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BIOPSICOLOGIA

2º ANO, 1º SEMESTRE
APONTAMENTOS 1ª FREQUÊNCIA

INTRODUÇÃO À BIOPSICOLOGIA
• O que é a biopsicologia?
Estudo das bases biológicas do comportamento (perspetiva biológica do
comportamento). Compreender o comportamento e a cognição (memória, perceção,
atenção, etc.) em termos dos seus substratos biológicos. Disciplina das Neurociências (o
estudo científico do sistema nervoso); os biopsicólogos são neurocientistas que
pretendem estudar como é o que cérebro produz comportamentos. Como é que
o cérebro produz fenómenos psicológicos? (memórias, perceções, pensamentos,
aprendizagens, emoções, linguagem...). Existem vários nomes alternativos para
este campo científico: Biologia do Comportamento, Neurociências do Comportamento,
ou Psicobiologia...

• Enquadramento da biopsicologia nas neurociências:


Disciplinas das Neurociências relevantes para a Biopsicologia:
a) Neuroanatomia: Estudo das estruturas do sistema nervoso;
b) Neuroquímica: Estudo das bases químicas da atividade neuronal;
c) Neuropatologia: Estudo das perturbações do sistema nervoso;
d) Neurofarmacologia: Estudo dos efeitos das drogas na atividade neuronal;
e) Neurofisiologia: Estudo da atividade fisiológica do sistema nervoso;
f) Neuroendocronologia: Estudo das interações entre o sistema nervoso e o
sistema endócrino;
g) Neuroimagiologia: Desenvolvimento de técnicas que medem acontecimentos
cerebrais.

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• Abordagens da biopsicologia:
1. Psicologia Fisiológica:
a) Estuda os mecanismos neuronais do comportamento através de manipulações
diretas do sistema nervoso em condições de laboratório controladas
(lesões, estimulação elétrica) (uso de animais em laboratório);

b) Investigação básica;

2. Psicofarmacologia:
d) Manipula o sistema nervoso farmacologicamente;
e) Estuda o efeito de drogas no comportamento e como é que estas mudanças são
mediadas por mudanças na atividade neuronal;

f) Investigação básica ou aplicada.

3. Neuropsicologia:
a) Estuda as alterações comportamentais que ocorrem em humanos após lesão
cerebral; ênfase na clínica;

b) Recorre a estudos de caso e desenhos quase-experimentais;


c) Investigação aplicada.

4. Psicofisiologia:

a) Estuda a relação entre a atividade fisiológica e os processos psicológicos;


b) Mede a atividade cerebral em humanos com métodos não-invasivos (EEG);
c) Outros medidas: tensão muscular, ritmo cardíaco, dilatação das pupilas, e
condução eléctrica, etc...

5. Neurociências Cognitivas:
a) Divisão mais recente da Biopsicologia;
b) Estuda as bases neuronais dos processos cognitivos complexos (humanos);

c) Utiliza métodos não-invasivos como as recentes técnicas de imagem cerebral


funcional;

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6. Psicologia Comparativa:

a) Estuda fatores evolutivos e genéticos no comportamento (comparando ≠ espécies)


b) Estudos de laboratório assim como estudos com animais no seu ambiente
natural (etologia).

• Revisão histórica:
Renascimento (fins do século XIII e meados do século XVII). Em 1633,
René Descartes, propõe o conceito de reflexos e nervos. Afirma que a
mente/consciência está localizada na glândula pineal.
Dualismo – existência de 2 mundo: um material (corpo) e um não material
(mente).
Frenologia ou Teoria das Bossas (Franz Joseph Gall, 1796) - Tentou estabelecer
uma relação entre a configuração externa do cérebro e certas dimensões ou
"faculdades psicológicas”
Caso Leborgne (Paul Broca, 1861) – Estabeleceu uma correlação entre uma
dificuldade em encontrar “imagens motoras” (afasia motora ou de expressão) e lesões
no terço posterior da circunvolução frontal inferior esquerda (área de Broca).
Carl Wernicke (1874). Estabeleceu uma
correlação entre uma dificuldade em encontrar
“imagens auditivas” (afasia sensorial ou de
recepção) e lesões no terço posterior da
circunvolução temporal superior esquerda (área de
Wernicke).

Jules Déjerine (1890): Afirmou que pequenas lesões no cérebro podiam destruir
seletivamente a capacidade para ler ou para escrever, sem interferir com outros
aspectos do discurso ou outras funções cognitivas.

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Korbinian Broadmann (1909): Identificou 52 regiões distintas (caracterizadas por
diferentes tipos de células), através da análise da organização celular do córtex.

O Caso Phineas Gage (1848):

Trabalhava num caminho de ferro e ao existir uma explosão


um ferro atravessou a sua cabeça na zona orbito-frontal
apresentando problemas em termos do comportamento e de
tomada de decisão. Concluindo, a zona orbito-frontal é
importante para o comportamento humano.

Lobotomia Pré-frontal (Egas Moniz, 1936):


Objetivo: melhorar (modificar) comportamentos resistentes a outras
terapêuticas (alvo: doentes do foro psiquiátrico como os obsessivo-compulsivos e
esquizofrenia).
Apesar de minimizar determinados comportamentos (agressividade e
sintomas compulsivos), a lobotomia pode introduzir outros comportamentos
indesejáveis, tais como, excitabilidade, impulsividade, labilidade afetiva, falta de
iniciativa e profunda apatia, etc.

● O estudo das relações cérebro-comportamento antes e após os métodos de imagem

Cérebro e comportamento:
O estímulo chega ao cérebro (lobo temporal) através do olho. Depois temos que
reconhecer a imagem e tomar a decisão (lobo frontal). O lobo frontal aciona os
mecanismos motores que levam a informação até à medula espinal. O lobo
frontal comunica com a amígdala que produz a sensação de felicidade. Se as
coisas não correram bem, tem de voltar ao lobo frontal para descobrir o que correu
mal na tomada de decisão.

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• A investigação em biopsicologia:
A investigação pode variar ao longo de três dimensões:
a) Sujeitos humanos vs. não-humanos;
b) Estudos experimentais vs. não-experimentais (quase- experimentais ou estudos
de caso);
c) Investigação aplicada vs. básica.

a) Sujeitos humanos vs. não-humanos:

b) Experimentais vs. não-experimentais:


A investigação em Biopsicologia envolve estudos experimentais e não
experimentais (estudos quase-experimentais e estudos de caso)

Experimentais:

● Método usado pelos cientistas para estudar relações de causa efeito;


● Quando um grupo de sujeitos é testado para uma determinada condição
(desenho entre-sujeitos);
● Quando o mesmo grupo de sujeitos é testado para múltiplas condições
(desenho intra-sujeitos).

Variáveis:
- Variáveis independentes: são manipuladas pelo experimentador; estas
manipulações produzem diferentes condições de tratamento na experiência.
- Variáveis dependentes: refletem o comportamento do sujeito; é o que a experiência
mede.
Numa experiência bem delineada, o experimentador pode concluir que qualquer diferença
na variável dependente é causada pela variável independente.

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Não-experimentais:
● Por vezes é impossível conduzir experiências onde se possa controlar a
condição que se pretende estudar; por exemplo, se estão envolvidos sujeitos
humanos, pode ser impossível, por razões éticas, atribuir um grupo a uma
determinada condição;
● Em desenhos quase-experimentais, os investigadores examinam os sujeitos
em situações reais onde os sujeitos se auto selecionam para
determinadas condições (excessivo consumo de álcool);
● O aspeto mais negativo dos estudos quase-experimentais é que apesar
dos investigadores poderem examinar a relação entre as variáveis de
interesse (consumo de álcool e dano cerebral), por vezes, há variáveis
parasitas;
● Estes estudos não permitem estabelecer relações diretas de causa-efeito.
Exemplo: os investigadores não podem atribuir aleatoriamente os sujeitos a um grupo
controlo e a um grupo que consome álcool, e depois expor um grupo a 10 anos de consumo
alcoólico para analisar se o álcool provoca danos cerebrais; em vez disso, têm que comparar
cérebros de alcoólicos e não-alcoólicos do mundo real.
Problema: como os sujeitos podem não se distribuir por cada grupo de forma aleatória, há
muitas diferenças que podem contribuir para as diferenças encontradas na variável
dependente. (lesão cerebral causada por uma dieta empobrecida, lesão cerebral por
acidente, outros consumos de drogas, etc.)

Não-experimentais (Estudo de caso):


a) Incidem apenas num sujeito;

b) O problema deste tipo de estudo é a generalização, ou seja, em que medida os


resultados nos informam sobre a população em geral.
Os estudos quase-experimentais e os estudos de caso dão-nos, no entanto,
contribuições científicas muito válidas, sobretudo quando são um complemento a outro
tipo de investigações.

c) Investigação básica vs. investigação aplicada:


Investigação Básica: motivada essencialmente pela curiosidade do investigador; é
motivada pelo desejo de perceber como as coisas funcionam; no futuro permite

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resolver grandes questões.
Investigação Aplicada: recorre aos conhecimentos obtidos na investigação básica para
responder a questões específicas.

→ Os Biopsicólogos estudam as bases biológicas do comportamento recorrendo a


diferentes métodos e perspetivas; o ponto forte da Biopsicologia é atribuído a esta
diversidade.

ANATOMIA DO SISTEMA NERVOSO


• As principais divisões do sistema nervoso:

Sistema nervoso periférico:


● Sistema Nervoso Somático - Parte do SNP que está em interacção com o
ambiente exterior:
a) Neurónios sensoriais (aferentes) - Transportam informação recebida pelos
órgãos sensoriais até à medula espinal e ao cérebro (pele, músculos,
articulações, olhos, ouvidos).
b) Neurónios motores (eferentes) - Transportam a informação do cérebro para o
exterior através dos músculos esqueléticos.

● Sistema Nervoso Autónomo - Parte do SNP que está responsável por regular o
ambiente interno.
a) Neurónios aferentes - Transportam informação recebida pelos órgãos internos
para o SNC.
b) Neurónios eferentes - Transportam a informação do SNC para os órgãos
internos.

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O sistema nervoso autónomo subdivide-se em:

a) Sistema Nervoso Simpático – Neste, os órgãos encontram-se em atividade


(emoção).
b) Sistema Nervoso Parassimpático – Repõe a homeostasia no organismo, isto é, coloca
os valores normais.

• Meninges, ventrículos:

O líquido cérebro espinhal circula na medula


espinal, sendo produzido nos ventrículos.

Meninges:
a) Duramater;
b) Aracnóide;
c) Piamater.

• Substância branca e substância cinzenta:


Substância cinzenta – corpos celulares dos neurónios.
Substância branca – axónios mielinizados, devido à bainha de mielina.

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• As direções e planos do sistema nervoso:

Anterior e posterior são relativos. Ventral – baixo. Dorsal – cima.


Lateral – para fora (mais externo). Medial – Para meio (mais interno).

Corte Horizontal (estrutura meio). Corte Sagital (vertical). Corte Coronal (parte detrás).

Vistas no sistema nervoso:


Sulco central ou rego de Rolando - divide o lobo frontal e o parietal.
Sulco lateral - divide o temporal e o frontal.
Há na totalidade quatro lobos:
a) Frontal;
b) Occipital;
c) Parietal;
d) Temporal.
Entre os lobos existe a fissura longitudinal.

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• A espinal medula:
- Controla os movimentos dos membros e do tronco.
- Recebe e processa informação sensorial da pele, articulações e músculos dos
membros e tronco.

Canal central – Onde circula o líquido cérebro espinal.


Parte branca ou cinzenta depende se é parte dos neurónios ou axónios.

• As cinco principais divisões do cérebro:


Durante o crescimento as várias divisões vão-se desenvolvendo, construindo as
outras estruturas cerebrais.

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1. Mielencéfalo:
Cérebro posterior.
Medula Oblongata ou Bulbo Raquidiano - inclui
diversos centros responsáveis por funções
autonómicas vitais como a digestão, respiração e
controlo do ritmo cardíaco.
Formação Reticular - Regulação do sono, atenção,
movimento, respiração, circulação sanguínea e
função cardíaca.

2. Metencéfalo:
Protuberância - Transmite informação relacionada com o
movimento dos hemisférios cerebrais para o cerebelo.
Cerebelo - Ligado ao tronco cerebral através de umas
fibras chamadas peduncúlos. O cerebelo modula a força e o
alinhamento dos movimentos e está envolvido na
aprendizagem de competências motoras.

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3. Mesencéfalo:
Tectum - Parte dorsal do cérebro médio, tem duas partes:
o colículo inferior (função auditiva) e o colículo superior
(função visual).
Tegmentum - Periaqueduto cinzento: matéria cinzenta
situada à volta do aqueduto cerebral, é uma área de especial
interesse porque medeia os efeitos analgésicos. Substância
nigra e núcleo vermelho que são ambos componentes
importantes do sistema sensorio-motor.

Tronco cerebral:
Medula Oblongata/Bulbo Raquidiano; Formação Reticular;
Protuberância; Cerebelo; Mesencéfalo.

4. Diencéfalo:
Tálamo - Processa toda a informação que vai para o córtex cerebral vinda da medula espinal
e tronco cerebral.

Hipotálamo - Regula as funções autonómicas, endócrinas e viscerais.

5. Telencéfalo:
Neo-córtex - É formado pelos hemisférios cerebrais.
Estruturas Sub-corticais:
a) Sistema Límbico - Envolvido no processamento das
emoções.
b) Gânglios da base - Participam na regulação do
desempenho motor e memórias implícitas.

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• Hemisférios Cerebrais:

• Sulcos:

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• Circunvoluções:

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• Sistema Límbico:

A amígdala - localizada na ponta do hipocampo; responsável pelo processamento


emocional. O hipocampo - responsável pela memória. É através da fórnix que o hipotálamo
se liga ao lobo frontal.

• Gânglios da Base:

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A CONDUÇÃO NEURONAL E A TRANSMISSÃO SINÁPTICA
• Células do sistema nervoso:
Neurónios: unidade básica do sistema nervoso. São células
especializadas na receção, condução e transmissão de sinais eletroquímicos.
Células da Glia: desempenham um papel de suporte e têm um papel
importante durante o desenvolvimento do SN.

• Neurónio:

Corpo celular: centro metabólico do


neurónio. Tem no seu interior o
núcleo que contém o material
genético (cromossomas) portador das
instruções que controlam a produção
de proteínas necessárias para o
funcionamento do neurónio.
Dendrites: arborizações muito finas
que constituem o aparelho recetor
do neurónio, recolhendo a
informação proveniente de outras
células, ou seja, recebem impulsos
nervosos dos neurónios adjacentes.

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Axónio: prolongamento único de dimensão muito variável. O axónio representa a
unidade de condução do neurónio. Além disso, assegura a passagem das moléculas
fabricadas no núcleo até à sua terminação (transporte axónico).

Membrana neuronal: com 2 camadas de moléculas de lípidos que separa o


espaço intracelular do espaço extracelular.

Bainha de mielina: isola os axónios e aumenta a sua eficácia na transmissão do


impulso elétrico. Faz com que a comunicação entre axónios seja eficaz:
a) A velocidade de condução do impulso nervoso está ligada a uns estreitamentos
periódicos da bainha de mielina: Nódulos de Ranvier (zona do axónio sem bainha
de mielina).

Terminais sinápticos: parte final do axónio que contém – neurotransmissores –


que permitem aos neurónios comunicar entre eles. São substâncias químicas que
desencadeiam alterações na célula pós-sináptica.

Fenda sináptica: espaço entre o neurónio pré-sináptico e pós-sináptico. Há


movimentos de passagem de neurotransmissores pela fenda sináptica, que
provocam modificações na célula pós-sináptica.

Classes de neurónios – classificação pela forma:


Existem neurónios com
várias morfologias
dependendo da área do
cérebro onde se localiza
e que função
desempenha, e se tem
mais comunicação ou
não (maiores ou
menores e se são
arborizados).

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Neurónio Bipolar – Existem dois
prolongamentos a sair do núcleo.
Neurónio Interneural (medula espinal) –
Conduzem o impulso nervoso entre
neurónios.

Classes de neurónios – classificação pela função:

Neurónios sensoriais ou aferentes: transmitem o impulso nervoso dos órgãos


recetores para o SNC.

Recetores: células especializadas nos órgãos dos sentidos que


detetam mudanças físicas ou químicas, e transformam estes acontecimentos
em impulsos que viajam através dos neurónios sensoriais.

Neurónios motores ou eferentes: transmitem o sinal do cérebro ou da medula


espinal para os órgãos efetores, nomeadamente músculos e glândulas.

Interneurónios: recebem o sinal dos neurónios sensoriais e enviam os impulsos


para outros interneurónios ou para os neurónios motores. Os interneurónios
encontram-se sobretudo no cérebro, olhos e medula espinal.

• Células da glia:
● Importantes durante o
período de desenvolvimento do
SNC.
● Permitem um suporte
estrutural.
● Permitem uma melhor
condução do impulso elétrico.
● As células de Schwann
(SNP) e os oligodendrócitos (SNC)
produzem a bainha de mielina.
● Astrócitos e microglia:
Transportam alimentos dos vasos
sanguíneos para os neurónios.

Oligodendrócitos:
Produzem a bainha de mielina no SNCentral.
Células de Schwann:
Produzem a bainha de mielina no SNPeriférico.

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• A condução do impulso elétrico e a transmissão sináptica:
O potencial de repouso:
- No seu estado de repouso o neurónio está polarizado (quando não está a comunicar).
- O interior do neurónio é mais negativo comparativamente ao exterior.
- A diferença de potencial/gradiente da membrana é na ordem dos -70 mV.
Porque é que o neurónio está polarizado no seu estado de repouso?
Esta diferença de concentrações é possível pela interação de 4 fatores:
a) Diferentes gradientes químicos e elétricos;
b) Bomba de sódio-potássio.
c) Permeabilidade seletiva da membrana neuronal;

a) Diferentes gradientes químicos e elétricos: No estado de repouso a membrana celular


mantém fora da célula iões de sódio carregados positivamente (Na+ ) e no interior da célula
vários iões de potássio (K+ ).
b) Bomba de sódio-potássio: Alguns iões podem ser transportados ativamente (gasto de
energia) através da membrana celular. Isto é feito por pequenas moléculas chamadas
bombas iónicas. A bomba mais importante é a bomba de sódio-potássio.
c) Permeabilidade seletiva da membrana neuronal: A membrana neuronal é permeável
aos iões de Na+ , Cl- e K+ , contudo a permeabilidade da membrana aos diferentes iões é
diferente
+
K - alta permeabilidade
- +
Cl - permeabilidade menor do que a do K
+
Na - pouca permeabilidade.

O potencial de ação:

O potencial de ação é uma modificação temporária do potencial de


membrana que ocorre quando a membrana se torna subitamente permeável
aos iões de sódio (Na+ ) e aos iões de potássio (K+ ) ou aos iões de cloro (Cl- ).
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O processo que dá origem ao potencial de ação chama-se
despolarização (redução do potencial elétrico) e corresponde à passagem,
no interior do neurónio, de uma carga negativa de -70 milivolts para
uma carga positiva de +50 mV. (entrada de Na+ na célula)

O processo de despolarização que se repete ao longo do axónio é o


chamado impulso nervoso.

Quando moléculas de neurotransmissores chegam à célula pós-sináptica pode


acontecer uma de duas coisas (depende do neurotransmissor e do recetor):

• Despolarização da membrana - o potencial de membrana torna-se mais positivo


(menos negativo): de -70 mV para -67 mV – Potenciais pós-sinápticos excitatórios
EPSP (entrada de Na+ ).

• Hiperpolarização da membrana - o potencial de membrana torna-se ainda mais


negativo: de -70 mV para -72 mV – Potenciais pós-sinápticos inibitórios IPSP
(entrada de Cl- ou saída de K+ ).

Se a soma de despolarizações e hiperpolarizações que chega ao cilindroeixo é


suficiente para despolarizar a membrana até esta chegar ao seu limiar de excitação
– -65m – gera-se um potencial de ação.

● Um só neurónio pode receber inúmeros potenciais pós-sinápticos. O neurónio tem


que combinar e somar uma série de sinais individuais – integração.

● O potencial de ação é uma modificação temporária do potencial de membrana que


ocorre quando a membrana de -70 mV para 50 mV.

● Se o limiar de excitação não for atingido, o fenómeno eléctrico permanece


localizado e não se propaga. A propagação do impulso eléctrico obedece à lei do tudo
ou nada.

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Condução do potencial de ação:
Período Refratário: após o potencial de
ação, o neurônio, fica temporariamente
insensível a estimulação. Este período é
responsável por manter a direção do
potencial de ação apenas num sentido.

Neurotransmissores – Neutralizados no núcleo, transportados pelos microtubos para


as vesículas sinápticas, onde são armazenadas.

• Transmissão sináptica:
O impulso elétrico desloca-se através do axónio e chega ao terminal sináptico,
estimulando as vesículas sinápticas que aí se encontram. As vesículas, quando
estimuladas, libertam neurotransmissores.

- Os neurotransmissores são substâncias


químicas responsáveis pela transmissão do
impulso elétrico entre a célula pré-sináptica
e a célula pós-sináptica (desencadeiam
alterações na célula pós-sinátitica).
- Os neurotransmissores quando se difundem
na fenda sináptica ligam-se a moléculas
recetoras que estão na membrana celular do
neurónio pós-sináptico.
- Esta ligação vai provocar uma mudança de
potencial no neurónio pós-sináptico, isto é,
provocam uma resposta elétrica na célula
pós-sináptica.
Exocitose: processo pelo qual o
neurotransmissor é libertado. As vesículas
sinápticas fundem-se com a membrana do
neurónio pré-sináptico e libertam o seu
conteúdo (neurotransmissor) para a fenda
sináptica.
Fenómeno de chave-fechadura: existem recetores específicos para
neurotransmissores específicos. Existe mais do que um tipo de recetor para um
neurotransmissor especifico.

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● O neurotransmissor quando não liga com o recetor volta a ser reabsorvido no botão
sináptico - recaptação, ou então é destruído na fenda sináptica por enzimas
especializadas na sua destruição – degradação enzimática.

Neurotransmissores:

Acetilcolina: presente nos neurónios motores, junção neuromuscular, etc...


a) Perda deste neurotransmissor na doença de Alzheimer;
b) Importante para a memória e aprendizagem;
c) Movimentos voluntários dos músculos.

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Dopamina (catecolanima): presente nos gânglios da base e no lóbulo frontal.

a) Envolvido nos movimentos voluntários – doença de Parkinson (baixas concentrações deste


neurotransmissor);
b) Esquizofrenia (altas concentrações deste neurotransmissor); os fármacos vão tentar diminuir este
neurotransmissor.
c) Envolvido na emoção e pensamento.

Noradrenalina: presente no sistema límbico sobretudo no hipotálamo e no cérebro médio e,


em geral, nas estruturas cerebrais que exercem a sua ação no sistema nervoso autónomo. É o
neurotransmissor mais importante na aprendizagem e aspetos emocionais. A sua ação tem
sobretudo um efeito de excitação corporal: quanto maior a concentração de Noradrenalina
maior a excitação.

Consoante o neurotransmissor é a área do cérebro que atua. Existem circuitos


neuronais privilegiados/específicos para cada neurotransmissor.

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Serotonina: presente nos circuitos neuronais relacionados com o ciclo vigília sono e
regulação da temperatura.
- Os antidepressivos aumentam a atividade deste neurotransmissor.

Glutamato e Aspartato: são ambos neurotransmissores excitatórios, sendo o Glutamato


o que existe em maior quantidade no cérebro. Os recetores de Glutamato NMDA estão
envolvidos:
- aprendizagem, memória e morte celular.

GABA e Glicina: são ambos neurotransmissores inibitórios, sendo o GABA o que existe em
maior quantidade no cérebro. A baixa concentração de GABA pode causar ataques
epiléticos.

A ação das drogas nas sinapses:

Para estudar os neurotransmissores e o comportamento, os investigadores administram


aos participantes (humanos ou não-humanos) drogas que têm um efeito particular nos
neurotransmissores e avaliam o efeito das drogas no comportamento.

Drogas agonistas: promovem a atividade dos neurotransmissores

Drogas antagonistas: inibem os efeitos dos neurotransmissores

*Uma droga pode atuar na atividade do neurotransmissor em qualquer fase do seu “ciclo de vida”.

- Agonistas: drogas que aumentam o efeito do neurotransmissor através de diferentes


mecanismos:
a) Bloqueando a sua recaptação;
b) Contratuando (diminuindo) na enzima “destruidora”
c) Aumenta a quantidade de enzimas precursoras;
Substância necessária à síntese química do neurotransmissor.

- Antagonistas: drogas que impedem a ação do neurotransmissor operando através de


mecanismos contrários ao das agonistas:
a) Aumentam a recaptação na célula pré-sináptica (diminuem a
quantidade das drogas)
b) Aumentam as enzimas “destruidoras”;
c) Reduzem as enzimas precursoras disponíveis;
d) Bloqueiam os recetores nas células pós-sinápticas
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Exemplos de drogas agonistas:
Cocaína: aumenta a atividade da dopamina e da noradrenalina bloqueando a
sua recaptação. Provoca: euforia, perda de apetite, e insónia.
Benzodiazepinas: aumenta o efeito de receção nos recetores para o GABA.
Tem efeitos ansiolíticos, sedativos e anticonvulsivos.

Exemplos de drogas antagonistas:


Atropina: bloqueia a receção da acetilcolina pelos recetores.
Perturba: a memória e os movimentos.

Curare: bloqueia a receção da acetilcolina pelos recetores.


Provoca: Paralisia de músculos

Exemplos de drogas agonistas da acetilcolina:


Veneno da aranha viúva negra: promove a libertação de acetilcolina. A
excitação causada pela acetilcolina é suficiente para causar paralisia e morte.

Nicotina: estimula os recetores de nicotínicos da acetilcolina, funcionando com


um agonista da acetilcolina. A nicotina liga-se aos recetores nicotínicos no mesmo sítio
que a acetilcolina.

Exemplos de drogas antagonistas da acetilcolina:


Curare: atua nos recetores nicotínicos da acetilcolina, bloqueando-os.
Provoca: Paralisia dos músculos

Botox: bloqueia a libertação de acetilcolina na junção neuromuscular,


funcionando como um antagonista.
Provoca: paralisia dos músculos.

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MÉTODOS DE IMAGEM CEREBRAL
Gall – Apalpava a cabeça para realizar o estudo das mesmas 🡪 1º Método científico.
Estimulação cortical – Colocação de eletros, de cabeça aberta, durante a realização de
tarefas.

Mapa funcional (1957). Baseado em dados


provenientes da técnica de estimulação
cortical e de sujeitos com lesões cerebrais (a
partir da sua autópsia).

• Métodos de neuroimagem:
Estruturais:

1. Tomografia Axial Computorizada (TAC) (década de 70);

2. Ressonância Magnética (RM) (década de 80) - permite ver a estrutura do cérebro

Funcionais:

1. Tomografia de Emissão de Positrões (PET);

2. Ressonância Magnética Funcional (fMRI);

3. Estimulação Magnética Transcraniana (TMS) 🡪 mais recente:

● Permite criar uma lesão temporariamente através da colocação, na parte


exterior do cérebro, de um estimulador.

● Não é preciso ter a cabeça aberta.

4. Eletroencefalograma (EEG):

● Ritmo da atividade do cérebro e surgem potenciais evocados.

5. Magnetoencefalografia (MEG):
● Permite ver como o cérebro funciona quando realiza uma tarefa cognitiva
e quais as áreas envolvidas.

• Estruturais:
1. Tomografia Axial Computorizada (TAC):

- Permite localizar uma lesão, ver a sua extensão, medir a atrofia cerebral, assimetrias
cerebrais e volumes cerebrais de áreas de interesse (ROI).

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2. Ressonância Magnética (RM):
- Maior exatidão das imagens comparado com a TAC;
- Permite construir imagens tridimensionais;
- Contraindicado em indivíduos portadores de materiais metálicos.

Ressonância Magnética é uma tecnologia médica de imagem que utiliza um forte


campo magnético e ondas de radiofrequência para produzir imagens detalhadas dos
órgãos internos e tecidos.
Esta técnica pode ser usada para investigar praticamente todas as partes do
corpo, sendo frequentemente usada para examinar o cérebro, articulações e discos da
coluna vertebral. A mais avançada tecnologia para o exame de lesões cerebrais,
lombares e tumores. Produz excelentes imagens de tecidos moles e órgãos vitais.
Um exame de Ressonância Magnética não envolve radiações.

Técnica de morfometria baseada em volumes (VBM):


Permite detetar diferenças locais na densidade da substância
branca e cinzenta no cérebro.
Feita a partir de uma câmara de RM. Desenvolvida através da
ressonância magnética. Permite comparar a substância branca
entre dois grupos.

Imagem por Tensor de Difusão – Difusor Tensor Imaging (DTI):


Permite medir e caracterizar aspetos microestruturais da matéria branca do cérebro humano vivo
(volume e orientação de fibras).
Estudo: medir se a substância branca existente entre a área de Wernike e a área de Broca é
semelhante nos disléxicos e nos sujeitos normais.

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APLICAÇÕES dos métodos estruturais:

● Identificação clínica da patologia cerebral (localizar uma lesão, ver a sua


extensão, medir a atrofia e as assimetrias cerebrais).

● Estudos volumétricos

DESVANTAGENS dos métodos estruturais:

● Defeitos associados (co-laterais) - lesão pode afetar diferentes processos cognitivos


que não os diretamente afetados pela lesão
(prejudica a correlação lesão-comportamento).

● Estudos de investigação.

Vantagens da aplicação dos métodos funcionais: não estão dependentes dos acidentes
naturais para se estudar a cognição; revelam quais são os sistemas cerebrais neuronais
necessários e suficientes para uma determinada tarefa; e proporcionam informações
sobre os mecanismos envolvidos na recuperação funcional de doentes.

Aplicações dos métodos estruturais no estudo da cognição:

A – Tomografia (lesão isquémica).


B – RM (melhor definição).
C – RM (corte sagital).
D – RM (reconstrução tridimensional).

Mapa desenvolvido por Ana Damásio.

Imagens cerebrais – investigações estruturais:

29
Estudo sobre a morfologia do corpo caloso. Cada região do corpo caloso faz a
transferência de informação entre os vários lobos. O corpo caloso dos iletrados é mais
pequeno do que o dos sujeitos normais.
(Menos transferência, nos disléxicos, logo menor corpo caloso)

• Funcionais:

RMF – Mede alterações dos níveis de oxigenação.


PET – Mede o consumo de glucose, através da introdução (injeta-se) uma substância
radioativa e mede-se a quantidade dessa substância. Só se pode realizar uma PET por ano e
só se pode fazer 12 tarefas e é caro (limitações).
Executar determinado comportamento, tem determinadas atividades envolvidas e
essa área envolvida vai trabalhar mais e por isso, terá mais consumo de sangue, logo existe
maior volume sanguíneo, mas também de oxigénio e glucose.

30
Neuroimagem funcional através da tomografia de emissão de positrões – TEP (PET)
- Permite colocar em evidência a atividade metabólica do cérebro, e estudar as variações
regionais dessa atividade durante a execução de tarefas específicas.
( Quem faz um PET, tem que fazer uma RMf para depois se sobrepor as imagens das duas
térmicas.
A series of two PET scans. Uma scan foi feita quando os olhos do voluntário estavam abertos (à
esquerda) ou fechados (à direita). As áreas de alta atividade são indicadas por vermelhos e amarelos.
Por exemplo, observe o alto nível de atividade no córtex visual do lobo occipital quando os olhos do
sujeito estavam abertos. )

Questões metodológicas:
Tem que se ter sempre uma situação de
controlo e depois realizar-se a
subtração. Subtrai-se o grupo
experimental (específico) do grupo de
controle (geral/normal).
Existe variabilidade individual e, por isso,
realiza-se uma média das diferenças.

A técnica de subtração de imagens emparelhadas, que é comumente empregada em


Neurociências Cognitivas. Aqui, vemos que o cérebro de um sujeito está geralmente ativo
quando o sujeito olha para um padrão xadrez cintilante (condição de estimulação visual). No
entanto, se a atividade que ocorreu quando o assunto olhou para uma tela em branco
(situação de controle) é subtraída, torna-se aparente que a percepção do padrão
quadriculado intermitente foi associado a um aumento na atividade que foi amplamente
restrito ao lobo occipital. As diferenças individuais de imagens de cinco assuntos foram
calculadas a média para produzir a imagem da diferença média. (PET scans cortesia de
Marcus Raichle, Mallinckrodt Institute of Radiology, Washington University Medical Center.)

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Principais LIMITAÇÕES do PET (TEP) na perspetiva do psicólogo:
● O uso de substâncias radioativas limita o nº de testagens do sujeito:
- Apenas uma vez e fazer apenas 12 tarefas.
● A resolução espacial é limitada (relativamente à RM)
● É preciso uma grande quantidade de repetições do mesmo estímulo, para melhor
identificar a área
● Os designs experimentais são em bloco:

- Dar um conjuntos de palavras e de pseudopalavras, enquanto na RMf podem ser


individualmente.

Ressonância magnética funcional (RMf):


Deteta alterações hemodinâmicas associadas à atividade cerebral.
VANTAGEM:
- A não utilização de radioatividade e, como tal, ser possível fazer mais
medidas da atividade cognitiva por sujeito;
- Permite obter imagens estruturais e funcionais;
- A sua resolução espacial é melhor comparada com o PET;
DESVANTAGENS (atualmente ultrapassadas):
- Múltiplos artefactos que podem ser introduzidos nas imagens
pelo movimento da face, o que impede a utilização de paradigmas que
impliquem o uso da linguagem verbal.

VANTAGENS dos métodos funcionais:


● Vantagens relativamente aos métodos estruturais:

- Estudar o cérebro normal: Não está dependente dos acidentes naturais para estudar a
cognição;
- Indica quais são as áreas cerebrais envolvidas numa função cognitiva;
- Permite estudar casos únicos.

● Diagnóstico de patologias degenerativas.

● Estudo dos mecanismos de recuperação/reorganização após a lesão cerebral.

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• As bases cerebrais da leitura e a dislexia:
A compreensão dos mecanismos envolvidos na leitura têm sido fundamentais para
compreender e reabilitar a dislexia. A utilização dos métodos funcionais nos mecanismos de
reorganização neuronal e funcional.

TMS – Estimulação Magnética Transcraniana:


Procedimento onde é colocado um estimulador/coil na superfície do crânio para
estimular o córtex adjacente (induz/altera comportamentos). Não é uma medida
da atividade neuronal, mas um bom método experimental para alterar a atividade
neuronal (pode ativar ou desativar determinadas estruturas).

Quando coloca o estimulador na área de Broca a pessoa começa a gaguejar.


Permite simular o que acontece no cérebro se houver uma lesão. Se for só com
a colocação do estimulador é mais ao calhas/cegas. Se colocar o estimulador dentro de
uma câmara de RM consigo saber com mais precisão o local de estimulação.

Vantagens e desvantagens da TMS:


● A grande vantagem desta técnica em relação ao PET e à fMRI é que permite
estabelecer relações de causa efeito entre áreas cerebrais e as funções
cognitivas;

- Por exemplo, com a FMRI é possível observar que, durante uma tarefa onde os
participantes observam fotografias com carga emocional negativa, a
circunvolução do cíngulo está ativa, no entanto não permite comprovar que é a
atividade no cíngulo que causa a reação emocional provocada pelas fotografias;

VANTAGENS DOS MÉTODOS DE IMAGEM:

● Estudar o cérebro normal e, portanto, não está dependente dos acidentes naturais;
● Indica quais são as áreas necessárias e suficientes envolvidas em tarefas;
● Permite estudar casos únicos;
● Diagnóstico de patologias degenerativas;
● Estudo dos mecanismos de recuperação/reorganização após a lesão cerebral.

33
• Métodos funcionais que registam a atividade elétrica do cérebro – EEG e MEG
Como a atividade das células nervosas tem uma natureza eletroquímica é possível,
com instrumentos adequados e sensíveis, medir as mudanças na atividade eléctrica do
cérebro. ≠ PET e RM

➔ Boa resolução temporal (quando)


➔ Má resolução espacial (região, onde)

Eletroencefalograma (EEG):
Técnica que recolhe os sinais elétricos emitidos pelos
neurónios. Medir as mudanças que ocorrem na
atividade elétrica do cérebro e a partir daqui formam
os potenciais evocados (PE).

Potencial médio Evocado (PE):


- Consiste numa mudança breve do sinal de EEG em resposta a um estímulo sensorial.
(Ex: em resposta a um barulho breve, o padrão de EEG no córtex auditivo altera-se)
- Como os potenciais são pequenos, e por vezes difíceis de detetar no meio da
atividade do EEG, é necessário apresentar o estímulo de uma forma repetida e calcular
uma média cerebral da atividade.
- Mudança breve do EEG devido à apresentação de um estímulo. Quando o objeto é a
cores, o nosso cérebro reage mais depressa do que quando o objeto é a preto e
branco.

VANTAGENS:

- Sensíveis aos tempos de processamento da informação. São relevantes para


determinar se uma operação cognitiva ocorre antes ou depois de outra, e qual o tempo
que demora a processar.

( Sei que a N milissegundos, após a apresentação breve de um estímulo, dá-se a


mudança de um conjunto de elétricos do cérebro. Tem que se apresentar o mesmo
estímulo a um conjunto de indivíduos para verificar se a zona de elétricos estimulada é
a mesma e dá-se a mesma mudança. )

Exemplo: Paradigma: verificação de frases (acuidade e tempo de resposta)


Frases que violam a sintaxe produzem um ERP – P600.
Frases que violam a semântica produzem um ERP - N400.

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Magnetoencefalografia (MEG):
Técnica que recolhe campos magnéticos gerados pela atividade elétrica (tira a
vantagem do facto de as correntes elétricas dos neurónios gerarem pequenos campos
magnéticos). Superior ao EEG em termos de localização espacial da atividade.
( Permite ver o que acontece à atividade cerebral quando apresento um estímulo.
Recolhe campos magnéticos ocorridos durante a atividade neuronal. Paradigmas
semelhantes aos PE e resultados iguais ao EEG. )

• Resolução temporal e espacial dos métodos:

Todas as técnicas têm resolução temporal e


espacial diferentes: umas são melhores e na
resolução temporal e pior na resolução
espacial; e outras são melhores na
resolução espacial e piores na resolução
temporal.

DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL


• Neurodesenvolvimento:

Fases do desenvolvimento:
● Ovo + Esperma = zigoto.

● O desenvolvimento dos neurónios passa por 5 fases:


Desenvolvimento do tubo neuronal;
Proliferação neuronal;
Migração e agregação;
Crescimento do axónio e formação das sinapses;
Morte neuronal e rearranjo sináptico.

O cérebro emerge do tubo neural (3 semanas):


O embrião tem 3 camadas:
Ectoderme - SN e superfície da pele.

Endoderme - Órgãos internos (aparelho digestivo, aparelho respiratório, etc.).


Mesoderme - Esqueleto e estrutura muscular.
Começa o seu desenvolvimento às 3 semanas de gestação.

35
Pode existir problemas na gestação quando não se desenvolvem hemisférios,
tronco cerebral, e isso é visível na ecografia.

• Etapas do Desenvolvimento do Sistema Nervos Pré e Pós-Natal:


1. Neurogénese
2. Migração celular
3. Diferenciação celular
4. Sinaptogénese
5. Morte neuronal
6. Rearranjo sináptico

1. Neurogénese: Quando as células se começam a dividir.

36
2. Migração e proliferação celular:
Quando nascem as células têm logo um lugar/região específica para onde migrar.
Quando o neurónio começa a migrar para as zonas mais externas precisa das células
da Glia para essa migração, tendo estas um papel importante nesta etapa.

3. Diferenciação celular:
Cada célula vai ter características diferentes de acordo com a área que vai migrar e a função
que desempenha. Esta fase é exclusiva do desenvolvimento pré-natal.

4. Sinaptogénese:
( Começam a comunicar umas células com as outras, criando sinapses e
começando a formação de dendrites e axónios. É o córtex visual que numa fase inicial
desenvolve mais sinapses, apesar de depois do nascimento ser o córtex auditivo o mais
desenvolvido. )
A maior mudança que ocorre nas células cerebrais é a formação e o crescimento de
axónios, dendrites e sinapses - sinaptogénese.

37
5. Morte neuronal:

A morte neuronal é um processo normal


durante o desenvolvimento cerebral, principalmente
durante o desenvolvimento pós-natal.

6. Rearranjo sináptico:

No início é caótico, mas depois as


sinapses começam a ser mais sincronizadas.
The effect of neuron death and synapse
rearrangement on the selectivity of synaptic
transmission. The synaptic contacts of each axon
become focused on a smaller number of cells.

• Desenvolvimento pós-natal:
Há medida que os meses vão aumentando, a densidade também vai sendo maior.

• Células da glia e mielinização: (produzem mielina e ajudam os neurónios a deslocar-se)


As células da glia continuam a proliferar depois do nascimento. A maior fase de
mielinização ocorre logo após o nascimento.

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➔ O desenvolvimento pré-natal caracteriza-se por processos de proliferação, migração
e diferenciação das células, de tal forma que vão dar origem a determinadas
estruturas cerebrais.

➔ O desenvolvimento pós-natal caracteriza-se por um aumento de sinapses, dendrites


e processos de mielinização:
- Nunca devido a um aumento de neurónios (com exceção do bolbo olfativo e
do hipocampo)
➔ No período pós-natal, além dos fenómenos de natureza aditiva ocorrem outros de
natureza regressiva, ou seja, algumas ligações sinápticas deixam de existir -
Fenómenos progressivos e regressivos.

• Fatores que interferem no desenvolvimento cerebral:


- Fatores de ordem genética (Fatores intrínsecos)
- Fatores de ordem interna como os níveis hormonais, exposição a
produtos tóxicos, nutrição, experiências particulares, etc. (Fatores extrínsecos)

• Fatores intrínsecos – hereditariedade:


● Gene - unidade fundamental da hereditariedade. E é formado por uma sequência
específica de ácidos nucleicos (DNA, RNA). É a sequência das bases do DNA
que constituem o código genético (adenina, guanina, timina e citosina).
● O facto de diferentes arranjos das bases serem possíveis dá ao DNA a capacidade
para expressar muitas mensagens genéticas diferentes.
● Cromossoma - longa sequência de DNA, que contém vários genes.
● No ato da conceção o ser humano recebe 23 cromossomas do pai e 23
cromossomas da mãe. Os 46 cromossomas formam 23 pares que são duplicados cada
vez que a célula se divide.

O núcleo humano contem 46 cromossomas: 23 derivam do pai e 23 derivam da


mãe. O sexo é determinado pelos cromossomas sexuais (X e o Y).

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Genótipo - são as informações hereditárias do individuo contidas no genoma.
Fenótipo - são as características observáveis do indivíduo como, por exemplo, o
comportamento. Resulta da expressão dos genes do organismo, da influência de fatores
ambientais e da possível interação entre os dois.
Quanto maior a mutação, maior a doença.
Gene recessivo – É preciso dois alelos para se manifestar, se existir só um, a pessoa é apenas
portadora.
Gene dominante – Basta uma cópia/um alelo para a doença ou característica se
manifestar.
A abordagem genética do comportamento e perturbações de desenvolvimento de origem
genética:
Os genes influenciam o nosso desenvolvimento (características), mas também o nosso
desenvolvimento cognitivo e de personalidade. Isto é estudado até a idade adulta para ver
se o meio influencia o desenvolvimento. Os genes homozigóticos partilham 100% do seu
material genético, apresentando uma correlação mais alta – demonstrando que a genética
influencia, visto que se isto não acontece-se a correlação era mais baixa – do que em genes
heterozigóticos (50%).

• Genética e capacidade cognitivas:


A correlação entre pares biológicos é sempre maior e se existisse uma grande influência
do meio esta correlação não era tão elevada.

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• Perturbações do neurodesenvolvimento:
Ocorrem devido a defeitos no programa genético, trauma e produtos tóxicos
Síndroma alcoólico fetal:
Se a mãe beber excessivamente álcool, o seu filho
pode ter um mau desenvolvimento do corpo
caloso.

Classificação das perturbações de desenvolvimento de origem genética:

1. Perturbações relacionadas com um único gene - Perturbações que são causadas pela
mutação de um único gene ou par de genes (ex.: Fenilcetonúria – PKU, X Frágil).

2. Perturbações cromossómicas - Cromossoma inteiro (Síndrome de Down) ou


segmentos de um cromossoma (Síndrome de Williams) que faltam ou estão
duplicados.

3. Perturbações Poligénicas - Conhecidas como multifatoriais ou complexas, pois são


causadas por múltiplos genes herdados (autismo, dislexia).

Fenilcetonúria – PKU:
● Mutação do gene (PAH) localizado no cromossoma 12.
● O defeito é causado pela ausência de uma enzima necessária à metabolização da
fenilalanina (aminoácido presente na comida). A fenilalanina em excesso causa
lesões cerebrais.
● Os efeitos cognitivos desta perturbação são em regiões sensíveis às alterações nos
níveis de dopamina: córtex pré-frontal. ( O gene disfuncional só causa lesão cerebral
na presença de fenilalanina: Interação entre genes e o ambiente. O teste do pezinho
já deteta esta enzima. Esta enzima pode ser diminuída na ingestão de menos
alimentos que a contenham. )

Síndrome do X-Frágil:
● A síndrome do X frágil é a causa herdada mais comum de atraso mental. É
causada pela mutação do gene FMR1 localizado no cromossoma X (envolvido
na formação das dendrites dos neurónios).
● A incidência nos homens é superior.
● Caracteriza-se por perturbações mentais (de moderadas a graves) e por
características faciais anormais (face longa, orelhas largas, etc.).
● Anatomicamente, mostram um córtex mais pequeno, núcleo caudado, hipocampo
e ventrículos maiores.

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Síndrome de Down:

Síndroma de Down (mongoloidismo): trissomia do cromossoma 21 (possui um


cromossoma extra não sexual).

● As capacidades visuo-espaciais estão relativamente mantidas e a linguagem muito


alterada (sobretudo nos aspetos expressivos).

● A capacidade de aquisição (aprendizagem) e retenção (memória) e recuperação


estão muito comprometidas. Sofrem de problemas cardíacos.

A modificação de um gene implica mudanças em várias áreas.

A área da amígdala e do hipocampo é mais pequena, o que desenvolve mais


dificuldades de aprendizagem.

Síndroma de Williams:

Linguagem, comportamento social e reconhecimento


de faces mantido; outras funções cognitivas como,
por exemplo, as funções visuo-construtivas,
visuoespaciais, motoras, processamento da
aritmética e planeamento alteradas. Perturbações
físicas como problemas cardiovasculares,
perturbações nos tecidos conjuntivos e
características craniofaciais muito típicas.

Resultados anatómicos: o volume cerebral e a


substância branca mais reduzidos.
Identificado o cromossoma 7.

Autismo:

Incapacidade em estabelecer relações sociais; interesses bizarros; e alterações


profundas na linguagem, nas capacidades de comunicação (principalmente nos
aspectos pragmáticos) e um repertório de interesses e atividades muito restrito.

Diminuição do metabolismo no Córtex Frontal

Causas: genéticas – provavelmente multigénicas (possivelmente uma alteração no


cromossoma 15); virais; intoxicações.

Estudos Neuropsicológicos: perfil cognitivo compatível com alterações do córtex


frontal. Falham com frequência em provas que avaliam as funções executivas.

Estudos de Imagem: atraso na maturação dos lobos frontais e reação anormal do


córtex cerebral a estimulações sensoriais.

Estudos anatómicos: diferenças anatómicas em regiões como o sistema límbico e lobo


frontal, cerebelo, tronco cerebral e tálamo.

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Dislexia de desenvolvimento:

Dislexia: perturbação que se manifesta por uma dificuldade em aprender a ler, apesar
da instrução convencional, inteligência adequada e, oportunidade sociocultural.

a) É uma dificuldade específica na presença de uma inteligência normal;

b) É um defeito cognitivo e não de comportamento;

c) Pode ser de origem genética, ou seja, há familiares com o mesmo problema.

Pode associar-se a sinais neurológicos ligeiros (dificuldades no reconhecimento dos


dedos e confusão direito-esquerdo).

Estudos Neuropsicológicos: dificuldade em desenvolver representações fonológicas


segmentais (problemas de consciência fonológica e de memória fonológica).

Estudos de Imagem: ausência de um funcionamento coordenado entre a área de


Wernicke, circunvolução angular (necessárias à análise fonológica) e a área de Broca
(necessária à produção fonológica).

Estudos anatómicos: organização celular anómala nas áreas posteriores cerebrais


(área de Wernicke e área parietal inferior e posterior).

➔ Corpo caloso mais pequeno nas áreas que fazem a ligação entre os lobos
parietais e temporais.

Perturbações adquiridas:
a) O desenvolvimento foi normal até a um determinado período;
b) Existe uma lesão que afeta o Sistema Nervoso Central;
c) Perda de uma ou mais capacidades previamente adquiridas.

Perturbações de desenvolvimento:
a) Emergem durante o período de desenvolvimento;
b) Não existe uma lesão neurológica “evidente”;
c) Podem estar associadas a perturbações genéticas.

• Fatores extrínsecos – Efeitos da Experiência:

● Os programas genéticos do neurodesenvolvimento não atuam no vacum. A


experiência de um indivíduo molda o seu desenvolvimento cerebral.

● O efeito de uma determinada experiência no desenvolvimento depende da


altura em que ela ocorre: Períodos Críticos e Períodos Sensitivos.

● Neuroplasticidade – Forma como os circuitos neuronais se mudam e se


reorganizam em resposta a determinadas circunstâncias, sejam elas de natureza
interna ou externa (resposta à experiência, lesão cerebral).
( Plasticidade - Capacidade do nosso cérebro de ajustar os seus circuitos em
determinada experiência. A experiência pode aumentar o número das sinapses e pode
existir um aumento da mielina (substância branca). )

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Efeitos da experiência no neurodesenvolvimento durante a infância:
Recebo informação do olho esquerdo e mais informação do olho direito levando
à ocorrência de estimulação dando-se várias sinapses.

Quanto mais pequena for a lesão e quanto


mais jovem for o doente maior será a
reorganização neuronal, na recuperação da
função, após a lesão cerebral.

O estudo de sujeitos que sofreram lesões cerebrais


precoces e as repercussões no desenvolvimento.

A linguagem passa do hemisfério esquerdo para o


direito 🡪 dá-se uma reorganização cerebral.

Efeitos da experiência no cérebro adulto – neuroplasticidade no adulto:

Estudo de populações específicas (ex.: músicos 🡪 desenvolvimento maior da área auditiva


e motora). Com os métodos de imagem posso inferir de forma direta sobre uma experiência.

Através da utilização desses métodos posso ver o aumento do volume cerebral, visto que o
aumento das dendrites não é possível de se verificar (não existe um teste que mede isso). O
desenvolvimento do volume ocorre nas zonas específicas que são ativadas na realização de
determinada experiência.

Os músicos profissionais e amadores têm um aumento da substância cinzenta na área


pré-central e na circunvalação de Heschl comparativamente com os não-músicos. Este
aumento pode ser explicado pelo treino, descartando-se, assim, a hipótese genética.

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