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Tema da aula de hoje: A questão da terra

na Guerra do Contestado (1912-1916)

Prof.ª Cleidiane Oliveira

Grupo de vaqueanos (milícia armada privada) defende madeireira de ataques de revoltosos na Guerra do
Contestado. Esta foto é do fotógrafo sueco Claro Jansson, que imigrou para o Brasil em 1891 e viveu na
região na época da guerra. Claro Jansson/Acervo Dorothy Jansson Moretti

Fonte: Agência Senado


Objetivo da aula
O problema da terra é algo
novo no Brasil?

Como as autoridades lidam


para assegurar os direitos das
diferentes populações a
posse/propriedade de terra?

Quais as estratégias os
diferentes atores sociais usam
para garantir o acesso aos seus
direitos?
Imagem disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/07/01/ha-100-
anos-o-fim-da-sangrenta-guerra-do-contestado
Antecedentes da Guerra
• Localmente havia uma disputa dos Campos de Palmas entre os Estados de
Santa Catarina e Paraná, daí o nome da Guerra.
• O planalto meridional - em toda faixa que descia de Sorocaba, em São Paulo,
até os campos de Vacaria, no Rio Grande do Sul - era uma formação florestal
mista, com a mata atlântica entrecortada por araucária e ervais nativos (folha
para erva mate) e com alguns campos nativos. Essa região logo foi apropriada
pelos grandes pecuaristas.
• Nas matas e faxinais (sistema camponês tradicional) viviam uma população nacional,
os chamados caboclos, muitos indígenas (Kaingang, Xokleng e Guarani),
descendentes de africanos e população mestiça, que compunham a principal
camada de trabalhadores(as) pobres da região.
Antecedentes da Guerra
• Existia uma processo histórico de concentração fundiária que
“empurrava” para o oeste o pequeno produtor se ele quisesse continuar
independente.
A construção da
estrada de ferro
• Entre o final do século
XIX e o início do XX o
governo federal planejou
cortar a região contestada
por um caminho de ferro.
A ideia era realizar uma
ligação férrea do Rio
Grande do Sul com o
restante do país, a Estrada
de Ferro São Paulo – Rio
Grande.
A construção da estrada de ferro
• A concessão desta obra foi adquirida pela Brazil Railway, grupo do
norte-americano Percival Farqhar em 1907 e, entre 1908 e 1910, mais de
300 km de linha férrea foram construídos. A empresa ganhou a
exploração da linha por 90 anos.
• A empresa concessionária recebeu do governo federal até 15 km de cada
lado da estrada de ferro como doação de terras devolutas para
exploração madeireira e para colonização europeia.
• No entanto, dentro desta faixa de terrenos existiam muitos posseiros
caboclos, indígenas e ervateiros que habitualmente residiam e
trabalhavam nestas áreas públicas. Foram expulsos de suas terras por
guardas da Estrada de Ferro.
A construção da estrada de ferro
• As novas regiões ocupadas pela empresa, depois de desmatadas, eram
loteadas e vendidas a colonos colocados na região pelo estado do
Paraná, principalmente poloneses e ucranianos. A intervenção da
companhia atingia em cheio o conjunto da região, significando para o
caboclo a desmatação das matas e ervais.
• Sem dúvida, forjou-se a consciência, que revelou-se mais clara durante
a guerra, de que o governo brasileiro privilegiava os estrangeiros na
concessão de terras, como no bilhete que foi achado junto a um
“fanático” morto em combate; "Nóis não tem direito de terras, tudo é
para as gentes da Oropa.”
A construção da estrada de ferro
• Para explorar estes territórios a ferrovia criou uma firma subsidiária, a
Brazil Lumber and Colonization Company, empresa responsável pela
exploração das madeiras (principalmente de araucária) e pela
colonização das terras com o parcelamento dos lotes e sua venda para
imigrantes europeus.
• A população nacional estava vivendo o impacto da modernização
local, que significou sua expulsão dos locais tradicionais de moradia e
trabalho.
•Claro Jansson/Acervo Dorothy Jansson Moretti›
•Fonte: Agência Senado
O monge José Maria
• Tradições de monges “João Maria”;
• As tensões crescem quando ocorre uma concentração destes despojados, na
localidade de Taquaruçu, que reuniu milhares de sertanejos em torno das
práticas de um curandeiro, chamado José Maria, em agosto de 1912. O
curandeiro tinha ficado famoso no primeiro semestre de 1912, por curar a
esposa do fazendeiro Francisco de Almeida, do município de Campos
Novos, que sofria de frequentes convulsões.
• O prefeito de Curitibanos pediu ao Governador Vidal Ramos a ação do
Regimento de Segurança do Estado para atacar o bando de José Maria, que
passa a ser denominado de “ajuntamento de fanáticos e monarquistas”.
O combate do Irani
• Em 22 de outubro de 1912 travou-se o combate do Irani, onde a força
paranaense foi destroçada, mas o líder sertanejo, José Maria, também
tombou neste entrevero. A espera pela “volta” de José Maria deu uma
expressão milenar e messiânica ao movimento do Contestado,
principalmente para os povoados, chamados de “Cidades Santas” que
passaram a se formar a partir de dezembro de 1913.
Imagem disponível em: https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/o-contestado
A cidade Santa de Taguaruçu
• Mais de um ano após o combate do Irani se forma uma segunda
concentração em Taquaruçu. Teodora, uma menina de 11 anos, passa a
relatar que José Maria falava com ela em sonhos, que ordenava a seus
seguidores para que se reunissem em Taquaruçu.
• Para Taquaruçu se dirigiam moradores de diferentes regiões do
planalto, abandonando seus sítios de origem e adotando um regime de
trabalho comunitário, onde “quem tem, moi, quem não tem,
também moi e no final todos ficam iguais”(moer é uma referência à
atividade de moenda do milho em pilão, para fazer o beiju, alimento
popular na região).
A cidade Santa de Taguaruçu
• Estima-se que viviam 400 pessoas em 1913. Viveriam como iguais os
possuidores de alguns bens e os que não possuíam nada. As relações
comunitárias eram cimentadas pela tradição do monge João Maria e
pela revivescência de suas prédicas, algo que os sertanejos chamavam
de “Santa Religião”, uma religião popular e considerada mais
verdadeira, diferente da religião dos padres e dos fazendeiros. As
cidade santas tinham uma disposição urbanística própria, com uma
praça central para grandes reuniões, as formas, onde a população
inteira se perfilava para ouvir os comandantes, praticar rezas e dividir
as tarefas comunitárias de defesa e subsistência. (MACHADO, 2018)
As forças de combate
• Para manter a disciplina de toda esta estrutura a Lumber possuía um
corpo de segurança de mais de 300 guardas, o que representava, na época,
um efetivo superior ao do Regimento de Segurança de Santa Catarina que
possuía, em 1910, 280 homens.
• Polícias de Santa Catarina e do Paraná.
• 1914 a Lumber pede intervenção das forças federais, pois o “movimento
de Fanáticos” colocava em risco “os negócios e o respeito a propriedade”.
• De acordo com os dados oficiais da Guerra do Contestado foram
incorporados ao exército brasileiro cerca de mil civis. Números
apresentados no relatório redigido por Setembrino de Carvalho (1916).
Grupo de vaqueanos (milícia armada privada) defende madeireira de ataques de revoltosos na Guerra do Contestado. Esta foto é do fotógrafo sueco Claro Jansson,
que imigrou para o Brasil em 1891 e viveu na região na época da guerra. Claro Jansson/Acervo Dorothy Jansson Moretti

Fonte: Agência Senado


A experimentação do progresso

Como nós entenderíamos o fato dos camponeses no Contestado fazerem uma defesa da
monarquia? Eles queriam a volta ao passado? O atraso? Eles eram contra o progresso?
Álbum da campanha do Contestado
• Ao deixar o campo de batalha, em maio de 1915, o antigo comandante
das operações militares teve que prestar contas de sua atuação no
comando das ações de guerra. Setembrino de Carvalho construiu um
minucioso relatório de mais de trezentas páginas que foi publicado
pela imprensa oficial. Nele, as fotografias ganharam espaço
privilegiado. Parte delas já havia circulado na imprensa, além de
acrescentada ao relatório entregue ao ministro da guerra. Ao serem
incluídas nesse documento oficial, as imagens serviram para rebater as
críticas dirigidas ao comandante enquanto atuou na repressão ao
conflito e ao mesmo tempo para comprovar os feitos bélicos descritos
no relatório
A fabricação das Imagens
• Seriam as imagens neutras e objetivas?
• Sob qual perspectiva se pretende entender o evento?
• Quem é o sujeito que as fotografa?
Sobre o fotógrafo
• Em sua maioria foram realizadas por um sueco radicado, no Brasil,
aos 12 anos de idade, chamado Claro Jansson. Ele vivia na região do
Contestado e tinha bons contatos com as populações locais e com os
militares. Ficou notabilizado entre os oficiais do Exército ao receber
do presidente da república o título de oficial da Guarda Nacional por
ter fotografado o corpo de um dos primeiros oficiais militares morto
no confronto com os rebeldes após o choque das forças policiais com a
comandada por José Maria. Apesar de pousadas para o fotógrafo, suas
fotografias parecem registrar cenas de combate, e não montagens
preparadas para atender aos propósitos do comandante das operações
de guerra.
Imagem disponível em Rodrigues (2008)
• Ao que parece, desde a proposta em se declarar estado de guerra
contra os povos do interior do país, o general Setembrino planejava
tornar essa operação uma espécie de campanha em prol da
modernização do exército. Não interessava tanto se este era o exército
realmente existente no país, o importante era fabricá-lo como tal, uma
espécie de “Exercito Salvador” que se coloca “Contra o Selvagem
Bárbaro”.
Imagem disponível em Rodrigues (2008)
Imagem disponível em Rodrigues (2008)
É preciso destacar que
essa é uma das raras
imagens técnicas
capturadas no desenrolar
da ação militar. As
demais presentes no
álbum foram, em sua
maioria, cuidadosamente
preparadas.

Imagem disponível em Rodrigues (2008)


Observe as duas imagens

Canudos Contestado
Disponível: Rodrigues (2008)

Fon-Fon foi uma revista brasileira fundada no Rio de Janeiro, que


circulou entre 13 de abril de 1907 e setembro de 1958.
Os mortos da Guerra
• Durante o conflito morreram entre 10 e 15 mil pessoas, a maioria civis
atingidos pelo cerco militar, pelos combates, pela fome e epidemias.
REFERÊNCIAS
• MACHADO, Paulo Pinheiro. A aventura cabocla do Contestado: o
conflito e seu desfecho. Portal de Estudos do Brasil Republicano.
Disponível em:
http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/97-tema-contestado.html
• MACHADO, Paulo Pinheiro. Um estudo sobre as origens sociais e a formação
política das lideranças sertanejas do Contestado. Campinas, SP, 2001. Disponível
em:, 1912-1916 https://www.tede.ufsc.br/teses/UNICAMP0147-T.pdf
• RODRIGUES, Rogério Rosa. Veredas de um grande sertão: a Guerra do Contestado
e a modernização do Exército brasileiro. Rio de Janeiro: UFRJ/ IFCS, 2008.
• PODCAST - Guerra do Contestado: Guerra, Terra e... Messianismo? - História FM
007. Leitura Obrigahistória. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=6vIm_Z5CrFE

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