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A PSICOLOGIA NO BRASIL

Prof.ª Leydi Carolina P. Vasquez


A PSICOLOGIA NO BRASIL

• Para se compreender a Psicologia como construção histórica devem ser


considerados três aspectos:
• o desenvolvimento específico das idéias e práticas psicológicas, sua base
epistemológica e os fatores contextuais (aspectos estes só separáveis como
recurso didático).
• O conhecimento de tais elementos é condição necessária para uma reflexão
profunda e para o estabelecimento de parâmetros a fim de responder aos
desafios que se colocam hoje para esta ciência.
O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO
DO SABER PSICOLÓGICO NO BRASIL

• Um aspecto muito importante desse desafio consistia no fato de que a saúde, a


educação, a religião, a moral e várias outras dimensões da experiência pessoal dos
cidadãos começaram a ser gerenciadas ou controladas diretamente pelo aparelho
estatal. Esse processo foi acompanhado por uma progressiva estruturação dos papéis
sociais dos indivíduos, vindo estes a ser considerados como funções e produtos do
processo social.

• Neste sentido, importava consolidar um saber que pudesse proporcionar uma


concepção de homem e de sociedade funcional a esse objetivo. Ao mesmo tempo,
precisava favorecer a superação das raízes lusitanas em prol de uma abertura a outras
matrizes teóricas que norteassem esse processo de mudança.
O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO
DO SABER PSICOLÓGICO NO BRASIL

• A ANTROPOLOGIA MECANICISTA funda-se no conceito de homem-máquina,


formulado pelo filósofo e médico francês J. O. de La Mettrie (1709-1751) que,
radicalizando as conclusões dos estudos da biologia e da fisiologia da época e a teoria
mecanicista cartesiana do animal máquina, afirma que o homem é apenas matéria
organizada de modo especial e atuando conforme a constituição de suas partes. Desse
modo, seria dispensável o tradicional conceito de alma humana.
O ESTADO FÍSICO DA NOSSA MÁQUINA INFLUI
PODEROSAMENTE NAS OPERAÇÕES DA ALMA

• No início do século XIX, o médico mineiro Francisco de Mello Franco (1757-1822),


formado em Filosofia e Medicina pela Universidade de Coimbra e autor de vários
tratados e artigos, propõe um tipo de psicologia médica inspirada nas teorias do
Iluminismo e do sensualismo francês, especialmente na teoria do médico-filósofo Pierre
Jean Georges Cabanis.

• Além do mais, afirma ser uma evidência empírica o fato do estado físico do corpo ter
grande influência nas operações da alma. Portanto, a observação e o bom senso, podem
com o tempo alumiar-nos, de modo que, dado o conhecimento das impressões feitas em
tais ou tais órgãos, possamos cair na conta dos resultados morais, que devem ser a sua
consequência.
O ESTADO FÍSICO DA NOSSA MÁQUINA INFLUI
PODEROSAMENTE NAS OPERAÇÕES DA ALMA

• As antigas doutrinas acerca das relações mente-corpo e a tradicional TEORIA DOS


TEMPERAMENTOS de derivação hipocrática são reformuladas numa perspectiva
tendencialmente monista. Sendo o funcionamento do organismo regulado por leis da
natureza, compreensíveis e previsíveis através da observação e da experimentação, será
possível calcular e modificar o dinamismo pela transformação das circunstâncias físicas
determinantes, graças a remédios e normas higiênicas.

• A saúde do conjunto psicossomático que constitui o ser humano é definida como


equilíbrio, sendo este entendido como harmonia da maquina corporal, cujo efeito é o
bem-estar psicológico
O ESTADO FÍSICO DA NOSSA MÁQUINA INFLUI
PODEROSAMENTE NAS OPERAÇÕES DA ALMA

• Desse modo, no século XIX, a medicina propõe-se a si mesma como a


ciência do homem, substituindo a ética, a filosofia e a teologia na tarefa de
orientar indivíduos e sociedades rumo à felicidade.
• A analogia entre medicina do corpo e medicina do espírito,
tradicionalmente utilizada pela filosofia e pela teologia, adquire uma
significação nova – a medicina do corpo pretendendo dar conta também
da medicina da alma
O HOMEM PRIMITIVO É UM MERO
AUTÔMATO

• O estudo de JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA acerca dos índios brasileiros


(Apontamentos para a civilização dos Índios bravos do Brasil, de 1823, propõe um
plano de colonização dos índios, a ser realizado através de um processo de aculturação.

• Os comportamentos dos índios são explicados na base de uma teoria acerca do “homem
no estado selvagem”, inspirada na filosoia iluminista da época. Uma primeira
característica do homem no estado selvagem é a ausência das necessidades próprias do
homem “civilizado” que estimulam a atividade e o trabalho. Um segundo aspecto é a
ausência daquele tipo de racionalidade característica do “espirito científico.
A FISIOLOGIA MENTAL

• Os alicerces conceituais que permitiram a formulação dos conhecimentos psicológicos


nos termos de uma ciência natural, experimental e autônoma em relação à filosofia e à
tradição por esta transmitida encontram-se, na segunda metade do século XIX, no
pensamentos dos filósofos positivistas brasileiros, em primeiro lugar o médico e
filósofo paulista Luís Pereira Barreto (1840- 1923).

• O médico filósofo, fiel à doutrina comtiana, descreve o ser humano como um composto
de inteligência, sentimento e atividade, todas funções do cérebro. A unidade e o
equilíbrio entres essas funções e sua adaptação ao meio ambiente são a condição
essencial para a saúde individual.
A FISIOLOGIA MENTAL

• Pereira Barreto aplica a fisiologia mental ao estudo dos fenômenos religiosos


estabelecendo uma relação causal entre desarranjos cerebrais e crenças religiosas,
sendo a religião reduzida a termos unicamente psicológicos.

• Neste sentido, decorre a afirmação de que manifestações religiosas predispõem à


loucura, surgindo a necessidade de eliminá-las em nome de uma “higiene do espírito”
(idem: 316).
O ENSINO DA PYCHOLOGIA NAS
INSTITUIÇÕES

• No século XIX, a “psychologia” comparece como parte de disciplinas em diferentes áreas


do saber (ilosoia, direito, medicina, pedagogia, teologia moral), matérias de diversos
currículos em instituições escolares do País.

• No ensino ilosóico na Faculdade de Direito de São Paulo, fundada em 1827, por exemplo,
o estudo dos problemas da subjetividade é considerado como propedêutico à teoria e à
prática jurídicas.
• No ensino médico, instituído na Bahia e no Rio de Janeiro a partir de 1832, o estudo dos
fenômenos psicológicos é concebido como parte daquela “higiene social” da população
brasileira da qual os médicos deveriam ser os artífices. Da mesma forma, muitas entre as
teses elaboradas pelos estudantes para a obtenção do grau de doutor em Medicina vertem
sobre este domínio.
O ENSINO DA PYCHOLOGIA NAS
INSTITUIÇÕES

• Especialmente, destaca-se a ênfase na assim chamada “terapia moral”: com este rótulo
atribui-se ao médico a tarefa de cuidar do estado físico e também moral do ser humano.

• A psicologia comparece no âmbito da disciplina “Metódica e Pedagogia”, moldada pela


preocupação de introduzir a metodologia científica no ensino, sob a inspiração de
modelos europeus e norte-americanos. Nos currículos e programas do Colégio Pedro II do
Rio de Janeiro, a partir de 1850 leciona-se a “psychologia” no sexto e no sétimo anos do
curso, enquanto matéria propedêutica à filosofia, sendo que no conteúdo ensinado domina
a ênfase espiritualista.
OS PRIMEIROS LABORATÓRIOS DE
PSICOLOGIA EXPERIMENTAL

• Nas primeiras décadas do século XX, surgem alguns laboratórios de psicologia


experimental: no Rio de Janeiro, junto à Clínica Psiquiátrica do Hospício Nacional, um
fundado pelo médico Maurício Medeiros (1885-1966);

• Entretanto, o mais antigo laboratório de psicologia experimental no Brasil é criado no


Rio de Janeiro em 1890: Inicialmente Museu Pedagógico, passa a funcionar como
laboratório sob a direção de Manoel Bomfim (1868-1932).
OS PRIMEIROS LABORATÓRIOS DE
PSICOLOGIA EXPERIMENTAL

• Em São Paulo, assiste-se ao crescimento dos estudos psicológicos, na vertente


psicanalítica, na Faculdade de Medicina: um dos expoentes mais signfiicativos,
Francisco Franco da Rocha (1864-1926), cria o Hospital de Juqueri em 1898 onde
seu sucessor Antonio Carlos Pacheco e Silva instala laboratórios especializados no
tratamento das doenças mentais.

• em 1926. A instituição de um Laboratório de Psicologia Experimental propriamente


dito ocorre em São Paulo no ano de 1912 junto à Escola normal da capital, por obra
do médico e pedagogo italiano Ugo Pizzoli.

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