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No discurso mais
difundido e mais comum, aquele que tenta definir os seus traços,
a matéria caracteriza-se hoje, antes do mais, não como facto físico
mas sim moral, como o lugar metafísico da definição do bem e
do mal.
. Eles representam ainda hoje o espaço público por excelência, a superfície sobre a
qual a cidade e o indivíduo registaram e
conservaram o seu saber, as suas normas de vida, os seus juízos.
A mesma «coisa» que garante à cidade (antiga e moderna) a sua forma e a sua
realidade foi
desde sempre usada para recordar a sua história, para glorificar os
heróis, para celebrar o rosário dos nomes do poder e representar
a girândola de rostos de imperadores, governadores, reis e deuses.
Na própria
matéria que a constitui, a cidade torna-se autoconsciência: reflecte
sobre si mesma como produção humana e objectiva
A quase
totalidade do nosso tempo, dos nossos pensamentos e do nosso
amor dedicamo-los a imaginar, construir e distribuir coisas.
Sobre os muros, as mercadorias transitam da condição
de objectos de produção, distribuição e consumo privado àquela
de símbolo publicamente percebido, melhor dizendo, à condição
de um bem do qual todos podem tomar consciência.
a pedra
é o órgão privilegiado do simbolismo colectivo de cada sociedade.
pi·na·co·te·ca |é|
(latim pinacotheca, -ae, do grego pinakothêke, -és)
nome feminino
1. Museu de obras de pintura.
hegemonia- supremacia
idiossincrasia - 1. [Medicina] Predisposição particular de um organismo para
reagir de maneira individual a um estímulo ou agente externo.
2 Característica peculiar do temperamento ou do comportamento de uma pessoa ou de
um grupo.
3. Maneira de agir específica de uma pessoa
A publicidade é
uma das infinitas vozes da cidade, não a alma do mercado. Melhor: ela é o principal
dialecto falado hoje pelas pedras.
A modernidade, como
foi dito22, nasceu e constituiu-se precisamente a partir da afirmação
da vida comum, aquela que está mais ligada às dimensões mais
humildes do trabalho, da fabricação de meios necessários à vida, da
família e da vida sexual. Ela derrubou todas as hierarquias que colocavam no cimo
da escala moral as actividades contemplativas ou
as actividades políticas.
o. As mercadorias desempenham, na esfera da moral, uma
função análoga: abrem o homem a uma dimensão moral que não
lhe pertence naturalmente, levam o mundo moral para além da
sua consistência habitual, tornando-o mais vasto, mais indeterminado, mais
inquietante.
cap 5
o bem deve
existir fora ou além das coisas, na medida em que as coisas são
meios ou instrumentos e nunca fins da existência humana
A publicidade não é o
equivalente de uma escrita iconográfica dirigida aos laicos, não
é uma imagem que, tal como na célebre fórmula de Gregório
Magno4
, torne possível que também os ignorantes possam ver e
compreender.
um anúncio deve
justamente demonstrar que o valor objectivo de uma mercadoria é
infinitamente superior ao seu preço,- vale mais do que o preço definido
Em suma,
na publicidade cada coisa faz-se um bem através de mecanismos
diversos daqueles que são estudados pela economia; ela adquire
aí um valor moral distinto daquele que é expresso pelo valor de
troca e pelo valor de uso9
.
há um
processo de moralização das coisas, ainda por estudar, que permanece autónomo
relativamente ao trabalho e ao dinheiro.
diz que o valor das coisas provém do trabalho, mas também afirma que estas possuem
um valor moral individual, separado e adquirido pelo bem que estas nos podem
providenciar no quotidano. as coisas são representadas como sendo realmente
melhores do que o valor imposto pela unidade do trabalho.
que é a troca – e não o trabalho – o lugar que permite que as coisas adquiram valor
e se tornem um bem.
Se
não paramos de investir tempo, energia e imaginação para produzir, trocar e sonhar
com coisas e mercadorias, será porque o bem
que elas tornam presente não se esvai uma vez adquiridas.
As formas, as cores, a novidade, o fascínio e
o interesse das coisas que utilizamos, adquirimos ou desejamos
não são simples marcas simbólicas da divisão social nem meras
convenções: são expressões de uma realidade que nada tem de
humano.
. O
bem que está face a nós em cada mercadoria é uma intensidade ao
mesmo tempo social e individual, cultural e natural.
ao ser o maior produtor, uma cidade torna se o lugar das coisas que sao a
felicidade. nao a dos homens felizes
Se no mundo dos Antigos as coisas aspiravam a ocupar
uma ordem imutável, que era a existência como reflexo de um
bem que lhe era superior, o ser a que agora almejam as coisas é a
troca
as sociedades actuais teriam, não apenas produzido e acumulado uma quantidade nunca
vista de conhecimento sobre si mesmas,
Do ponto
de vista de uma história extensa dos saberes morais ocidentais, a
publicidade representa um ponto de descontinuidade significativo, aquele em que o
discurso moral público se concentra preferentemente, não já na relação entre o
homem e a esfera divina,
nem na relação que o homem mantém consigo mesmo e com os
seus semelhantes, mas antes nas coisas, descritas como primeira
e original encarnação do bem, tal como na relação que o homem
mantém com elas.
moral publicitário (dirigida, por natureza, a qualquer homem,
mesmo quando lhe dá os traços de um interlocutor típico) não
se traduz numa exclusividade- nao e como na im, pois e para toda a gente. o
afastamento das coisas previamente visto era conidserado um estilo de vista
elitista
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moral contemporânea: ela reconheceu o primado do icónico sobre o verbal;
compreendeu a natureza psicagógica da experiência
moral e superou definitivamente o modelo da filosofia da praxis,
reconhecendo que a felicidade não é produzida por meio da actuação de um esquema
prático, mas graças à elevação do indivíduo a um plano de existência superior; ela
compreendeu que não
há uma mensagem moral sem uma narrativa ou sem um mito.
Procurar compreender a
publicidade enquanto uma forma específica de moralidade, diferente das que a
precederam, e libertar-se assim dos olhares tantas
vezes acusatórios ou paranóicos que lhe lança a filosofia política
e social, não é uma expressão do niilismo mas antes dessa atitude
tipicamente moderna que foi frequentemente qualificada de realismo político5
, embora com uma diferença importante.