Você está na página 1de 33

FEBRE NA CRIANÇA

PROFESSORA ANA CRISTINA CAMARGO


E N D Ó C R I N O P E D I AT R A
Conceitos
Febre - Resposta fisiológica complexa à doença, caracterizada pela ativação do sistema imune do corpo e pela elevação
regulada da sua temperatura central acima da variação diária normal

Axilar
Medidas Bucal
Retal
Outras: testa, timpânica

Febre (medida axilar): 37,8C (SBP)

Revista de Pediatria SOPERJ - v. 13, no 2, p61-67 dez 2012


Termômetros
Por que a febre apavora tanto?
Mitos e verdades...
Banho gelado ajuda a baixar a febre;
Colocar álcool no banho ajuda a baixar a febre;
Tem que medir toda hora a febre;
Tem que observar a atividade da criança que está tendo febre;
Tem que alternar dois tipos de antitérmicos ou dar de horário;
A febre pode dar convulsão;
A febre alta pode causar lesão cerebral;
Reposição de ferro ajuda em vigência de infecção
Conceitos

Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011


FEBRE
FEBRE
QUADRO CLINICO: FEBRE
“COMO A PRINCIPAL FONTE DE PRODUÇÃO DE CALOR, O METABOLISMO BASAL NÃO SE ALTERA, PREDOMINA OS MECANISMOS QUE DIMINUEM
A PERDA DE CALOR PARA QUE HAJA A ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL.”(TRATADO SBP)

VASOCONSTRICÇÃO PERIFERICA** (reduz a perda de calor por radiação)  diminuição da perfusão da pele  “abolição” da sudorese

Tremores musculares, piloereção  tentativa de aumentar a produção de calor

• ELEVAÇÃO DA FEBRE
• EXTREMIDADES FRIAS
• ASUSENCIA DE SUDORESE
• SENSAÇÃO SUBJETIVA DE FRIO
• TAQUICARDIA
• TAQUIPNEIA
• TREMORES EVENTUAIS
HIPERTERMIA X FEBRE
QUADRO CLINICO:
HIPERTERMIA
“ DIFICULDADE EM PERDER CALOR DE FORMA EFICIENTE COMO NAS SEGUINTES
SITUAÇÕES: ingestão de fórmulas muito concentradas, excesso de roupa, ambiente muito
aquecido, alterações ectodérmicas, produção exagerada de calor –ex: ativ. Fisica intensa...
Como não há alteração no ponto de termorregulação há necessidade de perda de calor
por vasodilatação” (TRATADO SBP)

• ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL


• EXTREMIDADES QUENTES
• AUMENTO DA SUDORESE
• SENSAÇÃO SUBJETIVA DE CALOR
• AUSENCIA DE TREMORES
Mecanismo de Exemplos Necessidade de Tratamento
Elevação da Reduzir a temperatura
Temperatura

FEBRE Elevação do set point Infecção Opcional Antitérmicos


mediada pelo SNC Traumatismos
Colagenoses
Neoplasias

HIPERTERMIA Aumento da produção Superaquecimento Obrigatória Resfriamento externo


e/ou diminuição das externo
perdas de calor Intoxicação atropinica
Hipertireoidismo
Hipertermia Maligna
FEBRE??
Desempenho dos mecanismos de defesa na
vigência de febre
 Dentro de “certos “ parâmetros: acelera a atividade enzimática  aumento da atividade de todas as
células do organismo  maior atividade celular  consumo de O2  benefícios e consequências;
 Tempo médio dos leucócitos: 8h ... Em vigência de febre  aceleração da migração leucocitária para os
tecidos;
 Redução da estabilização da membrana lisossomal  potencializando ativ. bactericida dos macrófagos;
 Estimulação da transformação dos linfócitos  acelera produção de anticorpos;

Inibição de absorção de ferro pelo intestino


 Redução do ferro ( Hb e ferro sérico)
Aumento de captação pelo fígado

Destruição das hemácias mais maduras


Metabolismo de multiplicação
bacteriana
Origem da febre

Anamnese cuidadosa + exame físico


AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
ANAMNSESE:

 Idade (faixa etária de risco)


Perguntas que DEVEM obrigatoriamente ser feitas:
 Duração e intensidade da febre, uso de anti-térmico (dose,
frequência e resposta)

 Padrão Alimentar antes e após a instalação do quadro febril

 Sintomas após redução da febre com anti-térmicos

 Sintomas Localizatórios
ANAMNESE
•Uso de Medicamentos;
•Uso recentes de Antibióticos;
•Antecedentes Familiares;
•Imunização;
•Contato com Doenças Contagiosas;
•Viagem antes da instalação do quadro
•Historia de procedimentos cirúrgicos;
•Alergia à Drogas;
•Fatores de Risco para Bacteremia Oculta;
EXAME FÍSICO
• Palpação de cadeias ganglionares;
• Avaliação Geral:

• Ausculta Cardíaca e respiratória;


• Peso

• Abdomen;
• Pele e couro cabeludo:

• Genitourinário;
• Olhos

• Articulações
• Seios da face

• Orofaringe • Neurologico
FEBRE NA CRIANÇA
Classificação de febre sem foco:
Febre sem sinais de localização (FSSL): febre em criança que não se conseguiu
localizar a causa, com duração de menos de 7 dias.
Febre de Origem Indeterminada (FOI): documentada por um profissional da
saude , sem causa definida apos 3 semanas de investigacao ambulatorial ou 1
semana em ambiente hospitalar.
Bacteremia Oculta (BO): presença de bactéria em hemocultura de criança com
febre com foco infeccioso não identificado.

Revista de Pediatria SOPERJ - v. 13, no 2, dez 2012


Fatores de Risco
Idade inferior a três meses, principalmente recém-nascido;
Febre de mais de 39,4°C (especialmente se acompanhada de calafrios);
Mau estado geral, com letargia e/ou irritabilidade excessiva, ausência de sorriso;
Pele muito pálida ou moteada;
Choro inconsolável;
Respiração gemente, entrecortada ou ofegante;

BLANK, Danilo. Uso de antitérmicos: quando, como e por quê. SBP


Residência Pediátrica, 2011;
SINAIS DE
ALERTA!!
 Palidez, pele acinzentada ou cianose;
 Aparência de doente;
 Sonolência, torpor, ou dificuldade de acordar diante chamado;
 Prostração, irritabilidade e choro contínuo;
 Gemência;
 Taquipneia: FR> 60 nos <5m e FR>50 entre 6 e 12m, FR>40 nos maiores que 1 ano;
 Tiragem intercostal;
 Turgor de pele reduzido;
 Exantema que não desaparece com a redução da febre;
 Abaulamento de fontanela;
 Rigidez de nuca;
 Mal convulsivo ou convulsões focais;
 Sinais neurológicos periféricos;
ATENÇÃO!
80% dos casos podem ser elucidados com anamnese e exame físico
Avaliação da criança com febre
RN e < 3 meses: HMG, PCR,URINA 1, LÍQUOR, CULTURA DE SANGUE/URINA E
LIQUOR, RX TÓRAX( se sinais de comprometimento pulmonar)
Criança de 0 a 36 meses com FSSL

não toxemia sim

0 a 28 dias 28 a 90 dias 3 a 36 meses Internação


Exames Lab.:
HMG
HMC
Internação HMG Tax ≤ 39º C Tax > 39º C Urina I
Exames Lab.: HMC
Urocultura
HMG Urina I
LCR
HMC Urocultura
Antitérmico Urina I Rx Tórax
Urina I
Reavaliação em 24 hs Urocultura ATB empírica:
Urocultura
Ceftriaxone
LCR Baixo risco Alto risco
Rx Tórax (Rochester) (Rochester)
ATB empírica:
Ampi + genta ou Piócitos > 5/campo Piócitos < 5/campo
Cefalosp 3ª. Ou nitrito e nitrito neg
Antitérmico Internação
Observação e Ex. Lab.:
Reavaliação LCR ITU HMG
Obrigatória em Rx Tórax HMC
12 a 24 hs ATB empírica
Leucócitos > 20mil/mm³ ou Leucócitos < 20mil/mm³ ou
2 doses ou mais da vacina HiB, pneumo Total de neutrófilos > 10mil/mm³ Total de neutrófilos < 10mil/mm³
ou meningo C: observação sem ATB e
Reavaliação obrigatória em 12 a 24 hs Rx alterado: PNM PINTO, Luciano Abreu de
Reavaliação em Mirnada. Febre no
Vacinação Incom. :Ret. diário para reavalição e Rx de tórax 12 a 24 hs Lactente. Revista de
checar Ceftriaxone 50 mg/Kg IM 1 x ao dia Rx normal: risco de BO Pediatria SOPERJ, Vol 13,
culturas n 2, p61-67, 2012;
Critério de Rochester para lactentes jovens

Baixo Risco: deve preencher


TODOS os critérios.

Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2,


1999
Febre de Origem Indeterminada
Endocardite Diabetes insipidus nefrogênico
Leucemia ITU

Hepatite A,B,C
Salmonelose
Leptospirose
Doença inflamatória intestinal

Brucelose, toxoplasmose

Pneumonia
Rinossinusite
Disautonomia familiar
Tuberculose
OMA

Digitalicos
Anti-neoplasicos
Artrite séptica
Artrite idiopática juvenil
Osteomielite
SUMARIO DA ABORDAGEM
FEBRE > 38,3 °C pelo menos AVALIAÇÃO CLINICA:
uma vez por dia por ≥ 8 dias ANAMNESE
EXAME FÍSICO

SINAL OU SINTOMA QUE INDIQUE ORIGEM?

• HMG
• PCR GUIAR PELA HIPOTESE DIAGNOSTICA: ex:
• VHS NÃO SIM Sopro  ecocardio
• PARCIAL URINA/UROCUL Massa abd  USG, TC ou RNM
• LÍQUOR Sorologias especificas
• RX TÓRAX

COMPLEMENTAR COM: Função hepática,


INDETERMINADO TORCHES, HIV, teste tuberculínico, hemocultura,
FAN, FR, sorologias
OU SEM ORIGEM?
TRATAMENTO
Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011
CONVULSÃO FEBRIL
CONVULSÃO FEBRIL
 Aparecimento dos 6m aos 6 a;
 Sem historia recente de TCE;
3-5%  > 6 anos;  Crise convulsiva generalizada ou, no máximo
Velocidade do aumento da TAX x lateralizada, nunca focal;
Magnitude (tamanho);  Episodio único, não recorrente no mesmo quadro
febril;
Bom prognóstico;
 Tempo de duração < 15min;
Dispensa realização de recursos laboratoriais  Ausencia de sequelas neurológicas pós crise;
para diagnostico, desde que preencha os  Convulsão ocorrendo nas primeiras 24h do quadro
seguintes critérios: febril;
 Ausencia de qualquer sinal suspeito de infecção do
SNC;
 Ausencia de historia familiar de epilepsia
Conclusão
• Importância no reconhecimento quanto aos sinais de
gravidade;

• Orientação aos pais : sobre manejo da febre ( tentar


minimizar a ansiedade da remissão), quanto aos sinais de
alerta, liberar os pais das tomadas frequentes da
temperatura, aceitação alimentar, importância da hidratação;
Obrigada!!
BIBLIOGRAFIAS
https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/biologia-das-doen%C3%A7as-infecciosas/febre-de-origem-desconhecida-fod

DEBRA L PALAZZI. Approach to the child with fever of unknown origin. Disponível em: Approach to the child with fever of unknown origin. 2018

DEBRA L PALAZZI. Etiologies of fever of unknown origin in children. Disponível em: Etiologies of fever of unknown origin in children.2018

Série SOPERJ . Abordagem da Febre prolongada. Infectologia: pediatria/ coordenadora Denise Cardoso das Neves Sztanjbok; organizadores Edson Ferreira Liberal, Marcio Moacyr Vasconcelos.Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2013;

PINTO, Luciano Abreu de Mirnada. Febre no Lactente. Revista de Pediatria SOPERJ, Vol 13, n 2, p61-67, 2012;

BLANK, Danilo. Uso de antitérmicos: quando, como e por quê. SBP Residência Pediátrica, 2011;

MURAHOVSCHI,Jayme. A criança com febre no consultório.JPED, Vol 79, Supl. 1, 2003;

Protocolo sobre febre sem sinais de localização – Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, SP

Condutas de Urgência em Pediatria; Barbosa, A.P.; Ed. Atheneu; 2006; São Paulo;

Trotta Ea, Gilio AE. Febre aguda sem sinais de localização em crianças menores de 36 meses de idade. J. Pediatr (Rio J)1999; 75(Supl 2): S214-S222;

Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria- “Queixa freqüentes em ambulatório” – Silvestrini , Walter Sergio;

PRONAP– Febre de Origem Indeterminada no Lactente e no Pré-Escolar, Ciclo VI 2002/2003;

Jornal Brasileiro de Medicina, “ Febres Prolongadas de Origem Obscura”, maio 2004, vol 86 nº5.

NELSON. Tratado de Pediatria - Richard E. Behrman, Hal B. Jenson, Robert Kliegman. 19ª Edição. Elsevier. 2013.

Romo J.; Muñoz J. Protocolo Diagnóstico en Fiebre de Origen Desconocido para Países en vías de Desarrollo. Anales de la Facultad de Medicina, 65 (2004) 127-132

Você também pode gostar