX,  agente externo realizou trabalho positivo. Contudo,
O
a observação do funcionamento dessas máquinas, juntam- como esse trabalho foi realizado sobre o gás (seu volume
ente com as tentativas de aperfeiçoá-las, e depois de diver- diminuiu), τ < 0:
sos experimentos, os físicos chegaram a duas conclusões: t = –700 J
§ o calor é uma forma de energia; Substituindo na equação da Primeira Lei da Termodinâmica:
§ a energia total do Universo se conserva (é constan- DU = Q – t = 400 J – (–700 J) = 400 J + 700 J ⇒ ⇒ DU
te), mas uma forma de energia pode se transformar = 1.100 J
em outra.
A segunda sentença constitui o Princípio da Conser- A variação de energia interna ∆U é positiva. Isso significa
vação da Energia, e foi enunciada, à época, como a Pri- que a energia interna aumentou uma quantidade igual a
meira Lei da Termodinâmica. 1.100 J.

Considere um sistema (conjunto de corpos) qualquer que


receba uma quantidade de calor Q. Parte desse calor pode
ser utilizada pelo sistema para realizar trabalho (τ). O
5. Transformações particulares
restante do calor ficará armazenado no sistema, contribu- A seguir, será aplicada a Primeira Lei da Termodinâmica nos
indo para o aumento de sua energia interna U. Sendo ∆U casos de transformações isotérmica, isocórica, isobárica e
a variação da energia interna, o calor e o trabalho se rela- adiabática de um gás ideal.
cionam da seguinte maneira:
5.1. Transformação isotérmica
Em uma transformação isotérmica, devido à temperatura
ser constante, a energia interna também não se altera, ou
A equação acima traduz a Primeira Lei da Termodinâmica e seja, ∆U = 0. Assim:
foi convencionado que: Q = τ + DU
⇒Q=τ
§ se Q > 0, o sistema recebe calor; DU = 0

59
VIVENCIANDO

As ciências que estudam as propriedades físicas e químicas de diversos elementos e materiais estão relacionadas
com a termodinâmica. Os processos de fabricação de novos componentes exige um conhecimento extenso de como
ocorre a transferência de calor nesses materiais e como eles são usados como matéria-prima para a elaboração de
novas ferramentas, como roupas mais confortáveis e aparelhos eletrônicos mais eficientes.
O desenho e a construção de habitações devem sempre considerar os aspectos de troca de energia, tema central da
termodinâmica. Os projetos residenciais e urbanos levam em conta os limites de conforto do organismo humano, que
acontecem numa pequena faixa de temperatura em torno dos 20 ºC. Assim, é necessário pensar como os materiais
se comportam com as situações climáticas da região. Um exemplo disso é o uso da energia solar em regiões onde se
encontra uma alta incidência de radiação solar para substituir aquecedores de água que funcionam com energia elétrica.

5.1. Transformação isocórica § No caso de expansão isobárica, DV > 0 e


DU > 0, isto é:
Em uma transformação isocórica (ou isométrica ou isovolu-
métrica), devido ao volume ser constante, o gás não realiza Q–t>0  ou  Q > t
trabalho. Assim:
Q = τ + DU § No caso de compressão isobárica, DV < 0 e DU < 0,
⇒ Q = DU
τ=0 isto é:
Quando o gás passa por uma transformação isócorica, o
Q – t < 0  ou  Q < t
calor Q pode ser calculado utilizando a capacidade o calor
específico a um volume constante CV.
Quando o gás passa por uma transformação isobárica, o
Qv = m · CV · Δu
calor Q pode ser calculado utilizando o calor específico à
Ou ainda a capacidade o calor molar à pressão constante CV. pressão constante cp.
QV = n · CV · Δu QP = m · cP · Δu

5.2. Transformação isobárica Ou ainda a capacidade molar à pressão constante CP.


QP = n · CP · Δu
Em uma transformação isobárica, a pressão permanece
constante e, pela Lei Geral dos Gases, o volume e a tem- Para um dado gás, a diferença entre a capacidade molar, a
peratura estão relacionados por: pressão constante e o volume constante.

​ V ​  = constante
__
R = CP – CV
T
Assim:
§ V aumenta ⇒ T aumenta ⇒ U aumenta ⇒ 5.3. Transformação adiabática
⇒ DU > 0 Foi visto que uma transformação adiabática ocorre
§ V diminui ⇒ T diminui ⇒ U diminui ⇒ quando, durante a transformação, o sistema não recebe
e nem cede calor ao meio ambiente (não existe troca de
⇒ DU < 0
calor com o meio).
Por outro lado:
Processos desse tipo ocorrem se o gás está contido em um
Q = τ + DU ⇒ DU = Q – τ recipiente de paredes feitas de um material isolante térmi-
Com isso, o calor e o trabalho se relacionam da seguinte co, ou em um processo em que o gás sofra uma compres-
maneira: são ou expansão muito rápida de modo que não receba ou

60
forneça calor ao meio no curto intervalo de tempo durante
a variação de seu volume. Aplicando a Primeira Lei da Ter- Aplicação do conteúdo
modinâmica a esse caso, tem-se: 1. Qual a energia interna de 3 m³ de gás ideal
Q = t + DU monoatômico sob pressão de 0,5 atm?
⇒ DU = –t
Q=0 Resolução:
Assim:
Para calcular a energia interna do gás, deve-se aplicar a fórmula:
§ Se o gás sofrer uma compressão adiabática:
DU = –t ​ 3 ​ · p · V
U = __
⇒ DU > 0 2
t<0
Substituindo os valores, obtém-se:
Ou seja, a energia interna aumenta e, portanto, sua tempe- ​ 3 ​ · 0,5 · 105 · 3
U = __
ratura também aumenta. 2
Finalizando os cálculos:
§ Se o gás sofrer uma expansão adiabática:
DU = – t U = 2250 J
⇒ DU < 0
t>0
2. (Unirio) Qual é a variação de energia interna de um
Ou seja, a energia interna do gás diminui e, em consequên- gás ideal sobre o qual é realizado um trabalho de 80J
cia, sua temperatura também diminui. durante uma compressão isotérmica?
a) 80 J
Em um gráfico de pressão pelo volume (p x V), uma trans-
b) 40 J
formação adiabática é uma curva denominada curva c) Zero
adiabática. A forma dessa curva é semelhante à de uma d) – 40 J
isoterma, mas com inclinação diferente, como mostrado na e) – 80 J
figura a seguir.
Resolução

Durante uma compressão isotérmica, sabe-se que a varia-


ção da energia interna é nula; assim:
∆U = 0

Alternativa C

3. (Uece) Uma garrafa hermeticamente fechada contém


1 litro de ar. Ao ser colocada na geladeira, onde a tem-
peratura é de 3 °C, o ar interno cedeu 10 calorias até
entrar em equilíbrio com o interior da geladeira. Des-
prezando-se a variação de volume da garrafa, a varia-
ção da energia interna desse gás foi:
a) – 13 cal
b) 13 cal
c) – 10 cal
d) 10 cal
Resolução:

É possível saber pelo enunciado que a transformação


em questão é isocórica, pois o volume da garrafa não
varia; assim:
multimídia: vídeo Q = τ + ∆U
Fonte: Youtube
Nas transformações isocóricas, ocorre que o trabalho reali-
Construa um motor movido a vela (motor
zado pelo gás é nulo; assim:
stirling)
Q = ∆U

61
Sabe-se também que o calor foi fornecido para o ambiente; Substituindo os valores, obtém-se:
conclui-se que Q = – 10 cal, logo:
τ = 3p ⋅ (3V – V)
∆U = –10 cal Finalizando os cálculos:
Alternativa C
τ = 6 ⋅ p ⋅V
4. Um gás ideal, inicialmente no estado A, sofre uma Voltando à equação inicial, tem-se:
transformação termodinâmica:
Q = 6 ⋅ p ⋅ V + ∆U
A → B: expansão isobárica;
Assim:
O gráfico da pressão em função do volume mostra a trans-
∆U = Q – 6 ⋅ p ⋅ V
formação A → B desse gás:

Sabendo que o gás em questão recebeu uma quantidade


de calor Q do ambiente, calcule em função de p, V e Q a
variação da energia interna do gás. multimídia: sites
Resolução: www.if.ufrgs.br/~dschulz/web/primeira_
Para calcular a variação da energia interna, deve-se apli-
lei.htm
car a fórmula da Primeira Lei da Termodinâmica: web.mit.edu/16.unified/www/FALL/
thermodynamics/notes/node11.html
Q = τ + ∆U
A priori, é necessário calcular o trabalho realizado pelo gás:
τ = p ⋅ ∆V

62
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Revolução Industrial e a máquina a vapor


A primeira máquina a vapor de que se tem notícia foi criada por Herão de Alexandria
(10-80 d.C.); chamada de olípila ou máquina de Herão, consistia numa esfera com tubos
curvos por onde o vapor de água era expelido, fazendo com que o aparelho girasse. A
imagem a seguir representa a máquina criada por Herão.
O britânico Thomas Newcomen (1663-1729) foi o inventor da primeira máquina a vapor
capaz de bombear água em profundidade. A princípio, a máquina era utilizada para a extração de água em minas
de carvão. Newcomen recebeu permissão para melhorar a máquina de Thomas Savery (1650-1712), que, em 1698,
patenteou uma máquina a vapor que usava a condensação de vapor para criação de vácuo e, assim, puxar a água.
Entretanto, a máquina só era capaz de bombear água no máximo a 15 metros
de profundidade. Newcomen, junto com John Cally, melhorou a máquina a
vapor adicionando um êmbolo num cilindro para uma alavanca que descia até
a mina, sendo capaz de bombear água a mais de 50 metros de profundidade.
No ano de 1763, o britânico James Watt (1736-1819) foi convidado a mel-
horar o modelo da máquina de Newcomen. Watt percebeu que, se a câmara
de condensação fosse separada do cilindro, evitaria perdas de energia. Em
1765, Watt inventou uma máquina a vapor que, além de perder menos
calor, era capaz de gerar movimento circular. Devido aos seus trabalhos, a
unidade de potência no SI – a relação entre joule e segundo – recebeu o
nome de watt.
Em 1804, a locomotiva de Richard Trevithick fez seu primeiro percurso. No Brasil, em 1854, uma locomotiva
inaugurou a Estrada de Ferro Petrópolis, graças ao empreendedorismo do brasileiro Irineu Evangelista de Sousa,
o barão de Mauá; sua inauguração contou com a presença do imperador Dom Pedro II.
O estudo das máquinas térmicas foi fundamental para o desenvolvi-
mento tecnológico do homem durante a Primeira Revolução In-
dustrial. Durante o final do século XVIII e início do século XIX, surgi-
ram a máquina a vapor moderna e a locomotiva, ambas invenções que
transformavam a energia térmica, proveniente da queima do carvão,
em energia mecânica. A utilização da máquina a vapor dinamizou o
setor industrial, como a industrial têxtil, que até aquele momento ain-
da se desenvolvia de maneira artesanal.

63
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
Utilizar leis físicas e/ou químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da ter-
21 modinâmica e/ou do eletromagnetismo.

A habilidade 21 avalia a capacidade do estudante de entender conceitos da Física, sua importância histórica e saber
aplicá-los no cotidiano. Como diz o segundo eixo cognitivo: “Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhe-
cimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e
das manifestações artísticas”.

Modelo 1
(Enem) O ar atmosférico pode ser utilizado para armazenar o excedente de energia gerada no sistema elétrico, diminu-
indo seu desperdício, por meio do seguinte processo: água e gás carbônico são inicialmente removidos do ar atmos-
férico e a massa de ar restante é resfriada até –198 ºC. Presente na proporção de 78% dessa massa de ar, o nitrogênio
gasoso é liquefeito, ocupando um volume 700 vezes menor. A energia excedente do sistema elétrico é utilizada nesse
processo, sendo parcialmente recuperada quando o nitrogênio líquido, exposto à temperatura ambiente, entra em
ebulição e se expande, fazendo girar turbinas que convertem energia mecânica em energia elétrica.
MACHADO, R. Disponível em: <www.correiobraziliense.com.br>. Acesso em: 09 set. 2013 (adaptado).

No processo descrito, o excedente de energia elétrica é armazenado pela:


a) expansão do nitrogênio durante a ebulição;
b) absorção de calor pelo nitrogênio durante a ebulição;
c) realização de trabalho sobre o nitrogênio durante a liquefação;
d) retirada de água e gás carbônico da atmosfera antes do resfriamento;
e) liberação de calor do nitrogênio para a vizinhança durante a liquefação.

Análise expositiva 1: O aluno precisa entender as formas de possíveis transformações de energia, como
C calor e trabalho. É necessário Identificar quando o sistema se resfria por essas transformações e identificar
as informações que são relevantes no enunciado.
Alternativa C

Relacionar informações apresentadas em diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências físi-
17 cas, químicas ou biológicas, como texto discursivo, gráficos, tabelas, relações matemáticas ou linguagem simbólica.

A Matemática é uma ferramenta fundamental para a interpretação e/ou construção de fenômenos no contexto da
Física. Assim, faz-se necessário conhecer o manuseio e a aplicabilidade, além da capacidade interpretativa, dessa
linguagem simbólica. Como afirma o terceiro eixo cognitivo da matriz de referência do ensino médio: “Selecionar,
organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e
enfrentar situações-problema”.

64
Modelo 2
(Enem) Um sistema de pistão contendo um gás é mostrado na figura. Sobre a extremidade superior do êmbolo, que
pode movimentar-se livremente sem atrito, encontra-se um objeto. Através de uma chapa de aquecimento é possível
fornecer calor ao gás e, com auxílio de um manômetro, medir sua pressão. A partir de diferentes valores de calor for-
necido, considerando o sistema como hermético, o objeto elevou-se em valores ∆h como mostrado no gráfico. Foram
estudadas, separadamente, quantidades equimolares de dois diferentes gases, denominados M e V.

A diferença no comportamento dos gases no experimento decorre do fato de o gás M, em relação ao V, apresentar:
a) maior pressão de vapor;
b) menor massa molecular;
c) maior compressibilidade;
d) menor energia de ativação;
e) menor capacidade calorífica.

Análise expositiva 2: Para resolver o problema, o aluno precisa saber interpretar gráficos e retirar informações do
E enunciado para aplicar os seus conhecimentos de termodinâmica.
Alternativa E

65
DIAGRAMA DE IDEIAS

TERMODINÂMICA

CONSERVAÇÃO PRIMEIRA LEI DA


DA ENERGIA TERMODINÂMICA

TRANSFORMAÇÕES

ΔU = 0 ISOTÉRMICA

= P • ΔV ISOBÁRICA

=0 ISOVOLUMÉTRICA

Q=0 ADIABÁTICA

66
AULAS Segunda lei da termodinâmica
13 e 14
Competências: 5e6 Habilidades: 17, 18 e 21

1. Transformação cíclica
Em um ciclo: DUciclo = 0

O estado final e o estado inicial do sistema são iguais em


uma transformação cíclica. Considere que um gás sofra as Lembrando da Primeira Lei da Termodinâmica:
transformações representadas no diagrama p × V abaixo. Qciclo = τciclo + DUciclo ⇒ Qciclo = tciclo + 0
Como é possível observar no gráfico, as transformações
sofridas pelo gás formam um caminho fechado. Esse pro- Conclui-se:
cesso é denominado ciclo. (É importante estudar os ciclos,
pois as máquinas térmicas funcionam executando ciclos Em um ciclo: Q = t
consecutivos).
No gráfico acima, o ciclo realizado pelo gás tem sentido
horário. Entretanto, as transformações também podem
ocorrer no sentido anti-horário. Nos dois casos, porém, a
área da região interna do gráfico (em um diagrama p × V)
é numericamente igual ao módulo do trabalho realizado
pelo gás, valendo:
Ciclo horário: tciclo > 0
Considerando o ponto A como estado inicial do gás, após
sofrer as transformações AB, BC, CD e DA, o gás volta ao Ciclo anti-horário: tciclo < 0
estado A e completa um ciclo. Devido ao estado final (A) p p
coincidir com o estado inicial (A), a temperatura final é a
τ>0
mesma que a temperatura inicial; assim, não existe varia-
ção da energia interna U no ciclo completo. |τ|
O trabalho do ciclo será dado pela soma do trabalho de
cada passagem individual:
O V O
tciclo = tABCDA = tAB + tBC + tCD + tDA
Sentido horário
Assim como a quantidade de calor do ciclo será igual à
soma de cada passagempindividual: p
Qciclo = QABCDA = QAB + QBC + QCD + QDA τ<0
τ>0
Ou como a variação da energia interna:|τ| |τ|
DUciclo = DUABCDA = DUAB + DUBC + DUCD + DUDA = 0

Lembrando que a Primeira


O Lei da Termodinâmica é válida O V
V
tanto para cada passagem individual quanto para o ciclo
completo: Sentido anti-horário

DUciclo = Qciclo – tciclo


Como em cada ciclo Qciclo = tciclo, resulta que:
DUAB = QAB – tAB DUBC = QBC – tBC Em um ciclo realizado no senti-
DUCD = QCD – tCD DUDA = QDA – tDA do horário: tciclo > 0 e Qciclo > 0

67
A quantidade de calor recebida pelos gás é totalmente
transformada em trabalho realizado pelo gás, isto é, todo o 2. Segunda lei da termodinâmica
calor é convertido em trabalho. A segunda Lei da Termodinâmica foi enunciada de maneiras
Em ciclo realizado no sentido anti-horário: diferentes, embora equivalentes. Uma delas é a seguinte:
tciclo < 0 e Qciclo < 0
“O calor não pode fluir espontaneamente de um cor-
O gás fornece calor devido a um trabalho realizado pelo po de temperatura menor para um outro corpo de
meio exterior sobre o gás, ou seja, o trabalho é convertido temperatura mais alta”.
em calor cedido pelo gás.

Aplicação do conteúdo A primeira formulação da Lei, realizada em 1850 pelo ale-


mão Rudolf Emmanuel Clausius (1822-1888), foi:
1. (Unirio) Um gás sofre a transformação cíclica ABCA, in-
dicada no gráfico a seguir. A variação da energia interna
e o trabalho realizado pelo gás, valem, respectivamente: “O calor flui espontaneamente de um corpo quente
para um corpo frio. O inverso só ocorre com a realiza-
ção de trabalho”.

Outra formulação, de Lorde Kelvin e do físico alemão Max


Planck (1858-1947), é:

“É impossível, para uma máquina térmica que opera


em ciclos, converter integralmente calor em trabalho”.

Considere as trocas de energia em uma máquina térmica


representadas na figura a seguir. A fonte quente, à tempe-
a) DU = 0 J e t = 0 J ratura T1, fornece uma quantidade de calor Q1 à máquina
b) DU = 0 J e t = 8,0 ∙ 102 J térmica (no caso de uma locomotiva a vapor, por exemplo,
c) DU = 0,5 ∙ 102 J e t = 1,5 ∙ 103 J a fonte quente é a fornalha onde é queimado o combustí-
d) DU = 8,0 ∙ 102 J e t = 0 J vel). Do calor Q1, uma parte é convertida em trabalho (τ), e
e) DU = 8,5 ∙ 102 J e t = 8,0 ∙ 102 J o restante |Q2| é fornecido a uma segunda fonte à tempe-
Resolução: ratura T2, menor que T1 (T2 < T1) (no caso da locomotiva a
vapor, a fonte fria é o ambiente externo).
Para calculars os dados pedidos, deve-se lembrar que a
área de um gráfico de P x V FONTE QUENTE T1

apresenta o trabalho exercido pelo gás; assim:


Q1

​ b ∙ ​
t = ____ h  
2
MÁQUINA τ
Substituindo os valores:
(5 – 1) ∙ (600 – 200)
t = ________________
  
​   ​  
2 Q2

Finalizando os cálculos, resulta: T2


FONTE FRIA

t = 800 ou 8 ∙ 10 J 2
Esquema de uma máquina térmica
Além disso, numa transformação cíclica, a energia interna
Assim:
do gás não varia, ou seja, a variação da energia interna é
nula; assim: Q1 = τ + |Q2|
DU = 0 Ou:
Alternativa B τ = Q1 – |Q2|

68
Essa relação demonstra que a diferença entre o calor da
fonte quente e a fonte fria é igual ao trabalho realizado Aplicação do conteúdo
em cada ciclo. 1. Uma máquina térmica recebe, a cada ciclo, uma quan-
tidade de calor Q1 = 500 J da fonte quente, e fornece
O rendimento de uma máquina térmica h (lê-se “eta”) uma quantidade de calor Q2 = 400 J para a fonte fria.
define-se por: Cada ciclo é executado em um intervalo de tempo
Dt = 0,25 s. Determine:
t
h = ​ __   ​  a) o trabalho realizado pela máquina em cada ciclo;
Q1
b) o rendimento da máquina;
c) a potência útil da máquina.
Substituindo τ = Q1 – |Q2|, obtém-se:
Resolução:
t Q1 – | Q2 | |Q2|
h = ​ __   ​ = ________
​   ⇒ h = 1 – __
 ​  ​   ​  a) t = Q1 – Q2 = 500 J – 400 J ⇒ t = 100 J
Q1 Q1 Q1
b) η = ​ __
t  ​ = _____
​ 100 J 
 ​ ⇒ η = 0,20 = 20%
Q1 500 J
Nessa expressão, nota-se que o rendimento seria de
100% caso todo o calor fosse convertido em traba- ​  t   ​ = _____
c) Pu = ___ ​  100 J 
 ​ = 400 J/s ⇒ Pu = 400 W
Dt 0,25 s
lho, nesse caso, Q2 = 0. Contudo, sempre há uma
quantidade de calor Q2 transferido à fonte fria e, por-
tanto, sempre t < Q1 e Q2 > 0. Por esse motivo, o
rendimento de uma máquina térmica é sempre me-
3. O ciclo de Carnot
Depois de as primeiras máquinas térmicas terem sido cons-
nor do que 100%. No caso das máquinas a vapor,
truídas no início do século XVIII, a primeira análise teórica
o rendimento é aproximadamente 0,15 (ou 15%).
dessas máquinas surgiu em 1824, em uma obra do físico
O rendimento de uma máquina térmica também é de-
francês Nicolas Leonard Sadi Carnot (1796-1832).
nominado eficiência.
Carnot nasceu em Paris e, apesar de ter morrido com ape-
A potência útil (Pu) de uma maquina térmica é a razão en-
nas 36 anos, foi de vital importância para o desenvolvimen-
tre o trabalho τ realizado por ela e o intervalo de tempo Dt
to da termodinâmica. Ele estudou as máquinas térmicas,
gasto para realizá-lo.
além de ter enunciado a Segunda Lei da Termodinâmica da
seguinte maneira: “Para haver conversão contínua de calor
​  t  ​  
Pu = __
Dt em trabalho, um sistema deve realizar ciclos entre fontes
No SI sua unidade é o watt (W), que representa a razão quentes e frias, continuamente. Em cada ciclo, é retirada
uma certa quantidade de calor da fonte quente (energia
entre joule e o segundo.
útil), que é parcialmente convertida em trabalho, sendo o
restante rejeitado para a fonte fria (energia dissipada)”.
Em seu trabalho de 1824, Carnot mostrou que uma máqui-
na térmica, operando com uma fonte quente à temperatu-
ra T1, e uma fonte fria à temperatura T2, tem rendimento
máximo quando executa um ciclo especial, denominado
ciclo de Carnot, representado na figura a seguir. Esse ci-
clo é formado pelas seguintes transformações (duas isotér-
micas e duas adiabáticas), na seguinte ordem:

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Mauá - O Imperador e o Rei
O filme mostra o enriquecimento e a falência
de Irineu Evangelista de Sousa, mais conhecido
como barão de Mauá, considerado o primeiro
grande empresário brasileiro.

69
T
1. O gás recebe calor Q1 da fonte quente e sofre uma hmáx = 1 – __ ​ 300 K 
​  2 ​ = 1 – _____  ​= 1 – 0,60 ⇒
expansão isotérmica AB à temperatura T1. T1 500 K
⇒ hmáx = 0,40 = 40%
2. Expansão adiabática BC; o gás atinge a temperatura T2.

4. Máquinas frigoríficas
3. O gás fornece o calor Q2 à fonte fria e sofre uma com-
pressão isotérmica CD à temperatura T2.

4. Compressão adiabática DA; o gás volta ao seu estado Diferentemente das máquinas térmicas, as máquinas frigo-
inicial à temperatura T1. ríficas retiram o calor de uma fonte fria e o fornecem para
uma fonte quente. Obviamente, esse processo não ocorre
A seguinte relação é válida para esse ciclo: espontaneamente, pois, de acordo com a Segunda Lei da
Termodinâmica, a tendência natural do calor é fluir de um
__|Q | T2
​  2 ​ = __
​   ​  corpo quente para um corpo frio. Assim, é necessário rea-
Q1 T1
lizar trabalho (por exemplo, por meio de um motor) que
faça com que o calor siga um percurso não natural. Essa
Já foi visto que o rendimento (ou eficiência) de uma máqui- é a base de funcionamento de aparelhos como o ar-condi-
na térmica qualquer é dado por: cionado e o refrigerador doméstico.
t   ​ = ​ Q
h = ​ __
1
– |Q2|
______ ​ 
|Q2|
 ⇒ h = 1 – ​ __ ​ 
FONTE QUENTE T2

Q1 Q1 Q1
Q2
O rendimento de uma máquina realizando o ciclo de Car-
not pode ser calculado a partir das temperaturas das fontes
τ
quente e fria. Substituindo as variáveis Q1 e |Q2| pelos valo- MÁQUINA

res de temperatura T1 e T2:

T T1 – T2 Q1
h = 1 – __
​  2 ​  = _____
​   ​


T1 T1
FONTE FRIA T1

O rendimento do ciclo de Carnot é independente do gás


utilizado pela máquina e é um ciclo ideal. Na prática, O esquema de funcionamento de uma máquina frigorífica
entretanto, as máquinas que funcionam usando o ciclo está representado na figura anterior. O trabalho τ executa-
de Carnot têm um rendimento inferior ao previsto. Isso do por um motor faz com que o calor Q1, retirado da fonte
acontece devido às transformações adiabáticas não ocor- fria, à temperatura T1, seja enviado para a fonte quente, à
rerem perfeitamente, e também devido às perdas de ca- temperatura T2 (sendo T2 > T1), que recebe uma quantidade
lor por atrito e isolamento térmico imperfeito. Máquinas de calor |Q2|. Assim, a cada ciclo executado:
térmicas reais atingem de 60% a 80% do rendimento
previsto por Carnot. Q1 + |τ| = |Q2|
Nota: Observe que nem mesmo o ciclo de Carnot pode
alcançar um rendimento de 100%.

Aplicação do conteúdo
1. Uma máquina térmica funciona entre duas fontes
às temperaturas de 227 ºC e 27 ºC. Qual o rendimento
máximo possível para essa máquina?

Resolução:
Tem-se:
T1 = 227 °C = 500 K
T2 = 27 °C = 300 K multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
O maior rendimento possível é obtido usando um ciclo de Noções de entropia
Carnot:

70
Nas máquinas frigoríficas é usado um fluido que, durante Q
parte do ciclo, é gás e, no restante do ciclo, permanece na e = __
​  1 ​  
|t|
forma líquida.
Dessa forma, a máquina térmica transforma calor em tra- Em que Q1 é o calor retirado da fonte fria, e τ é o trabalho
balho, fazendo com que o fluido (vapor) execute um ciclo realizado pelo motor. Considerando o calor Q2 enviado à
no sentido horário: fonte quente, reescreve-se a equação do ciclo, isolando
o trabalho:
Q1 + |t| = |Q2| ou |t| = |Q2| – Q1

Substituindo na equação anterior, obtém-se a seguinte


expressão:
Q1
e = ______
​     ​  
|Q2| – Q1
A máquina frigorífica transforma trabalho em calor, fazen-
do com que o fluido (gás refrigerante) execute um ciclo no
Em geral, refrigeradores domésticos têm eficiência e = 5,
sentido anti-horário.
isto é, a cada ciclo, a quantidade de calor retirada de den-
tro do refrigerador é cinco vezes maior do que o trabalho
executado pelo compressor.

Assim, o trabalho do gás refrigerante é negativo em uma


máquina frigorífica. Isso significa que o gás é comprimido
pela ação do motor, que, por esse motivo, é denominado
motor compressor.

5. Eficiência de uma multimídia: vídeo


Máquina Frigorífica Fonte: Youtube
A eficiência ou coeficiente de desempenho de uma máqui- Ciclos termodinâmicos e máquinas térmicas
na frigorífica é número e definido por:

VIVENCIANDO

Como foi visto ao longo das aulas sobre termodinâmica, o estudo dos gases foi fundamental na história da humani-
dade, não só pela construção de dirigíveis, mas principalmente como ferramenta para as revoluções industriais. As
máquinas térmicas, por sua vez, permitiram a construção de bombas de água, tornando possível a extração de carvão
a grandes profundidades, a criação de máquinas que aumentaram a produtividade nas indústrias (por exemplo, na
produção têxtil), o advento do motor a combustão, que está presente nos automóveis utilizados cotidianamente, e a
criação da geladeira, onde são guardados e conservados os alimentos.

71
rário. Nesse caso ele é denominado refrigerador de Carnot.
Aplicação do conteúdo Para o refrigerador de Carnot também vale a equação:
1. Tem-se uma máquina térmica frigorífica que realiza, Q |Q2|
durante um ciclo completo, um trabalho de 4 ∙ 104 J e ​ __1 ​ = __
​   ​ 
cede, à fonte fria, 12 ∙ 104 J. Com essas informações, T1 T2
calcule a eficiência da máquina frigorífica. Assim, pode-se expressar o rendimento em função das
temperaturas das fontes fria e quente:
Resolução:
Q1 T
A eficiência de uma máquina frigorífica é dada pela eCarnot = ______
​     ​  = _____
​  1   ​ 
|Q2| – Q1 T2 – T1
seguinte equação:
Q
e = __
​  1 ​
|τ|
Substituindo pelos valores, obtém-se:
​ 12 ∙ 104 ​ 
4
e = ______
4 ∙ 10
Logo:
e=3

2. (PUC- Camp) A turbina de um avião tem rendimento


de 80% do rendimento de uma máquina ideal de Car-
not operando às mesmas temperaturas.
multimídia: vídeo
Em voo de cruzeiro, a turbina retira calor da fonte quente a
Fonte: Youtube
127 °C e ejeta gases para a atmosfera que está a –33 °C.
Ciclos termodinâmicos e máquinas térmicas
O rendimento dessa turbina é de
a) 80 %
b) 64 %
7. Terceira lei da termodinâmica
c) 50 % A Terceira Lei da Termodinâmica resultou dos trabalhos de
d) 40 % Walther Nernst (1864-1941) e Max Planck (1858-1947).
e) 32 % As transformações naturais ocorrem em um certo sentido e
Resolução: nem sempre são reversíveis, isto é, apesar de ocorrer a con-
servação da energia total, à medida que o tempo passa, me-
Aplicando a fórmula de rendimento, tem-se:
T – T2 nor é a possibilidade de se obter energia útil em um sistema.
η = _____
​  1  ​   A evolução dos sistemas naturais tende para um estado de
T1
Substituindo os valores: maior desordem. Essa medida de desordem de um sistema
(127 + 273) – (–33 + 273) é denominada entropia. Assim, quando a desordem de um
η = ____________________
  
​      ​ sistema aumenta, ocorre um aumento de entropia.
(127 + 273)
Finalizando os cálculos, obtém-se: Considere uma xícara de chá que cai e se parte ao atingir
η = 0,4 o chão. Se todos os cacos da xícara fossem recolhidos e
Para calcular a eficiência da asa, deve-se achar 80% de a xícara caísse novamente, do mesmo modo que a xícara
0,4, ou seja: intacta, os cacos recolhidos da xícara não se reorganizam,
e é mais provável que se partam em pedaços ainda meno-
easa = 0,4 ∙ 0,8
res. Esse exemplo ilustra o fato de que a desordem tende
Assim: a aumentar conforme o tempo passa, sendo mais provável
easa = 0,32 atingir um estado de maior desordem do que um estado
Alternativa E bem ordenado. Assim, a Terceira Lei da Termodinâmica
pode ser enunciada da seguinte maneira:

6. Refrigerador de Carnot As transformações naturais sempre resultam em um


Da mesma forma que a máquina térmica, um refrigerador aumento da entropia do Universo.
pode executar o ciclo de Carnot, mas no sentido anti-ho-

72
Desse modo, pode-se definir processos irreversíveis como
aqueles processos que, por meios naturais, ocorrem apenas
7.1. Motor a combustão
em um sentido. Dessa forma, quando ocorre um processo De modo geral, o motor a combustão é uma máquina tér-
irreversível, a entropia do sistema sempre aumenta. Já os mica que transforma a energia da queima de certos gases
processos reversíveis são aqueles em que, depois de ocorrer em trabalho. Um motor padrão é composto por quatro fases.
uma pequena mudança, é possível reverter essa mudança, Na primeira, o gás preenche um cilindro à medida que um
de forma que o sistema volte às suas condições iniciais. pistão abre espaço, mantendo uma pressão constante. Na
Tecnicamente, processos reversíveis são uma idealização, fase 2, o pistão comprime a mistura gasosa numa transfor-
uma vez que na natureza todos os processos envolvem mação adiabática, de tal forma que, no final do processo, a
turbulência ou atrito, ou ainda algum outro aspecto que os temperatura e a pressão do gás estão com valores elevados.
torna irreversíveis. Na terceira fase, uma faísca faz com que o gás entre em
combustão devido a reações químicas entre o gás e o ar.
A definição de entropia para um sistema em que ocorre
Novas substâncias são produzidas, causando uma rápida ex-
uma transformação isotérmica é a razão entre a quantidade
de calor que o sistema troca pela temperatura do sistema pansão do gás e outra transformação adiabática. Por fim, na
última fase, os gases decorrentes da queima são expulsos do
durante a transformação reversível:
cilindro por meio de uma transformação isobárica.
Q
DS = __
​   ​ 
T
A unidade de entropia S no SI é o joule por kelvin J/K.
Para o cálculo da entropia de uma transformação irreversí-
vel, devido ao fato de a entropia ser uma variável de esta-
do, basta escolher um processo reversível que interligue os
mesmos dois estados do processo irreversível. A entropia
calculada será equivalente à do processo irreversível.
Agora, é possível reescrever a Terceira Lei da Termodinâmi- 7.2. Ciclo de Otto
ca em termos da entropia:
Idealizado por Beau de Rochas (1815-1893), mas colocado
Quando ocorrem mudanças em um sistema fechado, sua en- em prática, em 1875, pelo engenheiro Nikolaus Otto (1832-
tropia nunca diminui; ela pode crescer para processos irrever- 1891), é o motor que se encontra na maioria dos automó-
síveis ou permanecer constante para processos reversíveis: veis atualmente. É composto dos seguintes processos:
DS ≥ 0 1. Admissão isobárica (0-1).
Nota: No ciclo de Carnot todas as transformações
2. Compressão adiabática (1-2).
são reversíveis.
3. Combustão isocórica (2-3).

4. Expansão adiabática (3-4).

5. Abertura de válvula (4-5).

6. Exaustão isobárica (5-0).

multimídia: sites
cienciaetecnologias.com/demonio-de-
maxwell/
www.if.ufrgs.br/~dschulz/web/ciclo_
carnot.htm
coral.ufsm.br/gef/Calor/calor28.pdf

73
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A Revolução Industrial, que ocorreu na Europa entre os séculos XVIII e XIX, foi um conjunto de mudanças estruturais
no modo de produção, quando o trabalho artesanal foi substituído pelo trabalho assalariado e pelo uso das máquinas.
Até o final do século XVIII, a maioria da população europeia vivia no campo e produzia o que consumia. Nesse sentido,
um artesão conhecia todo o processo produtivo de seu produto. Com o passar do tempo, começaram a surgir grandes
oficinas, em que diversos artesãos, realizando manualmente todo o processo, fabricavam os produtos, mas eram subor-
dinados ao proprietário da manufatura.
Devido à sua localização, ao fato de possuir uma rica burguesia em expansão e ter sofrido um êxodo rural, a Inglaterra
possuía as características que fizeram com que estivesse na vanguarda da Revolução Industrial entre 1760 e 1860.
Com o desenvolvimento tecnológico, as oficinas se transformaram em pequenas fábricas; nas indústrias de tecidos
de algodão surgiu o tear mecânico. Nessa época, o aprimoramento das máquinas a vapor contribuiu para a contin-
uação da revolução, tanto para o transporte da mercadoria quanto para a produção. A Inglaterra possuía reservas
de minas de carvão mineral, mas máquinas de bombear água eram necessárias para a exploração das minas – com
a máquina a vapor foi possível explorar minas a grandes profundidades. O carvão era utilizado para movimentar a
locomotiva a vapor, aquecer os fornos das indústrias ou alimentar algumas máquinas a vapor.
No início da Revolução Industrial, as fábricas não eram um bom local de trabalho: condições de trabalho precárias,
longas jornadas de trabalho, baixo salário, péssima iluminação, falta de ventilação, muita sujeira e até mesmo cas-
tigos físicos por parte dos patrões forçaram revoltas e greves dos trabalhadores, que passaram a se organizar por
meio de sindicatos, exigindo melhores condições de trabalho, melhores salários e direitos trabalhistas.

7.3. Ciclo de Diesel O ciclo de Diesel é utilizado em automóveis, caminhões,


barcos, compressores, navios e em geradores diesel-elétri-
Diferentemente do ciclo de Otto, o motor de Diesel faz a ig- cos industriais.
nição do combustível pelo aumento da temperatura devido
à compressão do ar. Foi inventado em 1893 pelo engenheiro
Rudolf Diesel (1858-1913). Ainda hoje se destaca devido à
economia de combustível. O ciclo de Diesel é composto por
quatro processos:
1. Uma compressão isentrópica, ou seja, sem o aumento
da entropia do sistema (1-2).
2. Fornecimento de calor à pressão constante (isobárico)
(2-3).
3. Expansão isentrópica, sem o aumento da entropia do
sistema (3-4).
multimídia: livros
4. Por fim, uma transformação isovolumétrica, enquan-
Germinal - Zola, Émile
to o calor é cedido. (4-1).
Cultuado por muito tempo como o romance
por excelência das relações humanas no
universo da organização dos trabalhadores,
‘Germinal’ retrata os primórdios da Interna-
cional Socialista, constituindo simultanea-
mente um painel revelador da lógica patronal
no início do capitalismo industrial.

74
Para achar o trabalho necessário, deve-se aplicar outra fórmula:
Aplicação do conteúdo Q
1. Quanto trabalho deve ser realizado por um refrigera- |t| = e____
​  1  ​  
carnot
dor Carnot para transferir 1,0 J sob a forma de calor de Substituindo, tem-se:
um reservatório a 7,0 ºC para um a 27 ºC?
​ 1  ​ 
|t| = ___
Resolução: 14
Assim:
Para calcular o valor do trabalho necessário, deve-se, ini-
cialmente, calcular a eficiência da máquina: |t| = 0,071 J
T
ecarnot = _____
​  1   ​   2. O que é entropia?
T2 – T1
Substituindo os valores, tem-se:
Resolução:
(7 + 273)
_________________
ecarnot =   
  
​   ​
(27 + 273)–(7 + 273) Quantidade termodinâmica de um sistema físico associada
Finalizando os cálculos, tem-se: ao grau de desordem desse sistema. Quanto mais desorde-
nado o sistema, maior sua entropia.
ecarnot = 14

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Utilizar leis físicas e/ou químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da ter-
21 modinâmica e/ou do eletromagnetismo.

A habilidade 21 avalia a capacidade do estudante de entender conceitos da Física, sua importância histórica e saber
aplicá-los no cotidiano. Como diz o segundo eixo cognitivo: “Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhe-
cimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e
das manifestações artísticas”.

Modelo
(Enem) Aumentar a eficiência na queima de combustível dos motores a combustão e reduzir suas emissões de poluen-
tes são a meta de qualquer fabricante de motores. É também o foco de uma pesquisa brasileira que envolve expe-
rimentos com plasma, o quarto estado da matéria e que está presente no processo de ignição. A interação da faísca
emitida pela vela de ignição com as moléculas de combustível gera o plasma que provoca a explosão liberadora de
energia que, por sua vez, faz o motor funcionar.
Disponível em: <www.inovacaotecnologica.com.br>. Acesso em: 22 jul. 2010 (adaptado).
No entanto, a busca da eficiência referenciada no texto apresenta como fator limitante:
a) O tipo de combustível, fóssil, que utilizam. Sendo um insumo não renovável, em algum momento estará esgotado.
b) Um dos princípios da termodinâmica, segundo o qual o rendimento de uma máquina térmica nunca atinge o ideal.
c) O funcionamento cíclico de todo os motores. A repetição contínua dos movimentos exige que parte da energia seja
transferida ao próximo ciclo.
d) As forças de atrito inevitável entre as peças. Tais forças provocam desgastes contínuos que com o tempo levam qualquer
material à fadiga e ruptura.
e) A temperatura em que eles trabalham. Para atingir o plasma, é necessária uma temperatura maior que a de fusão do
aço com que se fazem os motores.

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Análise expositiva - Habilidade 21: Nessa questão, o aluno precisa se lembrar do enunciado da Segunda Lei
B da Termodinâmica e relacioná-la com o rendimento para a máquina de Carnot.
Alternativa B

DIAGRAMA DE IDEIAS

TERMODINÂMICA

MÁQUINA IDEAL CICLOS 2ª LEI DA


DE CARNOT TERMODINÂMICOS TERMODINÂMICA

DEGRADAÇÃO
DE ENERGIA

RENDIMENTO
ENTROPIA
MÁXIMO

ANTI-HORÁRIO HORÁRIO

MÁQUINA MÁQUINA
FRIGORÍFICA TÉRMICA

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