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Os Lusíadas

Luís de Camões
Reflexão do Poeta do canto
I

narração
adjetivação
hipérbole
anáfora paralelismo  “No mar” (perigos decorrentes da Natureza)
interjeição “Na terra” (perigos decorrentes da ação humana)

frase
exclamativa
oposição  “põe [...] esperança” vs. “pouca segurança”

interrogação retórica –
fragilidade do ser humano 
”fraco humano”; “bicho da terra
tão pequeno”

perífrase Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de


Emanuel Paulo Ramos, Porto, Porto Editora, 2014, p. 92
Reflexão do Poeta do canto
V Milcíades – general
o louvor dos
ateniense célebre pela
próprios feitos é
apresentação batalha de Maratona,
um incentivo à sua
da tese contra os persas (490 a.C.)
realização
quem tiver 1.º
argumento Temístocles – herói grego
carácter nobre
da batalha de Salamita,
procura igualar os
contra os persas (480 a.C.)
feitos de heróis 2.º
passados argumento

o louvor de feitos
alheios incita à

Foto: Carole Raddato , CC BY-SA 2.0, Wikimedia


realização de atos
heroicos, cuja
valorização
também é um 1.º exemplo
incentivo

Temístocles tem
inveja das estátuas
erigidas em honra 2.º exemplo
de Milcíades e dos
poetas que o
louvavam
Estátua de Milcíades em Maratona, Grécia
Reflexão do Poeta do canto
V Vasco da Gama esforça-se por superar a fama de Ulisses
e de Eneias – “essas navegações que o mundo canta”
Camões compara Vasco da Gama
a Eneias. Contudo, o autor da
epopeia Eneida, Virgílio, recebeu
favores e prémios do imperador
romano Octávio Augusto, para
louvar os feitos de Eneias e
glorificar Roma

argumento – Portugal tem


grandes guerreiros, mas a quem
falta uma característica, sendo,
por isso, rudes e embrutecidos

exemplo – Octávio Augusto


escrevia poemas enquanto
disputava o poder, em Roma

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 210
Reflexão do Poeta do canto
V

exemplo – Júlio César escrevia


frequentemente durante as suas
campanhas militares
exemplo – Cipião, grande
estratega militar, escrevia
comédias teatrais
exemplo – Alexandre, o Grande, fazia-se
acompanhar de uma edição da Ilíada,
comentada por Aristóteles, seu preceptor.
Diz-se que lia excertos dela nas vésperas
das batalhas
conclusão – os grandes estrategas
militares
da Antiguidade Clássica eram, também,
dados às letras. Os portugueses
desvalorizam a literatura, pois
desconhecem-na
sintaxe latinizante – dupla negação =
afirmação (Camões di-lo com vergonha)

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 211
Reflexão do Poeta do canto
1.ª consequência – não há escritores de epopeias V
porque não há quem valorize a sua leitura.
2.ª consequência – não haverá grandes heróis,
pois não há quem os louve, logo ninguém quererá
ser ilustre (cf. est. 92)
agravante – os portugueses não se
incomodam com essa situação

Vasco da Gama deve estar agradecido aos poetas


– “Às Musas”, a Camões em particular  o seu
patriotismo – “O muito amor da pátria” – é a sua
motivação para continuar a escrita d’Os Lusíadas.
Calíope e as ninfas inspiradoras de Camões não
abandonariam a poesia lírica – “telas de ouro
fino” para cantar os feitos de Gama e dos
portugueses, pois não o merecem. Só o fazem
pelo patriotismo que sentem pelo povo português

Camões conclui a sua crítica aos portugueses,


incentivando os que têm nobreza de carácter a através do louvor pela
predisporem-se a grandes feitos, pois serão escrita
sempre valorizados Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de
Emanuel Paulo Ramos, Porto, Porto Editora, 2014, pp. 211-212
Reflexão do Poeta do canto
VII

metáfora – a escrita d’Os Lusíadas está em


perigo, tal como um pequeno barco em alto
mar  falta de inspiração
invocação às ninfas do Tejo e do Mondego

carácter autobiográfico  há muito que


o Poeta escreve sobre os portugueses,
numa vida repleta de peripécias, no mar,
na guerra, mas sem nunca abandonar o
seu objetivo

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 258
Reflexão do Poeta do canto
VII

anáfora  destaca a quantidade de


peripécias por que o Poeta passou

hipérbole que salienta o milagre da


sobrevivência de Camões, no naufrágio

Camões contava com o reconhecimento


dos portugueses – “capelas de louro” –,
mas foi castigado

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 259
Reflexão do Poeta do canto
VII

ironia do Poeta  a tratarem assim


os seus escritores, que os
glorificam, não haverá quem no
futuro queira escrever sobre os
seus feitos (cf. reflexão do canto V)

Camões redobra o seu pedido de


inspiração e promete apenas aplicar o
“favor” (inspiração) das ninfas em quem
o mereça, negando-se a elogiar alguém
de estatuto superior – “algum subido”,
que provavelmente não agradecerá esse
elogio

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 259
Reflexão do Poeta do canto
VII
D. Sebastião começara o seu
Camões compromete-se a não reinado em 1568, tendo 18 anos à
louvar os inimigos da lei de Deus e data da publicação d’Os Lusíadas
dos seres humanos, antepondo o
seu interesse pessoal ao do bem
público, desprezando, também, os
ambiciosos que querem usar os
cargos de poder para praticar atos
de corrupção

O Poeta rejeita louvar os


demagogos e populistas, que
mudam de opinião conforme lhes
convém, tal como Proteu mudava
de forma. Não cantará os que
roubam o povo, sob um ar honesto,
para agradar ao jovem e
inexperiente rei

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 260 Simões de Almeida (tio),
D. Sebastião lendo Os Lusíadas,1877
Reflexão do Poeta do canto
VII
entre as estrofes 84 a 86,
Camões tece duras críticas
aos seus contemporâneos,
Camões recusa-se a louvar os que aplicam
ambiciosos e interesseiros,
a lei com severidade, mas não reconhecem
exploradores do povo e
o trabalho e o pagamento justo. Também
usurpadores do poder,
não louvará os que aplicam impostos de
hipócritas e egoístas.
forma exagerada

invertendo a estratégia argumentativa,


Camões enuncia quem louvará – aqueles
que arriscam a vida em nome de Deus ou
do seu rei, tornando-se famosos pelos seus
atos. Enquanto Camões se tranquiliza para
retomar a escrita da sua epopeia, Apolo e as
musas redobrarão a sua inspiração

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 260 Baldassare Peruzi,
Apolo e as nove musas, c. 1523
Reflexão do Poeta do canto
VIII

Vasco da Gama é alvo de chantagem por


parte do catual e Camões inicia a sua
reflexão sobre o poder corruptor do
dinheiro

Bauer, Polimestor mata Polidoro, s/d

exemplos de situações da
mitologia ou da história da Roma
antiga em que as pessoas se
deixam corromper, contra todas as
expectativas

Orazio Gentileschi, Dánae e a chuva de


anáfora ouro, c. 1621

contextos em que o dinheiro


corrompe as pessoas

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 285
denário romano de 89 a.C.,
representando a morte de Tarpeia
Reflexão do Poeta do canto
VIII

anáfora

contextos em que o dinheiro


corrompe as pessoas

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 285
Reflexão do Poeta do canto
IX marinheiros
ninfas

o Poeta antecipa a
descodificação da
simbologia do encontro dos
marinheiros com as ninfas

valor causal (porque)


as ninfas, Tétis e a Ilha dos
Amores são uma
distinções
representação alegórica da
honra, distinção, triunfo,
reconhecimento

valor causal (porque)


a Antiguidade atribuía a condição de imortais e fazia
subir ao Olimpo, nas asas ilustres da Fama,
aqueles que haviam praticado atos de grande
valor, com um sofrimento resultante de um percurso
difícil e trabalhoso, mas recompensador, no final Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,
Porto, Porto Editora, 2014, p. 309
Reflexão do Poeta do canto
IX

a imortalidade concedida
pelo Olimpo é o prémio
dado aos mortais que se
tornaram divinos pelos
seus feitos

metáfora
a Fama divulga esses feitos
extraordinários

Camões dirige-se aos que


querem ser famosos como
os imortais – “tamanhos” –
e desafia-os a desprezar a
preguiça
forma verbal no
Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,
imperativo Porto, Porto Editora, 2014, pp. 309-310 Giulio Romano, A queda dos gigantes, c. 1532
Reflexão do Poeta do canto
formas verbais no imperativo IX
– Camões exorta o rei travão forte

o Poeta explicita a inutilidade de


sentimentos como a cobiça, a
ambição. O “verdadeiro valor” não
reside neles

Camões exorta os que procuram a


verdadeira fama e expõe os
resultados de um código de conduta
baseado na honra, no esforço e na
ética – farão ilustre o rei, não
havendo lugar para desculpas, pois
querer é poder. Assim, serão imortais
– “nesta Ilha de Vénus recebidos”

ilustres

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 310
Reflexão do Poeta do canto
X

o Poeta interrompe a narrativa da


chegada dos marinheiros a Lisboa
(1499) para se lamentar pelo facto de
dirigir o seu canto a quem não o quer
escutar, admitindo o seu desalento

Lira

Camões mostra-se perplexo perante a


atitude dos portugueses seus
contemporâneos

forma verbal no imperativo

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 347 Fernão Gomes, Luís de Camões, c.1577
Reflexão do Poeta do canto
X forma verbal no imperativo

Camões exorta o jovem monarca a


observar o comportamento dos comparação
portugueses seus contemporâneos,
valorizando a sua coragem aliteração do fonema /f/

enumeração

os portugueses estão sempre preparados


dispostos a servir o monarca

ordens que implicam riscos

metáfora

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, pp. 347-348
Reflexão do Poeta do canto
X
formas verbais no imperativo

o Poeta aconselha o rei a estar


portanto
presente, junto dos seus súbditos.
Sugere que as leis rigorosas não sejam
aplicadas (cf. canto IX, est. 94, vv. 1-2),
pois, assim, será venerado. Os mais
experientes devem aconselhar o rei

todos deverão ser estimulados,


trabalhos
conforme as suas competências. O
Poeta elogia os membros do clero
que adotam uma conduta louvável

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, p. 348
Reflexão do Poeta do canto
X formas verbais no imperativo
o rei deve prezar a nobreza, pois ao
combater em seu nome aumenta a fé
cristã e os territórios

D. Sebastião deve governar de modo a D. Sebastião

que as nações europeias reconheçam


a superioridade dos portugueses. Territórios sob o domínio ou a influência de Portugal

Camões insiste no valor da experiência


(cf. est. 149)

o Poeta exorta D. Sebastião a não se


limitar a imaginar, sonhar ou a ler
sobre a guerra, mas a ter um papel
interventivo

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,


Porto, Porto Editora, 2014, pp. 348-349
Reflexão do Poeta do canto
X
Camões procura validar o seu génio e
fazer-se reconhecido, ao dirigir-se a
perfeito
D. Sebastião

Foto: Tola Akindipe


o Poeta vaticina grandes feitos por
parte do rei, e predispõe-se a glorificá- Cordilheira do Atlas
só me falta
-los

Foto: NASA
como a mente que pressente prevê

D. Sebastião far-se-á temer de longe, no


Cordilheira do Atlas
norte de África, de cuja vista Atlante – a
cordilheira do Atlas (metonímia para
designar os mouros) – sentirá mais
medo do que a vista de Medusa. prometo
de modo que
Camões cantará os feitos do monarca,
em quem Alexandre Magno rever-se-á
Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos,
Porto, Porto Editora, 2014, pp. 349-350 A cabeça de Medusa, decepada por Perseu

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