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Objetivo

Analisar o conceito de Cotidiano e Cotidianidade em Agnes


Heller e, a partir, problematizar para as demandas
corriqueiras das Organizações.
O não-cotidiano do cotidiano
• Significado de cotidiano – latim cotidie ou cotidianus – todos os dias, o
diário, o dia-a-dia, o comum, o habitual.
• quando nos referimos ao cotidiano, estamos falando sob o prisma da
representação social do dia-a-dia, ou seja, falar em cotidiano num
primeiro momento nos leva a pensar diretamente em ações que dizem
respeito a nossas rotinas, a tudo que se realiza empiricamente,
repetidamente, é o viver o dia-a-dia de uma forma quase que banal. (p.
11)
• entretanto, pensar o cotidiano é trazer à tona o não cotidiano. É
descobrir o incomum, a essência do cotidiano está no não-cotidiano ou
na cotidianidade.
O não-cotidiano do cotidiano
• Para Heller a vida cotidiana é a constituição e reprodução do próprio
indivíduo e consequentemente da própria sociedade, através das
objetivações. O processo de objetivação se caracteriza por essa
reprodução, que não ocorre do nada para se efetivar, ela pressupõe
uma ação do homem sob o objeto, transformando-o para seu uso e
benefício. Assim tudo pode ser objetivado, pois tudo está em
constante mutação, em todas as dimensões da vida (p. 12)
O não-cotidiano do cotidiano
• Tudo o que se realiza é objetivação, entretanto, as objetivações não
acontecem no mesmo nível: o bolo que é feito, o recém-nascido que
chora, o tijolo que transforma a casa; a morte que impacta a vida....
“chama-se de objetivações em si aquilo que constitui a coisa por si
mesma, ou seja, ela é aquilo porque não é outra coisa. As coisas são
o que são porque há uma finalidade para ela dentro das construções
culturais e sociais.
O não-cotidiano do cotidiano
• A objetivação em si é que está presente no cotidiano do senso
comum e é a que cria as condições para vivermos em determinada
sociedade com seus costumes e ritos, etc. adquirir e dominar a
linguagem materna é uma objetivação em si, portanto tudo aquilo
que nos rodeia e que é transformado para nosso uso é uma
objetivação.
O não-cotidiano do cotidiano
• Cada cultura estabelece para si um parâmetro, uma forma de
objetivar sua vida. O cotidiano ganha os entornos desta sociedade
que traz acordos e finalidades específicas.
O não-cotidiano do cotidiano
• A objetivação em si é ‘indispensável a todo homem enquanto
processo formativo em si mesmo, constante e permanente, de que o
homem necessita apropriar-se como condição básica para a vida na
sociedade e na época em que vive”. (p. 12)
• Distinção entre instrumentos/produtos de costumes/LINGUAGEM.
“essas objetivações em si proporcionam ‘sucesso’ na vida cotidiana,
ou seja, as pessoas conseguem sobreviver em sua sociedade”. (p. 13)
As faces do cotidiano
• Explicando melhor: o conjunto das atividades que permitem a
reprodução do indivíduo podem ser chamadas como as
características da vida cotidiana, porque dizem respeito às
particularidades humana. Estas características expressam a forma
como os indivíduos pensam, agem e se relacionam na sociedade,
assim classificadas: heterogeneidade, hierarquia, repetição,
economicismo, espontaneísmo, probabilística, entonação,
precedente, imitação, pragmatismo, analogia, juízos provisórios como
preconceito e ultrageneralização.” (p. 13)
• “paradoxo: somos uma espécie de iguais, no entanto, totalmente
diferentes uns dos outros”.
As faces do cotidiano
• A vida cotidiana vai ganhando novos entornos, novas manias, novos
sotaques e trejeitos porque o cotidiano extrapola a relação familiar
ou dos núcleos fixos. A pluralidade impactou significativamente os
núcleos rígidos. Viu-se que a sociedade é construída por diversas
vozes, intenções e proposições.
A superação do cotidiano
• “o extraordinário do cotidiano é superar o próprio cotidiano, em
outras palavras: ‘o extraordinário do cotidiano era a cotidianidade
finalmente revelada...” esse extraordinário inclui a dimensão da
cotidianidade ou do não-cotidiano, porque é um cotidiano que tem
que extrapolar sua particularidade, sua umbicalidade, sua
centralidade. O não-cotidiano pressupõe relacionar-se com
objetivações para-se, que se direcionam ao humano genérico, à
espécie humana. O elemento que o faz pertencer à espécie é a
consciência humana, pois senão, o que o conduziria seria a ‘atividade
vital animal’.
A superação do cotidiano
• Não é questão de tomada de consciência, pois a consciência está
intimamente ligada com a noção cultural.

• O papel da arte para extrapolar rudimentos, paradigmas e


estereótipos. É por meio da arte que o sujeito extrapola a vida
cinzenta e sem graça. “a arte se opõe a uma vida cotidiana que
acredita em mitos. A vida cotidiana quando é ‘cinzenta e mesquinha’
é que se tem necessidade da busca de mitos, etc.” (p. 20)
A superação do cotidiano
• Tensionar a tendência de essencialidade da vida, do ser da substância
é caminho para reestruturação do cotidiano.
• O homem não pode viver sempre na esfera do não-cotidiano, ou seja,
não passará o tempo todo num processo de superação da sua relação
de indivíduo com as formas de atividade que lhe dão sucesso e
mobilidade na vida cotidiana. Somente um homem excepcional, um
gênio, que se mantivesse sempre superando as experiências da vida
cotidiana é que estaria na esfera do não-cotidiano. Esta situação é
muito rara e dos gênios que conhecemos através da história, como
Beethoven e outros, por certo também faziam a relação com a
particularidade. (p. 20)
A superação do cotidiano
• Como explicar o caso Helen Keller? (filme – a linguagem do coração)
• Repensar o normal e suas caricaturas. Repensar o quanto somos
escravos do cotidiano, como o vício, a mulher que sofre agressão pois
está sujeita a dependência econômica do marido etc.
• Portanto, o cotidiano ao nível da particularidade pode estar
amarrado a todo o tipo de dependência ou escravidão, de formas
sutis que muitas vezes nem temos consciência delas, porém no
âmbito do não-cotidiano, estas amarras são rompidas, são
inescrupulosamente arrancadas, porque o que prevalece é a
autonomia e a liberdade. (p. 21)
A superação do cotidiano
• Quando se pensa em cotidiano e não-cotidiano salta o tema dos
valores que perpassam uma sociedade. São os valores que organizam
e sedimentam ações e, ao mesmo tempo, estabelecem o inaceitável.
Toda sociedade precisa garantir a manutenção de uma determinada
moralidade.
• A moral pressupõe valores que se baseiam na consciência tanto ética
quanto social e que acabam por definir toda ação e comportamento.
Ou seja, a moral subjaz toda ação. Porém a grande diferença está em
esta ação ser ou não do cotidiano particular. Para que ela se
caracterize pela não-cotidianidade é necessário que a ação tenha um
conteúdo moral. (p. 23)
A superação do cotidiano
• Segundo Heller (1991 , p. 133-138), existem quatro fatores que caracterizariam
o conteúdo moral das ações, a saber: a elevação das motivações particulares,
que se definiriam por uma opção ao que se refere à genericidade em oposição a
sua particularidade; a escolha de fins e conteúdos, voltados à genericidade, ou
seja, os fins e conteúdos da ação não devem ser definidos pelo interesse do eu
particular; a constância na elevação às determinadas exigências, isso significa
que, buscar a superação dos interesses da particularidade deve ser uma opção
constante e busca consciente, não deve ser um impulso de momento e a
finalmente a capacidade de aplicar estas exigências em todas as situações de
vida, ou seja, é uma busca consciente desta elevação que deve ter
aplicabilidade nas situações concretas da vida, não é uma dimensão puramente
etérea ou abstrata, ela deve se materializar no próprio cotidiano.
A (des)construção do cotidiano
• Cotidiano e cotidianidade: limite tênue entre os reflexos da teoria e
senso comum
• Gleny Guimarães.

• “O cotidiano configura-se como a fonte primeira da criação e da


inspiração dos mais diversos autores e artistas.” (p. 28)
O Cotidiano e a Ficção
• A dificuldade que se tem em lidar com os limites, fragilidades e defeitos do
cotidiano. Quando se observa Ulisses, nota-se que ele tem tudo para retratar
a realidade da Grécia do século VIII a.C, entretanto, retratá-lo como
personagem mítico é mais interessante do que evidenciar o quanto o ser
humano é contraditório.

• As personagens de Machado, Dom Quixote, Hercules “retratam o expoente,


o incomum que traduz o próprio comum da vida cotidiana, sendo assim, o
cotidiano em si é tão banalizado que se torna, ao mesmo tempo
insignificante. Sendo o cotidiano a fonte primeira de tudo, tornar-se
significante, na medida em que trás à tona sua própria insignificância. (p. 28)
O que o cotidiano não revela?
• “o cotidiano é a dimensão do senso comum, com todo o sofrimento,
prazer, alegria, tristeza, destruição e construção que somente o ser
humano é capaz de viver. A dimensão da cotidianidade estaria no
circuito de tensão permanentemente conectado com a possibilidade

• de sermos seres humanos melhores, a possibilidade da grande


transformação que somente o próprio homem poderá realizar” (34-
35)
Obrigado

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