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O PROBLEMA MENTE-

CÉREBRO
Histórico e correntes atuais para a questão
fundamental da neurociência
Contextualizando
• O funcionamento biopsicológico e comportamental dos seres humanos é alvo
de reflexão e estudo em grande da história da Humanidade.
• Teóricos clássicos como Descartes, já discutiam a relação entre as capacidades
racionais humanas e seu aparato biológico constituinte, ainda que, nesta
época, concebia-se essa relação como mediada por elementos metafísicos.
• Modelo bipartite (Corpo/Alma)
• Modelo tripartite (Corpo/Mente/Alma)
• Mas afinal, qual é a relação entre a mente (cognição) e o cérebro?
• De que maneira esses princípios filosóficos influenciam o estudo das
neurociências?
Dualismo Mente-Cérebro
• Segundo Mograbi, Mograbi e Ladeira-Fernandez (2014), poucos
são os defensores dos modelos que dissociam matéria e mente
atualmente.
• Possibilidade Lógica – ainda não se pode descartar a possibilidade
da existência de substância metafísica que corresponda à natureza
da mente ou da alma.
• Em oposição, encontra-se o materialismo eliminativo.
• A psicologia tradicional baseia-se na suposição de categorias falsas,
herdadas de seus primórdios filosóficos.
“Em sua grande maioria, posições
eliminativistas entendem que uma
neurociência em alto grau de
maturidade e desenvolvimento irá
substituir essa terminologia da
psicologia popular que se referiria
a objetos não existentes por uma
descrição científica de fato”.
Dualismo Mente-Cérebro
• Ainda assim, existem alguns que defendem alguma dualidade em termos de
propriedade, não de substância.
• Modelo causativo: as propriedades mentais tem efeito causal sobre a substância
física
• Modelo epifenomonológico: as propriedades mental ocorrem como epifenômeno,
não tendo qualquer relação causal sobre a matéria.
• Teorias Identitárias – processos mentais correspondem a processos neurais.
• Identidade tipo: estado físico específico determina um estado mental específico.
• Identidade de ocorrência: identidade entre estados individuais cerebrais e mentais
Mente-Cérebro na contemporaneidade
• Perspectiva interdisciplinar – correlação entre filosofia da mente,
neuropsicologia, neurociência e ciência cognitiva.
• Qualquer capacidade mental tem um correlato neural, sem o
compromisso com uma postura identitária
• “Trata-se, aqui, de encontrar o conjunto mínimo de eventos e
processos cerebrais que possa ser correlacionado a uma capacidade
mental como seu substrato neural”
• Nessa perspectiva, encontram-se os localizacionistas e os
conexionistas.
Mente-Cérebro na contemporaneidade
• Os localizacionistas defendem a ideia de que é possível imputar
especialidades bem localizadas em regiões cerebrais específicas.
• Já os conexionista apontam que diferentes áreas do cérebro atuando em
conjunto se correlacionam a capacidades funcionais relacionadas à mente.

“Entende-se aqui que a fidelidade responsável ao projeto de uma neuropsicologia


há de congregar o entendimento dessas propriedades sistêmicas que emergem da
interação complexa entre diferentes níveis de processamento de informação em
áreas distintas do cérebro, sem, no entanto, perder de vista a especificidade inerente
a cada parte ou subsistema constituinte do sistema”.
Modelo Anatomoclínico e
Neuropsicologia
• Surgimento da neuropsicologia é impreciso.
• Pierre Paul Broca (1824 – 1880)
• Descoberta de um centro cerebral específico para a
produção da fala.
• Paciente com problemas de fala (Afasia de Broca),
mantendo outras funções cognitivas, após lesão no
frontal, especificamente no giro frontal inferior
esquerdo (Área de Broca)
• Broca passa a utilizar o método anatomoclínico,
composto por uma avaliação em dois estágios.
Modelo Anatomoclínico e Neuropsicologia

• Esse método buscava vincular sinais clínicos a padrões de


alterações cerebrais.
• O primeiro estágio de avaliação consistia em um exame
clínico aprofundado
• Acompanhamento do paciente por longo período de
tempo, avaliando sinais em capacidades diversas.
• O segundo estágio ocorria após a morte do paciente,
envolvendo a necrópsia do cérebro e da medula espinhal.
• Evidências crescentes se desenvolveram, desde então, da
relação entre disfunções cognitivas e padrões de lesões
cerebrais.
Neuropsicologia no Séc. XX
• Década de 1950 – Wilder Penfield
• Cirurgia com pacientes epiléticos acordados (Método Montrèal)
• Estimulação elétrica local para o desenvolvimento de mapa de
processamento sensorial.
• Segunda metade do séc. XX, a partir de modelos animais e in vitro:
• Estudo de lesão específica
• Medições em células únicas
• Uso da neuroimagem para o apontamento de especializações
cerebrais (complementados pelo conexionismo).
Neuropsicologia no Séc. XX
• Outra importante contribuição para o
desenvolvimento da neurociência se deu a
partir do trabalho de Alexander Romanovich
Luria.
• Formou-se em medicina, estudou psicanálise
e contribuiu, junto de Vigotsky e Leontiev
para a construção da Psicologia Histórico-
Cultural.
• Luria realizou estudos buscando a influência
da escolaridade sobre a linguagem e cognição,
bem como fatores genéticos sobre a cultura.
Neuropsicologia no Séc. XX
• Luria também é considerado um dos fundadores da neuropsicologia
contemporânea, pelos seus apontamentos na relação entre biologia e
cultura.
• Para o autor, o desenvolvimento e o funcionamento cerebral se dão a
partir de complexas relações entre o aparato biológico e as relações
sociais, marcando o pensamento mais atual acerca da neurociência.
• “Demandas impostas pela estrutura social complexa da ordem dos
primatas foram um dos fatores determinantes na evolução do cérebro
(Dunbar, 1998)”.
Neuropsicologia no Séc. XX
• A ideia central da teoria de Luria é que os vínculos funcionais
entre estruturas cerebrais são construídos historicamente.
• Área da linguagem associada aos centros da visão e audição a partir
da criação da escrita.
• Cérebro Trans-Histórico
• Sistema funcional – funções complexas não podem ser exercidas
por órgãos ou tecidos únicos.
• Plasticidade e compensação
• Tendência atual na neurociência, com evidências empíricas já
demonstradas
Neuropsicologia no Séc. XXI
• Mais recentemente, os estudos sobre conectividade tem apontado que o
exercício de funções cognitivas complexas só pode se dar mediante a
interação estrutural e funcional de diferentes regiões do cérebro.
• O processamento de informações, mesmo em níveis mais básico
(percepção), sofre influência de funções cognitivas superiores.
• Estudo da consciência e produção de redes neurais artificiais.
• Oposição ao cognitivismo (software X hardware)
• Cognição como um conjunto de regras calcadas em base orgânica.
• Ênfase na capacidade adaptativa (em vez de déficits)
Neuropsicologia no Séc. XXI
• Em termos metodológicos, tem privilegiado os estudos de
neuroimagem funcional de alta definição, em detrimento dos
estudos de lesão.
• Avanços significativos no estudo das emoções e outros aspectos
deixado à parte pelas pesquisa de lesão.
• Avaliações clínicas baseadas em evidências.
• Muito aliada à perspectiva comportamental.

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